Preço: R$ 2,00 • Solidário: R$ 4,00
Jornal da LSR
Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)
Tendência do PSOL
N° 20 • junho 2014
Copa pra quem?
Governos castigados nas eleições europeias pág. 02
Unificar as lutas por um junho vermelho pág. 03
Abaixo a criminalização da luta popular em Goiás
“Copa sem povo, tô na rua de novo” Futebol: um grande negócio
pág. 12
pág. 04
Rio Grande do Norte: um estado desgovernado pág. 05
pág. 06-07
O legado repressivo da Copa do Mundo
pág. 08
O fantasma de 1989 ainda assombra o governo chinês pág. 10
site: www.lsr-cit.org • e-mail: lsr.cit@gmail.com • facebook: www.facebook.com/lsr.cit
2 • editorial
Governos castigados nas eleições europeias
O
s governos europeus foram castigados nas eleições para o Parlamento Europeu, que ocorreram nos dias 22 a 25 de maio. Após cinco anos de crise, nos quais a população sofreu fortemente quando os governos lançaram mão de políticas de austeridade para fazer os trabalhadores pagarem pela crise e salvar o sistema financeiro, há um forte sentimento “anti-establishment”. O Parlamento Europeu, instância da União Europeia (UE), tem pouco poder. Justamente por isso, os eleitores tendem a ser mais abertos a fazer votos de protesto. Somente 43,1% do eleitorado participou nas eleições. Nessas eleições, o sentimento anti-establishment foi canalizado principalmente por partidos que representam um populismo de direta, nacionalista e xenófobo. Na Grã-Bretanha, o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), partido racista e que defende a saída da UE, se tornou a maior bancada britânica no Parlamento Europeu ao obter 27,5% dos votos. O principal partido do governo, os Tories (conservadores), ficou no terceiro lugar, enquanto o outro partido do governo, os Liberais Democratas, perderam a metade dos votos e ficaram em quinto lugar.
N
a França, o partido racista Frente Nacional foi o mais votado, com 25% dos votos. O Partido “Socialista” de François Hollande, atual presidente, chegou em terceiro lugar com míseros 14% dos votos. Na Dinamarca, o racista Partido Popular Dinamarquês também foi o mais votado, com 26,6% dos votos. Partidos racistas tiveram muitos votos também na Áustria, onde o Partido da Liberdade da Áustria obteve 19,7%, enquanto o partido Verdadeiros Finlandeses garantiu 12,9% dos votos na Finlândia. Partidos nazistas/fascistas também avançaram em alguns países. Na Grécia, o Aurora Dourada teve 9,4%, sua melhor votação na história e chegou em terceiro lugar, à frente do Pasok (socialdemocrata). Na
●● Pelo direito à cidade para os trabalhadores e o povo! Tarifa zero nos transportes públicos! Estatização do sistema de transporte com controle democrático dos trabalhadores e usuários! Não às remoções de moradores para obras da Copa e especulação imobiliária! Pelo direito à moradia garantido a todos e todas! Nenhum corte nos gastos e investimentos sociais! Mais investimentos na qualidade do transporte e serviços públicos!
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
Hungria, o Jobbik foi o segundo mais votado, com 14,7%. Na Alemanha, onde a cláusula de barreira foi removida, o neonazista NDP conseguiu eleger seu primeiro europarlamentar, com 1% dos votos. Por outro lado, o BNP britânico perdeu seus parlamentares, recuando de 6,2% nas eleições de 2009 para 1,1% agora.
M
as o exemplo da Grécia mostra que, quando há uma alternativa socialista forte, esse sentimento contra a política de austeridade pode ser canalizado pela esquerda. O Syriza, Coalizão da Esquerda Radical, foi o partido mais votado com 26,6%, comparado com 4,7% nas eleições europeias de 2009. Na Espanha, os dois partidos que se revezaram no poder desde o fim da ditadura franquista, o Partido Popular (atual governo) e o Partido “Socialista” Operário Espanhol, perderam grande parte de seu apoio. Esses dois partidos tiveram 80,7% dos votos entre eles em 2009. Nessa eleição, caíram para 49,1%. Boa parte desses votos foi para a esquerda. A aliança eleitoral encabeçada pela Esquerda Unida cresceu de 3,7% para 10%, enquanto a coalizão “Podemos”, uma nova formação de esquerda
O
Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, a organização socialista internacional da qual a LSR faz parte, teve avanços importantes em eleições nacionais que ocorreram ao mesmo tempo que as eleições europeias. Na Irlanda, o Partido Socialista (PS), seção do CIT, elegeu uma segunda deputada, Ruth Coppinger, em uma eleição para complementar a
O que LSR defende:
●● Dinheiro público para saúde e educação e não para os estádios e obras da Copa! 10% do PIB para a educação pública já! 10% do PIB para a saúde pública já!
