Artur H S Gomes RELATOS ROMÂNTICOS
RELATOS ROMÂNTICOS – ARTUR H S GOMES Copyright 2018 by Artur Hedinilson da Silva Gomes e Quimera Produções Literárias
1ª edição – Quimera Produções Literárias Todos os direitos reservados
Editor responsável: Marianna Roman Arte de capa: Thainá de Paula Capa: Marianna Roman Revisão: Marianna Roman
MEU PRIMEIRO AMOR
M
esmo com meus 16 anos, já me sentia uma cientista sobre assuntos relacionados a amor e paixão. Queria entender por que sempre havia sido um fracasso nos relacionamentos. Me sentia solitária e inadequada. Insegura. Sou romântica, mas afinal, não somos todos? É o sonho de qualquer pessoa viver um grande amor e os filmes, as músicas de nossa cultura idolatram o viver apaixonado, o esquecer-se de si e se entregar ao outro. Normalmente carregados por uma história dramática, o cinema como as belas canções românticas exploram uma fantasia, quase infantil, das emoções e uma falsa noção de realidade. Parecem que querem esmagar nossa autoestima. Cresci vendo personagens que esquecem de si mesmos para viver em função de outra pessoa.
O símbolo de amor perfeito e profundo de nossa sociedade é a famosa história de Romeu e Julieta, onde ambos renunciam à vida e se suicidam em nome do amor. Músicas com “Não consigo viver sem você”, “E a você é razão de minha letras como existência”, são comuns e a mensagem é clara: se apaixonar é encontrar alguém mais importante que você e algo sem controle, um sentimento perigoso e, ao mesmo tempo, mágico que irá nos desgovernar. Por isso tanta baixa estima. era uma bela ruiva e ria de Minha melhor amiga, Rebeca, minhas pesquisas científicas. Para ela, eu era apenas uma nerd tentando encontrar nos livros algo que deveria aprender com a vida. Será que era errado invejar sua própria amiga? Não apenas estava errada como era completamente culpada. Rebeca era linda, possuía uma personalidade vibrante e cativante que me encantou logo de início. Como costuma ocorrer com garotas assim, ela era mais popular entre os homens do que entre as mulheres. Estilo espoleta, era espontânea. Tornamo-nos amigas muito próximas. Éramos tão diferentes: eu, tímida e apagada. Enquanto ela parecia brilhar onde quer que fosse. Adorava o jeito como me deixava tonta com suas ideias loucas. Lembro o dia em que estávamos andando e Rebeca viu uma festa. Olhou para mim e disse: “Alessandra, você quer ir comigo neste aniversario?”. “Claro! Se ao menos soubéssemos quem é o aniversariante!”, respondi. “Pois isso não é problema!” Ela simplesmente foi até a entrada e disse ao porteiro: “Viemos para a festa!”. Logo estávamos do lado de dentro. Sem jeito por ser penetra, procurava um canto onde pudéssemos ficar sem sermos notadas quando muito me
surpreendi em ver Rebeca cumprimentar o aniversariante com o tradicional “dois beijinhos”. Pronto! Estávamos oficialmente convidadas! Nada mais era monótono ao seu lado. Ela tinha a facilidade de se relacionar e os garotos grudavam no seu pé! Viviam se apaixonando por ela. Eu, por outro lado, sempre fui romântica, idealista (e muito ingênua). Acreditava que não poderia jamais demonstrar a um rapaz o que estava sentindo. Tomava uma atitude passiva aguardando sempre por usa iniciativa. Isso porque a única vez que havia dado o primeiro passo, tivera uma reação que me marcou pelo resto da vida. Lá estava eu nos meus 12 anos, quinta série, quando conheci Marcelo. Em pouco tempo éramos amigos. Fazíamos trabalhos em dupla, andávamos pelo recreio, conversávamos por horas ao telefone... Não é preciso ser cientista para perceber que se tratava de minha primeira paixão. Lembro-me até hoje de quando a professora passou uma prova a ser realizada em dupla. Nossas cadeiras estavam coladas e tínhamos uma hora e meia para completar as questões, mas eu não conseguia me concentrar. Devo ter sido uma péssima companheira de prova porque enquanto Marcelo perguntava minha opinião sobre as questões, estava ébria com seu cheiro, com seu hálito doce a me sussurrar suas hipóteses a fim de que ninguém mais escutasse... Sim, estava completamente apaixonada! Era uma sensação mágica e deliciosa; querer acordar todos os dias de manhã para ir à escola apenas porque sabia que iria vêlo. Chegava a ficar chateada com a ausência que sentia nos finais de semana. Sofrimento de ter que aguardar sábado e domingo para voltar a vê-lo só não era pior porque conseguia sublimá-lo através de ligações de uma a duas horas. Aqueles oito números de seu
