Concurso de Redação 2013

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III CONCURSO

Ação e Redação

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Tema 2013: Trabalho

Artigo de opinião, Conto,

Crônica, Dissertação e Poema.



III CONCURSO ͳ 2013

Ação e Redação


Equipe Sócias Fundadoras JeanneƩe Alicke De Vivo Maria de Lourdes Pereira Marinho Aidar Marília de Azevedo Noronha Sylvia Figueiredo Gouvêa Diretor Geral Alexandre Abbatepaulo Diretora Educacional Karyn Bulbarelli Diretora de Currículo Fabia Helena Chiorboli Antunes Diretor de Unidade - Ensino Fundamental II Antonio Sérgio Pfleger de Almeida Diretor de Unidade - Ensino Médio Wagner Cafagni Borja Coordenadora de Língua Portuguesa Roberta Hernandes Alves Professoras do Ensino Fundamental Ariadne MaƩos Olímpio - 6º ano Débie dos Santos Bastos - 7º ano Larissa Teodoro Andrade - 8º ano Maria Elisa CurƟ Salomé - 8º ano Daniela de Arruda Garcia - 9º ano Nayara Moreira Santos - Corretora Professoras do Ensino Médio TaƟana Albergaria Ricardo - 1ª série Camila FlessaƟ - 2ª série Gabriele de Souza e Castro Schumm - 3ª série Larissa Teodoro Andrade - Corretora

www.lourencocastanho.com.br


Agradecimentos Nosso especial agradecimento às professoras Amanda Lacerda de Lacerda, Ariadne MaƩos Olímpio, Camila FlessaƟ, Daniela de Arruda Garcia, Débie dos Santos Bastos, Gabriele de Souza e Castro Schumm, Larissa Teodoro Andrade, Maria Elisa CurƟ Salome, Nayara Moreira Santos, Roberta Hernandes Alves, TaƟana Albergaria Ricardo. Nosso muito obrigado também à Simone de Ávila Xavier.


Prefácio Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. (ANDRADE, Carlos Drummond de. “Elegia 1938”, in: SenƟmento do mundo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p. 73) No poema Elegia 1938, Drummond expõe um mundo em que o trabalho se associa à repeƟção de estruturas ultrapassadas. Trata-se de um mundo caduco, desprovido de alegria, aquele em que o trabalho humano nada produz. Na antecipação da Segunda Guerra, o poeta denuncia o trabalho que nada tem a ver com transformação. Trabalhamos para conseguir dinheiro, para nos senƟrmos úteis, para senƟr prazer com nossas realizações? Qual o senƟdo do trabalho? O trabalho dignifica ou degrada o homem? O trabalho pode ser definido como a ação humana para transformar a natureza e se apropriar de seus recursos. É o trabalho que propicia a relação entre os homens, estabelecendo as bases das interações sociais. Há quem considere o trabalho o centro de sua própria vida, sua idenƟdade. Trabalhar seria, então, uma forma de alcançar saƟsfação pessoal. Segundo o filósofo chinês Confúcio, “escolha um trabalho de que goste e não terá que trabalhar um só dia de sua vida.” Para Confúcio, a sensação de prazer faz com que a dureza do trabalho deixe de exisƟr. Numa outra perspecƟva, o trabalho esteve, na ordem capitalista, desde sempre ligado à exploração, alienação e desprazer. A ideia é que, ainda que trabalhemos muito, dificilmente podemos saƟsfazer todas as nossas necessidades, algumas delas não necessariamente “reais”. Em 2013, na terceira edição do Concurso de Redação da Lourenço Castanho, propusemos aos nossos alunos o desafio de pensar o trabalho – desde o início do século XX, quando algumas profissões clássicas estavam em vias de exƟnção, até o século XXI, em que novas relações de trabalho convivem com o trabalho análogo à escravidão. Em gêneros tão diversos quanto a poesia e a dissertação escolar, passando por crônicas, contos e arƟgos de opinião, vislumbramos em cada texto desta coletânea um olhar reflexivo e críƟco, atento aos modelos de trabalho na sociedade do século XXI e em busca de um tempo em que o trabalho incessante da formiga seja tão valorizado quanto o ócio criaƟvo da cigarra, ou, em outras palavras, um tempo em que haja equilíbrio entre o prazer da aƟvidade produƟva e o tempo/esforço dedicados ao trabalho. O convite, leitor, é para que comparƟlhe conosco o olhar que os jovens, ainda à espreita do mundo do trabalho, lançam às intrincadas relações entre trabalho/prazer; trabalho/ criaƟvidade; trabalho/relações humanas. Roberta Hernandes Alves Coordenadora de Língua Portuguesa – Fundamental II e Ensino Médio Escola Lourenço Castanho


Sumário 6º ANO: CONTOS .................................................................................................... A ponto de acabar .......................................................................................................... O acendedor com as chamas apagadas ......................................................................... O grande amor pela profissão ........................................................................................ Tocar é o que sou ........................................................................................................... Uma angúsƟa imperial ...................................................................................................

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7º ANO: ARTIGOS DE OPINIÃO .............................................................................. A nova escravidão .......................................................................................................... Escravidão globalizada ................................................................................................... Escravos até hoje ........................................................................................................... Falta de aƟtude .............................................................................................................. PráƟcas do passado .......................................................................................................

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8º ANO: POEMAS ................................................................................................... Alma trabalhadora ......................................................................................................... Filho da praia ................................................................................................................. Império informal ............................................................................................................ Meu direito de ir e vir .................................................................................................... Pirataria sem crime ........................................................................................................

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9º ANO: ARTIGOS DE OPINIÃO .............................................................................. A conciliação da balança profissional ............................................................................ A era da criaƟvidade feliz ............................................................................................... Equilíbrio do trabalho .................................................................................................... Equilíbrio: prazer X dinheiro .......................................................................................... O bônus de uma boa escolha ........................................................................................

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1ǒ SÉRIE: ARTIGOS DE OPINIÃO ............................................................................ Formiga ou cigarra? ....................................................................................................... O domínio mundial das megacorporações .................................................................... O trabalho e a necessidade de exploração da sociedade .............................................. Tempos modernos ......................................................................................................... Tripalium ........................................................................................................................

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2ǒ SÉRIE: CRÔNICAS .............................................................................................. Em busca da salvação .................................................................................................... O bailarino, o violinista e o cantor ................................................................................. Os simples desejos de um poeta ................................................................................... Que dia é hoje? .............................................................................................................. Trabalhando no seu ócio ................................................................................................

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3ǒ SÉRIE: DISSERTAÇÕES ........................................................................................ A dicotomia do trabalho ................................................................................................ Labor e sobrevivência .................................................................................................... O trabalho aprisiona ...................................................................................................... O trabalho como promoção e degradação no mundo contemporâneo ........................ Trabalho: fator de degradação no mundo do capital .....................................................

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6º ano: Contos

PROPOSTA: Escrita de conto em que o personagem principal seja alguém que trabalha com uma profissão que está em vias de exƟnção (pianista de cinema, aguadeiro, pinseƩer, daƟlógrafo, motorneiro, acendedor de lampiões de rua, fotógrafo lambe-lambe, cocheiro, consertador de guarda-chuva ou homem do realejo).


A ponto de acabar Eu, José Carlos Sero, de 24 anos, estava acordado para mais um dia de trabalho. Levanteime, lavei a cara e fui ao banheiro; depois, lentamente, fui buscar o jornal, preparei um café e sentei para ler as noơcias. Nesta hora vi uma noơcia que me preocupou: “DaƟlógrafos podem ser subsƟtuídos por digitadores”. Eu pensei se ia ser demiƟdo, mas acho que não, pois a noơcia falava “podem”, cara, eu não sei. Depois dessa, subi em minha bicicleta e parƟ para o trabalho. Ao chegar lá, amarrei com uma corrente a bicicleta em um poste, olhei um pouco acima e vi uma placa em que estava escrito: C.I.A. de daƟlografia. Aquele era o local onde trabalhava e era naquele lugar onde passava horas e horas fazendo meu passatempo preferido, escrevendo. E é de lá também que guardo memórias incríveis, como a vez em que a grande Lygia Bojunga pediu para eu escrever, pois sua máquina de escrever havia quebrado, não lembro por quê. Ao entrar lá, eu vi, na cara de meus amigos, medo, medo de perder o emprego. O dia Ɵnha sido irritante, pois quase não teve clientes. Enquanto voltava para casa, ia pensando em tudo o que estava acontecendo, Ɵnha medo. Ao chegar em casa, tomei um banho morno e fui para minha mesinha; nela havia a primeira máquina de escrever do meu avô e lá passei a noite imóvel pensando em trocar de profissão ou conƟnuar como daƟlógrafo. Eu sabia o que fazer: eu iria conƟnuar com minha profissão e assim ia conƟnuar pelo resto da minha vida. Rafael Lopes

