NÚCLEO DE PROJETOS SOCIAIS ENSINO FUNDAMENTAL II | Novembro de 2015 NUPS | EFII - 2015
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EXPEDIENTE Lourenço Castanho Direção Geral Alexandre Abbatepaulo Direção Educacional Karyn Bulbarelli Direção de Currículo Fabia Antunes Direção do Ensino Fundamental II Sérgio Pfleger Revista do NUPS Idealização e organização Kadine Teixeira e Juan Mondejar Textos Alunos e ex-alunos Foto de capa “Aldeia Krukutu, zona sul de São Paulo”, foto de Letícia Cavalcante Garcia Projeto gráfico Editoração - Escola Lourenço Castanho Tiragem 1000 exemplares. Distribuição interna e gratuita.
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A QUE VIEMOS Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem; lutar pelas diferenças sempre que a igualdade nos descaracterize. (Boaventura de Souza Santos) O Núcleo de Projetos Sociais do Fundamental II “nasceu” no segundo semestre de 2011, com um grupo de 8 alunos dispostos a, literalmente, romper os muros da escola e olhar a realidade com ‘olhos de ver’. Não só de ver, mas de dialogar, compartilhar, transformar. Orientados por nós, mas bastante autônomos, iniciaram uma atuação que envolvia entender, debater e conhecer contextos socioculturais diferentes daquele com o qual convivemos todos os dias. Às sextas à tarde, trocavam o clube, o shopping, o cinema, por oficinas com as crianças do “Lar São Tiago” ou com os alunos da Escola Estadual Martim Francisco, nossa “vizinha” tão distante, por documentários sobre a realidade brasileira, por campanhas de arrecadação de livros para montar uma biblioteca comunitária no “Lar”, pela entrega de flores a desconhecidos no centro da cidade... E, assim, iam crescendo e ganhando o mundo, mas agora lutando para que ele seja mais justo e menos cruel. Um abraço, Kadine e Juan
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MEMÓRIAS, PALAVRAS, EXPERIÊNCIAS... NUPS é compartilhar, é viver as realidades, é interferir, é transformar! É isso que percebemos ao nos depararmos com os relatos de algumas alunas que tiveram sua trajetória escolar no Fundamental II atrelada ao Núcleo de Projetos Sociais. Olhem só o que elas têm a nos dizer!
diano m o coti o c s a o vi m , quand sociais, o s ã t o t n E a je . o e r a “sair d r do sobr ei por p a s a p s s e s n r e e e t p t de erten do e me in a vonta ha para ina, as v Sempre m n c u ti fi o a c im o n de em m no nu PS com ma gran paulista entaram u cia o NU m e e r o v f e u f e o o veis ida h cola igno em dúv mais viá que a es s m e a u r q o mais d a r e n e r u iz o q t r d o e o so p poss uitos bolha” s undo. Is como m o. Hoje, m ( ã ç e o t a r n e ip e v a c ra. odo de nceiram as de ir os espe de parti a c n m n ti e u fi á u e r ó q p s m s e ade a no r ao lidad o vem mudanç as ativid r se doa te à rea juda nã d e n a d e e t o a r p lm e a a e u p r éq el d as teg por explicáv ras caus pra mim ambém gar-se in u t in e t r u o t m f ã n e s ç e v a a e s ), ela para cê-lo a sen pensam u olhar s dias d r, conhe e o a m s g o o lu d d o o n ad iliza brar t determin ar sensib . me lem u o n t ti n n e t o , ue sejam so q de c is s d os em o le ã s m p n lé e A sim ret de alun is p a o a le m c o r ú h o ten iro n va, p outro e o prime serei ati d is u a o u ip q c as rti al sociais n édio, pa M o in s dament n n E u F o o d Ensin série Lembro b