Lona - Edição nº557

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RIO DIÁ do

Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010 - Ano XII - Número 557 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Perfil

Pablo Braga Machado

BRASI

L

redacaolona@gmail.com

Mercado formal de emprego em expansão no Brasil

Pág. 3

Divulgação

Se envolver com a política desde cedo pode fazer a diferença. Saiba quais são os motivos que levam um jovem a fazer parte do movimento estudantil e lutar pelas causas socialistas. Pág. 7

Opinião

Influência eletrônica

Redes sociais irão substituir as relações tête-à-tête? Qual é o impacto do “não-lugar” nas relações pessoais? Será o fim dos abraços entre os amigos? Dos beijos enamorados? Confira no texto de Cássio Bida. Pág. 2

Colunas

Virgindade e previsões sobre fim do governo PT A colunista de hoje reflete sobre a virgindade; o colunista de política faz um “balanço” sobre como o próximo governo vai encontrar o Brasil. Pág. 6

Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta crescimento no mercado de trabalho formal, e, em contrapartida queda de 3% no mercado informal. Na capital paranaense, segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve crescimento de 0,6% na taxa de trabalho com registro. Somente nos meses de janeiro e fevereiro, foram criadas em Curitiba 6.891 novas vagas de emprego, com destaque para as

áreas de serviço e construção civil, o que, entretanto, não afasta trabalhadores do mercado informal, que, segundo dados de 2005 do IBGE é responsável por 8,4% da riqueza que é produzida no país. Contudo, o mesmo mercado que movimenta a economia brasileira também é responsável pelo rombo na arrecadação de impostos, que, em 2008 moveu R$ 840 bilhões de forma ilegal. Pág. 3


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Espaço do Leitor Boa matéria do @danilogeorgete e @beto_frasson no @JornalLona de hoje! Miguel Locatelli, estudante de jornalismo, via twitter (@miguelocatelli); sobre a entrevista com o médico e ex-jogador da Democracia Corinthiana, publicado na terça-feira. Juliano, é isso aí: coluna é para gerar discussão mesmo e fazer o povo pensar! Rodrigo Cintra, estudante de jornalismo, via twitter (@rodrigo_cintra); sobre a coluna de político do Juliano Zimmer, publicada há uma semana. Há boatos de que hoje sai outro texto "bom" daqueles, com direito a bastante senso comum, na coluna de política do @JornalLona. Não PERCAM! –N Luiz Felipe Deon, estudante de jornalismo, via twitter (@lfdeon).

Errata

A fotografia publicada na terçafeira (11), na página 4, como sendo de divulgação na verdade é de autoria de Bruno Rolim, estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Luma Bendini, estudante do 5° período de Jornalismo da UP.

Expediente Reitor: José Pio Martins. Vice-Reitor: Arno Antonio Gnoatto; PróReitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Cosme Damião Massi; Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa e Pró-Reitor de Extensão: Bruno Fernandes; Pró-Reitor de Administração: Arno Antonio Gnoatto; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira e Marcelo Lima; Editores-chefes: Aline Reis (sccpaline@gmail.com), Daniel Castro (castrolona@gmail.com.br) e Diego Henrique da Silva (ediegohenrique@hotmail.com).

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”. O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Redação LONA: (41) 3317-3044 Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000

Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010

Opinião

Bolsa Família pelo ralo

dade i v i t c e n o c r Hipe

s e as relaçõe is interpessoa

Sidney da Silva castrolona@gmail.com

Fiquei preocupado ao ver matéria vinculada pelo portal de notícias Terra, no último dia 9, que mostra a audácia de uma jovem do interior do Paraná que utilizava o beneficio do Programa Bolsa Família para comprar drogas. Não podemos aceitar que este benefício tão útil e que recolocou no mercado vários consumidores brasileiros seja utilizado para fins ilícitos e imorais como este. De acordo com a matéria, a jovem foi flagrada com duas pedras de crack e, quando questionada, afirmou que fez uso do dinheiro destinado ao programa. A polícia apurou que o benefício pertencia à namorada da jovem, e vai verificar se ela tinha conhecimento da utilização do cartão para saques, destinando o dinheiro para compra de drogas. A acusada já responde desde o ano passado por um processo de tráfico e se confirmada esta apropriação do benefício, pode deixar de fazer parte do programa.

O programa gera um comodismo em muitas pessoas que, quando se deparam com o baixo salário do mercado de trabalho, preferem viver somente do benefício Embora pareça um fato isolado ou apenas mais uma loucura proporcionada por viciados, casos como este servem para que a sociedade atue fiscalizando e denunciando eventuais falhas nestes programas de benefícios. É importante ressaltar que o programa gera um comodismo em muitas pessoas que, quando se deparam com o baixo salário do mercado de trabalho, preferem viver somente do beneficio ou até mesmo recorrem à informalidade como forma de complementar a renda. Portanto, seria hipocrisia condenar somente a jovem, mas sim esperar que cada cidadão tenha a consciência da importância do uso adequado do beneficio e que o governo acompanhe de maneira eficaz o uso dos recursos para que assim o programa possa atender a todos os seus objetivos.