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O acendedor com as chamas apagadas Eu, o praiano, o acendedor da grande Bahia, e meu Ɵme tem o mesmo nome, à noite acendia e aquecia os corações dos baianos de meu bairro, de manhã apagava essas luzes porque trocava de turno com meu amigo sol. Minha vida não era das melhores, de manhã apagava as luzes das ruas e de noite as acendia, além disso, todo dia demorava para chegar no serviço e todo dia ia comprar o jornal do moço. Após ler, recebi a infeliz noơcia: “Inglaterra já tem luz elétrica”. Ah, meu lampião, que frio na barriga, era como se minha luz começasse a se apagar. Depois de apagar as luzes, ouvi um grito, sem nem pensar corri até o local, era no meio da manhã e uma mulher acabara de se ferir, não sei o que aconteceu, mas ela não conseguia andar, carreguei-a no colo e como um jato corri até sua casa, fui pegando as coisas que ela pedia, não sabia o que era, mas ajudei, logo quando ela se senƟu melhor fui embora. No mesmo dia à noite, eu, depois de fazer meu serviço, fui passear pelas ruas da Bahia, então vi uma coisa esquisita e suspeita: uma luz que nem eu nem meus colegas conseguíamos acender: UMA LUZ ELÉTRICA! Como a região era vazia, fiz uma coisa que não deveria ter feito. Subitamente peguei uma cadeira de um bar e derrubei o poste. Passados alguns anos eu ainda estava foragido, não Ɵnha mais emprego e minha luz se apagou por conta da luz elétrica, a sensação era indescriơvel. Estava andando pelas ruas da Bahia, então encontro a mulher que havia se machucado na rua e, já consciente da minha tristeza, ela me deu uma oportunidade de mudar, com o emprego como vendedor de lâmpadas com um negócio só meu e então a luz do meu coração reacendeu. E para melhorar, eu contratei muitos dos meus colegas para voltarem a acender a Bahia, e depois descobri que minha amiga Ɵnha um hospital. Então aprendi uma lição: enquanto esƟver vivo, a luz do meu coração nunca se apagará! Eduardo Thomaz do Amaral Mangini

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O grande amor pela profissão Era uma vez um homem alto, magro, com cabelos escuros e olhos castanhos, o homem se chamava Roberto e era muito trabalhador, ele trabalhava como acendedor de lampiões de rua. O acendedor de lampiões de rua exercia uma função muito importante: garanƟa a iluminação das vias públicas. A tarefa consisƟa em não só acender os lampiões, alimentados com querosene, mas também apagá-los ao nascer da manhã. Acender os lampiões era uma função muito valorizada na época, e Roberto adorava essa profissão. Roberto entrava em cena no finzinho da tarde, com uma vara especial, dotada de uma esponja de plaƟna. Ao longo do tempo, foram sendo criadas novas técnicas para ter luz, e a função de acendedor de lampiões de rua estava começando a ser desvalorizada. Roberto estava percebendo isso, pois a função ia perdendo cada vez mais lugar e ele estava ficando muito triste. De manhã, toda vez que ele apagava os lampiões, ele ia em uma igreja lá perto, rezar para que sua função voltasse a ser valorizada. Ele adorava essa função. Ele não gostaria de deixar aquela função, ele insisƟa para que a profissão voltasse, mas chegou uma hora que não dava mais, a iluminação elétrica foi anunciada em grande escala. Pouco a pouco a novidade da luz elétrica foi ganhando mais lugar e, não só Roberto, como todos os acendedores de lampiões de rua que restaram estavam muito chateados. Em 1933, seguindo o curso inevitável da modernidade, desaparecia a simpáƟca profissão de acendedor de lampiões de rua. Depois de perceber que muitos amigos estavam perdendo a profissão, e ao perceber que a sua profissão estava chegando ao fim, Roberto caiu no choro! Ele se perguntava: “O que irei fazer no futuro?” e “Em que irei trabalhar agora?” Depois de muito tempo, depois de muitas lágrimas, depois de tanto esforço para conseguir sua profissão de volta, ele não Ɵnha conseguido! O jeito era olhar para o futuro e mudar de profissão, pois passado é passado e ninguém irá mudá-lo. Roberto agora exercia a função de eletricista, mas as lágrimas da profissão do acendedor de lampiões de rua nunca iriam secar dentro de seu coração. Fernanda Dahriy Pavan

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Tocar é o que sou Estou no cinema, está passando o filme, preciso inventar uma música, estou nervosa, agora é a minha hora, mas que música eu toco? É aquela ơpica cena de amor, tenho que imaginar... um belo campo rodeado de flores, com mil passarinhos voando ao pôr do sol, ou uma menina, uma pequena menina que, quando vê o pai chegar do trabalho, se derrete toda, e, quando seu pai lhe abre os braços para receber um enorme abraço, ela se joga nele, para ela é a melhor coisa do mundo... já sei! Agora é só tocar... Saiu tudo bem, mas não tem quase ninguém no cinema, apenas eu, o diretor e uma pequena família com quatro pessoas. O que está havendo? Por que ninguém quer vir mais no cinema? Está tudo confuso! Preciso falar com o diretor: — Marker, meu diretor favorito! — Carmen, minha pianista de cinema mudo favorita! O que faz aqui? — Vim saber, por que ninguém mais vem ao cinema mudo? — Você ainda não sabe? Cinema mudo não irá mais exisƟr! A parƟr da próxima semana irá ter um cinema com falas, sem música de fundo, vai haver até cinema dublado! — Não pode ser, e eu, o que vou fazer? Tocar é o que eu sou! Não posso desisƟr agora! Meu coração saiu pela boca, fiquei triste, para baixo, como quando o filho sai de casa e a mãe fica desesperada, estou como se a parƟr de amanhã o mundo não exisƟsse mais. Tenho que fazer algo para salvar minha profissão. Preciso de uma ideia para não deixar minha profissão acabar! Como posso deixar de ser pianista de cinema? Comecei a chorar feito um rio de lágrimas. Depois de um tempo, parei de chorar, mas ainda Ɵnha que pensar em uma ideia. Já sei: posso chamar o presidente para assisƟr a minha apresentação! Ele poderia mudar de ideia e fazer a profissão pianista de cinema “exisƟr” de novo. Fui até a presidência e ele aceitou meu convite, marcamos na sexta-feira à noite. Quando estava na hora da apresentação pensei em não desisƟr: vou fazer uma música forte, inspiradora e melhor do que todas as anteriores que eu já fiz. Quando comecei a tocar, fechei os olhos, toquei como se eu fosse criança de novo, imaginando princesas, dragões e bruxas, cada brincadeira, uma fantasia. Acabei de tocar. O presidente bateu palmas e agradeceu pelo convite, me disse que amava cinema mudo, mas infelizmente a profissão não iria mais exisƟr. Ele saiu, fechou a porta e a úlƟma coisa que ele me disse foi: — ConƟnue sendo essa divina pianista que você é, também tem muito talento. Posso arranjar uma banda para você. Fiquei como o sol quente em uma manhã de sol, mas por outro lado fiquei como uma tempestade, muito magoada, pois a profissão não iria mais exisƟr. No dia seguinte, o presidente Ɵnha arranjado uma banda clássica para eu tocar; conheci novas pessoas, virei amiga delas e finalmente consegui um público, mas depois de tanto esforço acabei desisƟndo, mas conƟnuo tocando piano. Acabou a profissão de pianista de cinema só em 1929. Larissa Chohfi Elias

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Uma angústia imperial Enquanto a maré banhava a areia da praia, eu contemplava o oceano e as estrelas, apenas na companhia de François. — Juntadora, treplicadora, envenenadora, ocultadora e reveladora. Repare nela, subindo e descendo, levando tudo consigo. — O que é? – François perguntou. — A água — respondi — Bem, e as horas. — Hugo, sempre me surpreendendo com suas ilustres filosofias. — Você sabe, meu caro, que meus tempos de cocheiro estão chegando ao fim. — suspirei, senƟndo o oceano em contato com meus pés. — Os carros estão chegando à França, daqui a pouco carroças não passarão de algo a ser exposto em museus. Levantei-me, sem dizer uma única palavra, e fui para minha casa, encontrei um jovem brincando, o que me levou de volta para o passado, mas também me trouxe de volta para o presente. Cheguei em casa, girei a maçaneta e entrei, dei de cara com Pub, meu pug, acariciei-o e fui me deitar; como de costume, não Ɵve sonhos. Peguei minha carroça delicadamente e montei, chicoteei os cavalos e parei na casa de Sr. Watson, ele pediu para eu levá-lo à concessionária de carros mais próxima. — É, chegou minha hora. — murmurei, de forma que só eu ouvi. Poderia virar um motorista de carro, mas a angúsƟa me dominava, o Sr. Watson Ɵnha acabado de voltar. — Hugo, gostaria de trabalhar como meu motorista? — eram essas palavras que eu temia ouvir. Pensei, como se não exisƟsse mais nada, além de minhas memórias, pensei no jovem, em como ele nunca se lembraria de que sequer exisƟram carroças, mas, incrivelmente, aceitei. — Mas é claro, John. Sessenta anos depois e eu ainda me lembro da primeira carroça que eu dirigi, do primeiro cavalo que eu conduzi, Tunderous, que infelizmente se foi. Sozinho, sem família, sem amigos, fui a úlƟma geração dos Slovek, família de origem russa que mais tarde mudou-se para a França. Sou motorista até hoje. Valen na C. G. Mota

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7º ano: Artigos de opinião

PROPOSTA: A parƟr do estudo em sala sobre o trabalho análogo à escravidão contemporaneamente, a proposta pedia aos alunos uma discussão sobre: Por que, num mundo globalizado e com tecnologias cada vez mais sofisƟcadas, ainda convivemos com o trabalho análogo à escravidão?