●● Contra o estatuto do nascituro em tramitação no Congresso! Pela legalização do aborto! Pelo fim da violência contra a mulher! Contra as propostas de reforma trabalhista e da previdência que visam retirar direitos da mulher trabalhadora! Salário igual para trabalho igual! Por mais verbas para a implementação da Lei Maria da Penha! Contra toda forma de opressão às comunidades LGBTT!
●● Reforma agrária controlada pelos trabalhadores com fim do latifúndio! Não à usina de Belo Monte! Em defesa do meio ambiente e do direito à terra para as comunidades indígenas! Fim do massacre dos sem-terra e indígenas!
●● Não às leis de exceção da Copa! Pelo direito democrático de manifestação! Não à criminalização dos movimentos sociais e à repressão! Liberdade e fim dos processos sobre os manifestantes!
●● Aumentos salariais de acordo com a inflação! Congelamento dos preços dos alimentos e tarifas públicas! Redução da jornada de trabalho sem redução de salários! Fim do fator previdenciário e anulação da reforma da previdência. Não às terceirizações e precarização das relações de trabalho!
●● Não pagamento das dívidas interna e externa aos grandes capitalistas para garantir os recursos necessários para os serviços
é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução
que reúne ativistas que surgiram do movimento dos Indignados de 2011-12, conseguiu 8% dos votos. Em outros países, o avanço da esquerda foi mais tímido. Em Portugal, a aliança entre o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes” conseguiu 12,7% dos votos, comparado com 10,6% em 2009, enquanto o Bloco de Esquerda perdeu mais da metade dos votos e obteve 4,6%. Na Dinamarca, a Aliança Vermelha-Verde cresceu um pouco e obteve 6,5%. Na Itália, a aliança “A Outra Europa – Com Tsipras”, que inclui o que resta do Partido da Refundação Comunista, conseguiu 4% dos votos. Na França, a Frente de Esquerda repetiu o resultado com 6,3%, mas o NPA (Novo Partido Anticapitalista) teve míseros 0,3%, comparado com 4,9% em 2009.
●● Basta de violência policial racista nas periferias! Desmilitarização e controle popular sobre a polícia! Combater o racismo nos locais de ensino, de trabalho e na sociedade.
públicos e o desenvolvimento econômico com igualdade social! Auditoria das dívidas controlada pelas organizações dos trabalhadores! ●● Reestatização das empresas privatizadas por FHC, Lula e Dilma com controle democrático dos trabalhadores! Estatização do sistema financeiro e grandes empresas que controlam a economia sob controle dos trabalhadores! ●● Pela reconstrução das ferramentas de luta da classe trabalhadora, independentes dos governos petistas e da direita tradicional. ●● Construir a CSP-Conlutas como central sindical e popular, democrática, classista e de luta, que sirva como base para a construção de uma nova Central unitária de todos os setores combativos e independentes de patrões e governos. ●● Construção pela base de espaços democráticos amplos para unificar as lutas. Por
Telefone: (11) 3104-1152 E-mail: lsr@lsr-cit.org Sítio: www.lsr-cit.org Facebook: www.facebook.com/lsr.cit Correio: CP 668 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 25 reais
vaga de um deputado que renunciou ao cargo. Também ocorreram eleições locais no país e a Aliança Anti-Austeridade, do qual o PS faz parte, elegeu 14 vereadores, dos quais 9 são do PS.