Cássio Bida de Araújo cassiobida@gmail.com

O mundo virtual é uma realidade. Praticamente tudo o que você pensa em fazer na vida é informatizado. Desde um simples saque bancário até mesmo o pedido de uma refeição. Até mesmo as relações humanas estão afundando na base do virtual. Hoje é muito mais fácil combinar qualquer coisa via Orkut ou MSN do que simplesmente passar a mão no telefone. Aliás, pra que telefone se hoje o Skype resolve tudo? Boa parte das relações humanas mergulharam no ostracismo graças à tecnologia. Você não troca mais tantos abraços e beijos a todo tempo. O BuddyPoke, programa em que você constrói uma cópia virtual personalizada - conhecida pelo nome de Avatar, faz isso para você. Seus sentimentos e sua vida tornam-se mais públicos que manchete de jornal com fotos, pensamentos e posições políticas e pessoais. Isso sem falar que as cartas de papel sumiram, elas também entraram na era eletrônica pelo e-mail. Mas a pior parte de toda a "brincadeira" é que tem pessoas que se importam tanto, se prendem de tal forma a essa dependência virtual, que acham que o fato de apagar o seu perfil do Orkut represente necessariamente o final de uma amizade ou mesmo de uma relação. Orkut, MSN, perfis em redes sociais, não são contratos que comprovem que sou amigo de alguém. Claro, são meios que facilitam para manter contato caso a distância seja grande, mas não são laços que prendam afetivamente as pessoas.

Você não troca mais tantos abraços e beijos a todo tempo. O BuddyPoke, programa em que você constrói uma cópia virtual personalizada - conhecida pelo nome de Avatar, faz isso para você Por mais que seja bacana receber um ‘oi’ no seu perfil, email ou coisa do gênero, não há nada ainda que substitua um abraço apertado, um olhar carinhoso e um beijo daqueles de tirar o fôlego. Afinal de contas, ainda somos humanos e temos sangue correndo pelas veias. *Dedicado a todos aqueles que levaram a sério demais um delete no Orkut ou um bloqueio no MSN


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Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cresce Pós-crise

número de empregos formais no Brasil Márcio Cordeiro Lima levanta todas as manhãs e vai até a Rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba. Aos 48 anos, trabalha vendendo frutas. Ele aprendeu a profissão há 25 anos e há 15 faz desse trabalho seu ganho. Todas as coisas que possui hoje em dia são oriundas deste trabalho. Para ele, vender frutas é melhor do que um emprego com carteira assinada. “Prefiro trabalhar dessa forma, pois faço meu horário, ganho por dia e não tenho patrão”, conta. Seu emprego permite também trabalhar cada dia num lugar diferente, o que aumenta sua renda. “O lucro no final do mês é muito maior do que em um local fixo”. As atividades de Márcio são características do trabalho informal — aquele que não tem benefícios: carteira assinada, renda fixa e 30 dias de férias renumeradas. Não há vínculo empregatício, nem documentação. Apesar de ter diminuído nos últimos anos, esse tipo de trabalho ainda é opção para algumas pessoas. Muitos deles veem vantagem na liberdade de um serviço sem patrão, outros acabam na informalidade porque, sem qualificação, não conseguem entrar no mercado formal. Em 2009, segundo a última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve crescimento de 0,7% no quesito emprego. Ainda de acordo com a pesquisa, o emprego informal sofreu uma queda de 3%, aumentando a média de trabalhadores com carteira assinada para 77,9% em menção do percentual anterior que era de 76,7%, isso por conta da con-

Divulgação

Luana Marques

tratação de 2,3% a mais de trabalhadores no período. Para o economista Luís Sisson dos Santos, no ano da crise mundial, em que a economia brasileira estagnou, esperava-se mais crescimento dos subempregos. Mas o resultado surpreendeu, porque a formalização dos empregos continuou crescendo. O registro profissional proporciona programas sociais que fazem falta para o vendedor de frutas. “Não tenho direito aos benefícios do INSS e não posso tirar férias pagas”, lamenta. A única vez que teve sua carteira assinada foi em um emprego temporário, por 40 dias, durante o feriado de Páscoa. Em Curitiba, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o emprego formal teve crescimento significativo

com mais de três mil vagas preenchidas, aumento de 0,6% em relação ao mês anterior. Este não é o caso da estudante Mahala Fernandes, que tem 20 anos e nunca trabalhou com carteira assinada. Enquanto procura um emprego, revende cosméticos para conseguir alguma renda: “Ganho de 30% a 40% do total vendido, com isso ajudo em casa com um dinheiro extra”, diz. “Ainda não podemos descartar totalmente a crise, então a tendência é que as empresas contratem trabalhadores por períodos de experiência e também aqueles sem carteira assinada”, afirma o economista Sisson. Subocupados Para o IBGE, subocupadas são as pessoas que dizem que até poderiam trabalhar mais horas, mas que diante da cri-

