Lona 1001

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Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup

Campeã de Judô percebeu os tremores do Parkinson durante luta p. 4

Saiba quais as condições para ser um doador de medula óssea p. 6 e 7

Musicoterapia ajuda no desenvolvimento de gêmeos orfãos em Curitiba p. 8

Ano XVI > Edição 1001 > Curitiba, 5 de dezembro de 2017

DOAÇÃO DE MEDULA: COMPATIBILIDADE É DE UMA A CADA 100 MIL PESSOAS


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Transplante de medula, musicoterapia e Brasília Hannah Cliton

Após a edição comemorativa das 1000 edições do Lona, voltamos às edições com as reportagens feitas pelos alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Positivo. Nesta edição, a matéria da capa traz uma discussão muito importante sobre o transplante de medula óssea, já que o número de doadores voluntários têm crescido nos últimos anos. Algumas vezes, o paciente pode ter dificuldades em encontrar um doador, por isso é importante a conscientização para que o número de doadores aumente e mais vidas sejam salvas. A reportagem também traz um guia de como ser um doador, para não deixar dúvidas a respeito do processo de doação, que é feito sob anestesia e com internação de apenas 24 horas. Nesta edição, também temos um tema importante e que está sendo bastante discutido pela mídia e pela população: a descriminalização do aborto. No Brasil, o aborto ilegal é causa da morte de uma mulher a cada dois dias, o que só mostra como esse assunto deve ser cada vez mais discutido pela sociedade, para encontrarmos uma solução segura. Ainda no tema de saúde, nossas repórteres trouxeram a história de uma campeã de judô que sentiu os primeiros sintomas do Mal de Parkinson durante uma luta, e que hoje participa da Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo (APPP). Nesta edição, também temos uma matéria sobre os gêmeos nascidos depois que a mãe teve morte cerebral e que, durante a gestação, receberam sessões de musicoterapia para auxiliar os bebês. Outro tema abordado foi o câncer, uma doença que atinge mais de 500 mil pessoas no Brasil e muitas vezes não tem sintomas definidos, que podem mudar de acordo com o caso, o que também altera o tratamento que o paciente irá receber. Por fim, além das colunas temáticas, uma aluna de jornalismo conta como foi participar do estágio-visita da Câmara dos Deputados e passar uma semana em Brasília quando foi votado o arquivamento da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Aproveite a leitura e, qualquer coisa, é só mandar um e-mail para lonajornal@gmail.com

OPINIÃO

Descriminalização do aborto: um apelo para a saúde Heloísa Batistel

A cada dois dias uma brasileira morre vítima do aborto ilegal. Ao contrário do Uruguai, que hoje descriminaliza o aborto até o primeiro trimestre da gestação, o Brasil não tem tratado do assunto de forma prática no parlamento e no governo, deixando de lado alguns aspectos da saúde da mulher. Hoje o aborto é questão de saúde pública.

uma situação que depois seria considerada um aborto espontâneo. A mulher explicou que passou por um “policiamento” no hospital até comprovar a veracidade da espontaneidade do aborto. “Eu estava super fragilizada, me identifiquei como colega de profissão e, mesmo assim, o médico ficou procurando material no meu útero”.

O Uruguai apresentou uma queda na porcentagem de mortes maternas após a descriminalização do ato e até uma diminuição na quantidade de procedimentos realizados. No Brasil, o aborto clandestino é a quinta causa de morte materna e uma em cada cinco mulheres já realizou pelo menos um aborto ilegal.

A Secretaria da Mulher do governo Temer se posiciona abertamente contra o aborto, mesmo em situação de violência sexual. A nova secretária, Fátima Palaes, deixa de lado a saúde e se coloca contra qualquer violação dos ensinamentos bíblicos dentro do país, incluindo o aborto, independente das razões. “Firmei um compromisso de glorificar o nome do Senhor naquela Casa de Leis”.

Em nosso país, nem quem tem o direito de realizar o aborto, segundo o artigo 128 do Código Penal, está a salvo de complicações. A falta de clínicas especializadas leva até mesmo vítimas de violência sexual a procurar a clandestinidade. Hoje, mulheres que passam por abortos espontâneos têm que provar que não usaram nada para induzir o mesmo, e muitas vezes vão a julgamento pela descrença dos médicos na paciente. Halana expôs sua história para o portal de debate de direitos das mulheres chamado “Clandestinas” sobre a denúncia que realizou ao Ministério Público de São Paulo contra um médico. Ela, que também é médica e estava grávida, chegou ao hospital para tratar de

EXPEDIENTE

EDITORIAL

Presidente da Área de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha Reitor José Pio Martins Pró-Reitor Acadêmico Carlos Longo Pró-Reitor de Planejamento e Operação Ronaldo Casagrande

Maria Cecília Heckrath, coordenadora do Comitê de Violência Doméstica, Sexual e outras Violências, explica que o sistema de saúde não tem o direito de julgar e qualquer prática desse tipo deve ser considerada violência e denunciada. A antropóloga Débora Diniz, que pesquisa temas relacionados a Políticas Sociais, expõe a seguinte opinião em um dos seus artigos sobre o problema da saúde pública: “Enfrentar com seriedade o fenômeno do aborto como uma questão de saúde pública significa entendê-lo como uma questão de cuidados em saúde e não como um ato de infração moral de mu-

Diretor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Roberto Di Benedetto Coordenador da Área de Comunicação e Design Marcelo Gallina Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Katia Brembatti

lheres levianas. E para essa redefinição política há algumas tendências que se mantêm nos estudos à beira do leito com mulheres que abortaram: a maioria é católica, jovem, pobre e já com filhos”. Segundo dados de 2004 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 25% de todas as gestações acabam em aborto e 73% das mulheres que abortam são casadas e apenas 27% são solteiras. Em toda a América Latina, uma em cada três gestações terminam em aborto e as mulheres religiosas fazem parte de uma estimativa de 88%, em sua maioria católica (65%) e protestante (25%). A liberdade das mulheres condiz com sua situação financeira, as ricas abortam com segurança e as pobres morrem na clandestinidade. O aborto é um problema relacionado à saúde pública. Nem toda a população do Brasil tem acesso a informações e políticas públicas de educação sexual. Talvez para quem vive em uma parte favorecida do país pareça bobagem que algumas pessoas não saibam como prevenir a gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, mas a educação não é algo homogêneo em todo o país e existem várias falhas dentro desse sistema. Até hoje não temos educação sexual em escolas. Quem garante que esse cenário está diferente nas áreas remotas do Brasil?

