Escenario prestado acto 9

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acto # 9

sakkei

escenario prestado





La vista de un jardĂ­n de frente que muta en pequeĂąos ciclos pide prestado un paisaje de fondo. El pasto se expande en las paredes y toca los bordes que no son claros a pesar de estar contenidos en un cuadrado blanco. M.A.G.



escenario prestado En el marco de la cuarta edición de CLAB Blau Projects, presentamos la muestra Desarticulaciones y el acto# 9 del ciclo Escenario Prestado, espacio que propone un acercamiento distinto a la experiencia con la obra. Escritores, artistas y curadores son invitados a escribir textos que surgen de una serie de encuentros con la única consigna de pensar la obra como disparador. El ciclo se propone construir de forma colectiva un discurso poético, un entramado de voces que desde la literatura devele otro recorrido en el contacto con las artes visuales. En esta edición especial, reunimos los textos en portugués producidos por cinco escritores brasileros invitados, Marcelo Carnevale, Thais Gouveia, Fabiana Faleiros, Leonardo Araujo y Nicholas Petrus. Publicar los textos en su idioma original es un gesto que busca acentuar la idea central que articula la muestra: la traducción entendida como un movimiento que arrastra sentidos hasta el plano de la palabra.



desarticulación (redireccionado de desarticulaciones) 1. s. f. Acción y resultado de desarticular o desarticularse

desarticular verbo transitivo 1. Deshacer o destruir un sistema o una estructura. Desarticular para instalar en el espacio pequeñas islas de sentido. El recuerdo de una pintura: algo así como la imagen de un libro abierto con un hilo que dibuja una línea finita hasta encontrarse con un barco de vela. El barco está adentro de una botella, como esos de colección del siglo XIX. Un lienzo grande contiene estos objetos a modo de mapa, instalación si lo empujamos al espacio, también podría ser un poema visual, versos en forma de óleo ocupando la página en blanco haciendo sentido en una suerte de caligrama.

La colección de Mamushkas de mi abuela o el libro de poemas de Roberta Iannamico: Una mamushka contiene en su vientre la totalidad de las mamushkas porque no hay mamushka que no tenga una mamushka adentro Un texto de Sylvia Molloy en el libro Cachorros va de la mano de un dibujo de Liliana Porter, como Foucault en Las Meninas de Velázquez pero en la estética de las ilustraciones de cuentos para chicos. Una nena dibujada es la voz de una nena que narra en los bordes de la representación, pasea de noche con un libro en la mano y se sienta bajo un árbol al leer los versos que la dibujan. Relación de miradas en un campo verde en medio de la ciudad. Los 4 sonetos del Apocalipsis de Nicanor Parra: estructura construida a partir de la forma, cuando la síntesis atraviesa y el sentido es más rápido que la lógica. Efecto medieval de un vitraux incisivo como un acorde. Tres versos de Paulo Leminiski: leer un dibujo con las manos o tocar la forma de un poema con el cuerpo o pensar el movimiento en el papel. a impressão do teu corpo no meu

Moverse del mapa en un tiempo que oscila entre el espacio y el papel. Escuchar la textura de una voz en un alfabeto inventado y sentir la vibración en el gesto del tacto. Salir de la hoja para pasear. Pensar en el espacio el tiempo de lectura, palpar lo temporal de un trazo y querer agarrarlo en el acto de escribir. Oscilar entre pensar la ruptura y romper todo. Hay unas manos que tejen. María Alejandra Gatti. Junio 2017


