LONA Edição 1007 | Especial – Eleições 2018
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Leão de votos Candidato do PSD vence disputa ainda no primeiro turno com quase 60% dos votos válidos. Edição especial do LONA traz tudo sobre a votação deste domingo. CONFIRA.
Adrian Woskiank/LONA
Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup
LONA
EXPEDIENTE Presidência da Divisão de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha
Reitoria José Pio Martins
Pró-reitoria Acadêmica Carlos Longo
Direção da Área de Ciências Sociais e Humanas Aplicadas Roberto Di Benedetto Coordenação dos curso de Jornalismo e Fotografia Maria Zaclis Veiga Ferreira
Professores-orientadores Hendryo André, Felipe Harmata e Katia Brembatti Editores-chefes Lucas Vasconcelos Fernanda Scholze
Equipe de reportagem Amanda Andrade, Amanda Kawassaki, Amanda Soares, Anna Buzzi, Caroline Rissio, Deisiely Weiber, Denise Becker, Gabriel Coelho, Lucas Jensen, Lucas Lara, Luiz Felipe Vacção, Maria Claudia Batista, Maria Eduarda Antunes, Milena Campos, Pedro Pinheiro, Rodrigo Silva, Sarah Menezes, Vinicius Gonçalves e William Santos.
O lona é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O veículo integra a Rede Teia de Jornalismo. Acompanhe o curso de jornalismo pelas redes sociais. Caso tenha dúvidas sobre o curso, entre em contato.
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Editorial
A
quarta edição do LONA da série sobre eleições 2018 é focada na cobertura factual do dia 7 de outubro, realizada por mais de 100 alunos do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Para tal feito, os alunos foram divididos entre equipes que trabalharam diretamente na redação do LONA, produzindo conteúdo para o jornal e o site da Rede Teia, e em equipes de reportagem, que cobriram a votação de todos os candidatos ao governo do Paraná e a apuração. Este LONA que o leitor tem em mãos se propõe a apresentar de forma clara ao seu leitor o resultado das eleições 2018, tendo como foco o estado do Paraná, mas não excluindo as informações de cunho nacional, entendendo sua relevância neste momento. O jornal oferece ao seu leitor conhecimento sobre o resultado deste primeiro turno das eleições, uma reflexão sobre a estruturação política e sua renovação, esta que deve ser construída aos poucos a partir de cada texto presente neste jornal.
Além dos números da vitória do rico e jovem candidato Ratinho Jr. (PSD) já no primeiro turno no Paraná, a edição traz ainda reportagens para tentar compreender as implicações e alguns dos desafios que o futuro governador do Paraná terá a partir de janeiro de 2019. Há destaques ainda para as vitórias dos senadores Oriovisto Guimarães (PODE) e do Flávio Arns (Rede), ao mesmo tempo em que se destaca o calvário vivido pelo medebista Roberto Requião e do ex-governador Beto Richa. Em âmbito nacional, os textos destacam, sobretudo, a polarizada disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), postulantes ao cargo de presidente da República. Há ainda um trabalho para identificar as novas composições partidários do Congresso Nacional. Em um momento no qual há uma grande polarização política no país, instigada especialmente pela descrença nas instituições – inclusive, o jornalismo –, a equipe do LONA busca reiterar o compromisso social do jornalismo para o esclarecimento. A próxima edição do jornal trará uma análise sobre as possíveis consequências dos resultados deste dia. Boa leitura!
