LONA Famílias Políticas - Especial Eleições 2018 - Edição 1006

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Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup Edição 1006 | Especial – Eleições 2018

Famílias Políticas

eleicoes2018.redeteia.com #JornalismoUP


LONA

EXPEDIENTE Presidência da Divisão de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha

Reitoria José Pio Martins

Pró-reitoria Acadêmica Carlos Longo

Direção da Área de Ciências Sociais e Humanas Aplicadas Roberto Di Benedetto Coordenação dos curso de Jornalismo e Fotografia Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professor-orientador Hendryo André Editores-chefes Lucas Vasconcelos Fernanda Scholze

Equipe de reportagem Amanda Andrade, Brayan Valêncio, Gabriele Bonat, Giovana Lucas, Matheus Gripp, Nicole Smicelato, Patrícia Sankari, Phaenna Assumpção, Rodrigo Silva, Sarah Menezes, Talita Brasileiro, Vitória Sampaio

O lona é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O veículo integra a Rede Teia de Jornalismo. Acompanhe o curso de jornalismo pelas redes sociais. Caso tenha dúvidas sobre o curso, entre em contato.

https://eleicoes2018.redeteia.com facebook.com/RedeTeia youtube.com/TelaUN1 www.mixcloud.com/RedeTeia/

Editorial

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terceira edição do LONA da série sobre eleições 2018 aborda temas como hereditarismo, nepotismo, famílias que compoem a política paranaense e os laços estabelecidos. Cada edição do LONA publicada durante esta semana decisiva para o rumo do país nos próximos anos pretende se aprofundar nos principais temas relacionados à temática. As edições, produzidas pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, têm como objetivo ser um guia para o eleitor, fazer com que compreendam e lembrem o quão importante é o seu papel, mas sem resumir essa ideia exclusivamente aos anos eleitorais. Além disso, como missão da equipe que assumiu o desafio de tornar o jornal útil ao processo eleitoral, buscou-se também responder a dúvidas relacionadas ao mundo político. Esta terceira edição do LONA traz como tema famílias na política, contando com matérias que abordam e explicam as diversas formas de como esses

grupos familiares se comportam no âmbito político. O LONA Famílias Políticas contém reportagens que demonstram a representação no dia a dia desse conteúdo, mostrando desde a composição desse grupo, o histórico dessa prática e busca promover um debate sobre a centralização do poder e suas consequências. O LONA propõe ao seu leitor uma reflexão sobre a estruturação política do nosso país e estado, uma reflexão que deve ser construída aos poucos a partir de cada texto presente neste jornal. Em um momento no qual há uma grande polarização política no país, instigada especialmente pela descrença nas instituições – inclusive, o jornalismo –, a equipe do LONA busca reiterar o compromisso social do jornalismo para o esclarecimento. A próxima edição do jornal será factual, realizada no dia das eleições, e contará com uma equipe com cerca de cem repórteres. Boa leitura!

jornalismo@up.edu.br

O jornalismo e a educação Procurar compreender uma das principais raízes dos problemas políticos do país. Essa foi a missão dada aos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Positivo neste terceiro número do LONA sobre as eleições de 2018. O especial Famílias Políticas traz textos que mostram como o país e o Estado naturalizaram a mistura entre a esfera pública e a privada. Desde a carta de Pero Vez de Caminha, a lógica do espaço público como uma extensão do lar moldou a forma de se fazer política no Brasil. O nepotismo e o familismo são duas das formas mais parasitárias que impedem o amadurecimento da nossa democracia. Nossos estudantes, instigados pela vontade de dar visibilidade a esse esse retrato em preto e branco, buscaram problematizar a situação. O leitor tem à disposição mais uma vez pautas criativas, provocativas e, acima de tudo, que prezam por um jornalismo crítico.

Hendryo André, professor do curso de Jornalismo da UP.