I
nfelizmente, não conseguimos reeleger Paul Murphy ao Parlamento Europeu. Paul assumiu o cargo quando Joe Higgins, do PS, que conquistou o cargo em 2009, se elegeu ao Parlamento Irlandês em 2011. Paul foi exemplar em utilizar o mandato como uma tribuna em prol da luta dos trabalhadores, não só na Europa. Ele foi banido do Cazaquistão após ter apoiado a greve dos petroleiros no país e preso em Israel após ter participado da Flotilha da Liberdade que levava apoio humanitário à Faixa de Gaza. Um fator que pode ter definido o resultado foi a atitude sectária do Socialist Workers’ Party (SWP), que lançou um candidato no mesmo distrito e dividiu os votos. Se houvesse uma candidatura unitária da esquerda, a chance era grande de que Paul Murphy conseguiria se reeleger. Mesmo assim, ele conseguiu 30 mil votos de primeira preferência, um ótimo resultado. Na Grécia, o Xekinima, seção do CIT no país, elegeu dois vereadores. Na Grã-Bretanha, o Partido Socialista (CIT da Inglaterra e País de Gales) faz parte do TUSC (Coalizão Sindical e Socialista), que lançou 560 candidatos nas eleições municipais e conseguiu mais de 65 mil votos. Em Southampton, Keith Morrell do PS foi reeleito vereador. A crise internacional do capitalismo abriu um novo período turbulento. Os socialistas têm a tarefa fundamental de reconstruir ferramentas de luta para a classe trabalhadora, para travar a luta nas ruas, nos locais de trabalho, mas também nas urnas. O crescimento de partidos racistas é um alerta sério. A construção de uma alternativa socialista de massas, que passa por tirar as lições dos erros no passado, evitando as duas armadilhas do sectarismo por um lado e oportunismo do outro, é uma tarefa urgente. um Encontro Nacional dos Movimentos em Luta! ●● Pela construção de novas relações entre aqueles que lutam, baseadas na solidariedade de classe, democracia e respeito às divergências. ●● Por um PSOL afinado com as ruas: de luta, socialista e radicalmente democrático. Por candidaturas do PSOL a serviço das lutas e com um programa socialista. Qualquer representante público do PSOL deve viver com salário de trabalhador. Pela construção da Frente de Esquerda nas eleições e nas lutas. ●● Por um governo dos trabalhadores baseado na democracia das ruas, na mobilização de massas dos trabalhadores e da juventude e com um programa socialista! ●● Por uma economia democraticamente planificada, onde a produção e os serviços, preservando o meio ambiente, estejam voltados aos interesses de toda a população e não uma pequena elite privilegiada. ●● Por uma Federação Socialista da América Latina e um mundo socialista.
Colaboraram nessa edição: André Ferrari, Cacá Melo, Carla Queiroz, Cristina Fernandes, Daniele Pinheiro, Dimitri Silveira, Gabriel Silveira Mendonça, Igor Marchetti, Isabel Keppler, Jane Barros, José Afonso Silva, Marcela Marques, Marcio Silva, Marcus Kollbrunner, Marilia Trajtenberg, Mauricio de Oliveira Filho, Miguel Leme, Natália Oliveira, Ricardo Barros e Vicente Kolo
lutas • 3
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
Unificar as lutas por um junho vermelho nais de exceção para criminalizar as manifestações e greves. Para intimidar cada vez mais as greves, o governo Dilma tem ajuizado uma série de ações com o objetivo de bloquear as contas bancárias dos sindicatos e de suas lideranças. Isto ocorreu, por exemplo, com duas associações de PMs de Pernambuco, apontadas como responsáveis pela paralisação da categoria entre os dias 13 e 15 de maio. No Estado de São Paulo, a Força Nacional já está posta no Itaquerão. Além disso, o governo Alckmin pretende ampliar a presença da polícia militar dentro das estações do metrô.
Há poucos dias da Copa do Mundo, as lutas têm ocorrido num ritmo acelerado no país. Mesmo a imprensa burguesa é obrigada a reconhecer este fato. Um levantamento do jornal Folha de São Paulo, publicado na edição de 25 de maio, apontou que, desde 31 de março, foram realizadas 296 manifestações e 153 greves nas dez maiores regiões metropolitanas do país. Miguel Leme Executiva Nacional da CSP-Conlutas Evidentemente, este levantamento não inclui a histórica greve dos garis do Rio de Janeiro, realizada em pleno Carnaval. Os garis obtiveram conquistas salariais, melhorias nas condições de trabalho e acabaram sendo referência de luta para outras categorias e movimentos sociais. No momento em que fechávamos a edição deste jornal, várias categorias ligadas à educação estavam em greve. Os professores da rede municipal de São Paulo e das redes estaduais de Minas Gerais e Rio de Janeiro continuavam em greve por tempo indeterminado por salário, cumprimento de acordos firmados anteriormente e por melhores condições de trabalho. Os técnicos administrativos das universidades públicas e os servidores da educação básica, profissional e tecnológica federais também continuavam parados. Os professores, funcionários e estudantes das três universidades paulistas – USP, Unicamp e Unesp – entraram também em greve por tempo indeterminado. No setor de transporte, milhares de condutores realizaram greves em diversas cidades do país, com destaque para as paralisações do Rio de Janeiro e São Paulo. Além dos condutores, há a possibilidade também de greve dos trabalhadores do sistema metroferroviário. Este é o caso, por exemplo, dos metroviários de São Paulo. Na Bahia e em Pernambuco, policiais militares e bombeiros também realizaram greve. A Polícia Civil realizou greve de 24 horas em treze estados. A Polícia Fede-
A unificação da lutas e necessidade de uma greve geral de 24 horas A greve dos condutores em São Paulo, que paralizou boa parte da cidade durante dois dias, é mais um exemplo de uma rebelião da base que atropelou a direção pelega. ral realizou diversas paralisações neste ano. Os trabalhadores da IMBEL (fábrica estatal de armas) de Itajubá-MG, Piquete-SP, Juiz de Fora-MG, Rio de Janeiro-RJ e Magé-RJ, podem retomar novamente a greve, em virtude do não cumprimento por parte da empresa do acordo firmado junto ao Tribunal Superior do Trabalho. Os trabalhadores do IBGE entraram em greve em quatorze estados por equiparação salarial com outros órgãos federais, como Banco Central e Ipea.
