LONA Educação e Saúde - Especial Eleições 2018 - Edição 1005

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LONA

Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup Laboratório da Notícia - issuu.com/lonaup Edição 1005 | Especial – Eleições 2018

eleicoes2018.redeteia.com #JornalismoUP

Educação e Saúde


LONA

EXPEDIENTE Presidência da Divisão de Ensino do Grupo Positivo Paulo Cunha

Reitoria José Pio Martins

Pró-reitoria Acadêmica Carlos Longo

Direção da Área de Ciências Sociais e Humanas Aplicadas Roberto Di Benedetto Coordenação dos curso de Jornalismo e Fotografia Maria Zaclis Veiga Ferreira

Professores-orientadores Hendryo André Felipe Harmata Marinho Katia Brembatti Editores-chefes Lucas Vasconcelos Fernanda Scholze

Equipe de reportagem Eduardo dos Santos, Gabriel Coelho, Giovanna Covalski, José Renaldo, Luiz Felipe Carvalo, Maria Eduarda Antunes, Mayara Sprenger, Milena Campos, Pedro Pinheiro, Vinicius Gonçalves

O lona é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O veículo integra a Rede Teia de Jornalismo. Acompanhe o curso de jornalismo pelas redes sociais. Caso tenha dúvidas sobre o curso, entre em contato.

https://eleicoes2018.redeteia.com facebook.com/RedeTeia youtube.com/TelaUN1 www.mixcloud.com/RedeTeia/

Editorial

E

sta é a segunda edição do LONA da série sobre eleições 2018, que aborda temas como as influências e ideologias; saúde; segurança; educação; hereditarismo e o contexto de produção e circulação das fake news dentro do âmbito político. Cada edição do LONA publicada durante esta semana decisiva para o rumo do país nos próximos anos pretende se aprofundar nos principais temas relacionados à temática. As edições, produzidas pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Positivo, têm como objetivo ser um guia para o eleitor, fazer com que compreendam e lembrem o quão importante é o seu papel, mas sem resumir essa ideia exclusivamente aos anos eleitorais. Além disso, como missão da equipe que assumiu o desafio de tornar o jornal útil ao processo eleitoral, buscou-se também responder a dúvidas relacionadas ao mundo político. Essa segunda edição do LONA traz como tema educação e saúde, contan-

do com matérias que abordam e explicam as diversas formas de como esses assuntos são abordados no âmbito político. O LONA Educação e Saúde contém reportagens que demonstram a representação no dia a dia desse conteúdo, mostrando desde manifestações que buscam mudanças nesses setores até projetos existentes para a melhoria da saúde, segurança e educação. Aqui você saberá o que pensam alguns eleitores sobre essas áreas, iniciativas sobre a saúde mental, educação inclusiva e vários outros assuntos. Você terá um guia através das matérias sobre essas grandes duas temáticas. Em um momento no qual há uma grande polarização política no país, instigada especialmente pela descrença nas instituições – inclusive, o jornalismo –, a equipe do LONA busca reiterar o compromisso social do jornalismo para o esclarecimento. A próxima edição do jornal será sobre as famílias que compõe a política estadual e federal. Além disso, será feita uma edição no dia das eleições. Boa leitura!

jornalismo@up.edu.br

O jornalismo e a educação Em tempos em que as emoções parecem valer mais que os fatos concretos é fundamental que o LONA discuta as relações entre a educação e as eleições. É por meio da educação que desenvolvemos senso crítico para podermos debater e discutir sobre os assuntos que chegam até a gente. É preciso ponderação para analisar e refletir sobre a grande quantidade de informações que chegam em forma quase que de bombardeio por todas as mídias possíveis. Para a produção desta edição os alunos primeiro fizeram reuniões de pauta em sala para definir o que era importante discutir sobre a temática. Mas a parte fundamental foi ir às ruas, para sentir e ver de perto o que e como as pessoas pensam. Não é à toa que a capa da edição é, justamente, formada por pessoas, nas ruas, mostrando o que consideram fundamental para ser melhorado no país.

Felipe Harmata Marinho, professor dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Design da UP.