A nova escravidão Todos nós aprendemos que a escravidão é um dos vesơgios que marcaram a história da colonização portuguesa. Porém, o que não sabemos é que atualmente, no Brasil, mais de 25 mil pessoas são submeƟdas ao trabalho escravo e às precárias condições que esse trabalho fornece. Com um foco principal na pecuária, no corte de cana, no carvão vegetal, nas construções civis e nas confecções. Presos pela corrente da liberdade, muitos trabalhadores escravos recebem uma quanƟdade financeira tão baixa que os impede de pagar qualquer dívida que devam ao dono da empresa que realiza o trabalho escravo. Um óƟmo exemplo disso foi a noơcia lançada sobre a famosa loja de roupa Le Lis Blanc. Trabalhadores recebiam R$ 2,50 por roupas que, na loja, custam R$ 379,00 e trabalhavam em lugares tão precários que as chances de ocorrer um incêndio eram grandes. Outra situação que está se repeƟndo e era realizada na época da colonização portuguesa é a famosa propaganda enganosa. Muitos imigrantes eram seduzidos por uma propaganda enganosa, que os fazia acreditar que o trabalho no Brasil era de uma óƟma condição. O mesmo é feito atualmente, porém, as víƟmas dessa sedução são os bolivianos. Os fazendeiros e donos de empresas conseguem fazer com que eles acreditem que as condições do trabalho no Brasil são muito melhores do que a condição precária da Bolívia, já pago pelo dono da empresa até o passaporte. Com ameaças İsicas e psicológicas, péssima alimentação e falta de saneamento básico e higiene, esses trabalhadores são obrigados a viver essa jornada exausƟva até conseguir pagar todas as dívidas que devem ao dono da empresa que realiza o trabalho escravo. Devendo desde passaporte ao alimento consumido, os trabalhadores escravos vivem um ciclo vicioso que nunca será parado. Com a ganância e a obsessão pelo dinheiro, o ser humano é capaz de realizar atos que já foram comprovados pela realidade e pelo passado como algo desumano. A solução desse trabalho contemporâneo muito mais lucraƟvo do que a escravidão colonial não depende apenas da fiscalização do governo e das punições que os praƟcantes do trabalho escravo receberão. Depende também de nós denunciarmos os lugares que realizam trabalho escravo, mancharmos a marca da roupa e não consumirmos mais produtos até que a injusƟça pare e, principalmente, lutar pelos direitos que todos nós possuímos. Os direitos dos trabalhadores, os direitos da liberdade e os direitos humanos. Beatriz de Souza Bim

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Escravidão globalizada É impossível dizer como o mundo de hoje é capitalista. Lembro-me até de quando eu e minha mãe fomos à Zara comprar uma roupa e, um mês depois, foi revelado que a Zara uƟlizava o trabalho análogo à escravidão. Eu me recusava a entrar na loja depois da noơcia. Como eu já havia dito, o mundo é dependente. Eu acredito na ideia de que as empresas que uƟlizam o trabalho análogo à escravidão só têm o lucro em mente. Também acredito que empresas famosas como a Zara achariam outro jeito de produzir suas roupas e ainda lucrar. Mas não existe apenas essa forma de trabalho escravo, existem os trabalhos nas fazendas trabalhando com cana ou carvão, ou com outro trabalho ligado à fazenda. Muitas pessoas acreditam que, em parte, os escravos não querem sair de lá e, por isso, tecnicamente gostam de trabalhar lá. Isso não condiz com a realidade, pois, muitas vezes, os trabalhadores são ilegais no país, como os bolivianos ficando “presos” ao trabalho escravo e ainda existe, nas fazendas, longe de centros urbanos, trabalhadores que não fogem, pois não têm para onde ir. Outras pessoas acreditam que as pessoas aceitam esse trabalho de bom grado, querendo ser escravos. Na maioria das vezes eles são enganados pelos intermediários chamados gatos, que dizem que eles ganhariam muito e que a ida, por exemplo, a São Paulo seria de graça e, quando esses trabalhadores chegam em São Paulo, estão endividados e trabalhando como escravos. Às vezes, até confiscam os documentos do trabalhador e esse trabalhador meio que fica “preso” lá para sempre. Nesse mundo globalizado de hoje, não deveria haver trabalho escravo, só deveria haver trabalhador regularizado. Acho que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) fez um grande avanço na questão do trabalho escravo no Brasil, mas todos nós nos decepcionamos quando um governador recusa uma proposta para o trabalho escravo não exisƟr mais. Acho que o grande problema a ser resolvido no Brasil é a prisão dos chamados gatos, para eles não serem soltos em 2 meses e voltarem ao crime. A menos que eles sejam devidamente presos, o trabalho escravo conƟnuará exisƟndo. Guilherme Alves Barreto

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Escravos até hoje O termo “escravidão” logo nos remete à compra e venda de negros e índios, obrigados a trabalhar para seus proprietários nas senzalas ou casas. Essa foi a realidade do Brasil até o fim do século XIX, quando, por fim, a práƟca foi considerada ilegal pela Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888. Porém, séculos mais tarde, o Brasil e o mundo não podem se dizer livres do trabalho forçado. Atualmente, são 12,3 milhões de trabalhadores submeƟdos a condições vergonhosas em todo o mundo. Apenas na América LaƟna são 1,3 milhões de trabalhadores. Mas afinal, do que se trata isso que chamamos de “trabalho escravo moderno”? Ainda que não esteja associada a correntes e espancamento, a escravidão contemporânea expõe os trabalhadores a outros Ɵpos de degradação, como a jornada exausƟva, maus tratos, alojamento e espaços precários, falta de higiene e saneamento básico, péssima alimentação, isolamento, retenção de documentos, ameaças İsicas e/ou psicológicas, entre outras. Muitos “tratos” ilegais são feitos todos os dias. Em 1995, o Brasil “se denunciou”, afirmando a existência do trabalho forçado em nosso país. A parƟr deste ano, o Brasil luta contra esta práƟca. Muitos bolivianos vêm ao Brasil ilegalmente procurando melhores condições de vida. Chegando aqui, são surpreendidos pelos “gatos” (nome dados aos homens que administraram a passagem e a contratação de imigrantes) e, com supostos gastos de viagem e alimentação, ficam endividados e presos por um longo tempo. Muitos desses trabalhadores morrem devido à falta de condições. O trabalho forçado “aparece” em vários setores. As principais e mais conhecidas são o corte da cana-de-açúcar, confecções de roupas e tecidos, trabalho em carvoarias, pecuária e construções civis. Muitas marcas famosas das metrópoles já foram acusadas de usar a mão de obra forçada, como a GAP, a Zara, a Le Lis Blanc, BoBô e inúmeras outras. Os donos destas grifes, porém, alegam não saber da confecção ilegal de suas peças. O número de pessoas contratadas ilegalmente cresce em uma velocidade preocupante e alarmante. A necessidade de intervenção é iminente. Por que não uma melhora nas fiscalizações trabalhistas? Por que não aumentar o tempo que um contratador ilegal fique preso, sem direito à fiança? Afinal, o desrespeito aos direitos humanos deve ser punido com a maior severidade possível. Gabriela Kovarsky Ro a

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Falta de atitude A Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, declarou livre todo ser humano sujeito a trabalho escravo no Brasil. Ou, ao menos, declarava. Depois de tantos anos, essa práƟca hosƟl conƟnua exisƟndo: o trabalho forçado. É vergonhoso pensar que, mesmo após ser proibida por lei, nosso país ainda convive com a exploração da mão de obra análoga à escravidão, que, mesmo não adotando casƟgos e correntes, Ɵra a dignidade da pessoa, violando seus direitos humanos. O trabalho análogo à escravidão acontece, sobretudo, nas áreas rurais. AƟvidades como corte de cana, pecuária, produção de carvão vegetal. Segundo os cálculos da CPT (Comissão Pastoral da Terra), existem atualmente no Brasil 25 mil pessoas submeƟdas a condições de trabalho análogo à escravidão. Mas os brasileiros não são os únicos a sofrer com isso no Brasil. Todos os anos, dezenas de bolivianos tentam Ɵrar visto para vir ao Brasil legalmente, em busca de melhores condições de vida. Os que não conseguem, vêm clandesƟnamente. Ao se depararem com as péssimas condições de trabalho, espaços precários, jornadas exausƟvas, maus tratos, falta de higiene, entre outros, esses bolivianos conƟnuam pensando ainda que, em comparação com a Bolívia, essas condições são melhores. Mas por quê? Por que num mundo globalizado e com tecnologias cada vez mais sofisƟcadas, ainda convivemos com o trabalho análogo à escravidão? A resposta poderia ser resumida em duas únicas palavras: lucro e exploração. O ser humano vem desenvolvendo, ao longo dos séculos, esse grande defeito: a ambição. O desejo de querer sempre mais e mais, uma angúsƟa, um não desenvolvimento mental de pensar nos outros, de explorar. Isso sem falar nas dívidas, que “afogam” os trabalhadores, impossibilitando-os de parar de trabalhar, falsas promessas de salário, ameaças etc. Le Lis Blanc e Zara já Ɵveram casos de trabalho análogo à escravidão, gastando muito pouco e vendendo por preços absurdos. Esses dados comprovam uma grave violação aos direitos humanos, injusƟça e exploração; reflitamos sobre isso. Trabalho análogo à escravidão é tão grave quanto trabalho escravo. É crime. É processo. Raffaella De Vivo Queiroz