Opinião
Ratinho Jr. precisará montar base aliada na Alep Rodrigo Silva
Ratinho Júnior (PSD) é o novo governador do Paraná. Com 60% dos votos válidos, o candidato venceu a eleição no primeiro turno e irá administrar o estado a partir de 1º de janeiro de 2019 e o mandato segue até 31 de dezembro de 2022. Ao saber do resultado, o candidato foi ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o que é uma tradição para quem vence eleições no Paraná. Antes da campanha, a previsão era de que a eleição paranaense seria dividida entre três grandes forças: Ratinho, Cida Borghetti (PP) e o ex-senador Osmar Dias (PDT), porém, o pedetista não concretizou as alianças pretendidas e desistiu da candidatura. Outro fator surpresa na campanha foi a prisão preventiva de Beto Richa em 11 de setembro. O evento não afetou a campanha de Ratinho, que conseguiu a afastar a sua imagem da do ex-governador. Vencendo a eleição com facilidade, o novo chefe do Executivo trabalhou durante toda a
campanha para desvencilhar a sua imagem da de Beto Richa. Ratinho ocupou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano nas duas gestões anteriores e foi associado por seus adversários aos esquemas de corrupção que caracterizaram o governo Richa. Além disso, também teve seu nome vinculado ao episódio de violência contra professores em 29 de abril de 2015. O eleito para governar o estado terá de lidar com a ausência de representação partidária na Assembleia Legislativa. Apenas 15 dos 54 deputados estaduais eleitos pertencem ao seu partido ou a alguma coligação ligada a ele. Desses parlamentares, 33 foram reeleitos e estiveram presentes nas principais votações e decisões do governo anterior. Ratinho também terá agora que lidar com desafios nas mais diversas áreas. Em meio a uma crise financeira nacional, ele deve priorizar investimentos em áreas essenciais, por lidar com um
orçamento já comprometido. Além disso, terá de lidar com os efeitos de discussões nacionais que estão em pauta, como a Reforma da Previdência. No estado, a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019 começa a tramitar já na próxima semana na Assembleia Legislativa e prevê receita corrente líquida de R$ 57,3 bilhões, valor para fixação de despesas. Desse montante, R$ 10,2 bilhões vão para a educação, R$ 4,1 bilhões para a segurança pública e R$ 3,7 bilhões para a saúde. O novo governador deve estar atento a investimentos prioritários e essenciais, principalmente no caso da educação. O mandato anterior realizou medidas para cortar gastos na área e essa redução ocorreu de várias formas. Entre elas, a suspensão do reajuste salarial dos servidores em dezembro de 2016 e que perdura até hoje, a diminuição de R$ 200 nos salários dos PSS (professores temporários) e a mudança no entendimento da hora-atividade.
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Curitiba, 8 de outubro de 2018
Eleição decidida
Ratinho Jr. vence no primeiro turno Candidato do PSD supera atual governadora, Cida Borghetti (PP), e comandará o Executivo estadual pelos próximos quatro anos. Político é o mais jovem governador a vencer uma eleição no Paraná
Maria Claudia Batista e Milena Campos
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candidato ao governo do estado do Paraná, Carlos Roberto Massa Júnior, conhecido como Ratinho Jr, venceu as eleições deste domingo (7) com 60,08% dos votos. A governadora Cida Borghetti (PP) ficou em segundo lugar, com 15,54%, seguida por João Arruda (MDB) com 13,15%. O candidato vencedor votou ainda durante a manhã na Escola Municipal Vinhedos do Paraná, quando garantiu que, apesar do favoritismo, não havia eleição fácil. “Toda eleição é dura e todo candidato é importante. São grandes concorrentes, mas estamos cumprindo o nosso papel e temos que apresentar uma nova política para o Paraná”, disse. Ratinho Jr. tem 37 anos e essa é a primeira vez que se candidata ao Palácio Iguaçu. Suas principais propostas são o fortalecimento da atenção primária à saúde, ao acesso a consultas e exames especializados e a ofertas de leitos de UTI. Além disso, ele defendeu durante a campanha a criação de “um painel de boas práticas” que contemple os melhores projetos que podem melhorar o Índice da Educação e a implantação gradual de três refeições ao dia para os alunos. Na área da segurança, o candidato propõe a criação de uma “Cidade da Polícia”, que reunirá órgãos de segurança federais, estaduais e municipais. O futuro governador, filho do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, é formado em Marketing e Propaganda e começou a se envolver com a política ainda aos 21 anos (leia o perfil de Ratinho Jr. na página seguinte). Ratinho Jr. assume o governo do Paraná no início de 2019 e terá como primeira missão negociar com a Assembleia Legislativa maioria para ter governabilidade e poder cumprir com as propostas de campanha. A coligação do governador eleito elegeu 15 dos 54 deputados estaduais. A tarefa não deve ser custosa, já que 33 deputados foram reeleitos e boa parte deles fez parte da gestão do ex-governador Beto Richa.
