Lona - Edição nº 597

Page 1

RIO Á I D do

Curitiba, segunda-feira, 27 de setembro de 2010 - Ano XII - Número 597 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo

Desenvolvimento da economia é missão do próximo governador

Fotos: Divulgação

BRASI

L

redacaolona@gmail.com

Cidadania

País terá 15 mil Farmácias Populares até dezembro Pág. 7

Geral

Planos de saúde podem demorar até um ano Pág. 3

Arte

Estamos na reta final da corrida da eleição. Hoje é dia de conferir a segunda entrevista da série que o LONA faz sobre esse importante momento da política, abordando a economia do estado. O coordenador do curso de economia da Universidade Positivo, Jackson Bittencourt, fala sobre os problemas que o próximo governador terá que resolver, principalmente no que diz respeito ao crescimento de áreas menos valorizadas pelas Pág. 7 políticas econômicas do estado.

Grupo de dança masculina supera preconceitos Pág. 7


2 Expediente Reitor: José Pio Martins. Vice-Reitor: Arno Antonio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Cosme Damião Massi; PróReitor de Pós-Graduação e Pesquisa e PróReitor de Extensão: Bruno Fernandes; Pró-Reitor de Administração: Arno Antonio Gnoatto; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira e Marcelo Lima; Editoreschefes: Daniel Castro (castrolona@gmail.com), Diego Henrique da Silva (ediegohenrique @hotmail.com) e Nathalia Cavalcante (nathalia. jornal@gmail.com) .

Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”. O LONA é o jornallaboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Redação LONA: (41) 3317-3044 Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Opinião

É proibido Vou, não

proibir

vou

Jéssica Carvalho

Paola Alves

Na década de 1960, os jovens iam para as ruas. Hoje, vão para a internet. Embora saudosistas e revolucionários digam que a vontade de transformar morreu, há quem afirme que ela está bem viva e é propagada pelas redes sociais. Há 42 anos, aconteceu o que muitos historiadores classificaram como o acontecimento revolucionário mais importante do século XX. O mês de maio de 1968 foi marcado por protestos de estudantes franceses de todas as classes sociais, que não concordavam com o sistema com o qual tinham que conviver. Na época, as crianças eram disciplinadas com rigidez pelas escolas, a homossexualidade era vista como doença e as mulheres tinham que pedir permissão aos maridos para falar. Os jovens, cansados de tanta repressão, protestaram. Eles queriam novos tempos. Nesses tempos, a liberdade de expressão reinaria. O final da década de 2000 também está sendo marcado pelos protestos juvenis. As redes sociais estão saturadas de opinião, os blogs ideológicos crescem cada vez mais e os vlogs, que são blogs cujo conteúdo se baseia em vídeos e têm feito o maior sucesso na internet, ganham cada vez mais poder. Sites que foram criados para compartilhar música e entretenimento em geral, como o youtube, também se tornaram uma ferramenta poderosa para os usuários que têm muito a dizer. O vlogueiro Felipe Neto é um exemplo disso. No começo da década, quem poderia imaginar que um garoto comum, de 22 anos, gravaria vídeos dizendo o que pensa e influenciaria milhares de pessoas? Até os vídeos menos vistos do jovem, hoje, têm mais de um milhão de acessos. Os mais polêmicos têm quase seis milhões. E o nome dele, além de aparecer constantemente na mídia, é um dos mais citados na internet e nas ruas.