Hey! Como foi participar do LONA? “Eu sempre digo que não fui eu quem escolhi o jornalismo, mas sim o jornalismo quem me escolheu e quando eu vejo e faço essas práticas jornalísticas, logo percebo a melhor decisão que já me aconteceu”. Milena Campos Ferreira “Isso tudo é algo bastante satisfatório, ver que todo seu esforço foi recompensado e que assim mais gente poderá ver.” Giovanna Covalski “Escrever para o LONA foi uma experiência incentivadora e que me proporcionou ótimos resultados, pois adquiri um pouco de experiência em minha área, mergulhando fundo na apuração e na construção do texto da matéria.” Mayara Sprenger


04 PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

se mostram descrentes com as eleições de 2018

06 29 DE ABRIL DE 2015:

CONFRONTO entre professores e policiais no centro de Curitiba entra para a história nas discussões sobre Educação

08 COMO O ESTADO

PODE PROMOVER a saúde emocional aos cidadãos?

10 RELEMBRE CASOS CONTRA A

SAÚDE pública no Paraná

Agenda1

No próximo domingo (7), a Rede Teia de Jornalismo fará a tradicional cobertura das eleições. Os trabalhos iniciam antes de as seções eleitorais abrirem. Nossos repórteres, do primeiro ao quarto ano, estarão espalhados por Curitiba, Região Metropolitana e outras regiões para trazer, em primeira mão, as principais informações do dia da eleição. A cobertura acontecerá pela Rádio Teia, pelo hotsite especial criado para as eleições, pela TV Teia. Além disso, no domingo à noite, você terá uma edição especial do LONA com toda a repercussão do pleito. Vem com a gente!

05 POLÍTICAS INCLUSIVAS GERAM crescimento nas matrículas de alunos com deficiência em escolas comuns do ensino básico

07 A VOZ DO POVO

Conheça as prioridades dos eleitores curitibanos

09 O QUE PENSA A POPULAÇÃO

SOBRE o Sistema Único de Saúde no Paraná?


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LONA - Edição 1005

Educação

Profissionais da educação se mostram descrentes com as eleições de 2018 Em época de eleições, educação não é levada a sério, segundo professores de colégio estadual em Curitiba

Eduardo Henrique dos Santos

A

s eleições de 2018 reduzem as expectativas dos professores em relação ao futuro da educação no Estado. Os professores e demais profissionais da educação no Paraná possuem junto aos constantes movimentos sociais, um histórico de lutas e reivindicações de melhorias nas condições de ensino. Em época de pré-eleição, a apreensão em torno das propostas dos candidatos, de acordo com as verbas e políticas educacionais, é discutida entre os profissionais de educação que temem pela incerteza e a falta de perspectiva gerada pelo cenário político conturbado que passamos atualmente. A professora Mônica Almeida, que leciona no Colégio Estadual Eurides Brandão na Cidade Industrial, em Curitiba, acredita que a tendência é piorar. Segundo suas próprias palavras, não há perspectiva para as eleições de 2018, não há candidatos que possuam um real interesse em levar adiante sugestões relacionadas à educação, da maneira como elas merecem ser discutidas. Ainda segundo a educadora, um dos maiores problemas enfrentados tanto pelos alunos como pelos professores é a falta de materiais básicos para estudo e a infraestrutura adequada para as aulas. Falta cartolina, papel almaço, livros didáticos e uma base auto-suficiente para aqueles que usufruem da estrutura do colégio, diz a professora ao reivindicar as dificuldades em dar aula em situações precárias. “Há colégios que possuem estrutura bem melhor que esse, mas há também escolas que lecionei em que nem porta tem na sala”, conta Mônica. Segundo a professora, o reajuste na inflação também preocupa os educadores, pois é confundido por muitos como aumento de salário, quando, no caso, representa apenas a correção no salário desses profissionais. Investir em tecnologia nas salas de aula se faz necessário, através da disponibilidade e dos atrativos oferecidos pelo colégio, de acordo o

