Concurso de Produção Textual 2015

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Produção Textual CONCURSO - 2015

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Produção Textual CONCURSO - 2015


Equipe Sócias Fundadoras Jeannette Alicke De Vivo Maria de Lourdes Pereira Marinho Aidar Marília de Azevedo Noronha Sylvia Figueiredo Gouvêa Diretor Geral Alexandre Abbatepaulo Diretora Educacional Karyn Bulbarelli Diretora de Currículo Fabia Helena Chiorboli Antunes Diretor de Unidade - Ensino Fundamental II Antonio Sérgio Pfleger de Almeida Diretor de Unidade - Ensino Médio Caio Graco Tieppo Coordenadora de Língua Portuguesa Roberta Hernandes Alves Professoras do Ensino Fundamental Ariadne Mattos Olímpio - 6º ano Leila Longo - 6º ano Débie dos Santos Bastos - 7º ano Larissa Teodoro Andrade - 8º ano Daniela de Arruda Garcia - 9º ano Priscilla Cardoso Carvalho Coelho - Corretora Juliana Cristina de Cápua Dourado - Estagiária Professores do Ensino Médio Amanda Lacerda de Lacerda - 1ª série Tatiana Albergaria Ricardo - 1ª série Camila Flessati - 2ª série Eduardo Scarsi Testa - 2ª série Gabriele de Souza e Castro Schumm - 2ª e 3ª séries Roberta Hernandes Alves - 3ª série Amanda Lacerda de Lacerda - Corretora Priscilla Cardoso Carvalho Coelho - Estagiária

www.lourencocastanho.com.br


Agradecimentos Nosso especial agradecimento aos professores: Amanda Lacerda de Lacerda, Ariadne Mattos Olímpio, Camila Flessati, Daniela de Arruda Garcia, Débie dos Santos Bastos, Eduardo Scarsi Testa, Gabriele de Souza e Castro Schumm, Juliana Cristina de Cápua Dourado, Larissa Teodoro Andrade, Priscilla Cardoso Carvalho Coelho, Roberta Hernandes Alves, Tatiana Albergaria Ricardo.


Prefácio O Lutador Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. [...] Insisto, solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssimas e viram-me o rosto. Lutar com palavras parece sem fruto. Não têm carne e sangue… Entretanto, luto. [...] ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p. 84.


Impossível discordar das palavras do poeta. Embora difícil e exaustiva, a luta com as palavras se constrói cotidianamente. Lutamos para nos fazer entender, argumentamos para convencer o outro, narramos histórias que comovem e/ou divertem nossos ouvintes. Se a muitas dessas atividades de linguagem nos dedicamos quase que instintivamente, por meio de diálogos, a questão costuma se tornar algo mais desafiadora quando nos deparamos com a folha de papel em branco, à espera de nosso esforço e competência para preenchê-la com ideias, argumentos, mundos. Na sociedade do conhecimento1, é fundamental produzir saberes e, ao mesmo tempo, comunicá-los com clareza, eficiência e rapidez. As informações e conhecimentos se disseminam rapidamente e demandam parcerias, posicionamentos, compartilhamentos. É uma sociedade, portanto, em que comunicar-se por escrito é uma obrigação e, ao mesmo tempo, um ganho/ um desafio. Nessa perspectiva, a escola possui papel fundamental, pois tem como uma de suas tarefas preparar os alunos para a escrita de textos de diversos discursos. Na Lourenço Castanho, a produção de texto possui expectativas de ensino-aprendizagem específicas ao longo de cada ciclo e dentro de cada um dos anos/séries, numa espiral de gêneros discursivos que combinam competências de escrita mais ou menos complexas, retomadas e ampliadas ao longo dos anos de estudo. É importante frisar que desde o desenvolvimento das teorias de gêneros discursivos pelo grupo de Genebra, no final dos anos 1990, retomando as teorias de Mikhail Bakhtin, ninguém escreve no vazio, sem gênero/ tema/contexto. Somos seres sociais, historicamente situados e, ao escrever, mobilizamos habilidades, competências, repertório, visões de mundo, perspectivas. Esse ato complexo relaciona-se diretamente com a leitura de mundo e com a construção e reconstrução de sentidos que ler e escrever possibilitam a cada um de nós. Trabalhar a produção de textos hoje significa trabalhar a partir das práticas sociais e dos gêneros em circulação, levando em conta a definição de objetivos para a escrita, veículo, momento histórico e o papel social do autor e do leitor. Por isso não falamos mais em redação, mas sim em produção textual. Não se trata de mera nomenclatura, mas de concepção de escrita. A redação pressupõe técnica, modelo. Como se, a partir exercícios de repetição, fosse possível aprender a escrever qualquer texto, sobre qualquer assunto. Tal premissa se mostrou equivocada ao longo do tempo, especialmente a partir das exigências contemporâneas, que vão muito além de narrar, descrever e dissertar. Surge então uma nova perspectiva, a dos sujeitos inseridos nas situações discursivas. __________

A Sociedade do Conhecimento pode ser definida como aquela em que o conhecimento é o principal recurso para produção e o principal recurso para criação de riqueza, prosperidade e bem-estar para a população. Por essa razão, o investimento em capital intangível, humano e social é reconhecido como o mais valioso recurso para criação de riqueza. Isso é determinado não pela força de trabalho em si, mas sim em nível científico pelo progresso tecnológico e pela capacidade de aprendizagem das sociedades. Adaptado de: < http://www.eulaks.eu/concept.html> Acesso em: 22.set.2015 1


Escrever considerando os gêneros pressupõe mais que indicar um tema e um número de linhas. Pressupõe um percurso, que vai da leitura e compreensão do gênero em estudo (sua forma composicional, suas marcas temáticas e linguísticas, seu viés) à formação do repertório, passando pela experimentação da escrita antes da produção final do texto. Ainda que este percurso não esteja aqui completamente reproduzido, ao ler o texto dos alunos com atenção, é possível entrever as etapas anteriores que o produto final revela. Como escrever uma reportagem sem pauta e pesquisa prévia? Como compor um poema sem conhecer sua estrutura rítmica e forma composicional? Como escrever uma carta argumentativa sem considerar remetente, destinatário e repertório? Propor a nossos alunos que escrevam um poema, uma reportagem, um artigo de opinião não tem como objetivo primeiro que eles se tornem poetas, repórteres ou articulistas. A ideia, sim, é que experimentem a escrita e desenvolvam tanto competências linguísticas como a sensibilidade da escrita e o exercício da argumentação, do posicionamento crítico. Neste ano da 5ª edição do Concurso de Produção Textual da Lourenço Castanho, não foi escolhido um tema que unificasse todos os anos/séries. A opção foi por apresentar um panorama das produções de nossos alunos, do 6º ano à 3ª série do Médio. O leitor poderá, assim, conhecer alguns dos desafios enfrentados por eles no embate com a escrita e, é claro, suas conquistas. Poderá, também, se aproximar de nosso cotidiano de trabalho, no estudo de gêneros tão diversos.

O convite aos leitores é para conhecer não apenas os textos do concurso, mas

também um pouco de nossos cursos de produção textual e o que nossos alunos estão aprendendo, discutindo, descobrindo a cada vez que preenchem uma folha em branco com suas ideias, argumentos, perspectivas. Roberta Hernandes Alves Coordenadora de Língua Portuguesa – Fundamental 2 e Ensino Médio Escola Lourenço Castanho


Sumário Poema - 6º ano Ana Catharina – 6º B............................................................................................................ 13 Felipe A. R. Pires – 6º A........................................................................................................ 14 Felipe Ferraz – 6º A.............................................................................................................. 15 Luiza Fernandes Magalhães – 6º C....................................................................................... 16 Manuela Ramos – 6º B......................................................................................................... 17

Reportagem - 7º ano Eduarda Martins Delfino – 7º C........................................................................................... 21 Laís Lucci Serracarbassa – 7º A............................................................................................ 23 Lucas Dreyfuss Quintella – 7º A............................................................................................ 25 Maria Eduarda Gabrielli Bonato – 7º C................................................................................. 27 Victoria Paro Bellagamba Rodrigues – 7º A......................................................................... 29

Poema - 8º ano Fernanda Dahrey Pavan – 8º C............................................................................................. 33 Fernanda Oldani – 8º C........................................................................................................ 34 Julia Meirelles – 8º B............................................................................................................ 35 Luana Ramos – 8º A............................................................................................................. 36 Sophia Toledo – 8º A............................................................................................................ 37

Artigo de opinião - 9º ano Chiara Tedeschi – 9º A ......................................................................................................... 41 Clara Helena V. F. do Valle – 9º B.......................................................................................... 42 Gabriela Kovarsky Rotta – 9º A............................................................................................. 43 Guilherme Barreto – 9º A..................................................................................................... 44 Laura Arruda Alvares – 9º C.................................................................................................. 45


Artigo de opinião - 1ª série Bruno Pinto Ribeiro – 1ª B.................................................................................................... 49 Fabiana Gentil – 1ª B............................................................................................................ 50 Gabriela Maia – 1ª B............................................................................................................. 51 Maria Luiza de Oliveira Jorge – 1ª A..................................................................................... 52 Matheus Ferraz – 1ª B.......................................................................................................... 53

Carta argumentativa - 2ª série Gabriela Hawat – 2ª B.......................................................................................................... 57 Isadora Borelli – 2ª B............................................................................................................ 58 Luiza Alexandria – 2ª B......................................................................................................... 59 Marcelo Bechara – 2ª B........................................................................................................ 60 Victor Nery – 2ª B................................................................................................................. 61

Dissertação - 3ª série Gabriela Moraes Rodrigues – 3ª A....................................................................................... 65 Jaqueline Schneider – 3ª C................................................................................................... 66 Manuela Briso Gatto – 3ª C.................................................................................................. 67 Rodrigo Falcão – 3ª C............................................................................................................ 68 Vitória Acar – 3ª C................................................................................................................ 69


Poema 6º ano

A partir da leitura de “O poeta aprendiz”, de Vinicius de Moraes, os alunos foram convidados a refletir sobre o texto e, posteriormente, escrever um poema em que se imaginavam velhinhos(as) e contavam como era sua infância, a relação com a família, amigos, seus brinquedos e brincadeiras, planos que tinham para o futuro.



