L A B O R AT Ó R I O D A N O T Í C I A EDIÇÃO 1000 . CURITIBA, 16.11.2017
CURSO DE JORNALISMO . UNIVERSIDADE POSITIVO
PRIMEIRO JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO BRASIL CHEGA À MILÉSIMA EDIÇÃO
Cristovão Tezza: 18 anos e 999 edições depois, escritor responde as perguntas feitas na primeira entrevista
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Você sabia que o LONA teve uma edição apreendida pela Justiça? Leia essa e outras curiosidades
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Lembro que o então presidente da Venezuela e agora falecido, Hugo Chávez, ia fazer uma visita a Curitiba e a gente montou todo um aparato gigantesco de cobertura.” Renan Colombo
Ai! Torci meu testículo” foi minha primeira matéria para o Lona. A galera achou muito bizarro.” Vinicius Boreki
Os jornalistas do novo século “Este é um momento muito feliz. Como assim?”
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Uma menina foi com os pais para o sítio num fim de semana e acho que nunca tinha visto galinha na vida, resolveu tirar umas fotos. Apontou a câmera para qualquer coisa e o ensaio ficou bem complicado.” Antônio Senkovski
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A gente estava aqui no 11 de setembro. Eu vi a segunda torre ser destruída nesta sala. A gente estava no refeitório quando alguém chegou falando que um avião caiu em Nova York. Subimos correndo e vimos o segundo avião.” Eduardo Klisiewicz
Renan Colombo foi em um asilo fazer matéria e tirou foto de uma senhora bem velhinha com o cabelo muito branco. O fundo da parede onde ela estava era de um verde muito forte. Como a qualidade gráfica não era lá essas coisas, na impressão, a coitada saiu com o cabelo verde. Parecia uma vovó punk.” Hendryo André
Com esse questionamento começava o editorial da primeira edição do Laboratório da Notícia, em maio de 1999. O jornal foi idealizado e produzido ao longo de dois meses pelos alunos da primeira turma do curso de Jornalismo do Centro Universitário Positivo (UnicenP), que também estava iniciando suas atividades naquele ano. Hoje, dezoito anos e 999 edições depois, é mais um momento feliz. Alcançamos a marca de mil edições. Se nos primeiros anos a publicação do Lona foi mensal, no segundo semestre de 2004 ele passou a ser impresso diariamente, graças ao esforço dos alunos e dos professores. Com isso, tornou-se o primeiro jornal laboratório diário do Brasil, conquistando prêmios e reconhecimento de profissionais da área. O jornalista e professor universitário José Marques de Melo, por exemplo, publicou um artigo na Revista Imprensa de outubro de 2009 sobre a experiência de um jornal diário na universidade, elogiando o Lona e a sua importância para o ensino de Jornalismo. De 1999 para cá, o mundo mudou, o Jornalismo mudou, e o Lona acompanhou essas mudanças, mas sem deixar de cumprir seu papel de ser um laboratório de experimentação para os alunos. Já foi mensal, diário, quinzenal, impresso, online, teve diversas edições temáticas, suplementos e formatos.
No primeiro editorial, o professor Carlos Alexandre Castro, então coordenador do curso de Jornalismo, escreveu que os professores da época tinham o privilégio de acompanhar os passos iniciais dos “jornalistas do novo século – os que terão a responsabilidade de empunhar o bastão da ética, da dignidade e da competência profissional e levá-lo muito mais adiante”. Tendo em vista toda a trajetória do jornal laboratório que, ao longo dos anos, foi apelidado de Lona, podemos concluir que esse bastão passou de mão em mão, pelas centenas de alunos que passaram pelo curso nesses 18 anos. Muitos não escondem o carinho pelo jornal e guardam boas recordações. A experiência com o Lona serviu de estímulo para a criação das edições diárias do telejornal Tela Un e do Jornal da Teia, veiculado na rádio. E foi o embrião para a Central de Jornalismo, que se transformou na Rede Teia, e hoje engloba os diversos veículos do curso. Se o primeiro editorial diz que o lançamento de um jornal é um momento afortunado para toda a sociedade, o lançamento da milésima edição de um jornal feito por estudantes é ainda mais especial. Por isso criamos essa edição comemorativa, para celebrar com todos que, de alguma forma, contribuíram para que o Lona alcançasse esse marco histórico. O mérito é de todos vocês, que trouxeram o bastão até aqui.
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O que acontecia no mundo quando o LONA nasceu?