Hey! Como foi participar do LONA? “O LONA é um dos produtos mais importantes nos 20 anos do curso de Jornalismo da UP. Fazer parte das mais de mil edições me deixa muito feliz. Escrevo para o LONA desde o primeiro ano e, agora no quarto, poder participar de uma edição especial sobre as eleições, é um grande fechamento de ciclo, por misturar minha paixão pelo jornal impresso e também por cobertura política” Brayan Valêncio

“Escrever para o LONA foi uma experiência muito legal. Poder fazer realmente uma matéria para um jornal é incrível, porque você faz todo o processo de apuração , de ir atrás das informações daquela pauta, construir em seguida um texto sobre aquilo e o resultado é sensacional” Victoria Sampaio


04 NEPOTISMO E POLÍTICA: elo histórico e global

06 VEM DE BERÇO

O Paraná é um dos estados com maior rede de parentesco na política

09 ELEITOR DEVE CONHECER os laços de família da política brasileira

05 GOVERNAR PELA FAMÍLIA

Mais de 70% dos senadores são parentes de outros políticos

07 AS FAMÍLIAS

Conheça os grupos familiares por traz da política paranaense

10 PODER CENTRALIZADO:

o Paraná se reveza na hegemonia familiar

Agenda1

No próximo domingo (7), a Rede Teia de Jornalismo fará a tradicional cobertura das eleições. Os trabalhos iniciam antes de as seções eleitorais abrirem. Nossos repórteres, do primeiro ao quarto ano, estarão espalhados por Curitiba, Região Metropolitana e outras regiões para trazer, em primeira mão, as principais informações do dia da eleição. A cobertura acontecerá pela Rádio Teia, pelo hotsite especial criado para as eleições, pela TV Teia. Além disso, no domingo à noite, você terá uma edição especial do LONA com toda a repercussão do pleito. Vem com a gente!

Agenda 2

Após as eleições, o LONA contará com uma edição especial sobre como o res ultado do dia sete pode influenciar na vida dos cid adãos.


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Nepotismo

Nepotismo e política: elo histórico e global A perpetuação de famílias no poder acontece desde sempre e em todo lugar, e traz consequências incontestáveis à administração pública Amanda Andrade e Giovana Lucas

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relação entre nepotismo e política não é exclusividade do Brasil contemporâneo, esse vínculo existe em diversas regiões do mundo e já fez parte de diferentes períodos da história. Apesar de ser comumente relacionado à corrupção, o nepotismo tem sua definição própria, que, segundo o Conselho Nacional de Justiça, é “o favorecimento dos vínculos de parentesco nas relações de trabalho ou emprego”, ou seja, é o ato de priorizar laços familiares em detrimento do mérito ao escolher alguém para exercer uma função pública. Apenas em 1934, a Constituição brasileira passou a exigir a aprovação em concursos para ingressar em órgãos públicos. Almerinda Alves de Oliveira, em Nepotismo na administração pública brasileira: panorama histórico e associação à corrupção, menciona um dos primeiros registros de nepotismo na história nacional. Na Carta de Achamento, Pero Vaz de Caminha - escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral - pede a D. Manuel I, então rei de Portugal, um cargo para seu genro. A autora também cita Sérgio Buarque de Holanda, que discursa sobre como a importância dada aos laços de sangue no Brasil extingue a impessoalidade, impedindo o “estabelecimento de um Estado burocrático e racional”. Para o historiador, segundo Oliveira, os grupos detentores de poder, ao ocupar cargos públicos através da prática de nepotismo, não buscam apenas a remuneração, mas também “prestígio, poder e benefícios econômico-financeiros incalculáveis, como o acesso a informações privilegiadas”. Em outros países, o nepotismo também tem raízes históricas. Como exemplos, é possível citar desde Napoleão Bonaparte - que, nos anos 1800, fez três de seus irmãos reis de países ocupados por seu exército - até Jared Kushner e Ivanka Trump, genro e filha de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, e conselheiros sênior da Casa Branca. Apesar de as nomeações levantarem questionamentos a respeito de sua legalidade, Eric Trump, segun-

do filho do presidente, as considera aceitáveis. “O nepotismo é como um fato da vida”, disse durante entrevista à Revista Forbes em abril de 2017. “Podemos ter entrado pelo nepotismo, mas não continuamos aqui por isso”, completou. No Velho Mundo, também há exemplos que podem ser mencionados. Na França, Bruno Le Roux pediu demissão de seu cargo de ministro do interior após a abertura de uma investigação acerca da contratação de suas duas filhas adolescentes como assistentes parlamentares na época em que foi deputado. Também na França, denúncias de nepotismo podem ter sido parcialmente responsáveis pelos desdobramentos das últimas eleições para a presidência. François Fillon, que chegou a ser líder de pesquisas de intenção de voto, foi ultrapassado por Emmanuel Macron e Marine Le Pen, deixando até mesmo de ir para o segundo turno, por conta da repercussão das denúncias contra ele. Independentemente do local onde o nepotismo ocorre, é possível identificar consequências que surgem a partir dele. Uma delas é a manutenção do patrimonialismo: quem emprega membros da família em cargos públicos, igno-