De repente De repente, Ao lembrar a menina que fui... Bonita, corajosa, Curiosa e intrigada, Uma pessoa feliz, Sinto que amava muito a vida E dela era e sou aprendiz; Tinha várias paixões, Mas, como qualquer um, Possuo imperfeições; E busco, A cada dia, Tornar-me alguém melhor. De repente, Ao lembrar os brinquedos queridos Que ficaram esquecidos Dentro do armário, Me bate uma saudade, Me bate uma vontade De voltar no tempo, De voltar ao passado. Mas nada acontece, E eu choro. Choro como o bebê que fui, E a criança que quero voltar a ser. Não quero crescer! De repente, Ao lembrar os amigos queridos Que tive, Me bate uma saudade, Me bate uma vontade De rir, de chorar, De ver os sorrisos E reviver cada besteira que fizemos. Por um segundo,

Lembro cada um dos apelidos E me sinto leve, leve como uma pena. De repente, Ao lembrar da família, Dos almoços de domingo, Me bate uma saudade, Me bate uma vontade De ter todos ao meu lado. De lembrar as histórias Que minha avó contava E das músicas Que cantávamos. De repente, Ao lembrar os sonhos, Como o que queria ser quando crescer, Uma bailarina, Me bate uma saudade, Me bate uma vontade De ficar deitada sonhando Cada aventura, Cada choro, Cada alegria. Me bate uma saudade, Me bate uma vontade De viver tudo de novo E poder pensar “tenho tempo” “muito tempo” De lembrar as histórias Que tenho para contar. Cada dia que passa, Uma nova história surge. E então? Como vale a pena crescer! Ana Catharina – 6º B

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O que todo menino quer Era um menino franzino, Olhos castanhos e cabelo espetadinho. Seus amigos eram miúdos, Um pouco mais cabeludos. Anos tinha oito, Felipe era seu nome, Em casa era danado, Na escola, dedicado. Nunca brincava sozinho, Sempre queira um amiguinho. Jogar bola era seu forte. Nos campeonatos sempre tinha sorte. Jogava e jogava, até cansar, Tomava banho e ia deitar. Seu pai lhe ensinou E passou seus truques bem direitinho, Com muito amor e carinho. Felipe também tinha amigos, Mas havia o mais fiel. Este era Gabriel. Embora não fosse macaco gordo, Felipe quebrava seu galho. Se precisasse de ajuda, Vinha na velocidade de um raio. A boca de Gabriel era um cadeado, Ele era tímido, mas engraçado. Ambos tinham o mesmo sonho, Que fingiam ser verdade, Jogavam futebol como se fossem celebridades. Brincadeiras, sonhos e lembranças, Ficaram todos na memória da infância. Felipe A. R. Pires – 6º A

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Um menino como tantos outros Ele era um menino

Sérios, engraçados ou craques,

Que, em filmes, era viciado

Quem se importa?

Em ficção científica. Não tinha jeito, era fascinado.

Banda ele queria ter.

Olhos verdes, de cor clara

Como Black Sabbath

E sardas por toda a cara.

Ele sonhava ser.

Cabelos negros e lisos,

Ele ouvia, com prazer,

Da cor da escuridão. Medos, quem não tem?

O som da guitarra.

Ele tinha de montão.

Os acordes do violão

Desde monstros até solidão.

Lhe tocavam o coração

Pensava tanto que achava

Mas, no fundo, no fundo...

Que não tinha mais o que pensar.

O que ele queria mesmo

Pensava, pensava...

Era continuar sendo criança,

Como se suas ideias nunca fossem acabar.

Pois não há nada tão inesquecível Quanto a vida na infância.

Brinquedos quase não tinha, Seu gosto era futebol.

Felipe Ferraz – 6º A

No campo ou na telinha, Era bom até em embaixadinha. Quando estava com tédio, pegava o violão. Tocava de tudo, desde Led Zeppelin a Legião. Desenhos ele criava Expandia sua mente. Não pensava em nada. Junto com o lápis e Com as cores ele brincava. Amigos juntos por toda a parte. Na rua, na escola e até em Marte. Família unida, sempre presente. Mesmo nas broncas não se ressente. Amigos tinha de sobra

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Hipnótica luz Cachos indomados Coruja em céu estrelado Sempre estabanada Com olhos apertados Em óculos de gigante Vivia saltitante. Seus amigos Eram tantos Que nem sabia Com sua família Em que rumo ia. Amava tanto que nem entendia Hipnótica luz Mergulho na costa pela manhã Mamãe, papai, irmã. Incansável e inquieta, Não gostava de boneca. Jogar, pular, dançar, cantar, Como era bom fazer barulho. Até que se cansava Ou se deixava descansar Quando a luz se apagava E a escuridão a dominava. Dançarina, chef, cantora Estilista, bióloga... Pouco se importava Com o futuro. Na palma de sua mão, O coração se confortava Quando a todos ajudava. Luiza Fernandes Magalhães – 6º C

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A menina do cabelo cacheado Era uma menina Pequena grande menina Cabelos cacheados E olhos cheios de vida. Gostava de bonecas e aviões Princesas e balões No seu mundo cheio de flores Fadas, porquinhos e flores. Sua mãe era bonita Legal e divertida Seu pai era esforçado Carinhoso e engraçado Sua irmã era companheira Nas bagunças e brincadeiras Brincavam e brigavam E aprontavam. Tinha muitos amigos De todos os tipos Tímidos e extrovertidos Esportistas e sonhadores Adorava sua escola Lá brincava de bola Futebol, vôlei, basquete Fazia castelos de areia Com príncipes, princesas e dragões Mas o que ela mais adorava Era brincar de estátua A única hora em que ficava parada. A menina sempre sonhava em ser astronauta Alcançar o espaço E chegar até a lua. Queria também outra bola, A de futebol, Para balançar as redes E muitos gols. Manuela Ramos – 6º B

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Reportagem 7Âş ano

Após um levantamento de temas que despertassem o interesse dos alunos e, ao mesmo tempo, tivessem relevância social, cada aluno definiu qual seria o tema de sua reportagem e criou a pauta, entrevistou especialistas, pesquisou, redigiu e diagramou sua reportagem autoral.



Dois universos nem tão diferentes assim Pesquisas mostram que as regiões Sul e Sudeste foram as regiões mais ajudadas pelos nordestinos e, ao mesmo tempo, as que mais praticam preconceito contra eles. Por: Eduarda Martins Delfino – 7º C O preconceito contra os nordestinos é algo tanto inaceitável quanto sem lógica, sem razão.

diferente da falta de água que hoje o Sudeste vivencia.

Foram eles que nos ajudaram na construção

O Censo 2000, do Instituto Brasileiro de

da nossa capital nacional, nos deram nomes

Geografia e Estatística (IBGE), apontou que,

ilustres da música e da literatura e, ainda por

entre os 10.508.218 moradores da capital

cima, também ajudaram na construção do

paulista, cerca de 2.047.168 destes nasceram

estado onde se concentra a maior economia

no Nordeste do Brasil (19,5% da população

do Brasil, São Paulo.

dessa cidade) e ainda assim o preconceito

Todos sabemos que o preconceito contra os nordestinos é muito praticado nas redes

contra eles é forte, não só na capital paulista, mas em todo o Estado.

sociais, principalmente por usuários anônimos,

Mesmo com um passado condenando

que, por sua vez, se sentem protegidos por

os nordestinos até hoje, segundo a psicóloga

estarem

em

outro

mundo, o virtual, mas estes desconhecem que é possível sim descobrir a origem dessas ofensas. No

passado,

os

“Acaba que no final das contas as pessoas que praticam o preconceito nem sabem o porquê, e muito menos, os efeitos devastadores dessa tão cruel discriminação. ”

Monera Sampaio, 34 anos, muitas pessoas que

praticam

o

preconceito nem sabem, na verdade, o principal motivo para isso. “Acaba

nordestinos vieram para o Sudeste e para o Sul

que no final das contas as pessoas que

por conta da falta de água que predominava

praticam o preconceito nem sabem o porquê

em grande parte do Nordeste e em busca

e, muito menos, os efeitos devastadores dessa

de melhores condições de vida. Como nem

tão cruel discriminação”.

sempre foram bem-sucedidos nessas regiões,

É importante lembrar que, muitas vezes,

os nordestinos passaram a ser vistos como

o preconceito contra os nordestinos é

analfabetos, pobres, sempre aqueles que

relacionado a sua condição financeira. Não é

migraram do Nordeste para São Paulo. Vale

muito comum ouvirmos falar de nordestinos

lembrar que a falta de água que o Nordeste

bem-sucedidos financeiramente sofrendo

vivenciou naquela época não é nada muito

atos preconceituosos, mas não podemos

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generalizar.

Suyanne

Martins

Delfino,

Brasil enxergar o Nordeste com outros olhos,

nordestina de 35 anos, diz que em seu

sem julgá-los pelo seu sotaque ou condição

trabalho, quando esquecem sua origem, é

financeira,

muito comum o surgimento de comentários

assumir que os nordestinos fizeram e fazem

ofensivos. “Em algumas reuniões de negócios,

parte do Brasil.

com altos executivos, por esquecerem da minha origem, fazem piadas cansativas de tratar, como “isto é coisa de baiano”, “chama um paraíba que ele consegue fazer”, dentre outras expressões pejorativas.”

Foto tirada do Facebook após as eleições para eleger o novo presidente do Brasil em 2014.