EXPEDIENTE Presidente da área de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha Reitor José Pio Martins Pró-Reitor Acadêmico Carlos Longo
Pró-Reitor de Planejamento e Operação Ronaldo Casagrande
Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira
Diretor da Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Roberto Di Benedetto
Professora-orientadora Katia Brembatti
Coordenador da Área de Comunicação e Design Marcelo Gallina
Projeto Gráfico-Orientadora Gabrielle Hartmann Grimm
No mesmo momento em que o Lona estava sendo gestado, muitos acontecimentos entraram para a história. Era 1999 e o mundo, a propósito, vivia a dúvida de superar o bug do milênio. Profecias e ameaças tecnológicas se misturavam. Era o início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente depois de vencer Lula, no segundo turno, com 53% dos votos. O Real valia tanto quanto o dólar, fazendo a felicidade de alguns, mas prejudicando as exportações. Cássio Taniguchi estava em seu terceiro ano como prefeito de Curitiba.
cho aparecia como promessa ao marcar um gol na Venezuela e Galvão Bueno, emocionado, criou o famoso bordão “olha o que ele fez!”. O Palmeiras levou a Copa Libertadores pela primeira vez e o Corinthians ficou com a taça do Campeonato Brasileiro daquele ano. A morte de Stanley Kubrick abalou os amantes de cinema. Matrix, Clube da Luta, Toy Story 2, Beleza Americana e a Bruxa de Blair foram os sucessos daquele ano revolucionário para cinéfilos. Fernanda Montenegro concorreu ao Oscar, indicada como melhor atriz pelo filme Central do Brasil, que também concorreu na categoria de melhor filme estrangeiro. Mas ficamos sem estatuetas.
No jornalismo brasileiro, William Bonner assumia o comando do Jornal Nacional, noticiando o massacre de Columbine e o fim da Guerra de Kosovo. A Rede Manchete saia do ar e nascia a RedeTV!. Em meio a gols e tragédias, mudanças e reeleições, nascia o jornal A internet estava nos primórdios, laboratório que agora completa com 7,6 milhões de brasileiros dezoito anos. O Lona que levou conectados. No futebol, a Seleção seus editores a outros patamares, Brasileira ganhava a Copa Amé- descabelou orientadores e foi um rica pela sexta vez e Rivaldo era a correria só. Já pensou o que esse eleito melhor jogador do mundo jornal presenciou em 18 anos? pela FIFA, mesmo com o vexame Entre todas as catástrofes e glórias, o do ano anterior. Ronaldinho Gaú- Lona chega à milésima edição.
Projeto Gráfico Aschellen Mays Lins Rodrigues Frederico Westphalen Mendes Guilherme Vinícius Pereira Kauany Nogueira Floriano Reportagem e edição Hannah Cliton e Luís Farias
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Jornais laboratórios Mais do que exigência curricular, jornais laboratórios são oportunidades além da sala de aula por Hannah Cliton
“O jornal laboratório é um dos momentos mais importantes na formação do jornalista, pois o aproxima da prática e da realidade do jornalismo. Além disso, é o momento de explorar a criatividade e a imaginação, pois o jornal laboratório não tem as mesmas limitações de um veículo de mídia”, opina Laurindo Leal Filho, professor e pesquisador de Jornalismo. Apesar das mudanças de formato, desde o início o Lona teve a participação dos alunos de todos os anos do curso. Nas universidades brasileiras, segundo o levantamento de 2013, o mais comum é que os veículos impressos sejam feitos com a participação de 10 a 40 alunos.
Um jornal laboratório tem o objetivo de preparar o estudante de Jornalismo para o mercado de trabalho, dando a oportunidade de participar das diversas etapas da produção de um jornal impresso. Em 1999, seguindo o calendário acadêmico da época, o Lona publicou edições mensais, até se tornar semanal e, posteriormente, diário. Com isso, tornou-se o primeiro jornal laboratório diário do Brasil, periodicidade ainda hoje pouco alcançada nos cursos de Jornalismo de todo o país. De acordo com uma pesquisa online feita para o livro Jornalismo-Laboratório: Impressos, organizado por Demétrio de Azeredo Soster e Mirna Tonus, em 2013 apenas uma publicação laboratorial era diária. Segundo a pesquisa, 96% das universidades têm produções laboratoriais impressas, sejam jornais, revistas ou jornais-murais. Entre as 83 respostas, 24 veículos são publicados semestralmente e 14 publicações são mensais. Ao traçar um perfil médio das publicações mencionadas, percebe-se que são jornais impressos em formato tabloide e publicados semestralmente.