cillo, 2ª o fim do r em de ch o é t M a i o n à id egar t c u e r m n Stéfa a a m d r e 30 que se “8 prime pe o d n e t ir g , o uiu os e mais um s alunos” 2011 a aluna d de 2011, quietas o ti o n 6 ha eu ºano. Pa u fazend pelos pro ssávamo o comen fessores. s e crescia t á a r s io Via nos m aulas s “fofinh uma adm os” e req ais velho da admir iração in u s is s u it ação, min a potênc ados crível pelo ia transfo ha partic ao ponto projeto e ipação a r m a de camin s dora eus prota umentou compree har para gonistas , meu ve nsão do q . u A e b p r rar nossa artir do mund outro na o se dese famosa “ com todo sociedad nvolveu bolha so e, a diver respeito cial”. A c do mund sidade fo alunos, n omunica o. Vimos r a m os sentía a ção, presenta , agora, n mos dife projetos d a s, e guar ossas tra rentes e mudaram d n a sformaçõ das capazes , se reno vez mais es e a do de “ver m varam, in nosso. N s a o is u ”. Do 8º ovaram o tros ossas au em diant u se man las varia e nossos tiveram. ram em E o NUPS mil e um dançamo ficou cad modelos s, ouvimo , debatem a s, mas o A famosa os, pinta melhor é polêmica m os, que apre era um p “da sexta ndemos razer pas -feira à t m u it arde” nu sar meu o. nca me a tempo co gente, ge tingiu, m gente que tenta nte que v ê gente e entender realment Chiara T edeschi, e se impo 9º ano, p rta. articipou do NUPS entre 20 12 e 201 5
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a dia de um o r o lh e orquê, fazer m o sei o p nsei que ã e N p . a e r s p o ar razer Eu sem a de peg a coisa p v a m t u s o a r g e para na, eu pessoa ribuí-las ra peque t e is o d d e n o ó a v mas qu expressã minha a a a e s d s o f im d z jar a . Talve flores no ita de um o prédio is d v s o a h r e in viz receb do, todos os bagunça ssoas ao e o p d s o t a d lo Devo paraben esa cabe izar o de surpr , que me os com o o n t a s o 7 r N e ú o cl d n e o a o d h e is s P r in ro e r jetos Social so ptor menin mão e um espanto dos rece a d n a Lo s u e re r . n o a ço Castanho, e volt até o com fl ada. Ou e sorrir d o im p t o n n is a e fo m i a e u im v m g curso que nsa deixa ontec res, a me r esse ac o fl ia c co ó n s n se e s r g m u e iu atingir os fosse de pr o maio smo que era muit e m o e m t r u s s e o li e m u p g it q S e u s em vários Acho o me o NUP oficina d sava com a s a sp a d e ct i p a o e i s. u e E ip e sse curso é que bem diferenci u volt partic ado dos outro ela que e abia. Eu s d u io e e a e n m s u e porque me mostrou, e a m do q i por pequ uitos outros, q o, mas fo ando era p u m q e o a t d ti o s u n c e existe um pou cada mundo lá fora eu se res arran e que devemo smo que e o t e fl n m a m it o o s r c e s ti dar nosso sen máximo para eio h ssoas conhecer e en va as pe estava m o a , e o t m ç n o e e c s m s te e o a nder essas e pr No c a, m inha vó. da oficin m m a m a v é d a u t g s ra im e in m ificações. jard cia n Fico muito feli s que z de sair do Fu ão conhe s pessoa n a a d u r s e a a e it lh u u n a damental já q em : esp II com essas n ercebi qu ropósito p p o a va u h o s e e in m xp o s m e p e ri ê a ncias, que tem uita não só vão me or um m o ajudar no Ensi mudou m d unidas p o n t a m je u a o q r r , e p no Médio lá entro ue o como também e sinto q a, aída ao c n , u s a r a m a z in a N h le n a . ti vi s o n d a a pessoal. ge mund O Nups propo