FADAS
JOSUÉ DANTAS
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FADAS 1ª EDIÇÃO
RIO DE JANEIRO 2017
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PRÓLOGO.
U
ma fada solar adulta andava pela floresta – roupas delicadas e finas, pele translúcida sob o sol – carregando, em seu colo, um bebê. Uma criança recém-nascida de aparência angelical. Sem nome, mas
com o destino selado. Embora tivesse se certificado, ao longo do caminho até ali, de que não havia mais ninguém por perto, ainda tinha a sensação agonizante de ser observada. Tanto silêncio era perturbador. Parada diante de uma enorme poça de lama, olhou para além das montanhas, avistando as terras lunares, fazendo-a se lembrar de seu passado proibido. Transformou aquele líquido amarronzado em água límpida, cristalina. E, suspirando com pesar, seu coração e memória repletos de lembranças, mas sabendo que aquela era a única alternativa, mergulhou. *** Sob a luz das estrelas, sentiu a areia cedendo debaixo de seus pés. O mar agitado refletia a lua prateada em suas ondas negras na noite fria. O vento levava seus cabelos e eriçava seus pelos. A criança
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resmungou em seus braços e ela apertou em seu abraço, aninhando-a carinhosamente. Caminhou em passos hesitantes, indagando-se aonde seus desejos e anseios poderiam tê-la levado através da fenda, quando chegou a uma rua pouco movimentada. Com bares e restaurantes. Algumas fileiras de carros estacionadas perto das calçadas e uma música baixinha. Notou, então, refletida no vidro de uma lanchonete meio abarrotada de rostos muito jovens, que sua aparência mudara completamente. Era uma senhora maltrapilha, segurando um bebê enrolado numa manta amarelada. Uma garota de cabelos quase castanhos, virou a esquina, procurando, irritada, por algo que não conseguia encontrar dentro de sua bolsa. A fada olhou para a garota aliviada e abraçou-a com um braço só. Deixando-a um pouco assustada. A garota tentou falar, mas a fada a interrompeu. Entregandolhe a criança. Segurou o bebê meio sem jeito e sem reação, ouvindo ao apelo desesperado daquela senhora maltrapilha. — De quem é essa criança? — perguntou a garota. — Ela é... — a fada deu uma pausa — minha filha. A jovem também não era daquele mundo. Era um ser mítico, uma fada. Mas que não conseguia entender o que estava acontecendo até conseguir reconhecer sua semelhante.
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— Ana — continuou a outra fada disfarçada— preciso que coloque essa criança em um lugar seguro. — Do que está falando? — perguntou Ana assustada. — E preciso que apague essa memória. — continuou, sem responder a pergunta — A ideia de que um dia abandonei minha filha. — Não pode fazer isso. — disse Ana — Ela seria perfeita para você, ainda mais depois... — ela mesma se interrompeu. — Depois da morte da Amanda — completou a fada — Sei disso, mas não posso cuidar dela. E também não posso viver com o fato de que a abandonei... Ana Beatriz — chamou a fada — você fez muito por mim. Quero que termine logo isso e que voltemos para nossas vidas normalmente. — ela ia de um lado a outro, aflita – E ande logo! A lua está me trazendo lembranças, as quais não quero recordar. Há meses que não a via. — finalizou, referindo-se a lua. — Não podemos fazer magia à noite. — disse Ana, lembrando-a do fato de ambas serem fadas solares e somente poderem usar seus poderes durante o dia — Mas trouxe isso do nosso mundo — disse ela tirando um frasco de uma poção verde esmeralda do bolso — vai ajudar. Ana entregou a poção a ela e disse: — Tome e pense naquilo que deseja esquecer — disse Ana — assim o pensamento será arrancado de sua mente.
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A fada sentiu um pequeno peso naquele frasco, apesar do próprio não ser maior do que uma maçã. — Não quer nem ao menos dar um nome a ela? — tentou Bia. Ao olhar para o rosto da filha e acariciar seu belo rostinho com o polegar, um nome lhe veio à mente. — Alice. — disse a fada — O nome dela é Alice. Bia segurava a criança no colo. Ao perceber que a mãe estava se afastando, o bebê começou a chorar. Apesar de suas dúvidas, Bia sabia exatamente aonde levar Alice. Um lugar onde ela estaria cercada de outras crianças que, da mesma forma que ela, também foram abandonadas por seus pais. Bia deu alguns passos fazendo o caminho de volta e ao olhar para trás percebeu que a mãe da criança ainda permanecia lá, parada. Com esperança de que ela ainda voltasse e abraçasse sua filha, Bia suspirou fundo e até pensou, por um momento, que ela jogaria fora aquela poção e mudaria de ideia. Mas sua esperança se desfez quando, engolindo o frasco, a outra fada disfarçada desapareceu diante de seus olhos.
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