Ciente de todos os comentários ofensivos (principalmente na internet após a eleição feita em 2014 com a intenção de eleger o novo presidente do Brasil) contra os nordestinos, a estudante Marina Schuler, de 14 anos, diz não ter a mínima vergonha ou arrependimento de ser nordestina. ”Apesar de tudo e de todos, eu tenho muito orgulho de ser nordestina e jamais mudaria minha origem”. Nordestino é um povo trabalhador, alegre, que se depara com milhões de problemas diariamente e ainda consegue pôr um sorriso no rosto, não se deixa abalar mesmo com todos os preconceitos, com todas as ofensas. Os nordestinos nadam contra a correnteza há muitos, muitos anos. Está na hora de o resto do

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(entre

outros

estereótipos)


Divórcio, sempre algo marcante Este é um fenômeno muito presente na nossa sociedade Por: Laís Lucci Serracarbassa – 7º A 28 de julho de 1977 foi a data em que o divórcio foi constituído oficialmente no Brasil, porém antes, em 1916, havia o desquite, que permitia apenas a separação do casal, mas não permitia que ambos casassem de novo. Antigamente, era raro se separar, pois havia um grande preconceito Menina aborrecida pela briga dos pais.

em relação a isso, uma mulher desquitada era hostilizada na sociedade em que vivia.

pbvilagerti.org.br/o-drama-do-divorcio/

Com a aprovação da lei do divórcio, hoje, tanto homens quanto mulheres,

Castanho, localizada na capital do estado de

podem recomeçar suas vidas. Na sociedade

São Paulo.

atual, o divórcio está muito presente e é

Por mais que o divórcio tenha sido

considerado parcialmente normal entre a

algo positivo para as mulheres, nenhum

população. Uma pesquisa feita pelo IBGE

dado consegue calcular qual o impacto

diz que em cinco anos houve um aumento

psicológico que isso terá nas crianças.

de divórcios calculado em 75%, e que o Brasil atingiu o maior número de divórcios em 26 anos.

O

casamento,

‘’Sou completamente contra esse preconceito, pois ambos os sexos têm direito de achar oportunidades melhores de vida.”

“Algumas ficam depressivas

crianças, agressivas, e

em

alguns casos pode até afetar o desempenho

antigamente, tinha que ser para a vida

escolar, é necessário que haja muita

toda, e sempre correto, e muitas vezes as

conversa ao tomar essa decisão”, explica

pessoas permaneciam casadas, mesmo sem

Sérgio Pfleger, diretor do Fundamental II da

se gostar, por conta da sociedade. Hoje em

escola Lourenço Castanho.

dia, por termos mais liberdade em relação

O divórcio sempre causará sofrimento

a isso, suportamos poucas coisas a dois,

aos filhos, mas depende de como for

vivemos esse contraponto, explica Andrea

levado. Em muitos casos, os pais, quando

Bivar Correa, psicóloga da escola Lourenço

divorciados, passam a usar o filho para

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atingir o outro, o que faz com que o filho se sinta dividido e acuado. Às vezes, é necessária a ajuda de um especialista para que as crianças passem por esse processo turbulento. Os filhos, geralmente, criam fantasias do tipo que eles não foram adequados como filhos e esse foi o motivo pelo qual houve o divórcio, é necessário o casal ter total transparência com os filhos. É muito comum que pais poupem seus filhos de possíveis sofrimentos, mas pesquisas dizem que, ao deixá-los sofrer, estarão mais preparados para enfrentar o mundo, onde eventualmente terão que lidar com perdas e problemas. Um

estudo

do

IBGE

mostra

um

crescimento nas dissoluções de casais que não tinham filhos, passando de 26,1% do total, em 2000, para 40,3%, em 2010. Esta tendência foi observada também entre os casais que tinham somente filhos maiores de idade. Nesse caso, a evolução foi de 13,3% para 22,3%, nos respectivos anos. Já a participação dos divórcios cujos casais tinham somente filhos menores caiu em 10 anos de 52,1% para 31,6%. Essa pesquisa diz que pais evitam ao máximo o divórcio quando há filhos pequenos, pois creem que o convívio com pai e mãe ajuda no desenvolvimento da criança. “Apesar de o divórcio ser mais aceito na sociedade atual, ainda há preconceito”, explica Andrea. “Sou completamente contra esse preconceito, pois ambos os sexos têm direito de achar oportunidades melhores de vida”. O divórcio foi sim algo positivo, mas, como tudo na vida, tem seu lado negativo.

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Prisão Infantil? A maioridade penal deve ser reduzida ou não? Por: Lucas Dreyfuss Quintella – 7º A Será que os menores de 18 anos devem

condenam, como diz a psicóloga Carol

ser responsáveis pelos seus atos assim como

Fasano Quintella: “Essa medida é absurda.

os adultos? O tema da maioridade penal é

Uma criança de sete anos de idade está

um dos principais assuntos sendo discutidos

em pleno desenvolvimento e quem deve

no Congresso Nacional, ou mesmo em casa,

responder por ela é sua família.”

ou em encontros com amigos e familiares.

No Brasil, o que define a idade penal é o

Pesquisas apontam que

ECA (Estatuto da criança

90,9% dos brasileiros

“Infelizmente, tal procedimento

são a favor da redução

não ocorre na vida real tal qual fora

da maioridade penal, e

descrito pelo ECA.”

disseram que iria reduzir

e

do

Para

adolescente).

alguns,

é

um

conjunto de leis muito importante, mas outros

muito a violência, com 36,9% deles achando

acham que criam vândalos e bandidos,

que deveria ser reduzida para 16 anos.

e a psicóloga Carolina Fasano Quintella

Ao contrário da maioria das pessoas, a

também concorda que é muito bom para a

advogada Flavia Rahal diz que é totalmente

educação do menor infrator, mas acha que

contra a redução da maioridade penal: “As

deveria ser educado em casa. “No entanto,

pessoas imaginam que há muitos crimes

infelizmente, tal procedimento não ocorre

cometidos por menores quando, na verdade, os índices indicam que eles representam um percentual muito pequeno: 4% do total dos crimes são cometidos por adolescentes”, afirma Flavia. Por maioridade penal entende-se que é a idade em que a pessoa já tem a responsabilidade na condição adulta e se cometer um crime será presa. Países como Tailândia, Índia, Sudão, Nigéria e Paquistão têm como idade penal

Essa imagem mostra a maioridade penal em cada país do mundo. Imagem (Unicef)

7 anos, o que especialistas brasileiros

http://goo.gl/JJT1e5

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na vida real tal qual fora descrito pelo ECA. Se o Estado garantisse esse acompanhamento, sua reinserção psicossocial e sua educação concomitante

ao

cumprimento

das

medidas socioeducativas, acredito que essa intervenção poderia auxiliá-lo”. Para concluir, antes de obter uma opinião formada, é preciso se informar e colher dados em pesquisas, para que sua ideia seja baseada em argumentos concretos.

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A geração computador Às vezes, os aparelhos eletrônicos não são o que parecem, trazem problemas escolares para a família e para si próprio. Por: Maria Eduarda Gabrielli Bonato – 7º C Atualmente, é muito comum chegarmos a

restaurantes, lojas

e vermos, até

mesmo na rua, várias pessoas fixadas em seus smartphones.

Poucas sabem

que a tecnologia pode causar atraso no desenvolvimento, obesidade, agressão e problemas no desempenho escolar. A maioria dos adolescentes prefere ganhar um IPhone novo, IPad, video games a ganhar uma bicicleta, uma bola de basquete ou futebol. Muitos adolescentes têm problemas

Gráfico que mostra a preferência das crianças/ adolescentes quanto aos produtos.

escolares por conta do vício nesses aparelhos, que os faz se sentirem bem e

fala que a filha não larga o celular. Você não

cheios de amigos, importando-se muito com

está pesquisando isso à toa, você sabe que

a quantidade de likes que há em uma foto

existe uma série de pessoas que não largam

ou quantas mensagens há

no

WhatsApp,

deixando de focar nos estudos.

Seus

o celular e fazem um “Eles não falam mais cara a cara, não

uso abusivo, de só ficar

têm uma relação ‘verdadeira’, falta

feliz quando alguém te

aquela coisa de olho no olho”.

manda mensagem, e

pais

ficam preocupados e

não pensa em estudar.

até vão à escola pedir ajuda aos diretores e coordenadores.

As relações com os pais também são

Marcelo Luiz Caleiro e Wild Veiga, 36, psicólogo

e

Isso é muito ruim".

coordenador

prejudicadas, pois passam a não sair mais

educacional,

com eles, não prestam mais atenção no que

comenta sobre o tema: "Várias vezes, desde

dizem, nem contam mais o que acontece, o

que eu entrei na escola, todo ano tem alguém

que gera sofrimento para esses pais.

reclamando, alguma mãe desesperada, que

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A tecnologia mudou muita coisa desde que surgiu, há 20 anos. As coisas eram diferentes, os adolescentes se ligavam para marcar algo e não se preocupavam com o número de likes ou mensagens no WhatsApp. Fernanda Gabrielli Bonato, 37, mãe de uma pré-adolescente, confirma que o uso dos aparelhos eletrônicos mudou muito a vida. “Eles não falam mais cara a cara, não têm uma relação ‘verdadeira’, falta aquela coisa de olho no olho”. O vício está na vida de todos, mas é predominante na vida de adolescentes. Porém, esses aparelhos também trouxeram avanços, como comunicação com pessoas distantes e pesquisas, mas isso quando usados adequadamente com um certo equilíbrio. A maioria dos adolescentes não consegue ter esse equilíbrio. A estudante Maria Eduarda, 12, confirma que o uso dos aparelhos eletrônicos atrapalha seus estudos. “Quando vou estudar, as mensagens não param de tocar, me distraindo, atrapalhando meus estudos, o que me prejudica em relação às notas escolares”. Assim, podemos concluir que o uso dos aparelhos eletrônicos pode ajudar, mas, a partir do momento que é usado com irresponsabilidade e que passa a ser um vício, não se torna algo bom.