Professor de Inglês Marlon Costa – Os alunos são bem visuais e precisam trabalhar com equipamentos cujo funcionamento não esteja comprometido. Para que o aprendizado dos estudantes não seja prejudicado, é necessário que eles estejam no mesmo nível que os demais alunos de outros colégios do Estado. “O aluno da escola pública não é valorizado, ele não tem uma base quando chega ao Ensino Médio, o Estado exigi muito do estudante”, diz o professor. O Colégio Estadual Eurides Brandão, receberá em breve um novo sistema de chamada virtual (CRO), ainda inédito, que conta com uma estrutura on-line de informações referentes ao desempenho acadêmico e faltas dos alunos, contando com toda uma informatização e cadastro com login e senha também. Além desse sistema virtual de presença, catracas roletas de acesso estão sendo implementadas na entrada do colégio para reforçar a

segurança e identificação dos alunos. A Superlotação A superlotação de alunos foi levantada pelos professores como um dos problemas menos decorrentes enfrentados na rotina escolar. “Já cheguei a pegar sala com 40 alunos, com espaço para 30, quando dei aula em outro bairro”, conta a educadora Célia Regina Cardoso, quando lecionou no Colégio Estadual Protásio de Carvalho, na CIC. Segundo dados do INEP, em 2016, o número médio de alunos por turma, levando em consideração todas as dependências administrativas - estadual, municipal, pública e privada, mostra uma tendência no aumento de alunos por sala ao decorrer das etapas de ensino. De acordo com a Célia, a valorização dos profissionais da educação e o reconhecimento dessa categoria é a solução para se criar um ambiente educacional com mais qualidade, reconhecendo as propostas mais relevantes de cada candidato, a dimensão certa e adequada ao momento


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Curitiba, 2 de outubro de 2018

Educação

Políticas inclusivas geram crescimento nas matrículas de alunos com deficiência em escolas comuns do ensino básico Segundo o Censo Escolar 2017, a participação de profissionais especializados se manteve constante dentro das salas de aula José Renaldo e Milena Campos

O

percentual de alunos com algum tipo de deficiência no Brasil, matriculados em salas comuns do ensino básico, passou de 85% para 90%, desde 2013. Junto desse crescimento está a participação de profissionais responsáveis pelo atendimento educacional especializado (AEE), que atuam em 50% das classes com crianças portadoras de alguma necessidade especial. Olhando para a mudança dos dados que o Censo Escolar 2017 trouxe, eles apontam para o objetivo central que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEI), adotado desde 2008. Por meio da integração à proposta pedagógica da escola regular, essa política estabelece a eliminação de barreiras, a fim de promover maior participação de alunos que necessitam de complementação ou suplementação escolar no convívio estudantil. O sistema de ensino básico brasileiro é composto de etapas educacionais, – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio – das quais a educação infantil (creches e pré-escolas) teve o maior salto nas matrículas de alunos identificados como público-alvo da educação especial (deficiências físicas, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades). Em comparação com os anos anteriores, em 2017 foram compartilhadas 15% a mais salas de aula comuns. “Precisa existir melhorias na parte objetiva do trabalho na escola. É preciso que haja uma redução de alunos nas salas de aula, pois, se um aluno tem deficiência ele necessariamente precisa de um atendimento mais

diferenciado, com uma sala lotada não é possível fazer isso”, diz a pedagoga, Cristhyane Haddad. E complementa, “também é preciso um professor tutor em alguns casos, em que possa estar ali junto com a criança, e nessa nova gestão é necessário que exista um investimento na formação do professor”. Ao receber matrículas de alunos que necessitam de uma atenção especial, as escolas do estado não garantem a diminuição da desigualdade e exclusão, mas trabalham para tentar fazer do ambiente escolar um espaço mais humanizado. Estatuto da Pessoa com Deficiência Em 2015 o ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), homologou a lei 18.419 que determina o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esta política estadual foi criada para aumentar a inclusão social, de forma que assegura uma cidadania plena a todas as pessoas portadoras de alguma deficiência. Ao todo, este estatuto tem 277 artigos. O texto foi formulado a partir da participação de instituições, familiares e pessoas com deficiência. Ele aborda as mais diversas áreas: acessibilidade, assistência social, educação, trabalho, saúde, entre outros. “Minha filha Camila, com 22, anos hoje, tem meningite desde os seus quatro meses de vida. Vai todo dia para escola e não consegue absorver e desenvolver nada, nem a letra A reconhece. Ela estudava em uma escola pública, estava aprendendo algumas coisas, porém, com a doença piorando, ela regrediu. Disseram que seria melhor uma