rando questões como a capacidade técnica para exercer tal cargo, muitas vezes, enxergando o Estado como uma extensão familiar. Essa dificuldade de diferenciar o público do privado gera uma atmosfera favorável a outro grande problema, a corrupção. Esse paralelo também foi traçado no texto de Almerinda Alves de Oliveira, no qual afirma que “nepotismo pode estar associado à corrupção por ser uma ação ilegítima e oposta ao interesse público”. A autora completa, explicando que assim como o patrimonialismo, o nepotismo pode ser visto como uma “conduta política que promove vulnerabilidades institucionais que geram corrupção”. Finalmente, Oliveira cita as consequências no âmbito econômico. Dentro de uma sociedade capitalista que, em tese, valoriza a livre iniciativa, não há espaço para nepotismo ou patrimonialismo. Ao sobrepor relações pessoais em detrimento da impessoalidade, segundo a autora, são criados “entraves ao desenvolvimento econômico”, visto que, para que exista a livre concorrência, é preciso haver isonomia entre as pessoas, o que não ocorre num Estado que é usufruído como privilégio por determinados grupos políticos e sociais.


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Herdeiros políticos

Governar pela família Segundo pesquisa realizada em 2017, mais de 70% dos senadores são parentes de outros políticos

Phaenna Assumpção e Sarah Menezes

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mada a Independência, a família Andrada já começou sua “tradição” e assim mantém até hoje com o deputado Bonifácio de Andrada. O clã já gerou cerca 15 deputados e senadores, oito ministros de Estado, quatro presidentes da Câmara, dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sem contar aqueles que foram governadores, prefeitos e vereadores. Há ainda netos de figuras importantes da política brasileira, como Aécio Neves, atualmente senador, e Eduardo Campos, que morreu em 2014 enquanto disputava as eleições presidenciais. Mas outros sobrenomes como Magalhães, Sarney, Calheiros, entre outros, nasceram em ambientes cercados por parentes políticos e assim também fizeram carreira. No Paraná temos velhos conhecidos na política, como Requião, Richa, Dias, Magalhães de Barros e Alves da Rocha Loures. A última já conseguiu colocar quatro gerações em cargos federais; Rodrigo Santos, um dos últimos deste clã, além de eleito deputado, foi assessor do atual presidente da república Michel Temer. No ano passado foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da empresa JBS, dinheiro suspeito de propina. Os partidos médios e grandes estão estruturados em torno dos chamados clãs familiares e destinam boa parte de suas energias para seus integrantes. De acordo com a revista Congresso em foco, os partidos que mais têm deputados com algum parentesco político são o PSD (78%), o PTB (76%), o PDT (74%) e o PMDB (70%). “Nós temos essa concentração de poder excessiva, e com uma certa continuidade, em primeiro lugar porque falta interesse e participação da sociedade na vida partidária e a consequência disso é gerações de lideranças cada vez mais incompetentes, porque eles não precisam passar por uma seleção interna, eles têm uma continuidade quase natural”, comenta o cientista político. Uma pesquisa feita pela ONG Transparên-