Apesar de a pesquisa sobre jornais laboratórios ser escassa no Brasil, a importância do Lona enquanto experiência para os futuros jornalistas é inegável. “O grande ganho de um jornal-laboratório é justamente permitir ao aluno que seu material seja lido e avaliado. Ele tem a oportunidade de mostrar o que sabe para o público externo e se colocar diante da sociedade”, conta Zaclis Veiga, coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, que acompanhou o Lona desde a primeira edição. Em 2009, o jornalista e pesquisador José Marques de Melo esteve na Universidade Positivo para o Congresso Intercom, e conheceu de perto a produção do Lona. Em um artigo para a Revista Imprensa naquele ano, o jornalista ressaltou a importância dos jornais laboratórios, destacando a cobertura do Lona sobre o congresso. “Se, como dizia McLuhan, o meio é a mensagem, o Lona de forma simbólica explica porque a Universidade Positivo logrou, em dez anos, estar entre as melhores particulares do Brasil, como indicou o último ranking do MEC. Os acadêmicos que circularam pelo seu campus durante o congresso saíram dali convencidos de que instituições daquele calibre nada devem às universidades do chamado ‘primeiro mundo’”, escreveu.
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O que dizem os professores “É um orgulho enorme fazer parte dessa história. Acredito que todos os professores que contribuíram na trajetória do Lona sentem o mesmo. Chegamos à edição 1000 com um trabalho muito bem feito. Nosso jornal serve ao aluno como laboratório, mas também serve à comunidade. Isso é o mais importante.” Zaclis Veiga, coordenadora do curso de Jornalismo
“Nessa mudança do mensal para o diário, os alunos ficaram com muito medo e inclusive, se rebelaram. Teve um grupo que queimou o Lona. Fizeram uma fogueira com o jornal.” Marcelo Lima, professor-orientador do Lona até 2012
“Ficamos fechando o Lona das eleições de 2014 até tarde, quase meia-noite. Descemos as escadas e não vimos ninguém no bloco. Ficamos batendo nos vidros até que passou um segurança de moto e veio nos socorrer.” Ana Paula Mira, professora-orientadora do Lona de 2013 a 2015
“O Lona entrou para a história por ser o primeiro jornal laboratório diário do país. Consultei o MEC e coloquei o carimbo.” Carlos Alexandre Castro, ex-coordenador do curso de Jornalismo
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LONA: ano um O Laboratório da Notícia nasceu no bojo da Resolução 002/1984, do Conselho Federal de Educação, definindo que cursos de Jornalismo deveriam ter ao menos oito edições de jornal laboratório publicadas por ano, produzidas pelos alunos com orientação dos professores. Em seu primeiro ano, o LONA cumpriu o mínimo, e teve oito edições mensais impressas em que foram publicados 360 textos, produzidos por 100 alunos que estiveram envolvidos diretamente na edição. Orientados pelo professor Marcelo Lima, que foi o editor-chefe e orientador do jornal até 2012, a primeira edição saiu em formato standard, com 16 páginas e tiragem de três mil exemplares.
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Havia insegurança, porque nós éramos iniciantes, calouros de jornalismo. Mas a partir da segunda edição, pelo menos para mim, houve um deslumbramento no sentido de ver que estudantes de jornalismo poderiam fazer um jornal, e até um bom jornal” lembra o egresso Jamil Salloum Jr.
O nome do jornal laboratório foi sugerido pela aluna do primeiro ano Brisa Nunes Ferreira Nascimento. Segundo ela, os estudantes foram estimulados a apresentar ideias, que foram levadas para a votação por todos os alunos. O nome escolhido foi Laboratório da Notícia, posteriormente apelidado de LONA. “Para mim, foi superlegal ver minha sugestão sendo escolhida. Nós estávamos bem ansiosos para o lançamento do jornal e era uma coisa nova para todo mundo”, conta Brisa. O primeiro projeto gráfico foi feito por um dos professores orientadores, Tomás Eon Barreiros, pois os alunos ainda não tinham tido aulas suficientes de diagramação. Para o nome do jornal, em vez de colocar espaços entre as palavras, Barreiros colocou as primeiras e as últimas letras dos substantivos em maiúsculo. Ficou LaboratóriOdaNotíciA.
2000 Apreendido: Após uma despretensiosa pesquisa de intenção de voto pelos corredores da Unicenp, os alunos publicaram uma matéria sobre a corrida eleitoral em Curitiba. O jornal foi apreendido e levado pela Polícia em carrinhos de mão.
2003 Réu cultural: foi um suplemento literário do curso que tinha a intenção de apresentar críticas à indústria cultural, além de ser uma oportunidade para os alunos experimentarem formas alternativas de texto.
2006 Hugo Chávez: em uma visita do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Brasil, os estudantes montaram um aparato gigantesco de cobertura para entrevistá-lo para o LONA.
