Ofensiva Socialista n° 08 - dezembro 2011/janeiro 2012

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Jornal da LSR

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Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Tendência do PSOL

N° 08 dezembro 2011/ janeiro 2012

GOVERNO DILMA: CORRUPÇÃO, ATAQUES E UMA CRISE EM GESTAÇÃO Esgotamento do ‘lulismo sem Lula’ abre espaço para a resistência dos trabalhadores

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Os desafios do 3° congresso do PSOL • O meu PSOL é sem Marina, Gabeira e PCdoBolso! • Construir um polo de esquerda unitário no PSOL • Uma Central Unitária é necessária e ainda possível páginas 4 e 5

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Defesa Caiu 04 de agosto

A segunda onda da crise internacional do capitalismo tende a ser muito mais grave que a primeira de 2008/09. Boa parte dos mecanismos de recuperação usados então, como o resgate dos bancos e empresas com dinheiro público, esgotou-se e hoje são parte dos fatores agravantes da crise. Também o mercado das exportações brasileiras tende a reduzir-se com a crise, principalmente com o desaquecimento chinês. A economia brasileira deve crescer menos da metade do crescimento obtido em 2010. Os patrões que até agora lucraram pelos cotovelos e se protege-

Mobilização na USP: uma luta de todos pela democracia na universidade A crise se aprofunda na Europa

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Unir as lutas A combinação da continuidade e aprofundamento da luta direta dos trabalhadores, estudantes, dos setores populares no campo e na cidade, no ano de 2012, com uma alternativa política de esquerda coerente levantada nas eleições municipais, pode construir um cenário muito favorável à recomposição da esquerda e do movimento de massas no país. Mas, para isso é importante garantir a unidade das lutas e da intervenção política da esquerda que não se rendeu e não se vendeu. A meta estratégica de todos os lutadores deve ser a reconstrução das condições para a formação de uma Central sindical e popular unitária dos setores combativos e de uma Frente política da esquerda socialista com um claro programa anticapitalista e socialista baseado na independência de classe dos trabalhadores.

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às políticas neoliberais do governo, ainda é muito incipiente. Apesar disso, é visível que o modelo “lulista” começa a sofrer desgastes e a confiança no futuro já não é a mesma para as elites. O fator central nesse processo será o impacto da crise internacional no Brasil e a capacidade de luta dos trabalhadores. O ano de 2011 foi marcado por uma intensificação nas lutas de massas, apesar de continuarem, de forma geral, ainda muito fragmentadas e submetidas a direções vacilantes.

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Segunda onda da crise

ram das turbulências com apoio do governo, começam a falar da crise para tentar justificar o endurecimento na negociação de reajustes salariais. O mesmo vale para os governos. Antecipando-se à crise, Dilma cortou gastos públicos, limitou o reajuste do salário-mínimo desse ano e ameaça o reajuste de 2012. O governo também quer congelar o salário do funcionalismo e não abandonou o projeto de fazer uma nova contrarreforma da previdência. Nas greves recentes dos bancários e trabalhadores dos correios, vimos a intransigência do governo em aliança com os banqueiros que continuam a acumular lucros recordes. Eles fecham a mão na hora de usar os recursos públicos para a grande maioria, mas escancaram na hora de beneficiar uma minoria de gananciosos. Isso vale também para a corrupção. Em dez meses de governo Dilma, seis ministros já caíram, sendo que cinco deles como consequência de graves denúncias de corrupção. Dilma tenta transformar o limão em limonada fazendo pose de quem está promovendo uma faxina na casa. Na verdade, ela vacilou em todos os casos de denúncias de corrupção e só teve que engolir a queda dos ministros quando a situação já estava insustentável. O “lulismo” ainda tem reservas importantes para gastar, principalmente diante da profunda crise da oposição de direita e os limites da oposição de esquerda que, apesar dos méritos do PSOL no combate

Turismo mbro de sete Caiu 14

O modelo político e econômico do “lulismo” atingiu seu apogeu no segundo mandato do dirigente petista. Aproveitando-se de um cenário externo favorável para a exportação de produtos primários e para a captação de investimentos externos (boa parte deles puramente especulativos), os anos Lula permitiram certo aquecimento na economia e o aumento do consumo baseado no crédito. Esse cenário junto com os programas assistencialistas e a utilização de uma imagem “progressista” vinda do passado de esquerda, permitiu que Lula conseguisse eleger sua sucessora com certa facilidade. O projeto de Dilma, de continuar o “lulismo” sem Lula, porém, esbarra num cenário muito mais complicado.

Chapa da esquerda obtém 45% dos votos nas eleições do Sintaema

Grécia: campanha de boicote ao novo “imposto sobre a moradia” toma força página 6

Egito: eleições sob a sombra de novos confrontos página 7

Megaeventos – tráfico de mulheres potencializa os lucros do capital página 8

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Chapa da esquerda obtém 45% dos votos nas eleições do Sintaema No final de outubro e início de novembro, ocorreram as eleições para o Sintaema, o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. É um sindicato importante que abrange empresas como Sabesp, CETESB, Fundação Florestal, SANED, etc. Depois de dura disputa no primeiro turno, a chapa 4, apoiada pela CSP-Conlutas, foi para o segundo turno e obteve 45% dos votos válidos (3.499 votos). Entre os trabalhadores da ativa, a chapa 4 ganhou, refletindo a vontade de mudança entre os trabalhadores. Marzeni Pereira, Abdon Sousa e Roberto Batista Candidatos da Chapa 4 A chapa 1/CTB (que dirige o sindicato há quase 30 anos), apoiada pela Força Sindical, UGT e o que há de mais atrasado no movimento sindical, obteve 55% dos votos válidos (4.254 votos). Entretanto, esse resultado não reflete a realidade da categoria. A chapa 1, utilizou-se de todos os artifícios nojentos para se manter na direção. A chapa 1 também contou como o apoio da patronal. Nas empresas privadas, como tam-

bém na superintendência do Vale do Paraíba (Sabesp), somente a chapa 1 pôde fazer campanha interna. O Sintaema dispõe de um cadastro de cerca de 2 mil aposentados com direito a voto. Mas, nenhuma chapa, além da chapa 1, tem acesso a este cadastro. Nem é possível saber se esses aposentados são ou não sócios regulares ou se realmente pertencem à categoria de fato. Ocorre que cerca de mil aposentados votaram e quase que 100% na chapa 1.

• Superou a confusão gerada na categoria pelo grande número de chapas no primeiro turno, quatro delas se posicionando como oposição. Isso para os trabalhadores apresentava-se como uma divisão da oposição. No primeiro turno, foi mais votada que a chapa da CUT e a da ASS/Intersindical, que são fortes organizações sindicais e com muito mais estrutura. Foi para o segundo turno e mesmo sem recursos, numa categoria de base estadual, enfrentou a força da grana da CTB, Força Sindical, UGT e do aparato do Sintaema e foi mais votada entre os trabalhadores ativos.

Aposentados como voto de cabresto Nas urnas das subsedes, onde o voto é essencialmente de aposentado, foram 221 votos (220 votaram na chapa 1 e somente 1 votou na chapa 4). Esse resultado seria bem diferente se o acesso aos aposentados não fosse exclusivo da chapa 1. A CTB fez um verdadeiro mutirão para buscar em casa os aposentados para votar. Eles foram usados como massa de manobra pela atual direção, que não ajuda em nada os aposentados, a única coisa que faz são as festas. Por outro lado, as decisões da categoria pouco interferem nos interesses dos aposentados. Uma vez que aposentando, os trabalhadores passam a ser vinculados ao INSS,

Continuar a fortalecer a oposição

Abdon e Marzeni, encabeçadores da chapa 4. ou seja, os reajustes salariais não são repassados a eles. A chapa 4 demonstrou um grande poder de superação. • Enfrentou um “racha” interno quando tentou formar uma chapa de unidade para derrota a atual direção; dois militantes fundamentalistas ligados a LERQI, aliaram-se a um setor oportunista

para rachar a oposição e lançaram na categoria uma série de boatos e difamações sobre as principais lideranças da oposição. Logo depois ganharam de presente da direção do Sintaema, o nome e o número historicamente construído pela Oposição Alternativa. No segundo turno, os oportunistas apoiaram abertamente a chapa 1.

Nesse sentido, consideramos a chapa 4 como a grande vencedora das eleições sindicais do Sintaema, apesar de não ter conquistado o aparato sindical. A oposição sai unida, muito mais fortalecida e livre de fundamentalistas e oportunistas que atrapalhavam. Agradecemos a todos que nos apoiaram nesse processo. Parabéns a todos e todas que lutaram pela mudança! Agora a luta continua para continuar construindo uma verdadeira oposição e para ganhar o sindicato de volta para a categoria!