Greve na Petrobras Operários da refinaria da Petrobras de Cubatão (SP) estão em greve há mais de vinte dias por salário e melhores condições de trabalho. Os Metalúrgicos da GM de São José dos Campos (SP) realizaram uma greve de 24 horas por Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e estabilidade no emprego. Neste ano, os operários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) pararam várias vezes o canteiro de obras por melhores salários e condições de trabalho. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa mais de 340 mil ser-
É possível e necessário construirmos uma Greve Geral de 24 horas pela base.
vidores em todo o país, aprovou paralisação para 10 de junho. Além destas greves, o movimento popular tem ido para o ofensiva para que a sua pauta de reivindicação seja atendida. Há mais de noventa ocupações na cidade de São Paulo, sendo que a mais recente foi realizada em Itaquera e batizada de “Ocupação Copa do Povo”. Esta ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) conta com mais de quatro mil famílias. O MTST também realizou “ocupações” nas sedes de grandes empreiteiras e uma grande manifestação no dia 22 de maio, em São Paulo, que contou com a participação de mais de vinte mil pessoas. Isso depois de ter sido um dos protagonistas das ações do 15 de maio (15M), uma jornada de lutas que incluiu o trancamento de várias rodovias incluindo a Radial Leste bem em frente ao Itaquerão, o estádio da abertura da Copa do Mundo. Muitas outras ações estão sendo planejadas pelo movimento sindical e popular. Para o dia 12 de junho, abertura do mundial de futebol, estão previstas novas manifestações contra a FIFA e os gastos da Copa e por mais investimentos em saúde, educação, transporte e moradia.
As lutas do último período, apesar de terem a participação de milhares de pessoas, não são tão massivas como as de junho, mas têm sido realizadas com métodos radicalizados e com uma pauta bem definida. Apesar de algumas delas apresentarem elementos espontâneos, identificamos uma forte presença das organizações da classe trabalhadora. Entretanto, um aspecto que tem chamado a atenção é o fato de que as greves que começaram de forma espontânea foram, na prática, verdadeiras rebeliões da base dos trabalhadores dessas categorias contra governos, patrões e as direções pelegas dos seus sindicatos. Este processo não é de agora, pois já vem ocorrendo no setor da construção civil ligado às obras do PAC. Entretanto, ficaram mais evidentes nas greves dos garis do RJ e dos condutores do Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas greves, os trabalhadores rejeitaram os acordos salariais rebaixados assinados por suas direções sindicais pelegas e realizaram greves radicalizadas.
As jornadas de junho de 2013 e as lutas atuais
Conforme as lutas vêm crescendo, há também um aumento da criminalização dos movimentos sociais por parte do governo Dilma e dos governos estaduais. Esta criminalização tem ocorrido através do aumento do aparato repressivo militar e jurídico. Todas as cidades-sedes da Copa terão centros integrados de repressão policial que funcionarão 24 horas por dia. Estes centros funcionarão de 10 de junho a 18 de julho. Essa medida vem se somar aos tribu-
As lutas que estão ocorrendo neste momento devem ser colocadas como continuidade das jornadas de junho do ano passado. Entretanto, é necessário identificar algumas diferenças importantes. As jornadas de junho foram manifestações espontâneas, de massa, com uma pauta ampla, em que as organizações da classe trabalhadora tiveram um papel bastante secundário.
Aumento da criminalização dos movimentos sociais
Apesar do crescimento das greves e manifestações, estas lutas têm sido realizadas de forma fragmentada. Essa fragmentação ocorre em virtude da ausência de uma ferramenta que permita unificar e dar um sentindo comum a todas essas lutas. Infelizmente, o Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora), realizado em 2010, foi uma derrota para a classe trabalhadora brasileira. Se, ao invés da divisão, tivéssemos saído com uma Central Sindical e Popular Unitária, estaríamos em outro patamar na disputa da direção do movimento de massas no país e, consequentemente, na luta contra patrões e governos. E vale a pena relembrar: esta divisão ocorreu porque as correntes majoritárias da esquerda combativa do país acabaram colocando os seus interesses acima da necessidade histórica da classe trabalhadora brasileira. Em virtude deste desfecho, a construção de uma Central Sindical e Popular Unitária continua sendo uma tarefa histórica a ser realizada. De imediato, como não temos esta Central Unitária, necessitamos de um espaço que permita unificar de forma consequente todas essas lutas. Para nós da LSR, isto é possível através da realização de um Encontro Nacional dos Movimentos Sociais em Luta. Este Encontro teria condições de aprovar uma pauta comum e um calendário de luta unificado para o próximo período. Dentro deste calendário, entendemos que, em virtude do crescimento acelerado das lutas, é possível e necessário criar as condições para a construção pela base de uma Greve Geral de 24 horas no país, que teria o potencial de combater a criminalização dos movimentos sociais, fazer com que parte da demanda dos trabalhadores seja atendida e colocar em cheque a política neoliberal defendida e aplicada por todos os governos.