Em casa, na “paz” do meu lar com toda “privacidade” do mundo. O telefone toca, sem que eu esperasse qualquer ligação especial. -Paola Alves? -Isso. -Aqui é Justiça Eleitoral. Você deveria ter comparecido ao curso de mesário hoje às 11 da manhã. Você não foi! -Pois é. - Você foi convocada pelo Juiz Eleitoral e deve comparecer na segunda-feira às 11 da manhã no TRE. -Mas eu trabalho. - A justiça eleitoral está acima de qualquer instituição particular. (Com voz mecânica) Minha vontade era dizer: “Está acima de qualquer instituição, acima do meu livre-arbítrio e da minha disposição também”. Mas me calei, afinal estava falando com a toda-poderosa Justiça Eleitoral. E ela é incontestável, está acima das minhas questões. -Vai ser entregue a você uma declaração que vai dizer onde estava, e que fazia um curso no TRE. - Ok. - É na segunda feira. E você vai! Faltei ao curso de mesário porque já estive nessa posição duas vezes antes e esta vai ser a terceira. Não imaginei que para uma pessoa que já tem “bacharelado” na área, existisse a necessidade de mais. Sou uma pessoa de sorte, mais cidadã que muitos, sendo mesária tantas vezes. Estou exercendo meus direitos obrigatórios. A constituição diz que: somos livres para tomar nossas próprias decisões e blá, blá, blá. Mas a toda-poderosa está acima até da constituição. Será? Segundo a advogada Simone Nercolini, ser mesária faz parte do meu dever cívico, e portanto sim, eu tenho que ir. ”É como servir ao exército, cumprir leis ou votar, mas se por um acaso eu me afiliar a algum partido eu nunca mais serei chamada.” Bom de qualquer forma, a justiça eleitoral existe. E eu sou prova disso. Tive contato com esse “alguém” tão utópico. Para quem pensava que não existia justiça nesse país, eu sou prova de que existe. Afinal, falei com ela. A ligação terminou de forma peculiar, eu diria. Com um tom de ameaça. Acredito que coisas terríveis podem acontecer comigo se eu ousar faltar de novo, já que a toda-poderosa tem todos os meus dados em mãos e pode usá-la como bem entender. Queria pagar pra ver, mas tenho planos que podem ser prejudicados se eu não amar a pátria. Senti-me bem subversiva na ditadura democrática em que vivemos. Pensei que ia sair de casa e alguém ia me seguir pelas ruas vendo se não faço parte de nenhum movimento estudantil “comunista”, ou que meu telefone está grampeado. Será que eles exercem essa invasão e coerção naqueles a quem eu vou representar? Enfim, acho que vou, tenho medo da toda poderosa não me mandar para o ”paraíso”, paraíso fiscal.

O final da década de 2000 também está sendo marcado pelos protestos juvenis. As redes sociais estão saturadas de opinião, os blogs ideológicos crescem cada vez mais e os vlogs, que são blogs cujo conteúdo se baseia em vídeos e têm feito o maior sucesso na internet, ganham cada vez mais poder. Em um de seus últimos vídeos, Felipe Neto fala sobre política. Critica duramente, ironiza e diz que o povo é acomodado. Em seguida, recebeu 27 mil comentários, além das milhares de visualizações. Em um dos comentários, um jovem afirma: “Cara, o meu voto é seu!”. Felipe não é candidato e nunca ocupou um cargo público, mas parece ter mais poder do que aqueles que chamamos de poderosos. Não há como se dizer ao certo aonde tudo isso pode chegar, mas, nos anos 2000, qualquer um pode se tornar um formador de opinião. Basta gravar um vídeo ou escrever algumas linhas, e gastar algum tempo se autodivulgando. O poder se incomoda, mas nada pode fazer. A última tentativa de retomar o controle da situação, proibindo piadas sobre políticos, foi totalmente frustrada. Os comediantes pediram, os internautas protestaram e a causa foi ganha. A internet transforma a voz do povo na voz de Deus, e os poderosos já não conseguem mais proibir.

A constituição diz que: somos livres para tomar nossas próprias decisões e blá, blá, blá. Mas a toda-poderosa está acima até da constituição. Será?


3

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Saúde

Atendimento por plano de saúde pode demorar até um ano

Programa Farmácia Popular recebe atenção especial do governo

Profissionais alegam que trabalhar por convênio não compensa quando se tem clientela fiel

Faltam pouco mais de três meses para o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o governo decidiu investir mais no programa social de maior preferência da população, segundo pesquisa encomendada pelo Planalto. A meta é chegar, até dezembro, a 15 mil pontos credenciados para a venda de medicamentos mais baratos. O número representa um aumento de 39% em relação ao ano passado, quando havia 10.790 farmácias associadas no Brasil. Com interesse na rápida expansão do programa, o governo deixou a parte burocrática do sistema de lado e reduziu de quatro meses para 45 dias o prazo para o processo de aprovação de farmácias. Nas farmácias conveniadas, a lista de medicamentos com desconto é menor do que na rede própria. Mesmo assim, a população gostou do sistema. Em uma pesquisa encomendada pelo governo federal sobre programas sociais, o Farmácia Popular mostrou o melhor desempenho, à frente de outros programas reconhecidos, por exemplo, o Bolsa-Família. Além de boa aceitação do programa, a pesquisa revelou que a saúde representa a maior preocupação da população. Isso torna o Farmácia Popular um potencial investimento eleitoral. Mas o investimento no programa não se dá apenas na expansão da rede. O governo anunciou no final do mês de abril a inclusão de dois medicamentos na lista disponível nas drogarias conveniadas: a sinvastatina, usada para controlar taxas de colesterol, e a in-