O problema da saúde é a burocracia? Nas últimas semanas, veículos de comunicação de todo o estado, sobretudo da capital, tem ocupado grande parte de seus espaços com denúncias acerca do caos na saúde pública no estado de Goiás. Seja na televisão, no rádio ou no tradicional jornal impresso, as reportagens seguem sempre a mesma linha: apontam a precariedade do atendimento, as péssimas condições de trabalho, a falta de medicamentos e materiais básicos, as enormes filas, a evasão massiva dos profissionais de saúde, dentre outras mazelas. Luciano Alvarenga Montalvão LSR Goiás A mídia, na verdade, tem “preparado o caldo” para que o Governador e o Secretário de Saúde possam reafirmar categoricamente que o problema da saúde pública no estado é a burocracia. E a solução é clara para ambos: entregar os hospitais públicos às chamadas Organizações Sociais (OS’s). De acordo com o tucano Marconi Perillo e o secretário Antônio Faleiros, os hospitais estão como estão em razão da morosidade da gestão pública, que esbarra em licitações, contratos e concursos,

que levam meses, e até anos, para uma simples compra de luvas cirúrgicas, ou para a contratação de um médico. Este argumento é demasiadamente falacioso. A situação da saúde no estado de Goiás é resultado de uma equação simples: décadas e décadas de falta de investimentos; concursos insuficientes para provimento de vagas para profissionais da saúde e funcionários administrativos; remuneração inferior àquelas estipuladas pelos conselhos profissionais; e desvio de recursos por meio de fraudes e corrupção. É bem verdade que a gestão pública tem seus entraves, mas nem o melhor dos gestores capitalistas seria capaz de administrar um hospital sem os devidos recursos e segurar médicos e enfermeiros mal remunerados e desestimulados com as condições de trabalho.

OS = privatização desenfreada Com a implementação das Organizações Sociais, o remédio mágico apresentado por Marconi, os hospitais estaduais – patrimônio dos goianos – serão entregues à exploração de verdadeiras empresas, que terão toda a autonomia para a realização de compras sem licitação e a contratação de pessoal sem concurso. Na prática,

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: E-mail: Sítio: Correio: Assinatura:

muito diferentes dos demais hospitais da cidade. A parte destinada ao atendimento particular e aos planos de saúde é excepcional, de fato, mas a parte relegada ao convênio com o SUS sofre com as mesmas mazelas da saúde pública goiana.

Interesses econômicos

isto significará que cada OS’s poderá – à revelia das vontades da população e sem a fiscalização dos tribunais de contas – realizar negócios com “empresas parceiras” e contratar profissionais sem nenhuma garantia de qualificação, em condições ainda piores de trabalho, e sem qualquer estabilidade. A verdade é que essas Organizações “sem fins lucrativos” movimentam milhões de reais por ano no Brasil, e ninguém sabe exatamente a destinação deste dinheiro. Só para citar um exemplo: a OS Salute Sociale, selecionada para gerir o Hospital de Ur-

gências de Aparecida de Goiânia (HUAPA) tem processos de corrupção e desvio de verba pública em andamento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, seu estado de origem. O CRER – Centro de Reabilitação Henrique Santillo, hospital goiano apontado como uma referência de sucesso da parceria público-privada, ao que parece, não é tão organizado e bem equipado como se mostra na televisão. Relatos de pacientes confirmam que é muito difícil conseguir um atendimento pelo SUS, e profissionais denunciam que no local as condições de trabalho não são

O caos na saúde pública é, acima de tudo, resultado de um jogo de interesses que protege empresários e donos de clínicas, hospitais particulares e planos de saúde. Uma saúde pública de qualidade, gratuita e universal, como determina a carta de princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) acabaria com os lucros exorbitantes destas empresas, que muitas vezes financiam as campanhas magistrais dos nossos políticos. E, no olho do furacão, fica a grande maioria da população: os pobres, os trabalhadores, e parte significativa da classe média, que não tendo dinheiro para arcar com os ônus de um plano de saúde, acabam ficando à mercê da dinâmica e da legislação que lhes são impostas. O projeto das Organizações Sociais representam um verdadeiro ataque a saúde pública. Um ataque à saúde pública é um atentado ao SUS, que por sua vez é um atentado a todos nós, brasileiros.

Colaboraram nessa edição: Abdon Sousa, André Ferrari, Carla Queiroz, David Johnson, Guilherme Camilo, Jonathan de Oliveira Mendonça, Luciano Alvarenga Montalvão, Luciano da Silva Barboza, Marcus Kollbrunner, Mariana Cristina Moraes da Cunha, Marzeni Pereira, Miguel Leme (Envie cheque nominal p/Marcus William Ferreira, Niall Mulholland, Nicos Kanellis, Roberto Batista. Ronny Kollbrunner à caixa postal)

(11) 3104-1152 lsr@lsr-cit.org www.lsr-cit.org CP 02009 - CEP 01031970 - SP 10 edições: R$ 20 reais


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Mobilização na USP: uma luta de todos A quem serve a polícia? pela democracia na universidade No dia 2 de novembro, toda a sociedade foi abalada pela notícia da ocupação da reitoria da USP por um grupo de estudantes. Após a reintegração de posse violenta realizada pela polícia, os estudantes entraram em greve. Todo esse movimento foi tratado pela grande mídia como uma ação de baderneiros e drogados que queriam apenas “fumar maconha”. Além de mentirosas, essas afirmações escondem todo um processo que aconteceu na USP durante os últimos anos. Guilherme Camilo Estudante de Psicologia da USP Os conflitos que acontecem hoje na USP, dos quais apenas uma pequena parte é mostrada na mídia, têm início na própria forma como são tomadas as decisões na Universidade. Apenas pequena parcela dos professores tem algum poder de voz e a grande maioria da comunidade acadêmica, os outros docentes, estudantes e funcionários, é ignorada. A comunidade externa, então, que é quem sustenta a Universidade através de seus impostos, é aquela que está mais longe de ser considerada. Um episódio que deflagrou muito a falta de democracia na USP foi a última escolha de Reitor. Em 2009, uma parcela já muito restrita dos professores fez uma votação, constituindo uma lista com três nomes de candidatos a Reitor. O então governador do Estado, José Serra (PSDB), usou seu poder para indicar o segundo colocado para o cargo. O indicado foi o professor e exdiretor da Faculdade de Direito da USP João Grandino Rodas. Uma escolha do Governador contrária à decisão dos órgãos internos da Universidade não acontecia desde 1969, durante a Ditadura Militar. A escolha de Rodas remete também diretamente aos tempos ditatoriais do Brasil. Ele foi, por exemplo, membro de comissões que inocentaram torturadores e assassinos que participaram do Regime Militar. Foi também, mais recentemente, o primeiro diretor de uma faculdade da USP a chamar a polícia para reprimir manifestações políticas, em 2007.

Projeto tucano para a USP Rodas era realmente a melhor pessoa para implantar o projeto do PSDB na Universidade: • Criação de cursos pagos na USP, onde recursos públicos são utilizados para benefícios privados. • Demissão sumária de funcionários sem sequer base legal para isso. • Uma política de controle de entrada e circulação na USP cada vez mais rígida, o que impede a utilização da Universidade pela comunidade externa e cria um grave problema de segurança pela falta de circulação de pessoas. • Tentativa de fechar cursos que têm importante função social, mas que não têm interesse do mercado. Essa tentativa foi barrada por uma importante mobilização dos estudantes. • Indicação de cargos sem concurso público, explicitando uma concepção de gestão oligárquica, controlada pelo seu grupo político. • Assinatura de um convênio com a Polícia Militar que, com a desculpa

Milhares de estudantes da USP em assembleia durante a greve. . de combater a criminalidade no cam- violência policial estava colocada pus, vem praticando grande violência muito fortemente, e a grande mídia contra os estudantes, principalmente procurava todas as formas de atacar contra aqueles que se colocam poli- o movimento, usando desde distorções das bandeiras do movimento ticamente contra o Reitor. até calúnias sem nenhum fundamento. Grande parte da opinião pública, Os conflitos atuais sem contato com o outro lado dos O estopim do conflito atual foi a fatos, se voltou contra o movimento. tentativa de prisão de três estudantes Além disso, houve uma onda de acuque usavam drogas dentro do campus, sações públicas entre dois setores no dia 27 de outubro. Apesar de muitos do movimento, com aqueles que não estudantes e professores defenderem participavam da ocupação colocando uma mudança na política atual em re- que os outros haviam sido autoritários lação às drogas, essa não foi a questão e inconsequentes em sua ação. Mas central da mobilização. Durante várias a divisão, em vez de mostrar qual semanas desde a assinatura do convênio era o melhor método para conseguir entre a Reitoria de Rodas e a Polícia as reivindicações, apenas enfraqueceu Militar, muitos estudantes estavam ambos os lados, e propiciou uma sisendo vítimas de violência e abusos tuação que a Reitoria esperava. nas mais diversas situações. Não foram poucos os relatos de pessoas que faziam A operação policial suas atividades normais, como estudar nas praças e conversar em uma roda Com o movimento dos estudantes de amigos, e que foram surpreendidas dividido, o uso desmedido da viopor revistas constrangedoras, que in- lência policial era muito mais fácil. cluíam ameaças e em alguns casos No dia 8 de novembro, no fim da duravam até 40 minutos. madrugada, 400 policiais dos diverEsses casos não foram isolados e sos grupos de repressão (como a sim uma postura da corporação que, Tropa de Choque, Cavalaria e GOE), juntamente com a Reitoria, tinha in- mais dois helicópteros da polícia teresse em mostrar seu poder e, assim, chegaram para a desocupação do intimidar antecipadamente qualquer prédio. Não economizaram violência, oposição a suas políticas. Mas o começando a operação jogando bomefeito sobre os estudantes foi o inverso. bas no térreo do CRUSP (moradia Muitos se revoltaram de forma muito para estudantes de baixa renda, prójusta com a presença da PM, inclusive ximo à Reitoria) e impedindo os esalguns daqueles que antes defendiam tudantes de saírem de suas casas. a assinatura do convênio. Logo em seguida entraram no prédio A revolta culminou em uma ma- ocupado e renderam 72 estudantes. nifestação espontânea contra a Polícia Esses estudantes viveram algumas na ocasião da tentativa de prisão horas de terror antes de serem levados dos três jovens e, logo em seguida, presos por um ônibus da PM: precomo forma de manifestação, na senciaram cenas de tortura e viram ocupação da diretoria da Faculdade os policiais desordenando as salas e de Filosofia, Letras e Ciências Hu- quebrando objetos, antes de autorimanas, junto a vários debates e ma- zarem a entrada da mídia. Os 72 fonifestações. A ocupação durou até ram enquadrados nos crimes de dano dia 2 de novembro, por decisão dos ao patrimônio público, desobediência estudantes de saírem do prédio. civil e crime ambiental. Ainda sem nenhuma concessão Após a desocupação, o movimento do Reitor, um grupo de estudantes dos estudantes cresceu significatidecidiu ocupar o prédio da Reitoria vamente. A assembleia realizada no como uma forma maior de pressão. próprio dia 8 contou com a presença O movimento dos estudantes, então, de cerca de três mil pessoas. A apesar do apoio do SINTUSP (Sin- revolta era tão grande que deixaram dicato dos Trabalhadores da USP) e de lado as questões que os dividiam de muitos dos professores, sofreu e conseguiram se fortalecer contra um desgaste durante algum tempo. a política da Reitoria. Nessa assemEm primeiro lugar, a ameaça de bleia não havia nenhuma posição