Infográfico: Fernanda Scholze

or causa da convivência, é normal um filho se espelhar no pai e seguir seus passos profissionais. É possível perceber isso em escritórios de advocacia ou odontológicos, por exemplo. Na política essa tendência também não é muito diferente. Um levantamento mais recente feito pela Revista Congresso em Foco, em 2017, revela que pelo menos 62% dos deputados (319) e 73 % dos senadores (59) são parentes de outros políticos. Na República, atualmente praticada por muitas constituições do mundo, o filósofo político Montesquieu aponta que quando o povo detém o poder soberano é caracterizada como uma democracia, no qual “cada um deve ter a mesma felicidade e os mesmos benefícios, desfrutar dos mesmos prazeres e construir as mesmas esperanças”. Por outro lado, quando o poder soberano está nas mãos de apenas uma parte do povo, tem-se uma aristocracia, “nela, os nobres formam um corpo que, pela prerrogativa que possui e por seu interesse particular, reprime o povo: basta que haja leis para que, a esse respeito, elas sejam executadas”. “A política é uma atividade que exige experiência e prática, não adianta a gente imaginar que teremos um grande congresso renovando, de uma hora para outra, todo mundo, isso não vai acontecer, é preciso ter cabeças profissionais da política. O problema não está em fazer a renovação ou não, o problema está que um passo antes da eleição está a entrada, a formação de quadros, a indicação de candidatos e é aí que está a seleção de verdade, porque aí os clãs familiares não permitem, são muito poucos permeáveis, eles são bastante fechados”, aponta o cientista político Emerson Cervi. Essa aristocracia dita por Montesquieu pode ser vista na concentração de poder político por parte de famílias no Brasil, mas que também não é exclusividade do país. No Estados Unidos, por exemplo, os membros da família Kennedy atingiram grandes cargos na política. Aqui no Brasil, antes mesmo de ser procla-

cia Brasil nas eleições de 2014 aponta que 60% dos senadores e 49% dos deputados eleitos naquele ano tinham algum parentesco com quem atuou ou atua no Legislativo Federal. Entre os jovens eleitos, 85% dos deputados com 35 anos ou menos são herdeiros de famílias que têm relação com a política. “De fato, nós não temos uma renovação de verdade, nós temos uma redução na idade no RG, até os sobrenomes são os mesmos. Portanto, não temos uma mudança de visão de mundo, é só uma redução da média de idade e replicando aquele mesmo pensamento de sempre”, aponta Cervi.


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Famílias

Vem de berço

A Política no Paraná tem nome, sobrenome e família, entre elas estão a família Barros e a Dias

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Matheus Gripp e Talita Brasileiro

rofessor, bombeiro, médica, o que as crianças sonham em ser quando crescer? Cada uma sonha com uma profissão diferente, até youtuber, mas uma carreira na política? O Paraná é um dos maiores estados com redes de parentesco na política, então não é difícil imaginar que a Maria Victória já pensava em ser como a mamãe e o papai. Com apenas 22 anos Maria Victória já ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa no Paraná por mérito da família Barros. Pelo jeito a história de que “filho de peixinho, peixinho é” acabou virando uma realidade paranaense, pois esse é apenas um exemplo de como a política no estado é dominada por algumas famílias.

é um dos sobrenomes mais requisitados quando o assunto é alianças políticas. São dois dos atores que mais reúnem capacidade de mudar o destino de uma eleição. Álvaro Dias tem uma carreira mais solidificada. Foi vereador por dois anos em Londrina, entre 1969 e 1971, quando buscou um passo adiante e se elegeu deputado estadual, permanecendo no cargo até 1975. Nesse ano, resolveu colocar o capital político em jogo e tentou, com sucesso, a eleição para deputado federal. Chegou ao Senado em primeiro de fevereiro de 1983 e ficou até março de 1987, saindo para disputar e vencer - a eleição para o governo do Paraná. Cumpriu os quatro anos no poder e, em 1999, se elegeu senador mais uma vez, ficando até hoje no cargo. Família Dias Em março de 2018, Álvaro, senador da Na política paranaense, é impossível República eleito pelo estado do Paraná, falar de famílias sem citar os irmãos Dias. anunciou que estaria concorrendo à preComposta pelos irmãos Álvaro e Osmar, sidência. Foi oficializado como candidato

Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Foto: Tony Oliveira

À esquerda Álvaro Dias filiado, ao partido Podemos, à direita Osmar Dias, filiado ao Partido Democrático Trabalhista.

do Podemos (antigo PTN) em agosto deste ano. Havia a expectativa de que Osmar, seu irmão, concorresse ao governo do Paraná pelo PDT. As pesquisas de institutos como o Datafolha e Ibope colocavam o ex-senador como um dos quadros políticos mais bem cotados na disputa, junto com a atual governadora, Cida Borghetti, e o deputado estadual Ratinho Junior. Sua candidatura também serviria como palanque para o presidenciável Ciro Gomes no sul do país. De forma surpreendente e sem justificativas oficiais, contudo, Osmar saiu da disputa ao governo. Esperava-se uma aliança com o senador Roberto Requião, o que, na prática, não aconteceu. Especulou-se que o irmão de Álvaro tentaria algum outro cargo eletivo, hipótese descartada por ele próprio. Nestas eleições, somente o principal político da família Dias irá tentar sucesso nas urnas.