4 • sindical
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
A educação do Rio de Janeiro parou A greve unificada das redes estadual e municipal de educação do Rio de Janeiro começou no último dia 12 de maio e cada vez mais profissionais da educação se somam à luta porque a realidade educacional é alarmante. Ricardo Barros diretor do SEPE Central, Luta Educadora Daniele Pinheiro e Marilia Trajtenberg professoras, militantes do SEPE e Luta Educadora Os investimentos em educação do município e do estado do Rio de Janeiro cresceram, sem melhora da situação das redes públicas. Mais de 150 escolas já foram fechadas, funcionários terceirizados, cozinhas e salas de aula têm condições físicas precárias, professoras se desdobram entre duas ou mais escolas com turmas de mais de quarenta alunos e perdemos horas com deslocamento em transportes caros e lotados. Isso sem falar no esvaziamento pedagógico da escola, com o saber docente substituído por apostilas e testes prontos, impostos pelas secretarias de educação. Nem ao menos os direitos já conquistados por nós, garantidos em lei, são respeitados, como o 1⁄3 de carga horária extraclasse e climatização das escolas. Então para onde vai esse dinheiro? Para contratar serviços do Unibanco, Oi, Fundação Roberto Marinho, Itaú Social, Gerdau, Instituto Ayrton Senna e outros. Esses mesmos bancos e empresas são responsáveis pelo desmonte da educação pública em todo país. Unidos no “Movimento Todos Pela Educação” eles são os formuladores do Plano
A tarefa dos educadores: combater a política educacional dos governos municipal e estadual na rua conjuntamente. Nacional de Educação privatizante greve eleitos em assembleias fará o movimento seguir o termômetro da que está sendo aprovado esse ano! A greve unificada das redes esta- mobilização de dentro das escolas. A greve unificada organizada por dual e municipal de educação demonstrou o seu potencial ao fazer cada profissional da educação é a o Ministro Fux do STF convocar ferramenta capaz de conquistar o imediatamente o sindicato dos pro- Plano de carreira unificado, reajusfissionais da educação, SEPE-RJ, e te linear de 20% com paridade para governos para uma audiência com os aposentados, fim da terceirizaobjetivo de parar nossa mobiliza- ção, cumprimento de 1/3 de carga ção. Acertadamente, não partici- horária extraclasse imediatamente, pamos de tal reunião, pois enten- 30 horas para os funcionários admidemos que esse espaço é inócuo e, nistrativos, eleição direta para dinão resolveu nossos problemas an- retores, uma matrícula uma escola, equiparação salarial entre protes, não será agora que resolverá. fessores de todos os níveis da educação básica e reconhecimento do Ataque judiciário cargo de Cozinheira (o) Escolar. A decisão do ministro conciliaNossa luta está em sintonia com dor de autorizar o “Estado a apli- enfrentamentos travados por educar as sanções administrativas ca- cadores de outros municípios cobíveis, tais como: código 30 (falta) mo Caxias, Nilópolis, Niterói, São e desconto salarial dos dias parali- Gonçalo e Itaboraí, e de outros essados” evidencia que o poder judi- tados. Em todos esses lugares o que ciário não será um aliado. se quer é o mesmo: derrotar o moA tarefa fundamental dos educa- delo que privilegia transferências dores do Rio de Janeiro está colo- de dinheiro público para o setor pricada: combater a política educacio- vado e garantir dignidade a quem nal dos governos municipal e esta- educa e aos estudantes. É preciso dual na rua conjuntamente. Somen- que tenhamos a perspectiva de arte a organização de comandos de ticular a luta nacionalmente.