Desarticulaciones





Contemplar essa pintura me leva diretamente ao passado. Mais precisamente ao dia 25 de agosto de 2016, quando visitei pela primeira vez a casa de Verónica Gómez, em Buenos Aires. A artista me abriu a porta com um grande sorriso e uma voz doce. Além dela, me recebeu também sua gata Mica. Pergunto se ela é tranquila, ao que Verónica me responde: tem suas manias. E complementa contando que os felinos, como os animais em geral, são muito sensíveis e sentem cheiros e vibrações que nós humanos não captamos. Então a gata se aproxima, me olha e aos poucos vai tentando entender minha presença. Começamos a conversar sobre esses animais. "Não se pode apressar um gato" , penso enquanto espero na sala e converso com Veronica que prepara um chá na cozinha. Essas memórias vão voltando à medida que ouço hoje, quase um ano depois, a gravação que fiz de nossa conversa naquela tarde. Enquanto nos ouço conversar, me esforço para lembrar da imagem de sua casa e de alguns trabalhos pendurados nas paredes. Um esforço de imaginar a partir de nossa troca de palavras. E me dou conta que a própria artista realizou exercício semelhante pra criar essa tela quando se prestou a transformar texto em pintura. Se eu tivesse de pintar nossos primeiros minutos de conversa, que cor eu usaria? Certamente começaria por um pêssego. Em seguida ela me entregou um livro. Este estava encapado com tecido verde e arabescos em tons mais claros que rodeavam a palavra "Letargia". Aquele ato dividiu a atmosfera tanto daquele momento no passado quanto o de agora ouvindo nossa gravação. Decidi ir na estante buscar o livro para relembrar a sensação que tive quando ela me entregou naquele dia. Virando a capa, me deparo com o desenho de uma nebulosa sombria acinzentada que ocupava as duas folhas duplas. Um silêncio e em seguida um estremecimento atravessou meu corpo. Naquela tarde, o efeito me fez ir até o banheiro. Hoje me instigou a tomar um chá. Antes de entrar no banheiro, Mica vem ao meu encontro. Dessa vez com carinho. "Ela confia em você", Verónica me diz da sala. O que me pareceu um bom sinal. Ao retornar, me conta que tinha se aplicado para realizar uma residência na Finlândia. O mais importante pra ela era ir no inverno, quando poderia pintar a incidência quase sombria de luz sobre a paisagem. Começamos a falar de nosso interesse pela Lapônia e logo nos lembramos do filme "Os Amantes do Círculo Polar", sobre um ciclo amoroso que se iniciara na saída de uma escola e se encerraria muitos anos depois nessa região, sob o chamado "sol da meia noite". As luzes e das sombras do amor. Luzes e sombras. Volto a olhar a pintura. Começo a ver algo dos mares revoltos e selvagens das paisagens marítimas de Turner, o pintor que jogava clarões reluzentes sobre as tormentas de suas telas e de sua própria vida. Que dedicou sua vida às paisagens e aos estudos sobre a luz e sua incidência natural sobre as cores. Para ele, a criação do universo teria se dado através de uma iridescência e com ela a revelação das maravilhas do mundo. Enquanto penso sobre Turner, me ouço dizer na gravação que estava aberta ao que ela quisesse me contar. E folheando o livro sigo me questionando sobre a letargia, procurando respostas nos retratos em grafite de pessoas sem olhos e com árvores brotando de si ou nos textos que pareciam dar pistas sobre o que haveria por trás daqueles seres em estados de profunda e prolongada inconsciência.


Um lirismo melancólico que carregamos mas não sabemos dar-lhe contornos, formas ou palavras? Talvez. O que isso representava pra ela? "Vejo mais como um esgotamento nervoso segundo a psicologia e o espiritismo", ela diz. Como estados anímicos? "Sim". E conto que minha família é espírita e todos possuem certa mediunidade. "Você vê coisas?" Não, mas sinto cheiros. Como Mica. E reflito sobre a pintura: não seria ela a tabula máxima onde se deposita o invisível? Todas esses cheiros misteriosos que nos atravessam? Talvez não sejamos tão diferentes dos gatos. E pensando em mistérios, me lembro então da missão de escrever sobre a relação entre o livro "Los Misterios de Udolfo" e a pintura "atmosférica" de Verónica. Mas será que se eu fizesse isso não estaria negando o próprio lirismo que se encontra nessas nuances e cheiros misteriosos que permeiam esse lugar onde a imagem não encontra a palavra? Como o mito de Narciso e de Eco. E qual livro ou pintura não é, em essência, uma viagem pra dentro de si? E qual criação não é senão um vislumbre de nossos próprios mistérios? Olho mais uma vez para a pintura. Já não sei se vejo Verónica ou a mim mesma. E nem a letargia dos desenhos daquela tarde em que fui recebida por ela e por Mica. Se o tom era pêssego, agora ele assume escalas de cinza com pinceladas escuras em verde e azul alternando com pequenos clarões.