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Famílias

As famílias Conheça os grupos familiares por trás da política paranaense

Nicole Smicelato e Patrícia Sankari

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Malucelli - direita Família Malucelli possui um histórico de tradição no estado do Paraná, especialmente na região de Morretes, onde mantém suas raízes. Marcos Malucelli & Irmãos Ltda foi a primeira empresa que levou o sobrenome da família. Tempo depois, começaram a produção de açúcar, nos

canaviais de Morretes. Após a forte geada de 1918 que assombrou o estado do Paraná, a família se desmembrou por diversas outras áreas do estado com suas próprias ideias de empreendimento. Em 1930, os irmãos Benjamin, Marcos, Vicente e Emílio Malucelli adquiriram um vasto território em Pinheiral de Baixo, Palmeira (PR), onde se estabeleceram por conta

da vasta quantidade de matéria-prima do novo empreendimento: uma serraria que, logo após a expansão para outras quatro unidades, começou a exportar produtos para Inglaterra e Dinamarca. Benjamin foi quem iniciou o nome da família na política, sendo eleitas três vezes prefeito de Palmeira, quando construiu o prédio que abriga o setor administrativo e o gabinete do prefeito até hoje, além do Cine Teatro Municipal. O próximo a receber destaque na história do estado é Marcos Malucelli, sócio do escritório de advocacia Malucelli Advogados e presidiu o Clube Atlético Paranaense de 2009 a 2011. Em seguida, vem seu irmão, Sérgio Malucelli, dono da SM Sports e gerencia o Londrina Esporte Clube, clube que presidia atualmente. O nome mais conhecido de todo clã talvez seja o de Joel. Empresário, fundou em 1966 a JMalucelli Construtora de Obras Ltda, que foi alvo de várias das etapas da Operação Lava Jato. Os cargos de chefia da empresa estão intitulados para as seguintes famílias: Prosdócimo, Moro, Scarante e Jacomel, todas conhecidas por fazerem parte da elite paranaense. Outra grande empresa do grupo Malucelli hoje é o Paraná Banco, que contabiliza no total 530 mil clientes e mais de 414 postos de atendimento. No ano de 2014, o Banco obteve o lucro líquido de R$ 150 milhões e com o patrimônio se aproximando de R$ 1,4 bilhão. O nome de Joel já foi cotado para a prefeitura da capital e governador do estado, mas nenhuma das possibilidades se concretizou. Atualmente, o empresário é filiado ao PSD e até julho de 2019, era primeiro suplente do senador Álvaro Dias (PODE). Barros – direita Vindo de Maringá, o clã Barros inicia-se na política com Silvio Magalhães Barros. O mineiro veio com a família para morar em Maringá quando ainda tinha 15 anos e, em 1960, foi eleito como suplente de vereador de Maringá na legenda UDN. Ingressou no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sendo um dos fundadores do partido em Maringá. Em 1964, já com a


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nova legislação acontecendo no país, foi eleito vereador na cidade. Antes mesmo de completar seu mandato na câmara de vereadores, foi eleito deputado estadual do Paraná, no ano de 1966. Em 1970 foi eleito novamente para o mesmo cargo, quando se tornou suplente da Comissão de Orçamento, membro efetivo da Comissão de Economia e vice-presidente das comissões de desenvolvimento da Região Sul e de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados até 1973. Nesse mesmo ano, foi eleito prefeito de Maringá com o mandato de 1973 a 1977. Silvio é pai de Silvio II e Ricardo Barros. Silvio é engenheiro por formação e atuou por 25 anos com o desenvolvimento de produtos e destinos turísticos no Brasil e no exterior. Em 2004, foi eleito prefeito de Maringá e reeleito em 2008, quando instaurou o Observatório Social de Maringá. Em 2015, foi nomeado pelo então governador do Estado do Paraná, Beto Richa, para secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Governo do Paraná. Em 2018 foi nomeado secretário de Desenvolvimento Urbano e chefe da Casa Civil. Ricardo, assim como o irmão, também se formou em engenharia. No ano de 1989 seguiu o exemplo do pai e do irmão e se elegeu como prefeito de Maringá. É deputado federal pelo Paraná desde 1995. Em 2012 foi coordenador nacional das eleições municipais do Progressistas. Foi Ministro da Saúde do Brasil no governo Michel Temer de 2016 até 2018. Ricardo é casado com Maria Aparecida Borghetti, mais conhecida como Cida Borghetti, que atualmente assumiu o cargo de governadora do Paraná, a primeira mulher a comandar efetivamente o Executivo paranaense. Começou sua carreira política Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Divulgação