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1999 Primeira edição: Junto com o curso de jornalismo da Unicenp, o jornal Laboratório da Notícia é criado. Unindo as letras iniciais com as finais de cada palavra, o nome LONA apareceu e permaneceu até os dias de hoje.
Os alunos, então, liam apenas as letras em destaque e começaram a chamar o jornal de LONA, que mais tarde se tornou o nome oficial. Um dos professores que orientaram os alunos desde o início, Tomás Eon Barreiros afirma que, nas primeiras edições, havia maior interferência dos professores devido à inexperiência dos alunos, mas ao longo do tempo os estudantes foram se envolvendo cada vez mais.
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Por ter sido publicado no primeiro ano de criação do curso de Jornalismo, quando havia apenas uma turma de alunos no turno da manhã e outra à noite, o primeiro LONA teve várias experimentações, como o uso de ilustrações, textos longos e artigos de opinião. Na época, o tamanho usual dos textos girava em torno de 10 mil caracteres.
Ação judicial: a tentativa judicial de impedir a circulação do LONA naufragou. Os exemplares foram devolvidos. O problema é que jornal tem data de validade...
A primeira edição trazia uma entrevista com a atriz Lala Schneider, feita pela então aluna do primeiro ano Carolina Godoi, que se interessava por jornalismo cultural e viu no jornal laboratório uma oportunidade de começar na carreira. “Eu queria trabalhar com cultura, então quando eu fui entrevistar a Lala eu achei o máximo, porque nessa época ela era realmente o grande nome do teatro paranaense. Eu lembro que fui muito bem recebida na casa dela e foi super divertido. Eu fiquei a tarde inteira lá”, recorda.
2004 Diário: Num ato de ousadia, o LONA passou de mensal para diário. Apesar de algumas resistências, os alunos abraçaram o projeto e deu certo. Osny Tavares foi o aluno selecionado para editar o jornal naquele ano.
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As matérias das primeiras edições eram decididas e editadas por um conselho editorial, formado por alunos representantes das turmas e orientados pelos professores. Assim, para Salloum Jr, o Laboratório da Notícia proporcionou a experiência de uma redação, com todas as funções que um jornalista pode ocupar.
Os alunos aderiram com muito boa vontade e com muito entusiasmo, tanto que o jornal nunca teve problemas para sair por falta de matérias. Isso mostra que desde o começo o Lona já estava inovando, porque eu já tinha experiências anteriores com universidades e não conhecia nada parecido", conta
Carlos Alexandre Castro, coordenador do curso na época e um dos orientadores do jornal.
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LONA: do impresso ao online por Luís Farias Na metade do ano de 2004, uma decisão ousada foi tomada pela coordenação do curso de Jornalismo: fazer um jornal-laboratório diário. Alguns alunos não apoiaram a ideia, acharam que seria muito complicado e que não teriam tempo. Revoltados, se uniram e atearam fogo em uma pilha de Lonas como forma de protesto. Mas os professores explicaram que a iniciativa aproximaria mais os estudantes da realidade de um jornal impresso. O coordenador Carlos Alexandre Castro, à época, argumentou que a estratégia era viável e que a experiência de um jornal-laboratório diário daria aos alunos a prática que seria de grande importância para suas carreiras no futuro. Apesar da resistência inicial, o Lona tornou-se diário. E logo caiu no gosto, que rapidamente se adaptaram ao prazo de produção. A nova demanda exigiu a seleção de um estagiário. Os alunos que mais se envolviam com o jornal tiveram prioridade na escolha para a vaga. O primeiro editor dessa nova fase foi Osny Tavares.
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começou a ser diário desde o segundo semestre daquele ano. Houve um processo seletivo para a escolha do estagiário. Geralmente, os que mais se envolviam no Lona com o intuito de aprender que tinham prioridade para a vaga". Osny Tavares, primeiro editor.
Para seu primeiro ano completo como diário, Vinicius Boreki passou nos testes e foi o editor do jornal em 2005. A produção do Lona diário funcionava assim: uma equipe era escalada para ajudar os estagiários a fazer o jornal do dia, contribuindo com pautas e matérias. A produção vinha principalmente da disciplina de Redação, que se estendia pelos três primeiros anos do curso. Alunos do segundo ano contribuíam com matérias factuais e alunos do terceiro colaboravam com reportagens mais aprofundadas. Com a pegada de um jornal diário, o factual era mais valorizado, sendo mais frequentemente estampado na capa.
2009 500: o Lona chegou à quingentésima edição, sem grandes comemorações, mas com um registro importante na história do jornal.
