LONA nº 999

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Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup

Ano XVI > Edição 999 > Curitiba, 16 de novembro de 2017

Para fugir da guerra, sírios vêm ao Brasil recomeçar a vida, e encontram diversas barreiras para a reinserção, como a língua p. 8

ONG faz polvos de crochê que são usados em maternidades para acalmar crianças que nasceram prematuras p. 12

AUTISMO EM FOCO


LONA > Edição 999 > Curitiba, 16 de novembro de 2017

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EDITORIAL

OPINIÃO Ilustração: Ana Clara Faria

Um novo começo Hannah Cliton

Em 2017, o Lona completa 18 anos e chega à sua milésima edição. Para marcar essa nova fase, que se estende para todo o curso de Jornalismo que, como você deve saber, terá uma nova casa no campus Santos Andrade, temos uma nova proposta de diagramação. O laranja foi trocado pelo azul, cor da Universidade Positivo e do bloco em que o curso de Jornalismo (e o Lona, por tantos anos) está instalado. A proposta também é deixar a diagramação mais solta e mais voltada à web, onde o jornal é publicado.

Nessa edição, a última antes do especial que marca a edição 1000 (e que você deverá ler em breve), temos várias matérias de alunos que abordam o autismo de vários ângulos. Temos a perspectiva de mães de crianças autistas em idade escolar, e como lidam com isso, e o depoimento de uma mãe sobre a experiência de criar e conviver com dois filhos autistas. Além disso, o quadrinista Rodrigo Tramonte deu uma entrevista sobre o seu trabalho com tirinhas, que usam o humor para conscientizar sobre o autismo e mostrar a sua visão de mundo, enquanto portador de Síndrome de Asperger. Também trouxemos matérias com discussões sobre temas atuais que estão sendo bastante discutidos, como o foro privilegiado de políticos e servidores públicos, a questão dos refugiados sírios em Curitiba, o aumento da incidência de câncer colorretal em jovens e uma iniciativa de doar pequenos polvos feitos de crochê a bebês que nascem prematuros. Nas colunas estreantes, temos textos sobre moda, futebol europeu, mágica e universo feminino. O Lona demorou, mas saiu. Aproveite a leitura e, qualquer coisa, é só mandar um e-mail para lonajornal@gmail.com

Em 2017, o Lona, que foi criado em 1999 junto com o curso de Jornalismo, chega à milésima edição.

A mágica dos números redondos Katia Brembatti

Estamos vivendo a véspera de uma edição especial do jornal-laboratório dos estudantes de Jornalismo da Universidade Positivo. Este exemplar que está recebendo é o 999, que antecede o tão esperado LONA 1000. Desde que percebemos que estávamos próximos de completar este número mágico começamos os preparativos para produzir uma edição que marcasse a história do jornal. A primeira missão foi tentar descobrir se havia algum outro jornal-laboratório com mais edição. Sem um local que concentre esse tipo de informação, o jeito foi percorrer o caminho mais complicado e demorado – e sair perguntando. Quando parecia que éramos o mais numeroso, descobrimos que o longevo jornal da Universidade Metodista já passou do milésimo número.

EXPEDIENTE

As novidades começam pela capa, com uma ilustração da aluna Luana Chemim para remeter ao tema desta edição, o autismo. Por isso a capa é azul, a cor usada em campanhas de conscientização para chamar a atenção a esse transtorno, presente na vida de tantas famílias. Porém, as mudanças não param por aí, e se refletem no conteúdo do jornal, trazendo novas colunas, novos temas e novos repórteres.

Presidente da Área de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha Reitor José Pio Martins Pró-Reitor Acadêmico Carlos Longo Pró-Reitor de Planejamento e Operação Ronaldo Casagrande

Isso não mudou em nada a vontade de preparar uma edição especialíssima. No processo de brainstorming para decidir o que seria oferecido aos leitores, surgiu a ideia de reviver uma entrevista do LONA 1. No 1000, veja quem topou falar com a gente para responder as mesmas perguntas, 18 anos depois. Outra etapa, árdua e demorada, foi a consulta às edições anteriores para saber tudo o que foi feito durante quase duas décadas. Descobrimos curiosidades e inciativas, como suplementos e até cadernos em outros idiomas! Mas, para chegar à alma do LONA, não nos restringimos a pesquisar papéis. Fomos ouvir quem fez o LONA ao longo do tempo. A Rede Teia recebeu ex-alunos e ex-professores. Não era justo contar essa história sem eles. Diretor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Roberto Di Benedetto Coordenador da Área de Comunicação e Design Marcelo Gallina Coordenadora do Curso de Jornalismo Maria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadora Katia Brembatti

O resultado é um recorte informativo e afetivo de tudo o que representa o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O LONA 1000 contou com a parceria do curso de Design, que desenvolveu um projeto gráfico totalmente pensado para a edição comemorativa. Fica aqui registrado o nosso agradecimento. Mas antes do tão esperado milésimo vem o não menos relevante LONA 999. Delicie-se com reportagens aprofundadas sobre o universo do autismo. Para acompanhar as matérias especiais, a artista Luana Chemin fez uma ilustração para a capa, que ficou toda carregada de sentimento, com um enorme coração e em tons azuis, associados ao transtorno. Tem isso e muito mais. A vida segue em frente.

Projeto Gráfico Gabrielle Grimm Edição Hannah Cliton Luís Farias Ilustração da capa Luana Chemim


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DIREITO

Foro privilegiado está no cerne da lentidão dos processos contra políticos no Brasil O direito ao julgamento por tribunais superiores deveria resultar em decisões mais rápidas, mas esbarra na falta de estrutura Rodrigo Silva