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Práticas do passado Infelizmente, nos tempos modernos de hoje, a sociedade ainda convive com situações que deveriam estar presas ao passado, e uma dessas é a escravidão, que conƟnua sendo praƟcada atualmente no mundo e no Brasil. O trabalho análogo à escravidão é uma marca presente principalmente em países menos desenvolvidos, onde esse trabalho ocorre tanto na área rural quanto na urbana. Essa práƟca desumana consiste em enganar a pessoa que está à procura de trabalho com uma proposta irrecusável, e o que deveria ser uma óƟma oportunidade para o trabalhador, torna-se uma dor de cabeça e um sofrimento constante. Uma vez levado a seu local de trabalho, a víƟma, muitas vezes, tem seus documentos apreendidos, retenção de salário e acaba arranjando dívidas intermináveis com seus patrões, o que a faz trabalhar para tentar quitar essas dívidas, mas ela acaba ficando com cada vez mais dívidas, terminando presa a esse trabalho. Embora não fiquem presos por correntes, muitas vezes sofrem ameaças e/ou casƟgos İsicos e psicológicos pelos donos das fazendas. Um fator que dificulta a libertação é que essas fazendas situam-se em pontos isolados no meio da mata. Atualmente, no Brasil, 25 mil pessoas estão submeƟdas a essas condições brutais de trabalho, isso tem que ter um fim. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) está à procura dessas fazendas e confecções e está fazendo campanhas para reabilitar essas víƟmas libertadas. No Brasil, o maior índice dessa práƟca é encontrado na parte rural, nas fazendas e principalmente nas seguintes aƟvidades: pecuária, corte de cana, carvão vegetal, embora também seja encontrada na parte urbana, em construções civis e confecções. Em nosso país, várias grifes famosas como Le Lis Blanc, Bobô, Zara e Gap foram flagradas tendo suas roupas feitas em confecções clandesƟnas, pagando um salário minúsculo, cumprindo jornadas exausƟvas e morando em alojamentos extremamente precários. Embora essas grifes recebam da mídia milhões de críƟcas, as pessoas conƟnuam comprando suas roupas e, sendo assim, compactuando com a forma com que foram feitas. É necessária a conscienƟzação. O trabalho análogo à escravidão ainda é praƟcado porque as pessoas só querem lucrar mais e mais e, devido a isso, procuram a mão de obra que traz mais lucro. Esse trabalho em geral também apresenta riscos à saúde do trabalhador. É uma grande violação aos direitos dos seres humanos, e é uma questão que deve ser acatada, negaƟvamente, por todos nós brasileiros e por toda a população mundial. Sendo negada por toda a sociedade, essa práƟca poderá enfim ter um fim igual ao da escravidão. Laura Arruda Alvares

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8º ano: Poemas

PROPOSTA: A parƟr do estudo do trabalho dos ambulantes pelas ruas da cidade, os alunos deveriam escrever um poema tendo como eu lírico um vendedor ambulante. O poema deveria tratar da natureza e do contexto desse trabalho e das cenas vividas coƟdianamente por esse trabalhador. Deveria trazer também elementos de pregões.


Alma trabalhadora Madrugada, em pé estou Pombas me acompanham, Meu escritório são as ruas cinzentas Afio talhos Com meu carrinho de madeira e apito, Percorro a selva de concreto Cantando meu pregão, Anunciando meu serviço Faca, alicate e tesoura! Brinco com a roçadoura! Espada, lança e katana! Quando eu afio fica bacana! Horário de almoço não existe Se quiser pagar as contas, Pé encardido no cimento sujo, Trabalho com sacriİcio. Anjos da noite chegam E com um sopro, carregam meu corpo cansado para casa, Deito-me no colchão encardido, Minha alma trabalhadora descansa. Giulia C Rinkevicius

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Filho da praia Acordo muito cedo Muito antes do sol levantar Moro longe do emprego E vou de bike até o mar “Olha o milho Milho quenƟnho Até o concorrente compra milho comigo!” Meu trabalho é como uma bandeira Vou para onde o vento me levar Vendendo milho quenƟnho Até o luar me chamar para voltar Trabalho sob o céu azul Aqui na zona sul Com areia nos pés E coração na mão A realidade foi dura Abandonados, somos todos filhos do mar Ganhando algum trocado Se o tempo ajudar Ana Clara Cervane

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Império informal Trabalho informal e até ilegal Mas, por favor, não me leve a mal Trabalhador ambulante em batalha constante Sempre evitando um grande flagrante Nas águas eu navego Nas ruas eu trafego Sempre a trabalhar com grande esmero Na bicicleta ou na mão Nas costas ou no chão Aí então, consigo meu pão “Banana ou castanha compre sem fazer manha Panela ou facão, tenho tudo na mão!” Já Ɵve dificuldade Mas com muita habilidade conquistei de verdade uma vida de qualidade Maria Luiza de Oliveira Jorge

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Meu direito de ir e vir Vai e volta, vai e volta acordo cedo, de madrugada durmo pouco, mas isso basta vou percorrer um grande caminho quem sabe descolo um dinheirinho... vai e volta, vai e volta “pode vim meu freguês! atendo todos até português vendo tudo, tudo mesmo onde chamar eu atendo!” vai e volta, vai e volta quando me perguntam sobre a criaƟvidade digo que a ideia vem da necessidade vale tudo nessa cidade... vai e volta, vai e volta às vezes gritam: “Olha o rapa!” que destrói tudo por onde passa... então vem o desespero, mercadoria custa dinheiro! vai e volta, vai e volta cadê meu direito de ir e vir? às vezes o que resta é fugir poxa, eu não vim para roubar! tudo o que eu faço é trabalhar! vai e volta, vai e volta fim do dia é diİcil principalmente quando saio no prejuízo minha mercadoria o rapa levou pegou tudo de quem ficou...

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vai e volta, vai e volta alguns dizem que não é trabalho, eu penso o contrário olhe para esses engravatados! sou ambulante e tenho orgulho do que faço! Ana Pacheco


Pirataria sem crime Antes mesmo do sol raiar De mochila nas costas lá estou eu a andar Ando, ando até as costas machucar. Não importa se chove ou venta, eu ando pra fazer a minha venda Tem gente que me chama de desonesto Mas só trabalho duro pra, pelo menos, ganhar o resto. Vendo DVDs pro público se diverƟr Por preços que todos podem curƟr então, saio pelas ruas anunciando: Tem pra criança e pra adulto Tem filme clássico e filme mudo Tem de ação e de romance Não dá pra passar pelos meus filmes de relance! Mas lá vem, lá vem, lá vem, o carro da polícia guardo tudo e fujo com toda a malícia Corro, passo prédio, farol, padaria mas volto pra vender, pois espero que com um dos meus filmes você sorria. Beatriz C. Guedes

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9º ano: Artigos de opinião

PROPOSTA: A parƟr da discussão sobre trabalho e idenƟdade (projeto da série), os alunos deveriam escrever um arƟgo de opinião sobre o tema: Há como estabelecer, no trabalho, um equilíbrio entre prazer, realização pessoal e estabilidade econômica?


A conciliação da balança profissional O futuro é algo presente desde que somos muitos jovens, apesar das decisões serem tomadas somente após a adolescência. Se observarmos a questão do trabalho, inserida no universo da vida, podemos perceber, mesmo que não esteja explícita, uma balança que engloba 3 elementos principais para se chegar ao sucesso e conciliá-lo com uma boa vida social. O primeiro elemento trata da estabilidade econômica. A questão financeira é apresentada inicialmente, não com o intuito de excluir a importância dos outros elementos, mas, sim, para apontar como esse é o primeiro, ou, muitas vezes, único critério uƟlizado pela maioria das pessoas para decidir sua carreira. Esse aspecto, no entanto, não garante os dois outros elementos da balança, que tratam do prazer e da realização pessoal. A parƟr do momento em que crescemos e passamos pela adolescência, a necessidade de se estabelecer econômica e socialmente se torna mais importante do que qualquer desejo que carregamos conosco desde a infância. No entanto, são esses desejos, ou talvez outros que surgem ao longo do tempo, que deveriam ser Ɵdos como ponto de parƟda para decidir que rumo vamos tomar profissionalmente. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário seguir uma carreira considerada aceitavelmente saƟsfatória pela sociedade para termos dinheiro. Assim como apontado no parágrafo acima, se tomamos como ponto de parƟda nossos desejos, que nos trarão prazer e realização pessoal, o trabalho será realizado com maior empenho do que uma carreira que não é de nosso agrado. Seguindo essa linha de pensamento, podemos compreender que o trabalho bem feito irá gerar um bom retorno financeiro, além da realização pessoal, que muitas vezes é deixada de lado por conta da necessidade de lucro. Sendo assim, podemos concluir que pode haver um equilíbrio nessa balança, contanto que todas as nossas necessidades sejam consideradas importantes. Maria Eduarda Queiroz

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A era da criatividade feliz Todos os dias somos obrigados a fazer escolhas. Algumas roƟneiras, outras decisivas. Escolhemos considerando critérios, gostos, caracterísƟcas pessoais e a situação. Porém, há uma pergunta que nos acompanha nos nossos primeiros anos de vida e, às vezes, até a morte: “O que vou fazer quando eu crescer?” A pergunta é sempre a mesma, mas as respostas variam à medida que vivemos. Essa escolha é, geralmente, obrigatória quando não cumprimos nem duas décadas de vida, quando somos jovens, mas já sabemos em que mundo vivemos. Quando reconhecemos quais são as consequências de escolher o que gostamos. Mas será que podem ser tão ruins? Na infância, 90% do dia é prazer. Então, é claro, na hora de pensar o que fazer todos os anos pelo resto de suas vidas, as crianças optam pela felicidade. À medida que cresce, o indivíduo passa a se conhecer melhor até idenƟficar o que gosta. Mas a decisão é subsƟtuída pela segurança e estabilidade de uma profissão com maior presơgio social. O fato é que a primeira ideia de contentamento não precisa ser abandonada. Hoje em dia, basta saber fazer e invesƟr na criaƟvidade e na comunicação para avançar na carreira, seja qual for a sua profissão. Trabalhe com vontade e novas ideias que a realização pessoal virá em dobro, por saƟsfação ou pelo ponto de vista econômico. Um mundo onde todos fizessem o que realmente gostam seria um mundo de pessoas saƟsfeitas, quem sabe até de gente mais bem humorada, aproveitando seus talentos e limitações para se redescobrirem como pessoas e fazerem bom proveito disso. Revelando, assim, uma sociedade mais amigável, mais disposta a ajudar e conhecer o novo. Com mais vontade de trabalhar, conviver, viver e ser feliz. Isadora B. Noronha

