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MARIANNA ROMAN
OUROBOROS 1ª EDIÇÃO
QUIMERA PRODUÇÕES LITERÁRIAS
RIO DE JANEIRO 2019
Copyright © 2019 by Marianna Roman e Quimera Produções Literárias Todos os direitos reservados à Quimera Produções Literárias Título Ouroboros Revisão Bruna Nunes Diagramação Marianna Roman R758o ROMAN, Marianna Ouroboros / Marianna Roman . 1 ed. - - Rio de Janeiro : Quimera Produções Literárias, 2019 265 p. : 16x23 cm ISBN 978 85 53010 12 7 1. Ficção e contos brasileiros
2. Literatura brasileira CDD B869.3 CDD B869
Esta é uma obra de ficção e não tem qualquer compromisso com vínculos com a realidade. Qualquer semelhança é mera coincidência.
P R Ó L O G O. HANNIBAL, MISSOURI
Quando eu tinha oito anos
, depois de
esperar o verão inteiro olhando as crianças brincando de mangueira no quintal durante aqueles raros dias ensolarados que tanto esperávamos chegar para sair com a família e curtir o fim de semana no clube, Regina – como eu carinhosamente chamava minha mãe, além de ser o nome dela –, abriu a porta da frente de casa com um enorme pacote barulhento e cor de rosa. Eu odiava rosa, mas era só mais um detalhe que sua distração adorava ignorar. O papel meio (muito) amassado, estampado com minúsculas e numerosas borboletas coloridas e com um laço de fita exageradamente gigantesco grampeado no topo, estava cheio de remendos colados à fita adesiva transparente. Regina passara o dia com o bendito presente no trabalho e, claro, desastrada como era e sempre será (ainda não sabia como conseguira aquele emprego), teve alguns acidentes de percurso ao deixar o hospital, passar pelo estacionamento, colocá-lo no porta-malas, passar pelo jardim e cruzar a linha de chegada de seu destino. Ostentando um sorriso largo amarelo – quase assustador demais –, exasperada e tentando não parecer tão desesperada
com a apresentação do pacote, entregou-me a bicicleta com a qual sonhara pedalar durante os três meses de férias, mas que ela não teve tempo para comprar e me ensinar a andar em meio a tantos plantões intermináveis. Às vezes, mal nos víamos ou falávamos bem rápido pelo celular. A Sra. Spillane, uma velhinha simpatia cheirando a sopa de vegetais, que morava cerca de uma hora de nós, passava a maior parte do tempo lá em casa. Isso porque Regina – enfermeira-chefe (sim, o desastre em pessoa ainda tinha um cargo muito importante assim) do Hannibal Memorial, o único e principal hospital da cidade, perto do centro – relutava constantemente em me deixar com meus avós, que não moravam tão distante. E eu só os conheci alguns anos depois de mudarmos para cá. Foi amor à primeira vista! Então vovó morreu e meu avô parou de sair de casa. Tinha medo das sirenes da polícia e dos olhares curiosos dos vizinhos parados em sua porta quando o delegado Black veio dar a triste notícia. Congelado nos últimos momentos antes de saber que perdera a única mulher que amara sua vida inteira, passou a repetir os mesmos gestos todos os dias: acordava na velha poltrona esfarrapada de couro sintético, perto da porta principal, em frente à TV. Abria as cortinas e janelas. Ouvia Preston – o Labrador da casa ao lado – latir para o garoto do jornal que lançava notícias enroladas, presas com elástico, aos jardins das casas ao longo da rua. Vestia o paletó, calçava os sapatos e desligava o abajur. Fazia o café daquele jeitinho tradicional, odiava modernidades, lia as manchetes... Mas gostava mesmo era da criatividade nos classificados. E enfim, ao encostar a maçaneta para sair, as memórias lhe atingiam.