contrária à greve dos estudantes, somente um debate sobre a data de início. A greve então foi deflagrada. A partir de então, em muitos cursos onde não estava se discutindo sobre a polícia e sobre as reivindicações do movimento, começou um debate de incorporação às mobilizações. Até os cursos que não aderiram à greve fizeram assembleias e reuniões e declararam apoio a algumas das bandeiras do movimento. Duas manifestações fora da USP aconteceram, e cada uma delas contou com cerca de três mil pessoas. Uma delas, ocorrida no dia 10/11, contou com o apoio de várias entidades nacionais e internacionais, como o Sindicato dos Trabalhadores Municipais da Suécia, representado por Bilbo Göransson, membro do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores. A manifestação também deu apoio ao movimento por moradia que acontecia no centro de São Paulo, que passava pelo mesmo processo de repressão policial. A outra manifestação aconteceu no dia 17 de novembro, na Avenida Paulista, e se esforçou para explicar à população que, em vez de defender “privilégios”, os estudantes da USP mobilizados estavam defendendo a abertura da Universidade à comunidade e por uma política de segurança baseada nisso e não na exclusão e repressão. As bandeiras do movimento: • Fora Rodas! Por uma Estatuinte soberana para a USP • Fora PM • Criação de um plano de segurança alternativo • Não punição administrativa ou criminal aos 73 presos na reintegração de posse da reitoria • Retirada de todos os processos administrativos contra estudantes e funcionários perseguidos politicamente

O futuro do movimento O movimento dos estudantes esse ano se mostrou forte, mesmo quando comparado com outros períodos de grande luta, como em 2007. Experiências anteriores mostram ser muito difícil sustentar uma mobilização em um período de provas e entrega de trabalhos, como está acontecendo agora. Mas para o sucesso do movimento não basta que os estudantes façam a luta. Professores e funcionários da USP têm os mesmos motivos para aderir à mobilização. A comunidade externa à Universidade também sofre tanto com a falta de acesso à Educação Superior, quanto com a violência policial cotidiana contra os movimentos sociais e a população pobre. Algumas ações políticas já foram feitas em conjunto entre estudantes e a São Remo, comunidade próxima à USP, como o grafite no muro que divide o campus do restante da cidade. Mais ações desse tipo fortaleceriam as bandeiras e mostrariam cada vez mais à população que a luta na Universidade não é uma luta apenas pelos interesses de sua comunidade interna, mas de toda a sociedade. Além da intensificação do movimento pela base nos cursos da USP e a unidade com professores e funcionários, o avanço da luta na USP dependa da ampliação do movimento para fora da universidade em torno das bandeiras em defesa da universidade pública, democrática e para todos e a não criminalização dos movimentos sociais.

Nos campi universitários, nas favelas ou nas ruas o aparato policial defende de forma violenta o projeto de sociedade da classe dominante.

Carla Queiroz Estudante de Psicologia da USP Na madrugada do dia 8 de novembro, pouco mais de 70 pessoas – entre estudantes e trabalhadores – dormiam na ocupação da reitoria da USP quando foram surpreendidos pelo barulho de helicópteros e pela visão de 400 policiais da tropa de choque, GOE, GATE e cavalaria. A reintegração de posse do local, bem como a prisão destes companheiros, foi feita de forma truculenta, com denúncias de violência contra aqueles que foram presos e até mesmo contra aqueles que protestaram diante da ação da polícia.

Mortes pela PM Situações como essa ocorrem com maior frequência pra além dos muros da universidade. Nos últimos cinco anos, os policiais de São Paulo mataram mais do que todas as forças policiais do EUA juntas. Outras pesquisas mostram que a polícia do Rio de Janeiro mata três vezes mais do que a paulista. Tudo em nome da ordem pública. Essa violência é voltada em grande parte para a população de baixa renda. Utilizando-se do discurso da segurança, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) foram implantadas nos morros próximos aos locais turísticos do Rio numa clara tentativa de maquiar a cidade e excluir as pessoas dessas comunidades da cidade através da violência. As denúncias dessa “pacificação” vão da tentativa de controlar os horários de circulação nos morros até assassinatos. Além disso, a “pacificação” é colocada como caso de polícia, tirando da discussão as demandas sociais dessas pessoas, como a necessidade de espaços de educação, saúde e lazer.

Polícia militar Outra questão a ser levada em consideração é a formação de uma parte excepcional da polícia: a Policia Militar. Com seu estatuto firmado na época da ditadura militar, essa instituição não se modificou desde então. A PM é um braço do exército que, como ele, tem treinamento para atuação em guerras, mas que atua de fato em conflitos cotidianos. E é essa policia militarizada que é colocada pra confrontar os movimentos que se opõem à ordem exploratória a qual estamos submetidos. Nossas lutas em defesa do direito à educação, do direito a melhores condições de trabalho ou mesmo contra a própria repressão são respondidas como se fossemos nós antidemocráticos e pouco dialogáveis. E nesse processo de repressão, não só balas de borracha e bomba nos ferem, mas também a grande mídia que coloca a PM como pacifista e as lutas como infundadas. É notável que a polícia se esforça para preservar uma ordem. Mas é mais notável ainda que, se essa ordem não fosse falha, não seria necessária tanta truculência e tantas calúnias diante dos movimentos que a questionam.


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4 • especial: PSOL

O meu PSOL é sem Marina, Gabeira e PCdoBolso! Um fantasma ronda o III Congresso Nacional do PSOL, o fantasma das coligações e alianças sem princípios e sem coerência política. É hora de exorcizar de vez o pragmatismo eleitoral e construir um projeto socialista e classista para a intervenção do PSOL nas eleições. André Ferrari Executiva Nacional do PSOL Depois de repudiada pela base do partido para as eleições do ano passado, a proposta de aliança política do PSOL com Marina Silva ressurge agora de forma semiaberta, um pouco envergonhada, mas nem por isso menos ameaçadora. Dirigentes do PSOL têm participado de atividades públicas de lançamento do movimento político criado por Marina Silva que visa formar um novo partido político. Heloísa Helena foi representada por Martiniano Cavalcanti (MTL/PP) em reunião com Marina que também contou com a presença do senador Randolfe Rodrigues (APS do Amapá) e outros dirigentes do PSOL. Em São Paulo, o deputado estadual Carlos Giannazi (aliado do MES) também esteve representado no lançamento do movimento de Marina e espera poder contar com seu apoio para seu projeto de candidatura a prefeito da capital paulista. No Rio de Janeiro, o Congresso Estadual do partido decidiu, por pequena maioria, que o PSOL buscará o Partido Verde de Fernando Gabeira (aliado do PSDB no estado) para uma coligação em torno da candidatura de Marcelo Freixo a prefeito da capital fluminense. O Congresso Estadual do PSOL do Amapá, com ampla maioria da APS, decidiu escancarar o arco de alianças do partido para as eleições municipais de 2012. A página do senador Randolfe Rodrigues na internet defendia coligações com partidos que vão do PT, PCdoB e PV até agremiações abertamente direitistas do quilate do PTB, PSDC! Para as eleições em Belém do Pará, também está em debate aberto no PSOL a possibilidade de coligações

Por um giro à esquerda no PSOL. com partidos como o PCdoB. O mesmo se dá em vários municípios do estado de São Paulo, onde coligações com o PCdoB, PT e outros partidos da base do governo federal, estão sendo cogitadas e construídas. O III Congresso Nacional do partido tem a responsabilidade de impedir esse suicídio político. Caso contrário, o próprio projeto que serviu de base para a formação do PSOL estará profundamente ameaçado.