hecid rcionou as refl à omo é o s descon c a ia o e s e d s u e o q p ã exões que vis para ca em não foram po os flores ssíveis de enco uela épo s q m o a a it r g o a e c r r t b is ntrar nas en va b aulas “norma de lem s e rouba is”, o que foi d e deixar ia d d u s p o o s ã o e enorme n tod importância p inha avó m . e a ra a d , s a íd a li fo s a o rm r a c ação da aisóp a dist para Par ela estav s ia o o v m d a in m n h h a a ía ó id u ir s entidade. q que que É gratificante pada, já eu soube u s c o a o p d o e n d m r e a r p r, d u iz a er que eu Q meio ao lug já fui à favela ue fiquei ferentes e r d s e ia P a d a v ra o ti admito q isópolis e ega não p não fui assalta istórias n de te vi que a n d e d li a , a lm m n a a s, o ouvido h n sim, que u fi a pers fiz amizades co a visita e tinha um u o m d m u u p a e ss ao final d m d oas com e ca isão que eu nunca Minha v zar, já qu o . d a n ic im a n a d g ú in u generali a a va fazer, a er nue m com gostos m da pesso UPS conti o d N u o t u d it o ia e que ca o p d t arecidos oje em que o pr dou. Hoje u ó m s e co ia e espero m m c o meu. ele uên as como o conseq m e o u Se c q n ti e o re o i as pesso e sa udades, iona rápid é muito não func e u q r a o , lh o ruim s de vemos o quecemo s Clara Valle, 9º e e , o d arecem ano, bra p e e u u q q á s t ia s a c p e articipou do N ên s cois s s e a a d o s U ã a P S entre um ade s para alg s na verd a m , s 2 0 e 1 t 3 e 2015 an insignific anos. m u h z a f os do que n no, na, 9º a le e H o r t Cas serta de 015 Luiza Ca PS em 2 U N o d u participo
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O NUPS, pra mim extracur , foi muit ricular, u o mais d ma expe o que ap novamen r iê enas um ncia únic te. Foi um atividad a ativida a que talve a oportu es difere de z eu nun nidade d ntes (que ca possa e conhec m diria q da cidad t er er pesso ue um dia e?) e até as novas mesmo a eu iria dis pudesse , f a z er creditar realizar. tribuir flo em sonh Além de res no ce uma esc os que e tudo, ap n ola e com t r o u nunca rendi o q o lidar co pensei q ue de fat m ela. Co u e o é a rea nstruir e lidade fo ssa ideia eu poder r O projeto a d foi um p e ei repeti não teria razer im r, inúmer ido pra f e principalm n a s s o v ezes, se ti e rente sem ente dos ver a cha segundo a particip nossos p n dessa ide c e . ação dos rofessore ia. (Obrig E uma id alunos, m s querido ada Kad eia que c a s s , que não ine e Jua omeçou tomou. A desistira n, por nu pequena m nem u companh n c a c r a e b s c m a eu. Foi in ar desde ndonare orgulhos m c o rível a pr início o c o N a de ter U PS <3) oporção rescimen participa que esse mais gen to desse do da cria p te se mo program rojeto ção de tu bilizou e a só me para a fo do isso e está se m d rmação e ix a também mais obilizand do carát feliz por er e para o assim c s a b e omo eu. a vida qu r que É um apr e, com c erteza, t e n d izado odos que participa Beatriz G ram onçalves nunca irã , ex-alun o esquec a, partic er. ipou do p r im e iro núcle permane o em 20 cido até 11, tend o fim do o Ensino F undame ntal
