RIO DIÁ do
Curitiba, segunda-feira, 13 de setembro de 2010 - Ano XII - Número 587 Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Luzimary Cavalheiro
L BRASI
redacaolona@gmail.com
Vidas consumidas pelo crack O vício em crack tem crescido nas grandes cidades. Em Curitiba, embora aumente em todas as classes sociais, o consumo da droga provoca mais estragos na população que mora nas ruas. Segundo levantamento oficial, 1.165 pessoas vivem nessas condições – principalmente no Centro. E é essa população que sofre com as doenças potencializadas pelo vício. Em reportagem especial, o LONA conta a história de pessoas como Carolina Girardi, de 22 anos, que resume a condição de vida de meninas e mulheres que habitam as ruas. Viciada desde os 13 anos, ela fica acordada por vários dias consumindo a droga, e só consegue dormir quando o corpo está totalmente debilitado, a ponto de não conseguir mais “manguear”, ou seja, pedir dinheiro para comprar mais crack. Exposta a todo tipo de violência, suja, com fome a maior parte do tempo, sofre de diversos problemas de saúde. Pág. 4 e 5
Usuário de crack no centro de Curitiba
Geral
Política
Opinião
Não entre pelo cano quando for reformar a casa
A necessidade de mudanças no sistema eleitoral
Gordinhas deveriam desfilar ao lado das “anoréxicas”
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2 Expediente Reitor: José Pio Martins. Vice-Reitor: Arno Antonio Gnoatto; Pró-Reitor de Graduação: Renato Casagrande; Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Institucional: Cosme Damião Massi; PróReitor de Pós-Graduação e Pesquisa e PróReitor de Extensão: Bruno Fernandes; Pró-Reitor de Administração: Arno Antonio Gnoatto; Coordenador do Curso de Jornalismo: Carlos Alexandre Gruber de Castro; Professores-orientadores: Ana Paula Mira e Marcelo Lima; Editoreschefes: Daniel Castro (castrolona@gmail. com.br), Diego Henrique da Silva (ediegohenrique @hotmail.com) e Nathalia Cavalcante (nathalia. jornal@gmail.com) .
Missão do curso de Jornalismo “Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos gerais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo e empreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade social que contribuam com seu trabalho para o enriquecimento cultural, social, político e econômico da sociedade”. O LONA é o jornallaboratório diário do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo – UP Redação LONA: (41) 3317-3044 Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba-PR - CEP 81280-30. Fone (41) 3317-3000
Curitiba, segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Opinião
Na passarela: Uma pedra no sapato do Brasil
GG
Evelyn Bueno Betim Na segunda vez que chega com força aos pulmões, vicia. Nos três minutos de fissura, mundos paralelos e sensação de estar fora da realidade. O corpo padece. O bolso, a casa, a conta bancária, tudo esvazia. É a vida no crack escapando por entre os dedos. Mas o que é essa droga que chegou, devastou e mudou o cenário do universo do tráfico? Bate na porta de todos, das classes A à E. Mães procurando filhos em cracolândias espalhadas por todo o Brasil, prostituição, mulheres grávidas dependentes, crianças, latas de refrigerante que servem como cachimbos. É a realidade da pedra aflorando cada vez mais na sociedade atual. De berço, o crack já surge com força. Nasce da cocaína, pó branco que entra pelas narinas, desliza pela corrente sanguínea e chega ao cérebro em uma explosão de sensações. De matéria prima, pasta-base, um quilo que rende entre 12 e 15 mil pedras de crack. A fabricação de pó e pedra chegou ao Brasil com força, e parece que para ficar. Esse problema é tratado com vistas grossas, não é assumido, declarado problemão. O primeiro passo deveria ser um balanço, uma pesquisa de como o crack atinge os brasileiros, quantos usuários há no país e como resgatá-los do vício. Passar a conhecer essa droga de droga que está levando tantos à morte. O governo precisa abrir bem os olhos para o problema que é o crack. Muitas dificuldades são enfrentadas com usuários, traficantes e em apreensões de tantas outras. Mas, com a pedra, tudo é diferente. A escolha de produzi-la no Brasil já é demasiadamente assustadora. Os danos que o tráfico traz são preocupantes, dão origem a outros diversos crimes que envolvem cada vez mais os jovens, que caem em armadilhas quando estão em paranoia, procurando só mais uma pedra, e só mais uma e só mais uma.