O ecocapitalismo de Marina Silva A então senadora Marina Silva rompeu com o PT depois de anos como ministra de Lula. Calou-se diante dos escândalos do mensalão e da política neoliberal adotada pelo governo. Foi protagonista ou conivente com as políticas privatistas na Amazônia, a entrega das florestas ao agronegócio e o enfraquecimento e divisão do IBAMA. Ao sair do PT, não fez autocrítica nem buscou construir uma oposição de esquerda. Pelo contrário, aprofundou o curso direitista e aproximou-se da oposição de direita encabeçada pelo PSDB e seus satélites. Ingressou no Partido Verde, o partido da boquinha, que participa de todos os governos possíveis tirando a sua lasquinha. Nas eleições de 2010, Marina usou sua história de vida e de militância

ligada à luta ambiental para arrebanhar votos críticos às políticas do governo Lula. Mas, também capitalizou o que há de mais reacionário no voto fundamentalista religioso antiaborto e preconceituoso contra a comunidade LGBT. Também atuou como auxiliar da oposição de direita. Ao perceber que a convivência com a gangue burocrática que controla o PV inviabilizaria seu projeto político, decidiu sair desse partido e construir um movimento político que deve resultar na formação de um novo partido. O projeto de Marina responde a uma necessidade das classes dominantes no Brasil. Com a profunda crise da direita tradicional e os riscos para Dilma e o “lulismo” relacionados à crise mundial e seus efeitos no Brasil, é importante que as elites tenham na manga uma cartada alternativa. Marina tenta ocupar esse espaço. A decisiva questão ambiental que, nos marcos do capitalismo em crise estrutural, ameaça a vida sobre o planeta, não pode servir de fachada progressista para um projeto político profundamente conservador como o de Marina. O papel do PSOL não é reforçar a falsa imagem progressista de Marina e sim desmascará-la como fez Plínio na campanha presidencial de 2010. A alternativa “ecocapitalista” de Marina Silva não é capaz de dar respostas consequentes para a crise ambiental que afeta o Brasil e o mundo. Um projeto anticapitalista e socialista, em confronto direto com os grandes interesses do agronegócio, mineradoras, grandes corporações e capital financeiro (todos eles interligados), é o único capaz de oferecer saídas estruturais em defesa da vida e do planeta. Somente a planificação da economia com controle democrático da maioria da sociedade, dos trabalhadores, camponeses, indígenas e população pobre, poderá combinar desenvolvimento e igualdade social com defesa do meio ambiente.

gação com forças de direita em nome do pragmatismo eleitoral. Uma coligação do PSOL com o PV do Rio significa uma aliança com um braço da direita tradicional no estado. Gabeira foi em 2010 o candidato de José Serra (PSDB), assim como o de Marina Silva, ao governo do estado do Rio. Fortalecer a única oposição efetiva a Eduardo Paes, o candidato de Dilma e Sérgio Cabral, não se fará com alianças com quem hoje posa de oposição (de direita), mas sempre foi parte do esquema político dominante. Como oposição de esquerda, o PSOL deve buscar construir sua base de apoio a partir de um critério de classe, nos movimentos sociais e nas organizações dos trabalhadores.

Quanto custa mais tempo na TV? Em vários municípios e algumas capitais, a defesa de coligações com o PCdoB e, em alguns casos, com o PT, tenta fundamentar-se na argumentação de que há deslocamentos à esquerda nesses partidos e que o PSOL poderia incidir sobre esse processo. Porém, nenhum elemento concreto atestando supostas crises nesses partidos é explicitado. O único argumento concreto defendido por setores do partido, como no caso de uma possível coligação

Frente de Esquerda e dos trabalhadores

PV é aliado da direita A enorme autoridade e respeito construídos pelo deputado estadual Marcelo Freixo no Rio de Janeiro não podem ser colocados em risco nas eleições de 2012 por uma coli-

com o PCdoB em Belém, é a necessidade de mais tempo na TV. Mas, qual o preço desses segundos ou minutos a mais? O que significaria para o PSOL da região amazônica fazer uma coligação com o partido da motosserra, o partido que encabeçou o projeto de reforma do Código Florestal a serviço do agronegócio? Para o PSOL, o real significado de uma coligação desse tipo, seria o de vender a alma ao diabo em troca de migalhas. Tanto os mais escrachados como os mais tímidos defensores das coligações com partidos governistas ou as legendas de aluguel da burguesia utilizam o argumento da necessidade de que o PSOL não fique restrito a um gueto sectário da esquerda. A palavra de ordem desses setores é a “ampliação”. A questão, porém, é ampliar para onde, com quem? Coligações eleitorais oportunistas só servirão para levar o PSOL para a vala comum de outras tantas legendas que também tem a palavra “socialismo” no nome. O papel do PSOL é buscar o apoio ativo daqueles e daquelas que estão desiludidos com os partidos políticos existentes, que querem algo novo e radicalmente diferente. A tarefa do PSOL é crescer e ampliar-se na direção dos movimentos de luta da classe trabalhadora e da juventude e buscar credenciar-se como alternativa essencialmente distinta dos partidos da ordem e do sistema vigente. Devemos dialogar com milhões, mas reafirmando nosso projeto radical e socialista ligado a cada uma das demandas concretas de amplos setores de massas.

Marina Silva não é alternativa.

Do ponto de vista eleitoral, a melhor tática para o PSOL ainda é a construção de uma Frente de Esquerda envolvendo partidos como o PSTU e o PCB, onde isso for possível, mas, além disso, buscando uma relação direta com os movimentos sociais, incorporando suas demandas e reivindicações como parte do nosso programa e vinculando-as à nossa alternativa anticapitalista e socialista.

Uma Central Unitária é necessária e ainda possível

Este ano que passou foi marcado por muitas lutas da classe trabalhadora brasileira. Rebeliões nas obras do PAC, mobilizações dos bombeiros no RJ, greves de trabalhadores em educação em 22 estados, servidores federais, correios, bancários e a mais recente greve dos petroleiros.

Miguel Leme Ferreira Membro da Executiva Nacional da CSPConlutas pelo Bloco de Resistência Socialista - Sindical e Popular Estas lutas, apesar de importantes, ocorreram de forma fragmentada. Não houve unificação e mais lutas devido ao papel governista e de freio desempenhado pela direção majoritária da classe trabalhadora da cidade e do campo, como é o caso da CUT e o MST.

Ficou evidente, mais uma vez, a necessidade de uma Central Unitária combativa para a classe trabalhadora brasileira. Em 2012, a esquerda combativa do país, continuará tendo, como uma de suas tarefas fundamentais, a retomada do processo de reorganização e a luta por uma Central Unitária. Após o desfecho trágico do Conclat, houve uma tentativa de repactuação através de reuniões entre uma comissão da CSP-Conclat e os setores que abandonaram o Conclat.

Acordo era possível As negociações estavam indo bem, inclusive com muitos acordos relacionados ao funcionamento da nova central, direção e formas de composição, havendo polêmica apenas sobre a autonomia das entidades de

base e a questão do nome da Nova Central. Infelizmente, as negociações foram suspensas por iniciativa de um setor da Intersindical (Enlace-MUS), mas não combatida por boa parte dos demais setores da Intersindical, e com o respaldo da Unidos e do, MAS. De lá para cá, apesar das negociações continuarem suspensas, dois documentos – resolução da Fenasps e o manifesto de setores da Intersindical assinado por dirigentes sindicais do CSOL e de parte da APS – apontam a possibilidade de retomada do processo de repactuação, se não com todos que abandonaram o Conclat, pelo menos com aqueles setores que querem construir efetivamente uma Central Unitária. Nós da LSR, que atuamos no PSOL e construímos o Bloco de Resistência Socialista – Sindical e Popular, dis-

cordamos radicalmente de correntes do PSOL que defendem abertamente a construção de uma Central Sindical impulsionada pelo partido.

Superar a fragmentação Essa política, se viabilizada, reforçará a já danosa fragmentação da esquerda combativa do país. Construir uma Central Sindical vinculada ao PSOL é colocar os interesses de algumas correntes políticas internas do PSOL, em detrimento das necessidades e dos interesses históricos da classe trabalhadora brasileira. Essa política é desastrosa, ainda mais, pelas perspectivas que estão colocadas para a conjuntura do ano que vem. 2012 será um ano em que o governo Dilma, em decorrência das consequências da crise econômica

internacional, aprofundará os ataques à nossa classe. A manutenção da política de ajuste fiscal e as reformas trabalhista e previdenciária, ainda estão colocadas na pauta do governo federal, bem como, uma intensificação da criminalização dos movimentos sociais, em virtude da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Para o início do ano que vem, é necessário que a esquerda combativa, impulsione e construa a realização de uma Plenária Nacional de luta da classe trabalhadora brasileira, para respondermos de forma unificada a essas ataques. Além disso, é fundamental que o I Congresso da CSP-Conlutas seja realizado da forma mais aberta possível; e que possa se constituir na prática, como um espaço importante para o processo de recomposição.


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especial: PSOL • 5

Construir um polo de esquerda unitário no PSOL No III Congresso Nacional do PSOL presenciamos o surgimento de uma nova ala direita do partido representada pelos principais defensores da aliança com Marina Silva e Gabeira. São correntes, como o MTL/PP e outros agrupamentos que hoje são majoritários em estados importantes como o Rio de Janeiro e Pernambuco.

setores com a esquerda do partido fosse colocada sobre a mesa. Até hoje, porém, não vimos nenhum balanço sério ou autocrítica do fato do MES ter encabeçado a ala direita do partido no último Congresso, ter defendido a coligação com Marina, as coligações com o PV, o financiamento de campanha por parte de empresas como Gerdau e Taurus em Porto Alegre, ter também apoiado a pré-candidatura de Martiniano contra Plínio e quase ter promovido a divisão do PSOL em meio à crise da Conferência Eleitoral de 2010.

A dinâmica desses setores aponta para sérios riscos ao PSOL. Além das coligações, a tentativa de filiação ao partido de figuras como Rose Bassuma (vinda do campo político da direita e liderança no movimento antiaborto na Bahia) e Jorge Periquito (oriundo do PRONA e PRTB e aliado do governador mineiro Anastasia, do PSDB) são sinais do tipo de partido que esses setores querem construir. Ambas as filiações foram barradas pela maioria da direção nacional.

