LONA - Especial Maio Amarelo

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Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup

Ano XVI > Edição 985 > Curitiba, 30 de maio de 2016

Foto: Sarah Graçano

Foto: Secretaria Municipal de Comunicação Social

Com falta de fiscalização, caem multas por estacionamento irregular p. 6

ENQUETE O LONA colheu depoimentos sobre campanhas de conscientização para o trânsito e por que elas não são tão efip. 2 cientes assim.

14 quilômetros incontornáveis

FICA A DICA

Diminuir a quantidade de acidentes e de mortes depende de ações estratégicas numa das mais problemáticas vias da capital - o Contorno Sul p. 3

Confira orientações de segurança para p. 5 o pedestre e os tipos de colisão.

“As mortes e sequelas do trânsito não são fatalidades. Os índices de outros países estão aí para provar que o Brasil ainda tem muito o que aprender, princip. 2 palmente que é possível...”

“Pare para pensar quantas vezes você já se irritou com alguma situação de trânsito na última semana, ou melhor, no dia de hoje. Quem dirige diariamente sabe que a questão comportap. 6 mental...”

Apesar de queda nacional, risco de atropelamento permanece alto no PR Paraná é o 3° estado com mais mortes de pedestres. 35% dos atropelamentos de 2015 foram de idosos. p. 5

Foto: Ana Clara Faria

OPINIÃO

Foto: Secretaria Municipal de Comunicação Social

Seis meses depois da Área Calma: o que mudou? p. 6

EDITORIAL


LONA > Edição 985 > Curitiba, 30 de maio de 2016

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EDITORIAL

Chega de brincar com a vida Escolhemos com carinho o assunto do primeiro LONA de 2016. Trânsito diz respeito a todos. A menos que viva como ermitão em uma caverna será impactado pela caótica circulação de veículos lutando por espaço. Seja pelo tempo que fica “preso” nas ruas, seja pelo risco a que está exposto, cada cidadão é parte do problema. Não ter um carro não significa estar imune a toda essa discussão – até porque os pedestres são as mais numerosas vítimas fatais. E já que um editorial é o espaço da “opinião de um jornal”, lá vai a nossa: deu por hoje! Deu de história! O que queremos com essa menção ao meme da garotinha revoltada? Alertar, em tom de provocação, que já passou da hora de tomarmos atitudes para mudar a barbárie que vivenciamos todos os dias. As mortes e sequelas do trânsito não são fatalidades. Os índices de outros países estão aí para provar que o Brasil ainda tem muito o que aprender, principalmente que é possível usar essas máquinas possantes para ir de um lugar ao outro sem transformá-las em armas. Como jornalistas, nossa responsabilidade é cobrar políticas públicas, acompanhar a gestão adequada do muitos milhões arrecadados com multas, mostrar se nossos representantes estão agindo para melhorar o trânsito de ruas e rodovias. Também acompanhar o que tem sido feito pelas polícias, pelo Ministério Público, pelo Legislativo e pelo Judiciário para acabar com a cultura da impunidade. Mas resolver os problemas do trânsito não depende apenas dos governantes. Essa história de só cobrar o outro não funciona. A solução passa pela compreensão de que é uma questão coletiva que o individualismo não vai resolver. Ensinar os futuros motoristas, mas também olhar para o próprio umbigo pode ser bem aconselhável nessa hora. Não raro, medidas simples fazem diferença. De nada adianta reclamar de quem voa na rodovia e dirigir digitando no celular. Pode ser que alguém acredite que dar ao mês de maio a cor amarela não significa nada. É um símbolo, um sinal de alerta. A ideia é passar uma mensagem: que devemos nos preocupar com o trânsito em todos os meses do ano e agir agora para que os números tão alarmantes divulgados nesse período não se repitam nos próximos anos. Que em 2016 a gente use esse espaço para comemorar estatísticas menos estarrecedoras.

FALAÍ O LONA fez uma enquete com estudantes de Jornalismo e pessoas próximas ao curso para saber o que pensam sobre as campanhas de conscientização para não associar bebida alcoólica e direção. Considerando

apenas quem tem carteira nacional de habilitação, 40,4% das pessoas que responderam a enquete admitiram que já beberam e dirigiram logo depois. Confira algumas das respostas:

Você já viu alguém parar de fumar por que tem foto de uma pessoa com câncer na caixinha? Simples assim. Eu já dirigi bêbada porque, quando estamos nessa condição, nos convencemos que estamos bem e aptos para dirigir. A maioria das pessoas veem esses acidentes de longe, como algo que nunca vai acontecer com elas.