O primeiro passo deveria ser um balanço, uma pesquisa de como o crack atinge os brasileiros, quantos usuários há no país e como resgatá-los do vício.
Políticos não gostam de falar sobre o crack, mas deveriam ao menos falar ou pensar; falar, pensar e criar alguma política de auxílio aos viciados, combate à droga, atendimento psiquiátrico em clínicas especializadas, entre outras tantas necessidades que irão surgir com a proliferação da pedra. No Paraná, as BRs 271 e 277 servem como rotas do tráfico do estado. Do primeiro semestre do ano passado, para o mesmo período de 2010 houve aumento de 150% nas apreensões de cocaína (de 45,6 para 113,9 quilos) e o dobro nas de crack (118,9 para 240,6 quilos), segundo dados publicados na Gazeta do Povo do mês passado. Com as eleições, certamente poderiam surgir ideias orientadas para um início de diminuição, repressão. A droga com o poder de viciar mais rápido, de fazer a cabeça em segundos e acabar com vidas, famílias, fazer sumir a dignidade e a razão do indivíduo, está cada vez mais presente, mais próxima de todos, dia após dia, em todos os lugares. Como dizia Cássia Eler ‘esquina paranóia delirante, eu to na paz...’. O crack pesa, pira, padece, e acima de tudo, preocupa.a.
Giulia Lacerda
No mundo da moda cresce a discussão sobre modelos do tamanho plus size. Recentemente, a agência Ford criou um departamento destinado às supostamente acima do peso (que significa vestir manequim acima de 40) e trouxe, em bom momento, o assunto à tona. Parece que cada vez mais essas mulheres estão conseguindo seu espaço, mostrando a importância de se valorizar a diversidade, e não um padrão único de beleza. Porém, ao analisar as situações em que modelos de tamanho grande ganham destaque, me pergunto: até que ponto estamos acompanhando um processo de inclusão?
Não deveria haver motivo para que mulheres com formas mais acentuadas não pudessem dividir as mesmas passarelas com as outras modelos. Em janeiro deste ano, o São Paulo Fashion Week promoveu novamente (depois de vários casos de mortes de modelos com anorexia em 2006) o debate em torno da extrema magreza das mulheres nas passarelas. Dois dias após um dos maiores eventos de moda do país, foi feito um desfile à parte para as mais gordinhas, que obviamente não recebeu a mesma atenção. Portanto, as mulheres com perfil fora dos padrões pré-definidos continuam à margem da sociedade. A indústria da moda peca ao produzir peças de números grandes apenas em cores sombrias, porque supostamente emagrece. As grandes lojas de varejo só apresentam roupas "da moda" voltadas para o público magro. Há pouco tempo vemos surgir as lojas especializadas em moda GG. Mas, novamente, seria isso inclusão? As mulheres consideradas acima do peso precisam se expor ao entrar em uma loja como essa, porque não encontram roupas do seu tamanho em outros lugares. Isso, para mim, é uma forma de discriminação, de dizer "ali é o seu lugar, não aqui". Uma pesquisa realizada por Diana Crane, publicada em 2006, revelou que as mulheres prestam mais atenção no corpo das modelos do que na roupa apresentada nas publicidades de moda em revista. Isso mostra como não há sentido no discurso dos designers de moda, quando dizem que as modelos magras não chamam atenção para seus corpos e, assim, as roupas ficam em evidência. Portanto, não deveria haver motivo para que mulheres com formas mais acentuadas não pudessem dividir as mesmas passarelas com as outras modelos. Nós vemos sendo preparados ao longo da história para aceitarmos o ideal magro como sinônimo de beleza, saúde e sucesso. Não quero aqui fazer apologia à obesidade. Mas é evidente que uma mulher que usa manequim 40 pode ser perfeitamente saudável, muitas vezes mais do que muitas modelos por aí. Porém, o padrão de beleza instituído nos leva a crer que nada além do número 38 é aceitável. Uma pesquisa realizada pela Dove, em 2002, com 3200 mulheres de 10 países revelou que apenas 2% delas se dizem belas. O nível de insatisfação das mulheres consigo mesmas está aumentando à medida que valorizamos mais a magreza e a jovialidade acima de tudo. Por isso, não acredito que estamos incluindo na indústria da moda mulheres consideradas acima do peso, e sim as excluindo ainda mais do pré-estabelecido como “normal”.