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Ratinho Jr. terá que se articular para conseguir apoio na Assembleia Legislativa
Assembleia Legislativa: por partidos
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LONA - Edição 1007
Perfil
Jovem e milionário, o novo governador do Paraná Na política desde os 21 anos, Ratinho Jr. é o governador mais jovem eleito pelo Paraná Denise Becker
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novo governador do Paraná nasceu em Jandaia do Sul, no interior do Paraná, em 19 de abril de 1981. Carlos Massa Júnior tem 37 anos e passou a ser o mais jovem eleito para o cargo. É filho de Solange Martinez Massa e de Carlos Roberto Massa – o Ratinho, apresentador de TV e empresário. Tem dois irmãos, é casado há 15 anos e é pai de três filhos. Ratinho Jr. passou a infância na cidade-natal, a 384 quilômetros da capital. Lá, permaneceu até a adolescência, quando se mudou para Curitiba com a família, em 1984. Em 2004, concluiu o curso de Marketing e Propaganda, pela Faculdade Internacional de Curitiba e, em 2011, concluiu a pós-graduação em Direito de Estado pela Pontifícia Universidade Católica de Brasília. Além disso, se especializou em Administração Tributária e Reforma Fiscal e Sociedade, pela Universidade Complutense, em Madri. Herdeiro de um império, desde muito jovem o pai nas empresas do Grupo Massa, compostas pela Rede Massa, Massa News, Massa FM, Massa Play e Massa Multidigital, que gera em torno de 980 empregos. O patrimônio declarado por Ratinho Júnior ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de R$ 13,4 milhões. Cargos políticos A primeira filiação foi Partido Socialista Brasileiro (PSB). De lá para cá já são 16 anos de vida pública. Foi deputado estadual, deputado federal e candidato à Prefeitura de Curitiba – sua única derrota, em 2012 – no segundo tuno, para Gustavo Fruet. Em 2014 foi eleito o deputado estadual mais votado, com 300 mil votos. Em 2013, Ratinho Júnior assumiu o cargo de Secretário do Desenvolvimento Urbano nos dois mandatos do governo Beto Richa. Criou programas e sua gestão recebeu o Prêmio Mundo GEO Conect Latin América, na categoria Gestão Pública, em 2016. Em setembro de 2017, voltou ao cargo de deputado estadual. Uma reportagem da Gazeta do Povo revelou que Ratinho já arrecadou R$ 8 milhões para a campanha e os maiores doadores são o próprio candidato, com R$ 1 milhão, e seu pai, Ratinho, com R$ 1,5 milhão. Com a promessa de revolucionar o jeito de fazer política, o novo governador toma posse em janeiro.
Adrian Woskiank/LONA
Primeiro turno tem decisões no fim da apuração William Santos
Na briga pela presidência, a polarização nas eleições para governo e Senado e reviravoltas movimentaram o cenário político. O que não faltou na eleição foram situações, no mínimo, diferentes. De presidencial sofrendo atentado a candidato fazendo campanha em um monte orando, o primeiro turno termina com clima de fim de guerra nas redes sociais (ou recomeço). A corrida presidencial foi decidida no apito final: embate de Bolsonaro e Haddad no segundo turno. A decisão da maioria causa preocupação em boa parte da população. As mesmas pesquisas que colocavam os candidatos do PSL e PT no segundo turno também indicavam que os dois tinham as maiores rejeições, deixando o cenário mais incerto ainda no segundo turno que acontece ainda neste mês. Os extremismos venceram e podem ter um fim obscuro.