se só encontram serviços em tempo parcial, sem vínculo empregatício. Segundo esta definição, a jovem Mahala também pode ser caracterizada desta forma. Entre setembro do ano passado e fevereiro de 2009, o número de subocupados cresceu 18,3%, de acordo com o instituto. Nesse período, 114 mil brasileiros passaram a viver de subocupação, o que somam 735 mil pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Profissionais como o guardador de carros Marcos Oliveira fazem parte desta estimativa. Ele nunca trabalhou com registro em carteira. Hoje, procura um trabalho melhor e se vira como pode. “Eu era carrinheiro, mas fui atropelado enquanto trabalhava, fiz uma cirurgia e fiquei oito meses afastado de

qualquer tipo de trabalho”, explica. Hoje Marcos cuida de automóveis estacionados na Rua Visconde de Guarapuava, em Curitiba. Ele admite gostar do trabalho por não ter um patrão, mas sente falta do direito à seguridade social e do conforto: “As pessoas não são obrigadas a pagar pelo meu serviço, muitas vezes vão embora sem dar trocado algum, e os dias de chuva são os piores”, reclama. Historicamente, a subocupação cresce em períodos de desaceleração econômica. Em 2003, durante a última crise, a população de subocupados chegou a um milhão de pessoas. Segundo o IBGE, a atual desaceleração não provocou um estrago tão grande, mas já reduziu o número de pessoas no mercado formal – entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, 173 mil pessoas perderam o emprego com carteira assinada no país. Em fevereiro, o nível da ocupação – relação entre a população ocupada e a população total com mais de 10 anos de idade – caiu 1% na comparação com janeiro, para 51,6%. Formalidade O IBGE divulgou uma pesquisa referente ao mês de março deste ano que mostra o crescimento dos empregos no âmbito industrial em todo o Brasil. Comparando os números com o mesmo período de 2009, houve um crescimento de 2,4%, o maior registrado desde agosto de 2008. O Paraná, contudo, não figura entre os Estados que tiveram participação significativa no crescimento industrial. Os números apontam que o primeiro trimestre do ano com saldo positivo de 0,7%.


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Fé!

Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pablo, boto

Luiz Felipe Deon

Hoje, Pablo é presidente da UJS Cataratas – nome do diretório municipal da UJS em Foz do Iguaçu – e continua militando nas diferentes frentes de luta da entidade, desde o movimento hip hop até o movimento estudantil. Aos 25 anos, tem apenas mais quatro na política da juventude (o limite de idade na UJS é de 29 anos), mas seguirá na política que todos conhecemos – a dos “adultos”.

Luiz Fellipe Deon Na noite do sábado do último Congresso da União Paranaense dos Estudantes (UPE), em junho do ano passado, na cidade de Foz do Iguaçu, estávamos Pablo e eu andando em meio à multidão, formada em sua maioria por jovens de toda a cidade, quando um fato – na verdade um não, vários fatos – me chamou a atenção: a cada quatro, cinco passos que dávamos, Pablo parava para cumprimentar um amigo ou “conhecido”. Vendo aquela(s) cena(s), perguntei em tom de brincadeira: “Você conhece todo mundo aqui... Já pensou em se candidatar a vereador?”. A resposta, sinceramente, me surpreendeu (não deveria – e vocês, leitores e leitoras, entenderão por que ao longo deste texto –, mas surpreendeu): “Já me candidatei, ano passado... Quase deu [para ser eleito], foi por pouco. Mas na próxima a gente entra”, disse ao mesmo tempo em que abria um grande e esperançoso sorriso... O mesmo sorriso que apresenta

ao dizer acreditar “na evolução do pensamento e na transformação da sociedade”. Braga Machado são os sobrenomes do gaúcho e colorado (torcedor do Sport Club Internacional) Pablo, que já é praticamente paranaense de Foz do Iguaçu, onde mora desde 18 de março de 1993. Procurar uma escola para ele foi a primeira atitude da família ao chegar à cidade das cataratas e, ao ver várias crianças de uniforme vermelho – como o do seu time de coração, o Inter –, os olhos azuis de Pablo brilharam e ele não teve dúvidas: estudaria no Colégio Educação Dinâmica. “Um colégio com uma educação excelente”, diz, “mas que sempre evitou que os alunos fizessem uma análise crítica da realidade a sua volta”. Lá estudou até o fim do segundo grau, quando passou no vestibular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, mas resolveu se graduar na União Dinâmica de Faculdades Cataratas (UDC), pois não teve coragem de ir embora e deixar

Foz do Iguaçu, cidade em que passou “os momentos mais importantes” de seus 25 anos de vida. Entre esses momentos, certamente está sua quase eleição para vereador pelo PCdoB em 2008: “Fizemos uma campanha muito massa, de juventude e para a juventude. Quase não tínhamos estrutura de campanha, mas a combativa juventude do Araguaia (referência à Guerrilha do Araguaia do PCdoB, que lutou contra a Ditadura Militar brasileira nos anos 70) fez 421 votos”. Ou o momento em que foi escolhido vice-presidente regional oeste da UPE. Ou ainda quando chegou a tão esperada – “pela minha mãe principalmente”, lembra – formatura no curso de Engenheira Civil da UDC, instituição da qual – outro momento importante, com certeza – foi um dos fundadores do Diretório Central de Estudantes (DCE). Apesar de seu primeiro contato com o movimento estudantil ter acontecido em 2003, no 49º Congresso da União