Projeto Gráfico Gabrielle Grimm Edição Hannah Cliton Luís Farias Capa Luís Farias


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ALIMENTAÇÃO

Banco de Alimentos do Ceasa de Curitiba distribui mais de três toneladas por dia Iniciativa do Governo Estadual ajudou, em média, 50 mil pessoas por mês e em 2016 distribuiu 1,2 mil toneladas de frutas e verduras que seriam descartadas por comerciantes Marcos Henrique Guérios e Talita Marchiori

Criada pelo governo do estado, a ação visa combater o desperdício de alimentos e, paralelo a isso, distribuir produtos que não serão vendidos ou estão impróprios para comercialização, mas que podem ser consumidos. Hoje o Banco de Alimentos das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) em Curitiba tem 125 instituições e 210 famílias cadastradas. Em 2016, foram distribuídas mais de 1,2 mil toneladas de alimentos. Dentro do Ceasa circulam milhares de comerciantes de alimentos, buscando os melhores preços para suas quitandas, mercados e comércios. Como em todo ambiente que trabalha com alimentos, existe uma quantidade de comida que acaba não sendo vendida, porém, muitos desses produtos têm condições de serem consumidos. O trabalho dos colaboradores do Banco de Alimentos é identificar e disponi-

bilizar esses produtos para as instituições e famílias cadastradas. Segundo dados da coordenação do programa, em 2016 foram atendidas uma média de 96 instituições e 50.873 mil famílias por mês. Dione da Luz representa a Associação Comunitária Santa Barbara e Santa Sara, que distribui refeições para 90 famílias cadastradas. “No nosso caso essa comida ajuda muito a gente lá. Assim, nós ajudamos muitas pessoas da comunidade e de fora também”, explica. A associação atende pessoas carentes na região do Jardim Acrópoles, no bairro Cajuru, em Curitiba, e já chegou a levar 590 quilos de frutas e verduras em um dia. Em todo o ano de 2016, foram repassadas aproximadamente 1,3 mil toneladas de alimentos, em média 108 toneladas por mês – números que representam uma considerável dimi-

Gráfico mostra o número de instituições atendidas por mês em 2016.

nuição na quantidade de alimentos efetivamente descartados. O último trimestre do ano foi o que apresentou os maiores índices de doações, cerca de 37% das doações feitas no ano aconteceram nesse período, com destaque para o mês de dezembro com 194 toneladas. O gerente da divisão social do Banco de Alimentos, Gilmar Pavelski, é quem coordena as operações. “Nosso trabalho consiste em conter o desperdício de alimentos de dentro da Ceasa. Os nossos colaboradores são os produtores e os atacadistas de dentro das unidades”, explica. A qualidade dos produtos também é algo com que Gilmar se preocupa, ele conta que muitos dos produtos que chegam têm total condição de serem consumidos, são até mesmo melhores que os vendidos. “Uma vez chegaram 36 caixas de mamão que estavam perfeitas, só não iriam ser vendidas, daí o produtor mandou diretamente para doação”, lembra.

Gráfico mostra o número de pessoas atendidas por mês no ano de 2016.

Gilmar ainda explica como é feito o recolhimento dos produtos para doação. “Os produtos que chegam do

produtor, normalmente são fruto de um excesso de comercialização, é um produto fresquinho e sem problema nenhum. Já o produto que vem dos permissionários (atacadistas), por estar localizado dentro da Ceasa, ele consegue segurar o produto por mais alguns dias, porém esse produto perde o valor de mercado, mas ainda permanece bom para o consumo, mantendo seu valor nutricional. Esses alimentos vêm direto para o Banco”, conta. Para cadastrar alguma instituição no Banco de Alimentos do Ceasa é bem simples, basta preencher os formulários no portal da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. Além de ter um caráter filantrópico, ou de utilidade pública, a instituição deve oferecer refeições para a comunidade carente, dispor de um meio de transporte para carregar os produtos e um lugar minimamente preparado para o acondicionamento e preparo dos alimentos. Qualquer família pode se cadastrar no programa, bastar ir até o Ceasa com documento com foto e preencher o formulário disponível no site.


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SAÚDE

Campeã de judô master percebeu, ainda no tatame, os primeiros tremores do Parkinson A doença atinge mais de 200 mil brasileiros, como a ex-judoca Norene Silva, Campeã do Campeonato Sul Americano de Judô em 2009

Dos confrontos no tatame à garra para combater os sintomas do Parkinson – essa foi a trajetória de Norene Eliana Soares Henrique Silva, de 64 anos. Campeã do Campeonato Sul Americano de Judô em 2009, a atleta conta que no início não associou os sintomas à doença. “As pessoas pensavam que eu estava tremendo de nervoso e me perguntavam como que eu consegui ganhar estando tão nervosa. Eu tremia, mas não era de nervoso, mal sabia que ali já era o Parkinson”.

Foto: Amanda Andrade e Thais Abicalaf

De acordo com a neurologista Adriana Moro, especializada em distúrbios do movimento pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), a maioria dos diagnósticos ocorre por volta dos 60 anos de idade, mas 10% dos pacientes podem apresentar sintomas da doença mais jovens. No caso de Norene, o diagnóstico aconteceu aos 58 anos, quando um médico foi até sua casa para examinar sua mãe e acabou percebendo os sintomas. A ex-professora e técnica de

Foto: Amanda Andrade e Thais Abicalaf

Amanda Andrade e Thais Abicalaf

judô achava que os sinais de lentidão, dificuldade na fala e os tremores nas mãos eram resultado da depressão que enfrentava na época. Hoje em dia, ela continua fazendo exercícios como natação e fisioterapia, mas a paixão pelo esporte ainda é grande, então, sempre que pode, ajuda o filho a dar aula de judô. Os filhos foram os incentivadores do amor pelo tatame. “Eu só dava palpite enquanto eles faziam a aula e então o professor falou para eu subir no tatame e ver como era. Entrei e há 30 anos não saí mais”, conta. O neurologista Alexandre Novicki Francisco explica que os tratamentos do Parkinson não curam a doença, mas buscam a melhora da qualidade de vida do paciente. Os medicamentos, a fisioterapia, a fonoaudiologia, as terapias ocupacionais, os exercícios e a neurocirurgia são formas de controlar, na medida do possível, a evolução da doença. Diferente dos outros tratamentos, a neurocirurgia não é indicada quando o paciente é recém-diagnosticado; esse procedimento é aconselhado na metade da doença, pensando na Escala H&Y (1 ao 5), o ideal é quando a evolução está no nível 2 para o 3. O médico enfatiza que cada caso é um caso e que não se deve comparar os resultados da cirurgia entre pacientes.

Norene utiliza todos os serviços da Associação de Parkinsonismo desde que descobriu a doença.