Foto: Milena Campos/LONA

Neide Shoti preparando a sua filha Camila que tem meningite para ir a escola. escola especial para ela e não uma normal”, relata a mãe, Neide Shoti. Modalidades do AEE O atendimento educacional especializado conta com duas diferentes atuações. De acordo com as necessidades de cada aluno, pode ser feito de maneira suplementar ou complementar. De modo que não é permitido, de acordo com a PNEEI, a forma substitutiva (troca do professor comum por um profissional de AEE). Atendimento suplementar: visa auxiliar a aprendizagem daqueles estudantes com altas habilidades/superdotação, promovendo o desenvolvimento nas áreas que o aluno tem maior interesse, facilidade e habilidade. Atendimento complementar: complementa a formação dos estudantes com alguma deficiência visual, física, intelectual, auditiva e/ ou com transtorno do espectro autista (TEA), trabalhando com recursos que ajudem o aluno a superar os impedimentos que a aprendizagem da classe comum os impõe.


Foto: Pedro Pinheiro e Vinicius Gonçalves

29 de abril de 2015: confronto entre professores e policiais no Centro de Curitiba entra para a história nas discussões sobre educação Votação sobre mudança no Paraná Previdência na ALEP afeta os servidores públicos do Paraná e deixa mais de 200 feridos Pedro Pinheiro e Vinicius Gonçalves

A

ssim como o suicídio de Getúlio Vargas, o 29 de abril de 2015 foi uma data que entrou para a história do país. Nessa data, mais de 5 mil professores do estado do Paraná, se reuniram na Praça Nossa Senhora de Salete, Centro Cívico, para tentar através de seus direitos, mudar a votação que estava acontecendo dentro da ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná). A Assembleia aprovou por 31 votos a 20 o confisco da poupança previdenciária dos servidores (que por conceito são as alterações no custeio do Regime Próprio da Previdência Social dos servidores do Paraná). A principal mudança que gerou o protesto, a partir do governo Beto Richa em 2015, foi com relação aos fundos de garantia que a Paraná Previdência dispunha. Em entrevista concedida ao portal UOL, o idealizador dessa instituição, Renato Follador, deixa claro que a criação da Paraná

Previdência é o equilíbrio financeiro e econômico para o Estado. Isso se dá pelo objetivo da lei que foi aprovada, que estava querendo aumentar o custo previdenciário de cada servidor do Estado, e mais, passar a responsabilidade de custear a aposentadoria de mais de 33 mil aposentados e pensionistas, a fim de estabilizar os gastos do governo. Isso está relacionado à previdência em âmbito nacional, que de acordo com o Ministério da Fazenda, a reforma da Previdência reduz a desigualdade, e impõe que, nessas palavras: “A proposta de reforma da Previdência elimina diversas regras especiais, que favorecem servidores públicos de alta renda, políticos e magistrados”. Ainda apresenta dados como a porcentagem dos benefícios do RGPS (Regime Geral de Previdência Social) que já está em 60% que tem o valor de um salário mínimo, sendo que não haverá diminuição no valor pago para estes que se beneficiam, isso significa que o mesmo valor recebido na aposentadoria será recebido na ativa. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, em 2015 mais de 200 professores ficaram feridos no confronto no Centro Cívico, sendo encaminhados a hospitais