Fechava as janelas e as cortinas outra vez. Tirava os sapatos, colocava os chinelos – que vovó sempre deixava nos pés da escada – e voltava para a poltrona, adormecendo enquanto assistia uma sequência de programas banais de perguntas e respostas. Para, no dia seguinte, fazer tudo de novo. Eu passava por lá no caminho para a escola. Deixava a bicicleta no jardim, pegava o jornal no capacho e entrava pelos fundos, preparando a cena antes que ele acordasse. Imaginando o quão chocante seria se não encontrasse os mesmos objetos, memórias e, dentro de seu coração, a esperança de ver vovó chegar com o pão e o leite para o café. Mesmo que, no fim das contas, acabasse por se lembrar da expressão do delegado Black quando disse: “sinto muito...” e o restante que narrava os últimos minutos de vida de minha avó em poder de um assaltante. Ela não reagiu, não gritou por ajuda... O meliante encapuzado pegou o dinheiro do caixa e simplesmente atirou, atingindo-a no peito. Sem lhe deixar chances de sobreviver quando o socorro chegasse. Regina não falava com os pais desde que saíra de casa para se casar com o Troy Brassington, um dos populares nos tempos de escola. Jurava que seria feliz para sempre com o amor da adolescência, mas acabou descobrindo, anos mais tarde, que o Príncipe Encantado só existia mesmo nos Contos de Fadas e ele não estava disposto a sequer tentar não ser um completo imbecil. Troy tinha um ciúme doentio, que a fizera ter de parar de trabalhar, abandonar a família e as amizades, e praticamente virar prisioneira na própria casa. Vigiada por câmeras do lado de fora, cachorros treinados e um sistema de alarme, que acusava no celular do marido todas as vezes em que alguém entrava e saía de casa.
Essa era a visão que ele tinha da mulher perfeita, mas nada era bom o bastante para que não a maltratasse. Regina perdera as contas de quantos dias apenas queria continuar deitada, sem forças para vencer as dores depois de outra surra, mas fazia faxina e preparava o jantar. Troy não gostava de esperar. Tirava o cinto e colocava em cima da mesa, pronto para açoitá-la impiedosamente, caso demorasse a servir a comida fresca e se sentar para lhe fazer companhia. Não tinha permissão para terminar de comer antes dele ou se retirar sem autorização. Gostava de vê-la bem arrumada e com um largo sorriso no rosto, perguntando como fora seu dia e demonstrando claro interesse nos assuntos da empresa. Mas sem palpites. Durante uma madrugada, acreditando estar livre do marido, enquanto ele dormia, Regina desceu até a sala em passos miúdos e mudos. Ligou para os pais e pediu ajuda, mas antes que ouvisse a resposta, sentiu o telefone se chocar diversas e dolorosas vezes contra sua cabeça. Arrastou-se pelo chão para se apoiar num dos braços do sofá e correr até a porta, mas Troy atirou uma cadeira em suas pernas. Ela caiu. Os dedos dele apertavam seu pescoço e o demônio sorria, com um lampejo de satisfação nos olhos, vendoa se debater debaixo dele. Estava quase perdendo os sentidos, as pálpebras pesavam, quando apalpou um objeto pesado qualquer ali perto e o golpeou na lateral da cabeça. Troy caiu. Morto. A polícia não acreditou em legítima defesa, pois o falecido ainda desgraçava sua vida mesmo do túmulo. Tinha amigos influentes o bastante para distorcer a história e torná-lo vítima de uma mulher desequilibrada.