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Equilíbrio do trabalho Estabilidade econômica e realização pessoal são coisas almejadas por todos, alcançadas por poucos e praƟcamente impossíveis para muitos. O equilíbrio entre estabilidade econômica, realização pessoal e prazer é um privilégio para poucos. Herdeiros e filhos de famílias ricas não precisam se preocupar tanto com dinheiro como pessoas das classes médias e baixas (e as primeiras não precisam se preocupar tanto quanto as segundas), podendo dar então mais importância para seus sonhos do que para o dinheiro, pois sua sobrevivência em relação a este já está, na maioria das vezes, garanƟda. Quando o dinheiro fica mais importante que o sonho, a realização pessoal é deixada de lado como “algo para mais tarde”, colocando dinheiro na frente de felicidade na lista de prioridades. Esse desequilíbrio é muito presente na sociedade capitalista, na qual, para sobreviver, precisa-se de capital. Podendo esse (o desequilíbrio) começar desde o início da carreira ou se desenvolver ao longo do tempo, com o desgaste do trabalho executado. O desgaste do trabalho exercido e a posição social são fatos que balançam a base utópica que queremos todos ter, pendendo sempre para o lado de realizações pessoais e prazer, elevando, mais uma vez, o dinheiro. Conversando com meu pai, percebi que a insaƟsfação com o trabalho que exerce foi se desenvolvendo ao longo do tempo, que, se pudesse escolher outra faculdade, diferente da que cursou, não o faria. Afirma que ficou feliz com a decisão que tomou, mas que, de tanto trabalhar na mesma área, se cansou e gostaria de mudar sua ocupação. Nossa posição social não lhe permite fazer isso. Para conseguir mudar em níveis muito altos sua carreira, pois são profissões opostas, teria que ter uma alta quanƟa de reserva para se manter financeiramente pelo período de tempo em que ainda esƟvesse à margem do mercado numa nova ocupação, a qual não tem. Pessoas de classes baixas têm as chances ainda mais diminuídas, seu dinheiro é curto e precisa-se ganhar cada vez mais para manter um padrão de vida considerado decente. Os estudos que recebem não são suficientes para que possam ascender financeiramente e tentar um futuro melhor para seus descendentes, fazendo da desistência dos sonhos, em função do dinheiro, um ciclo que parece não ter fim. O equilíbrio entre os fatores citados no começo do texto existe, só não está ao alcance de todos. Laura Dantas de Moura

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Equilíbrio: prazer X dinheiro Trabalhar parece ser um sonho apenas para aqueles que ainda não precisam fazê-lo. À medida que o tempo passa, muitas vezes deixamos de lado a nossa idenƟdade, a realização pessoal, pela necessidade de ganhar dinheiro. Falta um equilíbrio na nossa sociedade: se por um lado é preciso garanƟr o sustento, por outro, a felicidade deve ser prioridade. O que mais se ouve dos mais velhos são os relatos dos sonhos de infância e de como a vida os impediu de se realizarem. Principalmente no mundo capitalista, em que as pessoas deixam de buscar prazer em troca de uma boa qualidade de vida ou até mesmo o luxo. Parece que não percebemos, mas algo anda muito errado nesse sistema. Uma aƟvidade que iremos realizar pela vida toda deve ser, no mínimo, prazerosa. Não só pelo fato de que, ao fazermos algo por obrigação durante tanto tempo, a chance de nos tornarmos infelizes é grande, mas também porque o trabalho pode não ficar bem feito devido à falta de interesse. O equilíbrio, no entanto, é essencial, pois mesmo realizando o nosso sonho, corremos o risco de ficarmos desapontados por não termos o sustento suficiente. Ainda mais que sustento, o homem moderno necessita de conforto e uma boa qualidade de vida para se senƟr saƟsfeito. O que mais nos deveria animar é a certeza de que, ao fazermos o que realmente gostamos, temos uma tendência a trabalhar melhor e sermos, portanto, mais bem sucedidos. Vendo dessa forma, seguir os nossos sonhos não parece ser um problema tão grande. Victória Muszkat

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O bônus de uma boa escolha Crescer não é como um componente curricular, uma disciplina do colégio. Crescer é muito mais complexo que isso. Quando crianças, somos cheios de falsas certezas, e o amadurecimento faz questão de destruí-las. No colégio, passamos por mil e uma coisas, momentos e aprendizados, tanto intelectuais, mas também sociais e İsicos. Em ambas as passagens, em ambos os processos, temos a condição de eternos estudantes, eternos alunos. A diferença é que, no colégio, além das responsabilidades serem outras, temos a oportunidade de parar e retomar um ano academicamente não aproveitado. Crescer é inevitável, você não consegue parar, reviver um momento, uma idade. Simplesmente acontece. E é nessa hora, quando nos deparamos com as ơpicas e mais frequentes perguntas: “O que você vai fazer?” “O que você quer ser?”, que nos damos conta que crescemos. A ideia, o pensamento de sucesso é generalizado, dominante. Só que é aí que eu te pergunto: “O que é ter sucesso?” Será que ter sucesso é simplesmente todo final/começo de mês receber um alto salário? É mesmo só isso? Acredito que o sucesso é apenas uma consequência. Sucesso profissional engloba uma série de aspectos, principalmente o autoconhecimento. Se conhecer é mais do que fundamental para que possamos tomar uma decisão em qualquer circunstância, o conhecer nos permite gerar uma opinião, tomar uma decisão, e todas as nossas decisões têm consequências, sejam elas posiƟvas ou negaƟvas. Escolher o que ser e fazer não é fácil, por isso deve ser um momento de parar, refleƟr tudo o que já foi vivido, tudo o que já foi aprendido e, se achar que não é o suficiente, nos tempos de hoje temos cursos que servem para isso, como uma luz no fim do túnel. É importante ter a consciência de que essa é uma decisão sua. Dar opinião é bom, todo mundo gosta e ainda, como complemento, é de graça. Não se deixe influenciar por parentes, amigos, mídia. O sucesso tão desejado será a consequência de um equilíbrio entre o prazer e realização pessoal e, isso sim, é/será remunerado. Não há nada melhor do que fazer o que se gosta; o corpo, a mente e o bolso agradecem; nem que para isso você precise trabalhar, trabalhar e trabalhar. Que seu trabalho seja sempre seu melhor e mais justo Ɵpo de terapia, aquele que te faz pensar, que te relaxe, mas também te desafie e, como bônus, te remunere. Marina Bechara Tebexreni

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1ª série: Artigos de opinião

PROPOSTA: A parƟr de inúmeras leituras e discussões em sala, os alunos deviam escrever um arƟgo de opinião a parƟr da questão: Trabalho no século XXI: é possível resisƟr à exploração?


Formiga ou cigarra? Se me perguntassem se, no mundo trabalhista do século XXI, eu poderia resisƟr à exploração, eu não pensaria duas vezes na resposta: claro que sim! Mas, em seguida, apontaria para um dos muitos moradores de rua, lixeiros, camelôs que vemos todos os dias: para eles, talvez não. Karl Marx disse que, independentemente da época em que vivemos, o trabalho pode ser definido como “a exploração de uma parte da sociedade pela outra”. Eu diria que isso explica muito bem a minha resposta. Talvez, se o capitalismo funcionasse tão bem na vida real quanto no papel, o mesmo pudesse ocorrer com o trabalho no século XXI, talvez, a exploração trabalhista fosse só uma ideia distante se houvesse igualdade na sociedade atual, mas igualdade é uma utopia e consequentemente o trabalho sem exploração hoje em dia também é. No famoso conto “A cigarra e a formiga”, as pessoas tendem a ver a formiga como a personagem mais esperta, ela trabalhou mais do que a cigarra durante o verão e agora pode descansar confortavelmente no inverno. Porém, não sabemos se a cigarra (que no caso aparece como um personagem preguiçoso e inconsequente) teve as mesmas oportunidades. Claro, isso é só um conto, mas este pode ser facilmente aplicado à vida real. Como uma pessoa que não teve educação, estudos, faculdade pode ser comparada a uma pessoa que teve tudo isso? Como uma pessoa sem esse Ɵpo de formação poderia resisƟr à exploração trabalhista? Ela não pode, ela nasceu do “lado errado da sociedade”, se “o trabalho na sociedade capitalista sempre implica a existência de dois grupos opostos”, a sociedade pode ser vista como exploradores e explorados, não é a pessoa que escolhe seu grupo, é a sorte. Concluindo, sim, é possível resisƟr à exploração trabalhista no século XXI, mas só para um certo grupo de pessoas, outras já nascem condenadas à exploração a vida toda, quem decide isso é o “explorador”. Fernanda Galloni

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O domínio mundial das megacorporações O capitalismo está mais influente do que nunca. No momento, todo o sistema colabora para a exploração dos trabalhadores, sendo impossível resisƟr a ela. Não é mais o Estado quem media a relação entre os donos dos meios de produção e os assalariados, mas sim as megacorporações. Segundo o jornal francês Le Monde, já existem cinco mulƟnacionais mais influentes que nações ricas como a França. A Exxon Mobil é um exemplo, ela detém grande parte do PIB iraquiano, sendo a responsável por grande parte dos trabalhadores que moram em seus campos de petróleo. Esses números impressionam qualquer leitor, pois é visto quem realmente pode ser considerada a influência mundial. Aqueles poucos indivíduos que exploram a mão de obra trabalhista são aqueles que detêm o controle de nações influentes que dizem proteger o trabalhador. Por “desejo” das megacorporações, a vida atual do ser humano é voltada ao trabalho e ao consumo. Desde sua formação, ele é instruído de forma que o trabalho seja uma forma de elevar seu caráter. É por isso que quem não colabora com essa produção é excluído do sistema. É esse ideal trabalhista que leva o leitor de “Bartleby, o escrivão” a refleƟr sobre a alienação que o sistema cria para se manter, tendo de valorizar o excesso de trabalho mal pago. Atualmente, é impossível resisƟr a essa exploração, mas é necessário começar a combatê-la. Toda a população precisa se conscienƟzar de que não existe uma proteção do Estado, já que o mesmo está sob total influência da megacorporações. Precisa-se, mais do que nunca, combater esse modo de vida indigno que afeta a maioria da população que está alienada pelo trabalho. João Paulo Junqueira