u. mudo , ma e e m de ar om u vidualista . Um PS c U a ões m a realida a entreg N ç n i o i a c v d O e fi ti n i e ra es um par i na o rma o col não e aída cussõ verdade, , s s ” i o Entre e certa fo nsando n a d l i , as um as na ,d pe , é só pesso lidade é, ita ao perceber h s , i s A visão m outra, v “ a i . a as m” rea am um riênc co ossa comu “Ah, é só s me fizer neira que a. “ n e saí o de expe e a d d o, õe que ma lida nt como só iss ! Essas aç s, ou da n a rea i conju perceber a s m r o e u ão ão os m sso emo r o que n quen s fizera iada” e n cidade”, n não é só i o que viv e a p d u m a ”, ida com nd ileg sas v “priv o centro d a oficina do do mu imos para nou que, s o n e um ver nsi ag an sn ou qu s flore me e nsinou a , é só re reclam as nunca n , i h r s i A n g “ e p nó o, ee m oa o, me PS m só iss amos sem oas são, inou com dar a d U u n N u m s o m s st ns o, eiro pes somo me e s mudar o que e e tud prim s S u s o P q t o U n s i ju a mo sam ON pode os, mas m do, preci oceano” e s o s s un olh pa um utros mudar o m ta se faz o m o 4 co s S! remo gota em g é o NUP e 201 e 3 u 1 q 0 2 e se sso entre os. “D ra mim, i S m P s e U P N m s! ou do forte p s i i c a ti m par ano, º 9 , m riz Bi Beat
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Qual a form importân aç cia q ue que o ão como pesso a minha próp p a r toda s as m io NUPS é ? Nem se articipaç ão no i por o in que p onde N oder has visõe começo. come UPS teve iam s Ao e s de class n ç para m e a t e mé minh dia d r óbvias p undo for rar, no 7º r. Talvez na so c a e a o ano d m de São P ra al m cieda eças a scon guns o aulo de, p qualq E se di n struí sino , ma não e romo ze uer u d F s a u q v s n r u . Abr a m. To e dam ndo pequ e par i e dos t ndo troca m. Apren enas o olh a um ntal, êm a d a dif sea visse lgo a uxílio emos no a pré-ado r para co como erenças ss s, dar e lesce i qu para a nte d sas receb mas nun o devido que c gente tra e fizemo a p c er. O a, nu osicio s ome na fa NUP nca, çasse nsformad foram a na culda S a p o f c orta a pen oi o c ima d mento r e ti de, c influ d v o a s ente e ent e e a meço que d rreira e fo r, critica sse vont r porq ade d ada para r e fo everi rmaç u ea rmar e faz a faz ã Ana er ca que eu m s er pa o pessoa meu Vila d e s rte d Pach 2012 a vid l. Definiti ideais, p a vez ma e c a a v i o e 201 sem ame r , de to nte, f a minha ais. A 4, qu 15, 1ª s dos o érie a e ando s t s o c a o r do E lunos lha d fonte impo term n e cur . r sino tantí inou so Méd s s o En i m io. E oem sino x -a uito Fund ame luna, pa ntal rticip ou d o NU PS en tre no tava . s e do do uan ao mun e q S UP sd os do N eus olh equena m o ã p o m paç briu o ações e aula c s rtici a a e p a nd est ad nça minh ço que e discuti o da sal s difere de i e c a ç e a he Com e recon m grupo do espa ensão d , a troc e a os m de pr rn no oe 7º a alhand o, saíam or com nas inte ara alé r o se va p Trab impact s e melh ra ape a por to. ç n u e a a o e v o v b d n a ã gran as positi ração n mundo ão e aca hecime ç g e vr on pala is. A inte visões d a satisfa e autoc tre d v a S en 4 tos e e me da ornada soci P n e U j N 1 ecim o qu ra uma u do 12 e 20 o p conh ociais, i a 2 p tic s icial , par os” n i o d i a é d r é d ap “qua no M pont i s s o n s oE nos rie d é s , 2ª schi e d Te tina n e l Va
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REPORTAGEM “Cidade do paraíso” O título, emprestado do livro de Vagner de Alencar - que veio conversar conosco na escola - revela um pouco sobre as descobertas que fizemos entre as vielas de Paraisópolis: um mundo de coisas surpreendentes.