Thais Gouveia



Cubro meu corpo com teu luto qualquer coisa nova será palavra tudo o que cresce em ti é pelo Nasce a criança e morro eu Divido o rosto com a unha é minha mão no teatro de casa é minha mão fingindo que sou eu O cérebro de ouro dentro de você Ponho a mesa na parede abro as pernas da máquina com os lábios molhados quem sabe o que é você aqui? Escrevo um poema para os bárbaros cubro seu rosto com meu corpo durante toda a noite O leite está invisível O sangue está invisível Recorto as rosas para o dia seguinte elas que já mofaram é uma forma de destruir o amor Elas que já morreram Costuro os cabelos no papel no formato das palavras DESTRUIR O AMOR Finjo que a mão é o cérebro quando bordo as palavras com o cabelo cortado que não vive outra vez Fabiana Faleiros



Cenário Emprestado - entrevista a L. por L. Antes de iniciarmos a entrevista, L. conversava calmamente ao telefone fumando um cigarro na varanda de seu apartamento. Preparação para nosso diálogo. Chequei se o gravador estava funcionando, se a caneta continha tinta, se no caderno ainda sobravam páginas em branco para anotações, quando L. não suportou algo dito do outro lado da ligação e, antes de desligar, falou em voz alta e objetiva: a língua não é a articulação do pensamento em códigos (A) 1. O que é então a linguagem? ‘a linguagem é a desarticulação do pensamento em experiências’ (B) 2. O que é então a comunicação? ‘a comunicação é um cenário criado pela língua’ (C) 3. O que é então ‘a língua’? ‘a língua, na comunicação, é um empréstimo da linguagem’ (D) 4. O que é então ‘um empréstimo da linguagem’? ‘um empréstimo da linguagem’ é ‘à língua’ ‘que comunica a representação de pensar’ (E) 5. O que é então ‘a representação de pensar’? ‘a representação de pensar’ é ‘a articulação ilusória dos códigos da língua na linguagem’ (F) 6. O que é então ‘os códigos da língua na linguagem’? ‘os códigos da língua na linguagem’ é ‘a cenografia das experiências da representação’ (G) 7. O que é então ‘a cenografia das experiências da representação’? ‘a cenografia das experiências da representação’ é ‘a articulação nebulosa do que se vive’ (H) 8. O que é então ‘a articulação nebulosa do que se vive’? ‘a articulação nebulosa do que se vive’ é ‘os limites da linguagem’ (I) 9. O que é então ‘os limites da linguagem’? ‘os limites da linguagem’ é ‘os extremos possíveis do que vivemos’ (J) 10. O que é então ‘os extremos possíveis do que vivemos’? ‘os extremos possíveis do que vivemos’ é ‘as barreiras de leitura do que acreditamos experienciar’ (K)


11. O que é então ‘as barreiras de leitura do que acreditamos experienciar’? ‘as barreiras de leitura do que acreditamos experienciar’ é ‘os empréstimos dos códigos que fazemos da linguagem na língua’ (L) 12. O que é então ‘os empréstimos dos códigos que fazemos da linguagem na língua’? ‘os empréstimos dos códigos que fazemos da linguagem na língua’ é ‘as línguas em articulação que seduzem o pensamento como se fossem a linguagem’ (M) 14. O que é então ‘as línguas em articulação que seduzem o pensamento como se fossem a linguagem’? ‘as línguas em articulação que seduzem o pensamento como se fossem a linguagem’ é ‘a demonstração que a linguagem faz ‘à língua’ de que sua representação não se representa’ (N) 15. O que é então ‘a demonstração que a linguagem faz ‘à língua’ de que sua representação não se representa’? ‘a demonstração que a linguagem faz ‘à língua’ de que sua representação não se representa’ é ‘o exemplo da imaterialidade da linguagem nas experiências de vida’ (O) 16. O que é então ‘o exemplo da imaterialidade da linguagem nas experiências de vida’? ‘o exemplo da imaterialidade da linguagem nas experiências de vida’ é ‘a incomunicabilidade da linguagem como língua’ (P) 17. O que é então ‘a incomunicabilidade da linguagem como língua’? ‘a incomunicabilidade da linguagem como língua’ é a ‘linguagem naturalmente se desarticulando da língua como se fosse a comunicação’ (Q) 18. O que é então ‘a linguagem naturalmente se desarticulando da língua como se fosse a comunicação’? ‘a linguagem naturalmente se desarticulando da língua como se fosse a comunicação’ é ‘o desejo que temos de creditar ‘à linguagem’ sua existência pela comunicabilidade das línguas’ (R) 19. O que é então ‘o desejo que temos de creditar ‘à linguagem’ sua existência pela comunicabilidade das línguas’? ‘o desejo que temos de creditar ‘à linguagem’ sua existência pela comunicabilidade das línguas’ é ‘a incapacidade de acreditarmos na linguagem como experiência’ (S) 20. O que é então ‘a incapacidade de acreditarmos na linguagem como experiência’? ‘a incapacidade de acreditarmos na linguagem como experiência’ é ‘o que a língua faz de nós na linguagem’ (T)