Atualmente 22 mil autoridades brasileiras têm direito a foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. Assim, ações judiciais contra o presidente da República, o vice, deputados, senadores, ministros de Estado e outros poliíticos devem ser julgadas obrigatoriamente por tribunais superiores, o que faz com que muitas denúncias prescrevam antes mesmo de serem analisadas pelo Judiciário. Os tribunais estão abarrotados por mais de 100 milhões de ações em trâmite no Brasil, envolvendo uma engrenagem que movimenta um milhão de advogados e 16 mil juízes. “A ideia do foro privilegiado é proteger determinadas funções públicas, mas a gente vê que, na prática, o objetivo é proteger determinadas pessoas que estão nos cargos e não as funções”, explica o procurador do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Rodrigo Chemim. Segundo ele, os tribunais superiores são feitos para julgar recursos e não têm estrutura para instruir os processos, já que o tribunal reavalia a sentença e as provas que são produzidas pelo juiz de primeiro grau. De acordo com o auditor do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), Cláudio Castro, ser julgado por um tribunal superior deveria garantir maior agilidade aos julgamentos, pois, teoricamente, o juízo colegiado discute mais as suas decisões e erra menos em seus pareceres. Para Castro, no entanto, um dos vários aspectos que garantem a impunidade no Brasil é o tempo processual que,

segundo ele, “é um mecanismo de subversão do direito”. Na opinião do auditor, quanto maior a demora no julgamento de um processo, mais injustiças poderão acontecer com ambos os lados. Ele credita a lentidão ao grande número de recursos especificados por advogados. “Isso não ocorre nos sistemas políticos mais evoluídos”, salienta Castro. Ele explica ainda que o principal argumento contrário ao foro privilegiado é de que a prerrogativa viola o princípio da igualdade perante a lei, estabelecido pelo artigo 5º da Constituição Federal. Para os defensores desse argumento, todas as autoridades devem ser julgadas em primeiro

grau, a chamada Justiça comum, independentemente do cargo que ocupam no momento.

Falta de estrutura É competência do Superior Tribunal Federal (STF) julgar denúncias de infrações contra cargos federais, da mesma forma que denúncias contra governadores e prefeitos são julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os processos também podem iniciar em outros órgãos, como o Tribunal de Justiça (TJ) e o Tribunal Regional Federal (TRF). De acordo com o levantamento do projeto Supremo em Números, da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2017, 23,9 mil processos foram recebidos pelo STF até 30 de março, e devem ser julgados pelos 11 ministros que integram a corte.

Segundo o levantamento, o índice de condenação de réus com foro privilegiado no STF é inferior a 1%, e apenas 5,8% das decisões em inquéritos no STF foram desfavoráveis aos investigados. Rodrigo Chemim, procurador do Ministério Público do Paraná, comenta que, em 2016, 96 mil ações de todo o país foram julgadas no STF, entre elas emissões de habeas corpus e ações de inconstitucionalidade, além de processos de investigações, acompanhamento de instruções probatórias e julgamento de processos que começaram em outras instâncias e envolvem deputados federais e senadores. Para Chemim, a prerrogativa de foro não apresenta duplo grau de jurisdição, ou seja, se não houver a possibilidade de recurso, ela começa e termina no STF. No entanto, muitas vezes a Suprema Corte não julga os processos a tempo, e a denúncia prescreve antes de ir a julgamento. A prescrição significa a perda do poder de punir em função da demora do estado em agir. Na opinião do procurador, é essencial que algumas mudanças sejam implantadas no sistema penal brasileiro, inclusive acabar com o foro privilegiado e limitar o número de recursos em um mesmo processo. Entre as mudanças, Chemim defende o aumento de penas mínimas, por exemplo, para crimes de colarinho branco e o aumento do prazo para que um crime prescreva, além da criação de novas causas de interrupção da contagem do tempo prescricional, para que haja mais tempo para a investigação.

Foto: Freepik


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AUTISMO

Autistas representam um em cada quatro estudantes de Inclusão da Rede Municipal De acordo com informações da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, dos aproximadamente 2 mil estudantes de Inclusão, 500 são autistas Amanda Andrade e Thaís Abicalaf

A Segundo a diretora de Departamento de Inclusão e Atendimento Educacional Especializado da Secretaria Municipal da Educação, Gislaine Coimbra Budell, um quarto de aproximadamente dois mil alunos de Inclusão matriculados na Rede Municipal de Ensino de Curitiba são autistas. De acordo com ela, a inclusão de crianças autistas ocorre de maneira mais lenta em escolas particulares do que municipais e cita a Lei de Inclusão n° 13.146, criada em 2015, reconhecendo o aumento no número de matrículas dos autistas na rede regular de ensino. Os dados foram apresentados pela diretora no evento do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que ocorreu em primeiro de abril, no Salão de Atos do Parque Barigui. Os gêmos de onze anos, Enzo e Lucca, são autistas e estudantes da Inclusão em Curitiba, mas não fazem parte das estatísticas sobre a Rede Municipal, já que estudam em escolas particulares. A mãe, Luciane Machado Polydoro, conta que percebia algo de diferente

nos filhos desde a amamentação, mas o maior desafio foi o diagnóstico que, segundo seu relato, a fez sentir-se insegura (veja quadro ao lado). O Transtorno de Espectro Autista (TEA), ou somente autismo, é uma síndrome que afeta a comunicação, a socialização e o comportamento do indivíduo. O grau é determinado basicamente entre Baixo Funcionamento e Alto Funcionamento. Os sinais geralmente aparecem antes dos três anos de idade e incluem: comportamento restritivo e repetitivo, rotinas, rituais, pouca ou nenhuma interação social, dificuldades com comunicação e linguagem, falta de contato visual, entre outros. Comemorado em 2 de abril, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi criado em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de chamar a atenção da população para o transtorno. Dentre os vários movimentos que lutam pela causa, está o “Light It Up Blue”, criado

Foto: Amanda Andrade

Gislaine Budell em frente ao Salão de Atos do Parque Barigui. após sua palestra sobre o Autismo e a Inclusão np Seminário Uppa/SME.

nos Estados Unidos, que inventou uma forma de comemoração que se espalhou por vários lugares do mundo: Iluminar edifícios e monumentos de azul, cor símbolo do autismo devido à maior incidência em homens. No Brasil, alguns lugares que aderem à iluminação azul são o Senado Federal e o Palácio do Planalto, em Brasília, a Ponte Estaiada, em São Paulo, e o Jardim Botânico, em Curitiba. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME) e União de Pais pelo Autismo (Uppa), o salão de Atos do Parque Barigui, em Curitiba, recebeu no dia primeiro de abril, véspera do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, professores, familiares e profissionais da área da saúde para falar sobre o assunto. A programação contou com palestras envolvendo especialistas e personalidades que lutam pela causa e, segundo a organização, mais de 500 pessoas se inscreveram para participar do evento. Professores e psicopedagogos eram a