Beber e dirigir é cultural no Brasil. Só quando houver punição motoristas podem mudar seu comportamento.

Não há punição real e severa para esse tipo de crime. Com um bom advogado, seu processo será arquivado.

Acredito que elas [as campanhas] não causam o impacto que precisam causar na sociedade. Não deixam os motoristas com medo. Não temos consciência do real perigo que isso oferece, de como afeta nossa capacidade de reflexos, por exemplo.

Falta consciência da importância da convivência em sociedade e as multas deveriam pesar mais no bolso dos infratores.

O álcool, embora lícito, é uma droga que entorpece a mente. As pessoas não conseguem lembrar de coisas importantes como o respeito pela própria vida e dos outros.

As alternativas oferecidas são muito caras e pouco vantajosas. Para se deslocar do Centro para os bairros da periferia gasta-se pelo menos R$ 60 por corrida de táxi. O transporte público não funciona após às 24h. Além disso, a falta de fiscalização da lei seca é um incentivo para beber e dirigir. Em mais de 7 anos dirigindo nunca fui parado em uma blitz do batalhão de trânsito e devo ter passado por menos de 10 blitz em todo este tempo. As campanhas se baseiam na ideia de que uma gota de álcool te fará causar um acidente fatal. Mas isso não é verdade e todos sabemos disso. A campanha deveria focar mais no fato de não sabermos o nosso limite real (e não o legal).

Para muitas pessoas, ainda é muito caro sair de táxi ou é muito perigoso usar o transporte público. Formas mais fáceis de se locomover - para poder beber sem dirigir - ajudariam muito.

As pessoas, principalmente os jovens, subestimam demais os acontecimentos. Sempre ficam no "não dá nada não", mas uma hora dá.

Os meios de transporte público durante a madrugada são demorados e, muitas vezes, perigosos e o transporte privado (táxis) é demasiado caro. Acredito que um misto de investimento público em segurança e no transporte público para a vida noturna, além de uma fiscalização maior em pontos-chave da cidade, fazendo pesar o bolso para criar uma conscientização, seja o caminho para reduzir essa prática.

Expediente Reitor José Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Arno Gnoatto Diretor da Escola de Comunicação e Negócios Rogério Mainardes

Pró-Reitora Acadêmica Carlos Longo Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Katia Brembatti

Coordenação de Projeto Gráfico Gabrielle Hartmann Grimm Diagramação Luis Izalberti Editores Rede Teia


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DIFICULDADES

Problemas de trânsito de Curitiba passam pelo Contorno Sul Sarah Graçano

Solução depende de recursos federais

Trânsito e riscos de uma das vias mais problemáticas da cidade complicam o dia a dia na locomoção e segurança Os números não deixam dúvidas de que o Contorno Sul se transformou em um dos principais problemas viários de Curitiba. O trecho de 14,6 quilômetros que corta a Cidade Industrial registrou uma morte por quilômetro no ano passado, de acordo com o programa Vida no Trânsito, da prefeitura de Curitiba. Os dados alarmantes não param por aí: 13% de todos os homicídios culposos de trânsito da capital em 2014 aconteceram no bairro atravessado pelo Contorno Sul, segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública. O segundo e terceiro colocados – Centro e Bairro Alto – tiveram, juntos, 10% do total. Entre os milhares de quilômetros de vias de Curitiba, chama a atenção a estatística de um trecho relativamente curto, que vai do viaduto da BR277 até o viaduto da BR-116, entre os quilômetro 587 e 601,6 da BR-376 (veja infográfico). No período de abril de 2015 até abril de 2016, segundo a Polícia Rodoviária Federal, 174 acidentes foram registrados na rodovia, ocasionando 12 mortes: nove por atropelamento, duas por capotamento e uma por colisão de veículo com bicicleta. Também chamam a atenção os números das marginais de acesso – a principal delas, a avenida Juscelino Kubitschek, registrou nove mortes em seus dez quilômetros de extensão, em 2015. Quem vê de perto o trânsito intenso de veículos no local sabe que é possível melhorar as condições de tráfego. É o caso da frentista Lucilene Machado dos Santos, que trabalha das 14h às 22h em um posto de combustível às margens da rodovia. Ela afirma que muitos motoristas não respeitam o limite de velocidade nem a sinalização. Para a frentista, é justamente a falta