Regina passou por diversas avaliações psicológicas e cumpriu pena por seis anos. No primeiro mês, foi estuprada por três agentes penitenciários, na solitária, depois de arrumar briga com uma das detentas. E eu não me lembro do restante da história, que ela me contou com muita relutância depois de alguns anos, até me ver num carro velho mudando para Hannibal, uma cidade minúscula no Missouri. Tia Clementine, a irmã mais velha de Regina, estava muito doente e havia uma vaga de enfermeira do Hannibal Memorial. Eu não precisava ser, mais uma vez, a criança esquisita, que não podia tomar sol, usava óculos redondos e grandes, e andava com roupas largas e compridas demais todos os dias, da escola. O lúpus fazia minha pele, já muito clara, ser tão sensível que qualquer exposição além do tempo permitido por Regina e os médicos, nas primeiras horas da manhã, já me deixava com dores e uma ardência quase impossível de aguentar. Mas a cidade era pequena demais. Todos se conheciam, se falavam... e tia Clementine era uma figura extremamente popular. A festa anual de Halloween que dava em sua casa arrecadava fundos para crianças com câncer e queimaduras, atraindo todos os moradores, autoridades e grandes empresários. Nossa casa era distante de tudo e de todos, quase nos limites da cidade, nos extremos da State Highway, no meio do que parecia ser um buraco negro – que sugava todo e qualquer tipo de tempestade, neblina, nuvens negras... para o nosso redor – no meio de um vale, cercada por altas colinas e um bosque, no mínimo, muito assustador. Tínhamos espaço o bastante para cinco famílias. Muitos cômodos de portas pesadas, quadros com paisagens em cores sóbrias, móveis antigos, lustres opulentos, salão de armas, escritório anexado à biblioteca e tantos outros exageros.
Mas, ao menos, aqui eu tinha amigos. Andava de bicicleta, sentindo o vento no rosto e nos cabelos nos fins de tarde. Comia cookies de maçã, que a mãe de Danila, minha melhor amiga, costumava fazer nos fins de semana, e lia algum livro – que antes estava empoeirando numa das estantes da biblioteca pública no centro da cidade, onde o Sr. Sandberg, pai de Danila, trabalhava – sentada numa clareira silenciosa e alaranjada do Riverview Park sem ter de usar todas aquelas roupas cobrindo cada parte do meu corpo. Aquela era minha rota de fuga todos os dias depois da escola. Pegava o atalho pelo cemitério e pedalava, sem pressa, até o parque. E antes do pôr-do-sol, gostava de ver os carros cruzando a ponte sobre o rio Mississipi na entrada da cidade. Então pegava a bicicleta – Regina me dera algumas outras de presente desde a que ganhara aos oito anos – e voltava para casa quando já era quase noite. Mas naquele dia havia alguém na penumbra do jardim, debaixo das janelas do andar de cima – onde Regina guardava as roupas de cama no armário do corredor. Meus olhos não podiam estar me enganando. Podia vê-lo andando de um lado a outro nas sombras dos arbustos. As luzes amareladas da sala estavam acesas, mas não me deixavam ver seu rosto ou qualquer outro detalhe a não ser sua altura e magreza. Meu coração disparou e só o que consegui dizer foi: — Ei! — e bem alto para me certificar de que não apenas ele poderia ouvir, mas qualquer um dos empregados que suspeitasse de algo errado. Afinal, o caseiro morava com a família nos fundos e jurou nos proteger. Apressado, entrou no carro, estacionado a alguns passos de onde ele fuxicava, enquanto eu continuava gritando. Minhas
pernas começaram a correr, embora sequer tivesse controle sobre elas ou qualquer outra parte de mim. Podia estar indo em direção à morte, mas não deixaria que fizesse mal à minha mãe. Regina era distraída demais, mas debruçou na janela quando ouviu os pneus do estranho bisbilhoteiro cantarem no chão. O carro desapareceu no meio da neblina. Aquela merda de neblina que parecia estar sempre e toda ali, envolvendo nossa propriedade. — O que houve? Alguma coisa errada? — Regina perguntou, abrindo a porta principal depois de alguns instantes — Por que está gritando? — Um... — eu disse, ofegante, largando a bicicleta de qualquer jeito no jardim — Tinha... Tinha um homem parado bem aqui. — tentei recuperar o fôlego algumas vezes — Você... Você não... o viu? — Homem? Aqui? Mas como? Não, eu não vi nada nem ninguém. — Ele estava... olhando... pelas janelas... Observando você lá em cima. — Mas... Ei, espere... Venha cá. Envolveu-me em seus braços. — Está tudo bem agora. — disse. *** — E você não o viu mais desde então? — perguntou Conrad. — Não — respondi desviando minha atenção ao burburinho no pátio.