Coerência na prática cotidiana

Tema das alianças eleitorais Mas, no tema das alianças eleitorais, o campo majoritário do partido organizado em torno da corrente APS, embora mais comedido, não oferece garantias efetivas. A APS é quem está por trás das tentativas de coligações com PT e PCdoB no estado de São Paulo, Pará e, num arco muito mais amplo de alianças, Amapá. No caso do Amapá, embora reconheça que a posição do senador Randolfe não reflete o que pensa o conjunto da APS, não está claro se essa corrente irá ou não fazer vistas grossas diante das posições defendidas pelo senador no estado. Mesmo que vete os “excessos” do Amapá, a APS ainda assim continuará defendendo uma política ampla de alianças com setores governistas e burgueses em vários municípios. Além disso, a APS recusa-se a tirar as lições da crise do PSOL no

Construir uma chapa unitária da esquerda do PSOL como no I Congresso do partido. II Congresso (2009) e na Conferência Eleitoral de 2010 e continua se opondo à obrigatoriedade dos Núcleos de Base e o estabelecimento de critérios claros para que os filiados tenham direito a voto no interior do partido.

Critérios de militância A concepção hegemônica no PSOL, compartilhada pela direção da APS, é de um partido de filiados passivos durante a maior parte do tempo, ape-

nas convocados para apoiar candidatos nas eleições ou votar nas chapas de quem os filiou (correntes ou mandatos) nos Congressos. Nesse cenário, mais do que nunca, é fundamental a construção de um polo de esquerda coerente e unitário no interior do PSOL. Um polo organizado em torno da defesa da independência de classe, contra as coligações com a direita, contra a aliança com Marina, por uma concepção de partido militante, de base e demo-

crática e por um programa socialista consequente para o PSOL. A novidade no último período é a inflexão da corrente MES numa direção mais crítica aos setores majoritários do partido. Estimulada pela perda de sua ala direita (Pernambuco), pela disputa aberta com a APS em São Paulo em torno de quem será o candidato do partido em 2012 e pelos novos climas de mobilização da juventude, essa inflexão do MES levou a que a proposta de unidade desses

Se passarem a votar conosco uma política de organização partidária que priorize os Núcleos de Base, achamos excelente. Mas, queremos ver essa mesma política implementada no Rio Grande do Sul e outros estados em que dirigem o partido. Se votarem contra os descalabros no Amapá ou os movimentos em direção a Marina Silva, terão avançado. Mas, como explicar a postura de Giannazi (aliado do MES em São Paulo) simpática a Marina ou o voto do MES no Rio de Janeiro a favor da coligação com o PV de Gabeira? Entendemos que o papel de correntes como o Campo Debate Socialista, a CST e o Enlace (setor que votou em Conferência contra as coligações para além da Frente de Esquerda e não o setor que se alinha com a APS), junto conosco da LSR e companheiros do Reage Socialista e Grupo de Ação Socialista (GAS), é o de constituir um polo unitário de esquerda no partido, coerente e claro, para além dos Congressos, mas no cotidiano da luta política dentro e fora do PSOL. Entendemos também que seria um erro priorizar a composição com o MES ao invés de construir as bases para esse polo de esquerda no partido.

Um lutador imprescindível: Benoni Alencar O atual núcleo do PSOLSerramar (Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Macaé – RJ) foi formado em 2006. Naquela época o núcleo foi idealizado e fundado por mim e pelo jornalista comunista Benoni Alencar, militante histórico da luta pela democracia no Brasil, que havia sido preso e torturado pela ditadura militar por ter sido um importante líder estudantil oriundo de família nordestina pobre. Luciano da Silva Barboza Professor e Presidente do PSOL Rio das Ostras-RJ Infelizmente o ano de 2011 será lembrado pelo falecimento, aos 66 anos de idade, do presidente de honra do PSOL Rio das Ostras: BENONI ALENCAR. Benoni foi encontrado morto em sua casa, no Palmital - Rio das Ostras, no dia 27 de setembro. A perícia médica feita pela polícia,

afirmou em laudo que a morte foi por estrangulamento. Atualmente a polícia segue suas investigações para descobrir quem foi o autor deste assassinato. Benoni que nasceu no Piauí, trabalhou em jornais como O Globo e o Jornal do Brasil, mas sua principal característica foi ser um daqueles lutadores que dedicaram toda a sua vida ao Socialismo e à Liberdade. Benoni estava trabalhando no Tribunal de Justiça de Rio das Ostras, e participava do Sindjustiça. Após décadas de espera, finalmente Benoni recebeu uma indenização em 2010 do governo federal pelos anos de prisão durante a ditadura militar, e com esse dinheiro organizou uma Biblioteca Popular no Palmital. Essa atitude demonstra sua crença inabalável na educação do povo como instrumento para fazer a necessária revolução. Continuaremos a sua luta pelo socialismo sempre acreditando que na luta da classe trabalhadora BENONI SEMPRE ESTARÁ PRESENTE!

Benoni Alencar: Presente! A luta está comovida Pois já em morte se encontra Um lutador pela vida! Mas a dor que nos comove …Não silencia ou constrange Nos une em vida e nos move Que a vida do lutador Nos inspira a lutar Pra revolução (de amor) Somos todos, ao lutar Parte deste lutador Viva Benoni Alencar!

Benoni Alencar no II curso de formação política do PSOL Rio das Ostras 30 de setembro 2007.

Jonathan de Oliveira Mendonça Professor e coordenador de Juventude do diretório do PSOL Rio das Ostras-RJ


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6 • internacional

A crise se aprofunda na Europa A Europa está à beira de uma nova crise profunda. Os governos não oferecem nenhuma saída. Eles só concordam que o preço para salvar o sistema capitalista deve ser pago pelo povo trabalhador. Enquanto novos pacotes de cortes e ataques são implementados, continua a resistência, com greves gerais e grandes mobilizações. Marcus Kollbrunner Os pacotes de “ajuda” concedidos à Irlanda, Portugal e Grécia, trazem a mesma política que levou à “década perdida” na América Latina. Os pacotes de “resgate” têm sido condicionados a grandes cortes nos gastos públicos e ataques aos trabalhadores. Na Grécia isso tem levado a uma queda na renda disponível das famílias em até 50%, e uma crescente pobreza. Porém, essa política fracassou em tirar os países da crise. Pelo contrário, ela tem levado a uma crise profunda nas economias desses países. Novamente a Grécia tem o pior quadro, com o PIB caindo 15% em três anos e o desemprego disparando. Como na América Latina, todo esse sacrifício é em vão. Apesar de todos os cortes, as dívidas só aumentam. As dívidas públicas da União Europeia aumentaram de 7 trilhões de euros em 2009 para 8,7 trilhões esse ano e tudo indica que a Europa está caindo em uma nova recessão nesse final de ano. O calote na dívida grega era inevitável. O último acordo abriu para certa redução da dívida (calote parcial),

e Papandreu na Grécia, os primeiros-ministros renunciaram pela pressão do mercado, e foram substituídos pelos tecnocratas Lucas Papademos na Grécia e Mario Monti na Itália, com o único objetivo de implementar mais cortes. Mas enquanto se troca de governo, a mesma política prevalece pela falta de uma alternativa coerente.

mas isso não resolverá o problema. E está evidente que um calote grego não será algo isolado, por isso o mercado está cobrando um “prêmio de risco” em forma de juros mais altos nos outros países endividados. Os juros na Itália e Espanha, países bem maiores do que Grécia, Portugal e Irlanda, estão chegando a um nível insustentável, e vão acabar precisando de ajuda externa. Os juros estão subindo também na França, na Bélgica e até a Alemanha teve problemas com a última venda de títulos públicos.

Alternativa socialista

Crise financeira A crise das finanças públicas afeta também os bancos, já que muitos deles tem grandes investimentos em papéis públicos. Os bancos europeus já pagam mais pelo seguro contra calote do que na crise de 2008-2009. Parte do nervosismo vem do fato de que o projeto da moeda comum europeia, o euro, está ficando cada vez mais inviável. Uma ruptura da Zona do Euro iria precipitar uma nova gigante crise financeira e econômica mundial. Isso já está afetando o Brasil. As empresas brasileiras estão com maiores dificuldades em tomar empréstimos no mercado internacional. Como em 2008, esse pode se tornar o principal canal de contágio da crise no Brasil. Nos últimos meses vimos como a classe trabalhadora continua a se mobilizar contra os ataques. Na Itália houve uma greve geral no dia 06 de setembro. No dia 24 de novembro foi organizada uma nova greve geral

Não faltaram razões para a greve geral de 24 de novembro em Portugal. em Portugal, exatamente um ano após a grande greve geral de 2010. Segundo os sindicatos, três milhões de trabalhadores cruzaram os braços. A economia está em profunda crise, no ano que vem o PIB deve cair 3%. O novo governo de direita anunciou novos cortes na educação e saúde, cortes nos salários e aposentadorias e aumento da jornada de trabalho de 40 para 42,5 horas semanais e uma aceleração das privatizações. Na Grã Bretanha 30 sindicatos nacionais convocaram o que na prática é uma greve geral do setor público contra os ataques às aposentadorias.

É a maior greve no país desde a greve geral de 1926. Na Grécia vimos duas greves gerais em outubro, uma no dia 05 e a greve de 48 horas de 19-20 de outubro, que veio após um grande onda de greves e ocupações no setor público. Uma nova greve geral está convocada para dezembro.