Por ser uma rodovia federal, a prefeitura não pode interferir nas obras e revitalizações da BR-376, onde está inserido o Contorno Sul. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), órgão federal responsável pela proposta de reforma da rodovia, afirma que o contorno já está em obras, mas imediatas, como tapa-buracos e limpeza.

Contorno Sul é marcado por congestionamento de veículos nos horários de pico em suas entradas e saídas. > Foto: Ana Martins

de sinalização responsável por grande parte das colisões. O problema poderia ser melhorado com a instalação de mais placas e avisos. A pé Mais vulneráveis, os pedestres são as vítimas mais numerosas nos casos de mortes de trânsito em Curitiba. A estatística se repete também no Contorno Sul, onde o medo de atropelamento é comum entre os trabalhadores e moradores. Andreia Sampaio, que mora na região, contou que teme atravessar a rua. Ela lamenta a falta de semáforo para pedestres. Gilson Rodrigues também acredita que o perigo é maior para quem não está de carro.

Situação afeta diretamente quem frequenta a UP À beira da rodovia, no entroncamento entre o Campo Comprido e a Cidade Industrial, a Universidade Positivo é impactada pelos problemas viários do Contorno Sul. Os frequentes acidentes complicam o trânsito na região e, não raro, causam atrasos em horários de aula. Uma enquete realizada com alunos de Jornalismo da UP e pessoas próximas ao curso mostrou que 46% dos entrevistados usam o Contorno Sul ao menos uma vez por semana. Entre os 62 que responderam ao questionário, 64% disseram ter presenciado acidentes no local.

Além disso, está prevista para julho a licitação de uma nova obra nos 14 quilômetros da rodovia. Entre as propostas da reestruturação, destacamse o aumento no número de faixas, de duas para três, nos dois sentidos da rodovia, a construção de quatro passagens em desnível – trincheiras ou viadutos, além de novas passarelas para pedestres, com o objetivo de reduzir o número de atropelamentos. As necessárias obras no Contorno Sul devem tumultuar ainda mais o trânsito. A sinalização deve ser reforçada na rodovia, para evitar acidentes. Contudo, a reestruturação da rodovia pode reduzir de forma significativa o número de acidentes de mortes no trânsito de Curitiba, já que o Contorno representa, hoje, um dos maiores problemas de trânsito da cidade.

Cinquenta mil veículos passam diariamente pelo Contorno Sul, que é bastante

usado pelos trabalhadores das indústrias da região, por alunos, funcionários e visitantes da Universidade Positivo, por quem circula em direção a Araucária, Fazenda Rio Grande e Campo Largo, e principalmente, por quem trafega rumo a São Paulo, Santa Catarina e ao Litoral do Paraná. Há dois radares fixos instalados na rodovia.

Vista aérea do Contorno Sul, próximo a UP. > Foto: Google Maps


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IMPERÍCIA

Cai risco de atropelamento fatal no Brasil, mas perigo permanece alto no Paraná Fernanda Umlauf e Ana Clara Faria

Atrás apenas de Alagoas e do Distrito Federal, o Paraná ocupa o terceiro lugar no ranking de unidades federativas em que mais pedestres morrem. Por ano, a taxa está na casa de 8 mortes para cada 100 mil habitantes. O número de vítimas fatais por atropelamento também preocupa em Curitiba. Foram registradas 71 mortes de pedestres em 2015, representando 38,6% do total de óbitos nas ruas e rodovias da capital. Segundo o projeto Vida no Trânsito, os jovens entre 20 e 29 anos são a faixa etária com o maior número absoluto de vítimas de atropelamento. A maior taxa por 100 mil habitantes, porém, corresponde aos idosos com 70 anos ou mais, o que inclui essas pessoas em um grupo de maior risco. O Programa Vida no Trânsito, coordenado no Brasil pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em conjunto com o Ministério da Saúde, classifica a atitude imprudente e o álcool como os dois fatores de risco de