21. O que é então ‘o que a língua faz de nós na linguagem’? ‘o que a língua faz de nós na linguagem’ é ‘a desuniam da comunicação e da linguagem’ (U) 22. O que é então ‘a desuniam da comunicação e da linguagem’? ‘a desuniam da comunicação e da linguagem’ é ‘o casamento fracassado da representação com a experiência’ (V) 23. O que é então ‘o casamento fracassado da representação com a experiência’? ‘o casamento fracassado da representação com a experiência’ é ‘as línguas dos homens criando códigos ‘à linguagem’ dos animais’ (W) 24. O que é então ‘as línguas dos homens criando códigos ‘à linguagem’ dos animais’? ‘as línguas dos homens criando códigos ‘à linguagem’ dos animais’ é ‘a língua não-linguagem da razão representando a linguagem não-língua da irracionalidade’ (X) 25. O que é então ‘a língua não-linguagem da razão representando a linguagem não-língua da irracionalidade’? ‘a língua não-linguagem da razão representando a linguagem não-língua da irracionalidade’ é ‘todos os números que são códigos mas não são língua e são por isso linguagem da língua dos códigos’ (Y) 26. Suspirei fundo, pedi um copo de água para que pudéssemos continuar. Desejava uma rápida pausa, pois se tornara difícil memorizar o que aparentemente repetia-se três vezes em ciclos. L. foi buscar. Em seu retorno da cozinha, antes dos oito pequenos passos até a mesa que nos distanciava, disse com passos-entre-silábicos: a en tre vis ta a ca bou (Z) Me senti com certo estranhamento e não contive a pergunta: não gostaria de alcançar a infinidade ou cansou-se? tudo o que está aí se combina infinitamente mas não é o infinito Fechei os olhos levemente como se estivesse em decepção. Coloquei rapidamente todas as ferramentas dispostas em cima da mesa na bolsa e fui até a porta de saída de sua casa. Agradeci a recepção e o contato. Sorriu levemente e fechou a porta de forma missiva. Uma curiosidade pessoal me ocorreu e gritei do corredor, de frente ao elevador, mesmo com a sua porta fechada: por que fala-se de si em terceira pessoa? numere as perguntas que se fez e encontrar-se-á o espaço expositivo Leonardo Araujo São Paulo, julho de 2017



Invisível concreto Sob certos aspectos, o que moveu os acontecimentos desapareceu, como o barulho do escapamento que denunciava a velocidade do carro ou a certeza de que fazíamos as coisas que eram para serem feitas. Restou a dilatação e a contração do quente-frio e um silêncio tímido que reaparece de vez em quando. Inerte, como um obstáculo, prevalece o cenário que reivindica faminto o mínimo de ação. Ali, ouve-se os estalos da estrutura no limite da continuidade, o lamento pela sobrevida que arrasta-se e confunde-se com o vagar da memória morna que resiste. Fora da cena, as intenções continuam ecoando, dissipando-se nessa segunda natureza: a que ainda sustenta, num campo impregnado de tensão, o meu olhar implacável a invadir violentamente o espaço e a perspectiva dos seus pensamentos. Por aquele momento, para sempre.