Em outubro de 2015, Norene fez o procedimento com o Dr. Alexandre e obteve uma melhora de 80% nos tremores. Agora, a lentidão é o único sintoma, mas essa dificuldade se deve também ao problema dos joelhos operados e à artrose. “Deus no céu e o Doutor Alexandre na terra”, brinca a judoca.

Maria Madalena Machniewicz, psicóloga, trabalha na Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo há 16 anos e atualmente dá aulas de Dança Sênior.

"A ex-professora e técnica de judô achava que os sinais de lentidão e os tremores nas mãos eram resultado da depressão" Associação de Parkinson em Curitiba auxilia portadores da doença Ao falar sobre a Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo (APPP), Norene conta que usa todos os serviços disponíveis, entre eles a arteterapia, aula criada há pouco tempo na associação. O amor e o carinho com os filhos e netos não se vê presente apenas na fala, mas também na atividade feita durante a aula, na qual Norene desenhou sua família num papel cortado em formato de coração. Além da arteterapia, outros serviços oferecidos pela APPP são coral, café com poesia, dança sênior, assessoria social e jurídica, acupuntura, nutrição, farmácia, entre outros tratamentos e atividades. Na farmácia, os sócios portadores de Parkinson podem realizar um cadastro e retirar gratuitamente alguns dos medicamentos que necessitam.

A dança sênior é ministrada pela psicóloga Maria Madalena Schaikoski Machniewicz, 73, que trabalha na associação há 16 anos. Ela conta que as aulas começaram como uma atividade de respiração e relaxamento que tinha como objetivo entreter os cuidadores que acompanhavam os portadores de Parkinson enquanto aguardavam suas consultas. A atividade acabou evoluindo para um bailinho na sala de espera, que acontecia toda quinta-feira na APPP. Madalena, então, deu início à dança sênior, que, segundo a professora, auxilia em quesitos como equilíbrio, memória, concentração, atenção e articulações. “Eu acho que o trabalho traz vida para a gente. Aqui é minha segunda casa, eu adoro”, conta Madalena.


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ENERGIA

Tecnologia solar pode diminuir o uso de combustíveis fósseis Foto: AllTheFreeStock

O uso do petróleo e do carvão será reduzido devido a demanda e a economia da energia solar Isabella Machado e Pedro Lucena

As energias renováveis estão se tornando cada vez mais próximas da indústria de combustíveis fósseis. Segundo o relatório lançado pelo Grantham Institute do Imperial College de Londres em parceria com a Carbon Tracker Initiative, a queda nos custos de tecnologia solar e veículos elétricos tem potencial para diminuir o crescimento da demanda global de petróleo e carvão a partir de 2020. Isso acontecerá caso os setores de energia e transporte representarem cerca de metade do consumo de combustíveis fósseis. Com a queda dos preços e o consumo reduzido, a demanda global por energia limpa poderá ter um impacto significativamente positivo. De acordo com o relatório, se a queda dos combustíveis fósseis se concretizar e a demanda por carvão cair pela metade até 2050, juntamente com a queda constante do petróleo até o mesmo ano, é esperada uma transformação significativa no aquecimento global – limitado em 2,4º C a 2,7º C no ano de 2100. O aumento médio previsto pela indústria de fósseis, em contrapartida, é de 4º C.

Perigo para os fósseis “A somatória de todas as vantagens da energia limpa tem um resultado saudável, atraente e com boa probabilidade de acontecer. Mas a indústria de combustíveis fósseis não parece muito convencida a considerar o sucesso da tecnologia solar”, opina Rodrigo Lopes Sauaia, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). As grandes empresas de energia, segundo Rodrigo, estão subestimando os avanços das fontes limpas pelo uso de cenários “business as usual” (BAU), tá tica que ignora distrações externas ao funcionamento do próprio negócio – e desconsidera a descarbonização da economia. Essa atitude, de acordo com Sauaia, pode significar um erro grande na previsão da demanda de petróleo e carvão. “Os combustíveis fósseis, na verdade, podem perder 10% da participação de mercado para a energia solar fotovoltaica em uma só década”, discorre Samuel Bim, engenheiro elétrico da empresa de energia solar SelEnergy. Este número, segundo o estudo “Espere o inesperado: o poder disruptivo da tecnologia de baixa emissão de carbo-

As tecnologias de baixa emissão de poluentes já estão chegando às casas e escolas brasileiras.

no”, apesar de não parecer tão expressivo, é um sinal de alerta: a perda de 10% de participação no mercado de energia já foi causa de colapso para uma indústria de mineração de carvão nos EUA. Para Samuel, não há mais ‘business as usual’ no setor de energia. “É hora de descartar esse cenário. Há uma série de tecnologias de baixa emissão

Energia solar na prática

Foto: Divulgação

As escolas públicas brasileiras também

“A indústria de combustíveis fósseis não parece muito convencida a considerar o sucesso da tecnologia solar”, afirma Rodrigo Sauaia de carbono prestes a atingir a massa crítica décadas antes que algumas empresas esperam”.

Usar painéis solares pode economizar até 70% do que é gasto com energia elétrica.

limpa já chegou à população. A dona de casa Leila Pedrosa, que optou pela instalação dos painéis solares em sua residência, já teve resultados positivos. “Moro com mais quatro pessoas. Um mês depois de mudar para a energia solar, já recebi a conta R$90 mais barata”, conta. “É um investimento que recomendo a todos que conheço”.

O custo da energia solar fotovoltaica, segundo a Imperial College, caiu 85% nos últimos sete anos – e a instalação de painéis solares pode render uma economia de até 70% do que seria gasto com energia elétrica. E, apesar do receio da indústria de combustíveis fósseis, a nova etapa de energia

iniciaram seu planejamento econômico e sustentável com a energia solar. No início de 2017, a Escola da Colina, em São José dos Pinhais (PR), realizou a instalação de 6 painéis solares. “O dinheiro poupado nesse investimento será destinado a outros projetos sustentáveis, como compostagem”, afirma Simone Zanardini, pedagoga e coordenadora da escola. “Mas a parte mais importante, para nós, é a conscientização ecológica que isso trará para os alunos e funcionários da instituição”, declara.


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TRANSPLANTE DE MEDULA

Transplante de Medula Óssea: 1 a cada 100 mil são compatíveis Apesar do número de doadores ter aumentado nos últimos 16 anos, doação ainda é imprescindível Érica Diniz da Costa

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o número de doadores voluntários tem aumentado expressivamente nos últimos 16 anos. No ano 2000, existiam apenas 12 mil inscritos, desses, 10% estavam cadastrados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME).