maioria na plateia. Bárbara Gonçalves de Souza é uma das professoras que foram ao evento com o objetivo de preparar a sala de aula para acolher um aluno autista. A professora conta que o aluno de três anos iniciou o processo de comunicação apenas em inglês, pois utiliza muito seu tablet (configurado na língua inglesa) e interage pouco com as pessoas ao seu redor. Os pais, segundo seu relato, tentaram matriculá-lo em outra escola, que o recusou por causa de sua condição – ação considerada crime pela lei nº 7.853/1989. Assim, com o intuito de auxiliar no desenvolvimento social e educacional, Bárbara procura estratégias de inclusão participando de eventos de preparação. A corrida contra o tempo O neurologista infantil Antônio Carlos de Farias participou do seminário como palestrante, abordando o tema “Diagnóstico Precoce”. Um dos aspectos enfatizados pelo médico foi a importância da linguagem não-verbal durante o primeiro ano de vida. É nessa fase que a criança presta atenção no rosto para observar como a mãe articula e quais são as expressões faciais de cada sentimento, interpretando a raiva, o amor e o carinho, por exemplo. A partir dessa observação facial, os movimentos que até então eram somente visualizados ajudam na evolução das primeiras tentativas de fala e, posteriormente, do vocabulário. O processo de desenvolvimento do cérebro nessa etapa é fundamental, pois é quando a criança aprende a abstrair as percepções sensoriais. O autista tem um desvio dessa trajetória de desenvolvimento. “Na medida em que nós identificamos essa situação precocemente, fazemos com que essa criança aumente a possibilidade de mimetizar a trajetória de desenvolvimento normal, gerando muita diferença para ela no futuro”, afirma. Antonio, que também é pesquisador do Instituto Pelé Pequeno Príncipe,


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DEPOIMENTO

Amor incondicional Luciane Polydoro, 47 anos, mãe de duas crianças autistas

Foto: Leda Machado

Esperei meus filhos por 12 anos. Foi através da inseminação artificial que recebi meus tesouros gêmeos, Lucca e Enzo. Ainda amamentando, eu disse: “Mãe, parece que eles não sabem que sou mãe deles”. Bem dizem que a gente sente. Havia algo diferente. Notei que poderia haver algo errado quando eles já estavam com quase três anos de idade e praticamente não existia comunicação. O que mais escutei das pessoas era que não deveria me preocupar, mas aconteciam situações que me intrigavam. O Enzo chegava a bater a cabeça na parede e no chão, além de comer tudo que era de madeira, inclusive os móveis. O Lucca não conseguia ficar quieto, se mexia o tempo todo, mesmo sem sair do lugar, e, às vezes, parecia que não escutava nada ao seu redor.

Os pais Luciane e Osmar Coelho Polydoro Junior comemoram a formatura Enzo e Lucca na Educação Infantil no Colégio Dom Bosco. A cerimônia aconteceu em novembro de 2012.

“Existe um caso de autismo a cada 110 pessoas, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos" cita alguns estudos com familiares de autistas, os quais apontam que 50% dos pais perceberam algo diferente no desenvolvimento do filho antes do primeiro ano completo de vida, principalmente aqueles que já tiveram outro bebê. Incluir para evoluir Segundo a legislação brasileira, os direitos de pessoas com autismo se equiparam àqueles das pessoas

com deficiência, incluindo a lei que proíbe escolas de recusarem matrículas ou cobrarem valores mais altos. Porém, essa legislação nem sempre é respeitada. Apesar de algumas instituições não acatarem a Lei de Inclusão, outras têm programas de atendimento especial. É o caso da escola particular de educação infantil onde trabalha Cláudia Cruz Costa. A professora conta que há uma equipe de oito profissionais,

dentre eles pedagogos, psicólogos e musicoterapeutas, os quais auxiliam na inclusão da criança com algum tipo de necessidade. Dentre os mais de 40 beneficiados pelo programa estão alunos com autismo, Síndrome de Down e Paralisia Cerebral. Esse grupo de educadores fornece auxílio individualizado de acordo com a capacidade e as dificuldades em sala de aula. Assim, cada aluno atendido pelo programa tem 30 minutos de estimulação.

Sem me contar de suas desconfianças, uma amiga da minha mãe que trabalhava com crianças especiais me convenceu a levá-los a um neuropediatra. Depois de muitas perguntas, observações e anotações, o médico olhou para mim e disse: “Seus filhos têm comportamento autista”. Olhei para minha mãe como quem diz “sim, e daí? O que ele quer dizer com isso?”. Sem entender muito bem o que estava acontecendo, fiquei ali parada, imóvel, ouvindo ele falar sobre o autismo. De tudo que foi dito naquele momento, as únicas palavras que marcaram minha mente e meu coração foram: “não perca tempo”. No dia seguinte, com uma lista na mão, saímos atrás de ajuda para meus filhos. Em toda essa trajetória o diagnóstico foi o mais difícil. Não pela revelação inesperada, mas pela insegurança que tomou conta de mim. Então, eu agarrei o tempo e o transformei no meu maior aliado. Quero que eles consigam ter uma vida independente e, para que isso aconteça, a luta é diária. Minha cabeça ferve com ideias para melhorar e facilitar suas rotinas. Mesmo assim, sempre acho que poderia estar fazendo mais, porque acredito na imensa capacidade dos meus filhos. Hoje ganho um abraço ou um beijo sem pedir, escuto “eu também te amo”, “obrigado mamãe” e tantos outros presentes que indicam que estamos no caminho certo e assim vamos em frente. O Lucca e o Enzo são meus heróis, meus ídolos. Eles são minha força e minha coragem. Eles não desistem de si mesmos, vibram com suas vitórias, levantam rapidamente nos tropeços. São mestres do amor e eu, uma aprendiz.


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AUTISMO

O Humor Azul de Rodrigo Tramonte Luís Farias

Aos 30 anos, Rodrigo Tramonte foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, um distúrbio psicológico do espectro autista. Essa condição foi descoberta por uma fonoaudióloga para autistas que lhe recomendou que fizesse alguns exames e pesquisasse sobre a condição. A descoberta foi um alívio. Com a confirmação e com as conversas que teve com os médicos, Rodrigo entendeu o que acontecia com ele. “A psicóloga me confirmou que eu nunca fui louco ou esquisito ou doente mental, eu apenas funciono de uma forma diferente da maioria das pessoas”, explica. Quando ele percebeu que as pessoas não entendiam sua situação e que era um assunto de total desconhecimento, começou a fazer palestras de conscientização. O tratamento para as demais ordens psicológicas pode ser feito através de arteterapia, como explica o quadrinista. “É a expressão das ideias e sentimentos do nosso inconsciente através das manifestações artísticas, como pintura, desenho, escultura, colagem, etc”. Rodrigo percebeu que poderia focar sua situação em sua arte. Quando percebeu que a narrativa de uma história em quadrinhos se dá por meio de desenhos e o tema é livre, Tramonte descobriu um novo viés para falar sobre autismo. “Ao contrário do que prega o senso comum, pode ser utilizada não só para contar histórias com