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O trabalho e a necessidade de exploração da sociedade Desde anƟgas eras, a espécie humana produz. A produção, antes, servia apenas para a existência do produtor. Com o advento da tributação estatal e da necessidade de consumo, através da história, o que se produzia passou a ser consumido por outras pessoas. Com o passar do tempo, o consumo de alguns produtos aumentou de maneira tão gradaƟva que se criaram grandes empresas e o modelo econômico capitalista como conhecemos hoje. Dessa forma, como mostraram Marx e Engels (visto em “O manifesto comunista”), se formaram duas classes sociais/econômicas. Os donos dos meios de produção e o proletariado. Essas classes se classificam por terem a posse dos meios em que se trabalha e ser a força trabalhadora, respecƟvamente. A relação dessas duas classes é (além de dependência) de exploração. Enquanto um grupo depende dos salários pagos pelo outro, esse outro explora a força trabalhadora do proletariado. Mas a questão que nos vem à mente é: é possível resisƟr à exploração? Bom, se pensarmos teoricamente, sim, é possível, mas, por outro lado, tal pessoa que não trabalha (ou seja, que não é explorada) não é inserida na nossa sociedade. Pois ela não trabalha, não trabalhando, não possui renda, e, assim, não consome, e para ser da nossa sociedade, é preciso consumir. O único Ɵpo de pessoa não explorada é quem é sustentada economicamente (e, assim, socialmente também) por outra pessoa explorada. Então, não é possível não ser explorado (direta ou indiretamente) nesse sistema. Essa exploração não se restringe apenas à classe trabalhadora, pois os donos do meio de produção também são explorados, no caso deles (como todos os membros da nossa sociedade), a exploração vem por parte do Estado. A “máquina” estatal, para conƟnuar funcionando, depende do dinheiro de seus habitantes por meio de impostos. A tributação estatal obriga todos a trabalharem para que as contas sejam pagas, e que, assim, a pessoa faça parte do sistema. Retomando o que foi dito anteriormente, a menos que você seja sustentado por terceiros (explorados), ou termine a vida como Bartleby (personagem principal do romance de Herman Melville que decide um dia que não trabalhará mais e nunca mais fará mais nada, o desƟno do mesmo foi a prisão, sendo que ele morreu na mesma), é impossível, na nossa atual sociedade, não ser explorado ou pelos chefes, ou pelo Estado. Rodrigo Falcão

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Tempos modernos A sociedade em que vivemos nos leva a acreditar que é preciso ter um grupo social superior e um inferior para que possamos viver. Esse conceito, o conceito do Capitalismo, não é recente, ele passou por diversas épocas e sociedades e, junto com ele, traz a ideia de que a exploração dos trabalhadores é necessária. Nos tempos modernos, essa realidade não pode mais ser aceita. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), trabalho é toda aƟvidade exercida em liberdade, com igualdade e segurança que produza algo. Desse modo, a exploração do trabalhador, aƟvidade que fere os Direitos Humanos, não deveria fazer parte de nosso sistema. Considerando o fato de que, para a nossa realidade, se negar a trabalhar é negar sua própria existência, então a exploração do trabalhador tem que ser aceita, pois ele não pode negar a si próprio. Porém, esse conceito está equivocado, pois os trabalhadores, classe social que é desprezada, é a base do sistema capitalista, sem eles a produção de bens não exisƟria e, apesar de estarmos na época das máquinas, em que muitos trabalhadores são desnecessários, é preciso deles para comandar as máquinas e para fazê-las produzir. Por isso, a classe social dos trabalhadores, que faz com que nossa economia e nossa sociedade funcionem, não precisa se submeter a ser explorada pelos donos dos meios de produção, estes dois grupos opostos devem trabalhar em conjunto. Gabriella R. de A. e Souza

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Tripalium A palavra trabalho vem do laƟm “tripalium”, instrumento uƟlizado para tortura na anƟguidade. Uma vez o capitalismo implantado, a história da sociedade anƟga tomou forma no sistema e a exploração de uma camada sobre a outra foi iniciada. Até hoje, o capitalismo neoliberal conƟnua fundamentalmente centrado na dominação do proletário e das riquezas que este produz, de forma que tanto o poder como o lucro dos donos dos meios de produção se intensificam proporcionalmente à exploração e, na disputa intercapitalista, “lucro versus salário”, o trabalhador se prejudica. A gênese da questão social ainda reside na exploração da classe baixa: veja que por todas as vezes que operários são descobertos em condições análogas à escravidão as empresas afirmam que nada sabiam sobre as reais condições dos funcionários. Há de se perguntar a origem desse desejo de nada saber. Nada é além de uma bela forma de resolver contradições sociais. O trabalhador, já prejudicado pela exploração, ainda é desvalorizado conforme o mundo das coisas é valorizado. Ele se torna um número, desumanizado, uma marionete dos poderosos e um zero na massa, que inconscientemente é explorado até (como um objeto) chegar a um ponto de obsolescência. O trabalho, portanto, conƟnua sendo forma de tortura aos proletários que nascem e morrem explorados sem ter a noção disso. Ele coloca sua vida no objeto e nisso se transforma, o que, talvez, dentre tanta falhas, seja o lado mais obscuro do sistema. Manuela Briso Ga o

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2ª série: Crônicas

PROPOSTA: Os alunos deveriam produzir crônicas em que se discuƟsse a relação entre ociosidade e trabalho.


Em busca da salvação “O trabalho salva” ele pensa ao se levantar da cama e cumprir alienadamente sua roƟna da manhã até o ponto de ônibus. Os postes, ruas e prédios marcam seu caminho e se misturam com as pessoas que ali passam, compondo o ambiente. Ao contrário dos outros, quando desce do ônibus, anda com cuidado pelas calçadas, desviando de alguns poucos sortudos que ainda dormem. Chega ao seu local de trabalho um pouco antes do horário, respira fundo, sobe as escadas e se posiciona. A roupa, apesar de adequada, não deixa de lhe incomodar e, silenciosamente, ele faz uma prece por um dia cheio. O movimento cresce e a mulƟdão a sua frente aumenta sem parar. — Deveria começar a usar uma placa luminosa no pescoço — ele pensa, rindo — apenas a Ɵnta prata não surte mais tanto efeito. Assim como fazem com outros, as pessoas passam e o ignoram como se nem o enxergassem parado ali. Com a guitarra pesando nos ombros, a maquiagem já ameaçando derreter e a caixinha vazia a seus pés, ele se pega quesƟonando qual seria mesmo o moƟvo de ter levantado da cama cedo. Surpreende-se então ao ver que já não está mais sozinho. Sentada ao lado de seu palanque improvisado, há uma menina beirando os seis anos, que o encara com uma moeda na mão. A moeda cai, e ao cair o leva a começar a tocar. Os acordes que se seguem já lhe são velhos conhecidos, mas mesmo assim aquele prazer de deslizar os dedos pelas cordas se repete. Quando termina a sequência, arrisca uma rápida olhada para a menina, mas ao se virar se torna impossível desviar o olhar. A menina o encara com uma expressão que supera a admiração e se aproxima do orgulho. Mas, além disso, tem um brilho nos olhos o qual ele se lembra de ter visto uma única vez em um espelho, muitos anos atrás. A menina se levanta, se despede com um sorriso e é engolida pela mulƟdão. Ao observá-la ir, ele se lembra: “O trabalho salva”. O que ele salva? A alma. Carolina Pereira Lima Nahas

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O bailarino, o violinista e o cantor Havia três homens. Um bailarino, um violinista e um cantor. Todos eles Ɵnham um objeƟvo em comum: se destacar perante os outros arƟstas. O violinista ensaiava seis horas por dia, sete dias por semana, dez meses por ano. Criou bolhas nos dedos, perdeu noites e noites de sono ensaiando e assim conseguiu alcançar a perfeição que aquele instrumento exigia. O bailarino ensaiava duas horas por dia, três dias por semana, durante o ano todo. O restante dos dias uƟlizava para ir ao parque, fazer compras, arrumar a casa e assisƟr televisão. O cantor ensaiava quinze minutos por dia, um dia por semana, sem contar férias e feriados em que nada ensaiava. UƟlizava seu tempo livre para descansar e “aproveitar” a vida. Enfim, o grande dia chegou. O dia da apresentação regional de artes, em que os três homens se apresentaram e compeƟram entre si. Porém, somente um deles saiu vencedor. O bailarino... Tudo em excesso faz mal, fato! O ócio é sim muito importante para que haja uma vida saudável, porém, assim como o cantor, o exagero dele faz com que você leve uma vida medíocre e sem objeƟvo, ficando “estacionado” no mesmo lugar e nunca realizando nenhuma conquista. Assim como o ócio, o trabalho também é muito importante para que haja uma vida saudável. Porém, se o trabalho é exagerado, você estará se desgastando İsica e mentalmente, e acabará não tendo forças suficientes para enfrentar os desafios de sua vida, assim como o violinista, que acabou se esquecendo da música na hora da apresentação. O ideal seria que todos nós fôssemos como o bailarino, que soube equilibrar o seu tempo de ócio e de trabalho, conseguindo alcançar seus objeƟvos. Para termos uma vida saudável, é necessário sabermos medir os nossos limites e equilibrarmos a balança do trabalho e do ócio, esƟpulando objeƟvos em nossas vidas e uƟlizando do trabalho para aperfeiçoarmos nossos conhecimentos e uƟlizar o ócio para fazermos dela uma vida alegre, sadia e saƟsfatória. Bárbara de Souza Bim