número de telefone percorriam minha cabeça como uma sinfonia. Impossível esquecê-los. Ahh... que tormento era a hora de desligar. A primeira paixão ninguém esquece: O sonhar acordado, andar cantando músicas românticas, o rir ou chorar sem motivo e o fato de que nada mais na vida parece ter importância... a não ser aquela pessoa a quem amamos. Não queria conversar com as meninas, ver televisão... Só queria estar com ele, sentir seu cheiro, ouvir sua voz... Fiquei durante meses nesta angustiosa situação: apaixonada, porém com medo de confessar meus sentimentos. Por que é que ele nao tomava uma decisão? Por que não tomava uma iniciativa? Estaria ele com medo de ser rejeitado? Será que não gostava de mim tanto quanto eu, dele? O que eu poderia fazer além de aguardar? Deveria eu dizer alguma coisa? Tomar a attitude que tanto esperava? Ele era o menino, por que não fazia nada? Minha cabeça fervia e eu sofria com a espera. Contei para Rebeca, que no seu jeito franca e objetiva, me disse de pronto: — Para de drama, Alessandra! Vai lá e conta o que sente por ele! E se ele por algum motivo não correspondesse? E se dissesse “não”? Eu perderia a amizade que possuíamos! Não me sentiria mais à vontade para estar ao seu lado... O medo da rejeição era coisa que não estava conseguindo suportar. — Não tenho coragem de falar! Não sei se vou conseguir ouvir a resposta! O ele vai pensar de mim, se fizer isso? — respondi temerosa. Rebeca segurou em meus ombros, me olhou nos olhos e falou firme como sempre fazia em situações assim:
— Pense direito, Alessandra! O que tem a perder? Você é muito boba! Acredita em contos de fadas e na magia da paixão! Eu vi meus pais brigando como dois cachorros pela carniça quando se separaram! Não existe nessa magia, apenas a vida! Se quer alguma coisa, vai lá e pegue. Sem fantasiar tanto! — Não sou como você, Rebeca! Não vou conseguir dizer o que sinto cara a cara! Melhor esquecer essa opção! — decidi cruzando meus bracos. — Então por que não escreve uma carta? Assim você pode dizer tudo que está sentindo! Não precisará dizer nada! A ideia era ótima! Então tracei um plano: Escreveria a tal carta, porém, para não precisar encará-lo, eu a entregaria no final da aula. Assim ele poderia lê-la em casa e me responderia no dia seguinte. Enchi-me de coragem e fiz uma declaração como nunca na vida. Foi a primeira vez que abri meu coração para um menino, descrevendo como me sentia ao seu lado e pedindo para que pudéssemos nos tornar mais que meros amigos. Queria poder andar de mãos dadas, visitar sua casa com mais freqüência, beijá-lo e dizer a todos com muito orgulho: “Marcelo é meu namorado”. Marcelo costumava esperar o carro da sua mãe no portão da escola, aproximei-me dele trêmula e disse: “Escrevi uma carta para você, gostaria que lesse e me respondesse amanhã!”. Com muita naturalidade, ele segurou a carta que poderia mudar tudo e a colocou na mochila. “Está bem! Pode deixar, Alessandra”. Aquela foi a noite mais longa de minha vida. Não conseguia dormir. Estava ansiosa, preocupada e esperançosa. Tudo passava pela minha cabeça. Por vezes me arrependia do que havia feito. Por outras, me congratulava pela coragem de arriscar tanto. Já começava a fantasiar como seriam nossos passeios; ambos indo juntos ao cinema. Poderíamos passar a nos ver durante os finais de
semana sem precisar usar as desculpas esfarrapadas de que era para estudos. Enfim, o dia chegou! Meu coração estava na boca, minha respiração era pesada. Andava rápido para que minhas pernas não tremessem. Logo estaria frente a frente com o menino dos meus sonhos. Faltavam apenas alguns minutos para que o sinal de entrada tocasse. Foi neste momento que o vi conversando e rindo com um grupo de outros rapazes de nossa sala. As palavras que ouvi em seguida me doeram mais que uma facada: Ele recitava a risos e gargalhadas, para que todos os rapazes pudessem ouvir, trechos de minha carta apaixonada. Nunca me senti tão humilhada! Era como se tivessem tirado a minha roupa na frente de todos! Todos os meus pensamentos mais íntimos estavam sendo expostos e ridicularizados. Corri para me esconder no banheiro e não teria saido, se a Rebeca não tivesse ido à minha procura. — Andei pelo colégio todo! O que esta fazendo aí dentro? Abra a porta, Alessandra! — Eu quero morrer! — gritei — O Marcelo leu minha carta para todo mundo na sala! — Eu sei! — responde compreensiva. — Como vou sair daqui? Todo mundo vai olhar e rir da minha cara! — Ninguém está mais falando disso. Todos só falam da briga em que ele se meteu! Engolindo meu choro, perguntei: — Que briga? — Só conto, se você abrir a porta!
Quando abri a porta, minha amiga estava com a gola da camisa alargada, seus belos cabelos despenteados e soltos e ela tinha um pequeno arranhão no rosto. — O Marcelo apanhou feio de uma menina, não ficou sabendo? Rebeca foi suspensa 3 dias por ter agredido Marcelo. Ela bateu muito nele. Sempre fui contra violência e jamais teria tido a coragem de fazer o que ela fez. Mas confesso que gostei. Até porque a surra que ele levou acabou abafando um pouco a humilhação que sofri.