animais falantes ou super-heróis para o público infantil, mas também para contar histórias sobre todo e qualquer tema”, explicou Tramonte sobre essa liberdade artística. O retorno que Rodrigo recebe do seu trabalho é inspirador e lhe dá muitas ideias para seguir inovando. Seu personagem, Zé Azul, já viajou para vários lugares com ele, até saiu na TV. Para ele, o que diferencia os debates do qual ele participa dos demais é a palavra direta de um autista, pois sempre se ouvem psicólogos e pais de autistas. O artista pega esse gancho e reforça a ideia de “enxergar o mundo de outra forma”, logo, sua arte ajuda-o a ilustrar esse mundo diferente que os autistas enxergam. Pais de autistas têm o quadrinista como um exemplo de superação, pois percebem que é possível viver normalmente com a sua condição, se formar em uma faculdade, lecionar e ganhar seu próprio dinheiro com sua arte. Humor azul vem do trocadilho de humor “negro”, sendo uma espécie de narrativa segmentada ao cidadão autista. Rodrigo começou fazendo tiras e foi graças à ONG Autonomia que ele se inspirou a fazer o livro, um apanhado de seus trabalhos durante anos. Zé Azul é um personagem autista e tem todos os aspectos sintomáticos das pessoas autistas, como hipersen-

Foto: Divulgação

O mundo dos quadrinhos abre espaço para mais uma discussão: o autismo

Rodrigo Tramonte, quadrinista autor do livro "Humor Azul" e diagnosticado com autismo aos 30 anos.

sibilidade auditiva, dificuldade de se comunicar de forma sutil e de compreender linguagem figurada, pensamento literal e outras características. “Criei o Zé Azul não como um porta-voz da conscientização do autismo, mas como um personagem de tiras de humor, me inspirando nos clássicos da mesma área (Mafalda, Calvin e Haroldo, Charlie Brown, Garfield, etc)”, explica Rodrigo sobre a criação de seu personagem principal, que até foi usado como material didático em sala de aula. Rodrigo Tramonte se sente realizado com tudo que construiu. Para o Zé

Azul, planeja mais algumas edições do seu livro. Para ele, uma casa grande o bastante para construir um estúdio. Ele ainda dá aulas de artes plásticas, faz caricaturas em festas e por encomenda. Tramonte esteve na Bienal dos Quadrinhos de Curitiba em 2016 e trouxe seu livro e seus produtos para vender, além de ter mediado uma palestra sobre autismo e quadrinhos.

Ilustração: Rodrigo Tramonte

O tema autismo já foi representado em outras obras literárias gráficas como a história em quadrinhos “A Diferença Invisível” da francesa Julie Dachez. Essa HQ chegou este ano ao Brasil, publicada pela editora NEMO. A narrativa também apresenta a síndrome de Asperger que baseou os trabalhos de Rodrigo Tramonte. A autora tem 27 anos e também tem esse tipo de distúrbio neurológico. Na história, a personagem Marguerite passa pelos problemas e preconceitos de ser autista. Um mundo que não é aceito por ser visto com outros olhos. O livro de Tramonte pode ser comprado diretamente no site: www.rodrigotramonte.com

Tirinha do livro "Humor Azul", de Rodrigo Tramonte


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AUTISMO

Diagnóstico: autista Caroline de Carvalho

Foto: Caroline Carvalho

Para Gilca e outras mães, a grande dificuldade é a inclusão social. “Cuidar de um autista não é fácil. Por terem uma sensibilidade sensorial extremamente aguçada, muitas vezes eles têm crises agressivas e, no Brasil, não há profissionais que estejam preparados para isso”, comenta. Ela lembra ainda de um episódio em que a mediadora de sala de aula não soube lidar com uma das crises de Davi e o agrediu verbalmente.

De natureza ainda desconhecida, o autismo afeta milhares de crianças brasileiras e ainda faz com que as famílias lutem diariamente pela inclusão social. Mãe de primeira viagem aos 37 anos, a cirurgiã-dentista Gilca Luciane Luiz deu à luz ao seu primeiro filho em 2011. As semanas foram passando, Davi completou um ano e tudo parecia muito bem, até que ele começou a ir à escola. Gilca começou a perceber as repetições na fala (ecolalias) do filho e reparou que ele não interagia tanto com os colegas de classe. Chamada pela psicopedagoga da escola, a mãe escutou ali o primeiro diagnóstico de seu filho: “Ele é um anjo, um amor, mas não interage com ninguém. Acredito que ele seja autista. Você precisa lidar com o sepultamento dele”, disse a profissional. Na época, Gilca achou aquela fala uma tremenda crueldade e não acreditava no que estava escutando. “A escola não prepara você para isso. Eles nos olham e falam: toma, o filho é seu, se vira”, comenta. Após o diagnóstico, ela chorou muito durante duas semanas e entrou em uma depressão profunda. “Eu me senti perdida, abandonada. Não sabia para onde ir e com quem conversar”, lembra. O Manual de Saúde Mental – guia oficial de classificação diagnóstica –, define em um único diagnóstico todas as doenças e desordens complexas do cérebro relacionadas ao autismo, o chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse transtorno é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do cérebro antes, durante ou logo após o nascimento. Os distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação e comportamentos repetitivos. Embora todas as pessoas com TEA partilhem de particularidades iguais, o seu estado irá afetá-las com intensidades diferentes. Dessa forma, os sinais podem ser detectados logo após o nascimento

Davi tem 6 anos e foi diagnosticado como autista verbal aos 5.

ou anos mais tarde. O autismo pode ser associado com deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora, dificuldades de atenção, depressão, e até mesmo problemas físicos e intestinais.

pesquisadores, falta investimento. Não se fala do autismo e o que é falado, é generalizado. As famílias ficam perdidas e muitas vezes o diagnóstico tardio acarreta em um agravamento do grau do paciente", explica.

“Algum tempo depois eu entendi o que a psicopedagoga quis me dizer naquele dia. O processo de luto ao qual ela se referia é real. Você precisa enterrar o filho que achava que tinha para receber o filho que você tem. É doloroso? Bastante”, opina Gilca.

No caso de Gilca, o diagnóstico de Davi só foi concluído quando o garoto fez 5 anos. "Antes disso era uma hipótese, mas eu já sabia o que era, pois coração de mãe não se engana, a gente sempre sabe”, diz.