Nacional dos Estudantes, foi por conta da atuação no movimento estudantil (ME) em sua faculdade que Pablo seguiu caminho na política – “essa atuação, me levou a desbravar e a tentar estruturar o ME em outras Instituições de Ensino Superior”. Então, logo após a fundação do DCE da UDC, em 2005, se filiou à União da Juventude Socialista (UJS) – maior entidade de juventude organizada do Brasil e uma das maiores do mundo – e passou a fazer parte da diretoria da UPE. Com o tempo e como num processo natural de amadurecimento, Pablo também ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), de ideologia semelhante à da UJS, que, por isso, é vista como a “juventude” do partido. Sim, Pablo é socialista... Não por causa da cor vermelha, da qual Pablo tanto gosta e que é símbolo do comunismo, mas “por saber que vivemos em um sistema de exploração do homem pelo homem, que a cada dia avança, acentuando as disparidades sociais e deixando

milhares de pessoas na miséria”, afirma. Por isso também, se diz um soldado que acredita no PCdoB como sendo a “ferramenta mais avançada para alcançar o socialismo”. E como “tarefa dada é tarefa cumprida”, ressalta, aceitou representar o partido e as ideias da juventude nas últimas eleições municipais. Hoje, Pablo é presidente da UJS Cataratas – nome do diretório municipal da UJS em Foz do Iguaçu – e continua militando nas diferentes frentes de luta da entidade, desde o movimento hip hop até o movimento estudantil. Aos 25 anos, tem apenas mais quatro na política da juventude (o limite de idade na UJS é de 29 anos), mas seguirá na política que todos conhecemos – a dos “adultos” –, lutando pelos ideais da juventude e pela justiça social, com o objetivo de construir o tão sonhado socialismo brasileiro. Como ele disse, quem sabe já nas próximas eleições, e, como dizia seu slogan de campanha, “boto fé!”.


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Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dinheiro

Fotos: Divulgação

Economizando desde

cedo Caroline Moraes Ensinar crianças a economizar não é uma tarefa tão difícil quanto parece. Muitos pais não conversam sobre dinheiro com os filhos por achar que eles não têm maturidade para entender o assunto. Essa é uma atitude incorreta: saber administrar economias desde cedo é importante e deve fazer parte dos conhecimentos da criança. Economizar é uma maneira de estimular as crianças a alcançar objetivos sem depender sempre dos pais. Elas precisam esperar um tempo para atingir a quantia necessária e conseguir o que desejam. Especialistas em educação financeira recomendam que os pais desenvolvam o costume de dar mesada aos filhos. Quando a criança começa a ter noção de

Grande parte dos pais da classe média dá dinheiro sempre que a criança pede, compra lanche para o filho levar à escola ou dá algum dinheiro todo dia para que ele compre o que quiser. Isso deixa a criança dependente do pai.

números, já é hora de começar. Ocorre geralmente a partir dos seis anos de idade. A criança vai à escola e sente necessidade de comprar lanche, balinhas e até mesmo figurinhas. Grande parte dos pais da classe média dá dinheiro sempre que a criança pede, compra lanche para o filho levar à escola ou dá algum dinheiro todo dia para que compre o que quiser. Isso deixa a criança dependente do pai. Por esse motivo, é ideal que a criança receba uma mesada e não dinheiro todos os dias. A mesada faz com que a criança aprenda a ser responsável.

A mesada semanal é a mais indicada. Segundo a jornalista Sophia Camargo, especialista em economia, dividir a mesada em quatro para que a criança receba o dinheiro por semana facilita o controle dos gastos. O valor da “mesada semanada” deve ser pequeno, para que a criança consiga contar e administrar o dinheiro que recebe. Os pais devem estabelecer um dia certo para dar a mesada aos filhos, sem atrasar ou adiantar o pagamento. A jornalista também recomenda que os pais não aumentem a mesada dos filhos sempre, principalmente se a criança é descontrolada e gasta assim que recebe. Quando a criança estiver com a mesada, é importante que ela saiba guardar o dinheiro, para entender que, quanto mais guardar, mais o valor vai aumentar. A tarefa pode parecer difícil para os pais, mas não é, e vale o esforço. Quanto mais nova a criança, mais rápido vai aprender a guardar dinheiro e mais fácil será. Dar um cofrinho de presente é uma dica. Outra atitude importante da parte dos pais é abrir uma poupança para o filho. Além da criança não poder retirar todo o dinheiro, ela vai aprender que deixando as economias no banco o valor pode aumentar, devido aos juros mensais. Para criar um filho responsável financeiramente é necessário que os pais deem o exemplo. Não gastar tudo o que recebem, não "comprar" o amor dos filhos com