Marcelo Carnevale



1. Nunca os almoços de família serviram. Era o mesmo silêncio estúpido do tio sem nome, aquele cheiro de armário nos bafos, o mesmo tio róseo no final da tarde, camisa manchada de gordura de frango, o mesmo domingo do ano passado outra vez. A mesma desculpa do arroz empapado – que nunca estava realmente empapado, a mãe esperando aquele elogio que nunca veio porque todos sabiam que não viria. De novo ela esperava, como no outro ano esperou. O elogio se viesse um dia, seria até impróprio: parentes calados não babam. Ansiedade pra palitar os dentes, o paladar mais relevante do ano foi o refrigerante, quem espera sempre alcança. A mãe tinha esse dom de fazer cara-de-quem-espera, afinal tinha passado doze meses se preparando, de novo, pra sua melhor cara-de-quem-espera. Almoço servido, gelo com gosto de peixe, o sabor de ontem, as mastigadas de boca aberta: esperar é simples, esperança tem que explicar. A tia na espera do ensaio perfeito para o próximo domingo em família ser como o de hoje. No meio o pirex do amor sanguíneo, enchendo, enchido por todos, o centro da mesa a união fraterna, a vala, o sepulcro: ossos com saliva, vidro santa-maria-amber, o enterro, as rosas plásticas, o frango com laranja. A salada naquela travessa de sempre, com o fundo encardido de forno, com uma ponta lascada que todos faziam questão de dizer “toma cuidado, a pontinha ta lascada”. Quando a travessa passava pro outro lado da mesa, sempre atrapalhava alguém já com o garfo quase na boca, sempre nesse domingo, igual ao do ano passado. A mãe, sempre a última a começar, pensava só em oferecer mais arroz “pra repetir”, media a comida dos outros fingindo gratidão. Atrás do pai a santa ceia, a mesma réplica que na sala do vizinho outro pai estava defronte, mais um ano sem rezas. A nuca do filho moço revira. O mesmo desprezo do ano passado, num domingo ensaboado, o gosto de ontem. A inquietante fraternidade muda do pai obsoleto, a mãe rija, os parentes ali repetidos, como servos da mobília. Uma fraqueza entre as virilhas... Um frango sepultado.


2. De tarde a polícia serviu o mandado. Enquanto a mãe requentava o café, o tio rosa pestaneja no sofá, a poltrona, o pai sabe que é hora do segundo cigarro, o filho, em cólera, não contido, some e fez a denúncia. Mais insuportável que o almoço, era a tarde póstuma dos domingos. Outras cinquenta e duas semanas da família para que o frango fosse digerido fez o moço servir de mártir, trair em prol da justiça, pelo justo trair-se. Apertou o botão de emergência, tentou imitar a cara-de-quem-espera da mãe. Era o único que não bocejava naquele domingo idêntico ao próximo e copiado dos domingos de antes. O botão, o amarelo de duas décadas, o ronco do tio, os ossos, o justo, o medo, a morte. Sem aviso a porta arrebenta, um tiro avulso arrebata, a tarde arrombada, a mãe derruba, a borra escorre. Era o último domingo, o almoço derradeiro, o assunto de todas as próximas famílias e de todos os futuros parentes, o único dia recorrente, para sempre a sensação da História. O filho sorri em correntes, condenado a servir no exílio.

3. O delito: infringir o código Anti-Poético. Agravantes: a) Interromper o cotidiano da família através do uso de falsos atributos e significantes às formas e hábitos corriqueiros que por si só são impassíveis de outra compreensão que não a da correta ordem e postura social. b) Julgar que além de tal ordem e justeza, possam existir realidades paralelas ofensivas à finalidade da ordem em si. c) Questionar atitudes de outrem com a finalidade de ativar ou inserir desvios da norma em tais honestas atitudes. d) Criar um ambiente social impróprio, intencionalmente premeditando desvios imaginários que sirvam para contaminar atos e pensamentos alheios, com a finalidade apologética de corromper o tempo coletivo, em sua forma ilícita de tempo individual, portanto, improdutivo. O Código Anti-Poético: a Arte proibida.