2012 Nelson Rodrigues: em homenagem ao escritor e jornalista carioca, os alunos fizeram matérias sobre a biografia dele, lançando mão de recursos do jornalismo literário e de uma diagramação diferente da habitual.
2016 Olimpíadas: de olho na diversidade esportiva e na estrutura que o Brasil montou para receber um evento olímpico, uma edição especial foi preparada.
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2008 Shakespeare: havia um grupo de teatro no Jornalismo da Universidade Positivo e eles resolveram interpretar Shakespeare em inglês nos palcos. O espetáculo foi um sucesso e o Lona reservou uma de suas edições para noticiar a iniciativa.
2010 600: a sexcentésima edição do jornal-laboratório foi o marco de uma nova era que se iniciava: nascia o LONA online.
2014 Copa do Mundo: com o Mundial de Futebol sendo disputado no Brasil, a equipe do LONA buscou analisar as perspectivas da Seleção Brasileira e abordou detalhes e curiosidades das demais participantes.
No dia de sua formatura, Boreki foi contratado pela Gazeta do Povo. Ele acredita que a experiência com o jornal-laboratório foi de extrema importância para a sua carreira profissional: “Não tive o choque de chegar em um jornal e não fechar uma matéria em um dia. Não tive chefe no meu pé nem era o último a entregar matéria para o jornal. Considerava como normal, automático”. Boreki passou o bastão do LONA para Renan Colombo, que assumiu o cargo de editor em 2006. “Todo dia, de segunda a sexta era preciso fechar o jornal. Imagine a dificuldade. Muitas vezes, os estudantes não conseguiam entregar a pauta que estavam executando e sobrava para a gente, que trabalhava lá, produzir reportagens para o jornal”, lembra Renan. Todo dia era uma correria para que o arquivo chegasse na gráfica e fosse impresso para circular no dia seguinte. Renan Colombo passou a bola para Hendryo André e Felipe Gluck. 2007 começaria com dois editores. “A grande sacada era poder ver o resultado todo dia. Lembro que vinha correndo para ver como ficou o jornal”, conta Hendryo, ao relembrar que chegava cedo na faculdade para ver como tinha ficado a impressão. “Muitas vezes fechei o jornal tarde da noite. Víamos que tínhamos material para fazer mais que o habitual, que era de oito páginas, e fazíamos doze. O legal era ver o resultado”. Antonio Senkovski foi o indicado para ser o próximo editor e acompanhou a correria do LONA por dois anos: 2008 e 2009. Ele recorda a dificuldade para encontrar alunos capazes de produzir, num prazo curto, matérias para o outro dia. “A gente tinha o apoio dos professores e isso era bem importante, facilitava com as fontes. Era uma oportunidade de vivenciar a prática de uma maneira muito intensa”, comenta Antonio. Ele trabalhou nos últimos anos de Lona impresso. O LONA migrou para as mídias digitais em 2010. A plataforma online Issuu passou a abrigar o jornal, que continuou sendo diário. Foi também uma forma de reduzir os gastos, mantendo a mesma lógica de produção de conteúdo jornalístico e de distribuição. O Lona online e diário, funcionou até 2014. Passou a ser semanal em 2015 e 2016. Atualmente, aposta mais em reportagens aprofundadas. A periodicidade está atrelada ao fechamento de produções especiais.
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Coberturas e edições especiais por Luís Farias Foram muitas as edições especiais ao longo da história do LONA. Eventos desportivos, eleições ou em prol de alguma causa. Edições que cobraram um pouco mais dos editores e orientadores pela temática ou pela ousadia. O primeiro caderno especial surgiu ainda nos primórdios do LONA. Em 2001, o jornal-laboratório teve dois suplementos literários. O Réu Cultural foi baseado no debate proposta sobre a indústria cultural, promovido por iniciativa do professor Victor Folquening. Matérias sobre o meio artístico ganhavam as páginas do jornal. Já o Cucaracha era feito pela disciplina de espanhol, com o desafio de falar de cultura na língua ibérica. Nos anos de eleição, já virou uma tradição. Professores e estudantes da Universidade Positivo se empenham para fazer a maior cobertura jornalística de Curitiba e região, usando de todos os meios. Nessas circunstâncias, o LONA das Eleições aparece, um especial sobre o dia de votação. Há também o LONA sobre a Mostra de Profissões, feito com objetivo apresentar o curso de Jornalismo para os visitantes.