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Magreza é beleza? Hoje em dia muitas pessoas se preocupam bastante com seu corpo, mas nem sempre essa preocupação vem para o bem, causando doenças perigosas. Por: Victoria Paro Bellagamba Rodrigues – 7º A O padrão de beleza imposto hoje em dia é ser magra, as pessoas se preocupam muito com seu corpo, mas nem sempre ser tão magra é bom. Esse padrão pode causar muitas doenças perigosas, e as mais comuns são anorexia e bulimia. A anorexia é causada pela vontade excessiva de ser magra. Na maioria das vezes acontece com as mulheres com mais de 25

Essa imagem mostra como a anorexia pode influenciar na vida de modelos.

anos. As causas dessa doença podem ser

http://migre.me/pSBWo

várias, como predisposição genética, a pressão social e a rejeição de familiares e amigos. A

Bivar Correia. Essa imagem mostra como a

anorexia apresenta como sintomas queda

anorexia pode influenciar na vida de modelos.

de cabelo, visão destorcida de si mesmo,

As causas, tratamentos e sintomas da

ressecamento das unhas, dentre outros. O

bulimia são os mesmos da anorexia, mas a

tratamento é bem complexo, “Geralmente,

doença é um pouco diferente. A pessoa que

quem atende pessoas com bulimia ou

tem bulimia também não deseja comer, mas

anorexia é uma equipe multidisciplinar que é

ela não se acostuma com a ideia de não comer

formada por psiquiatras, psicólogo, nutricionista, endocrinologista,

um

e então vai à geladeira e “Você é o que você come, não

come tudo o que vê, não

podemos deixar de comer. ”

importa o seu gosto.

monte de gente para

Muitas vezes ela faz

acompanhar a pessoa com a família, tem

isso sozinha e, ao terminar, se sente culpada,

uma coisa nutricional que é o que pode

então provoca o próprio vômito. Também

comer e o que não pode, tem tratamentos

toma laxante para ir ao banheiro e diurético

psiquiátricos importantes com medicação

(remédio para diminuir a quantidade de

porque muitas dessas meninas têm questões

líquido do corpo).

ligadas à depressão”, diz a psicóloga Andréa

Muita gente acha que fazer muitos

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exercícios, ir muito à academia ou fazer um regime, levam à anorexia, mas nem sempre isso é verdade, segundo a esportista Tatiana Pinheiro, 41 anos: “Acho que quem frequenta academia não tem esses distúrbios, pois se alimenta bem para conseguir um bom treino. Sem se alimentar é impossível ir para a academia treinar, não se pode deixar de comer, você é o que você come”. A anorexia e a bulimia são distúrbios alimentares

que

devem

ser

tratados

rapidamente e com antecedência. Essas duas doenças são tão perigosas que se não forem tratadas podem levar à morte.

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Poema 8º ano

A escrita dos poemas partiu de um trabalho interdisciplinar que envolveu os componentes de História, Geografia, Orientação Educacional e Língua Portuguesa. Os alunos refletiram – a partir da vídeo palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, que problematiza o mito da História Única, eurocêntrica – sobre a importância de superar a História Única para uma visão mais profunda sobre os outros e sobre nós mesmos.



Um livro rasgado As histórias únicas São como cadeados trancados Que permitem convencer as pessoas a quê? De quê? A um único olhar, Em relação a lugar ou coisa, Como uma página rasgada de um livro, No qual se lia Só uma parte de história, Pois a outra parte Ninguém havia encontrado. Acreditavam no que liam e contavam. Todas as histórias que eu lia Tinham personagens brancos de olhos claros. Por que nunca me reconhecia? Eu te conhecia, Eu me conhecia Me fazendo acreditar Que os cadeados construídos, Em relação a mim e minha história, Me tornavam diferente. Diferente, mas com poder. O poder de se conhecer e abrir O cadeado construído E trancado por você. Fernanda Dahrey Pavan – 8º C

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Retalhos de uma história Como uma concha Velha e quebrada, Todos escondemos uma pérola Se você olhar além da fachada. Como uma janela embaçada Que limita sua visão, Histórias únicas Só contam parte de uma imensidão. Histórias de nações e continentes, Como nos amarronzados Se você mergulhar, Verá peixes que, em uma geladeira, não estão armazenados. Em rádios e jornais Só se fala de pobreza, Mas isso não é tudo E falo com certeza. O recorte de uma foto Não te mostra paisagens inteiras, Assim como um pedaço de papel rasgado Que, da folha, só te mostra uma das beiras. Fernanda Oldani – 8º C

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Apenas a metade Uma história única... Da África? América? Histórias que não sabemos, Muito importantes, Histórias que sabemos, Talvez nem tão importantes. Europa, lar de brancos, Colonizadores com chicotes Com seu ouro e sua glória. África, lar de negros, O sofrimento dos escravos Grandes guerras por todo o país Bombas explodindo em todos os civis. Histórias únicas são como um livro Lido apenas pela metade A metade da dor A metade do amor A metade dos brancos A metade dos negros A metade de guerras e de colonizações. É apenas isso que vemos, Mas não é só isso que aconteceu O que acontece é diferente Do que podemos enxergar, É diferente da história única. Julia Meirelles – 8º B

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O que os olhos não veem a gente imagina O que você imagina ao ouvir “África”? Só fome e desgraça? Com paisagens bonitas e mais nada? Acho que se enganou, Pois na África muito mudou. Por que só imagina isso de lá? Porque é só isso que a mídia quer falar A mídia pode criar Visões de um lugar Que podem o destruir Sem medo de agir. O que você sabe sobre um Quilombo? Que vivem no mato, sem roubo? Sem internet, com inveja da cidade? Pois essa não é a realidade. Cuidado com a história única, Pois é como uma música, Cada um a escuta, Mas canta como quer. Então antes de pensar, Antes de imaginar Algo de alguém O conheça bem Para não julgar sem ver. Luana Ramos – 8º A

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Olhares de fora Neste mundo em que hoje vivemos, muitas histórias nós perdemos, às vezes, por falta de vontade e outras por muita criatividade. Ao vermos uma pessoa na rua, começamos a pedalar a incrível máquina do cérebro que nos faz imaginar. E em pouco menos de uma hora, o mundo todo vira uma bola cheio de ideias e julgamentos sem o menor fundamento. Os olhares cortantes, As risadas aterrorizantes Que me deixam acordada me sentindo acabada. Só aguardo pelo dia em que não teremos que nos preocupar, não teremos que temer o que os outros vão pensar. Sophia Toledo – 8º A

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Artigo de opinião

9º ano

Depois de assistirem ao documentário O riso dos outros (2012) e discutirem casos recentes de processos envolvendo humoristas de stand up e piadas contra minorias, os alunos desenvolveram seus artigos de opinião problematizando a relação entre ética e humor, a partir da questão: “Na hora de fazer piada, vale tudo?”



Com humor Em uma sociedade cada vez mais complexa, o humor é relativo e, gradativamente, mais polêmico. Se “toda piada tem um alvo” como Danilo Gentili, comediante, afirma, temos que trabalhar bem o conceito de piada e sua repercussão diante da população pensante. Se brincar é coisa séria e ajuda na formação da criança, por que piada não é? Nada “é só uma piada”, humoristas são formadores de opinião e, ter uma regra como a da “necessidade de atacar minorias”, citada por André Dalmeroi no documentário “O riso dos outros”, só reforça estereótipos e preconceitos contra os quais tantos movimentos lutam. Rir, com certeza, é necessário, mas o riso não pode atacar ninguém. A habilidade do humorista está em tratar diferentes temas e rir “com eles” - não deles. A estrutura de uma piada se pauta em algo, e a mágica é provocar riso sem ofender, levantar um tema com humor. O importante “é saber de que lado você está da piada”, aconselha Hugo Possolo. O ponto é que piada não tem que gerar processos e sim, riso. Se piada gera processo, o mecanismo do humor está funcionando errado. E o pior, se rimos dessas piadas que têm a graça tão relativa, precisamos rever nosso e todo o humor. Chiara Tedeschi – 9º A

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Censura ou bom senso? O humor, há tempos, já se consolidou e é muito utilizado hoje em dia para a prática de shows de “stand up”, que possuem como principal função realizar “quebras” no cotidiano da maioria, trazendo um pouco de humor para o dia a dia. Somado a isso, o humor é matemática, possui lógica, é uma prostituta constantemente se vendendo por risadas que dependem da ausência de compaixão das pessoas. A graça é originada das ofensas às minorias e dos preconceitos da sociedade. Porém tudo é relativo, o humorista carrega em si uma quantidade grande de poder e pode escolher como vai utilizá-lo: seja para subir de nível e construir piadas críticas que quebram preconceitos, seja para bater ainda mais nessa tecla. O que muitos não percebem é que piadas são discursos ideológicos que influenciam na criação do modo de pensar da população. Se Danilo Gentili brinca com a boa ação de doar leite de Michele Maximino, chamando-a de “vaca”, vários irão pensar que não há problemas e que esta ação está correta, porque, apesar de tudo, é só uma piada. No entanto, sempre há dois lados de um fato, o humorista pode até ser ignorante, mas o público que ri de piadas machistas, homofóbicas, racistas e preconceituosas é o que dá forças para esse tipo de humor continuar. Recentemente, os reis da risibilidade estão apelando para o direito de liberdade de expressão, afirmando que, ao ocorrer censura e processos jurídicos, ele está sendo violado. O fato é: tudo tem limites, incluindo o humor, e esse limite acaba quando a piada esbarra no direito do outro. Clara Helena V. F. do Valle – 9º B