A regionalização também chamou atenção mais uma vez. O Nordeste, reduto do PT, foi o carro-chefe do partido para colocar o Haddad no segundo turno. Já Bolsonaro, com a campanha focada na internet, manteve o primeiro lugar que já era esperado em todo canto do país. No Sul e Sudeste, partidos de linha conservadora lideraram. João Dória confirmou a vaga no segundo turno em São Paulo; no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro foi eleito com folga para o Senado. A Câmara Federal mais uma vez promete uma bancada conservadora. No Nordeste, PT e companhia dominaram mais uma vez. Agora Bolsonaro e Haddad se enfrentam, com tempo igual de TV e com debates diretos. O conflito de ideias tende a ficar mais tenso e tomar as redes sociais. A briga pela presidência talvez nunca foi tenha sido tão difícil para quem vota.
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Santinhos
Sem representação política
Prefeitura mobiliza 217 funcionários para limpeza das ruas no dia das eleições
Nenhuma a menos?
Quantidade de santinhos diminuiu desde 2014, mas alguns candidatos insistem na prática Luiz Felipe Vacção e Gabriel Coelho
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Prefeitura de Curitiba mobilizou 217 funcionários para trabalhar na limpeza das ruas no entorno dos locais de votação no dia das eleições. A informação foi dada pela assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Comunicação Social. Neste número, estão inclusos varredores, coletores motoristas e fiscais. Mesmo com a lei nº 9.504/1997, que proíbe o derrame ou a anuência de material eleitoral nas ruas, ainda é muito comum ver santinhos dos candidatos espalhados nas esquinas próximas aos locais de votação. Com a lei, o responsável pelo derrame fica sujeito, após a notificação e a comprovação, “à restauração do bem”. Caso não seja cumprida a restauração do bem público, o próprio candidato pode ser condenado a pagar uma multa que pode variar entre dois e R$ 8 mil. A quantidade de santinhos espalhados nas ruas vem diminuindo desde as eleições de 2014. Porém, segundo a assessoria de
imprensa da Secretaria Municipal de Comunicação Social, é impossível saber a quantidade de santinhos recolhidos, tendo em vista que não existe separação entre o lixo das eleições e o resto recolhido pelas equipes que trabalham nas ruas. Porém, alguns candidatos, como é o caso do Professor Euller, que concorreu a uma vaga de deputado estadual, procuram alternativas ecológicas para combater a poluição gerada durante a época eleitoral. Neste caso, o santinho carrega dentro uma semente, que pode ser plantada num vaso com terra. Caso tudo ocorra bem, em alguns dias nasce um pé de manjericão ou cravo. Além da poluição, há também a questão do impacto ambiental. Segundo informações divulgadas pelo TSE, aproximadamente 600 mil árvores foram derrubadas e 3 bilhões de litros de água foram utilizados durante a campanha eleitoral de 2012 para a produção de diversos materiais.
Eleitores causam confusão em seções de votação Anna Buzzi
A campanha no primeiro turno foi marcada por questionamento sobre as urnas eletrônicas. E o questionamento de alguns candidatos sobre a confiabilidade das urnas gerou alguns episódios inusitados pelo país. Em Belo Horizonte, uma mulher de 64 anos tentou votar, mas a foto do candidato não apareceu. Em outra seção, as urnas não estavam confirmando votos para o candidato Bolsonaro. A Justiça Eleitoral emitiu notas de que os votos estão sendo computados normalmente. Em Santa Catarina, um homem entrou na seção com a marreta, foi até a urna e a destruiu, sendo preso em flagrante pela Polícia em seguida. Os votos da urna não foram perdidos. Na internet foram espalhados vídeos e fotos de eleitores do Bolsonaro votando com arma apontada para a urna. O vazamento se deu após um morador de Cachoeira do Sul,
no Rio Grande do Sul, compartilhar a foto em suas redes sociais, mas após questionado sobre, ele negou ser o autor das fotos e a apagou de suas redes sociais. Nas primeiras duas horas de votação, mais de 310 urnas já haviam sido substituídas. O número representa 0,06% do total de urnas utilizadas. Até as 14h00, foram substituídas 964 urnas em todo país, sendo os principais casos nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. 33 urnas foram trocadas no Paraná. Uma mesária foi detida em Maringá, no Paraná, após dizer que a urna eletrônica de sua seção teria votos já registrados na memória antes da votação começar. A afirmação foi desmentida por outros mesários, após mostrarem a Zerésima (documento emitido antes da votação começar), mostrando que não havia votos.