Crise política Desde 2008, oito governos caíram na Europa. Só no último mês caíram os governos na Itália, Grécia e Espanha. No caso de Berlusconi na Itália

O processo de reconstrução da esquerda socialista ainda é algo incipiente. Muitas vezes falta confiança em defender uma alternativa socialista coerente, ou o foco é meramente eleitoral. Essa política acaba falhando em atrair principalmente a nova geração de jovens que está se radicalizando, como os ‘indignados’. As eleições na Espanha recente dão uma amostra do que seria possível. A Esquerda Unida (uma frente eleitoral encabeçada pelo Partido Comunista), apesar de ser bastante institucionalizada, conseguiu avançar de 2 para 11 deputados (crescendo mais em número de votos do que o vencedor Partido Popular), graças a um programa eleitoral radical, incluindo exigindo a nacionalização dos bancos e setores chaves da economia, redução da jornada de trabalho, investimentos em trabalho e serviços públicos, etc. Um avanço maior seria possível, se esse programa radical fosse vinculado a uma atuação nas lutas do dia a dia, nos sindicatos e movimentos, para conquistar uma nova geração para uma alternativa socialista.

Grécia: campanha de boicote ao novo “imposto sobre a moradia” toma força Durante as últimas semanas, um novo movimento de massas defendendo o ‘não pagamento’ está crescendo rapidamente em toda Grécia. Mais e mais pessoas dizem que não vão pagar o "imposto sobre a moradia" que foi recentemente aprovado no Parlamento pelo Pasok (socialdemocratas), pouco antes do colapso do governo de Papandreou e sua substituição pelo chamado “governo de salvação nacional”, liderado pelo ex-banqueiro Papademos. Nicos Kanellis Xekinima (CIT na Grécia) Com este novo “imposto sobre a moradia”, cada proprietário deve pagar uma taxa calculada de acordo com a área da sua casa ou apartamento, independentemente de sua renda! Brutal ataque aos trabalhadores Trabalhadores e aposentados que vivem com 400 ou 600 euros por mês ou até mesmo os desempregados que não recebem nada (após o vencimento do seguro-desemprego) são obrigados a pagar mais um imposto de 500, mil ou mesmo dois mil euros se tiver uma casa própria, herdada de seus pais ou avós. E isso é mais um de uma série de novos impostos sobre a classe trabalhadora, aposentados e “classe média”, como profissionais autônomos e pequenos comerciantes, muitos dos quais se viram forçados a fechar seus negócios como resultado da crise e das políticas de cortes do governo.

Para forçar a sociedade grega a pagar este novo imposto injusto, o governo decidiu recolhê-lo através das contas de luz. Desta forma, quem não pagar o imposto vai ter a energia cortada e ficar – com o inverno chegando – sem aquecimento, luz e combustível para cozinhar (os fogões na Grécia são elétricos)!

mentos locais a reconectar a energia elétrica no caso de cortes. É claro que muitas dessas promessas são encaradas pelos trabalhadores com certa descrença, pois eles não tem certeza de que os municípios dirigidos pela esquerda e os sindicatos ligados ao Pasok vão levar a luta até o fim. Mas, nesta fase, a luta está se expandindo, e há um otimismo e uma determinação para colocar pressão sobre a direção dos sindicatos para levar a cabo uma ação efetiva.

Partidos de esquerda e municípios defendem o não-pagamento Desde que o novo imposto foi aprovado em setembro, tanto o KKE (Partido Comunista da Grécia) que tem em torno de 10 a12% de apoio nas pesquisas, e o Syriza, com 8 a10%, chamaram as pessoas a que se recusem a pagar o imposto. No decorrer de novembro, as primeiras contas de luz com o novo imposto começaram a chegar, provocando ira popular. Sob pressão popular, o município de Nea Ionia (em Atenas) tomou a decisão de chamar publicamente os habitantes a não pagarem o imposto. Eles também fizeram propostas concretas sobre como pagar a conta de luz sem ter que pagar o imposto sobre a moradia, e o município se comprometeu a processar a companhia de eletricidade. Além disso, o prefeito de Nea Ionia, Gotsis (um ex-quadro do KKE, eleito com o apoio do Syriza) disse que o município irá defender todos os domicílios e que os funcionários do município iriam reconectar a luz onde ela for cortada! Esta decisão obteve grande publicidade e amplo apoio popular. O exemplo de Gotsis e Nea Ionia foi

Organizando a luta local

“... os proletários nada têm a perder a não ser suas cadeias...” rapidamente seguido, até agora, por cerca de 30 municípios, embora nem todos eles defendam abertamente o não-pagamento ou se comprometam a reconectar a luz de quem sofrer o corte.

Eletricitários contra o imposto A Confederação dos Trabalhadores de Eletricidade, GENOP, também apelou aos seus membros para que se recusem a cortar o fornecimento de eletricidade de quem não pagar o imposto e tomem parte ativa no movimento de não-pagamento, além de defender as famílias da ação das empresas privadas contratadas pelo Estado para cortar a eletricidade das casas e também ajudar os movi-

As decisões dos municípios e a declaração pública do GENOP tiveram um impacto positivo e as assembleias populares locais que foram iniciadas há alguns meses, estão sendo reativadas em muitas comunidades. Centenas de pessoas participam nas reuniões para aprender como podem evitar o pagamento do imposto e se defender contra cortes de luz. O novo governo está em estado de pânico por causa do apoio massivo ao não-pagamento. Um tribunal local em Kalamata, no sul da Grécia, decidiu há poucos dias impedir o corte de energia de uma casa por causa de “erros extremos” no cálculo do imposto. A decisão judicial provocou a ira do Ministro das Finanças, Veniselos, que atacou abertamente a decisão. O governo teme que isso leve muitas pessoas a usarem os mesmos argumentos nos tribunais. O governo está tentando manobrar para sair do impasse e dividir o movimento. Nos últimos dias, o governo anunciou algumas concessões para

as pessoas quem tem “necessidade comprovada”, com rendimentos muito baixo, doença grave, etc., mas apenas para poder atacar a maioria de pessoas que não podem pagar o imposto sobre a moradia. Porém, essa manobra não pode esconder o fato de que esta já é uma vitória inicial para o movimento.

Xekinima Os militantes do Xekinima (CIT na Grécia) participam ativamente desse movimento, apelando pelo não pagamento e ajudando a pressionar os municípios e o sindicato dos eletricitários a apoiarem o movimento. Ao mesmo tempo, explicamos que é preciso organizar-se nas assembleias locais para defender todas as casas de cortes de luz, e dizemos que é necessário organizar uma rede de eletricitários para garantir a religação da energia elétrica em caso de cortes, como já ocorre em alguns lugares. É possível construir um movimento de massas. Se meio milhão, ou um milhão de famílias se recusam a pagar o imposto, isso vai representar uma grande vitória contra esta lei injusta. Ligamos todas essas demandas à necessidade de construir uma alternativa socialista, pois esta é a única maneira de sair do impasse da crise econômica na Grécia, as medidas de austeridade sem fim, as políticas desastrosas da Troika (Banco Central Europeu, União Europeia e FMI) e o novo governo de “unidade” grego, para barrar a crescente barbárie na sociedade grega.


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internacional • 7

Egito: eleiçþes sob a sombra de novos confrontos Nas vĂŠsperas das eleiçþes novos protestos eclodiram no Egito contra os militares que se agarram no poder. “Defender a revolução! Pela luta de massas para derrubar o governo do exĂŠrcito!â€?

David Johnson e Niall Mulholland Socialist Party/CIT Milhares de ativistas travaram imensas batalhas com as forças de segurança pelo controle da Praça Tahrir, no Cairo, no fim de semana de 19 e 20 de novembro e no começo da semana seguinte. Pelo menos 42 pessoas foram mortas e mais de três mil feridas. Indicando algumas divisþes na cúpula sobre como responder a esses protestos de rua, o governo renunciou e os militares indicaram um ex-premiê de Mubarak, Kamal Ganzouri, para o cargo de primeiro-ministro. Ao invÊs de retirar as odiadas leis de emergência do Egito, os generais as estenderam, enquanto protegem seus próprios privilÊgios. Estima-se que 12 mil pessoas foram levadas a tribunais militares nos últimos dez meses, um número mais alto do que nos 30 anos de Mubarak.

O exÊrcito se agarra ao poder Os eventos eclodiram com a crescente raiva com o papel do Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF), que estå tentando manter o controle. O conselho, liderado pelo marechal de campo Mohamed Tantawi, supostamente estå encarregado de supervisionar a transição para a

democracia depois de trĂŞs dĂŠcadas do regime ditatorial de Mubarak. As profundas tensĂľes entre o regime do SCAF e as massas em busca de direitos democrĂĄticos e uma vida melhor, junto com um novo ascenso de lutas e greves nos Ăşltimos meses, acabou por detonar o que muitos ativistas estĂŁo chamando de “segunda revoluçãoâ€?. As massas lutaram duramente, com o custo de muitas vidas, para derrubar Mubarak. Depois que ele foi derrubado, explodiram greves em muitos setores e os protestos continuaram. Boa parte da população, esgotada pelas lutas e ansiando pela “estabilidadeâ€?, botou esperanças no novo regime para supervisionar eleiçþes democrĂĄticas e uma vida melhor. Mas agora grandes setores da população concluĂ­ram corretamente que o SCAF estĂĄ tentando continuar o regime de Mubarak sob novas roupagens.

metade pelo SCAF, e presidido pelo presidente da nação. Isso deixaria as forças armadas com o efetivo controle de si mesmas. Embora espera-se que os islâmicos se tornem o maior bloco no novo parlamento, seus apoiadores estĂŁo divididos em vĂĄrios partidos. O maior ĂŠ o “Partido da Liberdade e Justiçaâ€? da Irmandade Muçulmana. O apoio eleitoral aos partidos islâmicos se baseia em seu histĂłrico de obras de caridade, que preenchia algumas lacunas das polĂ­ticas sociais sob Mubarak, assim como seu histĂłrico de oposição ao regime e o aparente nĂŁo envolvimento com a corrupção. Houve relatos desses partidos distribuindo carne e remĂŠdios pela metade do preço em alguns comĂ­cios eleitorais.