A médica Ana Luíza Fabro, especialista em oncohematologia infantil e em transplante de medula óssea pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, explica que o transplante de medula é a única terapia curativa para várias doenças, desde hematológicas

benignas como aplasia, anemia de blackfan diamond, anemia de fanconi, até imunodeficiências como SCID, doenças neurológicas como adrenoleucodistrofia e mucopolissacaridose, doenças reumatológicas, doenças hematológicas malignas como leuce-

mias e linfomas, neoplásicas sólidas como neuroblastoma. A respeito dos riscos para o doador, a doutora diz que se a doação for feita no centro cirúrgico, sob anestesia, há apenas os riscos relacionados à cirurgia, que hoje são mínimos.

Gabry -feira, quimi dias d quatr em se Seis m doenç

Foto: Arquivo pessoal Gabryell Kosman

Em 2016 eram mais de 4 milhões. Apesar de o número ter aumentado, a chance de encontrar um doador compatível é de 1 a cada 100 mil, lembrando que essa compatibilidade é genética (cromossomo 6), e não sanguínea, como na maioria dos transplantes. Para que a medula não seja rejeitada, doador e receptor devem ser 100% compatíveis, e em apenas 25% dos casos é possível encontrar o doador ideal (irmão com a mesma carga genética). Conforme os dados das Centrais de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO) dos estados e do Distrito Federal, no PR, em 2015 foram realizados 183 transplantes. Gabryell Matheus Kosman, 18 anos, morava em Imbituva e no começo de 2015 estava sentindo muita fraqueza, procurou vários médicos, realizou diversos exames de estômago. Quando fez um hemograma foi detectado que a sua imunidade estava bem baixa, com um especialista ele começou o tratamento em Guarapuava, os exames lá indicaram Mielodisplasia (que o único tratamento possível é o transplante). Encaminhado para o Hospital das Clínicas, em Curitiba, referência em transplante de medula, refez todos os exames e foi diagnosticado com um tipo raro de leucemia, a Eritroleucemia.

Gabryell foi diagnosticado com um tipo raro de leucemia, a eritroleucemia, e passou por quimioterapia e cirurgia de transplante.

“O paciente transplantado sempre fará acompanhamento do seu caso, intervalos entre si, pois, a possiblidade de rejeição haverá por toda a sua médica Ana Luíza Fabro


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yell foi internado em uma terça, e na sexta iniciou sua primeira ioterapia. No total foram sete de quimio, em dois ciclos e mais ro de outra, terminando a última etembro antes do transplante. meses após a descoberta da ça, foram encontrados dois

, com maiores a vida”, explica a

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Como ser um doador

doadores através do REDOME, um na Alemanha e outro aqui no Brasil. Porém, como o cadastro do doador brasileiro estava desatualizado, o material de transplante do doador alemão veio para cá. “Foi incrível receber a notícia, mas ficaria mais feliz se alguém conseguisse um transplante através de mim". Depois de uns 15 a 20 dias, quando a imunidade começa a subir, é possível saber se a medula pegou. Gabryell comenta sobre o D+100, que é um período muito importante após o transplante, em que existem os maiores riscos de recaída, rejeição, adquirir alguma bactéria ou infecção, por isso a alimentação é bem rígida e os cuidados são vários. Por exemplo, a roupa tinha um cuidado para lavar, comida apenas cozida, não pode pegar sol durante um ano, pois, podem ocorrem várias reações desagradáveis, banheiro exclusivo para seu uso. A médica esclarece que a chance de sucesso de um transplante depende de muitos fatores como doença, estágio, condições de saúde do paciente no momento do transplante, compatibilidade com o doador. Além disso, “o paciente transplantado sempre fará acompanhamento do seu caso, com maiores intervalos entre si, pois a possiblidade de rejeição haverá por toda a sua vida”, explica. É possível ajudar uma pessoa por vez, tanto pela quantidade de material coletado quanto pela compatibilidade necessária. Assim que um doador é identificado como compatível, se estiver disponível para realizar a doação (dados atualizados no cadastro), ela é realizada, independentemente da época do ano. Gabryell diz que fez muitos amigos no hospital, incluindo a equipe médica, eles se tornaram uma família. Ele teve uma recaída da doença e relatou como foi receber a notícia. “Quando

descobrimos que a doença voltou todos choraram, eu os amo muito”, lembra. No caso dele, a medula não foi rejeitada, mas aconteceu a recaída da doença, ou seja, apesar de não haver a rejeição, a medula nova não combateu as células doentes, por isso a necessidade de um novo transplante. Mas, antes de buscar um novo doador é preciso calma, os médicos precisam observar como o seu corpo irá reagir. Ele faz parte da campanha “Sonhadores de Vida”, que tem o propósito de aumentar a doação de Medula Óssea. Camisetas da campanha são vendidas no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e o dinheiro arrecadado é utilizado para pequenas causas, pessoas carentes ou que precisam de algum tratamento. Na madrugada do dia 26 de maio de 2016 Gabryell morreu, e o velório foi em Imbituva, na casa da família na comunidade de Faxinal dos Ávilas próximo ao trevo de Imbituva. A campanha “Sonhadores de Vida” terá continuidade conforme seu desejo. Durante o período em que fez o tratamento, ele escreveu um livro chamado Tudo Ótimo, que foi lançado no dia 23 de abril de 2017 em sua cidade, e no dia 26 em Curitiba. O livro foi vendido no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizado na Rua Ivo Leão, 80, no bairro Alto da Glória, e nas Livrarias Curitiba (Paraná, Santa Catarina e São Paulo) e Livraria Vozes. A renda arrecadada com as vendas será destinada para a campanha “Sonhadores de Vida”. Até o dia 15 de maio foram vendidos quase mil exemplares. “Independente das circunstâncias que a vida nos apresente, nunca deixe de viver. O lugar, as coisas e pessoas ao seu redor são da maneira com que você enxerga, então olhe com amor para a vida, que ela olhará com amor para você”, diz Gabryell Kosman.