Foto: Ana Clara Faria

Ao longo dos anos, o risco de morrer atropelado no Brasil vem diminuindo, de acordo com dados do Mapa da Violência de 2012, mas no Paraná o índice de óbitos ainda é alto se comparado a outros estados do país.

maior influência nos atropelamentos fatais ocorridos em Curitiba. Porém, um fato chama a atenção: em 34,5% dos acidentes em que houve atitude imprudente do pedestre, a infraestrutura também contribuiu para a ocorrência do atropelamento. Problemas na iluminação e ausência de gradil figuram entre os fatores que culminaram em acidentes, sendo que 57,9% dos casos fatais analisados acon-

Idosos estão indo para a escola... de trânsito Em Curitiba, é 40 vezes maior o risco de um idoso ser a vítima fatal de um atropelamento do que uma criança. Por isso, pessoas com mais de 60 anos estão sendo convidadas a voltar para a escola. No caso, a escola de trânsito. É o que conta Sandro Luis Fernandes, diretor da Escola de Trânsito de Curitiba (EPTran). “Os idosos estão indo à escola [de trânsito] ‘aprender’ o que significa um carro dar sinal, o que significa um sinal vermelho”, comenta. “O que parece tão óbvio para nós não é tão

óbvio assim para pessoas, por exemplo, que nunca tiveram uma carteira de motorista, que é o caso de muitos idosos”. Fernandes destaca algumas medidas importantes implementadas na capital com relação à segurança do pedestre, como a instalação das calçadas verdes – que ampliam o espaço de circulação dos que transitam a pé – e os semáforos adaptados para idosos – nos quais, com o uso de um cartão, o tempo de travessia é aumentado.

teceram em ruas e avenidas e 42,1% em rodovias. A secretária de Trânsito de Curitiba, Luiza Simonelli, afirma que, além de iniciativas de educação, a prefeitura tem aplicado recursos em projetos de engenharia para minimizar esses fatores ligados à infraestrutura. “Em 2015, foram investidos R$ 14 milhões [nesse setor]; a engenharia envolve construção de travessias, semáforos, lombadas, construções geométricas, rampas de acesso, entre outros”, diz.

Das 71 mortes por atropelamento em Curitiba em 2015, 25 foram de pessoas com mais de 60 anos. Ou seja, a cada três

Ele observa, porém, que essas mudanças na infraestrutura devem estar acompanhadas de outras iniciativas de controle e melhoria do trânsito: “São três ações muito importantes: a educação para o trânsito, a engenharia – que cuida da sinalização, tanto horizontal quanto vertical – e a fiscalização de trânsito”, argumenta.

“O pedestre também se expõe ao risco, não tem noção do risco que está correndo por ter uma visão restrita de trânsito, principalmente aquele que não dirige”, pondera Isabel Rocha, responsável por Programas e Projetos da Coordenadoria de Educação para o Trânsito do Detran-PR. Ela afirma que o governo estadual está buscando agir para aumentar a conscientização sobre os perigos. “Estamos também fazendo campanhas diversas em função do pedestre, por ser a figura mais fragilizada no trânsito – e é quem vai sofrer mais as consequências”, diz.

A desatenção, a falta de conscientização, a dificuldade de mobilidade e, também, o desrespeito do motorista são alguns dos principais fatores, na opinião de Fernandes, que resultam em atropelamentos de idosos.

casos, um envolve idoso. Para mostrar a desproporção e o risco aumentado, basta comparar com o número de habitantes. A cada dez moradores da cidade, um já passou das seis décadas de vida.


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FIQUE ATENTO

Gravidade do Impacto

Dicas de segurança para o pedestre

A velocidade do veículo no momento da colisão tem relação direta com a probabilidade de morte do pedestre.

► Respeite a sinalização para o pedestre (incluindo semáforos);

Em atropelamento a 30 km/h, 95% das pessoas sobrevivem.

► Sempre utilize as passarelas para pedestres nas grandes avenidas e rodovias; ► Atravesse sempre na faixa. Onde não houver, atravesse a rua no meio do quarteirão em linha reta. Evite atravessar trechos em curvas; ► Reduza a velocidade em locais com alto fluxo de pedestres, como escolas e hospitais;

Em atropelamento a 50 km/h, 90% dos pedestres sobrevivem.