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“(Não) consideramos justa toda forma de humor” Humor é caso sério. Apesar de tomar forma de algo descontraído e, na maioria das vezes, despretensioso, um bom humorista precisa dedicar tempo e esforço na criação de piadas originais. O stand up (se levantar) ascende em meio às preferências de entretenimento entre jovens e adultos. Em um show simples, o humorista não recorre a cenários ou personagens para arrancar risadas do público. O trabalho se dá em cima de um texto previamente formulado e na capacidade de improvisação do mesmo. Em meio à necessidade de fazer rir, surgem piadas ofensivas que nos fazem refletir sobre um possível limite para o humor. Até que ponto “é só uma piada?” Para muitos, nesse meio, a forma mais fácil de provocar risadas é investir nos estereótipos. Piadas sobre loiras burras e gays afetados são usadas inúmeras vezes e, ainda assim, servem como forma de divertimento para muitos. Se os temas são compartilhados pela maioria, basta dizer o que a maioria quer ouvir. É preciso reconhecer a diferença entre piada e discurso de ódio que se fantasia como tal. Por definição, o humor é a capacidade de compreender e expressar coisas cômicas ou divertidas. Todo tipo de humor que constrange e ultrapassa os limites do outro não é válido, não é engraçado e não pode servir como entretenimento. Bons humoristas têm a capacidade de contar piadas cômicas que tratam das mesmas minorias, mas não são invasivas ou ofensivas. Como pontua Leandro Hassum, “o humor nasce do diferente”. Este acompanha tendências e reflete padrões. O humor é uma válvula de escape para a seriedade que nos é exigida diariamente. É preciso aprender a rir de si mesmo e encontrar graça em situações do cotidiano com respeito, é claro. Gabriela Kovarsky Rotta – 9º A

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A preguiça dos comediantes O humor sempre foi um divisor de opiniões em nossa sociedade. Embora muitas pessoas acreditem que piada pode ser de qualquer coisa, de qualquer jeito, isso não é o correto, pois elas podem invadir o espaço dos alvos das piadas e, assim, ofender alguém. Isso fica claro quando vemos a quantidade de processos que os humoristas famosos sofrem. Rafinha Bastos, por exemplo, já sofreu inúmeros processos e, por causa de uma piada, perdeu seu emprego no programa CQC, da rede Bandeirantes de televisão. Nenhum tema de piadas deve ser proibido. Porém, temas como preconceito, racismo, etc devem ser tratados de uma forma em que o comediante mostre os problemas da nossa sociedade nesse aspecto, ou, dependendo, as pessoas que sofrem diariamente com esse problema. No entanto, muitos dos comediantes ajudam a aumentar preconceitos, zombando de pessoas que sofrem racismo. Os comediantes, às vezes, passam a ideia de serem pessoas malandras, que não seguem regras, como disse Antonio Prata em sua analogia “passar a mão na bunda do guarda”, o que mostra algo de perigoso. É através desse perigo que as risadas saem. Portanto, eles desistem de pensar em piadas boas para simplesmente fazerem piadas que zoam todas as minorias, pois se incluem nelas, assim como a plateia ou, pelo menos, grande parte dela. A nossa sociedade está cada vez mais recusando as piadas ofensivas e, principalmente, as piadas batidas, que são repetidas várias vezes pelos comediantes, pelo fato de serem as piadas que sempre dão certo e fazem a plateia rir. Essas piadas preconceituosas têm que parar de acontecer, pelo simples fato de que fazer piadas das minorias é fácil. Os bons comediantes são aqueles que se encaixam nas maiorias e zombam delas, mostrando os defeitos do lado que outros comediantes consideram “intocáveis”. Guilherme Barreto – 9º A

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Qual o processo da risada? Em tempos em que debates só aumentam, impossível não ressaltar o tema recorrente da liberdade de expressão e a suposta censura imposta sobre os artistas. Essa vigilância sobre as piadas tem mantido os humoristas na mira e controlado sua forma de fazer humor com rédeas curtas. A realidade é que cada vez mais o humor vem ganhando espaço e notoriedade em nossa sociedade, sendo pra fazer rir, discutir ou refletir, ou, de uma forma mais preocupante, a ofensa “disfarçada” de piada. É fácil fazer humor sobre as minorias de nossa sociedade, sobre negros, mulheres, homossexuais ou, pior dizendo, “viados”. Como apresenta o escritor Antônio Prata, “As piadas preconceituosas estão no nível mais baixo do humor, pois são as mais fáceis de criar”. A partir dessas reflexões, o humorista Pedro Arantes fez o documentário “O riso dos outros” que apresenta seu ponto de vista sobre o humor, a liberdade de expressão, a suposta censura e o valor do humor quando vistos por nós e pelos próprios humoristas, escritores e cartunistas presentes no documentário. O humor é uma ferramenta poderosa, capaz de destruir e é isso que muitos humoristas não percebem. O Brasil está carente de comediantes com uma capacidade maior de criação. Tudo pode ser humanizado, não existe uma barreira de assuntos que não possam ser ironizados, mas sim uma barreira que separa até onde posso fazer piada sem ser desrespeitoso, pois o impacto de uma piada pode ser gigantesco na vida do alvo dela. É aí que se encontra a guerra entre os que defendem a liberdade de expressão, ser livre pra dizer o que quiser e não ser censurado por isso. O que é um equívoco muito comum, a liberdade de expressão existe, mas os abusos também causam processos milionários. O humor brasileiro hoje está muito apegado à comédia “paspalhona”, sem muito valor cultural e também ao humor fácil como as ofensivas piadas que realçam as diferenças e as minorias e, de certa forma, nos fazem rir da “desgraça alheia”. Estamos carentes de um humor que não se apegue apenas no poder de dizer tudo e a possibilidade de rir e fazer rir de tudo, mas que se dê conta de seu poder e precise evoluir a comédia e nós como sociedade. Laura Arruda Alvares – 9º C

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Artigo de opinião

1ª série

Ao longo do 2º trimestre, os alunos das 1ªs séries realizaram um estudo sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão que culminou com seminários os quais analisavam filmes que abordavam o desrespeito a esses direitos. A partir dos seminários, a proposta para a escrita dos textos do concurso foi refletir sobre a imigração tendo como ponto de partida o seguinte recorte: Movimento migratório – contribuições e impasses no Brasil do século XXI.

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Imigração – Como lidamos com os imigrantes A globalização quebra fronteiras políticas e econômicas e estimula o contato de diversos povos ao redor do mundo. Por outro lado, vemos diversos países fortificarem suas fronteiras em busca de evitar a vinda de imigrantes, sobretudo com o avanço do comércio, a rapidez da comunicação e o barateamento dos transportes. A ideia de fortificar fronteiras é tão antiga quanto a movimentação do homem pela Terra. A Muralha da China, séc. III a.C., e a Muralha de Adriano, séc. II, construída onde hoje fica a fronteira entre Inglaterra e Escócia, são exemplos disso. Ambas com princípios militares. Na história do Brasil, fluxos migratórios foram fundamentais para a formação do povo brasileiro. Expedições portuguesas, imigração de europeus e necessidade de mão de obra após a abolição da escravatura estimularam a vinda de milhões de pessoas às terras tupiniquins. Hoje, somos considerados um país emergente e, cotidianamente, flertamos com a vinda de milhares de imigrantes de países subdesenvolvidos que vêm em busca de oportunidades e uma melhor qualidade de vida. É complicado discutirmos imigração quando temos um Estado de bem-estar social que sobrecarrega os pagadores de impostos e causa desastres nesse tipo de sistema. No entanto, somos um país com enorme potencial e que necessita de imigrantes, mesmo que esses representem apenas 0,3% dos quase 200 milhões de habitantes no Brasil, o que pode ser justificado por uma política de imigração burocrática e atrasada. A média no mundo é 3%. O maior passo dos últimos anos foi a aprovação pelo Senado de um Projeto de Lei que visa a substituir a norma atual, redigida no governo militar, em 1980. O texto, que ainda necessita da aprovação da Câmara dos Deputados, é de autoria do senador Aloysio Nunes, PSDB, em 2013, que apesar de não trazer muitas novidades mostra grandes avanços em relação à nossa política obsoleta, como a possibilidade de renovar o visto sem ter de sair do país e a possibilidade do estudante-imigrante trabalhar durante as férias. No Brasil, milhares de haitianos vivem como refugiados após deixarem o seu país, devido ao terremoto de 2010, que deixou 230 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados. Muitos deles chegam pelo Acre e vão de ônibus aos estados do sul e sudeste. Infelizmente, não é difícil encontrar relatos de haitianos que dizem ser vistos como escravos pelos brasileiros. Devemos, independente de qualquer coisa, estar abertos ao que os outros povos podem nos trazer de bom. Destaca-se a importância de um tratamento digno e solidário aos cidadãos-imigrantes, que, por vezes, deixam suas dificuldades em busca de um novo caminho. É fundamental o respeito dos direitos humanos e a reciprocidade entre os povos. Bruno Pinto Ribeiro – 1ª B

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Por uma vida melhor – inalcançada A imigração é o movimento de entrada de população ou pessoas de um país para outro, que pode ser temporário ou permanente, com intenção de residência ou trabalho. Portanto, é um processo natural do ser humano que, desde a “idade das pedras”, é essencial para o desenvolvimento das sociedades através da globalização. Contudo, a imigração traz consigo uma série de consequências que podem ser negativas. A partir do último quarto do século XX, uma grande onda de bolivianos migrou para o Brasil à procura de melhores condições de vida e empregos. Estabeleceram-se concentradamente na região metropolitana de São Paulo, pois esta representava a possibilidade de mobilidade social. Os menos qualificados são majoritariamente destinados ao setor da costura, enquanto os mais qualificados ocupam cargos que exigem formação universitária. Com a demanda de mão de obra no setor da costura, houve uma significativa concentração de bolivianas nas oficinas terceirizadas. Essas imigrantes acabam ficando em uma posição vulnerável, pois trabalham sem regulamentação trabalhista, ocupando a posição de imigrante ilegal no país. Nessas ocasiões, as imigrantes são subordinadas a péssimas condições de trabalho, que fazem analogia à escravidão, e a seus patrões, que utilizam propagandas enganosas para atrair mais operárias. Uma solução para esse problema, que já vem sendo desenvolvida, é a criação de organizações sociais e culturais, tais como a Associação Residentes Bolivianos, que visam a apresentar para o país de destino dos bolivianos a cultura e as tradições da Bolívia, abrindo um espaço onde os imigrantes podem se expressar e estabelecer um diálogo com os brasileiros. Todos os brasileiros deveriam, por lei, respeitar os direitos humanos e garantir que eles sejam respeitados na nova realidade dos imigrantes, seguindo o princípio da solidariedade entre os povos. Devemos entender que, nesses casos, a imigração não é uma questão de escolha e sim de necessidade. Acabam abandonando seu passado para tentar salvar o futuro. Fabiana Gentil – 1ª B