presentes fora de hora, não praticar o desperdício dentro de casa, mostrar que o dinheiro que recebem é fruto do trabalho e é limitado são algumas formas de fazer a criança perceber que deve economizar desde cedo, porque se não fizer isso vai se prejudicar futuramente. O dinheiro deve ser visto como algo importante para viver bem, com conforto e segurança. Nem sempre foi assim Em outras épocas ou em países de culturas diferentes, o costume de dar uma quantia mensal em dinheiro para os filhos não é tão comum quanto é hoje no Brasil. A gerente de livraria Gladys Villarroel conta que no Chile, seu país de origem, esse não é um hábito comum. No entanto, ela reconhece as vantagens dessa prática. “Acho importante para que os filhos desenvolvam características como a responsabilidade”, conta. A mudança cultural também é destacada por Eliete Saraiva. A secretária de cursos da Universidade Positivo destaca que o costume é novo. “Eu dava apenas o essencial para o meu filho. Além disso, de vez em quando dava um dinheirinho para o cinema, mas mesada não”. Apesar das diferenças entre as épocas, ela não acredita que uma seja melhor do que a outra. “As coisas vão mudando naturalmente. Não acho que dar mesada seja bom ou ruim, é uma questão cultural”. Colaborou: Daniel Castro


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Juliano Di Zimmer Camilla Lucca Escreve semanalmente, às quintas-feiras,

Tatiane Godinho Escreve quinzenalmente, às quintas-feiras, sobre gênero taty_jesusteama@hotmail.com

Escreve quinzenalmente sobre arte, sobre política sempre às terças-feiras juguzi@hotmail.com cami.baudelaire@gmail.com

Política “Leitura”, de Almeida Júnior/ Divulgação

A donzela recatada na visão de Almeida Junior: ideal feminino da sociedade do século XIX

Sexo

O que é mais fácil de achar: uma mulher

virgem

ou uma nota de 100?

A brincadeira ao retratar o assunto devese aos inúmeros comentários masculinos sobre o tema. Muito se fala das “virgens” e não é de agora. No século 2 a.C era um hábito dos romanos mostrar, como prova de pureza da

É estranho rotular algo de tamanha importância baseado apenas em uma película tão fina, afinal, a virgindade é algo que vai além do corpo e dos pensamentos moça, o lençol manchado de sangue da noite de núpcias. Hábito que durou no Brasil até o século 19. Mesmo com a modernização e a tão dita liberdade sexual feminina, o tabu sobre o assunto permanece. Mas o que muitos não percebem é que a visão de virgindade parte de vários ângulos. Segundo os especialistas, virgem é a moça que não possui o hímen rompido, uma membrana localizada na vagina,

que se desfaz após a primeira relação sexual, porém, a moça que só faz sexo anal ou oral permanece com o hímen intacto. E por isso, ela deve continuar sendo classificada como virgem? É estranho rotular algo de tamanha importância baseado apenas em uma película tão fina, afinal, a virgindade é algo que vai além do corpo e dos pensamentos. Quase todos os homens já tiveram o sonho de ser o primeiro na vida de uma mulher, até mesmo por uma questão de honra e vaidade, entretanto, já não se exige isso como antigamente. A moça não precisa ser virgem para conseguir um namorado um marido. E há aqueles que até preferem as mulheres que já contém alguma experiência, para compartilhar vontades e aprender coisas novas. O problema não está no resguardo em si, mas na banalização do sexo e do número elevado de parceiros e parceiras. Sexo não é apenas prazer é também uma ligação íntima de corpo e alma. É capaz, no entanto, de transmitir inúmeras infecções e doenças. Não importa se será a primeira, segunda ou centésima vez. Dessa forma, se evitará grandes arrependimentos.

A previsão está dando certo Amigos leitores, quando passei a escrever para o Lona, sempre tive a intenção de mostrar um ponto de vista diferente sobre a política brasileira, que poderia servir de reflexão para os eleitores dessa instituição de ensino, mas parece que alguns leitores não entenderam o que escrevi na última coluna. Até parece que cometi um crime dizendo a verdade, talvez por simplesmente apontar o óbvio do que acontece na política, mas o óbvio muitas vezes é ignorado por uma parte da sociedade que mantém no poder o mesmo grupo que governa há décadas e impõe aquilo que para eles é o melhor. Se alertar algo errado que vem acontecendo é dizer o óbvio, é isso que continuarei fazendo. Isso tudo não depende de partidos políticos, e sim da forma de governo do país. Para nós, sobram as migalhas. Isso vem desde o tempo da escravidão. A política brasileira faz questão de andar à margem da lei. No início do atual governo, muitos jornalistas políticos previam o que poderia acontecer, e infelizmente muitas coisas vêm acontecendo. Muitos previam, por exemplo, que o PT contrataria milhares de sindicalistas e companheiros para ocupar cargos no governo, e que os funcionários públicos comissionados transformariam seus cargos em boquinhas definitivas, que em muitos casos deu margem ao nepotismo que aconteceu no país todo. Muitos previam também que os erros desse governo seriam ocultados, como caixa-dois, mensalão, sobras de campanhas, dólar na meia, na cueca e o Lula e a Dilma fazendo campanha nas inaugurações feitas por todo o país, o que por sinal vem aumentando neste ano, desrespeitando até mesmo o Supremo Tribunal Eleitoral. Enfim, as verdades estão aparecendo e são claras como a luz na escuridão. Uma coisa que era prevista também pelos analistas e está acontecendo de forma ainda pior é que as projeções do Ministério da Previdência mostram que o rombo em suas contas chegou à marca de R$ 33 bilhões. Com esse rombo, o buraco previdenciário aumentará em pelo menos 30% a mais do que o Ministério previa para este ano. Esse governo é cheio de surpresas e novidades.