Eleiçþes sob controle militar

As manifestaçþes por todo o Egito em novembro mostram que um crescente número de jovens e trabalhadores entendem que o SCAF pretende sequestrar sua revolução. O movimento precisa urgentemente criar comitês de luta de massas e autodefesa contra a repressão estatal e que sejam eleitos e dirigidos democraticamente. Os soldados rasos do exÊrcito podem ser ganhos, com um firme e decisivo apelo para que se unam ao levante, lutando contra baixos salårios, mås condiçþes e o tratamento de seus altos oficiais, ao lado da demanda pelo direito dos soldados de organizar um sindicato livre e independente, comitês de soldados e a eleição de oficiais. Uma ação de massas dos trabalhadores, incluindo a greve geral, para

As primeiras eleiçþes serĂŁo para a Assembleia do Povo (a câmara baixa), que redigirĂĄ uma nova constituição. O processo eleitoral irĂĄ fortalecer os apoiadores do velho regime, muitos dos quais estĂŁo concorrendo como “independentesâ€? ou membros da “oposição lealâ€? que era permitida por Mubarak para dar um verniz democrĂĄtico a seu regime. Os militares organizaram o processo eleitoral para ser o mais complicado possĂ­vel, e por isso mais fĂĄcil de fraudar. As eleiçþes, que se iniciaram no dia 28 de novembro, vĂŁo ocorrer em diferentes ocasiĂľes num espaço de quatro meses. Toda a apuração vai ocorrer de forma

Revolução sequestrada

A Praça Tahrir voltou a ser o foco dos protestos no Egito. centralizada e os resultados só serão proclamados após vårias semanas. Os militares proibiram a participação de observadores internacionais para fiscalizar as eleiçþes. Os militares se manterão no poder no mínimo atÊ as eleiçþes presidenciais no meio do ano que vem e o governo declarou que o novo parlamento não terå controle sobre as forças armadas, que continuariam a controlar seu próprio orçamento e política. Depois dos protestos, o SCAF disse que prestaria contas a um Conselho Nacional, metade do qual seria eleito pelo parlamento e

derrubar o marechal de campo Mohamed Tantawi, o Supremo Conselho das Forças Armadas e todo o regime podre e brutal, precisa ser organizada ao lado de uma ofensiva para mobilizar e organizar as massas como base para um governo formado por representantes dos trabalhadores, jovens, pequenos agricultores e população pobres, que possa tomar uma ação imediata para deter a contrarrevolução e por direitos democråticos, passos imediatos para melhorar os padrþes de vida e romper com o capitalismo. As massas se opþem instintivamente a uma constituição aprovada ou redigida pelos militares. Um verdadeiro parlamento democråtico, uma assembleia constituinte revolucionåria, para realmente representar a maioria da população, tem que ser convocado sob o controle democråtico de comitês por local de trabalho. Um governo dos trabalhadores e do povo pobre introduziria genuínas reformas democråticas, incluindo eleiçþes regulares para representantes com o salårio mÊdio de um trabalhador e sujeitos à revogação se agirem contra os interesses dos trabalhadores e pobres. Ele tambÊm garantiria o direito de organizar sindicatos independentes, o direito de greve e o direito de organizar partidos políticos. Tal governo nacionalizaria todas as grandes companhias e bancos sob controle democråtico dos trabalhadores, para que a economia possa ser planejada no interesse da grande maioria da população, ao invÊs de ser dirigida em beneficio dos ricos. Os recÊm-formados sindicatos independentes precisam construir seu próprio partido independente dos trabalhadores para lutar por essas ideias.

Greve dos petroleiros sofre dura repressĂŁo no CazaquistĂŁo Milhares de petroleiros da regiĂŁo Mangistau Oblast do CazaquistĂŁo estĂŁo em greve desde o final de maio, no que provavelmente ĂŠ a principal batalha sindical dos paĂ­ses da exUniĂŁo SoviĂŠtica desde a queda do stalinismo. Os petroleiros sofreram uma repressĂŁo brutal durante toda a greve. Em agosto, um sindicalista foi morto apĂłs ser atacado dentro do local de trabalho por bandidos a mando dos patrĂľes. Semanas apĂłs isso, a filha de outro sindicalista foi raptada, estuprada e assassinada. TambĂŠm em agosto, a advogada do sindicato, Natalia Sokolova, foi condenada a seis anos de prisĂŁo por “instigar tensĂŁo socialâ€?.

Condiçþes extremas de trabalho Os petroleiros trabalham em condiçþes extremas numa região de deserto. No verão enfrentam um calor de 50°C e no inverno a temperatura pode cair para -40°C, com condiçþes precårias de saúde e segurança. Os trabalhadores tambÊm lutam pela implementação do acordo assinado com os patrþes dois anos atrås, que ainda não foi cumprido. A greve engloba trabalhadores da empresa estatal, KazMunaiGaz, que tem laços estreitos com o governo do presidente Nazarbayev, e seus

subsidiårios e empresas terceirizadas. No auge do movimento, atÊ agora, 16 mil trabalhadores chegaram a paralisar, e milhares estão em greve desde o início, sem receber salårio. Muitos trabalhadores receberam ameaças anônimas. Um dos representantes dos grevistas teve sua casa incendiada. O governo usou atÊ caças do exÊrcito para sobrevoar as assembleias dos grevistas para intimida-los.

2,5 mil trabalhadores demitidos A empresa demitiu atĂŠ agora 2,5 mil trabalhadores que decidiram continuar em greve. Aqueles que cederam e voltaram ao trabalho tiveram que assinar uma declaração dizendo que a greve ĂŠ ilegal e garantindo nĂŁo participar mais do movimento. Os trabalhadores enfrentam uma avalanche de propaganda mentirosa e total boicote na mĂ­dia oficial. Mas a greve recebeu atenção internacional quando o cantor Sting em julho cancelou um show no paĂ­s, dizendo que “nĂŁo atravessaria um piquete de greveâ€?. Em novembro, o governo começou a dar sinais que pode abrir negociaçþes, mas ainda nĂŁo fizeram uma proposta aceitĂĄvel aos grevistas. O CazaquistĂŁo ĂŠ um paĂ­s rico em recursos naturais que sĂł beneficiam uma pequena elite. A greve dos petroleiros mostra a necessidade de reconstruir um movimento indepen-

dente dos trabalhadores, que lute pela estatização dos recursos naturais sob o controle dos trabalhadores e contra o regime de Nazarbayev. Desde o início da greve, os membros do CIT, que fazem parte do Movimento Socialista do Cazaquistão, tem dado todo apoio ao movimento. Paul Murphy, deputado do Parlamento Europeu pelo Partido Socialista da Irlanda, seção do CIT, visitou os grevistas em julho, ajudando a furar o bloqueio na mídia e tambÊm se comprometendo lançar uma campanha internacional em apoio aos petroleiros, abrindo uma conta bancåria onde doaçþes podem ser depositadas. Protestos têm sido organizados e sindicatos deram apoio em vårios países: Grã Bretanha, Irlanda, BÊlgica, Polônia, Rússia, SuÊcia, Alemanha, à ustria, Venezuela e outros. Aqui no Brasil, o mandato do deputado federal

Ivan Valente do PSOL mandou mensagens de protesto contra a repressĂŁo estatal. A CSP-Conlutas tambĂŠm deve engajar-se na solidariedade.

Perseguição contra os membros do CIT Os militantes do CIT no CazaquistĂŁo sofrem constantemente com a perseguição do governo. VĂĄrios de seus militantes jĂĄ passaram pela prisĂŁo, sem julgamento ou com julgamentos arbitrĂĄrios. No dia 24 de novembro, um dirigente do CIT da RĂşssia em visita ao paĂ­s, foi condenado a dez dias de prisĂŁo apĂłs um julgamento de 5 minutos com provas falsas. Dois lĂ­deres do CIT, Ainur Kurmanov e Esenbek Ukteshbayev, estĂŁo ameaçados de prisĂŁo por atĂŠ dois anos, em retaliação Ă sua atuação na organização da Campanha “Dei-

xem as Casas das Pessoas em Pazâ€?, que defende os interesses do povo pobre contra os despejos forçados ordenados pelos bancos, e pelo apoio Ă greve dos petroleiros. Os dois sĂŁo acusados, entre outras coisas, de serem responsĂĄveis por promover “suicĂ­dios em massaâ€? por parte de moradores que sofreram despejos! A repressĂŁo mostra que o regime teme uma crescente oposição. Os militantes do CIT tĂŞm ajudado vĂĄrios grupos que travaram batalhas contra os ataques do governo e dos patrĂľes, e tambĂŠm tem ajudado a fundar o Movimento Socialista do CazaquistĂŁo, que une os diferentes grupos de oposição ao redor de uma alternativa socialista. Quem quiser ajudar na campanha internacional, acesse nosso site: www.lsr-cit.org ou mande um e-mail para lsr@lsr-cit.org.