Na ordem da esquerda para a direita: Ricardo Barros, Cida Borghetti, Requião, Requião Filho e Beto Richa.

como militante do PDS Jovem e foi filiada ao Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Progressista (PP) e ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Com a eleição do esposo em 89, assumiu o cargo de primeira dama em Maringá. Em 2014, foi candidata à vice-governadora na chapa de reeleição do então governador Beto Richa. Em 2018, com a saída prematura de Richa do governo, Cida assume. Da união dos dois nasce Maria Victoria Barros, que em 2014 foi a candidata a deputada estadual mais jovem pela coligação PP/PMN. Requião – esquerda Foi o médico Wallace Tadeu de Melo e Silva quem iniciou a família na política. A família Melo e Silva sempre esteve presente em órgãos públicos. Em 1946, Wallace foi eleito vereador para a Câmara Municipal de Curitiba. Em 1951, foi eleito o 48º prefeito da cidade. Em Curitiba, no ano de 1940, ele se casou com Lucy Requião, com quem teve cinco filhos. Um deles decidiu seguir pela carreira do pai. Talvez a figura mais polêmica de toda política paranaense, Roberto Requião de Mello e Silva, iniciou sua vida política como membro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Foi Secretário de Desenvolvimento Urbano do Paraná de 1989 até 1990. Governou o Paraná em três mandatos, o primeiro de 1991 até 1994, o segundo de 2003 até 2006 e por último, de 2007 a 2010. Atualmente é senador do estado, cargo que assumiu primeiramente entre os anos de 1995 até 2002, e voltou a cadeira em 2011. O legado continua com Maurício Thadeu de Mello e Silva, mais conhecido como Requião Filho. O Foto: Divulgação

advogado por formação é deputado estadual desde 2015 pelo MDB, que segue a mesma linha de ideologia do pai. Richa - direita O carioca José Richa chegou no estado do Paraná para cursar Odontologia na UFPR. Sua vida política começou em 1962, quando eleito deputado federal pelo Partido Democrata Cristão. Em 1964, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tendo sido um de seus fundadores. Em 1970, foi candidato a senador. Dois anos depois, foi eleito prefeito de Londrina, ficando no cargo entre 1973 e 1977. No ano de 1978, foi eleito senador. Em 1982, Richa foi eleito governador do Paraná, onde ganhou notoriedade pelo engajamento na campanha de Diretas Já. Eleito pela segunda vez como senador, em 1988, deixou o PMDB para ser um dos fundadores do PSDB. Seu filho, Carlos Alberto Richa, mais conhecido como Beto Richa, foi quem deu continuidade na vida política dentro da família. Seu nome está bastante comentado devido às investigações que envolvem seus mandatos. Richa esteve no poder como deputado estadual do Paraná durante 1995-1999 e 1999-2001. Como vice-prefeito de Curitiba entre os anos de 2000 e 2004. Assumiu como secretário de obras públicas de Curitiba entre janeiro e outubro de 2001. Foi prefeito de Curitiba durante dois mandatos, no período entre 2004 e 2010. Por último, assumiu como Governador do Paraná entre 2011 e 2018, pelo PSDB. Seu sucessor, Marcello Richa, é ex-presidente nacional da juventude do PSDB. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


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Laços de família

Eleitor deve conhecer os laços de família da política brasileira O chamado “familismo” é um fenômeno comum no Brasil e em vários países, a classe dominante da política está enraizada em uma estrutura de parentesco que ocupa espaço em todos os poderes Gabriele Bonat e Rodrigo Silva