Amanda Kawassaki
Há 30 anos o Brasil vive uma democracia e estamos sofrendo como se estivéssemos na ausência dela. Na frente das televisões, famílias e amigos assistem aflitos, esperando o demorado resultado da apuração das urnas. Todo esse receio reflete na representação de minorias dentro da política. As mulheres, por exemplo, estão crescendo no que diz respeito à candidatura. Nas eleições de 2014, 31% dos candidatos eram mulheres, representando um crescimento de 46,5% na participação nas eleições se comparado com 2010. Apesar de a representação de mulheres ter crescido no âmbito político, ainda há uma repressão simbólica. Isso acontece pela proporção de força que mulheres precisam fazer para conseguir chegar ao mesmo patamar construído por anos pelos homens. No relatório feito pela secretaria de Políticas para Mulheres feito em 2014, pelo menos 87% das mulheres nunca haviam pensado de fato sobre candidatar-se a algum cargo político, enquanto 75% dos homens já levaram em consideração essa questão. Para que parte dessa desigualdade de gênero dentro da política diminua foi criada uma lei de cota de gênero em 2009, que diz que os partidos precisam, obrigatoriamente, preencher no mínimo 30% de candidaturas de cada sexo nos âmbitos municipal, estadual e federal. O aumento das candidaturas de mulheres em 2014 foi considerável, mas não o bastante para atingir os 30% exigidos por lei; o Paraná teve 292 mulheres candidatas, correspondendo a 27,9% das candidaturas. Em pleno 2018, as mulheres ainda têm dificuldades para ganhar espaço no ambiente político e dentro dos partidos. A candidata a deputada estadual Ana Mira (PSOL-PR) relata a importância da mulher sendo representada na política, destacando a importância a representação de mulheres que lutam por mulheres. “Apenas elas vão defender os interesses não só das mulheres, mas das mulheres negras, das pobres, que são as que mais sofrem com o machismo estrutural no Brasil”.
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Na vitória...
E na derrota...
Com 29%, Professor Oriovisto é o senador mais votado
A hora e a não vez de Beto Richa
Vinicius Gonçalves
Um outsider. Melhor definição não há para o candidato mais votado para o Senado no Paraná. Em uma eleição surpreendente, o fundador do Grupo Positivo supreendeu e superou nomes consagrados da política paranaense, como o senador Roberto Requião (MDB) e o ex-governador Beto Richa. Articulou a expansão do Grupo, fundado em 1972 com um cursinho pré-vestibular. O grupo hoje é formado por uma editora, por escolas, uma universidade, e, enfim, por uma fabricante de computadores. Aos 17 anos, Oriovisto mudou-se para Curitiba e cursou Economia na UFPR. Deu aulas particulares até iniciar sua jornada como professor de cursos preparatórios. Em 2006, tornou-se membro titular da Academia Paranaense de Letras. Em 2012, deixou a presidência do grupo com cerca de 10 mil funcionários e mais de 4 milhões de alunos que utilizam o método de ensino ao redor do Brasil e no exterior.