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Morar bem
ou
Obra
problema
Falta de planejamento em reforma causa estresse nos proprietários Virgínia Vilela Reforma. Seja para aqueles que acabaram de comprar um imóvel, ou para aqueles que querem mudar alguma coisinha em casa. Ansiedade à parte, a palavra de ordem para a condução de uma boa obra é: planejamento. Cautela nunca é demais. Antes de começar é preciso colocar no papel tudo o que você pretende fazer e o quanto vai gastar. Não se esqueça de guardar uma reserva para os compromissos do dia a dia e para alguma eventualidade, pois a vida não para. Feito isto, mãos à obra! O engenheiro civil Pedro Henrique Teixeira destaca pontos para que sua obra não seja um mico. “É muito importante fazer uma pesquisa de mão-de-obra. Consulte o preço de três profissionais diferentes, deixando bem claro e em contrato o que você pretende fazer. É importante que o preço seja fechado por serviço concluído, e não por dia trabalhado. “Este é um dos principais motivos para as obras infindáveis”, afirma Teixeira. Apesar de várias pessoas acharem o contrário, é necessário contratar um arquiteto, pois são indispensáveis nas obras. Profissionais com formação, experiência e visão global, eles definem espaços e especificam os materiais adequados e a técnica construtiva pertinente, com total atenção às qualidades estéticas e otimizando os custos. O mestre-de-obras, pintor, bombeiro e encanador Paulo Fernandes é um daqueles profissionais polivalentes cada vez mais disputados no mercado. Depois de aprender todas as atividades envolvidas numa obra, atualmen-
te comanda três equipes que fazem apenas reformas. Com o tempo, Paulo passou a dar ainda mais valor ao trabalho dos especialistas. "Quando é preciso mudança na estrutura do imóvel, chamo um engenheiro para fazer os cálculos. Também trabalho muito bem na parceria com arquiteto e decorador". Atualmente, Paulo administra uma obra em Santa Felicidade. A maioria dos clientes chega por indicação de antigos contratantes. Para ele, que realiza principalmente trabalhos com os moradores dentro do imóvel, o segredo para ser bem-sucedido na área de reforma é ter um time de profissionais experientes e confiáveis. "O cliente que contrata equipe para empreitada está correndo de dificuldades". Para os donos de imóveis que pensam em fazer uma reforma na casa, apartamento ou loja, Paulo dá dicas para reduzir o estresse. Escolhido o profissional, verifique com cada um deles o material que será necessário para a reforma, incluindo todos os itens. Isso evita que, fechado o serviço, comecem a aparecer custos que você nem imaginava. Faça uma boa pesquisa de preços, vários orçamentos e evite economizar demais neste ponto. Muitas vezes, o barato sai caro. Comprar à vista ainda é o melhor negócio. O procon/PR, através da Divisão de Estudos e Pesquisas, reali-
za levantamentos de preços com o objetivo de informar o consumidor para uma melhor decisão na escolha de produtos ou contratação de serviços. Fique atento ao preço do m² de reforma. Por exemplo: a reforma de uma cozinha não deve custar mais do que 15% do valor total de sua casa. Apesar de todo esse planejamento, no momento das obras podem surgir entraves na construção, até então ocultos. Dono de uma grande construtora, Alessandro Souza destaca que “os maiores problemas estão nas redes elétricas e hidráulicas, a maioria antiga feita de aço galvanizado e que precisa ser trocada. O uso de tubos de PVC de baixa qualidade também se torna um problema na hora de mudar a estrutura do imóvel. São essas surpresas que elevam o custo da reforma”. Não é fácil morar em uma casa em reforma. Sujeira, barulho, poeira. Caso a obra seja muito extensa, uma solução é mudar-se temporariamente. “A melhor solução é locar outro imóvel. Pelo menos assim você não tem a sensação de estar incomodando ninguém”, afirma o casal Marina e Antônio, que estão no meio da reforma de uma casa que compraram. Por último, o engenheiro Pedro Henrique ensina: “Para que sua reforma fique como você planejou, é importante se transformar em um ‘fiscal de construção’. Isso significa tirar um tempo e acompanhar todos os detalhes, só assim você não corre o risco das coisas não ficarem a seu gosto e tudo correrá da melhor maneira possível. Vale lembrar que o olho do dono é que engorda o gado”, brinca Pedro.