Para ser um doador é necessário ter entre 18 e 55 anos, estar em bom estado de saúde, a pessoa deve fazer um cadastro no hemobanco da sua cidade onde é coletado 5ml de sangue para a realização dos testes de compatibilidade genética (HLA), e um cadastro por escrito, que fica armazenado no banco de dados (REDOME). Assim que for encontrado um paciente compatível o doador é contatado para realizar outros exames, daí a importância de manter os dados sempre atualizados. Mais informações em REDOME: redome.inca.gov.br Como é feita a doação? A doação é feita no centro cirúrgico, sob anestesia, são realizadas punções para a retirada do material da medula, com duração de aproximadamente 90 min. E 24 h de internação. A medula se reconstitui em 15 dias podendo ser realizadas novas doações. Onde? O procedimento é realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná mais próximo do doador, no Hospital Nossa Senhora das Graças, no Hospital Pequeno Príncipe (pediátrico). Saiba mais sobre a campanha Sonhadores de Vida em: www.facebook.com/sonhadoresdevida

Arte: Ana Clara Faria


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TERAPIA

A musicoterapia que embalou, ainda na barriga, os gêmeos de mulher com morte cerebral Depois de um bimestre em isolamento, gêmeos têm alta após passarem por gravidez de alto risco Ana Tereza May e Gabriela de Lara

Gerados em mãe com morte encefálica, os gêmeos Ana Vitória e Asafe saíram da ala de isolamento da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital do Rocio, em Campo Largo, depois de participarem de diversas sessões de musicoterapia. Os gêmeos gerados após a morte cerebral da mãe saíram da ala de isolamento da UTI do hospital do Rocio, em Campo Largo, no dia 14/04/2017. a capelã Erika Checan disse que anseia pelo que se tornarão esses meninos após passar por tantas dificuldades. A mãe dos bebês, Frankielen, 21 anos, teve morte encefálica no dia 20 de outubro. Grávida de gêmeos, foram precisos vários recursos para prosseguir com a gravidez e após 123 dias, o convívio da vida e da morte na mesma cama de UTI no Hospital do Rocio se encerrou. No dia 20 de fevereiro, nasceram Ana Vitória, pesando 1,4 kg, e Asafe, pesando 1,3 kg. Filhos de Frankielen da Silva Zampoli e Muriel Padilha, os bebês ao mesmo tempo que saudavam o pai e a avó, se despediam da mãe. O estado de Frankielen não a impediu de ser “uma incubadora de carne e osso”, nas palavras de Lydio José da Silva, um dos musicoterapeutas que atendeu a ela e as crianças. Para ele, por mais que estivesse ali cantando para os que estavam sendo gerados, havia um corpo lutando e isso, em sua visão, fez com que os médicos continuassem persistindo na vida dela, fosse com remédios ou mantendo o corpo no box da UTI. Por mais que Lydio estivesse presente em várias sessões, a capelã do próprio hospital, Erika Checan era quem estava toda segunda-feira lá às 8:30 para acompanhar o ultrassom feito pela Dra. Soraya Neres, médica. Erika foi aluna de Lydio na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), e para ele vê-la naquela posição e

transmitir a experiência musical. No box passaram de um a cinco violoncelos, xilofone, flauta, ukulelê, conjuntos vocais femininos de jovens e um coral. Em uma dessas manhãs, Erika e o músico que a acompanharia chegaram para a sessão e a médica já havia terminado, pois naquele dia teria que sair mais cedo. Ao perguntar sobre os bebês para a médica, recebeu de resposta que “eles sentiram falta de música”. Isso porque durante o ultrassom eram tocados instrumentos e com isso, os bebês se movimentavam, e no dia que isso não aconteceu até o pai questionou o motivo. Além do momento do ultrassom, eram realizadas massagens do tipo shantala, massagem indiana usada para harmonizar e confortar recém-nascidos, com todo o cuidado da infectologia. A massagem indiana passou a acontecer depois de um pedido de Lydio a Erika para que além da música houvesse o toque a fim de estimular os bebês. Em um primeiro momento quando a capelã perguntou para o pai, Muriel,

Frankielen tinha 21 anos e teve morte encefálica. Grávida de gêmeos, foram precisos vários recursos para prosseguir com a gravidez de gêmeos

se poderia fazer o atendimento com os bebês, ele disse não. Ela foi para casa e em oração perguntou para o Espírito Santo o porquê do não. Para ela, por compartilharem da mesma fé, em sua visão, talvez não tivesse todo esse vínculo. A explicação era que ela não estava envolvendo a mãe. “Eu sei que ela não me ouvia, mas eu a incluí”,

Para que as crianças se sentissem acolhidas Erika adotou a voz de mãe, doce, mansa, e Lydio a voz de pai, grave, que remete a chão. “Para a construção saudável do sujeito, precisa-se do papel de mãe e papel do pai”, diz a musicoterapeuta. Mesmo sendo órfãos de mãe o corpo estava presente e a simultaneidade do som e do toque faziam a mãe estar com eles, mesmo

Em um primeiro momento quando a capelã perguntou para o pai, Muriel, se poderia fazer o atendimento com os bebês, ele disse não. Ela foi para casa e em oração perguntou para o Espírito Santo o porquê do não. agindo de tal forma, foi uma realização profissional. O trabalho de capelania realizado por ela consiste em fazer o apoio espiritual aos pacientes, no caso de Frankielen e seus filhos, a musicoterapia foi apenas um dos instrumento utilizado na capelania. Havia uma rotatividade de músicos e pessoas não especializadas em

disse. Depois, em um segundo momento Muriel disse sim. Para começar o acompanhamento, que teve como primeiro alvo a família, foi feito um levantamento das músicas que fossem especiais para eles. “Porque ele vive, posso crer no amanhã...” essa música foi uma das primeiras a ser tocada para eles durante a gestação e a escolhida para o velório da mãe.

que através da capelã. Porém não se tratava apenas de um trabalho técnico. Erika Checan foi prematura e teve duas irmãs gêmeas que morreram logo bebês. Lygio é pai e avô. Não bastasse isso, para eles todo esse momento significou reflexões espirituais e de entendimento da vitalidade.


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SAÚDE

Câncer: uma doença silenciosa Uma das principais causas de morte em todo o mundo, o câncer não apresenta sintomas definidos e age silenciosamente Brenda Liliane e Emelly Ribeiro

Não há sintomas definidos de câncer, mas a síndrome consumptiva, que é a perda de peso sem nenhum motivo, é o sintoma mais comum em qualquer tipo de câncer. Essa síndrome pode ser percebida pela atrofia muscular, devido à desnutrição. Silmara Teixeira foi paciente do médico oncologista do Hospital Vitoria, Maikol Kurahashi e conta que descobriu a doença em um exame de rotina. “Eu não apresentei nenhum sintoma físico, o meu médico ginecologista notou alterações no exame clínico e pediu para que eu fizesse a cirurgia de alta frequência, e por meio desse exame eu descobri que tinha câncer no colo do útero”, explica. Depois da cirurgia, Silmara ficou em observação e contou com o acompanhamento multidisciplinar de profissionais do hospital, como psicóloga, assistente social e nutricionista. Além

disso, Silmara precisou realizar os tratamentos com quimioterapia e braquiterapia.

Foto: Emelly Ribeiro

O câncer é uma das principais causas de mortes no mundo, atingindo 8,2 milhões de pessoas por ano. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) divulgou que em 2013 houve mais de 189 mil mortes no Brasil e, em 2017, o número pode passar de 596 mil.