Com efeito “anti-Richa”, Flávio Arns garante a segunda vaga Pedro Pinheiro
Flávio Arns (Rede) atua na carreira política desde 1990 quando se candidatou a deputado federal pelo PSDB, ganhando e sendo reeleito por mais três vezes seguidas. Com 67 anos de idade, Flávio é sobrinho de Zilda Arns (fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança) e é formado em Letras pela PUC -PR, em Direito pela UFPR e tem PhD em Linguística (Linguagem e Comportamento) pela Northwestern University. O novo senador do Paraná já foi deputado federal, vice-governador, secretário de Estado e também senador (se elegeu em 2002). Comandou também as federações estadual e nacional das APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).
Campanha marcada por prisão provisória acabou com tucano atingindo 3% dos votos Sarah Menezes
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om apenas 3% dos votos válidos no estado do Paraná, Beto Richa não conseguiu garantir uma vaga no Senado – perdendo, consequentemente, o foro privilegiado que lhe permitiria não ser julgado pela justiça comum (primeira instância). Após se reeleger governador com 55,7% dos votos em 2014, Richa decidiu deixar o cargo antes de sua conclusão para disputar o Senado. A estratégia não culminou no desenlace esperado. Segundo o ex-governador, sua prisão temporária teve um papel essencial para a perda de votos. Em 11 de setembro, Richa foi preso durante a operação “Rádio Patrulha”, que apura fraudes em licitações relativas ao Patrulha do Campo – programa do governo estadual que promove a manutenção de estradas rurais. O Ministério Público do Paraná não informou quais são as acusações contra o ex-governador, mas o impacto que a prisão teve sobre sua imagem pode ser verificado nas urnas.
Ainda enquanto governador, o tucano aprovou alterações no programa Paranaprevidência. Ao votar (e, posteriormente, sancionar) a lei que alterava a previdência de servidores, teve de enfrentar a “Batalha do Centro Cívico” – acontecimento que marcou a história do estado por conta da repressão truculenta contra os professores que se manifestavam em frente ao Palácio Iguaçu. No mesmo ano, Richa também foi investigado na Operação Quadro Negro por conta de 20 milhões de reais desviados de obras de escolas no Paraná. Com os resultados destas eleições – e possíveis consequências relacionadas às investigações que envolvem seu nome – parece ter chegado ao fim a carreira política de Beto Richa. Passando, desde 1995, pela Assembleia Legislativa do Paraná, Prefeitura de Curitiba e Governo do Estado do Paraná, o ex-governador se depara com a primeira derrota desde 2001 e ainda deve enfrentar, sem foro privilegiado, as consequências das investigações que estão em andamento.
Requião amarga terceiro lugar
Emedebista, líder nas pesquisas, chegou a satirizar a prisão de Beto Richa pelas redes sociais, mas reconhece que o calvário do tucano o prejudicou nas urnas Amanda Andrade
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pesar de ter sido indicado como um dos líderes de intenção de voto ao longo de sua campanha para o Senado, Roberto Requião (MDB) acabou ficando em terceiro lugar com 15% dos votos válidos. O ex-senador atribui a derrota às pesquisas eleitorais, que teriam, em sua opinião, incentivado a população a realizar “voto-útil” contra o Beto Richa – optando por Flávio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos) para tirar Richa da disputa. Assim, uma eleição que lhe parecia certa tomou rumos inesperados. Requião pode ser considerado parte da oligarquia política do estado do Paraná – exerce cargos públicos desde 1982 e
passou ao filho, que foi reeleito deputado estadual, o legado da política (além de possuir diversos familiares que também já ocuparam cargos públicos). Algumas das posições já exercidas por ele são as de deputado estadual, senador, governador e prefeito de Curitiba. Advogado, jornalista e urbanista, Roberto Requião foi o relator do Projeto de Abuso de Autoridade – que é debatido, atualmente, pelo Senado Federal – e já chegou à marca de 2.691.557 votos, quando foi eleito senador pela primeira vez, em 2010. Foi, também, o primeiro prefeito eleito em Curitiba após a ditadura militar, em 1985.
Curitiba, 5 8 de outubro de 2018
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Polarizou...