Vida pública
Os desafios do sistema político Congresso promoveu diálogos, propostas e análises das dificuldades para a realização de mudanças no atual sistema eleitoral Sofia Ricciardi Foi realizado nos dia 9 e 10 de setembro o II Congresso da Rede de Participação Política, no CIETEP, em Curitiba. Com o tema “Reformar e Inovar: Uma Nova Política é Possível”, o congresso discutiu o atual sistema eleitoral do país e as possibilidades de uma mudança para despertar o interesse da sociedade no processo. Segundo os participantes do painel “O sistema eleitoral brasileiro está em crise? Diagnóstico e perspectivas de mudanças", a adoção do voto distrital misto garantiria uma maior aproximação do eleitor com o seu representante. O método consiste em cada eleitor votar duas vezes para eleger os deputados, o primeiro voto é para um partido de sua preferência e o segundo para um candidato de sua região. O atual modelo eleitoral distribui os cargos do Legislativo aos candidatos mais votados dos partidos com o maior número de votos. Dessa forma, os candidatos são eleitos com uma diferença muito pequena de votos e há um maior distanciamento entre eleitor e
eleito. No entanto, as dificuldades para implementação do projeto não foram ignoradas, como avaliou a cientista política Rachel Meneguello, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "A ideia de aproximação da população com os políticos pode funcionar bem em localidades pequenas. Tenho dúvidas sobre seu efeito em um universo maior". Outros obstáculos, como a resistência dos deputados a qualquer iniciativa de reforma, também foram avaliados. O evento contou com a participação de René Dotti, advogado e presidente da Comissão Nacional da OAB de Defesa da República e da Cidadania; José Wille, jornalista da CBN; Lúcio Rennó, professor da UNB; Marcio Rabat, consultor legislativo da Câmara dos Deputados; e Rachel Meneghello, diretora do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp. Mais informações sobre a Rede de Participação Política podem ser conferidas no site, que também conta com espaço para opinião e debates semanais: http://www.fiepr.org.br/ redeempresarial
“A ideia de aproximação da população com os políticos pode funcionar bem em localidades pequenas. Tenho dúvidas sobre seu efeito em um universo maior”
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Curitiba, segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Especial
População de rua e
A droga desencadeia problemas de saúde entre morado Luzimary Cavalheiro
Trabalho voluntário
Um levantamento realizado no ano passado, em Curitiba, constatou que 1.165 pessoas vivem nas ruas da cidade. As condições sociais são precárias e o descaso com a saúde, por parte da população de rua, é um fator predominante. Grande parte destes problemas tem envolvimento direto com o uso de drogas, principalmente o crack. Juliana de Lima, de 32 anos, está na rua há dois meses. Ela e o marido são catadores de papel. O casal morava na casa de uma conhecida, que cobrava o pagamento do aluguel, em crack. Usuária de droga, Juliana se deparou com uma condição difícil: sustentar o próprio vício, do marido e ainda conseguir droga para a dona da casa. Com a situação insustentável, resolveu tentar deixar o vício, a solução seria morar na rua. Logo que chegou foi agredida com uma barra de ferro, por um rapaz que pensava que ela estava ali para vender droga. O resultado: uma mão inchada com suspeita de fratura. “Estou com a mão assim há mais de uma semana, bebo para passar a dor e coloco uma faixa quando vou puxar o carrinho”, comenta. O principal meio de acesso à saúde, moradia e internações é pela Central 156, da Prefeitura. O serviço de Resgate Social, ligado à Prefeitura, tem autonomia para encaminhá-los a hospitais e postos de saúde. O problema é que a maioria não quer essa ajuda. Muitos não sabem que podem ser atendidos diretamente nos postos de saúde, sem a necessidade de documentos. Alguns têm problemas com a justiça e, por isso, têm medo de procurar estes locais por acharem que lá serão presos. Divulgação
O frei Alairton Castro de Lara faz parte de um projeto que toda sexta-feira leva roupas e alimentos para os moradores de rua. Para ele, a falta de informação e a vergonha são os fatores principais que levam ao descaso por parte deles, em procurar ajuda médica. “Eles desconhecem seus direitos, acreditam que seus problemas de saúde não são tão graves e se acostumam com a dor, usam as drogas como analgésicos. A segunda questão é o sentimento de humilhação; eles se sentem mal, às vezes, escondem a doença e acham que são merecedores daquela situação”, relata. A Central de Resgate Social da Fundação de Ação Social (FAS) atua com atendimento técnico a fim de encaminhar pessoas em situação de rua para o retorno familiar, acolhimento integral, documentação, encaminhamento médico e hospitalar. O local usado para pernoites é utilizado também para atender as necessidades básicas de higiene e alimentação. Uma das psicólogas da Central relata que é necessário avaliar a situação social do indivíduo para prestar o atendimento de forma mais eficaz. A Central de Resgate Social encaminha o morador de rua de acordo com as necessidades avaliadas pela equipe técnica. “Tudo depende da situação de cada pessoa. Aqueles que têm vínculo com a família são encaminhados para regressar ao lar e os