Depois de todos os acontecimentos, ela procurou a ajuda do CAPS (Centro de Ação Psicossocial) em São Paulo, e lá foi acolhida e recebeu algumas orientações que fizeram com que ela procurasse médicos especialistas. “Para mim, o que realmente funcionou foram os cuidados terapêuticos, a psicóloga e a fonoaudióloga que meu plano de saúde cobria. No Brasil, faltam médicos especializados e faltam profissionais que atendam nosso plano de saúde”, comenta. Segundo a psiquiatra Leila Jacques, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o maior desafio do autista no Brasil é a falta de informação e a inclusão social. “Faltam neurologistas pediátricos, cientistas,

Mesmo com todas as dificuldades e desafios, para Gilca, ser mãe de um autista é um eterno aprendizado. "O Davi é uma criança carinhosa e amável, com uma memória fotográfica impressionante e sua pronúncia ao falar inglês é muito melhor do que a minha, mesmo depois de morar e estudar fora do país", afirma. De acordo com a dra. Leila, a cada 100 crianças, uma tem TEA no Brasil. Para ela, o país ainda está muito longe de tornar-se referência no tratamento à doença e diz que parte disso é falta de investimento e discussão por parte do poder público. Segundo a médica, nos Estados Unidos e Canadá as crianças são diagnosticadas muito mais cedo e, por terem um acompanhamento precoce, as chances de recuperação são maiores.

Foto: Caroline de Carvalho

Dezembro de 2006, na formatura de encerramento do jardim de infância.


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REFÚGIO NO BRASIL

Seis anos após o início da guerra, refugiados reconstroem suas vidas longe da Síria “Ninguém imagina o que é fugir apenas com a roupa do corpo”, diz refugiada síria. País enfrenta guerra civil que já deixou mais de 400 mil mortos. Ítalo Sasso e Natalia Basso

A situação atual da Síria, após seis anos de guerra, fez com que mais de 11 milhões de pessoas tivessem que deixar suas casas em busca de novas alternativas para recomeçar a vida. Porém, na hora de escolher um novo destino, o preconceito se torna uma barreira para essa nova caminhada, afinal, nem todos os países aceitam refugiados sírios. Na tentativa de deixar o local, milhares de sírios veem no Brasil uma nova chance de recomeçar. No país, de acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), até abril de 2016 havia cerca de 8,8 mil refugiados reconhecidos. “Abrimos o mapa e vimos que só o Brasil nos aceitava. O que é o Brasil? Não sabíamos nada sobre o país, mas vamos lá”, diz Lucia Loxca, refugiada síria que veio de Aleppo com a família em 2014 e afirma que a principal barreira para a maioria dos refugiados é a língua. Lucia, que cursava Arquitetura na Síria, foi a primeira refugiada síria a conquistar o direito de continuar seu curso de graduação na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Além disso, o coordenador aponta que questões humanitárias como alimentação, moradia e trabalho também são dificuldades iniciais de quem chega ao Brasil. Para ele, uma das grandes frustrações dos refugiados que chegam a Curitiba é a dificuldade em encontrar emprego, pois poucos conseguem trabalhar na mesma profissão que exerciam em seu país. “Hoje, se você for encontrar os sírios em Curitiba, você irá vê-los na rua vendendo alimentos, de bicicleta ou abrindo restaurantes”, diz. Wael Zaeim é um exemplo da situação acima: após deixar o cargo de engenheiro dcomputação em Damasco, capital da Síria, abriu um restaurante em um bairro nobre de Curitiba. “Precisava de algo rápido e trabalhar

Foto: Natalia Basso

Sobre a dificuldade dos refugiados com a língua, Marcos Calixto, coorde-

Foto: Luis Izalberti

nador de missões com Etnias no Brasil pela Junta de Missões Nacionais, explica que uma das partes mais importantes do acolhimento de refugiados é a assistência com um intérprete na chegada e a introdução no aprendizado do português. “Temos uma equipe com 17 professores que ensinam a língua voluntariamente para os recém-chegados”, conta.

Wal Zaeim abandonou o cargo de Engenheiro da Computação e hoje prepara pratos típicos do Oriente Médio.

Lucia, refugiada síria e reingressa da UFPR, pretende trazer a influência do Oriente Médio para a arquitetura brasileira.

na minha área exigiria muito tempo e facilidade com a língua”, conta. Além dos problemas encontrados na adaptação a uma nova cultura, existe a dificuldade em refazer laços emocionais com um novo país. Já Milad Deeb, refugiado acolhido por Calixto há três anos, conta que não consegue imaginar sua cidade em guerra. “Quando imagino meu país, imagino antes da guerra. Não consigo imaginar minha cidade destruída, tenho muito amor e respeito pela minha terra”, conta Milad. Se, para Milad, o retorno para a Síria é impossível, para outros, como Lucia, voltar e reconstruir a história que foi destruída faz parte do seu maior sonho. “Sei que vai demorar. Não sei quando vou conseguir, mas quero reconstruir o que foi derrubado”, afirma.


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SAÚDE

Estudo aponta o aumento da incidência de câncer colorretal em jovens Estudo norte-americano mostra que os jovens de hoje têm mais risco de contrair a doença. Isabella Machado e Pedro Lucena

Um levantamento da Revista do Instituto Nacional do Câncer (JNCI, na sigla em inglês) constatou um aumento na incidência de câncer colorretal em pessoas com idade inferior a 50 anos, nos Estados Unidos. No Brasil, segundo o DataSUS, cerca de 34 mil pessoas são atingidas todos os anos pelo câncer de cólon ou de reto, a maioria mulheres e homens de 60 a 64 anos. Ainda assim, a partir dos 50 anos já é preciso ter cuidado: a chance de uma pessoa de meia idade ter a doença ainda é 50 vezes maior do que os mais jovens. O estudo, que pesquisou aproximadamente 490 mil pessoas, constatou que, de 1974 a 2013, a taxa de incidência da doença diminuiu para os mais velhos e aumentou para os mais novos. Para as pessoas com idade entre 20 e 29 anos, o aumento foi de 2,4%, e para os que têm de 50 a 54 anos, a incidência aumentou 0,5%. Foto: Pedro Lucena

Instrumentação utilizada pelo exame de colo .