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Os simples desejos de um poeta Capitalismo... como foi possível criar um sistema que mata e destrói aqueles que o sustentam e aqueles que foram submeƟdos a ele. Como é possível tal criação ser alimentada com os esforços daqueles que pensam que, quanto mais posses se tem, mais feliz se pode ser. Talvez eles até estejam certos, devido aos grandes custos exigidos para se fazer uma simples viagem com a família, sendo que a maior parte dos custos vai para o lucro de alguém (não do viajante) ou para os impostos. Pedro, personagem desta história, abandonou a faculdade de engenharia civil para viver a música e a poesia. Pedro veio de uma família rica e, se assim desejasse, assumiria os negócios de seu pai, mas não Ɵnha vocação, nem interesse, para ser administrador de uma empresa de construção civil. Sua mente, ainda ingênua, achava que poderia escapar das garras egoístas do sistema e viver daquilo que lhe dava prazer. E, de alguma forma, ele estava certo. Quando mais velho, se tornou um grande violonista e começou a fazer poesia; não se importava com o dinheiro, gasto em farras com os amigos. Não era rico, mas viajava constantemente pelo mundo, convidado por pessoas influentes para tocar em grandes eventos. Pedro levava uma vida social e financeira tranquila, só que sua família sempre estava em pé de guerra por causa de seus irmãos, que brigavam pela liderança - futura - da empresa, e por causa de seu pai, que gastava todo o seu tempo enriquecendo sua empresa, deixando sua mãe sozinha e irritadíssima. Pedro se perguntava se seu pai já não Ɵnha dinheiro o suficiente, ou se seus irmãos não enxergavam que a empresa era sólida o bastante para saƟsfazer os desejos dos dois, mesmo que fossem os mais ambiciosos. Pensava em alguns países europeus, onde as pessoas só cumprem as horas de trabalho esƟpuladas e conseguem viver tranquilamente. Pensava inclusive nele mesmo, que Ɵnha menos dinheiro (bem menos), era professor de música, compositor e cantor, com um esforço não muito intenso, mas prazeroso; Ɵnha mais momentos de prazer do que aqueles que perdem suas vidas acumulando riquezas e nem mesmo sabem o que fazer com elas. Seu pai foi internado em uma clínica de repouso; seus irmãos quase perderam a empresa, porque, em meio às brigas, não viram a empresa começar a cair; e ele, Pedro, estava trabalhando, hoje como mestre em uma grande universidade de música popular, e não via vida fora daquilo. Pedro Borges

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Que dia é hoje? João é aquele, aquele quem? Talvez no fim saibamos. João é trabalhador esforçado, todo dia tenta exercer sua profissão da melhor maneira que consegue, com a precisão de um relógio, sempre seguindo as instruções como em um manual de Lego. Um dia úƟl de João é igual durante as cinco vinte quatro horas que tem de ir trabalhar. Sempre acorda às seis e meia, toma seu café, vai ao trabalho, almoça, volta ao trabalho, volta para casa. Às onze e meia se recolhe, tenta relaxar, mas só tem uma coisa em sua cabeça: trabalho. Mas o que ganha João com tanta dedicação, um cargo melhor ou salário mais alto, um dia. Quem é ele para seu chefe? É mais um ali, dos que fazem seu papel. Essa insignificância não lhe traz beneİcio interior, nem saƟsfação emocional, apenas dinheiro no bolso. João é alguém quando? Tem pessoas que nunca serão alguém, mas ele é João, o poeta nos fins de semana, em que tem tempo para refleƟr, se expressar por palavras, ser diferente, ter sua marca e não mais um fazendo a mesma coisa. Na Grécia AnƟga, este tempo era o ócio, espaço de tempo para fazer o que gosta mais, pensar, até filosofar. Para João, ser mais um açúcar no bolo não lhe interessa, gosta mesmo é de ser ele. Por que apenas nos fins de semana ele é ele? “Não deveriam exisƟr dias da semana chamados úteis, afinal todos os dias deveriam ser usados para ser quem você é e aproveitados, assim os dias úteis seriam todos”, João disse isso. Sexta-feira, dia seis de setembro de 2013, João se demite. Eduardo Coube Arieta

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Trabalhando no seu ócio Trancado em seu escritório, lá estava José. Alto, perto dos quarenta, jogador de pelada, aposentado e dedicado pai de família. Era sexta-feira à noite, mas para ele a data em nada mudava as pilhas de trabalho que o cercavam e sufocavam, fazendo-o lembrar a cada instante porque fez a infeliz escolha de ser um contador, como seu pai tanto sonhava. O passar dos ponteiros do relógio ecoavam em sua cabeça, deixando bem claro o tempo que ia ficando para trás. José olhou para os lados e viu todos os outros funcionários focados em seus respecƟvos computadores, como se aquela tela pequena e brilhante conƟvesse todas as respostas da vida. José então se lembrou da sua própria, quando Ɵnha tempo para os amigos, para jogar futebol às sextas à noite e, principalmente, não era mais um engravatado no meio de outros. “Sim, isso foi há muito tempo”, repeƟu ele em voz baixa para si mesmo, mas já trabalhava nesse mesmo escritório e seu primeiro filho já havia nascido. José pensou como abriu mão de tantas coisas de que gostava e, aos poucos, foram deixando de acontecer como as suas sextas-feiras à noite, livres, quando, jogando bola ou não, estava fazendo o que queria na hora em que desejava. “E a troco de quê?” ele pensou. Pela promoção a chefe no fim do mês? Pelo carro novo na garagem? Ou pela carreira bem sucedida? Ele finalmente percebeu, a vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro. O trabalho? Sim, todos nós devemos trabalhar, mas nunca virar escravos dele. Ganhar dinheiro é importante, mas não é essencial. Passar o tempo com quem amamos fazendo coisas que amamos isso sim é o essencial. Aquele tempo ocioso em que senƟmos o simples prazer em fazer nada é precioso, pois é nele que vivemos a vida. O trabalho foi criado para a nossa sobrevivência e é para isso que ele serve. Já o prazer, o ócio propriamente dito, foi criado para nos fazer viver e achar, nas pequenas coisas, a felicidade plena. É impossível exisƟr o ócio sem o trabalho como é impossível exisƟr o trabalho sem o ócio. Todos nós, Josés, devemos nos lembrar de manter a balança, entre esses dois, em equilíbrio e fazer como José que, ao perceber o desequilíbrio de sua balança, tentou colocála em harmonia novamente. Giovanna Delallo

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3ª série: Dissertações

PROPOSTA: A parƟr de textos de apoio e de uma coletânea adaptada do vesƟbular UNICAMP, os alunos Ɵnham que produzir uma dissertação discuƟndo: Trabalho: fator de promoção ou de degradação.


A dicotomia do trabalho As constantes – e muitas vezes instantâneas – mudanças pelas quais esta sociedade metamórfica passa são capazes de Ɵrar o valor de uma mercadoria e colocá-lo em outra, dinamicamente. Desse desapego econômico desvaloriza-se o trabalho da primeira e, juntamente, o homem por trás do produto. Desde Marx, é possível verificar nesse ciclo vicioso que o trabalho é escravo da base econômica que rege uma sociedade, e o homem está insanamente ligado a esse trabalho. Se os homens escravos do trabalho refleƟssem sobre suas práƟcas, talvez chegassem a uma conclusão unânime: qual a necessidade de suprir uma demanda maior do que a necessária para a sobrevivência? A resposta pode estar inƟmamente ligada à psicologia comportamental do homem capitalista que – entendamos comportamento como a relação homem-ambiente – condicionou-o a ceder a ela e, consequentemente, trabalhar para a mesma. Essa força externa leva o trabalho a um patamar predominantemente ligado à saƟsfação pessoal, elo diİcil de ser quebrado. Enquanto essa força – o capitalismo – reger a base econômica dessa sociedade, os homens que cederam à sua pressão estarão infinitamente estagnados por ela. O elo que prende o homem à falsa sensação de saƟsfação pessoal passa pela necessidade de realizar o trabalho que dê prazer: termo relaƟvo, porém, e muitas vezes utópico. Existe trabalho que passando pela equação tradicional — aquela que depende proporcionalmente das constantes “capitalismo” e “infinitas horas” — seja enobrecedor? O gozo oferecido pelo próprio ócio está dissociado do trabalho que atende a essa base econômica. Mas, segundo Skinner e o behaviorismo novamente, o homem foi condicionado pelas mesmas pressões a ligar saƟsfação pessoal com saƟsfação financeira, proporcionando a sensação do próprio ócio no trabalho — desde que esse ofereça boa renda. Dessa forma, é possível verificar a intensidade do ciclo vicioso em que o homem condicionado pelo capitalismo vive, além da pressão que o mesmo proporciona. Pressão que é capaz de corromper gerações, modificar super e infraestruturas e promover a luta de classe, unicamente pelo fato do capitalismo conter sua semente de destruição enraizada nele mesmo. Maria Carolina Ma os