Haddad enfrenta forte greve de professores Os profissionais em educação do município de São Paulo estão em greve há mais de um mês e o prefeito Fernando Haddad (PT) se recusa a negociar com a categoria. A intransigência do governo está deixando milhares de jovens e crianças sem aula, o que ameaça o cumprimento do ano letivo. Dimitri Silveira Conselheiro regional do Sinpeem e membro dos Educadores Socialistas na Luta Após vários ataques aos direitos dos trabalhadores desde seu primeiro ano de governo, entre eles a quebra da paridade e isonomia entre ativos e aposentados, a proposta de aumento de piso (15,38%) na forma de abono complementar de salário apresentada
por Haddad foi rechaçada pelos profissionais do ensino. Essa proposta não garante valorização salarial real e, além disso, só atende 16 mil profissionais, num universo de 94 mil, entre ativos e aposentados. Os grevistas exigem incorporação imediata dos 15,38% ao salário, melhores condições de trabalho para todos os profissionais, manutenção da paridade entre aposentados e ativos e cumprimento do acordo da greve de 2013, entre outros itens. Haddad, porém, insiste apenas com o abono.
Grandes atos paralizam o centro de São Paulo Diante da intransigência do prefeito, os profissionais do ensino decidiram realizar passeatas pelas principais vias da cidade, como as avenidas 23 de Maio e Paulista. Es-
tas manifestações contaram com apoio da população nas ruas, deram visibilidade à greve e ganharam repercussão nos principais meios de comunicação. Os profissionais da educação estão demonstrando uma exemplar disposição de luta. As passeatas contam com 15 mil pessoas e, mesmo com o corte de salário em várias escolas, os grevistas seguem firmes desde o dia 23 de abril. Contudo, a greve chegou num impasse e o governo não dá sinal de que vá negociar. Para quebrar a intransigência do governo, é necessário construir a unidade com outros setores que estão dispostos a lutar, como é o caso do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), condutores e cobradores de ônibus, etc. além das outras categorias do funcionalismo municipal.
Abaixo a criminalização da luta popular em Goiás O governo de Marconi Perillo (PSDB) tem na violência estatal a principal resposta às reivindicações populares. Foi assim em 2005, com a brutal desocupação do Parque Oeste Industrial, que resultou no aprisionamento de diversos militantes sociais, na morte de dois trabalhadores e no desalojamento de 3,5 mil famílias, e continua sendo com as manifestações que se difundiram desde 2013. Gabriel Silveira Mendonça estudante de psicologia UFG Em Goiânia, a ascensão das lutas decorreu, principalmente, por meio das manifestações do transporte puxadas pela Frente de Lutas pelo Transporte e pela solidariedade da população contra a brutal repressão policial que ocorreu entre abril e maio de 2013. Se, por um lado, as lutas de 2013 barraram o aumento das passagens e conquistaram o passe-livre para setores da juventude, por outro houve uma piora significativa nos serviços de transporte. Para complicar, em 2014 as empresas retiraram benefícios de usuários e aumentaram o preço da passagem. Essa situação gerou enorme insatisfação e fez com que a população indignada realizasse paralisações e protestos espontâneos em diversos terminais de Goiânia. Tratam-se de manifestações que refletem a indignação da população frente os abusos da máfia do transporte que, há anos, comanda o direito de ir e vir de milhares de jovens e trabalhadores.
Precariedade do serviço de transporte As empresas que há anos controlam o transporte coletivo da região ignoram a precariedade do serviço e descumprem as normas previstas em contrato, enquanto os governos estadual (PSDB) e municipal (PT) apenas garantem o sucesso e o lucro daqueles que patrocinam suas campanhas. Estas empresas também mantém condições de trabalho absolutamente destrutivas para os motoristas de ônibus, que enfrentam longas jornadas, baixos salários e, muitas vezes, são alvo da indignação dos moradores. Por isso, no mês de maio, os trabalhadores do transporte coletivo de Goiânia também entraram na luta. Atropelando um sindicato pelego, motoristas pararam a região metropolitana de Goiânia, realizando o fechamento total ou parcial de terminais e garagens. Os
trabalhadores negociam melhores condições de trabalho e recomposição salarial e, por isso, começaram a ser perseguidos pela justiça e pela mídia, com multas dirigidas ao Sindicoletivo, alternativa construída ao peleguismo, além de diversas tentativas de deslegitimar e criminalizar o movimento. Em muitos atos, manifestantes foram agredidos, presos e reprimidos. Além de não termos um transporte digno e nosso acesso à cidade garantido, somos atacados no nosso direito de protestar.