Com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, o LONA não perdeu a oportunidade de preparar um material mais do que especial sobre os eventos esportivos mais importantes do planeta. Os estudantes foram acionados para colocar suas habilidades em prática e emplacar duas edições temáticas, com foco no jornalismo esportivo. Enquanto o LONA da Copa enfatizou a fase que enfrentava a Seleção Brasileira e a expectativa dos torcedores, o LONA das Olimpíadas buscou o viés estrutural e apostou na diversidade esportiva do evento. A proximidade permitiu que repórteres e editores inovassem na produção. E quando o cartunista Ziraldo visitou o curso de Jornalismo da Universidade Positivo, para conversar com os alunos, não dava para perder a chance. Inspirado na sua história, o Lona Pasquim foi feito em parceria com o próprio Ziraldo, que desenhou a capa. Rigoroso, ele não deixou de indicar pontos em que era possível o aperfeiçoamento. Outro artista que ganhou um espacinho na história do Lona foi Paulo Leminski. Em formato standard, o Lona dedicado ao poeta curitibano trouxe também uma matéria sobre artistas que não fizeram muito sucesso em vida.
Prêmios importantes 10º (2004/2005): JORNAL LABORATÓRIO
11º (2005/2006) JORNAL ONLINE Lona On-Line e Jornalismo Expresso
SUL 2007 Jornalismo JORNAL LABORATÓRIO DIÁRIO LABORATÓRIO DA NOTÍCIA (LONA)
SUL 2009 Jornal impresso (avulso) LONA especial maio de 1968
16º (2010/2011): JORNAL LABORATÓRIO Jornal Laboratório Lona
SUL 2014 Jornal-laboratório impresso (avulso/conjunto ou série) LONA especial Paulo Leminski
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Depoimentos e experiências “Era aluno de jornalismo no então Centro Universitário Positivo – hoje Universidade Positivo –, em 1999, no primeiro ano da graduação, quando foi oferecida aos estudantes a oportunidade de viver antecipadamente um pouco da dinâmica de uma redação de jornalismo impresso. Surgiu o Lona – Laboratório da Notícia. Colaborador assíduo do jornal desde a criação, tive a ideia de tentar uma entrevista com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, pois me interessava conhecer a percepção dele sobre os acontecimentos que levaram ao pedido de impeachment em 1992, e sua consequente renúncia. Achei também que o tema poderia interessar ao público do Lona, pois até então Collor tinha falado com poucos repórteres. Concederia Collor uma entrevista a um simples calouro de jornalismo? O contato foi estabelecido por email através do site pessoal do ex-presidente. Para minha surpresa, não só respondeu as perguntas, como mostrou-se muito interessado e atencioso em auxiliar a matéria. A entrevista foi publicada, na primeira página do jornal. Para o primeiro-anista de jornalismo que eu era, a lição que ficou é que NADA é impossível. Basta correr atrás. E acreditar. Espero que nesta festejada milésima edição do Lona, a mesma lição seja compartilhada com os atuais estudantes de jornalismo da UP, aos quais desejo “vida longa e próspera” na profissão.” Jamil Salloum Jr.
“O meu interesse mesmo sempre foi o jornalismo impresso, então o Lona e a Entrelinha eram os meus laboratórios de fato. Eu era jornalista de verdade no ambiente da faculdade, porque quando você vai para o mercado de trabalho é difícil se manter e a estrutura que você tem aqui, com condições de produzir reportagem de rua mesmo, você não encontra lá fora. Então a gente se apropriava mesmo do Lona e da Entrelinha para fazer as reportagens e aprender a prática do jornal impresso. Claro que eram laboratórios e os alunos tinham supervisão, mas a gente usava isso como prática mesmo até para evoluir conforme os anos iam passando.” Paula Padilha
“Uma das primeiras matérias que eu fiz no primeiro ano da faculdade, em 2002, foi sobre blogs, e naquela época era muito difícil ter uma matéria publicada no Lona. E eu lembro que foi muito legal quando vi a matéria publicada. Foi a primeira vez que eu vi meu nome impresso em um jornal, então isso me marcou muito. No ano seguinte, eu me escrevi despretensiosamente no Prêmio Sangue Novo, e foi muito legal quando a minha matéria foi selecionada. Eu lembro da repercussão do pessoal do curso dizendo “olha só, uma matéria do primeiro ano”. Ninguém sabia direito quem eu era e a minha matéria foi para o Sangue Novo.” Felipe Harmata
“O Lona marcou a minha vivência na universidade do primeiro ao quarto ano. A minha melhor lembrança do Lona é chegar pela manhã e encontrar as pilhas de jornal no térreo do bloco azul. Antes de subir para aula, dividia os exemplares para distribuir pela faculdade. Queria que os alunos de todos os cursos lessem o nosso jornal. Pegava alguns maços e saia distribuindo pelos outros blocos. Na hora do intervalo, pegava mais alguns para entregar aos conhecidos. Ao terminar, sentava para observar as pessoas apanhando os seus exemplares e ficava na maior alegria ao ver alguém lendo o Lona. A minha maior tristeza foi quando o Lona não pode mais ser impresso diariamente. Nós fazíamos as edições diárias, mas elas passaram a ser divulgadas apenas pela internet. Já não havia mais aquela euforia de entregar o nosso trabalho de mão em mão. O Lona impresso diariamente deixou muita saudades.” Vitoria Peluso
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Retratado na primeira edição, Cristóvão Tezza revela o que mudou ao longo de 18 anos
Cristóvão Tezza já era um escritor renomado quando apareceu na versão inaugural do Lona, em maio de 1999. De lá para cá, o prestígio dele só cresceu, conquistando reconhecimento internacional. Muita coisa mudou, muitos pensamentos mudaram. Hoje, Tezza se dedica inteiramente à literatura. Após 18 anos, o Lona “reentrevista” o escritor, refazendo as mesmas perguntas que marcaram aquela edição inicial. As respostas sublinhadas são de 18 anos atrás.