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Labor e sobrevivência Desde que o capitalismo se transformou no sistema econômico adotado por quase todos os países, houve uma necessidade de valorizar o trabalho, uma vez que o capitalismo busca o lucro, e esse lucro advém do próprio trabalho. As frases “o trabalho enobrece/dignifica o homem” e “tempo é dinheiro” são máximas dessa valorização do labor em prol do capital, ou seja, a primeira traz a ideia de que o trabalho é tão poderoso que pode modificar a moral do homem, e a segunda, a ideia de que esse trabalho é poderoso porque é dele que vem o capital, quando não, é o próprio capital. Quando chegamos à vida adulta, tudo isso já está incorporado, já que logo, quando crianças, escutamos histórias como a da formiga que sobreviveu ao inverno porque trabalhou no verão, valores esses que são inseridos por meio da “moral da história”, termo muito apropriado para o contexto que vivemos. Marx já dizia que essa ideologia do trabalho é disseminada pela classe dominante dos meios de produção, que necessita da glorificação do trabalho para manter seu status socioeconômico, pois tempo é dinheiro não para aquele que trabalha ao esgotamento, mas para aqueles que exploram essa força de trabalho. O modo de produção de grandes transnacionais é um exemplo disso: enquanto trabalhadores/operários trabalham até a exaustão para produzir uma peça de roupa pela qual receberão muito pouco, os donos dessa empresa é que ficarão com os lucros da venda dessas roupas a altos preços. Além disso, é a classe dominante que também dita qual trabalho será valorizado de maneira que ela se beneficie dele. Para isso, basta pensar no magistério: essa elite não tem o menor interesse de que o Estado ofereça educação de qualidade, pois se isso acontecesse, mentes mais bem formadas surgiriam, e a manutenção desse status estaria fragilizada. Logo, desvalorizam a carreira de professor para que a sociedade, de modo geral, não tenha mais professores e, consequentemente, uma educação de baixa qualidade seria fornecida. Dessa maneira, o trabalho vem com duas faces: aquela que “enobrece” e traz a valorização social e aquela que traz a exclusão social e desvalorização do homem. Logo, a ideologia transmiƟda pelo trabalho não é estáƟca, mas mutável de acordo com as necessidades, dado que, por exemplo, na Grécia anƟga, quem não trabalhava e vivia do ócio era o nobre, a classe dominante, e os escravos, que viviam na labuta, eram os indignos. Nesse senƟdo, a ideologia do trabalho criada para a manutenção do capitalismo possui uma lógica que degrada e promove sócio e economicamente, ou seja, para sobrevivermos somos forçados a aderir a esse sistema e, muitas vezes, não escolhemos de que “lado” queremos ficar. Karen Oliveira Costa

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O trabalho aprisiona A sacrossanƟficação do trabalho é mais um fator de alienação e aprisionamento social. O ideário desta época, determinado pela classe dominante dos meios de produção, estruturase de acordo com o sistema capitalista, sendo, portanto, construído com fins de favorecer e potencializar o lucro de tal classe. A valorização do trabalho, posto como algo digno e nobre, ilude e convence o operário a depositar sua força, a dedicar seu tempo à produção. Até mesmo a idealização estéƟca e a superioridade de certas faculdades sobre outras visam a transformar o homem em uma máquina de gerar capital (a beleza e a saúde são relacionadas à magreza, que tende a ser alcançada com esforço, restrição e roƟna, caracterísƟcas do bom trabalhador); o conhecimento aplicável, como o do engenheiro, é visto de forma superior à filosofia e sociologia, áreas de maior reflexão. A alienação pode ser percebida na falta de reconhecimento do próprio trabalho nos produtos finais, de preço superior ao salário ganho. O aprisionamento ocorre na combinação entre o desejo de possuir bens materiais (condição de existência do capitalismo) e a necessidade de acumular dinheiro para efetuar a compra. Logo, o operário produz para receber salário para comprar aquilo que produziu. E sente-se bem com isso, visto que a cultura do trabalho inferioriza aqueles que praƟcam aƟvidades ociosas. Não obstante, em um resgate da história, observa-se que, em Atenas, a consciência social Ɵnha tais valores inverƟdos em comparação à atualidade. Nobre era aquele que podia dedicar seu tempo a aƟvidades ociosas, como a reflexão e a filosofia, condição que possibilitou a produção de muitos conhecimentos. O trabalho, uma vez que necessário na garanƟa da vida, era restrito aos escravos, sendo, portanto, inferior, uma vez que não requer contemplação ou alto grau de execução das faculdades mentais. Ainda hoje o trabalho é, em geral, uma forma de escravidão. A diferença reside na naturalização da exploração e da pobreza, desvinculando-a da práƟca escravocrata devido ao pagamento de um valor mínimo à sobrevivência, e que é também gasto a fim de aƟngir o prazer de possuir coisas. A diferença reside na alienação. Enquanto na sociedade ateniense a escravidão era claramente reconhecida, na nossa ela é mascarada, injetada de ilusória liberdade. Daniela Medina

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O trabalho como promoção e degradação no mundo contemporâneo Já diria Nietzsche que o trabalho, assim como qualquer outra palavra, tem uma genealogia. Emprega uma concepção variável, pois é determinada por fatores históricosociais. Entretanto, entende-se atemporalmente que trabalho é um exercício humano de produção. Qual produção? Que Ɵpo de produção? Essas respostas sim, só podem ser respondidas com valores de determinado tempo e espaço. O trabalho nas sociedades primiƟvas, compreendido pela antropologia, resumia-se a restritas horas diárias (três a quatro) para que cobrisse apenas as necessidades do grupo. O trabalho era, portanto, uma aƟvidade para garanƟr a sobrevivência não apenas de um único ser humano, mas de um coleƟvo. Ao longo da história, a relação do indivíduo com o trabalho foi se modificando e, por vezes, se intensificando, de maneira que, no Mundo Contemporâneo, sob a lógica do Sistema Capitalista, o trabalho deixou de ser a base de uma economia de subsistência para vir a ser a base de uma economia que determina e produz força e poder. Para isso, ele necessita de grandes cargas horárias, aumentando a produção. Nessa lógica, o trabalho aƟnge o espaço de promoção e degradação. Para Marx, o trabalho é um dos mais essenciais determinantes das relações econômicas da sociedade, a que ele chama de infraestrutura e base. Base para o sistema políƟco, jurídico e ideológico. Portanto, o trabalho define o indivíduo, sua classe social, sua relação com esta úlƟma e com os demais. Para os detentores dos meios sociais de produção, portanto, o trabalho funciona como promoção. Claramente, não a mesma promoção pensada pelos povos primiƟvos, de promover objeƟvos relacionados à sobrevivência, mas promoção de si, de sua classe social, para que a própria lógica do sistema conƟnue sendo reproduzida. Entende-se por promoção uma propaganda gerada e pensada para admirar e glorificar a aƟvidade entendida como trabalho. Por outro lado, para a grande massa de trabalhadores, o trabalho é entendido como degradação. Ele degrada os indivíduos quando estes são explorados com grandes cargas horárias, salários baixos, péssimas condições. À medida que os trabalhadores valem menos que as mercadorias que eles próprios produziram. O trabalho degrada porque segrega. E a segregação determina o indivíduo e o lugar que ele ocupa. E se não ocupa as mais altas classes, é excluído da sociedade, sem poder de obtenção igual aos demais. E o trabalho, que nas sociedades primiƟvas funcionava como uma aƟvidade para aproximar os homens (todos trabalhavam para bens do grupo), na sociedade contemporânea funciona para a diferenciação entre indivíduos. Responsável pela promoção de poucos e degradação de muitos. Mariana Khaznadar

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Trabalho: fator de degradação no mundo do capital Desde a Revolução Industrial, intensificam-se o processo produƟvo e a condição exploratória do trabalho operário. Hoje, a poucos se reserva o direito à execução de trabalho intelectual. O trabalho ainda é predominantemente braçal. A aƟvidade laboriosa conƟnua sacralizada, mesmo essa renda, na maioria dos casos, degradante, e pode conduzir à exaustão İsica e moral. A questão é: O que é trabalho? No imaginário coleƟvo, “trabalho” é apenas a aƟvidade produƟva capaz de produzir bens de consumo e gerar riquezas para uma sociedade. A práƟca exploratória selvagem tem seu cerne aí. Prezamos pelos excedentes, pela exportação e, por fim, pelo lucro, nos recusando a aceitar que, caso a produção fosse diretamente proporcional as nossas necessidades e saƟsfação, a condição exploratória de não controle dos trabalhadores sobre seus próprios corpos teria fim. Esse modelo egocêntrico e usurpador é Ɵdo por muitos como a única possibilidade para o trabalho. Se o trabalho, no conceito geral, resume-se às esteiras produƟvas e aos cubículos de administração de finanças, e no modelo capitalista a dignidade da vida permanece estagnada nos lucro (dos patrões, é claro!), advindos da vida produƟva, então é lógico que intensifiquemos as jornadas de trabalho (afinal, “tempo é dinheiro”), reduzamos o salário do trabalhador, apelemos para o trabalho escravo e os privemos, inclusive, de suas lutas trabalhistas. O trabalhador braçal, por mais que trabalhe, não será nunca capaz de sustentarse de forma digna referente à condição humana no capitalismo. Sustentamo-nos, portanto, como “coisas”. Somos objeƟficados, e não há qualquer objeto que tenha (ou pretenda ter) qualidade de vida. Objetos também não refletem sobre as práƟcas trabalhistas, não quesƟonam a perda de seu tempo de ócio em troca de um modo de vida estanque. E isso é interessante para um universo de trabalho em que o trabalhador é apenas a força motriz por trás de uma máquina, por trás de um valor de culto. A supressão das válvulas de escape como o cinema, a música e o tempo em família (inexistentes na roƟna circular do trabalhador) compõe também a degradação do homem, quando o faz negar suas qualidades sociais e culturais, e aceitar aquilo que lhe é oferecido como “vida”. Dessa forma, cabe ao homem o papel semelhante ao do maquinário produƟvo, tão racional, programado e sujeito ao “uso indevido” quanto. Nega-se, assim, qualquer meio de dizer que o trabalho “dignifica o homem”. Ou melhor, de dizer que o trabalho dignifica todos os homens. Eva Pacheco

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