que não estão nessa condição vão para abrigos especializados”, diz. Reginaldo Queiroz, de 42 anos, está na rua há quatro anos. Ele recorre à ajuda de uma senhora que sempre o auxilia com medicamentos, roupas e comida. Toma banho nas praças e não gosta de usar os serviços da FAS. “Não gosto de dormir no abrigo da prefeitura, lá é para quem está numa situação bem ruim mesmo”, diz. Para Carolina Girardi, de 22 anos, o lugar é muito bom. “A gente costuma dizer que lá tem ‘banho de estrela’. Como estamos muito sujos, eles não controlam o tempo e, por isso aproveitamos. A comida também é muito boa. Mas no quarto é estranho, teve uma vez que eu estava dormindo, na época não havia camas, e o colchão ficava direto no chão. Neste dia acordei com uma mulher me arrastando”, conta. Carolina é a síntese da condição de vida de meninas e mulheres que vivem nas ruas. Elas ficam sujas por muito tempo. No caso dela, que usa crack desde os 13 anos, fica acordada por dias consumindo a droga, e somente quando o corpo já está bem debilitado, a ponto de não conseguir mais “manguear” (termo usado para pedir dinheiro). Chorando muito em um local da avenida Sete de Setembro, onde pediu ajuda para um grupo de moradores de rua, Carolina desabafa que estava acordada há quatro dias. “Estou mal, pedi ajuda pra
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e o crack
ores de rua o diagnóstico, resolve ficar na rua, usar a droga em vez de tratar os problemas de saúde. Para o início do próximo ano, a Secretaria Municipal de Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, vai implantar o Programa Consultório de Rua, com a utilização de uma unidade de saúde móvel. O programa tem como objetivo amenizar os danos causados pelo uso de álcool e drogas. O trabalho será similar ao realizado hoje; estará interligado às redes de saúde, terá a função de encurtar o caminho destas pessoas aos postos de saúde e as ajudará a aderir ao tratamento.
Reginaldo Queiroz se ajeita para mais uma noite numa calçada do centro de Curitiba
Luzimary Cavalheiro
dormir aqui hoje porque não tinha coberta”, lamenta. Feridas no pé e um problema no útero deixam sua locomoção difícil. A tosse também não dá trégua. Os olhos inchados e vermelhos obscurecem o seu rosto. O cabelo não escovado traz desconforto. Os dentes estão apodrecidos. E o vilão que desencadeia tudo isso, o crack, é a única razão de sua existência: nem a própria saúde importa mais. A infecção no útero já pode ter se tornado um câncer, afirma a médica Luiza Helena Lopes, da Unidade de Saúde 24 horas do Campo Comprido. Mesmo assim, sem saber
Moradores de rua que rejeitaram a ajuda da Fas, entre eles um senhor de 75 anos
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Vanessa Dasko
Fernando Mad
Escreve quinzenalmente sobre Comunicação Empresarial, sempre às segundas-feiras vanessadasko@gmail.com
Escreve quinzenalmente sobre fotografia, sempre às segundas-feiras malkmad@gmail.com
Fotografia
Comunicação Empresarial
Sem cor
Rede social: Uma tendência sem fim?
A comunicação interna vai além de informar acontecimentos na empresa. Ela tem que envolver, gerar o sentimento de pertencer dentro da organização. O resultado é que isso reflete dentro e fora dela
Fernando Mad
dessas novas ferramentas, mas tem gente que vê aí a oportunidade para o desenvolvimento. Recentemente, li uma matéria sobre reivindicações feitas por moradores de um bairro de Curitiba através do twitter. A novidade é que a solicitação na rede social acabou dando resultado. As redes sociais estão mais vivas do que nunca. E como a comunicação é uma tendência sem fim, elas podem ser aliadas ou inimigas das organizações. Aliás, o que vem por aí é a comunicação com interação. Celulares mais modernos já apresentam em sua configuração original, programas de redes sociais, como twitter, facebook, entre outros. É a atualização imediata de assuntos soltos pela rede virtual. Mas em que lugar tudo isso vai chegar? Todo esse “boom” que amedronta algumas empresas pode ser visto como algo extremamente positivo. Existe organização que ainda não sabe como lidar com esse “bum” da comunicação em rede. Sabendo ou não, o que ela vai perceber é que poderá cair nas redes sociais através de seus clientes, colaboradores e/ou parceiros.