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estrutura social e política brasileira preserva contornos que remontam as Capitanias Hereditárias. O chamado “familismo” é caracterizado por indivíduos que ocupam cargos eletivos e que têm parentes também ocupando essas funções. Esse fenômeno é comum no Brasil e está concentrado nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. No Congresso Nacional, por exemplo, estima-se que 319 dos 513 deputados e 59 dos 81 senadores tenham laços de sangue com outros políticos. No Paraná o poder está concentrado em poucas famílias. Das 54 cadeiras da Assembleia Legislativa na legislatura (2015-2018), 16 são ocupadas por herdeiros de famílias conhecidas na política. Esse arcabouço político é o mesmo para os poderes Executivo e Judiciário. A chapa de Beto Richa e Cida Borghetti que esteve no Executivo estadual é parte dessa realidade. O primeiro é filho do ex-governador José Richa e tem no seu filho Marcello Richa (PSDB), um nome surgindo na política. A segunda é esposa do ex-ministro da Saúde e deputado federal Ricardo Barros (PP), cujos pai e irmão também são políticos. Ela também tem como filha a deputada estadual Maria Victoria (PP).

Para a cientista política Karol Roeder, a população deve se preocupar mais com a sua representação. Segundo ela, a dominação de algumas famílias na política pode afetá-la. As pautas apresentadas por uma dominação patriarcal familiar muitas vezes não refletem o perfil daquela população do estado ou país. “A força do familismo nos partidos e na política eletiva vai no caminho oposto da democracia nas instituições”, afirma. Roeder destaca que os partidos funcionam como aparatos de famílias, que inclusive já dispõem de recursos (materiais e imaterais), ao invés de servirem para organizar de fato as eleições e incluir a população na política. Ela também ressalta que a inclusão de familiares na política funciona como um atalho a melhores posições dentro daquele meio, pessoas comuns não possuem essa característica e acabam tendo que caminhar mais para chegar a posições de representação política De acordo com o sociólogo e consultor da Nexus Pesquisas e Consultoria Política, Tiago Valenciano, o poder, concentrado nas mãos de poucos, fez com que a política se propague como um negócio de famílias. Valenciano destaca que as estruturas de parentesco e

famílias no poder se produzem e reproduzem a cada eleição. Segundo ele, essa realidade só pode ser modificada, a partir de uma análise mais profunda do eleitor. Jhon Albin, 46 anos, é pintor e diz não se preocupar com as questões familiares dos políticos nas eleições. Para ele, o maior problema do país está na corrupção, muitos candidatos estão ou já estiveram envolvidos em escândalos. “As pessoas na política têm que ser eleitas por competência”, disse. Já Marcelli de Oliveira, 23 anos, é vendedora em Curitiba e acredita que a política vai continuar a mesma coisa após as eleições deste ano. Para ela, a política virou negócio de família, para que quem assumir o poder, possa enriquecer seu patrimônio com mais facilidade.

NO CONGRESSO NACIONAL 319 dos 513 deputados e 59 dos 81 senadores possuem laços de sangue com outros políticos


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Centralização do poder

Poder centralizado: Paraná se reveza na hegemonia familiar Com o controle da máquina pública e do poder sociocultural, grupos familiares inibem a inserção de novos rostos no cenário político paranaense Brayan Valêncio e Victória Sampaio