5ª ESCOLA LATINO-AMERICANA 01 a 05 de d fevereiro fevereiro 2012 em m São Paulo Paulo o ! ma in ternacional do ma or ganização s O Com Comitê itê por u uma internacional dos sT Trabalhadores rabalhadores Ê u uma organização socialista ocialis com aíses, em ttodos odos o s con tinentes. A LSR Ê a s eção b pr p esença em m ais de 40 p presença mais países, os continentes. seção brasileira do CIT.


Acesso o nosso site:

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00

www.lsr-cit.org e-mail: lsr.cit@gmail.com

N° 08 dezembro 2011/ janeiro 2012

telefone: (11) 3104-1152

Megaeventos – tráfico de mulheres potencializa os lucros do capital Os megaeventos tem se mostrado como uma forma de potencializar os lucros da burguesia, permitindo que esta implemente seus projetos que concentram renda, solo e riquezas, aumentam a exclusão social e espacial. O ufanismo dos megaeventos permite que não se questione tais projetos, que visam atrair o grande capital, modernizando e padronizando as cidades e favorecer as empreiteiras e as construtoras. O capitalismo explora todas as formas possíveis de extrair lucro e a opressão da mulher a séculos cumpre esse papel. Os megaeventos se utilizam da mercantilização do corpo da mulher, para lucrar com a indústria do sexo e o tráfico de mulheres. Mariana Cristina Moraes da Cunha Integrante do Fórum Estadual em Combate a Violência contra a mulher-RJ, do Comitê Popular da Copa e da Olimpíada do Rio de Janeiro e do Movimento Mulheres em Luta As cidades disputam a possibilidade de ser sede dos megaeventos oferecendo ótimas condições de lucro para o grande capital. Isso se concretiza em disponibilidade do solo em áreas centrais (ao custo das remoções das comunidades pobres), mão de obra barata e contratos de trabalho flexíveis e precários para o trabalhador, a padronização da cidade (higienização social, recolhimento de mendigos, drogadictos, profissionais do sexo) para agradar a burguesia e os turistas. De forma menos explícita, mas já conhecida por todos, é a oferta de um mercado sexual para os turistas e empresários que tem se mostrado um diferencial na disputa entre as cidades, como pudemos ver na copa do mundo na Alemanha e na África do Sul, e agora no Brasil.

Escravidão moderna O tráfico de mulheres é uma forma moderna de tráfico de escravos, pois sequestra mulheres, em especial jovens, de seus países e as obriga a trabalhar como profissionais do sexo muitas vezes em troca de um prato de comida, em regime fechado, aprisionadas. Anualmente quatro milhões de pessoas, em sua maioria mulheres jovens, são traficadas. De acordo com o Parlamento Europeu, a indústria sexual ilegal acumula, por ano, de 5 a 7 bilhões de dólares. Com o ufanismo dos megaeventos, a esperança de melhorar de vida,

sionou a África do Sul para que legalizasse a prostituição, o que não ocorreu. No entanto, os governantes deste país fizeram vistas grossas e o tráfico de mulheres (sequestro de meninas) aumentou ainda mais neste período de jogos mundiais. Segundo o portavoz da polícia de Maputo, capital de Moçambique, essas meninas estavam sendo vendidas por US$ 670. Neste país as profissionais do sexo, mulheres trabalhadoras, negras e pobres, que em sua maioria trabalhavam na rua, ficaram mais vulneráveis com o aumento do policiamento, devido à Copa do Mundo, sujeitas a extorsões e subornos, estupros e agressões, prisões arbitrárias.

aproveitando os grandes negócios, a indústria sexual ludibria as mulheres jovens e pobres com a possibilidade de trabalharem nos eventos da copa do mundo. Prometem que elas serão garçonetes, cozinheiras, as transportando de seu país de origem (países subdesenvolvidos, da América Latina, África e Ásia) sem nenhum dinheiro ou garantia de retorno e as levam para serem escravas sexuais disponíveis para os frequentadores dos megaeventos. As mulheres pobres são atingidas duplamente: são exploradas por serem da classe trabalhadora e oprimidas e submetidas por serem mulheres. A mercantilização do corpo da mulher, explorada pela indústria da cerveja e pela propaganda em geral, na venda de produtos de beleza (padronização da beleza) e na indústria do sexo é a prova explícita e concreta do quanto a mulher, em pleno século XXI, é vista como um objeto a ser utilizado para a obtenção do lucro e não um sujeito social detentor de direitos.

Exploração, seja na Alemanha ou na África do Sul Na Copa do mundo em 2006 na Alemanha, o fato da prostituição ser legalizada foi um diferencial para a realização dos jogos lá. Este fato permitiu que a indústria do sexo não tivesse grandes problemas para traficar para a Alemanha nada menos que 40 mil mulheres, importadas da Europa central e do leste, para abastecer um gigantesco complexo ligado à prostituição. Foi construída uma megacasa de prostituição, ao lado do principal estádio do país, com capacidade para 650 homens usufruírem de seus serviços simultaneamente. Para os homens que não queriam ser identificados existiam cabines individuais, com chuveiros e preservativos. Vemos que o capitalismo se utiliza da lega-

lização da prostituição, uma lei feita para proteger as profissionais do sexo, para potencializar seus lucros, explorando o corpo da mulher. Já na Copa do Mundo na África do Sul, a prostituição não era legalizada, mas este país já fazia parte da rota de tráfico de mulheres, o que o tornava atrativo para ser sede de tais jogos. Segundo a associação de mulheres da magistratura sul-africana, a África do Sul é país de origem, de destino e de trânsito do tráfico de pessoas. São traficadas nesse país mulheres tailandesas, russas, búlgaras e moçambicanas; as nigerianas passam pela África do Sul para depois serem vendidas na Alemanha, Itália e Canadá; as sul-africanas são levadas por Hong Kong e Macau. A FIFA, grande agenciadora dos interesses das transnacionais, pres-

Brasil na rota do tráfico de mulheres No Brasil esta realidade de mercantilização da mulher ao extremo não é uma novidade. Locais como Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Manaus são cidades já conhecidas internacionalmente como rota do tráfico de mulheres e como lugar de maior incidência da exploração sexual. No Rio de Janeiro agencias internacionais de turismo na hora de venderem o pacote turístico a um estrangeiro que vem visitar o Brasil, já oferece a ele o serviço de “acompanhante”, que nada mais são que garotas pobres que trabalham como profissionais do sexo para ganhar algum dinheiro. Não é a toa que o Rio de Janeiro hoje é a “vitrine do mundo” e que a grande maioria dos megaeventos está sendo organizada nesta cidade.

A imagem da mulher brasileira é difundida para os demais países como a mulata, que só gosta de sambar e andar seminua, como em um “carnaval permanente”. Os filmes atuais que tem o Rio como o cenário de fundo estão potencializando a difusão desta imagem da mulher brasileira, o que a desqualifica e a resume em um par de pernas, bunda e peitos.

Mulher não é mercadoria! A realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro vão aumentar esta realidade atual, na qual a mulher é vista como um objeto de consumo, o que permite ao homem o direito sobre seu corpo. Não é a toa que, ao invés de diminuir, tem crescido o número de agressões físicas e sexuais às mulheres. Não podemos esperar que esta realidade se agrave. Não somos mercadorias e temos que nos unir para dizer isso ao mundo inteiro. Como vemos, os megaeventos estão intrinsicamente ligados ao “turismo sexual”, pois é favorecido por ele (a venda de mulheres para a exploração sexual), já que é um diferencial a mais para atrair milhares de homens ricos aos campeonatos esportivos e o favorece, por potencializar seus lucros. Nessa história, só quem sai perdendo somos nós, as mulheres trabalhadoras.

Não à mercantilização do corpo da mulher! A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadorias!

II Encontro Nacional de Mulheres do PSOL:

Na luta contra toda forma de exploração e opressão! O PSOL irá realizar o II Encontro Nacional de Mulheres do partido nos dias 16, 17 e 18 de dezembro, no Rio de Janeiro. Diante do acirramento da crise capitalista internacional, do congelamento dos salários e dos gastos com setores sociais, assim como do aumento significativo da violência contra a mulher, o Partido Socialismo e Liberdade não poderia se eximir de armar politicamente a sua militância para dar respostas às mulheres trabalhadoras. O processo pré-Encontro Nacional de Mulheres, os Encontros Estaduais

e municipais, tem mostrado a riqueza de acúmulo sobre a opressão de gênero que as companheiras do partido possuem. Ao mesmo tempo, constatamos a necessidade de que seja socializado e divulgado este acúmulo para o partido enquanto um todo e, principalmente, nas frentes de luta em que atuamos, como as entidades de representação dos estudantes, os sindicatos, movimentos populares, etc. Lutar contra o machismo e o sexismo é fundamental para um partido socialista, inclusive dentro de suas próprias fileiras, detectando situações de assédio moral e intimidação contra as companheiras,

para que sejam eliminadas e que de fato as mulheres tenham espaço igual ao dos homens no PSOL. Estamos avançando na construção da luta contra a opressão de gênero, mas para isso o PSOL precisa expandir este debate para toda a sua militância, através dos núcleos de base, principalmente, de atividades de formação e divulgação de materiais específicos. Leia a tese das mulheres da LSR – “Avançar sempre, retroceder jamais! A luta das mulheres é a luta da classe trabalhadora!”. Estamos firmes na batalha contra o machismo, o capitalismo e toda a forma de exploração e opressão!


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