Fernando Mad
No final de agosto tive a oportunidade de participar da 4ª Conferência de Comunicação Interna em São Paulo. O evento me fez refletir sobre a área nas organizações, um mercado novo, que vejo como promissor para comunicólogos, por isso quis compartilhar. A comunicação interna nas empresas vem sendo enxergada como uma necessidade, ainda que muitas não consigam medir os resultados de imediato, afinal, no quesito capital tudo ou quase tudo precisa ser mensurado. A comunicação interna vai além de informar acontecimentos na empresa. Ela tem que envolver, gerar o sentimento de pertencer dentro da organização. O resultado é que isso reflete dentro e fora dela. Nota-se que as melhores empresas para se trabalhar, investem pesado em comunicação. E por que tudo isso? Ninguém gosta de ser o último a saber das coisas. E nas organizações esse processo não é diferente. Mas porque ainda as equipes de comunicação interna são enxutas? Não estamos falando apenas de pequenas e médias empresas. Refiro-me a empresas grandes, com sedes em vários estados brasileiros e até na America Latina. No geral, as equipes são compostas por três ou cinco profissionais que atendem as demandas. Aí vêm duas questões importantes: de um lado a profissão, que é recente e está em ascensão acelerada, de outro o trabalho árduo de convencer os executivos de que a função do comunicador vai além de trabalhar em momentos de crise organizacional e fazer textos informativos. E tem mais. O que espera as empresas em termos de comunicação está à frente das tecnologias de redes sociais. Tem gente que tem receio e até evita o uso
Numa dita era digital, de acesso relativamente fácil à tecnologia e onde o moderno e o saudosista se encontram para tomar um café e discutir suas preferências, a velha disputa fotográfica permanece: colorido ou preto e branco? Eu posso recorrer aos dados históricos e fotógrafos famosos para citar os pontos de vista, mas então seria apenas mais um texto comparativo. Posso apelar para o relativismo e dizer que, como tudo, depende. Mas vou pegar uma
tangente: fotografia não depende da cor. A parte “grafia” da palavra significa escrita ou desenho. Você entende o que está escrito aqui neste texto baseado na forma e disposição das letras. Se eu mudar as cores, a informação continua a mesma. O que está escrito não perde nem tem o sentido alterado. No máximo prejudicado ou beneficiado. O uso de cores, e quais cores, é “apenas” um acréscimo à informação escolhida. É como o tempero escolhido para o arroz e feijão. Sem ele, a comida pode até ficar sem graça, mas ainda é arroz e feijão. O que pretendo é que,
antes de chegar a uma discussão sobre como usar as cores na fotografia, o dito fotógrafo deve ter um domínio das técnicas fotográficas. E não falo somente das técnicas básicas, mas das técnicas mais avançadas de composição e conceito. Somente depois de estar certo do que quer dizer e de como quer dizer, o fotógrafo pode optar sobre o “tempero” da foto. Toda fotografia existe tanto em preto e branco quanto em colorido. Algumas funcionam melhor em um, outras em outro. Mas antes de debater sobre o uso ou não do vermelho, o melhor é refletir sobre o que aquela mancha quer dizer.