4. Na tv e no rádio, o juiz em rede nacional, a verdade: “Jamais iremos permitir a grotesca insinuação de formas delirantes e não alinhadas. O país tem a minha garantia, a punição dos que desdenham da verdade e utilizam táticas imaginárias seguirá. Nosso povo se uniu anos atrás para que o dia de hoje fosse perfeito. Todos os males, as dúvidas, as falsas interpretações foram banidas, pelo bem de nossas famílias, pela comunhão de nossos irmãos, pela ordem de nosso tempo. Quando as promiscuidades artísticas – me perdoem pela palavra tão forte – foram erradicadas, a vida encontrou com a felicidade. O tempo do inútil jamais retornará.” A mãe orgulhosa, o pai reluzente, o tio concordando, os vizinhos aliviados, a lei como vício. Os domingos se acumulando, as mães esperando mais, os tios mais rosas, os sem esperança, os delinqüentes mais nítidos. Todos os dias a notícia de ontem: a justiça das tardes, o ano de ensaio, o arroz empapado, ossos e ofícios... Sobre as mesas o silêncio anual dos frangos com laranja fac-símile.

Nicholas Petrus




María Alejandra Gatti (Buenos Aires, 1981) Es Licenciada en Artes por la Universidad de Buenos Aires y acaba de entregar su tesis de Maestría en Escritura Creativa en la Universidad Nacional de Tres de Febrero. Actualmente se desempeña como Coordinadora General del Parque de la Memoria – Monumento a las Víctimas del Terrorismo de Estado, espacio que articula el arte, la memoria y los derechos humanos. Como curadora y editora independiente coordina el ciclo “Escenario Prestado” proyecto editorial interdisciplinario, y co-dirige el proyecto “Catálogo los textos de la danza” declarado de interés cultural en la ciudad de Buenos Aires y seleccionado para participar de la residencia internacional NAVE, Santiago de Chile 2017.

Lorena Fernández (Resistencia, Chaco, 1974) Artista visual y docente de cine y fotografía. Egresada de la Escuela Nacional de Experimentación y Realización Cinematográfica. Realizó talleres y clínicas de arte contemporáneo y de fotografía, como también de jardinería, joyería, poesía. Su estrecha vinculación con los libros la llevó a realizar cinco libros de fotos de artista exhibidos en ferias nacionales e internacionales. Desde el 2008, año en que recibió el Premio Ernesto Catena de Fotografía Contemporánea, su obra pudo verse en muestras individuales (Centro Cultural Recoleta, Espacio Kamm, Casa Florida Galería, Espacio Forest, Galería Foster Catena), numerosas muestras colectivas, festivales, premios y ferias de arte. En 2014 recibió la Beca Nacional del Fondo Nacional de las Artes y en 2017 una mención en el Salón Nacional de Fotografía. Es representada por la galería Miranda Bosch.

Verónica Gómez Nació en El Palomar, provincia de Buenos Aires, en 1978. Es artista visual y docente. Egresada de la Escuela Nacional de Bellas Artes “Prilidiano Pueyrredón” y licenciada en Artes Visuales, IUNA (Instituto Universitario Nacional de Arte). Desde 2006 realiza muestras individuales y colectivas en Argentina y el exterior. Obtuvo varias becas: Programa Intercampos, Espacio Fundación Telefónica (2005), Clínica de Artes Visuales, Centro Cultural Rojas (2006) y Beca a la Creación, Fondo Nacional de las Artes (2004 y 2012). En 2016 fue beneficiaria de la beca Pollock-Krasner Foundation. Obtuvo el Primer Premio en el LXIV Salón Nacional de Rosario, Museo de Bellas Artes “Juan B. Castagnino” y una mención de Honor en el Premio Braque (2013). Se desempeña como colaboradora en el Suplemento Radar del diario Página/12 desde 2009 y en el suplemento ADN cultura del diario La Nación. Ha escrito numerosos textos sobre arte para revistas y catálogos de exposiciones. En 2015 participó en Arteles Creative Residency Program, Finlandia occidental y en 2017 asistió a Nelimarkka-museo residency, Alajärvi, Finlandia. Ejerce la docencia en Buenos Aires y en el interior del país. Puede verse su trabajo en: veronica-gomez.com.ar


Lihuel González Lihuel González nació en Buenos Aires en 1986. Cursó estudios de fotografía y cine en la Universidad del cine. Se desempeñó como directora de arte y fotografía en cine, teatro. En 2013 formó parte de la beca FNA-Conti. Obtuvo en 2014 la Beca del Fondo Nacional de las Artes para la creación y participó del Programa de Artistas de la Universidad DiTella. En el 2015 quedó seleccionada y premiada en la Bienal de arte joven de Buenos Aires, participando así del programa de residencias internacionales en la Ciudad Mexico. Fue parte en numerosas exposiciones y premios. Actualmente dirige su estudio y ejerce la docencia en la Universidad de Buenos Aires.