Qual dos seus livros você considera o mais importante? Depende do aspecto considerado. Literariamente, “Trapo” foi o livro mais importante porque marcou minha maturidade como escritor e me lançou nacionalmente. “O filho eterno” foi o mais importante do ponto de vista existencial, pela extraordinária repercussão que teve, no Brasil e no exterior. Mas é difícil comparar – todo livro marca um momento especial da vida.
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Uma pergunta difícil. A partir de “Ensaio da Paixão”, escrito em 1980, acho que todos os meus livros são igualmente importantes – para mim, é claro.
De que maneira você acha que o governo e a sociedade poderiam incentivar mais o hábito de leitura no povo brasileiro?
Quais autores influenciaram o seu estilo literário?
Dando toda a atenção, concentrando todos os seus esforços no ensino fundamental e no ensino médio. O leitor se forma entre os 10 e os 18 anos. E é justamente a faixa em que o ensino brasileiro vem fracassando terrivelmente.
É difícil dizer. O “estilo”, entendido popularmente como o “modo de escrever”, esse é pessoal mesmo – a história de um escritor é sempre a história da criação de sua própria linguagem. Mas é claro que começamos a escrever sob influências, sempre mais indiretas do que diretas. Algumas leituras de juventude foram especialmente marcantes: entre os brasileiros, Graciliano Ramos, na prosa, e Carlos Drummond de Andrade, na poesia. Dos estrangeiros, Joseph Conrad e William Faulkner foram leituras especiais para mim. Mas essas referências vão mudando ao longo da vida.
Fundamental para a leitura é o investimento pesado, dez vezes mais do que vem sendo feito até aqui, na rede pública de primeiro e segundo grau. Mais, muito mais bibliotecas, professores mais bem pagos e mais aparelhados. O leitor começa aí, já que a maioria da população é pobre e iletrada. Em casa, o estudante terá poucas chances de acesso ao livro. O que mudou em você e em sua escrita desde 1999?
Não sei localizar exatamente minhas influências literárias. Há uma certa família de escritores que me agradam muito: Dostoiévski, Balzac, Joseph Conrad, William Faulkner. Numa outra época li muito Albert Camus. No Brasil, Machado de Assis e Graciliano Ramos são meus prediletos. Qual é o seu livro de cabeceira? Não tenho livro de cabeceira – minha cabeceira está sempre cheia de livros diferentes, ensaios, história, ficção, poesia. Leio de tudo, o tempo todo. Não tenho nenhum livro fixo. É sempre o que estou lendo no momento... Agora por exemplo, estou lendo “Auto da Fé”, um clássico de Elias Canetti.
A gente sempre está perto demais do instante presente para sentir a própria transformação. Como todo mundo, sei que sou diferente do que fui vinte anos atrás, mas sempre imagino que continuo a mesma pessoa… Minha literatura amadureceu bastante, imagino – ou foi tematicamente se transformando em função dos anos. A percepção de alguém com 50 ou 60 anos já não tem as mesmas referências e visão de mundo de alguém com 30 ou 40. Do ponto de vista da linguagem, sinto que desenvolvi um estilo marcadamente pessoal, “um modo de ver” que, se já estava presente nos primeiros livros, agora tem uma forma bastante diferenciada. Talvez seja menos uma questão estritamente técnica, e mais uma mudança de cabeça mesmo.