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Empreendedorismo
Mais uma opção
Loja colaborativa chega a Curitiba com nova proposta para consumidores e lojistas
Dois anos depois da primeira franquia em São Paulo, na rua Augusta, a Endossa Loja Colaborativa chega a Curitiba com um novo modelo de negócio: uma loja moldada pelo público. Nathalia Anring, Francisco Del Rio, Raisa Terra e Gustavo Ferriolli são os sócios responsáveis pela loja de 300m², na Avenida Vicente Machado, que conta com dois andares para os produtos, um terceiro para check-in e jardim com wi-fi para os clientes. A Endossa nasceu com o intuito de ser uma loja construída pelo público e um espaço para novas ideias: a marca aluga uma caixa (espaço a partir de R$120) na loja e expõe seus produtos. Os únicos custos são o aluguel do espaço e taxas de imposto e cartão de crédito. A Endossa entra com toda a infraestrutura da loja, funcionários, sacolas e um sistema online que permite às marcas acompanhar suas vendas em tempo real, calcular impostos, checar o estoque e ter um feedback da opinião do público. E é a ele que cabe fazer a loja. As marcas devem atingir o endosso, uma meta de vendas que, inicialmente, é o valor do aluguel. Ou seja, cada compra endossa a permanência da marca na loja colaborativa. Caso esse valor não seja atingido, a marca tem que esperar um mês, até poder voltar a vender na Endossa. "É uma questão de deixar as ideias que são eleitas pelo público ficarem; então é ele que vai moldando a loja. Ela (loja da Augusta) foi moldada de uma maneira que hoje, o que mais tem é acessório feminino, rou-
pas e camisetas masculinas", conta Raisa Terra. São sete caixas de tamanhos diferentes, desde modelos especiais para joias até caixas para roupas. Mas, de acordo com a necessidade, as marcas podem migrar para outra caixa, havendo disponibilidade. Qualquer um pode vender na loja, não há restrições. Porém, se o público não gostar, a marca não atingirá o valor do endosso. E, esse é outro papel do espaço: laboratório de testes para os produtos. No caso de Curitiba, as marcas tiveram três meses para atingir o valor do endosso correspondente a esse período. Assim, elas puderam adequar seus produtos, remarcar preços e testar a receptividade de suas ideias. De acordo com o sócio da Endossa, Francisco Del Rio, das 145 caixas da loja, 107 já estão alugadas, três meses desde a abertura da loja. Outros dados positivos que Del Rio destaca, são que a maioria está conseguindo atingir o endosso, seja com livros, artesanato ou roupas, e que o público é bem variado, de senhoras aos considerados "alternativos".
Profissionalização
Foi através de um telefone sem fio que Yoko Hibino tomou conhecimento da Endossa. Então, começou a vender os acessórios da marca Ismália Queria, na loja da Augusta e profissionalizou-se. "Antes da Endossa minha produção era esporádica, algo para juntar grana e comprar um livro ou tênis. Hoje, a renda da Ismália está incorporada no meu orçamento mensal",
Yasmin Taketani
Yasmin Taketani
A Endossa entra com toda a infraestrutura da loja, funcionários, sacolas e um sistema online
conta. Ela ressalta a importância do empreendimento para novos criadores. "A Endossa faz o papel de uma cooperativa: junta os pequenos empresários, libera-os dos empecilhos e burocracias, mantém e administra o espaço físico de venda direto ao consumidor, dividindo os gastos", reforça. Um facilitador que não trouxe dificuldades à Ismália Queria, além de aumentar a produção para manter o estoque em dia. Apesar de facilitar a vida de novos produtores, é preciso trabalhar e crescer, pois à medida em que as vendas gerais aumentam, o valor do endosso também aumenta. A experiência obtida por Yoko na loja de São Paulo reforça este fator. "No começo, o endosso era o mesmo valor do aluguel da caixa, hoje é 1,8 vezes o valor dele",
explica. A medida faz com que todos tenham que ficar atentos com relação ao preço, qualidade e desejo do consumidor para estar sempre aumentando o volume do negócio. Raisa viu a procura por espaço crescer, em dois anos de loja. A fila de espera aumentou muito, e por isso, a gente teve que aumentar, além do valor do aluguel, o valor do endosso. Então, hoje em dia, para se manter na Endossa, da Augusta, é preciso vender muito mais do que se vendia", explica A estudante de Audiovisual em São Paulo, Luiza Miahira, de 19 anos, afirma não ter prestado atenção na loja, por pensar que se tratava de mais uma, dedicada a camisetas na rua Augusta. Porém, quando tomou conhecimento do conceito da loja, mudou de ideia: "Achei genial, é disso
que a cidade precisa. As pessoas têm que entender que não dá para fazer tudo sozinho". Luiza também aprova a “mistura” de produtos, pessoas e estilos. Para as marcas curitibanas que derem certo, a Endossa guarda uma surpresa. "Futuramente, quem tiver firmado aqui, também poderá vender lá (São Paulo)", diz Nathalia Anring. O "firmar" corresponde a três meses de endosso. Raisa Terra aluga espaços nas Endossas, e por meio da experiência própria revela o caminho para um resultado satisfatório. "Tem gente que eu já vi entrar com um produto 'x' e sair com um produto 'y', porque vai testando vários preços, embalagens e produtos, até saber o que vender e chegar a uma receita de sucesso", conta.