► Em dias de chuva, redobre a atenção (assim como em trechos com fumaça,

neblina, vento e excesso ou falta de luminosidade); ► O embarque e desembarque de passageiros do veículo deve ser feito, preferencialmente, do lado da calçada; ► Evite passar pela traseira de um veículo ligado; ► Fique atento a veículos de emergência como ambulâncias, bombeiros e polícias, que têm preferência pelas ruas e avenidas quando estão em serviço de urgência; ► Em vias onde não houver calçadas ou acostamentos, o pedestre deve realizar sua caminhada pela lateral da pista,

em fila única, no sentido contrário ao do deslocamento dos veículos; ► Procure utilizar roupas claras quando andar à noite; ► Ajude crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida a atravessar com segurança; ►Atenção ao dirigir por vias sem calçadas, em obras ou deterioradas (o que força o pedestre a caminhar sobre a via). FONTES: Observatório Nacional de Segurança Viária; “Direção defensiva – trânsito seguro é um direito de todos” (Denatran)

“Aconteceu comigo”

90% dos pedestres atingidos nas condições acima sofreriam lesões e ferimentos graves. FONTE: Observatório Nacional de Segurança Viária

Márcio Galvão tinha 20 anos quando foi atropelado em Pinhais, no momento em que saia de uma balada. Onze anos depois ele relembra o acidente: “Foi muito rápido, o motorista fugiu, até hoje ninguém sabe quem foi. Dizem que me joguei na frente do veículo”, relata. O rapaz passou 55 dias em coma e aproximadamente seis meses desa-

cordado sem qualquer reação. Quando finalmente acordou, passou dois anos em uma cadeira de rodas e, de todo o tratamento de reabilitação, as sequelas e os traumas permanecem. Márcio tem o lado esquerdo paralisado e ainda faz sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos do braço, além de caminhar sempre com o apoio de uma muleta.

Foto: Divulgação

Em atropelamento a 70 km/h, 15% das pessoas têm chances de sobreviver.

OPINIÃO

Trânsito e as cidades É interessante pensarmos que o trânsito nos remete diretamente às cidades e hoje podemos considerar que este é um dos problemas que afetam de forma direta a qualidade de vida, principalmente nos grandes centros.

Neste sentido vem o movimento Maio Amarelo, que, como o próprio diz, é uma proposta para chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. A questão comportamental é um dos principais fatores de acidentes em um trânsito por si só intenso e tenso.

Mas onde está o problema? Seria o grande número de carros, pela facilidade que hoje temos em comprá-lo? Seria o transporte público brasileiro deficitário, que leva as pessoas a adquirem os carros? Ou o problema do trânsito está concentrado no comportamento das pessoas que ali estão como condutores?

Pare para pensar quantas vezes você já se irritou com alguma situação de trânsito na última semana, ou melhor, no dia de hoje. Quem dirige diariamente sabe que a questão comportamental, a falta de atenção ou práticas não aconselháveis no trânsito são responsáveis por acidentes. É um condutor que freia repentinamente

Glavio Leal Paura*

porque estava mexendo no celular e não prestou atenção na fila de carros que parou, por exemplo.

Além disso, temos a questão comportamental que aliada a uma forte irresponsabilidade podem não causar somente um incidente ou estresse, mas sim um acidente grave. Ou ainda um (ir)responsável por conduzir uma criança e não faz uso da cadeirinha, um motociclista sem o capacete, a direção aliada ao consumo de álcool ou outro tipo de droga ou a falta do sinto de segurança entre tantos outros erros. O Maio Amarelo surge como um importante movimento de conscientização para algo que hoje é um proble-

ma mundial. O Brasil é o quinto entre os países que mais matam no trânsito, o que nos mostra a importância de um movimento que desenvolve ações entre o poder público e a sociedade civil, envolvendo segmentos distintos para a conscientização. Precisamos nos conscientizar de que com certeza o poder público tem sua responsabilidade, porém, o principal está em nossas mãos. Até quando morreremos por nossas atitudes? *Glavio Leal Paura é coordenador dos cursos de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Positivo (UP) e Especialista em Trânsito e Mobilidade Urbana.