e a prefeitura foi transformada num hospital de primeiros socorros. O ex-governador Beto Richa (PSDB), responsável na época, autorizou a Polícia Militar a “ir para cima” dos manifestantes. Professores e servidores sofreram diversas formas de violência: balas de borracha, gás lacrimogênio, cassetetes, bombas lançadas de helicópteros, dentre outros. Adriana Albano, 48, é formada em Letras pela PUCPR e estava lá no dia 29 de abril de 2015. “Foi uma das piores sensações que eu senti na minha vida. Foi horrível o modo como nos trataram”, conta ainda que as imagens estão todas bem vivas na sua mente. “Lembro como se fosse ontem. Fui socorrida logo depois que lançaram as bombas lacrimogênias. Lembro de sentir meus olhos ardendo e logo em seguida desmaiei. ” Ela disse que esse dia para ela foi um marco em sua vida. “Acho que não só para mim, mas para todo o Brasil, foi um dia que vai ficar na história”. Foi um marco que vai ficar para a história, não só do Paraná, mas do país. A liberdade de expressão é assegurada pela Lei Constitucional nº 1/92 de 25-11-1992, no artigo 37, mas esse foi só mais um dos casos em que ela não foi exercida.


Curitiba, 2 de outubro de 2018

A VOZ DO POVO

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Entre as principais reinvidicações dos curitbanos estão a melhoria da saúde, educação e segurança José Renaldo e Milena Campos

Luiz Dranka

Este ano de 2018 será marcado pelas eleições. Novas escolhas para presidente, senadores, governadores, deputados federais e estaduais terão o desafio de lidar com os grandes temas do país, educação, saúde e segurança. Mas os eleitores curitibanos têm suas prioridades projetadas para esta nova gestão que permanecerá por quatro anos. Para tentar entender um pouco do que pensam as pessoas, a equipe do LONA foi a rua ouviu a opinião da população. Sonia Trindade

“Eu acredito que a prioridade é a educação. Como estudante de psicologia, acredito que ela está incluída em todos os outros temas, sem que seja mais importante que eles. Através do estágio que faço em uma escola, percebo queixas relacionadas a problemas educacionais que interferem na saúde e na segurança, pois muitos dos alunos não têm conhecimento de seus direitos”. Catarina Bertulio

Márcio Marins

“Como integrante do movimento LGBT, a princípio considero segurança, educação e saúde fundamentais, mas em uma escala de prioridade eu colocaria no topo a segurança pública. Para exemplificar, no ano de 2017 nós tivemos um aumento de mais de 30% nos homicídios de LGBTs. Com esse novo período de eleições, os candidatos devem ter compromisso e que nos deem margem para cobrá-los na área de segurança pública. Então, creio que a segurança é o ‘calcanhar de Aquiles’ da nossa sociedade.” Antônio Pereira

“Eu penso que precisa de mudança na saúde, pois os postos não têm médicos, não têm remédios, porque vamos nos consultar e não têm nada. O remédio precisa comprar e o pobre não tem dinheiro, principalmente com a crise que está. Eu tenho 78 anos e vivo à base de remédio. Tenho que trabalhar vendendo minhas coisas, porque se eu esperar pelos postos, eu vou morrer; eu agendei consulta para mim três meses atrás, estava quase morrendo e não tinha médico, fui conseguir marcar algo agora no mês de maio. A população está sofrendo”.

“Prioridade para mim é saúde e educação, porque são duas questões que constroem a base da sociedade. Saúde pela questão de que está acontecendo um monopólio alopático no SUS, e educação porque as crianças são moldadas muito ao sistema, e principalmente agora onde não se pode mais abordar filosofia, religiões, entre outros assuntos em que não deixa criar opinião”.

“O problema principal é a segurança, porque não existe, principalmente nas fronteiras. Elas estão abertas, desprotegidas. Está na hora da população e, principalmente, o governo enxergarem isso, a situação de completo abandono”.