Na verdade, não queria mais falar sobre aquele assunto. Estava apavorada com a ideia de aquele homem aparecer novamente. Pior, não ficar apenas na observação da próxima vez. Temia por Regina, por mim, pelo caseiro e sua família, por todos. Passei os últimos dias observando cada porta e janela da casa, e me certificando de que todas estavam devidamente trancadas, mas sabia que aquilo não significava nada. Ele podia arrombá-las, se quisesse. — Não acha que devia avisar a polícia? — Conrad perguntou. — E dizer o quê? Um homem observava, de maneira suspeita, a casa de uma ex-detenta? Vão rir da minha cara e dizer que deve ser só um desafeto — respondi — “Afinal, quando se está na cadeia, a gente arruma muitos inimigos” — imitei irritada. Revirei os olhos. — Isso é injusto — ele disse. Os olhos, que mais pareciam duas pedras âmbares lapidadas em seu rosto, eram gentis e preocupados — Sua mãe agiu em legítima defesa e pagou pelos crimes que, supostamente, cometeu. Ela tem direito à defesa e proteção. Conrad Monaghan era meu melhor amigo desde o primeiro dia de aula na Hannibal High. Impediu-me de surtar, enquanto já estava quase sufocando, em meio a tantos rostos desconhecidos e curiosos, cochichos e risadinhas. As velhas e boas piadinhas a respeito do modo como minhas roupas me faziam parecer um Dementador. Seu corpo esguio e alto, cor de canela – ainda meio avermelhado pelo recente bronzeamento durante as férias de verão – e o cabelo ondulado, cortado em camadas, bastante
desgrenhado – dizendo claramente: pentear cabelo não é a minha praia – se destacaram entre os que não me encaravam e riam. Ele me levou a um tour pela escola, apresentando cada um dos que achava que eu devia conhecer, principalmente se não quisesse problemas. Não que representassem alguma ameaça à minha integridade física. Além de ser extremamente inteligente e dominar a arte da computação, jogava lacrosse, era presidente do Grêmio Estudantil – que muitos achavam ser apenas um pretexto para delatar os outros alunos. Por isso, às vezes, ele aparecia amarrado com fita adesiva a alguma privada do banheiro masculino. Dirigia um GTO 1967 verde-escuro metálico – presente do pai já falecido –, que cuidava com muito carinho. Logo depois, conheci Danila, a gordinha espevitada e faladeira com quem fazia a maioria das aulas – já que Conrad era dois anos mais velho –, e tinha nada em comum além do gosto pela leitura. — É, mas justamente por ninguém acreditar nisso, ela foi condenada. — eu disse. — OK... Mas então o que vai fazer? — Danila perguntou — E se o cara voltar? Danila era o yin do meu yang. Exatamente o oposto da minha magreza – o que não era nenhuma vantagem – e do meu jeito desastrado de ser. Ela vivia ajeitando a franja cobrindo sua testa, reclamando que precisava de uma cirurgia plástica para diminuir pelo menos aquela parte escondida de seu rosto, e sempre trazia consigo uma escova para alisar constantemente os longos cabelos lisos e ruivos. Gostava de música dançante, roupas curtas e cores vibrantes. A maquiagem escondia as sardas em seu rosto redondo em formato de coração.