A comunidade de Paraisópolis foi fundada nos anos 1950 e é a 8ª maior do Brasil, com quase 800 mil metros quadrados. Tem mais de 42 mil pessoas, um número muito representativo para a população paulistana, e se localiza no distrito de Vila Andrade, na zona sul paulista. Faz fronteira com o Morumbi, um dos bairros mais nobres de São Paulo, o que nos faz visualizar perfeitamente a desigualdade social da cidade. A imagem criada da comunidade e o poder da mídia faz com que a maioria das pessoas que não conhece essa comunidade tenha certa ignorância, achando que favela é sinônimo de maldade, crimes e pessoas ruins. O Núcleo de Projetos Sociais da Escola Lourenço Castanho foi visitar e conhecer o outro lado da história. Pudemos perceber que na favela há muito mais, pessoas trabalhadoras nos cercam, solidárias, educadas e muito unidas. Muita gente gosta de morar lá e elas esbanjam felicidade.
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Durante as visitas a Paraisópolis conhecemos o Pró-Saber, uma ONG sem fins lucrativos com foco em crianças e jovens de 7 a 15 anos que desenvolvem conhecimento através de diversas atividades e aulas: oficina de bandas, atividades esportivas, gincanas, leituras e aulas de reforço enquanto suas famílias estão ocupadas. Em Paraisópolis conhecemos pessoas que nos acolheram muito bem e nos mostraram diversos lugares incríveis, como o Estevão, que nos apresentou, com muito carinho e amor sua casa, que é diferente da da maioria das pessoas, uma vez que é feita de pedra e entulho.
Também tivemos a oportunidade de conhecer a oficina do Berbela. Para quem não conhece, ele é um mecânico de Paraisópolis e é muito famoso por suas obras de arte com sucata, que inclusive aparecem na abertura da novela “I Love Paraisópolis”, da Rede Globo. Além disso, visitamos a BECEI, uma biblioteca comunitária conhecida em Paraisópolis, que está com problemas financeiros.
PRA SABER SOBRE O PRÓ-SABER No Pró-Saber, nós conhecemos um lado dessa comunidade que jamais pensamos que existiria. O encontro com os alunos de lá foi na própria comunidade. Quando chegamos, descemos em uma pequena praça onde fomos recebidos por alguns deles. Entramos e em segundos percebemos os sorrisos e o astral maravilhoso do lugar, com adolescentes como nós, a interação é mais fácil, e rapidamente os assuntos fluíram e nossos gostos se assemelharam nos mais diversos temas. Juntos, fizemos uma atividade que estimulou a conversa ainda mais. Depois das
apresentações do espaço, eles nos explicaram o que era o instituto. Em seguida, nos levaram até a quadra, onde fizemos atividades lúdicas em grupo, trabalhamos a confiança, a força e a cooperação. O tempo passou rápido demais, quando percebemos já era hora do lanche. Nos despedimos, tristes, pois queríamos ficar mais. Fomos também ao centro de São Paulo com as crianças e jovens do Pró-Saber para desenvolver o projeto “Gentileza gera gentileza”. Esse projeto, que é uma das marcas do NUPS FII, foi compartilhado com, mais uma vez, o objetivo de alegrar o dia
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dos outros e fazer com que as pessoas se sintam especiais por um momento. Nós gostamos muito dessa experiência, foi divertido e foi engraçado o modo como as pessoas respondiam. Havia algumas que só pegavam as flores, outras que falavam obrigado, outras perguntavam se tinha que pagar… Os alunos do Pró-Saber tiveram uma percepção semelhante: “No começo, pensei que ninguém iria aceitar as minhas rosas e finquei indecisa: pra quem vou entregar? Foi engraçado, porque tinha gente que pensava que estávamos vendendo. Depois as pessoas ficavam agradecidas pela gentileza. Eu vi o quanto as pessoas andam na rua e não olham ao seu redor. Vivem nos seus mundinhos. Também percebi a diferença entre as reações das pessoas: umas falavam mil palavras para agradecer e outras nem agradeciam”. Greicy Gabriela Lima dos Santos, 14 anos “No começo, foi estranho ir ao Centro falar com desconhecidos. Depois que você entrega a primeira rosa, dá aquela alegria. Até que alguém não aceita a sua rosa. Aí a sua autoestima fica baixa. Depois você percebe que são poucos que não aceitam a sua rosa e a sua autoestima sobe de novo.” Gabriel Silva, 16 anos Em outro encontro, nos dividimos em pequenos grupos para conhecer a comunidade e os guias foram os alunos do Pró-Saber.