Luisa Melara Dados divulgados neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 49 milhões de brasileiros tinham plano de saúde em 2008. Em dez anos, a parcela da população segurada aumentou de 24,5% para 26,3%. Esses dados revelam que a procura por atendimento pelo convênio de saúde cresceu, porém os clientes não estão satisfeitos. A estudante de administração Mariana Mata conta que para conseguir uma consulta por plano é preciso ter paciência. “Fiquei um mês procurando um ginecologista. Todos os médicos que me foram indicados tinham fila de espera para atendimento por plano de saúde. Em um dos casos, o tempo de espera era de um ano. O único jeito de conseguir atendimento rápido e bom é pagando o preço da consulta”, diz a estudante. A artista plástica Lídia Beatriz Alves também passou por uma situação parecida. “Faço consultas médicas de homeopatia regularmente, mas me lembro que para conseguir a primeira consulta por convênio esperei quatro meses. Como não era nenhuma urgência, pude aguardar, mas em casos extremos prefiro fazer pelo particular”, conta. Mariana e Lídia não são as únicas insatisfeitas. Dados recentes divulgados

pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-PR) indicam que das 3.218 reclamações da área de saúde feitas no órgão em 2006, 2.178 tratavam de convênio de assistência médica. Profissionais Os profissionais da saúde alegam vários motivos para a demora do atendimento por plano de saúde. A dentista Patrícia Vivaldi explica que para os médicos e dentistas associarem-se a convênios, na maioria das vezes, não é vantajoso. “O plano paga para os profissionais um preço muito abaixo do que cobramos pelo particular, acaba não valendo a pena”, diz. Segundo a dentista, uma consulta de limpeza dental custa em média R$ 130. Feita pelo plano de saúde, o profissional acaba recebendo R$30. “Estou deixando de atender pelo convênio porque já tenho uma clientela fiel. Mesmo quando eu trabalhava com planos de saúde, os horários disponíveis eram sempre no meio da tarde. Final de tarde que é mais concorrido era reservado para atendimento particular. O plano é muito interessante para recém-formados que ainda não têm muitos pacientes”, explica Patrícia.

Suelen Lorianny sulina, para pacientes com diabetes. Com a inclusão, que vai custar R$ 44,6 milhões, a lista de remédios no programa das farmácias conveniadas passou a ter 14 remédios: indicados para hipertensão, para diabetes e anticoncepcionais. Preços menores O programa Farmácia Popular tem como objetivo ampliar o acesso da população a medicamentos considerados essenciais, cobrando preços reduzidos. O que muitas vezes não sabemos é que as prefeituras municipais arcam com a estrutura física da farmácia e com a contratação de funcionários para o aten-

dimento, além de farmacêuticos, e o governo federal subsidia o valor dos medicamentos. Todos os remédios são adquiridos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em laboratórios farmacêuticos públicos ou do setor privado. A Fiocruz disponibiliza os medicamentos às Farmácias Populares a baixo custo. Então, são revendidos em farmácias próprias, ou ainda em farmácias da iniciativa privada, onde o comprador informa o CPF para o DATASUS no ato da compra. A redução de preços é possível graças à isenção de impostos e à aplicação de subsídios por parte do governo. Geralmente, os medicamentos são vendidos com preços 85% menores do que as farmácias comuns.

SXC/ Jose Conejo Saenz

Medicamentos do Programa Farmácia Popular são vendidos com preços 85% menores do que nas farmácias convencionais


4

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Eleições 2010

Arquivo UP

Soluções econômicas podem frear a violência nos centros urbanos O professor Jackson Bittencourt fala sobre os problemas que precisarão ser encarados pelo próximo governador Rodolfo May A segunda entrevista feita pelo LONA sobre as eleições 2010 aborda os desafios econômicos do estado. A violência e miséria nos centros urbanos estão muitas vezes associadas com a migração vinda do campo pela falta de oportunidades. O professor e coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo, Jackson Bittencourt, traz soluções para conter este problema social. Ele ainda destaca as potencialidades econômicas que o estado têm, mas não são aproveitadas. O professor Jackson é formado em economia pela FAE, mestre e doutor em Geografia pela Universidade Federal do Paraná.