As principais causas, no entanto, ainda são discutidas entre os médicos. Histórico familiar, consumo excessivo de álcool e comida processada, tabagismo, baixos níveis de atividade física e baixo consumo de fibras estão entre os fatores de risco mencionados no estudo – porém, a maioria dos casos em jovens parecem ser esporádicos. O médico coloproctologista Olival de Oliveira, do Instituto Mário de Abreu (IMA), considera o histórico familiar positivo o principal fator de risco. “Casos clínicos em parentes próximos são sinais que devem ser observados com atenção. Agora, é preciso ter cautela ainda mais cedo do que o normal”, orienta. Quando precocemente diagnosticada, a doença tem cerca de 90% de chances de cura. Segundo Oliveira, se o paciente não tiver histórico familiar de câncer ou pólipos, a idade para fazer o primeiro exame de detecção do câncer colorretal é aos 50 anos. “Agora, depois dos dados publicados, está sendo estudada a recomendação de que os exames de verificação sejam feitos de 5 a 10 anos mais cedo”, explica. Por outro lado, se o paciente apresentar, no histórico familiar, casos de pólipos ou câncer intestinal, a colonoscopia deve ser feita 10 anos antes da idade em que o familiar mais jovem foi diagnosticado. “Depois de ter dois tios e um avô

que contraíram o câncer no reto, não deixo de lado os exames”, declara o aposentado Ívio Paulo. “Por não terem o costume de checar a saúde, a doença pegou a todos de surpresa, em um estágio já avançado. Só um de meus tios se curou”, conta. Em geral, o câncer colorretal é assintomático ou pode apresentar sintomas muito leves que podem ser imperceptíveis ao paciente, como a alteração do hábito intestinal. Porém, em progressão, ainda pode causar sangramento anal, dores abdominais, muco nas fezes, fezes pastosas e escuras, perda de peso,

Foto: Pedro Lucena

Sala onde são realizados os exames.

No Brasil, cerca de 34 mil pessoas são atingidas todos os anos pelo câncer colorretal mas, se diagnosticado no início, as chances de cura são de 90%. hemorragia intestinal e até mesmo anemia. O exame Para os pacientes com receio de fazer o exame, o coloproctologista desmistifica. "A colonoscopia é um exame com baixo índice de complicações. Se realizada numa clínica de qualidade,a sedação venosa fará o paciente dormir do início ao fim do exame", explica Oliveira. Através de uma microcâmera, o colonoscópio transmite as imagens do interior do cólon (intestino grosso) a

um monitor, permitindo que o médico grave e analise as possíveis complicações. "É importante que a sociedade tenha a consciência que o exame de câncer colorretal é tão necessário para o diagnóstico quanto qualquer outro tipo de exame preventivo de câncer", declara Oliveira. Por ter correlação genética com outros tipos de câncer, como o de mama e de endométrio, é recomendado pelo médico que sejam feitos, depois da colonoscopia, todos os exames necessários.


LONA > Edição 999 > Curitiba, 16 de novembro de 2017

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ABRAKADABRA Rodrigo Botura

THAT'S SO FETCH

Lucas Vasconcelos

Entre cartolas e paetês

Não exagere, seja mínimo

Uma coisa importante em se saber é que quando o público sai de casa para assistir a um espetáculo, existe todo um preparo e uma disposição da pessoa em comprar o ingresso, deslocar-se até o local do show, arrumar-se e preparar-se para prestigiar um artista. Com o mágico não é diferente, afinal precisa existir um respeito mútuo entre plateia e artista. E, parando para pensar, o primeiro contato que o artista tem com seu público é o figurino. Antes mesmo da execução do primeiro número, ao entrar no palco, o figurino por si só já apresenta à plateia como o show irá caminhar.

O mundo da moda sempre se renova ao mesmo tempo em que resgata tendências. Relembrando os anos 1980, 1990 e 2000 com uma mistura entre o inovador e tecnológico, as passarelas buscam sempre propor aquilo que está em alta. Porém, o fast fashion (roupas presentes em lojas de varejo produzidas a baixo custo, produzidas para serem compradas, consumidas e descartadas a cada mudança de coleção) exige uma mudança rápida nos estilos de roupas, além de implicar em questões sustentáveis ao contribuir com o consumismo e com a mão de obra escrava em países asiáticos. Mas algo vem mudando isso e tomando um espaço cada vez maior nas lojas: a moda minimalista.

Clássico ou moderno, o figurino é uma das partes mais importantes da apresentação. Em uma entrevista de emprego, por exemplo, o candidato se arruma e coloca a melhor roupa para estar apresentável diante do seu futuro patrão. O mesmo ocorre com os mágicos, que em uma entrevista com um cliente devem se arrumar de forma apresentável. Mas, na hora do show, o que tenho visto em alguns espetáculos é um completo desleixo com a vestimenta para a apresentação. Não estou dizendo que o artista precisa dar uma de Cauby Peixoto e se banhar em paetês e lamês, o que quero dizer é que este descuidado é muito observado pelo público, mesmo que para muitos não faça a menor diferença. Alguns mágicos não se sentem confortáveis em usar a casaca ou o smoking, e aderem ao perfil moderno de mágica, como o estilo de David Blaine, Cris Angel ou, para os mais comedidos, o estilo esporte-fino de David Copperfield. A questão é que o uso da casaca não impede o mágico deste cuidado,

afinal não adianta chegar ao show com um figurino três vezes maior que o corpo, é preciso algo sob medida e que tenha um caimento de acordo com seu perfil. Além disso, não adianta o mágico chegar alinhado e com um figurino elegante se estiver usando um sapato sujo e amassado, daqueles que se usa para “bater” no dia a dia. Não vou me estender muito com relação ao sapato, pois em uma próxima oportunidade dedicarei uma coluna para cuidados com acessórios, pois o sapato é um acessório que faz a diferença. Seja ele de verniz ou social comum, o cuidado é imprescindível, pois é um cartão de visita em que todos reparam. Abro espaço para dizer que em um evento que realizei, quando uma criança comentou sobre o sapato sujo do artista que estava no palco, todos começaram a comentar. Não preciso dizer a saia justa em que ficou o artista em questão. Muitos condenam o clássico e os trajes de gala, mas o que digo é que se vai estar de camisa, de polo, de camiseta ou de calça jeans, não importa, pois o que o mágico tem que ter em mente é que tudo o que for escolhido para o figurino tem que estar apresentável. O melhor blazer, o melhor sapato, a melhor camisa, tudo limpo, passado e bem arrumado. Afinal, é dever do artista retribuir o respeito e a dedicação que o público dedicou quando se dispôs a ir assistir ao espetáculo, ou quando o contratou para algum evento. O figurino é o maior cartão de visita em qualquer situação, por isso cuide sempre de sua aparência e, certamente, além de aplausos, acumulará elogios por seu cuidado pessoal.