Segundo Kurahashi, os cânceres que mais atingem pessoas no Brasil são de pele, próstata, cólon e mama. Como método de prevenção, o indicado para homens e mulheres é fazer acompanhamento anual com seu médico e, a partir dos 40 anos, realizar exames de próstata, mamografia e colonoscopia. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que a cada ano no Brasil, 176 mil pessoas descobrem que têm câncer de pele, o que representa mais de 29% da população total. Já o câncer de próstata atinge 61 mil pessoas, enquanto 58 mil pessoas foram diagnosticadas com câncer de mama. A forma de tratamento varia de acordo com a área atingida pela doença, mas os métodos mais frequentes, segundo Kurahashi, são radioterapia, quimioterapia, cirurgia ou novas terapias. O tratamento com quimioterapia é feito com compostos químicos chamados quimioterápicos. O processo foi descoberto nas duas Guerras Mundiais, quando os soldados entravam Foto: Emelly Ribeiro

Fachada do Hospital Vitória localizado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC)

Silmara Teixeira, paciente de câncer do Hospital Vitoria, falando sobre o tratamento de câncer.

em contato com o gás utilizado em armas químicas, e desenvolviam hipoplasia, que é a diminuição de células formadoras de tecidos orgânicos, medular e linfoide, além dos tecidos do sistema imunológico, o que faz o tratamento ser indicado para linfomas malignos. A quimioterapia pode ser usada em conjunto com o tratamento cirúrgico ou radioterápico. Já a radioterapia é feita com pequenas doses de radiação para não deixar que o tumor cresça ou se reproduza. As aplicações devem ser feitas em pequenas doses para não atingir as células saudáveis e causar danos. O tratamento deve ser repetido diariamente e manter sempre a mesma dosagem. Outro tratamento bastante utilizando no combate ao câncer é a hormonioterapia, que manipula o sistema endócrino com pequenas dosagens. O procedimento é utilizado para cânceres de mama, endométrio, próstata e outros. Para cada câncer há uma dosagem e frequência indicadas, mas não apresenta grande porcentagem de cura quando usado isolado de outros procedimentos. A braquiterapia é uma forma mo-

derna de terapia, que reduz o tempo de tratamento e os efeitos colaterais. Resumindo, a braquiterapia é uma forma de radioterapia, pois uma fonte de radiação é alocada dentro da área de tratamento, método também conhecido como radioterapia interna. Esse método é mais eficaz porque é possível atingir um grau maior com a radiação diretamente no tumor cancerígeno, diminuindo a exposição de tecidos saudáveis. Ele é uma opção indicada para vários tipos de câncer, entre eles os de colo de útero, próstata, mama e pele. O câncer no estágio inicial pode ser curado com o tratamento cirúrgico, quando for indicado pelo médico como forma de tratamento. Para isso, a família e o paciente devem estar preparados para as alterações fisiológicas e mutilações que poderão acontecer devido ao tratamento. A cirurgia pode ser aplicada em duas situações: curativa ou paliativa, mas é considerada um tratamento curativo, indicado no inicio do câncer, quando os tumores estão sólidos. O tratamento é considerado radical, pela remoção do tumor primário, com uma margem de segurança.


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MANUAL DO EU LÍRICO Luís Farias

THAT'S SO FETCH

Lucas Vasconcelos

Fellini e a criatividade às avessas

O lado verde da moda

Quando Federico Fellini se dispunha a auxiliar um ator a fazer um papel em seu filme, sua atuação deveria ser perfeita, da maneira do diretor. Na história geral do planeta Terra é permitido errar. Logo, Fellini permitia que seus atores errassem, porém, da maneira dele. E o auxílio vinha com as mais diversas recomendações. “Quero que faça alguém feliz por estar triste” ou então “um corajoso com medo”. Ele era um apaixonado pela vida e pelas merdas que o cercavam.

Dos agrotóxicos usados na produção de algodão à exploração excessiva da matéria, são vários os problemas causados ao meio ambiente pela fabricação de produtos têxteis. A indústria têxtil está entre os quatro tipos que mais consomem recursos naturais e poluem, segundo a Environmental Protection Agency. E como minimizar esses impactos? Uma das alternativas é o eco fashion, também conhecido como moda sustentável.

Acho que o dom da criatividade é ter a sorte de ser uma pessoa ferrada, aí, então, tenho tudo não tendo nada. Caçar cada palavra, fazer cada ato e ser vangloriado como deus de si, esse é o ponto. O livre arbítrio do ser humano o transforma no ser mais poderoso do universo, mesmo que existam leis, contratos e acordos sociais. Fellini olhava todos os dias para o horizonte de suas criações, agradecia a vida e dom de poder fazer o que fazia por ser quem era. Outro aspecto importante para se saber ser é a liberdade de sentir. Essa liberdade logo se transforma em algo raro, força. Como um QI, você tira forças do seu âmago e se move nas linhas que enfrentará, mas ainda assim, é como nadar com os olhos fechados. A chave do sentir é o autocontrole de se moldar a qualquer matéria com a mão. Após muito tempo de sentimento acumulado (seja bom ou ruim) ele vira uma força totalmente controlável. A criatividade de Fellini vinha de seu amor pela vida e pelas coisas, como se tudo fosse belo. Para ele, recomeçar ou improvisar era tão fácil. As coisas podiam dar errado, era como se existisse um roteiro de sua vida falando que tudo ficaria bem

após cada ato, as cortinas abaixariam e ele ouviria os aplausos da plateia. Você erra para acertar. Não lembro ao certo quando comecei a investir no meu eu lírico. Sempre fui alguém de muita energia, ira, rotina, raiva e ódio. Vinha muito fogo das merdas que via por aí. Será que eu sou só isso mesmo? Sou só um e não tenho poder nenhum para modificar o cenário a minha volta? É muita coisa que me aborrece. Por sorte, (acho) consegui fazer isso virar algo bom que eu posso definir como uma faísca. É uma válvula de escape. Outra coisa que me move é uma solidão insaciável ou, talvez, o medo de permanecer sozinho para sempre. Você tem amigos, família, pessoas boas em seu convívio dia a dia mas, também, um rombo no peito. É caminhar na escuridão a todo momento, como se buscasse algo a mais. Para os que tem medo de escuro, uma dica: você perde o medo se aprender a conviver com ele. A solidão podemos definir como um tonel, enorme, cheio de gasolina. Pegue a faísca da ira e jogue nesse tonel de solidão. Se cria uma enorme explosão e a maneira como me sinto. Na vida do ser humano, suas glórias virão dos seus passos e as melhores histórias, dos tropeços. Já ouvi que ninguém lembra das medalhas de prata, mas em uma corrida consigo mesmo? Não há como perder, apenas tropeçar. Como cineasta, Fellini mostrou que se pode fazer arte de sua própria vida mediante suas implicações. Como escritor, quero ser livro. Como humano, quero ser medo, raiva, solidão, ou qualquer energia que me gere vida.