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CASA, CASTELINHO OU OBRA DE ARTE? Um dos lugares visitados foi a casa de pedra, criada pelo senhor Estevão, que mora na casa com sua filha e sua esposa. Ela é conhecida por toda comunidade e por todos os telespectadores de “I Love Paraisópolis”, a nova novela global “das sete”, que é filmada na comunidade e tem como uma das principais locações a casa do Estevão, por sua exótica moradia. A beleza da casa impressiona a brasileiros e estrangeiros e seu trabalho já foi comparado ao do artista espanhol Antoni Gaudí, sendo também conhecido como Gaudí brasileiro. Ele mora na comunidade há 29 anos, é jardineiro em um condomínio de luxo no Jardim Paulistano e gasta grande parte de seu salário comprando objetos para preencher todos os espaços vazios de sua casa. A casa é feita de vários objetos como pratos, xícaras, celulares etc. De acordo com o senhor Estevão, todos os dias ele colocava novos objetos para a fachada da famosa Casa de Pedra, que, vista de fora, parece ser pequena em relação ao seu interior.
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Nós ficamos muito surpresos e impressionados com seu trabalho, dedicação e a bela paixão que ele tem pela casa. Para nós, foi muito diferente, pois não é igual à nossa realidade, sentimos uma sensação de que encontraríamos algo inesperado. Os corredores não levavam necessariamente a lugares definidos, estavam só expostos para conseguirmos ver sua arte. As escadas pareciam não ter fim, pois não conseguíamos ver onde ela nos levaria. Para chegar ao terceiro e último andar, precisamos subir por uma escada bem estreita e apertada; lá é como se fosse um jardim suspenso e tem uma vista incrível, de onde dá para ver toda a comunidade. Foi muito agradável e inovador! No segundo andar, se encontram os quartos e no primeiro fica a sala, a cozinha e a mesa de jantar, que é muito interessante, formada principalmente por pires e pratos… A casa é um pouco confusa, ela tem várias passagens de um cômodo para o outro, mas nós adoramos a experiência e esperamos que todos tenham conhecimento de seu trabalho.
UMA BIBLIOTECA PARA TODOS Em um dos percursos por Paraisópolis, conhecemos a biblioteca BECEI. Vimos que é uma biblioteca simples, que tem como objetivo principal ajudar na educação e no lazer de todos a partir dos livros e de pesquisas, que é possível fazer nos computadores de lá. A comunidade tem acesso aos livros e pode ler as obras, além de na agradável biblioteca, em suas casas. A biblioteca foi fundada em setembro de 1995 por Claudemir Cabral, 33, que montou em sua casa uma biblioteca improvisada. Em dois anos ele fez uma enorme arrecadação e hoje conta com 11 mil títulos! A BECEI destaca-se por ser uma das primeiras bibliotecas no país criada por iniciativa de uma única pessoa. Na época da construção, que durou 2 anos, o jovem Claudemir dava aulas de manhã e à tarde para alunos da comunidade que queriam aprender a ler. O acervo, que começou com apenas 15 livros, hoje se encontra em seu limite. O mesmo se pode dizer da estrutura física da biblioteca que, desde sua fundação, em 1995, já recebeu mais de 600 mil visitantes devidamente registrados! A biblioteca possuía muitos colaboradores. Foi o caso de Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, fundador do império de comunicação Globo, que esteve pessoalmente no local depois de ler sobre a iniciativa nos jornais, entre muitos outros. Hoje em dia, a biblioteca já não recebe tantas contribuições, Claudemir dispensou os dois funcionários que se revezavam com ele e, se continuar assim, ela infelizmente irá fechar, por falta de verba.