Haddad X Bolsonaro Amanda Soares e Deisiely Weiber
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petista Fernando Haddad chegou ao segundo turno com a difícil missão de virar a eleição. Filho de libaneses e nascido em São Paulo (SP), Haddad é casado e tem dois filhos. Mestre em Economia e doutor em Filosofia, trabalha como professor na USP. Haddad se filiou ao PT em 1983 e em 2001 ele aceitou o convite da então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, para ser subsecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico, onde ficou até 2003, quando foi convocado pelo ministro de Planejamento e Finanças, Guido Mantega para ser assessor especial da pasta. Haddad tornoou-se depois disso ministro da Educação, cargo no qual permaneceu até 2012, quando se candidatou para ser prefeito de São Paulo, na qual venceu José Serra (PSDB) no segundo turno. Candidato à reeleição em 2016, foi derrotado no primeiro turno pelo João Dória (PSDB). Nas Eleições 2018, Haddad assumiu a chapa em 11 de setembro depois de Lula ter sido impedido de concorrer à presidência pela Justiça Eleito-
Lucas Jensen
ral. Como Ministro da educação, Haddad foi responsável pela continuação a projetos da gestão petista, criando o ProUni e a ampliou o FIES, criou o Fundeb e ainda reformulou o Enem em 2009, ano em que ocorreu o vazamento da prova, o que rendeu críticas a sua passagem pelo MEC e anos mais tarde por falhas na gestão do Fies. Em 2012, o candidato deixou o MEC para concorrer à Prefeitura de São Paulo, sua estreia em eleições. Lá, implementou ciclovias que resultaram em uma ação de improbidade administrativa, pela qual Haddad se tornou réu em agosto deste ano, o Ministério Público apontou irregularidades na construção de um dos trechos, além de enfrentar diversas falhas no Enem, como o roubo da prova da gráfica em 2009, o nome do candidato também foi envolvido em desdobramentos da Lava Jato em São Paulo, o Ministério acusa a campanha de Haddad de 2012 de receber caixa dois da empreiteira UTC, ele nega todas as acusações sobre sua gestão. Os processos estão em fase inicial.
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andidato por um partido sem expressão política, o capitão reformado do Exército, natural de Campinas, chega com amplo favoritismo para vencer o segundo turno. Jair Bolsonaro ocupou por quase 30 anos o cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro antes de almejar a presidência da República nas eleições deste ano. Ganhou notoriedade a partir de 2014 quando foi o candidato mais votado para a Câmara dos Deputados. Computando 6% dos votos válidos na época, o que contabiliza mais de 460 mil eleitores, sua vida política sofreu um crescimento em comparação com os cerca de 100 mil votos que o elegeram nos outros mandatos. Passando por diversos partidos ao longo da carreira, Bolsonaro pertence ao Partido Social Liberal, ao qual se filiou em janeiro deste ano. Sua trajetória política começou como vereador em 1988 pelo Partido Democrata Cristão. Logo em 1990 elegeu-se deputado federal no primeiro dos seus sete mandatos. Ao longo de seus 26 anos de atividades
no Congresso, aprovou dois projetos de lei e uma emenda. Ele se notabilizou pelos discursos em defesa da ditadura e em favor da tortura. Além disso, suas posições contra grupos sociais como os LGBT lhe renderam quase 30 pedidos de cassação. Apesar de suas declarações, o político não se considera como contemplado pelo espectro político de extrema direita. Além disso, Bolsonaro ainda se opõe a leis que garantam direitos aos LGBT, discursa contra as cotas raciais e a favor de que a mulher ganhe menos que o homem na mesma jornada de trabalho. Completam a lista a liberação do porte de arma através da revogação do Estatuto do Desarmamento, o voto contra a legalização das drogas e a posição favorável à pena de morte. Suas propostas de governo incluem estratégias como a diminuição do número de ministérios. Apesar de ser considerado pelos seus eleitores como um candidato liberal na economia, Bolsonaro delega à sua equipe a prerrogativa de tomar todas as decisões e afirma ser favorável a privatizações.