Lorena Marchetti (Buenos Aires, 1976) Artista y diseñadora Gráfica. Egresada de la Universidad de Buenos Aires (U.B.A.); Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo. Realizó estudios y clínicas de arte contemporáneo con; Gabriel Valansi, Diana Aisenberg, Eduardo Stupía, y Carlos Herrera. Desde el 2015 forma parte del Colectivo Foto Féminas. Una plataforma con la finalidad de promover a fotógrafas que trabajen en América Latina y el Caribe: foto-feminas.com Obtuvo el Tercer Premio en el 104º Salón Nacional de Artes Visuales. Categoría Fotografía. (2015) Fue parte del Programa de artistas PAC 2013, Programa anual de Prácticas Artísticas Contemporáneas dirigido por Gachi Prieto Gallery. Directora de Studionube; estudio de diseño, arte y fotografía. Especializado en el desarrollo y producción integral de proyectos editoriales y culturales. Como directora de arte independiente lleva a cabo desde el 2016 el ciclo “Escenario Prestado” proyecto editorial que articula artes visuales y literatura.

Alan Segal (Buenos Aires 1985) Artista y cineasta. Se formó en la Escuela Nacional de Realización y Experimentación Cinematográfica. Desde 2012 es uno de los editores de la publicación de arte y cultura Labor, centrada en los procesos de trabajo. En 2014 formó parte del Programa de Artista de la Universidad Di Tella, a cargo de Jorge Macchi, Javier Villa y Santiago García Navarro. Realizó tres muestras individuales Tutorial (SlyZmud 2015 Buenos Aires, Argentina), Un tiempo en el mismo lugar (Cobra, 2013, Buenos Aires, Argentina) y la muestra de dibujos Mudas (Miua Miau, Buenos Aires, Argentina). Entre sus exposiciones colectivas se destacan: Praising the Surface (Hessel Museum of Art, New York, Estados Unidos) y Empujar un ismo (MAMBA, Buenos Aires, Argentina). En 2015 estudió en Skowhegan School of Painting and Sculpture. Como editor cinematográfico se destaca su colaboración en el largometraje Kékszakállú (2016) dirigido por Gastón Solnicki. En 2016 comenzó a realizar su maestría en film y video en el Milton Avery Graduate School of the Arts del Bard College, New York, Estados Unidos.


Leonardo Araujo Vive e trabalha em São Paulo. É escritor, critico de arte e editor independente. Cursou parcialmente Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo e graduou-se em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes. Editou, junto ao grupo Beco da Arte, as publicações Percursos Narrativos (livro de artista de Rafael RG e Fabio Morais) e Casa Contemporânea (catálogo das três primeiras exposições do espaço). Realizou a curadoria da exposição Noves_Fora no espaço independente Beco da Arte de São Paulo, no qual trabalhou como organizador por 3 anos, conjuntamente com outros integrantes. Foi Assistente no Núcleo de Pesquisa e Crítica em História da Arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Co-editou a revista de crítica de arte paulista Maré, conjuntamente com outros críticos, sediada pelo espaço Ateliê 397. Participou do 15˚ Prêmio Cultura Inglesa, junto a outros 10 artistas, selecionado com o projeto expositivo Unfreeze. Desenvolveu os trabalhos: A imagem do texto no texto da imagem, pelo Sesi Arte Contemporânea Curitiba, realizado conjuntamente com o dramaturgo Gustavo Colombini; Carta de Intenção, no edital Artes Visuais do Proac, projeto de residência artística para experimentação textual, conjuntamente com outros pesquisadores; o projeto expositivo Estruturas Possíveis: um diálogo crítico-criativo com o artista Bruno Baptistelli, na Oficina Cultural Oswald de Andrade de São Paulo. Atualmente participa do Grupo de Estudos Práticos em Linguagem Experimental, em que desenvolveu o projeto Gramatologia na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Desenvolveu o projeto Gravidade [espécies de espaços], realizado e concebido conjuntamente com o artista Daniel de Paula Mendes, na Colônia da Cratera, Parelheiros, São Paulo – SP (Proac) e participou da exposição Lastro Em Campo no Sesc Consolação, sobre a residência artística em comemoração de 10 anos do Lastro realizada no Panamá, Guatemala e México em 2015, em que acompanhou quatro artistas residentes e desenvolveu vídeos-ensaios como comentários críticos por meio da pesquisa Bem Vindo Portunhol Selvagem. Recentemente editou, junto ao antropólogo Alex Flyn, o livro Claire Fontaine – em vista de uma prática ready-made pela Editora GLAC, curou a exposição próprio-impróprio dos artistas Raphael Escobar e Frederico Filippi na Galeria Leme, e o programa para jovens artistas do Sesc Ribeirão Preto, 27˚ Mostra de Arte da Juventude, junto de Luiza Proença. Tem oferecido cursos sobre suas pesquisas em processos de experimento da linguagem com Gustavo Colombini no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc e outros espaços, os quais: Isso,Texto – a escrita como campo experimental na linguagem; Para Uma Escrita Sem Lugar – a linguagem como ferramenta de experimentação de uma escrita sem nome; e Irresponsabilidade Literária – a leitura escreve a si mesma.