“Operação 2,80” No fim de maio, as forças da repressão deram um passo adiante. Na madrugada do dia 23 de maio, como parte da chamada “Operação 2,80” da Delegacia Estadual de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (DRACO), foi decretada a absurda prisão preventiva de quatro jovens. São militantes que, por participarem de lutas legítimas contra os lucros dos empresários do transporte, foram presos de forma arbitrária e ilegal. A Operação 2,80 também mostra a forte articulação entre os poderes estatais e as empresas tentando calar trabalhadores e jovens. A partir dessas ações do Estado, foi constituído o Movimento Contra a Criminalização da Luta Popular em Goiás, contra os abusos do poder público sobre as lutas populares e pela libertação dos presos políticos de Goiânia. O avanço da repressão mostra que a luta popular em Goiânia, para avançar, precisa aprofundar sua organicidade, pela formação de uma Frente Social e Política que inclua movimentos sociais, sindicatos, entidades de luta e todos que buscam combater as profundas injustiças do estado de Goiás.
●● Pela libertação imediata dos presos políticos!
●● Contra a criminalização dos Movimentos Sociais e das lutas populares! ●● Abaixo o monopólio do transporte coletivo!
●● Tarifa zero! Estatização do transporte coletivo, sob controle democrático de trabalhadores e usuários! Transporte de qualidade para toda a população! ●● Pela desmilitarização da Polícia!
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
nacional/juventude • 5
Rio Grande do Norte: um estado desgovernado A governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM) parece viver em outro mundo: age como se não fosse responsável pelo caos hoje instalado no Rio Grande do Norte.
RN: estado de greve As greves são mais intensas na capital Natal, mas atingem, mesmo que em menor grau, as regionais. Afinal, a maioria dos sindicatos possui representatividades estaduais, a exemplo dos técnicos administrativos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que seguem firme na greve há quase dois meses. Os servidores municipais de Natal das diferentes categorias, entre transporte, saúde, educação e segurança, entraram em greve no inicio de abril. Após 38 dias de greve, o prefeito apresentou uma proposta de reajuste de 5,68%, que foi aceita por uma das categorias e rejeitada pelas demais. A intransigência do prefeito Carlos Eduardo (PDT) é tamanha que, mesmo com a legalidade da paralisação ter sido garantida pelo desembargador, ameaçou cortar o ponto dos grevistas. O Sindicato dos Servidores da Administração Indireta (Sinai) também encontrou na greve a saída para o impasse nas negociações com o gover-
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) enfrenta uma crise orçamentária sem precedentes. O seu orçamento total teve um corte da ordem de 18% em relação ao ano de 2013. No Campus Baixada Santista (BS), o corte chegou a 38%! Dessa forma, se nada for feito, o Campus BS só conseguirá manter suas atividades até agosto. Mauricio de Oliveira Filho estudante da UNIFESP Baixada Santista e militante do Coletivo Construção
Marcela Marques Presidente do Diretório Municipal do PSOL-Natal. A população sofre com a seca, com o alto índice de violência e da criminalidade, os serviços públicos estão totalmente sucateados, a exemplo do caos da saúde, educação e segurança pública. Mesmo diante deste cenário, a governadora anuncia aos quatro ventos a intenção de se candidatar à reeleição. Mas é importante ressaltar que a resposta dos trabalhadores ao descaso da governadora tem sido a luta. Diversas categorias, em especial do setor público, fizeram ou estão em greve. Diante da ineficiência administrativa da governadora está tramitando na Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final da Assembleia Legislativa um pedido de impeachment protocolado pelo Movimento Articulado de Combate à Corrupção (MARCCO). Vale lembrar que este é o segundo pedido de impeachment contra a governadora Rosalba, sendo o anterior assinado pelos vereadores de Natal eleitos pela Frente Ampla de Esquerda, Amanda Gurgel (PSTU), Sandro Pimentel (PSOL) e Marcos Antônio (PSOL), além do professor Robério Paulino da UFRN e outros representantes de movimentos sociais.