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EDIÇÃO 1000 . CURITIBA, 16.11.2017
Jornalismo de mãe para filha por Hannah Cliton Ainda no primeiro ano, Carolina fez parte de um grupo de literatura que publicou o Resvalo, suplemento literário do LONA, orientado pelo professor Marcelo Lima. “Nós nos reuníamos toda semana para estudar literatura, e fazíamos uma edição do suplemento por mês. Geralmente o Marcelo propunha textos, a gente estudava e discutia”, recorda. Daquela época, Giovana lembra do ritmo agitado e dos amigos que a mãe fez na faculdade, alguns com quem elas mantêm contato até hoje. “Eu era muito pequena, mas lembro que eu ficava desenhando durante a aula, e era uma correria. A correria jornalística que a gente conhece, desde pequena eu já estou meio ligada nesse pique”, conta.
Entre os alunos matriculados na primeira turma após a criação do curso de Jornalismo no Centro Universitário Positivo (UnicenP) estava Carolina Godoi, que algumas vezes levava a filha para acompanhá-la na faculdade. Com quatro anos na época, Giovana frequentava as salas de aula e a Central de Jornalismo, redação em que os alunos produziam o Laboratório da Notícia. “A Giovana cresceu nos corredores da UP”, brinca Carolina. Quinze anos depois, Giovana ingressou no seu primeiro ano de faculdade, no mesmo curso de Jornalismo na mesma instituição, que havia se tornado a Universidade Positivo. Carolina, que entrou no curso desejando ser jornalista cultural, entrevistou a atriz Lala Schneider para a primeira edição do Laboratório da Notícia (LONA), e lembra que foi uma oportunidade de colocar em prática o que havia aprendido no curso, mesmo após poucos meses de aulas.
Apesar de ter participado mais da Entrelinha, por se identificar com o jornalismo literário, Carolina também publicou matérias e ensaios fotográficos no LONA, além dos poemas no suplemento literário do jornal. Ao ler um dos poemas da mãe divulgados no Resvalo, Giovana se empolga e lembra que conhece a maioria deles. “Eu já li esses textos várias vezes, mas não sabia que eram para o LONA. Eu tinha visto em um caderno, e isso me inspirava bastante, porque eu escrevo desde pequena e a minha mãe é a minha maior referência nessa parte”, afirma. Apesar de Carolina não ter trabalhado como jornalista por muito tempo, já que se especializou em Fotografia e atualmente estuda Psicologia, Giovana conta que a mãe é uma grande referência em vários aspectos da sua vida. “Eu fico orgulhosa e também com o meu ego inflado em saber que eu fui referência para a minha filha, e isso é uma declaração de amor”, emociona-se Carolina. Além da influência profissional, Giovana acredita que a relação com a universidade e o Jornalismo também foi determinada na infância. “Tudo está muito entrelaçado na minha vida, porque eu ando nos corredores agora e são os mesmos corredores que eu andava antes, quando eu era pequena”,comenta.
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CURSO DE JORNALISMO . UNIVERSIDADE POSITIVO
Curiosidades LONÍSTICAS
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Em 2009, o Lona recebeu votos de aplausos da Câmara Municipal de Curitiba pela comemoração dos cinco anos de circulação diária, proposto pelo vereador Mario Celso Cunha. Dez anos antes, o jornal havia recebido votos de louvor pela sua criação, em proposição do mesmo vereador.
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O nome Laboratório da Notícia foi sugerido por Brisa Nunes Ferreira Nascimento, estudante do primeiro ano de Jornalismo, e escolhido em votação pelos alunos do curso.
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Nas primeiras edições, os alunos de Jornalismo entrevistaram Cristóvão Tezza, Helena Kolody, Zilda Arns, a então vicegovernadora do Paraná Emília Belinati, Fernando Collor de Mello, e outros.
O Laboratório da Notícia começou a ser chamado de Lona porque o professor Tomás Eon Barreiros, no projeto gráfico do jornal, usou LaboratóriOdaNotíciA e os alunos passaram a chamar o jornal pelas letras em destaque, LONA, que se tornou o apelido do jornal e, posteriormente, seu nome oficial.
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O Lona foi publicado diariamente por 10 anos, e foi o primeiro jornal laboratório diário do Brasil. Por isso, os professores foram convidados várias vezes para dar palestras e falar sobre a experiência em outras universidades.
6
Em 2007, quando o Lona era impresso diariamente, os alunos receberam 15 cartas de estudantes da cidade de Caculé, na Bahia, que usaram o Lona em sala de aula. Os alunos, na faixa dos 13 anos, “encomendaram” uma matéria sobre a história do jornal e contaram o que achavam do Lona e como tinham estudado as notícias em sala de aula.
Identidade Visual 2003
1999
2007
2004
2014
2009
2008
2012