Professor Jackson, quais são as condições da economia no nosso estado hoje? A economia paranaense tem um peso de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que é toda a riqueza gerada durante um ano. Essa participação não muda há quinze anos. Outras regiões avançaram, como a região Centroeste e no Nordeste alguns estados tiveram elevação na participação no PIB do país. Isso demonstra que, de certa forma, a economia paranaense não tem um dinamismo tão expressivo. Ela é dinâmica, porque tem uma agricultura forte e um polo automotivo, mas ela não consegue ter sustentabilidade no cresci-

mento econômico. As taxas em alguns anos são relativamente elevadas, mas depois elas caem para 2% ou 3%. É um crescimento muito baixo para um estado como o Paraná. O que falta para articular esse crescimento econômico é ter uma política industrial com foco em inovação tecnológica. Não se tem isso no estado hoje. O governo tem secretarias muito fortes e poderia traçar um trabalho específico focado na questão da inovação tecnológica. A falta dessa proposta acaba fazendo com que o crescimento econômico fique à maré da demanda externa, por causa da agricultura e da automobilística. Por não ter essa dinâmica, a

economia está estagnada. Quais áreas tem destaque na economia paranaense? Existem algumas aglomerações industriais no estado. Por exemplo: a indústria automobilística. Quando veio para cá, existia a ideia de trazer toda a cadeia automotiva junto. Trazer mais fornecedores. É o que chamamos na economia de adensar a cadeia produtiva. Tem uma parte dos fornecedores instalados aqui no estado, o que gera mais emprego. Esse número poderia ser ainda maior. Também deve-se atuar em alguns setores chaves, como a própria indústria automobilística e também na construção civil,

para promover esse adensamento. O que, na minha opinião, pode-se aproveitar melhor é a questão do turismo. Temos um estado com maravilhas, como as Cataratas, a cidade de Ponta Grossa, o cânion e o próprio litoral, que é pouco explorado. A própria região de Curitiba tem um turismo de negócios forte. Mas poderia se investir mais nisso. Abrir mais para fora do Brasil, alavancando esse setor do estado. Apesar de ainda ter destaque nacional, o porto de Paranaguá passou por um complicado problema de infraestrutura neste governo. Como isso impactou na ecoFotos: Divulgação

Apesar de já termos muitas opções turísticas, ainda é possível fortalecer e expandir o setor no Paraná


5

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

nomia paranaense e quais as soluções cabíveis para o porto voltar a ter destaque? O porto ficou realmente estagnado nos últimos oito anos. Não houve uma evolução. A partir disso, abrem-se brechas para os produtores irem via Itajaí, Santos e acaba abrindo outros ramais de distribuição da produção, principalmente de grãos, para fora. O estado sai perdendo com isso. Poderia ter uma vantagem competitiva diferenciada se tivesse um porto mais adequado. Então o que precisa ser feito? Investir. O Estado precisa investir na estrutura do porto. Ampliar essa infraestrutura, seguindo a tendência de aumento do tamanho dos navios. Precisa de um investimento a longo prazo. Existe um desafio para o próximo governo de reestruturar esse porto realmente. Precisa destinar uma parte da receita estadual para um projeto de ampliação. Não tem o que fazer a não ser colocar dinheiro mesmo. É difícil medir o quanto o estado perdeu com essa estagnação. Teria que ser feito um levantamento em todos os estados e até países que trariam suas mercadorias para cá. Mas, sem dúvida, houve uma perda de recurso pelos serviços que o porto prestaria. Juntas, as regiões de Curitiba, Norte Central e Oeste concentram cerca de 70% do PIB estadual. O que deve ser feito para promover o desenvolvimento das outras regiões? O estado do Paraná polarizou a população em alguns centros: Região Metropolitana e Curitiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel e, em menor parte, Foz do Iguaçu e Guarapuava. Fora essas áre-

as, o miolo do estado é vazio e é pobre. As grandes cidades e regiões metropolitanas acabaram atraindo muita população. Hoje, cerca de 81% da população vive em região urbana. Esses núcleos passam a polarizar também a riqueza do estado. No primeiro mandato do governo Requião houve um projeto inicial de desenvolver essas outras regiões, chamado Desenvolvimento da Produção. Foram levantados arranjos produtivos locais no estado inteiro. Isso parou no segundo mandato do Requião. Mas o que são esses arranjos produtivos locais? São aglomerações de empresas. Por exemplo: em Imbituva, perto de Ponta Grossa, tem empresas de malharias; Francisco Beltrão, Dois Vizinhos tem software; lá em Loanda são metais sanitários; em Terra Roxa, moda bebê; eixo Londrina- Maringá, moda também; Apucarana tem bonés, uma das principais fabricantes de bonés do Brasil e talvez até do mundo; e Arapongas, móveis. A ideia é você pegar essa especialidade produtivas de algumas cidades de pequeno porte e procurar fazer um investimento nela, na educação, mão de obra qualificada, qualificar o empresário. Houve envolvimento de SEBRAE, da Federação das Indústrias, mas parou aí. Teria que avançar em política industrial inovadora. Esse salto qualitativo vai fazer com que baixe o custo, venda com preço melhor no mercado inclusive internacional, e vai fazer com que gere mais emprego. Gerando