Curitiba, 2 de outubro de 2018

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Saúde

Como o estado pode promover a saúde emocional aos cidadãos? Segundo a Organização Mundial da Saúde, a ansiedade e a depressão podem afetar diretamente na capacidade de trabalho e produtividade das pessoas Maria Eduarda Antunes

T

er equilíbrio emocional e lidar com as emoções são desafios daqueles que estão imersos a uma rotina de trabalho, trânsito, rotina acadêmica e familiar. Esses fatores atuam diretamente na saúde física, nos pensamentos, ações e na personalidade das pessoas. Sabendo disso, a produtora Carina Oliveira, de 33 anos, foge da sua rotina de trabalho para dispor uma hora do seu tempo para praticar yoga. “Como eu sou produtora existe muito estresse do trabalho. Conheci o projeto Yoga no Parque e achei interessante, você pelo menos no final de semana se transforma em outra pessoa”, conta Carina. A produtora acredita que mais projetos gratuitos como o Yoga no Parque deveriam ser promovidos no estado. “O Paraná, em especial Curitiba, é um lugar maravilhoso pelos parques e pela tranquilidade. Quanto mais projetos deste tipo com incentivo do governo e da prefeitura melhor para todos”, comenta ela. Para a psicóloga e palestrante, Éllen Martins, promover saúde emocional é tão importante quanto promover qualquer outra campanha de saúde. Cita como exemplo a campanha de combate à dengue. “Hoje todo mundo sabe o que é a dengue, todos sabem como prevenir o desenvolvimento do mosquito, até sabem as fases da larva e os sintomas. Mas por qu? Nós nascemos

Fotos: Maria Eduarda Antunes

sabendo sobre isso? Não! Nós sabemos disso por conta das campanhas de prevenção. E não é algo invasivo, é assertivo”. “Nós precisamos ter informação e não temos. Nós perdemos os limites de nossas emoções por falta de conhecimento”, diz Éllen sobre a importância do conhecimento das emoções. A psicóloga, que já deu palestras sobre saúde emocional no Detran, acredita que o investimento em campanhas que promovam conhecimento sobre as emoções possibilita às pessoas formas para aprenderem a lidar com elas. “Acredito que outdoors e flyers que falam como prevenir, quais são os sintomas, quais são os sinais, maneiras de como ajudar quem está em situação de sofrimento emocional, faz com que a gente saiba quais emoções são normais e quais são patológicas”, comenta a psicóloga. A psicóloga que trabalha em cima da saúde emocional e da prevenção ao suicídio comenta que é necessário falar sobre as emoções e como elas interferem no dia a dia. “Para cada pessoa pode entrar num contexto diferente. Se por exemplo, eu sou uma pessoa que me exijo muito de cobrança, no trabalho eu vou ter dificuldades. Se tenho dificuldades em criar feição ou demonstrar afeto, vou ter problemas de re-

lacionamento. Se eu tenho dificuldades em dizer não, logo vou ter problemas no meu trabalho, no meu relacionamento, sendo filha, sendo mãe”, diz Éllen. A médica Maristela da Costa Sousa, que atualmente trabalha na Rede de Saúde Mental, comenta que a Secretaria de Saúde também atua na prevenção de sofrimento emocional. “A Secretaria da Saúde tem esse olhar quando são promovidas ações públicas que chamamos de psicoeducação”, comenta Maristela. A médica explica que a saúde é municipalizada e que por isso cada município é responsável pela própria gestão de saúde. “Para que cada município crie pontos de atenção recomendados e instituídos pela política de saúde mental do Ministério da Saúde, é preciso haver vontade política e reconhecimento sobre a importância dessas ações vindo do secretário municipal da saúde”, explica Maristela. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão e mais de 260 milhões têm algum transtorno de ansiedade. E estima-se que a ansiedade e depressão podem acarretar prejuízo de 1 trilhão de dólares por ano na economia global.


Curitiba, 2 de outubro de 2018

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O que a pensa a população sobre o

Sistema Único de Saúde no Paraná? A equipe de reportagem do LONA foi aos postos de saúde de todo o Paraná para ver o que as pessoas pensam sobre a situação da saúde pública. Mayara Sprenger e Giovanna Covalski