Marcelo Carnevale Carioca, 48 anos, reside em São Paulo. Jornalista e escritor. Atualmente, trabalha com comunicação digital, escreve para o blog avizinhanca.com e atua como pesquisador no Programa de Pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Universidade de São Paulo (USP).


Fabiana Faleiros (Brasil, 1980) é poeta, performer e pesquisadora. É doutoranda pelo Programa de Arte e Cultura da UERJ, Rio de Janeiro, e Lady Incentivo, cujo disco Lady Incentivo: novas formas de amar e gravar CD foi gravado na Mobile Radio BSP, durante a 30 Bienal de São Paulo. Entre 2015 e 2016 esteve em turnê com o Mastur Bar em Cuba (Fabrica de Arte Cubano, Havanna), Colômbia (Kuir Bogotá, International Festival for Queer Arts and Cinema), e também em cidades do Brasil como São Paulo, Porto Alegre e Belém do Pará. Em 2016 publicou o livro O pulso que cai e as tecnologias do toque, Ikrek: São Paulo. Atualmente participa da residência Capacete em colaboração com a Documenta 14 (Atenas, Kassel).

Thais Gouveia (1984) é crítica de arte, curadora independente e assessora de comunicação cultural baseada em São Paulo. Bacharel em Arte e Tecnologia pela PUC, também estudou Crítica de Arte na Central St Martins University of the Arts, em Londres. Tem escrito para diversos veículos nacionais e internacionais incluindo ArtReview, Aesthetica Magazine, Arte!Brasileiros, This is Tomorrow, New City, DasArtes, ArtSelector entre outros. Curou exposições individuais e coletivas nas galerias Fauna, Zipper, Casa Nova e Hilo (Buenos Aires) e no espaço cultural Casa Plana. Em 2016, foi uma das contempladas pelo Prêmio C.Lab Mercosul que consistiu em dois meses de residência curatorial no Proyecto PAC: Prácticas Artísticas Contemporáneas, em Buenos Aires.

Nicholas Petrus Bachiller en Geografia con estudios especificos en espacios urbanos. Lo geografico, lo creativo y lo poetico son campos de trabajo hacia las soluciones artisticas o visuales. Entre 2005 / 2012, junto con la trayectoria como artista, trabaja en curadurías de exposiciones de arte contemporáneo, educación en museos, montaje de muestras y otras areas culturales. Actualmente la curadoría és objeto de investigación y dedica su trabajo a la educación, producción de textos y proyectos de obra.



© Gachi Prieto, 2017 Todos los derechos reservados Ley 11.723 Prohibida su reproducción total o parcial. Idea y realización: María Alejandra Gatti Diseño y pre impresión: studionube Agradecimientos: Blau project, Juliana Blau, Osmar Santos, Marcelo Carnevale, Thais Gouveia, Fabiana Faleiros, Leonardo Araujo, Nicholas Petrus, Fernando Muñoz y Gachi Prieto.

Este libro se terminó de imprimir en Buenos Aires en el mes de Agosto de 2017. Edición limitada de 100 ejemplares numerados.



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