Outro grande desafio que tem o próximo governo: a violência urbana. A falta de crescimento econômico gera desemprego. Gerando desemprego você exclui uma massa da população, que viverá na pobreza. Temos um dado lamentável que 21% das famílias paranaenses vivem com menos de meio salário mínimo

mais emprego, tende a segurar mais a população, principalmente jovem. Dentro desse contexto de urbanização, o desemprego faz com que o jovem migre para a cidade grande. Não necessariamente na cidade de médio ou grande porte ele vai arrumar emprego. No desemprego, a tendência é ele cair para a pobreza, e aí é que explode a violência urbana. Outro grande desafio que tem o próximo governo: a violência urbana. A falta de crescimento econômico gera desemprego. Gerando desemprego você exclui uma massa da população, que viverá na pobreza. Temos um dado lamentável que 21% das famílias paranaenses vivem com menos de meio salário mínimo. Isso não é pobreza, é miséria. Alguns IDHs de municípios do Paraná são inferiores a IDH de município do nordeste. Se pegarmos o nosso entorno, ou seja, São Paulo, Santa Catarina Rio Grande do Sul, eles não tem tanta miséria, tanta pobreza. Além de uma política industrial, precisa de projetos sociais para o estado. Não precisa mais de uma reforma agrária. Precisa de reforma urbana para atender a demanda. Um meio de tentar distribuir essa produção igualmente no estado seria através da especialização dos municípios. Não produzir o que o estado quer que eles produzam, mas o que eles podem produzir. Tem alguma proposta para a economia que lhe chamou a atenção? Dos atuais candidatos, não encontramos uma proposta sobre o que falamos. Eu não vejo uma proposta que incentive a atividade industrial com viés tecnológico. Também não vejo propostas para essa inovação não só industrial, mas também agrícola. Por isso, a gente percebe um estado estagnado, que é um ponto que ninguém vem abordando. O estado não cresce. A participação dele é a mesma. Não se vê propostas que possam ser b e m -s u c e d i d a s p a r a e s s e crescimento. Se tivermos um avanço tecnológico, tenho certeza de que o estado do Paraná dará um salto quali-

Fotos: Divulgação

Indústria automobilística e construção civil são apontadas como áreas de crescimento da economia no Paraná, segundo Bittencourt tativo. Não vejo discussões sobre a redução da pobreza e da miséria. Ninguém mostrou dados sobre a miséria no estado, como no Vale do Ribeira e esse miolo como foi citado, que há décadas está

parado. É fundamental uma sólida proposta social. Não vi, até agora, nenhum candidato que propôs não só atacar os problemas, mas também trazer soluções para eles. Divulgação

Para Bittencourt, faltam propostas políticas para inovação agrícola e incentivo a atividades insdustriais com viés tecnológico


6

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Vitor Fóes

Fernando Mad

Escreve quinzenalmente sobre cultura das ruas, às segundas-feiras vitor_foes@gmail.com

Escreve quinzenalmente sobre fotografia, às segundas-feiras malkmad@gmail.com

Cultura das Ruas

Fotografia

Esporte e música como inspiração para atletas O final dos anos 80 e início dos anos 90 foi a época em que o skate ainda era uma novidade no Brasil. Junto deste movimento, muitas coisas estavam em mudança no nosso país, como a estreia de um canal destinado apenas a música, a MTV Brasil. Sem internet na época, este novo canal era o único meio de se ver e escutar novos tipos de músicas, além daquelas que passavam na rádio ou tinham o clip lançado no Fantástico. A partir dali conseguimos ver performances de grupos de rap exóticos como Dee Lite com o marcante hit “Groove is in the Heart”, além de ver e se identificar com clipes como “I’ll Hate You Better” do Suicidal Tendecies e se contagiar com o histórico “Fight the Power” do Public Enemy. Os skatistas se identificaram imediatamente com o grupo liderado por Chuck D, começando pelo nome Public Enemy (Inimigo Público) e por uma