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A ARTE DE TRANSFORMAR Outra visita feita foi ao Berbela, um mecânico morador da comunidade de Paraisópolis que reutiliza materiais como correntes de bicicleta, chaves, parafusos, e com esses materiais faz objetos novos como caixas de ferramentas, animais em diferentes tamanhos, brinquedos... Fomos visitá-lo e lá pudemos ver seus trabalhos, uns grandes, outros pequenos, uns altos e outros baixos, alguns em prateleiras e outros, os mais afetivos, separados em lugares mais especiais, por mais que o espaço seja bem pequeno e simples. Perguntamos qual era o seu objeto favorito e ele disse que era a sua bicicleta. Ele nos contou que ela fora feita com seu pai para outra pessoa, mais ele também gostou dela, assim como o resto da comunidade, então ele fez uma para ele e começou a fazer coisas com esse tipo de material para vender para os outros. Achamos super legal, interessante e bem diferente, porque na maioria das vezes não é esse tipo de arte que vemos. Também pudemos perceber que Berbela tem muito talento e dedicação para essa arte, e que adora o que faz.
Toda a experiência agregou muito, conhecer outros lados de uma história é sempre muito rico. Visitar espaços que são inesperados e conhecer pessoas que são diferentes, mas com que nos identificamos e com quem passamos momentos incríveis não tem preço.
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Texto coletivo produzido pelos alunos: 6º ano: Juan Pablo Alves; Maria Eduarda Fontão; Marina Pallis Romano; Marina Silveira; Nathalia Palacios Vera; Sofia Ribas de Angele; Vinícius Gonçalves Ferreira. 7º ano: Anna Luiza Trompieri; Caterina Bolzan; Fernanda Palacios Vera; Fernanda Spínola; Isabela Belvisi; Letícia Cavalcante Garcia; Luiza da Justa Berkovitz; Manuela Vieira; Vinícius Raphael. 8º ano: Gabriela Saadia. Com a colaboração de: Chiara Tedeschi - 9º ano.
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NOVOS PASSOS
Nosso novo desafio agora é nos aproximar da questão indígena. Em geral, muito pouco se conhece sobre os indígenas no Brasil: a diversidade de povos, a quantidade de línguas, os costumes, o que contribui para seu abandono e ameaça sua sobrevivência. Desse modo, no NUPS do Fundamental II, estamos conhecendo um pouco sobre os primeiros habitantes do nosso território, mais especificamente daqueles que estão tão próximos de nós, na cidade de São Paulo, que abriga três aldeias Guarani em seu município, onde vivem 867 índios – dos 41.954 que vivem no Estado. Na visita que fizemos à aldeia Krukutu, na zona sul, pudemos nos surpreender com a paisagem e com a cultura. A estradinha de terra cercada de árvores ia deixando pra trás o trânsito, os fios, a pressa e a indiferença do cotidiano paulista. Ao conhecer aquele povo, nos sentirmos um pouco estrangeiros em meio a tantas crianças que falavam guarani e adultos que tinham “Nhaderú” como o Deus criador do universo, a quem agradeciam todas as noites na ‘casa de reza’. A beleza daquele povo em meio à paisagem contrastava com as dificuldades de quem vive na periferia, como moradia precária e dificuldades financeiras. Mas a luta cotidiana dos cerca de 300 indígenas de Krukutu rendeu algumas conquistas, como a Unidade Básica de Saúde e as escolas de educação infantil e ensino fundamental I. Seguem lutando, no entanto, pela sobrevivência como guaranis. Professora Kadine Teixeira