O minimalismo é um estilo com padrões mais simples e predomínio de cores monocromáticas, neutras (branco e preto), roupas sem muitas escritas e sem muitas referências. Ele ganhou visibilidade em 2010, quando foi destaque na Semana de Moda de Nova Iorque, mas nos anos seguintes foi deixado de lado. Agora ele ressurge como tendência e devido a sua compreensibilidade é uma aposta para aqueles que temem errar no look. Umas das coisas que chamam atenção nesse estilo é seu corte mais solto, com camisas e vestidos mais largos e que não marcam tanto a silhueta, o que torna as peças confortáveis. Com a volta do minimalismo veio o uso da calça de cintura alta que pode ser utilizada em várias combinações. Entre as opções de roupas desse estilo é possível brin-

car com os tons neutros através de estampas com misturam preto e branco ou sobreposições de peças, como camisetas e cardigãs. Ainda é possível incrementar o visual com o uso de acessórios, contudo, nada em excesso. Também podem ser usadas estampas com cores que não sejam neutras, mas tome cuidado para não misturar muitas, pois o objetivo é a simplicidade, então o correto é optar por estampas que não chamem muita atenção e em apenas uma das peças. Para quem gosta de cores que fogem da neutralidade, outra opção é juntar várias peças da mesma cor e variar apenas o tom. Entre as roupas que estão em alta nesse estilo encontram-se a segunda pele (gola rolê) e a calça de alfaiataria, que pode ser encontrada em brechós e ser usada com uma camiseta, compondo um look atual e dentro do proposto dessa moda simples. Outras peças que ganharam destaque são as camisetas longas, provindas do long style e que podem ser inseridas no minimalismo. Dentro dessa tendência ainda encontramos o uso de camisetas masculinas por mulheres, por ficarem mais soltas. A pessoa minimalista pode criar, com esse estilo, um visual moderno, clássico e ao mesmo tempo divertido, utilizando peças muitas vezes consideradas básicas. Por serem vestimentas simples e fáceis de serem encontradas, o minimalismo vem ganhando cada vez mais notoriedade e se destacando como tendência pois, ao contrário do fast fashion, ele pode ser mantido por um longo tempo em seu guarda-roupa, pois são peças que depois podem ser usadas em qualquer outra composição de peças.


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Transferências europeias Começando pelo sempre agitado mercado inglês que essa temporada está bem calmo. Dentre os clubes grandes temos poucas contratações, Manchester United trouxe o ótimo zagueiro Victor Lindelof, do Benfica, e o sueco vem para ser titular na zaga dos Red Devils junto com Eric Baily, o melhor jogador do setor na última temporada disparado e segundo todos os veículos ingleses, tem a contratação de Romelu Lukaku muito bem encaminhada. Já seus rivais, Manchester City, trouxeram dois nomes de impacto, Ederson, goleiro brasileiro ex-Benfica também, e Bernardo Silva, meia português do Monaco. Viajando um pouco mais, chegando na capital inglesa, o verão não é muito diferente, são poucas contratações, com Arsenal sendo o time que mais gastou dinheiro, com as contratações de Sead Kolasinac, veio de graça após encerrar seu vínculo com o Schalke 04, da Alemanha, e Alexandre

Lacazette, atacante francês que veio do Lyon e se tornou a transferência mais cara do clube inglês, tanto o bósnio quanto o francês devem ser titulares nos Gunners. Seus rivais ainda não gastaram dinheiro, com o Chelsea contando apenas com a contratação de Willy Caballero, que teve seu vínculo com o Manchester City encerrado, e com o retorno de Tammy Abraham, o prospecto inglês que foi repassado ao Swansea. E o Tottenham, que ainda não contratou ninguém, mas tem Ross Barkley rumorado no elenco. Viajando para a cidade dos Beatles, temos o Liverpool, que também fez um mercado quieto e sossegado, trazendo apenas Mohammed Salah, que fez boa temporada na Roma e trouxe Dominic Solanke, que rescindiu seu contrato com o Chelsea e foi de graça para Mereyside, e por último, temos o Everton que foi o clube que mais gastou na janela, com as contratações de Davy Klaasen, do Ajax, Jordan Pickford, do Sunderland, Micha-

Mundo M

Marcella Stelle

Da maquiagem à maternidade Me chamo Marcella, mas por favor, se me encontrar no corredor me chame de Má, tenho trinta anos, casada, mãe e estou no curso de jornalismo na UP pela segunda vez. A primeira foi há dez anos, quando ainda era Unicenp. Passei no vestibular com dezoito anos, cursei o primeiro e segundo ano e daí recebi uma notícia que mudou completamente o rumo da minha vida: estava grávida. Eu tinha vinte anos. Oito anos se passaram e decidi que era hora de voltar e tentar realizar um dos

meus maiores sonhos: ser uma jornalista conhecida e reconhecida. Posso garantir que estar na universidade com essa idade não é nada fácil, desde acordar cedo até retomar a rotina de estudante com colegas tão mais jovens tem sido um desafio diário para mim, igual, as vezes maior, do que o de ser mãe solteira. A grande diferença, mas que não altera tanto assim no resultado final é que agora tudo foi planejado, desejado e escolhido como eu queria, a maternidade me veio como

FALANDO EUROPEU Fernando Souza

el Keane, do Burnley, Henry Onyekuru, do KAS Eupen, Sandro Ramirez, do Malaga e tudo indica que ainda fecharão com Wayne Rooney! Mudando os ares, indo para a Espanha, chegando em Madrid e nos decepcionamos, o Real não trouxe ninguém ainda e o Atletico está proibido de ter jogadores contratados até Janeiro (o que não os impediu de contratar Vitolo e o deixar no Las Palmas por 6 meses). Em Barcelona, temos apenas a (re) contratação de Deulofeu para os bluagranas, que exerceu sua clásula de recompra e tirou o jogador do Everton.

uma reação à uma ação. Durante o tempo de “férias universitárias” nunca deixei o jornalismo de lado, sozinha e sem companhia ou experiência da vida materna criei um blog, o Mamãe de Salto, que foi minha válvula de escape para minhas aventuras e desventuras como mãe. Quando decidi escrever minhas histórias online lembrei de algumas aulas do curso, que havia conhecido o Blog do Nobat e como ele havia mudado a forma de fazer jornalismo escrevendo o que queria, sem interferência de linha editorial, sem deadline, como e quando quisesse, isso me fez desejar ter um blog, um jornal meu para escrever sem medo, sem repressão, sem obrigação, apenas com amor e inspiração. Os blogs há seis anos não eram como hoje, começavam pequenos, haviam poucos de destaque e as marcas nem