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Movimento migratório: contribuições e impasses no Brasil do século XXI Os movimentos migratórios para o Brasil são um fenômeno observado desde 1530, com a chegada dos colonizadores portugueses e posteriormente de outras nacionalidades, por diversos motivos. Nos dias atuais, os principais motivos para bolivianos e haitianos virem para cá é, muitas vezes, a instabilidade política ou econômica de seu país de origem. Ao saírem de países emergentes ou subdesenvolvidos, os imigrantes procuram melhores condições de vida, com enfoque no trabalho. Nos lugares de destino do imigrante, eles podem representar uma massa competidora por empregos e diminuição de salários, vistos como “ameaças”, no mercado de trabalho, por sindicatos ou outras pessoas desempregadas. Isso, muitas vezes, tem como resultado o tratamento xenofóbico e racista contra esses novos indivíduos. Por outro lado, os imigrantes também têm papel social e econômico fundamentais. Não podemos esquecer que foram eles que contribuíram para a formação sociocultural do país há anos e para a construção cultural própria do Brasil. Além disso, a saída de imigrantes de seus países de origem alivia tensões sociais e econômicas, promovendo um dinamismo econômico, não só para seu lugar de origem, como também para seu destino final. Ao chegarem ao Brasil, os imigrantes são aqueles que ocupam vagas de emprego recusadas por moradores locais, recebendo salários baixos e evitando uma instabilidade econômica. No entanto, precisamos melhorar a forma como tratamos os imigrantes e garantir seus direitos trabalhistas. Uma maneira para que isso aconteça seria a aprovação da Comissão de Relações Exteriores do Projeto de lei do Senado nº 288/2013, proposto por Aloysio Nunes. Esta lei garante o tratamento humanitário e de acordo com os direitos humanos para estrangeiros. A aprovação dessa lei significaria um grande avanço para o Brasil e para os imigrantes, que, afinal, só estão indo atrás do direito a uma melhor qualidade de vida para eles e suas famílias, que pode não só beneficiá-los, como também pode beneficiar uma nação. Gabriela Maia – 1ª B

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O julgamento do natural Não se pode dizer ao certo quando a migração teve início, visto que é um processo natural da essência humana. Pessoas movimentam-se de acordo com as suas necessidades, limitações e objetivos, e esses fluxos migratórios acontecem no mundo desde os primórdios da nossa existência, tendo sido decisivos para termos nos tornado o que somos hoje. A movimentação entre territórios, povos e culturas possibilitou a formação de um conjunto de conhecimentos (que, por sua vez, não são estáticos e alteram-se constantemente) que nos guiam no entendimento do desconhecido que nos cerca. O Brasil foi extremamente marcado pela imigração, já que, antes da vinda dos portugueses, não era reconhecido enquanto território. Uma quantidade imensa de pessoas passou a habitar a terra descoberta que, até então, era dominada por grupos indígenas. Ainda que essa entrada tenha sido feita de maneira muito agressiva e desrespeitosa, é inegável que esse fluxo migratório tenha sido o pontapé inicial para um posterior crescimento e desenvolvimento, considerando também toda a mistura cultural que ocorreu. No entanto, a imigração no Brasil adquiriu um quadro complexo e conflituoso com o passar dos anos. São muitas as pessoas de países subdesenvolvidos que se mudam em busca de condições melhores de vida, e engana-se quem pensa que a fama receptiva do nosso povo se dá com tais grupos marginalizados. É muito comum que sejam encontrados em situações de exploração e, inclusive, análogas à escravidão, sendo vistos como subumanos. Além disso, a xenofobia e discriminação em relação a esses povos é fortíssima, tanto no plano verbal, quanto no físico. Esquece-se de que são os tão invasivos e desmerecedores de respeito que auxiliam e mantêm nossa base produtiva, pois encarregam-se de cargos em situações precárias que nenhum habitante local tem interesse em fazer, gerando assim uma diminuição nos custos e uma expansão na base de consumidores. Deve-se lembrar que, como já dito anteriormente, as migrações possibilitam uma troca cultural de vivências e experiência muito rica e que tende a revitalizar grupos e sociedades. Todas as grandes complicações relacionadas a esses imigrantes são associadas às nossas políticas que não são capazes ainda de enxergar o outro enquanto ser humano, assegurando qualidade de vida e segurança a ele. Sendo assim, a imigração é inevitável e, mais que isso, muito necessária. É o fortalecimento do vínculo com outros indivíduos que nos beneficiará enquanto coletivo para que, cada vez mais, barreiras sejam quebradas e escuros tornem-se pontos claros e definidos. Pois, se migrar é tão problemático, todos nós deveríamos ser julgados. Maria Luiza de Oliveira Jorge – 1ª A

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Quem é imigrante? Muitos de nós estamos aqui graças aos nossos ancestrais, que vieram de outros lugares, principalmente da Europa, procurando por melhores condições de vida, uma vida nova. Esses imigrantes foram de muita importância na construção do nosso país em aspectos culturais, econômicos e sociais. Existe hoje, porém, o questionamento sobre o papel do imigrante e a sua importância no Brasil. Um discurso que se mostra contrário à imigração no Brasil é a ideia de que o imigrante compete e ocupa cargos que os brasileiros poderiam estar ocupando, ou seja, quanto mais imigrantes, maior a taxa de desemprego entre os brasileiros. Se refletirmos e analisarmos esse argumento, concluímos que se trata de um equívoco, uma vez que, ao mesmo tempo que o Brasil recebe muitos trabalhadores estrangeiros, muitos brasileiros também migram para trabalhar em diversos países. Um exemplo de “polo” brasileiro é Miami e a região da Flórida em geral, onde a população de imigrantes brasileiros vem aumentando cada vez mais e gerando lucro, fortalecendo essa região. Além disso, muitas vezes os imigrantes (no Brasil e no mundo) ocupam cargos em que existe pouca procura por parte do povo nativo, sendo assim, não prejudicam significativamente o povo, mas sim ajudam o país economicamente, além dos ganhos culturais e sociais que não devem ser ignorados. Os médicos cubanos que vieram para o Brasil são exemplo disso, uma vez que ocuparam cargos que não foram procurados/aceitos pelos médicos brasileiros e, mesmo assim, foram muito criticados. Toda essa resistência que o povo brasileiro tem em relação aos imigrantes também parte de um caráter xenofóbico, se pensarmos nas vantagens dessa imigração e na inconsistência dos argumentos contrários quando os analisamos. Esse discurso contrário, além de xenofóbico é, também, hipócrita, pois devemos considerar que a maioria do povo brasileiro descende de trabalhadores que vieram ao Brasil em busca de uma nova vida e aqui ficaram. Não devemos criticar esses imigrantes, mas sim aceitá-los e considerar as vantagens da imigração para o nosso país, afinal todos somos, de certa forma, imigrantes e buscamos sempre melhorar a situação do país, e esses imigrantes, assim como no passado, são de vital importância economicamente, além de trazer a nós a inegável cultura da qual o povo miscigenado brasileiro não se cansa. Matheus Ferraz – 1ª B

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Carta argumentativa 2ª série

A partir da discussão sobre a lei de reserva de 50% das vagas para ingresso em universidades e institutos federais para alunos de escolas públicas, negros e indígenas, os alunos deveriam escrever uma carta para a presidenta Dilma Rousseff defendendo uma posição favorável ou contrária à lei, escolhendo um destes remetentes: um professor universitário ou um cidadão comum.

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São Paulo, 29 de junho de 2015. Senhora Presidenta, Venho por meio desta carta me comunicar com a senhora sobre o decreto ratificado em seu governo, no dia 13 de outubro de 2012, em que foi estabelecido que metade das vagas das universidades e institutos federais é reservada para alunos de escola públicas, negros e índios. Sou negra, nascida em uma família humilde do interior de São Paulo e, considerando todas as gerações de minha família até então, vejo que, graças à política de cotas implantada pela senhora há 3 anos, represento o ponto final de uma trajetória de muito preconceito, falta de oportunidades e pobreza. Mais que um ponto final, considero que tudo que eu e as gerações futuras de minha família escreveremos fará parte de um “novo livro”, com uma trajetória, narrativa, totalmente diferente do livro anterior, em que eu tinha quase que um espaço reservado para mim já escrito pelo que estava pré-determinado que viveria. E, como muitas pessoas não enxergam, foi necessário muito esforço pessoal para mudar essa história para outra totalmente diferente. Relatando brevemente minha história para a senhora, peço que atente para o fato de que ela revela como o sistema de cotas funcionou e vem funcionando, ao longo dos anos, de forma totalmente transformadora. E, como cidadã consciente, formada por conta da educação que tive graças à vaga que consegui com cotas, venho dar a minha opinião sobre o governo que a senhora vem construindo para o Brasil - ao meu ver, marcado pela principal característica de “divisor de águas”. A senhora presidenta teve a ilustre capacidade de reconhecer o problema social que, infelizmente, faz parte do Brasil e, o mais importante, considerou os problemas que grande parte da população brasileira enfrentava e vem enfrentando até hoje. Ao invés de mascarar o fato de que o Brasil necessita de reparações étnico-raciais, como muitos políticos fizeram com o intuito de esconder a história de nosso país, que necessita de muita atenção e reparações para que a situação social da maior parte da população, massacrada, diariamente, nas mãos de quem detém o poder econômico e intelectual, a senhora reconheceu esses problemas, e a política de cotas adotada vem sendo recebida por milhões de brasileiros como uma maneira de promover oportunidade para segmentos populacionais historicamente marginalizados e massacrados. Grata, Maria Antônia Bezerra, que teve sua história e de sua família reconhecida e reparada. Gabriela Hawat – 2ª B