postura agressiva, com letras de protesto e muita personalidade com Flavor Flav e seus relógios gigantes pendurados no pescoço. Era daqueles clipes que os skatistas tiravam uma maior confiança, suficiente para sair nas ruas de skate com aquelas calças, moletons, camisas e bonés gigantescos e coloridos sem achar que eram os únicos incompreendidos do mundo. Enfim, essa reflexão veio à tona depois de assistir ao novo clipe do Public Enemy - “Say It Like It Really Is”, gravado nas Cataratas do Niágara, no Canadá. O melhor é ver que a essência e postura do grupo é a mesma, a qual despertou e ainda desperta a identificação de skatistas do mundo todo. Um destes fans de carteirinha do Public Enemy é o skatista Eric Koston, que usou o som do grupo em sua última parte de vídeo, no “Fully Flared” da Lakai. Fotos: Divulgação

A decisão e o momento Henri Cartier-Bresson. Se você desconhece esse nome, desconhece fotografia. O grande mestre da arte da escrita da luz foi um desenhista frustrado. Uma breve olhada nos grandes nomes percebe-se que é algo comum. Possivelmente eu seja um pintor e desenhista frustrado. Em uma das várias comparações de desenho com fotografia, Bresson diz que o primeiro se trata de um momento reflexivo, um momento de relaxamento, enquanto o segundo é algo instantâneo, do momento. E foi o momento decisivo que eternizou o francês. Aguardar ansiosamente e capturar a luz na hora certa, é o que faz o bom fotógrafo. A pergunta “agora?” deve ficar na cabeça o tempo todo. Deveria. A chegada da tecnologia digital na fotografia barateou muito os custos de quem só queria um registro. Bom e ruim. Os equipamentos profissionais continuam caros. E é nesses equipamentos que quero a atenção. Dentre várias “melhorias” nos equipamentos modernos, algo que sempre me deixou reflexivo é a velocidade dos disparos sucessivos nessas câmeras digitais. Num equipamento mediano, podemos capturar quatro imagens por segundo. Isso significa que, no caso de uma criança pulando, seguramos o botão por cinco segundos e depois escolhemos entre as 20 fotos qual tem o melhor momento. Bom? Ótimo? Maravilha? Não. Se um dos grandes valores da fotografia é o instante capturado, o que pensar quando o único trabalho do fotógrafo é escolher entre as milhares de imagens capturadas? Não existir a decisão pelo momento. Acaba causando um relaxamento até na preocupação com a técnica, já que basta eliminar as imagens não satisfatórias. Podemos encontrar uma imagem perfeita entre essas melhores? Não, não podemos. Devemos! É

Fotos: Fernando Mad

como o jogador fazer um golaço depois de centenas de tentativas. O gol é obrigação. Voltando a comparação com o desenho. O verdadeiro desenho de valor é aquele que exigiu horas de dedicação do artista. Além da criatividade, exige-se técnica. E se o sujeito simplesmente pegar uma foto, colocar sob o papel e copiar a imagem. Podemos obter o mesmo resultado final. Mas é merecido. O abuso no uso de tecnologia para capturar a luz e chamar de fotografia é como o desenhista que copia sob a imagem já existente. Para o desconhecido, o resultado pode até ser o mesmo. Mas para o bem da arte, que prevaleça o momento decisivo.


7

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Dança

Balé não é Na arte da dança só coisa de masculina menina Garotos buscam na dança a sua alegria e profissão, ajudando a diminuir o preconceito existente na arte da dança masculina

Meninos enfrentam dificuldades para se tornarem bailarinos profissionais Jéssica Marcatti O balé sempre foi classificado como “coisa de menina”, porém existem muitos meninos que são apaixonados por essa arte de dançar na ponta dos pés. A mídia fala pouco sobre as dificuldades que eles enfrentam para seguir a profissão desejada. Muitas dessas dificuldades são ocasionadas pelos próprios pais, que desejam outro futuro profissional para seus filhos. O Studio D1 é uma escola de dança que ajuda a realizar o sonho desses meninos. A escola abriu inscrições e, nessa ocasião, mais de 60 meninos se inscreveram para as aulas em apenas uma semana. O Studio fornecia lanche, porém muitos deles desistiram do sonho por não terem condições de pagar o transporte. Apesar disso, ainda existem meninos que tiveram possibilidades financeiras para prosseguir nas aulas. De acordo com a professora de balé Tatiana Vianna, as dificuldades que esses garotos enfrentam para realizar seu amor pela arte são constantes. “Os meninos se preocupam em se profissionalizar para sustentar as famílias, eles muitas vezes não veem na dança essa possibilidade. A maioria gosta muito da dança, mas têm medo de que mesmo se realizando pessoalmente tenham dificuldades financeiras”, afirma. A procura masculina é inferior à feminina, pois as meninas não enfrentam tantas dificuldades para seguir esse caminho. Mesmo assim, a procura das aulas de balé pelos meninos está crescendo. A profes-