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Multas por estacionamento irregular despencam em Curitiba Murilo Prestes

Apenas 37 multas por estacionamento irregular foram aplicadas em Curitiba no primeiro trimestre de 2016. Não, não significa que os motoristas aprenderam quais são os locais adequados para parar os veículos. Acabou o contrato com a empresa de guincho. De acordo com a Prefeitura de Curitiba, uma nova licitação foi feita, mas ainda não há previsão de quando o trabalho será retomado. Antes, é preciso esvaziar o atual pátio da Secretaria de Trânsito (Setran), afirma o diretor de Fiscalização, Éder Rodrigues. Ele conta que são mais de 1000 veículos abandonados no pátio, à espera de leilão. Aproximadamente 40% dos carros recolhidos são procurados pelos proprietários. Há ainda os veículos abandonados nas ruas – que chegam a 800, nas estimativas da Setran. Os motoristas que estacionarem de forma irregular além de pagar multa entre R$ 53,20 a 191,54 terão descontado da CNH entre 3 ou 7 pontos. Em

2015 foram expedidas 1.257 infrações de trânsito dessa natureza somente na capital paranaense. Para a chefe da Divisão de Programas Educativos do Detran, Noedy Bertazzi, os motoristas infratores se sentem livres para cometer esse tipo de irregularidade. Caso o veículo seja recolhido, deverão desembolsar o valor do guincho para o pátio, a taxa de liberação e o valor das diárias. O diretor lembra ainda que se utilizar das vagas de estacionamento regulamentado e rotativas, sem o cartão do Estar também é forma de estacionamento irregular passível de punições. Exemplo A campanha Maio Amarelo alerta que parar rapidamente, nem que seja para carga e descarga ou para um desembarque, pode ser muito perigoso. Umas das peças publicitárias mostra um pai que deixou o carro parado em um ponto de ônibus e acabou causando uma colisão entre um veículo do transporte coletivo e um motociclista que acabou morrendo.

A percepção de quem vive na Área Calma: 6 meses depois, o que mudou? Vitor Teixeira, Camila Abrão e Gabrielly Domingues

Meio ano após a implementação de limites mais baixos de velocidade, alterações na área central de Curitiba passam despercebidas Já era lento e continua lento. Essa é a definição para a Área Calma, na perspectiva de quem observa com atenção o trânsito da área central de Curitiba. A criação de um perímetro com velocidade limitada a 40 km/h, colocada em prática a partir de novembro do ano passado, não mudou muito a rotina de três pessoas que falaram com o Lona sobre o assunto. A quantidade de acidentes fatais na região diminuiu, mas a própria prefeitura reconhece que é um tempo muito curto para uma análise estatística consistente.

O taxista Carlos Alberto Deable, na profissão há 40 anos, concorda que a criação da Área Calma é uma boa medida para reduzir os acidentes. Contudo, afirma que não percebeu nenhuma mudança considerável no período em que foram implementadas as áreas redutoras de velocidade. “Não mudou muito [a rotina], e a velocidade de 40km/h sempre foi comum por causa dos congestionamentos nas áreas centrais, que são intensos”, explica. Segundo o taxista, não há sincronização dos semáforos. Rodrigo Machado, taxista há duas décadas, compartilha da opinião de Carlos. “A implantação da área calma não mudou muita coisa. A única mudança é na pre-

Agentes de trânsito aplicam multa próximo ao Shopping Palladium. > Foto: Secretaria Municipal de Comunicação Social

caução, principalmente no período da noite, que já não tem mais trânsito intenso. Aumentar a velocidade é natural e, por isso, é preciso ter cuidado para não ser multado”, pondera. Ele também diz que não percebeu a sincronização dos semáforos, a não ser na Rua André de Barros. Helena Gonçalves, que trabalha há mais de 20 anos em uma banca de jornal na Rua Pedro Ivo, próximo ao terminal do

Guadalupe, comenta que muitas pessoas reclamam do trânsito nas redondezas, e que durante a semana o tráfego de carros é intenso. “Somente o radar já funcionaria nas ruas do centro, para multar quem extrapola a velocidade” conclui. Com pouco tempo em vigor, a funcionalidade da Área Calma ainda divide opiniões do público em geral, e só poderá ser comprovada com o passar do tempo.

Área Calma na Praça Rui Barbosa. > Foto: Secretaria Municipal de Comunicação Social


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