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Presidente Dilma Rousseff, Venho, por meio desta, prestar uma declaração como professor e, acima de tudo, cidadão preocupado com o futuro do Brasil. Leciono, há quase 20 anos, no curso de História da Universidade de São Paulo e, nos últimos anos, venho recebendo cada vez mais alunos negros que passaram por meio do sistema de cotas raciais. É importante ressaltar que, em 2012, quando a senhora ratificou tal medida, houve um certo estranhamento, a princípio, da minha parte. Temia pelo próprio processo de ingresso na faculdade, que traria à minha sala de aula pessoas que, sem as cotas, não seriam aprovados no vestibular. Também me angustiava pensar na segregação que poderia ocorrer, visto que alunos, vale frisar, brancos e ricos, veriam um negro “tomar” a vaga que seria supostamente prometida a eles desde o berço. Eu não poderia estar mais enganado. Ensino História do Brasil e é meu papel como educador guiar o olhar de meus alunos a questões sociais com um olhar aguçado às minorias e grupos sociais alvos de preconceito. Também é o meu trabalho estudar o quão essencial é entender o passado para, só assim, compreender o presente. Sendo assim, entender que as cotas representam um respaldo do governo a pessoas que vêm sendo marginalizadas e esquecidas há séculos foi algo instantâneo. Bastou perceber quão competentes são meus alunos cotistas. O argumento de que sem as cotas alguns não ingressariam na faculdade agora me aborrece de um outro modo: que falta eles fariam! Estudar, por exemplo, escravidão com descendentes de escravos na sala de aula é extremamente enriquecedor. Me sinto grato por ter a oportunidade de ser o responsável pelo processo de o indivíduo de conhecer sua própria história. Me sinto grato por aprender todos os dias com negros, pardos, brancos, asiáticos e indígenas, ricos e pobres. É essencial ressaltar também que meus alunos brancos que estudavam em escola particular também ganham enormemente com a diversidade em sala de aula. Eu agradeço. Mas também preciso reconhecer que tal medida de inclusão social, já que garante uma elite intelectual negra no futuro, chegou deveras tarde. Meus alunos cotistas ingressaram na USP não por mérito das escolas públicas e sim do esforço além da conta deles mesmos. Sendo assim, venho cumprir meu papel de cidadão pedindo um olhar especial da senhora para o Ensino Fundamental e Médio, por mais oportunidades e mais diversidade em sala de aula. Atenciosamente, Emílio Azevedo Isadora Borelli – 2ª B

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Presidenta Dilma, Queria saudá-la pela decisão tomada em relação às vagas de universidades e institutos federais para os vulneráveis socialmente. Sou negra, mãe e uma testemunha do que as cotas podem representar para o Brasil. Como secretária de um consultório médico, pude aprender muito do que não tive a oportunidade de aprender na faculdade. Meu ensino básico foi muito fraco e incompleto, numa escola pública do meu bairro na zona norte do Rio de Janeiro, o que me fez querer sempre coisa melhor pras minhas filhas. Hoje tudo o que eu sei é do que eu leio e ouço nos jornais ou livros, mas essa simplicidade da minha vida nunca me impediu que eu desejasse o que é bom, o de melhor qualidade. Assim como eu, muitos da minha comunidade foram influenciados pelas cotas. Minha filha, com 18 anos, entrou na faculdade como cotista e está no seu último ano. Já faz estágio e participa de grupos estudantis da UFRJ, que usa cotas desde 2004. Ela vive o conhecimento e o absorve a cada dia mais e, como mãe, posso ver nela um futuro diferente do meu, algo que a senhora deve querer para a população. Vejo as cotas como uma porta pra vida das oportunidades, como uma chance para o conhecimento e pra crescer na vida. A faculdade é o lugar para isso! E, sim, elas incomodam porque não estão inseridas no sistema em que o dinheiro é tudo, pois ele pode até pagar o ensino, mas não compra a humanidade. E para aqueles que dizem que as cotas estimulam a desigualdade, só peço que revejam o dia a dia de um negro, porque é na pele (literalmente) que a gente vê que de igual essa país não tem nada. O racismo e o preconceito estão aí nos olhares, nas atitudes, no discurso e até no medo. Mas medo tinha eu, presidenta, de ter filhas dependentes, subordinadas aos patrões, eternamente, tendo que aprender pelo livro dos outros, porque não teriam condições de entrar na faculdade. E medo tínhamos nós, negros, de continuar sempre à margem, mesmo sendo a maioria, de nunca poder bater no peito por ser negro, porque seríamos ruins, inferiores, sujos, ladrões. Hoje, inserida na faculdade por mérito, aliado ao fato de ser negra, minha filha pode afirmar sua cor e sua identidade. Somos testemunhas das cotas como uma medida afirmativa que deveria fazer parte de qualquer governo como reparação étnicoracial e como promotora de oportunidades não só para um grupo, mas para todo o Brasil. Luiza Alexandria – 2ª B

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Presidenta Dilma Rousseff, Venho, por meio desta carta, parabenizá-la pela ratificação do decreto que determina a reserva de metade das vagas de universidades e institutos federais para alunos de escolas públicas, negros e índios. Ações afirmativas como esta fazem com que caminhemos rumo à inclusão – e integração – de populações marginalizadas socialmente e oprimidas historicamente em espaços que pertencem a elas apenas na teoria. Muito me contenta saber que a presidenta do meu país reconhece o déficit estrutural na educação pública, que não garante à população de baixa renda uma chance real de ingresso às universidades públicas pelo vestibular. Vestibular que, na realidade, representa uma indústria e garante a vaga aos indivíduos com mais conhecimento formal e técnico decorado. As escolas privadas preparam seus alunos para a prova com eficiência; uma vez que as públicas não, e que a maioria da população não possui meios que financiem um ensino particular, se mostra explícita a injustiça e se perpetua a pobreza. É nesse momento que muitos questionam a validade do critério racial para as cotas, afirmando que apenas o social seria suficiente. Tal questionamento mostra-se ignorante por essência: ignora os mais de trezentos anos de escravidão, representantes de uma dívida histórica do povo branco para com o negro e que tratou de consolidar inúmeros privilégios sociais, políticos e econômicos aos brancos, além de promover a construção do racismo existente até os dias de hoje. É esperançoso ver que a senhora, como líder do Brasil, admita a existência dessa dívida e, assim, desmitifique a ideia de democracia racial. É o racismo que dá à pobreza sua cor. Por fim, devo ressaltar a importância da ratificação das cotas sociais e raciais para o progresso do país. Como política pública, a reserva promove a eficiência prática do direito constitucional universal à educação que, afinal, é pública. Pessoas que, antes, não teriam acesso às universidades, agora terão e, por consequência, a ascensão social e diminuição da pobreza acontecerão. Não poderia estar mais satisfeito, senhora presidenta. Sinceramente, Marcelo Bechara, estudante. Marcelo Bechara – 2ª B

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Senhora Presidenta, Dei aulas de Física na USP por 20 anos. Tive muitas experiências boas, alunos com que mantenho contato até hoje, outros professores que se tornaram grandes amigos, etc. Porém, algo sempre me incomodou: no segundo país mais negro do mundo (perdendo apenas para a Nigéria), como poderia eu contar três, dois, ou apenas um aluno negro em minhas turmas? Ao olhar para a sala de aula eu via representado um dos piores problemas sociais de nosso país: o acesso à educação de qualidade tem uma cor, e a pobreza também. Por isso, senhora presidenta, lhe dou os parabéns pelo decreto das cotas sociais em universidades. Apesar de ser um homem de exatas, sei bem que a nossa história marginalizou a população negra e indígena. O meu sentimento ao dar aulas se reflete nos números: apenas 1,84% de jovens com nível superior eram negros e pardos, e, na pós-graduação, tínhamos 1,8% de negros, 9,2% de pardos e 0,2% de indígenas (dados do Censo de 2000). A violência histórica contra esses segmentos populacionais montou uma supremacia branca em nossa sociedade. As cotas servem como uma “reparação”, democratizando nossas universidades. Fiquei feliz com a senhora trabalhando para saldar essa dívida histórica. Um argumento que usarão contra a senhora é que as cotas ferem o princípio de igualdade da Constituição, mas nós dois sabemos que a igualdade já estava ferida muito antes das cotas. Usando novamente o Censo de 2000, li que negros e pardos somavam quase 25% do rendimento do país entre aposentadoria, salário, programa de renda mínima e aplicações financeiras, enquanto brancos representam 74,1%. Para aqueles que defendem a meritocracia, presidenta, seria igualdade 1/4 de uma renda apenas estar nas mãos de quase 50% da população? Valorizo muito o seu sistema de cotas para arrumar esse sistema de vestibulares que não mede o conhecimento, mas sim a capacidade de adquirir informações: a superioridade dos brancos perante os negros e indígenas no sistema de ensino não está na inteligência, mas sim no acesso. Livros melhores, acesso facilitado à internet, escolas particulares. É como uma corrida entre pessoas a pé e pessoas em motos. As cotas buscam nivelar ao máximo essa corrida. Embora hoje a parabenize, ainda há muito a ser feito. As cotas são um grande passo, mas um investimento de qualidade em educação pública, cultura e acesso à informação têm de ser o foco para o futuro. Confio na senhora e acredito que continuará a fazer um ótimo governo. Atenciosamente, Victor Nery Victor Nery – 2ª B

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Dissertação 3ª série

A proposta previa a discussão sobre organização social, papéis sociais e democracia no Brasil: existe igualdade numa sociedade em que alguns são “mais iguais” que outros? Depois de lerem a coletânea de apoio, os alunos discutiram como a invisibilidade social faz parte do funcionamento da sociedade a partir do seguinte recorte: Invisibilidade Social: poder e humilhação.