No início do atual governo, muitos jornalistas políticos previam o que poderia acontecer, e infelizmente muitas coisas vêm acontecendo. Muitos previam, por exemplo, que o PT contrataria milhares de sindicalistas e companheiros para ocupar cargos no governo O próximo presidente vai pegar a caixa quebrada, como acontece há vários anos, em vários governos. O caso das fichas limpas não deu em nada, as milhares de assinaturas pedindo a aprovação desse projeto foram engavetadas no Congresso. Nada muda, porque afinal de contas, eles são a grande verdade, os donos do poder, e nós não compreendemos nada. Somos pequenos perto deles, somos só a sociedade.


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Imagem: Divulgação

Página Literária

Devaneios Marcos Felipe Monteiro Acordo às 10 horas. Sempre. Não me importo em acordar mais cedo. Pra quê? Trabalhar? Não preciso dessas coisas. Nasci em “berço de ouro”, como dizem meus pais. É, a sorte não aparece para todos, eu sei. Mas somente para aqueles que, assim como eu, merecem. Minha rotina é tranquila, porém cansativa. Logo após levantar-me, vou para o banho. Previamente preparado por um de meus empregados. Lógico. Trinta minutos de água quente e gostosa sobre meus ombros. Nada melhor para quem teve uma desgastante noite de nove horas de sono. Chegou a hora do meu café da manhã. Cinco. Exatamente. Cinco pessoas preparam meu saboroso café. Com tudo o que você imaginar. Olivas colhidas diretamente do pé. O quê? Sim, é verdade. Esqueci de falar. Estou em Fontainhas em Porto, Portugal. Agora entendem o porquê das olivas. Mas não tenho tempo a perder com as olivas. Daqui a uma hora preciso estar em Paris. Tenho uma reunião com o prefeito. Iremos decidir o futuro da torre “Eiffel”. Estão querendo derrubá-la. É, também não gostei da ideia, mas parece que vão construir o maior shopping do mundo no lugar. Depois dessa reunião vou para a Itália. Sempre bela. A torre de Pisa, como sempre, quase caindo. Um dia aquele negócio cai, aí que quero ver. Acho que vou almoçar por lá mesmo. Dizem que os restaurantes italianos são bons. Próxima parada, Tóquio. Não gosto muito de lá. Toda vez que vou, ficam me oferecendo escorpião frito. Já cansei de dizer que não gosto! Acho que essas comidas asiáticas deviam ser proibidas. Vou discutir com o presidente da ONU uma maneira de diminuir as emissões de gás car-

bônico. Reunião protocolar, não faz meu tipo. Às 20h, tem a final da Liga dos Campeões. Não vou poder jogar. Não, não estou machucado. É que nesse horário tenho que fazer uma filmagem para o próximo 007. “James Bond contra o império afegão”. Roteiro muito bom. Sou o inglês mais novo a fazer o papel do agente mais famoso de todos os tempos. Acabando as filmagens tenho que dar uma aula de Física Quântica em Sorbonne. Mas acho que vou mandar um substituto, acabaram de me ligar do hospital. Terei que fazer uma cirurgia de emergência. A Jolie quer lábios maiores e quer agora! Meu dia está acabando, mas ainda tenho alguns compromissos. Ricardo Teixeira quer minha opinião sobre os projetos para a Copa de 2014, Beto Richa me pediu um jingle para sua campanha como governador. Falei para ele ficar tranquilo. Logo entrego. Bom, agora sim meu dia está acabando de fato. Estou no meu jatinho particular a caminho da minha bela casa, como disse antes em Delos, na Grécia. Por falar em Grécia, prestem mais atenção nas olivas daqui. Não sei se disse antes, mas odeio olivas. Toda vez que venho aqui, ficam me oferecendo olivas. Já cansei de dizer que não gosto! Acho que essas “frutinhas” gregas, ou portuguesas, não faz diferença, deveriam ser proibidas. Sei que muitos devem achar meu dia chato. Às vezes o acho também. Pra lá e pra cá, sem parar um minuto se quer. Mas é assim que tem que ser. Afinal de contas, “sou brasileiro e não desisto nunca!” Deitado na minha cama eu faço sempre um resumo do meu dia. Acho que muitos também o fazem. Lá vai. Meu almoço foi bom. Não tem como não ser bom em Paris. A reunião sobre o futuro da torre de Pisa