Eu, mesmo sendo obrigada, preferia as cores e roupas neutras e escuras. Usava pull over até no mais quente e ensolarado dos dias – principalmente nesses –, calça jeans e as lentes dos óculos se adaptavam ao claro e escuro. Ouvia o que Danila chamava de rock deprê, não conseguia correr ou andar sem tropeçar em meus próprios pés – o que me fazia odiar Educação Física – e sempre foi um desafio desembaraçar os cachos do meu cabelo muito escuro, me fazendo desistir no meio do caminho. No fim das contas, eles ficavam bem... Quando não, eu os prendia num rabo-de-cavalo alto. — Danila, acho que você não está ajudando... — Conrad repreendeu entre dentes. — Ué... Mas é uma possibilidade, não?! – Danila insistiu. — Que pode ou não acontecer! Ela vai ficar perdendo noites e mais noites de sono por conta de uma possibilidade? — Pelo sim, pelo não... melhor prevenir, não acha? — Escuta! ... Por que não vai pegar um daqueles saquinhos de bala numa das máquinas ali do corredor? Ela revirou os olhos, mas sabíamos que era seu ritual de todos os dias depois que o sinal tocava, anunciando o início das aulas, enquanto caminhávamos para a sala. — Não se preocupe — eu disse a Conrad, afagando seu ombro, por cima do casaco grosso e pesado do time de lacrosse, quando ficamos sozinhos — Ainda temos um bom sistema de alarme e a polícia manda uma viatura caso acione. — Eu é quem devia dizer isso a você, não é? Afinal, suas olheiras deixam bem claro o quanto você confia nesse tal bom sistema de alarme. Rimos.
*** Espalhei o dever de casa no tapete do escritório depois que Regina saiu para mais um plantão. O professor de História, Sr. Van Helsing, pedira um resumo de, pelo menos, cinco páginas de um livro grosso sobre “A Era dos Extremos” para a próxima semana e queria começá-lo, além de terminar as equações do Sr. Sevy para aula do dia seguinte. O que seria ótimo porque a ansiedade e o medo da noite, mais uma vez, não me deixariam dormir e teria companhia o bastante para ver outro dia clarear. Após o longo e cansativo dever de matemática – minha afinidade com a matéria também não ajudava – debrucei-me sobre o livro para a aula de História e rabisquei algumas coisas no caderno. Mas as letras, aos poucos, começaram a se confundir e minha visão a ficar embaçada. Ouvi um grito e dei um pulo numa fração de segundo, sentindo novamente aquela dor no peito, enquanto o coração martelava. Os corredores pareciam mais longos no escuro e o silêncio me deixava ouvir, em alto e bom som, minha respiração irregular e ruidosa. Outro grito. E a porta da frente bateu no andar inferior, me fazendo pular. Pensei em Regina. Ela precisava de ajuda. Corri, desci as escadas e me lancei para o lado de fora. Meu coração pulava a cada passo duro nas pedrinhas pelo caminho do jardim, machucando a sola dos meus pés apressados, até chegar ao gramado. Aquele grito desesperado ecoava entre as árvores que iam bosque adentro na noite nebulosa.
Disparei na direção dos troncos, encontrando a chuva e lama cedendo. Tropecei num galho grosso e quebrado, e caí. Forcei meus olhos a enxergarem alguma coisa mais à frente e a vi sendo levada, enquanto os raios acendiam o céu. Uma mulher. Não enxergava seu rosto escondido por trás do cabelo molhado, mas sentia seu desespero, e, mesmo sem nunca tê-la visto, tinha a sensação de que a conhecia. Ela implorava por socorro. Os homens, que a arrastavam, lhe rasgaram as roupas e a estupraram, um após o outro, rindo de seu choro. Eu queria gritar, correr, ajudar... Mas minhas pernas não respondiam. As juntas dos meus dedos e joelhos doíam. Eles a chutavam, batiam, puxavam-na pelos cabelos. Mais chutes, socos. Senti o líquido quente escorrendo pelo meu rosto encharcado. Cheirava a sal e ferrugem. Era espesso e doentiamente saboroso. Lágrimas e chuva embaçavam minha visão. Mas eu ainda via os galhos das árvores como longos braços me empurrando cada vez mais para dentro da poça de lama. Meus cabelos estavam sujos de terra, enquanto eu me contorcia nua e imunda. Violada, violentada. Gritando por socorro. Era eu. A mulher. No meio de olhos negros e sorrisos sombrios. … Acordei.
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