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Invisibilidade social na sociedade brasileira Na atual sociedade brasileira, supostamente democrática, a invisibilidade social compõe o funcionamento das cidades. Classificado implicitamente como o grupo “inferior” do Darwinismo social, o pobre representa um componente invisível da sociedade, representação essa que rompe com as obrigações do Estado, segundo a constituição, para com os cidadãos. Caracterizado como um grupo social submisso, o pobre sofre com as enormes discrepâncias na aplicação das leis para eles e para os financeiramente beneficiados. Através de mecanismos judiciais burlados por meio de poder financeiro de algum dos envolvidos, o cumprimento das leis se dá de forma muito distinta entre o cidadão “invisível” e o cidadão que tem como burlar tais mecanismos. Nesse contexto, os ricos atuam como opressores e os pobres como submissos. A submissão do corpo social mais desvalorizado financeiramente é assinalada de forma clara não só no contexto social como na própria arquitetura brasileira. Em apartamentos e casas, as entradas e elevadores de serviço intensificam a dissociação desse grupo da sociedade falsamente tida como democrática no Brasil. Ainda assim, a permanência das dependências de funcionários domésticos indica a necessidade de um componente considerado “invisível” para cumprir tarefas que os componentes “visíveis” não se submetem a fazer. Ao não posicionar todos os cidadãos (pessoas humanas) de forma equidistante do poder e, portanto, de forma igualitária, o Estado desclassifica a população pobre como pessoas humanas, estabelecendo, assim, uma disfunção na coesão de uma sociedade democrática, organizando os papéis das pessoas que compõem o corpo social desse Estado como, de um lado, poderosos que dão ordens, os ricos, e, de outro, os humilhados que cumprem as ordens dadas, os pobres. Assim sendo, a invisibilidade social estabelece, além da discriminação, uma desumanização do pobre. Gabriela Moraes Rodrigues – 3ª A

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Iguais para quem? Homossexuais, pessoas em situação de rua, negros, mulheres: minorias sociais estão presentes em diversos casos que acompanhamos através da mídia e são apenas exemplos de muitos outros grupos que, todos os dias, sinalizam o quão ineficiente é o Estado para com os menos favorecidos. A invisibilidade social sofrida por elas faz parte do funcionamento da sociedade, marginalizando os que já estão à margem para sustentar um sistema econômicosocial que, favorecendo a poucos, tira a humanidade de muitos. As relações de trabalho no Brasil explicitam não só uma permanência escravocrata histórica, mas uma ruptura social em que “Todos são iguais perante a lei” permanece apenas no papel. Se assim não fosse, o sistema educacional – base da formação para o mercado de trabalho – ofereceria oportunidades iguais de ensino de qualidade para todas as idades, e não haveria a necessidade da criação de escolas particulares. Mas, como o objetivo primordial é o acúmulo de capital, a falta de investimento adequado em educação pública causa a necessidade de escolas privadas, criando a discrepância de formação tão conhecida e que, na hora de procurar um emprego, evidencia a escolha do mercado: quem o Estado “desassistiu” será o mais explorado. Casos de violência e morte em comunidades carentes são muito mais recorrentes, mas os que a mídia prefere estão em “bairros privilegiados”. A PM que atua nos morros está sempre muito bem equipada e comete crimes para combater o crime. Mais contraditório que isso é apenas o fato de, onde a polícia está equipada, a saúde e a educação pedem reforços que nunca chegam, pois até nas necessidades públicas nem todos merecem atenção. Para que os invisíveis fiquem aparentes, não só devemos questionar o sistema, mas quem o controla também. As minorias sociais são maiorias populacionais: nesse caso, a responsabilidade com o voto pode fazer a diferença. Jaqueline Schneider – 3ª C

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Como Marx há muito constatou, o mecanismo fulcral para a manutenção do capitalismo é a exploração do proletariado – atualmente essa conduta ultrapassa os limites da divisão do trabalho e tornou-se intrínseca à organização social, gerando atitudes segregadoras, pautadas no classismo tanto por parte da elite como por parte do Estado. O Ethos contemporâneo, fortemente marcado pela falta de alteridade, é fruto dessa lógica e é perceptível no discurso (sentido sociológico da palavra) de negação do outro que pauta a marginalização das classes baixas nos âmbitos geográfico, econômico, social e cultural, no sentido de separar os considerados indesejáveis. O entrelaçamento das intenções privadas e públicas faz com que o Estado não seja somente conivente, mas também protagonista dessas ações que põem em xeque os princípios da igualdade; agindo com violência e autoritarismo (destaque às ações policiais) e garantindo que permaneçam nessas condições, dando pouco ou nenhum suporte, os desamparando e constantemente lhes tirando a dignidade, porque os enxerga como menos cidadãos que os outros, valorando mais a propriedade do que suas vidas. Vivemos num modelo social-econômico que necessita oprimir o povo em favelas e ser muitas vezes conivente com a miséria. Se o capital e a propriedade são os valores mais prezados, invisibilidade e servidão são os pilares de nossa organização social. Só nos resta questionar em que medida a democracia plena pode conviver com um sistema econômico em que coisas valem mais do que vidas. Manuela Briso Gatto – 3ª C

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Palmares e Pinheirinho As ações das polícias militares nas periferias de todo o Brasil preocupam cada vez mais a população. Em recente pesquisa do Datafolha, a maioria dos entrevistados diz sentir medo da própria polícia. Caso como o de Amarildo, torturado até a morte, e Cláudia, morta e arrastada em via pública, são apenas dois exemplos de execuções inadmissíveis de inocentes. Estes acontecimentos, porém, fazem parte de uma questão muito maior. A invisibilidade social. Ser considerado invisível perante a sociedade significa perder todos os direitos, na prática. E quem costuma ser tratado como tal não tem propriedade, é morador de favela/ periferia e é negro. Sendo assim, uma grande parcela da população urbana pode ser considerada invisível socialmente para o Estado e para a própria sociedade. E isso é um problema grave e não é facilmente solucionado, infelizmente. Isto porque o atual sistema econômico e a histórica ideologia discriminatória do Estado brasileiro são os agentes dessa invisibilidade. No capitalismo, quem não tem propriedade e/ou poder de compra é tratado como invisível, pois automaticamente está fora do sistema. Esse fator é comum em todo o mundo e costuma ser o principal para não tratar cidadãos como tal. No Brasil ainda há mais um fator que agrava a situação. Desde que o país era uma colônia portuguesa, aqueles que não estavam nos planos do poder institucional eram (e ainda são, de certa forma) eliminados pelo Estado. Este pensamento ainda está presente como uma herança maldita. Nesse sentido, podemos comparar a “retomada” do Quilombo dos Palmares com o caso Pinheirinho. Essas duas ocupações irregulares judicialmente foram destruídas com violência, propriedade monopolizada pelo Estado, com mortos, feridos e até estupro. É claro que o contexto de escravidão era diferente do atual, mas os bandeirantes e os policiais militares cumpriram o mesmo papel: ignorar os direitos das pessoas para cumprir, com truculência, ordens vindas do Estado. Como já fora dito, acabar com a invisibilidade social não é uma tarefa fácil, pois depende da instituição de um novo sistema econômico e a mudança cultural de uma população. Mas também existem ações que podem amenizar o problema. Ações afirmativas com participação popular para esclarecer o povo de seus direitos e que esta situação é inaceitável são primordiais. Outra ação seria a desmilitarização da polícia, uma corporação que representa a repressão manifesta por parte do Estado. As PM’s representam toda a herança da exclusão dos oprimidos e desmilitarizá-la tiraria a ideia de guerra e inimiga da corporação, que sempre as usou para justificar os genocídios praticados. Rodrigo Falcão – 3ª C

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Um poder invisível para a segregação social A invisibilidade social, que se estabelece a partir da maior preocupação com a condição humana de uns em relação a outros, é proveniente de uma hierarquização das relações na sociedade. Trata-se de uma hierarquia cujo poder designa espaços e formas de tratamento e que se camufla na sociedade, que parece conformada com a maneira com a qual se predefinem os papéis de cada tipo de pessoa humana e o olhar que é dado a ela. A condição de cidadão, não apenas humana, está relacionada aos espaços que lhe são designados, sendo esse o processo que define o ciclo social de cada um, as relações que mantêm e, paralelamente, seu afastamento daqueles que fazem parte de outro ciclo dentro da sociedade. O problema, porém, está na negação daquele que está na mesma posse dos direitos, mas que se coloca num lugar social diferente. O princípio da igualdade e democracia é deixado de lado quando, numa sociedade, alguns grupos são considerados mais iguais do que outros. Isso, por sua vez, acaba refletindo no tipo de olhar que é direcionado a cada um e, muitas vezes, servindo como um equívoco para justificar as consequências do tratamento recebido. A sociedade existe e funciona dessa maneira por conta da invisibilidade social. Este é o fenômeno que acabou responsável pela manutenção de muitas teias de relação e interesses, sendo também um fator que muitas vezes promoveu a submissão de alguns em relação a outro grupo e o afastamento desses da garantia de todos os seus direitos ao longo da formação da sociedade. É nesse processo que a negação do outro aparece, baseada no lugar que ocupam cidadãos, e seu lugar como humanos é colocado em segundo plano. Como bem aponta Melgaço (2012), esta negação usa, em seu principal argumento, a pobreza. A invisibilidade social, justamente por caracterizar a falta de olhar para certos grupos ou indivíduos, é reflexo do convívio desnivelado em sociedade, que se torna cada vez menos coesa. Ao mesmo tempo, se tornou mecanismo que articula os interesses de outras classes, bem como seus atos e resoluções em uma situação na qual os direitos de todos, enquanto pessoas humanas, deveriam prevalecer. Vitória Acar – 3ª C

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