Esse movimento dentro do mundo da moda visa reduzir os danos causados ao planeta, utilizando métodos como a reutilização de peças de roupas, redesenhando-as e até mesmo criando novas formas de produzir tecido. De acordo com o Fashion Revolution, movimento que busca mais transparência nessa área, 80% do impacto causado por uma roupa pode ser reduzido no processo de desenvolvimento do seu design. Quando uma pessoa usa uma marca, ela está ratificando todo o seu processo produtivo e, o mais importante, carregando em si o valor moral da empresa e alimentando suas práticas. Por isso é fundamental o consumidor se informar do processo de fabricação daquilo que veste. Nesse sentido, o Moda Limpa é um site que disponibiliza várias lojas e marcas que aderiram ao eco fashion, tendo hoje 330 fornecedores cadastrados. A moda sustentável tem vários movimentos, alguns deles são o Eco Chic, Moda Ética, Eco Verde, Zero Waste Fashion e Upcycle. O Eco Chic corresponde a vestir-se de maneira inovadora, valorizando a sua criatividade.

Esse movimento provoca desafios nas marcas em demonstrar suas preocupações morais, sem deixar de lado a elegância. A Moda Ética foca em todo o impacto da dimensão sociocultural e ambiental para a geração de um produto. Ela começou a ter destaque devido ao Ethical Fashion Show, um evento que acontece em Paris e questiona a exploração do trabalhador das confecções e suas jornadas de trabalho. Dentro da Moda Ética ainda está o Fashion Revolution, que surgiu após um acidente no qual morreram mais de mil pessoas em Bangladesh. A ONG tem como objetivo questionar as condições dos funcionários da área. O Eco Verde visa à redução do consumo de recursos e na escolha de materiais menos poluentes, dando preferência a fibras orgânicas e evitando ao máximo o uso de químicos. De acordo com Earth Pledge, mais de 8 mil produtos químicos são usados no processo têxtil. Algumas marcas brasileiras já fazem parte desse movimento, como a Use Eco que produz camisetas, Insecta Shoes voltada para sapatos e acessórios, a Gioconda Clothing especializada em peças femininas e a Iglou Kids que é focada em roupas para crianças. Zero Waste Fashion é relacionado a vestimentas que geram pouco ou nenhum resíduo durante sua fabricação, eliminando qualquer desperdício e utilizando retalhos. Upcycle consiste em transformar peças de roupa ou objetos que seriam jogados fora em uma roupa nova. Entre as marcas que fazem uso dessa técnica está a Recman que recicla câmaras de pneus descartados pela população e as transforma em acessórios e bolsas.


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Posto da Torre Você se lembra o que estava fazendo na segunda-feira passada? Não?! E na segunda-feira do dia 17 de março de 2014? Para algumas pessoas esse dia ficaria marcado para toda a história. Naquela segunda-feira, Alberto Youssef estava no Maranhão quando foi surpreendido pelos agentes da Polícia Federal. Ele foi preso em uma das maiores operações contra a corrupção no país. E não foi o único. Até o fim do dia 17 de março de 2014, mais 22 pessoas estariam presas até o fim da tarde. Começava assim a Operação Lava Jato. As investigações, no entanto, começaram em 2013 por meio de interceptações telefônicas que investigaram quatro organizações criminosas que eram comandadas por doleiros que praticavam crimes financeiros como lavagem de dinheiro. Segundo o Procurador da Força Tarefa da Operação Lava Jato, Carlos Fernando Lima Santos, todo o esquema funciona visando um objetivo: o financia-

mento de campanhas eleitorais.

são alguns dos chamados doleiros que operavam. A função deles era fazer a intermediação do dinheiro vindo das empreiteiras e repassar para os diretores da Petrobras e para os partidos.

No Brasil, a troca de moeda em casas de câmbios, instituições do governo federal que estão autorizadas pelo Banco Central para essa troca. Na Operação Lava Jato essa troca acontecia no mercado paralelo de câmbio. Isso facilitava a movimentação do dinheiro sujo, aquele vindo de propinas das empreiteiras. Alberto Youssef, João Vaccari Neto, Fernando Baiano e tantos outros

É preciso lembrar a lavagem de dinheiro é considerado um crime contra o sistema econômico e financeiro de um país. A lei nº 12.683/2012 define o que é a prática e determina os meios de punições. A lavagem de dinheiro pode acontecer de diversas formas: na compra de bens ou serviços com valores alterados, ou em depósitos em contas no exterior, ou investidos em off shores.

ABRAKADABRA Rodrigo Botura

Mágico, você cuida da sua imagem? Hoje vou abordar um tema de extrema importância para os mágicos e também para artistas de uma maneira geral. Gostaria de compartilhar com vocês algumas reflexões sobre postura profissional. Vejo muitas pessoas em redes sociais postando fotos e materiais de trabalhos, mostrando que estão realmente atuando e buscando o sucesso bem como a tão sonhada independência financeira. Agora a pergunta que faço para os mágicos é, você já parou para pensar em quem está vendo suas postagens?

DELATADOS

De 2014 até agora, já somam três anos e seis meses de investigações. São 99 pessoas condenadas, 158 acordos de Colaboração Premiada, 881 mandados de busca e apreensão. Mas você sabe exatamente como o esquema funcionava? Um dos chefes dos grupos que lavavam dinheiro era o doleiro Alberto Youssef. O núcleo de Youssef era responsável pela lavagem do dinheiro que era considerado propina. Ele era o principal operador para o Partido Progressista (PP).

O primeiro grande ponto é definir quem acompanha seu perfil e se você utiliza a ferramenta para fins pessoais. Meu conselho é criar uma página para divulgação de trabalhos, assim você distancia seus clientes de sua vida pessoal. Outro ponto importante é que se você utiliza o perfil pessoal para trabalho, cuidado! Evite certas situações que possam constranger seu contratante. A postura de um artista deve condizer na vida pessoal com a figura que o público aplaude no palco. O respeito, a cor-

Ana Santos

dialidade e principalmente a coerência das ações, afinal não adianta vender uma imagem impecável de um artista e pessoalmente desleixar no tratamento com o público e com a imagem pessoal. Sempre acrescento que o público é quem nos sustenta, é por eles que vivemos e por que trabalhamos. O mágico sempre esteve relacionado a uma figura elegante, charmosa e de alto garbo. O mínimo que se espera é que o artista faça jus ao legado da arte, não precisa se vestir com trajes de gala, porém é preciso entender que um artista é uma figura pública e tudo o que fizer dentro ou fora dos palcos reflete diretamente na relação com as pessoas. Zelar pela imagem é obrigação de toda figura que se predispõe a servir ao público. A aparência também consta na hora de cuidar da imagem, cuidados pessoais como unhas bem feitas, barbas