Saindo da Espanha, vamos para a Itália, que também tem seu mercado agitado com o Milan, que trouxe Musacchio, do Villareal, R. Rodriguez, do Wolfsburg, Kessié e Conti, ambos da Atalanta, e encerrando as contratações (por agora) com André Silva, vindo do Porto. Seus rivais locais tiveram um mercado um pouco menos agitado com Skriniar, da Sampdoria, Zaniolo, do Entella, Odgaard, do Lyngby BK e Padelli, após seu contrato encerrado com o Torino, vindo para a Inter de Milão. A Juventus apenas trouxe Bentacur, do Boca Juniors, e contratou Cuadrado e Benatia que já estavam emprestados no clube.

olhavam para nós como veem hoje. Confesso que desanimei desse universo há alguns meses, a competição não é mais sadia e a concorrência é desleal pois, vale tudo por mais likes, acessos, seguidores. Podemos falar mais sobre isso em outra postagem né, afinal tenho certeza que muitos dos que estão me lendo agora acompanham um blog, um canal no youtube, um digital influenciador como estão sendo chamados hoje os profissionais que trabalham com mídias sociais ou ainda desejam fazer seu próprio veículo de comunicação, e vamos combinar que blog é simples e barato de se fazer, o difícil é ter ânimo de prosseguir nesse mundo. Espero poder compartilhar nessa coluna um pouco do muito do meu universo: de maquiagem à maternidade, passando por comportamento, turismo, decoração, relacionamento, entretenimento, tecnologia, unicórnios.


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SAÚDE

Curitiba recebe tratamento para prematuros com polvinhos de crochê Polvos de crochê feitos por voluntários de uma ONG ficam ao lado dos bebês para acalmá-los Isabelle Marina e Shara Karoliny

Criado em 2013 pelo grupo dinamarquês Spruttegruppen, o Projeto Octo chegou em Curitiba em março deste ano, e consiste em produzir polvinhos de lã, que são colocados na incubadora juntamente com os bebês que nasceram prematuros. A ideia é que os tentáculos do brinquedo deem a impressão de um cordão umbilical para o bebê, acalmando-os ao dar a sensação de estar ainda no útero de suas mães.

devem ser lavados a mão, com sabões sem muito aditivos químicos, como o de coco ou neutro.

Em Curitiba, a primeira instituição a receber os polvos e colocá-los em uso foi a Maternidade Curitiba. O objetivo do projeto é fazer com que os bebês prematuros fiquem mais calmos e tranquilos com os polvos. Os brinquedos vão ser doados para mais outros dois hospitais da cidade, que receberão um par para teste. Outras cidades brasileiras, como São Paulo e Brasília, também estão colocando a ideia em prática.

Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) de 2014, quase 36 mil prematuros nascem todo ano. Porém a realidade deles é uma luta constante, justamente pela fragilidade. No Paraná, com base nos últimos dez anos, cerca de 150 crianças prematuras morrem por ano. E é por isso Dani Dalledone, que está inserindo o projeto dos polvos de crochê em Curitiba, acredita que quanto mais pessoas estiverem produzindo os brinquedos, mais bebês serão ajudados. Na Dinamarca, estima-se que quase 15 mil polvos já foram entregues desde 2013.

O projeto é totalmente voluntário e passa por alguns requisitos de confecção, um deles é que os polvos têm de ser 100% de algodão para não machucar os bebês. A higienização deve ser feita como qualquer roupa para crianças bem pequenas, ou seja,

Foto: Shara Karoliny

As crianças estão aceitando com facilidade o projeto, e as responsáveis acreditam que, como funcionou com outros bebês ao redor do mundo, aqui também vai funcionar.

Nos hospitais

No Brasil, quem iniciou o projeto foi a ONG Prematuridade (Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos

Foto: Shara Karoliny

Os polvinhos são feitos em crochê, com linha 100% de algodão, por voluntárias e doados a hospitais e famílias de bebês prematuros.

e Cuidadores de Bebês Prematuros), criando a versão brasileira chamada “Um Polvo de Amor”. O site da ONG disponibiliza uma lista de receptores e de doadores para que as pessoas possam se encontrar para fazer e disponibilizar os brinquedos. Apesar de poucos hospitais aceitarem participar, desde que os polvinhos de crochê chegaram à Maternidade de Curitiba, os dias foram mais tranquilos. Ana Bruna Salles, enfermeira neonatal da maternidade, percebeu a diferença logo que os polvos foram colocados em contato com as crianças. “Um dos bebês estava muito agitado e nervoso e, quando recebeu o polvinho, logo se acalmou”, comenta.

Os polvinhos em Curitiba

Polvos de crochê são colocados nas incubadoras junto com os bebês prematuros para simular o útero da mãe e acalmá-los.

A idealizadora do projeto em Curitiba, Dani Dalledone, conta que começou com o projeto por acaso. Ela é designer, mas sempre teve o crochê como hobby. Um dia assistiu algumas reportagens sobre os polvinhos na Dinamarca e viu que já havia iniciado no Brasil, então decidiu criar seu próprio estilo de fazer e iniciou a produção. Com isso, mais pessoas se interessa-

ram pela ideia e se voluntariaram a produzir os brinquedos e entrega-los nos hospitais. Isso fez com que Dani abrisse um espaço em seus cursos de costura para ensinar as pessoas interessadas a aprender a técnica para fazer o polvo. “Espero que a cada dia o projeto aumente, e que o número de voluntários para contribuir cresça”, diz a designer. Segundo ela, os voluntários que estão participando das aulas não possuem um perfil específico. “Existem pessoas que participam dessa minha oficina para passar o tempo, algumas para descontrair ou conversar, umas para ajudar, porque acharam bonito o projeto e outras que já vivenciaram casos com bebês prematuros”, explica. Atualmente, o grupo de Dani conta com mais de 100 voluntários interessados. Uma das voluntárias, Amanda Weinert, que trabalha como advogada, tem uma ligação pessoal com o projeto dos polvinhos. Seu irmão nasceu prematuro, o que fez com que ela descobrisse como a situação dessas crianças é delicada. Por isso, ela espera ajudar e trazer um consolo para todas essas famílias.


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