sora ressalta que as meninas sofrem menos por existir uma cultura em volta de bailarinas; elas procuram as aulas como complemento na educação. Para melhorar a postura, serem mais femininas, pois isso é uma tradição familiar. Já com relação aos meninos, os pais sempre se preocupam que seus filhos tenham uma postura masculina. “Normalmente, os pais veem no futebol uma carreira mais adequada para seus filhos”, conta Tatiana. Apesar de todos os tropeços enfrentados, Maycon Santos, de 19 anos, afirma que a escolha de dançar passa por uma questão de provação. “Eu estou fazendo balé porque quero provar para minha família e para os meus amigos que eu tenho capacidade para dançar balé”, comenta Maycon. O jovem diz ter enfrentado mais preconceito dentro de sua própria casa, pois sua mãe não aceita sua decisão, sua avó diz sentir vergonha de ter um neto bailarino e seu pai quase não fala mais com ele. Apesar de tudo isso, ele sente muito orgulho de ter afrontado a todos e tudo para seguir o caminho da arte: “Eu estou fazendo balé, vou continuar com esse meu sonho e não vou deixar de fazer isso nunca”, comenta o bailarino. Perante a sociedade, o preconceito existe fortemente também, pois desde a escola Maycon é motivo de chacota entre seus colegas, mas ele afirma já estar acostumado com essa situação. “Não tenho mais problemas com isso, pois decidi correr atrás de um sonho que é só meu”, diz.

Flávia Kulka Jovens vêm do Paraná inteiro para tentar uma oportunidade de superação. A maioria que vem em busca da dança chega a Curitiba com uma mão na frente e outra atrás, buscando uma profissão na Companhia de Dança Masculina Jair Moraes. São homens de 16 a 29 anos que, a partir das 19 horas, em uma sala emprestada pelo Teatro Guaíra, vestem suas sapatilhas e mostram todo o seu talento, e juntos não aprendem apenas a dançar, mas também a montar coreografia, fazer figurino, trabalhar com luzes e sonoplastias. A companhia foi criada por Jair Moraes há sete anos, e visa incentivar uma maior participação de homens na dança. O grupo tem hoje 26 bailarinos, a maioria vinda da periferia ou de famílias com problemas. A ideia de criar uma companhia somente para homens se deu ao fato de que no Brasil todo não existe um trabalho específico para a dança masculina. Segundo Jair Moraes, são poucos os professores que se dedicam a esse trabalho, porque é muito difícil, leva muito mais tempo, o homem demora a entender os movimentos. Preconceito em relação à dança existe, sem dúvida. Até mesmo da parte dos bailarinos que, no início, não queriam nem trocar as roupas pelas usadas na dança, e hoje vão lá para aprender, mesmo sem ganhar salário ou ter carteira assinada. Além disso, a grande maioria das academias de dança é voltada para mulheres, o que reforça um pouco desse preconceito. As mulheres começam desde crianças, com três ou quatro anos de idade, já os homens a partir dos 15 anos, o que exige que o

Fotos: Divulgação/ Companhia Jair Moraes

trabalho seja mais cuidadoso, mas mesmo assim bem mais acelerado. São muitos anos perdidos. Apesar de todo o empenho, o grupo também passa por dificuldade por ser independente e os jovens de classe baixa. Para isso, além da sala ser emprestada, as sapatilhas são doadas por outros bailarinos. Para ajudá-los existem voluntários que contribuem de alguma forma, com o que podem. Essa iniciativa é única na cidade. Além de ressocializar os jovens, também ensina uma

profissão e acaba com um preconceito. 90% dos jovens que estão hoje no grupo já entraram em uma faculdade. Os bailarinos fazem parte de uma única família, que está sendo formada para a vida. Nem todos que estão lá precisam seguir com essa carreira. Alguns já foram contratados em companhias de dança até do exterior, mas outros buscaram outro caminho, foram atrás do que lhes era compensador. Mas, mesmo os que mudaram de rumo, conseguiram inúmeros benefícios com a dança.