D

entre as maiores reclamações da população, está a falta de médicos, medicamentos e até leitos, a má qualidade no atendimento e as péssimas estruturas dos postos. Foi constatado que o verdadeiro problema está na Emergência. A questão é o tempo de espera no atendimento, que pode levar horas na fila de espera. Isso se dá por conta desses problemas frequentes dos postos de saúde. Mediante a este problema, o CFM (Conselho Federal de Medicina) estabeleceu em 2014 que o prazo máximo de espera na fila da emergência é de duas horas, sendo que os pacientes que chegam devem passar pela classificação de risco, que se dá em cinco níveis. O chamado Sistema Manchester de Classificação de Risco na Urgência e Emergência, adotado pela rede municipal de saúde, consiste em um sistema de cores, em que a cor vermelha significa emergente (risco imediato à vida), até a cor azul, que não é urgente. Porém, foi observado que não há o cumprimento do prazo máximo de duas horas na fila de espera, em diversos lugares. E, apesar de Curitiba se destacar na área de saúde, ainda existem muitos problemas e reclamações, e que a situação dos postos em outros lugares do Estado, são muito inferiores e, às vezes, até precários. Para esta reportagem, foram entrevistados paranaenses que elegeram pontos negativos e outros positivos a respeito dos postos de saúde onde moram, entre elas: Curitiba, Agudos do Sul, Rio Branco do Sul, Paranaguá, Mandirituba, Piên e Tijucas do Sul. A pediatra dr. Eliana Moraes, que já trabalhou em postos de saúde e hoje é aposentada, diz que os problemas que a população enfrenta são por causa da má formação de profissionais da área de saúde. “Claro que o governo também tem culpa”, diz. A Técnica em Enfermagem Thalita Gonçalves de Souza, conta como é trabalhar em postos de saúde. “Aqui é tudo muito bem estruturado. Apesar de poucos funcionários, nunca recebemos reclamações, o atendimento é sempre bem rápido”, mas Thalita não tem a mesma opinião para outro posto de saúde em que trabalha. “Santa Amélia, no Fazendinha, é bem grande a UBS, dois andares muito bem estruturados, só que têm muitos funcionários no período da manhã são muito estúpidos com os pacientes. Tem enfermeiras que

ficam uns 45 minutos tomando café e deixam todos esperando”. No bairro Pinheirinho, Eloisa Carvalho conta que até mesmo em Curitiba as condições não estão boas: “aqui no posto do Pinherinho, o atendimento é bem precário. Levamos no mínimo três horas para sermos atendidos. A fila do atendimento é gigante e há falta de higienização e simpatia. É raro encontrar alguém que trate a gente bem. Precisa de manutenção também.” Ainda em Curitiba, no Campina do Siqueira, Cristiane Prestes fala o contrário: “aqui temos um posto muito bom e com profissionais capacitados, temos sorte por isso. Sem filas, a limpeza está em dia; eu e minha família fomos muito bem atendidos aqui.” De acordo com Governo Federal, Curitiba é a cidade paranaense que ocupa o segundo lugar no ranging da qualidade da saúde publica do país. Região Metropolitana Segundo a funcionária da Prefeitura de Rio Branco do Sul Maeli Ramos, o posto de saúde Vila São Pedro possui diversos pontos negativos. “Há uma grande falta de médicos no local, sendo que os que restaram em geral são os médicos trazidos de Cuba.O posto atende em média 30 pessoas por dia, o que é um número muito baixo. E muitas dessas pessoas só vão neste posto pois são clientes particulares de certos médicos.” Em Agudos do Sul, Nathally Zollner e Fabiola Tracz têm opiniões diferentes referentes ao mesmo posto de saúde, “Nesse último ano confesso que não tenho reclamações, os médicos estão dando as devidas atenções e tirando a demora que é relevante pelo atendimento dado dentro do consultório e pelo número de pacientes atendidos”, diz Nathally. Fabiola discorda: “fui com meu pai marcar uns exames. Dos três exames que meu pai precisava fazer, somente um foi possível marcar. E na farmácia do posto não tem todos os