foi satisfatória. Não vão mais construir aquele maldito shopping. Bom, não posso me esquecer, a reunião sobre a emissão de gás carbônico em Sorbonne. Conseguimos melhoras significativas. De fato tive que mandar um substituto para a aula de Processos Cirúrgicos na Faculdade de Tóquio. Mas foi por um bom motivo. Brad Pitt, o marido da Jolie, fundou um novo instituto de Física Quântica. Fui convidado para fazer o discurso de abertura. Depois fiz a final da Liga dos Campeões, até marquei um gol! Mas acabamos perdendo o jogo. Imagina só, quase que deixo de ir ao jogo para fazer a gravação de uma comédia inglesa! Já, quase agora, me reuni com Beto Richa para entregar o projeto de um novo estádio da Copa de 2014. Ah, teve também aquele chato do Ricardo Teixeira querendo um jingle. Fiz um na hora, estava sem paciência. Não. Não lembro direito, era alguma coisa com “50 milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração...”. O importante é que ele gostou. Na verdade eu acho que já ouvi isso em algum lugar. Enfim, meu dia chega ao fim. Já fiz meu resumo. Agora só me resta repousar. Afinal de contas amanhã tenho que acordar às 5h20 para pegar o ônibus e ir trabalhar. Não são todos que têm a sorte que eu tenho. Um estágio no primeiro período da faculdade. Mas antes de adormecer, fico imaginando como será o café da manhã. Tudo preparado por mim. Lógico. Quem sou eu para ter alguém que prepare meu café. Pão com manteiga e um belo café amargo. Tomara que tenha azeite de oliva. Já lhes disse que sou completamente louco por olivas?


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Curitiba, quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cultura

Que cheiro pode ter o ralo? Vinicius Ferreira O nome é chamativo mas causa estranheza: O Cheiro do Ralo. O próprio diretor adimite que o título fora um grande empecilho para conseguir financiadores. Mas, logo na abertura, percebemos o gosto de Heitor Dhalia, em criar estranheza no espectador. Uma música que dá a sensação de estar em uma praia no Havaí, e uma bunda desfila pela rua com um shorts de coqueiros, quando o trajeto pouco importa. O que parecia engraçado é cortado por enquadramentos rígidos, e Lourenço atravessa ruas acompanhado de uma trilha sonora com timbre setentista. Narrador e protagonista, o personagem no corpo de Selton Mello é irônico, sarcástico e solitário. Ocupa seu dia vendendo e comprando coisas antigas, mais comprando do que vendendo. Em seu “antiquário” passam inúmeras pessoas todos os dias. Inicialmente, suas compras parecem sem critério, mas logo se descobre uma relação metonímica. Como exemplo um olho de vidro e uma perna mecânica. Polêmico, o longametragem provocou reações variadas na crítica especializada, que se dividiu entre o amor incondicional e o desprezo olímpico. Com alguma atenção, é possível enxergar exatamente quais as características que apaixonam e afastam as duas facetas do público. Entre os elementos positivos, é impossível deixar de mencionar a atuação excepcional de Selton Mello. Presente virtualmente em todas as cenas (e autor de uma narração em off que, junto com dezenas de pequenas vinhetas musicais, funcionam como cola para as múltiplas esquetes e cenas soltas que compõem o todo), Mello é o maior responsável por dar profundidade ao protagonista. O pouco de empatia que a produção consegue criar entre Lourenço e a plateia vem do ator. Ele mergulha na mente doente do protagonista e, graças à caracterização correta e à expressão corporal blasé, dela extrai humor. Sem humor, “O Cheiro do Ralo” seria insuportável. Devido à densidade e o lixo hu-

mano do protagonista. Numa segunda camada de significado, para os mais atentos, é possível questionar a validade deste humor. Para usar um clichê popular: Lourenço não ri com as pessoas, ele ri das pessoas. É um sorriso baixo astral, para baixo. Todo e qualquer contato pessoal que o personagem estabelece, com os clientes, a ex-noiva, os encanadores, o vigia e a empregada. É entabulado no sentido de construir relações de poder em que ele, Lourenço, esteja sempre acima do outro, de modo a poder humilhá-lo – e o público se diverte ao ver os outros se arrastando, literal ou metaforicamente, diante dele. O roteiro de Marçal Aquino é inteligente, e aproveita muitos diálogos pinçados do romance. Isto dota Lourenço de inteligência superior, com raciocínio rápido e tiradas de cinismo impecável. Dependendo dos olhos de quem vê, tudo isso pode ser visto como defeito ou virtude. Se os diálogos garantem o humor, é a atuação de Selton Mello que ajuda o público a criar alguma empatia com um ser tão desagradável. A estrutura narrativa e a afetação visual não ajudam a capturar a humanidade do personagem, e só é possível vislumbrar nesgas desta humanidade por causa da grande atuação de Selton Mello. Por causa dele, a comédia de humor negro pop-retrô até ameaça, às vezes, virar uma crônica bem-sucedida da solidão de uma metrópole, intento que não é de todo alcançado. Apesar das boas intenções, visíveis na direção tecnicamente meticulosa, na fotografia cuidadosa e na edição veloz. Atributos que crescem ainda mais quando se sabe que o filme foi todo produzido de forma independente, sem a ajuda de estúdios e custeado com dinheiro do bolso de diretor, produtores e atores. O próprio Mello abdicou de seu cachê para fazer o filme, acreditando em seu potencial. Embora a cidade em que a história se passa jamais seja mencionada – aliás, poucos personagens têm nome, é evidente na tela, que é São Paulo: os muros e paredes descascados, as pichações, as tonalidades pastel e acinzentadas, as sombras difusas e a atmosfera urbana são marcas registradas da capital paulista. A