8

Curitiba, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Menu

Cultura

Divulgação

Kamchatka

Vinicius Ferreira No início dos anos 2000, as ditaduras na América Latina, ocorridas no século passado, voltam a ser tema de livros, reportagens, movimentos que buscam reconhecer crimes cometidos pelo Estado, mas principalmente o cinema. Filmes que nos anos de chumbo demonstravam uma inconformidade com poderes autoritários, agora as produções buscam um viés poético. Menos preocupados em passar uma ideia, mas sim, fazer um cinema para o grande público, sem perder o compromisso e a relevância do tema abordado. Mas o que mais chama a atenção, principalmente, nos filmes Kamchatka, do argentino Marcelo Piñeyro, no chileno Machuca, de Andrés Wood, e no brasileiro O Ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger, é que eles se passam através da ótica de uma criança. Uma ótima forma de suavizar os acontecimentos e toda a situação hostil que os personagens vivem nos filmes. Kamchatka possui dois irmãos, e seus personagens exploram muito bem duas

sensações que, a meu ver, eram as que mais permeavam as sociedades que vivem em regime ditatorial: confusão e liberdade. Harry, o irmão mais velho, vive uma sensação de estranheza e de descoberta dos acontecimentos. Aos 11 anos é difícil entender porque mudar de cidade, escola e não poder usar o telefone para falar com o seu melhor amigo, que vive em Buenos Aires. Já o mais novo, o Baixinho, é a pura liberdade que não existe no filme. Ele vive todas as mudanças e a vida de refugiado como mais uma brincadeira de infância. Muitas vezes, o diretor Marcelo Piñeyro o utiliza para mostrar a ignorância e passividade de boa parte da população. As alusões à liberdade são várias, quando são obrigados a trocar de nome. O filho mais velho adota o nome de um escapista. Nos anos 60 e 70, a figura masculina nos filmes mais engajados, era rude, com forte

presença e, muitas vezes, tinha um papel de coragem no movimento social. Outra característica do Kamchatka foi desconstruir este estereótipo. Isto porque Carlos Darín, o expoente do cinema argentino, é advogado e um verdadeiro pai de família que quer fazer a revolução, mas dirige quase que inteiramente sua atenção aos seus filhos, lhes explicando que irão passar um tempo em um sítio e as trocas de nomes são temporárias. Toda essa ternura para que seus filhos não percam a infância. Já a mãe possui um perfil totalmente diferente, é distante dos filhos, das ordens e fuma compulsivamente. A atuação de Matias Del Pozo, como Harry o protagonista, é a essência da película. Uma criança quando atua, acredita que imprime muito de sua imaginação no seu personagem. Mas a grande alma do filme é a solidez desta família, principal pilastra da resistência política.

Nathalia Cavalcante

Ritmos brasileiros Baião, samba, maracatu, bossa e choro fazem parte do repertório de Maurilio Ribeiro Trio. A apresentação reflete um panorama dos ritmos brasileiros por meio do som da guitarra do artista. Onde: Paço da Liberdade SESC Paraná Quando: 30 de setembro, às 18h Preço: Gratuito

À Argentina A revelação da música popular argentina Mariana Baraj traz o seu show a Curitiba. A cantora e percussionista irá apresentar um repertório folclórico clássico latino americano.

Divulgação

Onde: Teatro da Caixa Quando: 28 de setembro, às 20h30 Preço: R$10 e R$5

Tortura medieval Até o dia 30 de setembro a Mostra Internacional de Instrumentos Medievais de Tortura, compilação do jornalismo e escritor Franco Gentili, pode ser vista no Salão de Exposições do Centro Cultural Dante Alighieri, de Curitiba. São 50 instrumentos originais catalogados junto a museus da Itália e Europa, usados pela Justiça, sistema político e Igreja na Idade Média. Divulgação

Divulgação

M .ad éi

Uma criança quando atua, acredita que imprime muito de sua imaginação no seu personagem. Mas a grande alma do filme é a solidez desta família, principal pilastra da resistência política

Onde: Espaço Cultural Dante Alighieri Quando: Até 30 de setembro, das 8h30 às 19h, de segunda a sexta e das 9h às 17h aos sábados e domingos Preço: R$6 e R$3


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.