remédios que são receitados. Geralmente, nós temos que comprar em outro lugar, e muitos destes remédios são aqueles que deveriam vir de graça para todos”. Em Piên, Suelen Aparecida conta que há um posto de saúde em quase todos os bairros, mas as condições destes são precárias: está faltando médicos; pessoas chegam correndo, muitas vezes com urgência e se deparam com postos sem médicos para atender quando é necessário, faltando até enfermeiras, e quando atendem, não dão atenção alguma para o que estão fazendo”, relata Suelen. “As condições estão bem complicadas e cada dia estão ficando piores, falta pessoal capacitado para atender a população!”, completa. Em Tijucas do Sul, Letícia Dranka conta que já passou por situações em que preferiu viajar para ser atendida em um posto com mais higiene. “Aqui a situação é bem delicada pela higiene, se não fosse isso seria muito bom, os médicos são rápidos e tomam todas as medidas possíveis para nos ajudar”, diz Letícia. “A situação que ocorre aqui é que os banheiros são sujos, as enfermeira saem do posto de jaleco para fumar, voltam fedendo fumaça e nem se dão trabalho de lavar a mão, muitas nem luvas usam, os jalecos ficam até amarelados.”


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Saúde

Relembre casos de escândalo contra a saúde pública no Paraná Crimes se caracterizam por desvio de recursos, funcionários fantasmas e negligências dos gestores Gabriel Coelho e Luiz Felipe Carvalho

ca de R$ 30 mil por mês. Além disso, quando ele comparecia ao trabalho, cobrava um valor duplicado pelas consultas. Outro exemplo de escândalo contra a saúde pública foi o que aconteceu no Hospital Regional dos Campos Gerais, quando um estagiário foi acusado de desviar equipamentos hospitalares e vendê-los. Além do suspeito, mais duas pessoas (um era o dono de uma empresa que comprava os equipamentos e outro era o administrador deste mesmo local) foram apontados como cúmplices da ação. O estagiário teria furtado, no total, dez equipamentos, entre eles dois desfibriladores. O reflexo do descaso de gestores contra a saúde se dá no exemplo do Hospital Evangélico. A unidade pode fechar por falta de dinheiro, a dívida chega a R$ 400 milhões e

Rodrigo Juste Duarte

E

m ano eleitoral, uma das principais pautas levadas pelos eleitores até os candidatos é a saúde pública. Não é novidade que o sistema de saúde pública do país é falho e não consegue cumprir o que promete para grande parte da população. Nesta reportagem serão relembrados alguns dos grandes escândalos contra a saúde que foram noticiados pela imprensa entre 2015 e 2018. A maior recorrência de crime nesta área é de desvio de recursos, mas também acontecem casos de funcionários fantasmas, como aconteceu no Hospital de Clínicas (HC) do Paraná em 2015. Na época, durante uma auditoria da CGU (Controladoria Geral da União) foi verificado que no HC havia um pequeno número de consultas marcadas para um grande número de médicos, levantando assim as primeiras suspeitas, tendo em vista a baixa produtividade apresentada por estes médicos. Com isto, começou uma investigação que apontou os dez suspeitos com as evidências mais fortes de estarem cometendo o crime. Foi descoberto que alguns deles fraudavam as folhas-ponto, outros chegavam a ir até o hospital, mas ficavam pouco tempo e iam até suas clínicas particulares para trabalhar. Este caso afetou diretamente o Hospital de Clínicas e o seu funcionamento, já que muitos pacientes procuravam consultas e não conseguiam por conta de que os médicos mal atendiam na unidade. Em 2017, um caso parecido aconteceu em Tomazina, quando um médico do Hospital São Vicente de Paulo foi acusado de receber e não comparecer ao trabalho. Ele recebia cer-

o local está sobre intervenção da Justiça do Trabalho, tudo isso em virtude de dívidas trabalhistas. Para tentar resolver este problema, um leilão estava marcado para 4 de maio, mas foi suspenso, e ainda não têm uma data definida para acontecer. Este adiantamento levou o interventor Ladislau Zavadil Neto a levar um documento até a justiça. Nele, Ladislau declarava que a SESA (Secretaria de Saúde) deixava de repassar R$ 400 mil mensais para o Evangélico desde Janeiro Na época, a governadora Cida Borghetti disse que a possibilidade de o hospital fechar as portas não existia, e que o pagamento referente a maio seria feito até o dia 15 do mesmo mês. O Hospital das Clínicas, gerido pela UFPR, é o maior do estado e realiza mais de 30 mil consultas por mês


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