partir desses elementos, a direção de arte se esmerou em criar um universo atemporal para Lourenço, com ambientes amplos, sujos e atulhados de quinquilharias, fachadas tingidas de fuligem, ruas sempre vazias. O figurino do misantropo de carteirinha deixa evidente a intenção de apresentá-lo como um ser desconectado da realidade cotidiana: cabelo ensebado, óculos com lentes enormes, calças de brim apertadas na cintura e folgadas embaixo, camisas listradas que não fariam feio numa festinha em 1977. Tanto esmero na composição do visual, contudo, acaba contribuindo para a criação de um cenário exageradamente fake, artificial. Cenários e personagens parecem existir num universo paralelo, um mundo de sonho. Mas nada muito distante para quem conhece certas ruas e pessoas de São Paulo. O agravante é que lá as histórias quase sempre existem e se encerram satisfatoriamente dentro deste reino de imaginação, sem que seja necessário abrir caminhos entre ele mundo onírico e nossa realidade, do lado de cá da tela. Ao optar por realizar um estudo de personagem, contudo, “O Cheiro do Ralo” supõe a existência de Lourenço como ser humano, e não como mero personagem de ficção. Por isso, depende de sua reinserção no mundo real, uma trajetória que o próprio Lourenço antecipa e tenta evitar através de uma trip enlouquecida, simbolizada pelo cheio do ralo no banheiro do escritório. Até o último minuto de projeção o personagem permanece lá, dentro da tela, encapsulado dentro de um mundo cinzento e irreal, sem conseguir se comunicar com ninguém além de um nível meramente superficial. O que resulta de tudo isso é um longa-metragem criativo, inteligente, com ótimos diálogos e boas cenas de humor negro, mas também um filme frio, artificial, cujos excessos de estilo mantêm a platéia a distância e impedem as emoções de fluírem. Mas a forma como Lourenço encontro seus defeitos pode ser imortalizada na mente de muitas pessoas ao entrar no banheiro e ter certos problemas com encanamentos.

Menu Rodrigo Cintra

Divulgação

Da Sbórnia para o Mundo O Maestro Plestkaya (Nico Nicolaiewsky) e o violinista Kraunus Sang (Hique Gomez) retornam a Curitiba para apresentar o musical “Tangos e Tragédias”, no Teatro Guaíra. O espetáculo reúne música, humor e canções folclóricas da Sbórnia, país fictício onde nasceram os personagens. Onde: Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/nº, Centro). Quando: Sexta e sábado, às 21h; e domingo, às 19h. Quanto: R$ 40 a R$ 80.

Para todas as idades Está em cartaz no Teatro de Bonecos Dr. Botica, dentro do Shopping Estação, a Mostra de Teatro de Bonecos Para Todas as Idades. O festival celebra esta arte milenar desde a origem e integra elementos como música, dança e artes visuais. Nesta sextafeira serão apresentadas duas peças: a infantil “O Rei que Ficou Cego”, às 15h e 17h, e a peça adulta “Compadre Rico e Compadre Pobre”, às 20h. A primeira conta a história de jovem príncipe que busca a cura da cegueira do pai. A outra é sobre dois vizinhos muito amigos que fazem um acordo para casar os filhos. Onde: Teatro de Bonecos Dr. Botica (Av. Sete de Setembro, 2775, Centro, Shopping Estação). Quando: Sexta, sábado e domingo, às 15h, 17h e 20h Preço: R$ 10.

A história deformada Está em exposição na Casa João Turin, no Largo da Ordem, a mostra “Deformação da História”, do artista plástico João Moro, que apresenta dois trabalhos inéditos. Um painel e uma instalação trazem rostos deformados de personagens históricos como Albert Einstein, Leonardo da Vinci e Sócrates, entre outros. Onde: Casa João Turin (R . Mateus Leme, 38, São Francisco). Quando: Segunda a sexta, das 9h às 18h; sábado e domingo, das 10h às 16h Quanto: Gratuito

Fotografia Na Galeria da Caixa Cultural está em cartaz a mostra “Igrejas de Madeira do Paraná”, do fotografo Nego Miranda e da arquiteta Maria Cristina Wolff de Carvalho”. A exposição traz fotos de antigas igrejas construídas em madeira entre o fim do 19 e começo do século 20. As imagens estão acompanhadas de textos explicativos sobre a arquitetura de cada construção. Onde: Galeria da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280, Centro). Quando: Terça a sexta, das 10h às 21h; sábado e domingo, das 10 às 19h Quanto: Gratuito.


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