Youssef foi condenado a mais de 100 anos de prisão. Porém, ele cumpre a pena em prisão domiciliar. O benefício foi concedido por meio da assinatura do acordo de Colaboração Premiada, tema da nossa próxima conversa. Aproveito para convidar você a ouvir meu podcast storytelling feito como Trabalho de Conclusão de Curso. No http://www.soudcloud.com/podcastdelatados você encontra cinco epiódios que contam um pouco sobre o que é a Operação Lava Jato.

e cabelos cortados, o uso excessivo de acessórios, tatuagens extravagantes e a roupa escolhida para a apresentação contam muito no visual do mágico. Há algumas exceções dentro destes temas, por exemplo no caso de acessórios, anéis, correntes, relógios e pulseiras devem ter cuidado para que o brilho das jóias não ofusquem o brilho do artista, coisas muito chamativas causam desvio de foco de atenção, podendo assim prejudicar a absorção do efeito mágico. Credibilidade é algo que se constrói, que se conquista e que leva tempo para consolidar. Mas tenha sempre em mente que tudo isso pode cair e quebrar, basta um deslize. Por isso, amigo mágico e artista, se você tomar os devidos cuidados com a exposição excessiva e resguardar sua imagem, certamente seu futuro profissional será de muito sucesso. Até a próxima e Abrakadabra!!!


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DIÁRIO DE VIAGEM

"Foi a experiência mais rica que tive no jornalismo até agora" diz estudante Acompanhamos de dentro da Câmara a semana agitada da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer

Foto: Ana Tereza May

Ana Tereza May

O Estágio Visita é um programa de estágio que acontece uma vez ao mês e é promovido pelo Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados, em Brasília. Durante o processo, os alunos têm a oportunidade de assistir a palestras e vivenciar a rotina de um deputado federal por meio de simulações e visitas. Para se inscrever basta enviar a documentação solicitada para o gabinete de um dos deputados do seu estado e aguardar eles retornarem. Na quarta-feira 25 de outubro, minha missão era conseguir assistir à votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, acusado de formação de quadrilha e obstrução de Justiça. Para que a denúncia chegue ao Supremo Tribunal Federal (STF), ela precisaria passar pela Câmara dos Deputados.

Foto: Arquivo pessoal

Naquele dia, depois de participarmos do segundo programa de TV, Direto das Comissões, recebemos a notícia de

que podíamos assistir à votação, mas a turma de 65 alunos iria ser dividida em duas. A primeira parte entraria às 17 horas e sairia às 18 horas. Já a segunda entraria às 18 horas e sairia às 19 horas. A previsão é que a votação começaria por volta de 18h30. Aleatoriamente, fiquei na turma que iria entrar às 18 horas. Quase no final da aula que tivemos pela manhã, o Marcos, aluno de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), me mandou mensagem para ir para fora da sala porque precisava conversar. Ele estava morrendo de ansiedade, não aguentava ver o número de parlamentares subindo e ele não estando lá na Câmara para acompanhar. Isso porque os cursos aconteceram do outro lado do Congresso. Ele estava desesperado, mas ainda era meio-dia. Mas fazia todo sentido. Brasília é uma cidade que exala poder de todos os lados. As coisas que acontecem nas três casas de poder parecem gritar para você. E, por mais que você leia nos portais, estar presente é completamente diferente. Vivenciar e ver as coisas de perto é uma coisa a que todo cidadão deveria ter direito.

A aluna Ana Tereza May, do segundo ano de Jornalismo, durante a visita à Brasília para o Estágio-Visita da Câmara dos Deputados.

Nesse dia, eu cheguei ao plenário às 18h30 e a primeira turma acabou se misturando com a nossa e não desceram. Passados uns 10 minutos que estávamos nas galerias, a sessão não havia começado e a deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO), responsável pelo programa de Estágio Visita, mandou mensagem para um de seus assessores que estava nos acompanhando, avisando que o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, tinha autorizado ficarmos ali até o final da sessão.

Foto tirada pela Ana Tereza durante a entrevista do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para a repórter Andréia Sadi.

Às 18h55, a equipe do CEFOR começa a reunir a galera para descer e jantar. “Eles não vão voltar, com certeza, então prefiro ficar sem comer do que perder essa votação”, falei para o Marcos e para o Alexander Beltrão, estudante de Direito da Universidade Federal de Lavras (UFLA), e ficamos. Eu e mais 7 alunos, 6 meninos e uma menina. Começou a votação. Foi impressionante como a disposição e a maneira dos deputados mudaram por ser um evento em que o país estava olhando atento. Em comparação ao dia anterior, parecia até outra casa. Não haviam as conversas paralelas e, se haviam, eram bem menores. Um grupo enorme de parlamentares surgiu (do nada, juro) com umas três placas cada um, escritas “PROTEGER TEMER = COMPRA DE VOTOS”. Abraços após a emissão de cada voto, transmissão ao vivo no Facebook, discursos sem contexto com a votação, enfim, um teatro de marketing que tem se provado eficaz, afinal, fizeram isso no impeachment da ex-presidenta Dilma, na primeira denúncia contra o presidente Temer e continuaram a repetir isso agora. Já no final da votação, os outros alunos voltaram, mas ficaram 15 minutos e já foram embora. Eu e mais 5 permanecemos. Se ficamos até agora, não tem por quê ir embora.

Ok. Terminada a votação. Denúncia arquivada. Abraços de lá, xingamentos de cá. Para onde vamos? Salão Verde, onde fica a imprensa dentro da Câmara dos Deputados. Como fica na porta de saída do Plenário, o lugar é estratégico. Chegamos lá e vimos um bolinho de repórteres ao redor de Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Corre e arranja um lugar para assistir à coletiva. Me encaixei ao lado dos câmeras e assisti o que foi não a primeira coletiva, mas a primeira entrevista da noite. Rodrigo Maia falando direto com a repórter Andréia Sadi, da GloboNews. Ela já estava ali desde às 6 horas da manhã e tinha combinado com o presidente que, assim que terminasse a sessão, ele iria direto falar com ela. Dito e feito. A entrevista entrou ao vivo no programa Em Pauta da GloboNews e ocupou boa parte dele. Confesso que foi uma das, senão a, experiência mais rica que pude ter no jornalismo até agora. Ver o fato acontecendo ali dentro, depois ele dando a entrevista e a notícia sendo tecida na hora. Não há com o que comparar. Ver decisões que vão influenciar todo o país sendo tomadas e noticiadas na sua frente, essa tinha que ser uma experiência que todo estudante de jornalismo deveria ter.


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