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esde a redemocratização do Brasil, nos anos 80, poucas famílias puderam coordenar o poder máximo do Executivo estadual. Apesar de já terem ocorrido sete eleições para o governo do Estado, três principais sobrenomes ocuparam o Palácio das Araucárias, e dividiram espaço com outras poderosas e influentes oligarquias familiares. O primeiro governador eleito após o golpe militar de 1964 foi José Richa (MDB), pai do responsável por chefiar o Estado entre 2011 e 2018, Beto Richa (PSDB), que renunciou em 2018 à cadeira no Centro Cívico de Curitiba para disputar o Senado Federal. Além dos Richa, o senador pelo Paraná e atual candidato à presidência da República Álvaro Dias (PODE) também é uma figura conhecida dos paranaenses ao lado de um de seus nove irmãos, Osmar Dias (PDT), que renunciou aos 45 do segundo tempo pela corrida ao cargo que já foi ocupado por Álvaro durante cinco anos. Roberto Requião (MDB) também chega forte para o pleito de 2018. Como senador da República por oito anos e governador por três mandatos, Requião disputa uma das duas cadeiras disponíveis no prédio esquerdo do Congresso Federal com Beto Richa, possibilitando que os três senadores do Paraná em 2019 sejam das oligarquias Dias, Richa e Requião. Além de seu sucesso eleitoral como representante do Paraná, Roberto Requião conseguiu, em 36 anos de vida pública, alavancar nomes como de seu primogênito Requião Filho (MDB) como deputado estadual e seu sobrinho João Arruda (MDB) como deputado federal e também postulante ao governo do Paraná. Para além das famílias que disputam como “sempre presentes” no cenário paranaense, outros sobrenomes se destacam, como os Borghetti e Barros, Rocha Loures, Fruet, Ribas Carli e Bueno. Tais famílias, apesar de não aparecem como chefes do Executivo estadual, com exceção da atual governadora e candidata à reeleição, Cida Borghetti (PP) casada com o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), e mãe da deputada estadual Maria Victória (PP), os outros nomes se destacam por governarem cidades-chave do Estado ou por sempre conseguirem suas cadeiras nas câmeras municipais e na Assembleia Legislativa. Com quase 40 anos desde que o primeiro civil reassumiu a República, poucas mudanças são esperadas para o próximo quadriênio: Requião e Richa aparecem entre os favoritos pela corrida ao Senado, Cida Borghetti e Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), filho do apresentador televisivo Ra-

tinho, aparecem como os únicos “eleitoralmente viáveis” ao governo do Estado. Olhando pelo retrovisor está João Arruda, que aparece como terceiro colocado, além da reeleição em massa que deve ocorrer entre os já conhecidos e tradicionais deputados estaduais e federais do Paraná. Controlando o poder em cidades como Curitiba, Londrina, Maringá e Guarapuava, além dos filhos e parentes em cargos de nomeação, essas famílias inviabilizam a renovação e fecham o cerco contra a rotatividade no poder. O empoderamento eletivo por parte de outros cidadãos acaba esbarrando no poder político, social, cultural e financeiro das tradicionais famílias que de forma recorrente vão se reelegendo e fazendo sucessores. Por outro lado, o grande índice de reprovação do eleitor demonstra que a necessidade de mudança é grande, mas a realidade atual não permite que ocorra um índice relevante de trocas no poder. Quando o controle de Beto Richa sob a Prefeitura de Curitiba foi quebrado por Gustavo Fruet (PDT) auxiliado pelo PT em 2012, o então governador, na eleição seguinte, resolveu apoiar um também ex-prefeito para que Gustavo, filho de Maurício Fruet (PMDB), que também comandou a cidade de 1983 a 1986, não conquistasse a reeleição e devolvesse ao núcleo político dos Richa o controle da “prefs”, além de recolar Rafael Greca (PMN), no Palácio 29 de Março, função que o Arquiteto e Urbanistas já havia ocupado em meados dos anos 1990.

Tais alianças são comuns. Se em 2010 Gustavo e Beto disputaram a eleição na mesma chapa, dois anos depois eram oportunamente inimigos e racharam a parceria cedendo espaço para outras alianças. A forma com que a política se transforma, baseada em coligações e negociações, inibe ainda mais a participação do civil comum, que se vê fora do jogo eleitoral e que é consequentemente engolido pelos políticos de carreira que dão as cartas e controlam o entra e sai nas câmaras municipais, nas prefeituras, na Alep e no governo do Estado, além de tribunais e ambientes estatais. Mas claro, essas manobras só acontecem devido ao inevitável apoio popular que tais oligarquias conseguem ao se destacarem nos cenários socioculturais, econômicos e principalmente políticos do Estado. Ao longo da história do Paraná é possível perceber que o embate político nunca foi por membros de uma sociedade civil com convicções diferentes, mas sim, integrantes de famílias opostas que se revezam no controle e influência de um dos estados mais importantes para a economia do Brasil. Tais fatos são facilmente percebíveis ao notar em quais grupos políticos os principais prefeitos e concorrentes ao governo pertencem: são sucessores-dependentes dos dois ex-governadores reeleitos do Estado, com a família Dias alçando outros voos e controlando setores importantes de instituições governamentais.


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