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UM OLHAR ESTRANGEIRO MUDANDO OLHARES “Mudar de pais é sinônimo de começar tudo de novo, é mudar, alterar, modificar seu Eu para tentar dar os primeiros passos com a certeza que foi feita a coisa certa. Aprender outra língua, caminhar por lugares desconhecidos, deslumbrarse com novas paisagens, conhecer diferentes pessoas e também estranhar diferenças sociais, sobretudo, quando antes desconhecidas. Esse recomeço, cheio de estranhamentos, me fez perguntar: onde estou? ” Foi assim o início de muitas mudanças, exceto a de ensinar, pois pude continuar na área na qual me formei na juventude e nessa tarefa de professor tive a oportunidade de mediar junto a colegas um núcleo que se dedicaria aos projetos sociais da Escola Lourenço Castanho. Lembro que no início não tinha muita certeza de como poderíamos direcionar as ações do trabalho social, mas os próprios alunos foram trazendo ideias que começaram a dar corpo ao projeto para que eu me apaixonasse pelo que estávamos fazendo. Visitas, entrevistas, questionamentos, debates, filmes, leituras, consultas chegaram a encher espaços que pensei num começo iam permanecer em branco. O NUPS começou a ter um sentido especial para mim como professor e como estrangeiro e me fez concluir que desde o início e até hoje tem sido a via que tem permitido conhecer as diferentes realidades brasileiras que não imaginei que existissem. Lembro que ao terminar as primeiras ações não sabia quem estava mais satisfeito: os alunos ou eu, pois foram experiências marcantes, ultrapassaram cada expectativa traçada no meu planejamento.
Assim, as visitas feitas a um lar de crianças órfãs, a uma casa de idosos, a escolas estaduais, ao centro da cidade de São Paulo, a uma tribo indígena e a algumas comunidades como Paraisópolis deramme a oportunidade de responder à pergunta feita no início. Comunidade de Paraisópolis. A favela de que sempre ouvi falar desde minha chegada ao Brasil como um lugar difícil, com extrema pobreza, inundado de drogas e outros problemas noticiados em jornais e reportagens começou a se tornar, com visitas frequentes, o que é verdadeiramente: um espaço onde vivem, na sua maioria, pessoas dignas e trabalhadoras. Este ano conseguimos estruturar um conjunto de ações, debates e visitas para levar nossos alunos a repensar a definição do que a sociedade chama de favela e o que ela na realidade é. Com a ajuda de alunos e educadores do Pró- Saber, iniciamos o caminho pelas estreitas ruas da mencionada comunidade, e aí? Aí comecei a reconstruir meus saberes sobre aquele espaço com tantas pessoas que nos acolheram sempre com um sorriso: crianças, artistas, voluntários, criadores que nos proporcionaram, a cada tarde, momentos inesquecíveis. Entre tantas propostas, continuamos ouvindo sugestões, aperfeiçoando o núcleo, pois acreditamos que é importante oferecer aos nossos alunos a oportunidade de conhecer outros contextos e facilitar a mudança de olhar para lugares rotulados socialmente. Professor Juan Carlos Ramírez Mondejar Cubano, residente no Brasil desde 2005
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Rap do NUPinho Nós somos do NUPS Do ensino fundamental Somos muito bons Nessa coisa social Pensamos em ações Queremos compartilhar E com isso nós também Vamos é nos transformar
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Nós, todos juntos, barreiras vamos quebrar, Amenizar o preconceito, Um novo jeito de pensar. Não fazemos redação O importante é a ação E com novas experiências Boas coisas reinarão. Ideias, vivências, Uma grande construção. Quando aos outros ajudamos, Também nos recompensamos Se todos colaborar Uma ação vamos criar Vem com a gente pra mudar E assim se comprometa, Mudando de atitude Pruma nova consciência. Quando estou na Lourenço Visualizo os caminhos Respeito à diversidade Mobilizando aos pouquinhos Aprendendo sobre os fatos E agindo pra mudar Essa é a nossa escola Decidida a transformar. UOUUUUU (Canção composta coletivamente pelos alunos que integraram o primeiro núcleo do NUPS do Fundamental II. Gravada em estúdio no primeiro semestre de 2012)
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NUPS | EFII - 2015
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