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Cultura
A nova
cara
Diogo Portugal é criador e curador do Risorama, que acontece todos os anos durante o Festival de Teatro de Curitiba. Em suas edições, o Risorama já reuniu uma verdadeira seleção brasileira de humor. Recentemente, Portugal lançou para todo o país, pela editora Nossa Cultura, o audiolivro “Clube da Comédia Stand-Up”, o primeiro CD de humor no estilo.
Juliana Guerra
Série Internas
brasileiro
Camila Aragão Diogo Portugal é um humorista versátil. Ele vai do stand-up comedy — a chamada comédia de cara limpa, sem figurinos ou personagens — às tradicionais esquetes, encarnando os tipos mais hilários e diferentes. Rápido, tem como forte característica a capacidade de improvisação durante as apresentações, criando a partir de situações que acabaram de acontecer, com grande presença de espírito e jogo de cintura. Já foi finalista do primeiro Prêmio Multishow do Bom Humor Brasileiro, ao lado da comediante Cláudia Rodrigues (do programa “A Diarista”). E finalista do concurso de humoristas do Fantástico, em 2005.
do humor
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profissão? Profissionalmente estou faz 15 anos. Mas fazendo “graça” desde que nasci. Qual o maior desafio, já que é necessário estar sempre inovando? É fazer com que o público sempre te ache engraçado. Que tenha vontade de ir ver mais apresentações e que sempre seja surpreendido. E que os personagens estejam cada vez mais próximos do público. De onde surgem as ideias dos personagens? Às vezes de uma voz de alguém que eu ouço, ou de um tipo engraçado que vejo por aí. Estou sempre reparando nas pessoas e em suas atitudes. Isso
faz com que o publico se identifique e acabe gostando mais do espetáculo. É você quem cria os personagens? E os textos? Sim, tanto os textos de personagens quanto os textos de stand-up são trabalhos autorais. Isso faz com que eu consiga improvisar mais na hora do espetáculo. O que você gostaria de ensinar para os iniciantes da profissão? Que a melhor piada é sempre para o final, para sair de cena bem. E nem precisa se preocupar em cumprir o tempo. O melhor é sempre deixar a plateia com gostinho de queromais.
A Série Internas está em exposição no Espaço Cultural BRDE. A exposição une desenhos de Marta Berger e poesias de Elvira Federici. Há alguns anos, as duas artistas apresentam juntas suas obras. Os desenhos de Marta retratam o universo feminino, e a artista dá mais destaque aos sentimentos transmitidos pela obra, todas feitas com bico de penas. Já as poesias de Elvira misturam a língua portuguesa com a italiana. A intenção de expor juntas é que os desenhos de Marta ilustram as poesias de Elvira. Onde: Espaço Cultural BRDE (Avenida João Gualberto, 570 Alto da Glória) Quando: De segunda a sexta, das 12h30 às 18h30 Quanto: Entrada gratuita
Carlos Bracher – Um Resistente da Pintura As obras do mineiro Carlos Bracher estão em exposição no Museu Oscar Niemeyer. Ao todo são 79 obras que ficarão em Curitiba até o dia 3 de outubro. A exposição mostra todas as fases e temáticas do pintor, além de pinturas feitas inspiradas em Van Gogh. O artista, com mais de 50 anos de carreira, é considerado um “resistente da pintura”, pois passou pelos anos de declínio da pintura sem aderir a nenhum movimento de vanguarda, que proponha novas técnicas; pelo contrário, Bracher permaneceu fiel ao uso da tela e dos pincéis. Divulgação
Você sempre quis trabalhar com humor? Não. Na verdade eu queria ser músico, mas não tinha talento. Tentei trabalhar um pouco com publicidade, mas também não deu muito certo e, com 25 anos, comecei meus primeiros trabalhos como humorista. Há quanto tempo está na
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Com um vasto repertório sobre os mais variados temas, Diogo Portugal tem arrancado gargalhadas e interagido com as mais diversas plateias por todo Brasil. Veja a seguir os principais trechos de entrevista concedida por ele ao LONA.
Onde: Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999, Centro Cívico) Quando: Terça a domingo, das 10h às 18h Quanto: R$ 4