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LONA - Edição 1007
Sem santinhos!
Glória a Deux,
a pauta dos santinhos caiu Caroline Rissio
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Cobertura, como foi? Lucas Lara e Maria Eduarda Antunes
típica – para um dia de votação. Assim começou a manhã deste domingo (7), quase sem santinhos espalhados pelas ruas de Curitiba. A situação surpreende o eleitor curitibano e diferencia esta das demais eleições. Bairros como Bom Retiro, Ahú, Boa Vista, Bigorrilho e Campo Comprido seguem organizados, diferentemente de outros municípios como Almirante Tamandaré, em que os papeis com fotos e números de candidatos marcam os locais de votação. A chuva durante a madrugada pode ter contribuído para a limpeza. De acordo com o metereologista Paulo Barbieri, do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), além das baixas temperaturas registradas na madrugada, as precipitações ficaram concentradas nas regiões
do Sul e Leste do estado, sendo Curitiba a região mais afetada, marcando 18 milímetros até as 8 horas da manhã. Para Barbieri, a quantidade pode ser considerada significativa no intervalo. Ainda segundo o Simepar, mais chuva era esperada para a tarde, com temperaturas amenas; mínima de 10°C e máxima de 18°C. Se, mesmo com o tempo úmido, o eleitor se deparar com alguém espalhando santinhos pela cidade, a recomendação é relatar o crime. De acordo com o advogado Eduardo Faria, o eleitor deve entrar em contato com a Polícia Militar ou algum representante da Justiça Eleitoral. De acordo com a Lei nº 9.504 de 30 de Setembro de 1997, espalhar santinhos e fazer qualquer ato de propaganda partidária ou eleitoral, no dia da eleição, é crime.
Hey! Como foi participar do LONA? Foi uma experiência louca, mas muito gratificante. Gostei muito, pois consegui ver como é o dia a dia de um jornalista. Aprendi desde coisas cotidianas até a cobertura de eventos maiores, como a das eleições Beatriz Ponte (1º ano) Foi minha primeira vez participando das eleições e foi uma experiência muito marcante. Dando a cara à tapa nas ruas, não sabendo se as pessoas vão aceitar ou não a presença do jornalista ali. Quero a próxima! Livia Miê (2° ano) É minha segunda cobertura de eleição. Quando participei na primeira vez, não tinha uma noção muito grande de política, mas dessa vez com uma consciência maior sobre o assunto, consegui ver essa minha mudança Amanda Andrade (3° ano)
O curso de Jornalismo da Universidade Positivo cobre as eleições desde 2002. Neste ano não foi diferente, e os mais de 100 alunos tiveram a oportunidade de viver o dia a dia da corrida eleitoral. Diferente de outros anos, os trabalhos aconteceram antes do dia de votação, a partir do projeto de Fact-Checking, quando alunos checaram as informações durante os debates. No domingo, nove equipes foram às ruas acompanhar os candidatos ao governo. No período da tarde as outras seis equipes foram para as ruas de Curitiba cobrir outras pautas da eleição. No fim da tarde alguns alunos foram para o TRE acompanharam a apuração dos votos. O curso movimentou todas as mídias, Instagram, Facebook e Rádio.
Quase-foca na cobertura Renan Augusto Valmorbida
O dia 7 de outubro foi minha primeira experiência acompanhando o trabalho jornalístico na cobertura de uma eleição. Prestei vestibular para Jornalismo na Universidade Positivo e fui convidado para acompanhar o trabalho dos alunos do curso no dia votação. Eleição é assunto sério, mas a animação é grande. Nada impede os estudantes de tratar de forma descontraída. Gostei muito da experiência. Foi muito interessante o que aprendi e espero ano que vem estar aqui cursando Jornalismo na UP. É especial estar participando da cobertura pela segunda vez. Além de estarmos colocando tudo em pratica o que aprendemos, vimos que nossa missão tanto como de jornalista e cidadão ao mesmo tempo é importante Adrian Wosniak ( 4º ano )