Crise orçamentária na Unifesp
Robério Paulino, professor da UFRN e pré-candidato ao governo do Rio Grande do Norte pelo PSOL, no ato do 1° de Maio. no. Sem reajuste há cinco anos, os gramados para enfeitar a cidade. Enfuncionários da Fundação Estadual quanto a população carece de serda Criança e do Adolescente e do Ins- viços públicos básicos, gastam mitituto de Previdência do Rio Grande lhões com decorações da Copa. do Norte anunciaram greve por temEntregaram os recursos públicos po indeterminado. e, agora, querem entregar o nosso Outras categorias também anun- direito de ir e vir pela cidade: o preciaram a possibilidade de greve se feito enviou para a câmara dos veas negociações com a governadora readores o projeto de lei 205/2013. não avançarem. É o caso dos poli- Este PL concede poderes à FIFA paciais e bombeiros militares do RN, ra interditar diversas avenidas, conassim como o Sindicato dos Médicos trolar o espaço aéreo e também esdo Rio Grande do Norte (SINE-RN). paços públicos como UFRN. Além de suspender diversas leis municipais de publicidade, este PL O RN nas mãos da FIFA suspende também o direito dos estuO sucateamento dos serviços pú- dantes e idosos de pagar meia entrablicos sempre esteve presente neste da durante os jogos da Copa, restrinestado, mandado e desmandado pe- ge a venda de alimentos aos organilas oligarquias das famílias Rosado, zadores do evento e limita o acesso Alves, Maia e Faria. Mas, no últi- do povo em algumas áreas mo ano, este sucateamento se intensificou e a quantidade de categorias Não podemos em greve expressa esta realidade. aceitar calados! Não tenhamos dúvidas: esta situação está diretamente ligada aos Mais do que nunca, a população gastos com as obras da Copa. As- do Rio Grande do Norte tem condisim como nos demais estados, a go- ção de virar esse cenário ao seu favernadora Rosalba (DEM), em par- vor. As lutas que crescem e se forceria com o prefeito Carlos Eduar- talecem desde junho do ano passado (PDT), inverteu as prioridades e do precisam continuar nas ruas de gastou milhões dos cofres públicos forma unificada. Também se torna em obras da Copa que só beneficia- necessário construir uma alternatiram empresários. Os dois seguiram va dos trabalhadores e da juventufielmente a velha política de pão e de para as eleições. Não podemos seguir indignados, circo: enquanto hospitais, maternidades, unidades de saúde e escolas mas votando nas mesmas famílias são fechadas por falta de reformas, que mandam há décadas no nosso a governadora desvia dinheiro da estado. É por isso que nós do PSOL construção de hospital para cons- apresentamos Robério Paulino, professor da UFRN, como pré-candidatruir estádio de futebol. Enquanto a população sofre nas to ao governo e insistimos no chaparadas com a falta de ônibus, ae- mado por uma Frente de Esquerda roportos gigantescos e viadutos são com o PSTU, PCB e todos e todas construídos. Enquanto a população que estão em luta! Mudar é necese o gado morrem de sede, plantam sário e nunca foi tão possível!
E estamos falando em manter as atividades da forma precária como é hoje: sem moradia, sem complexo poliesportivo para cursos de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, sem creche universitária etc. Não é de hoje que o movimento estudantil combativo vem denunciando e lutando contra o modelo de expansão universitária implementado com o advento do REUNI – programa do governo federal que, se por um lado expandiu as vagas nas universidades federais, não aumentou os investimentos na mesma proporção, criando campi e universidades inteiras precarizadas, sem estrutura mínima e sem condições de permanência estudantil. Na mesma medida em que as universidades federais têm cortes de verba, para a Copa do Mundo são gastos 26 bilhões de reais, pa-
ra o agronegócio o governo vai dar de presente R$ 156,1 bilhões e para pagamentos da dívida e seus juros a banqueiros, 1 trilhão de reais! Para se ter uma ideia do que isso representa, se hoje fosse atendida a reivindicação histórica de “10% do PIB para a educação pública, já!” isso significaria um incremento de “apenas” 140 bilhões de reais. Mas é preciso entender que isso não se resume aos governos do PT. Na verdade, esse modelo precarizado de financiamento da educação pública tem seu início nos anos 1990 e passa a ser implementado, efetivamente, durante os governos FHC, seguindo o modelo impulsionado pelo Banco Mundial.
Construir uma luta unitária! Por todo o país, trabalhadores da educação se mobilizam contra este cenário de precarização e sucateamento da educação pública. O caminho a seguir é unificar as lutas pela educação, contra os interesses do capital privado e por 10% do PIB para a educação pública já! O Coletivo Construção defende a convocação de uma assembleia intercampi para organizar os próximos passos na luta. É necessário unificar a luta contra os cortes com outras universidades federais e estaduais – estudantes, técnicos administrativos e professores juntos!
Greve nas universidades estaduais de São Paulo Passados 4 meses da nova gestão da reitoria da Universidade de São Paulo, os estudantes, funcionários e docentes já podem ter uma ideia de como será o próximo período: cortes e retirada de direitos. Mas as diversas categorias das universidades já se posicionaram contra essa política e entraram em uma greve conjunta desde o dia 27 de maio! Carla Queiroz estudante de Psicologia na USP Diante da crise financeira, a resposta do novo reitor foi corte de investimentos na graduação e pós-graduação, suspensão de novas contratações e, mais recentemente, o anúncio de que os funcionários e docentes da universidade terão reajuste de 0% nos seus salários. A UNESP e UNICAMP também cortaram investimentos e congelaram salários. O modelo antidemocrático de gestão das universidades, onde um pequeno número de professores toma decisões sem precisar nem ao menos consultar o restante da co-
munidade, serve aos interesses privados de uma minoria. Como os direitos de trabalhadores e estudantes não são tratados como prioridade, quando reivindicamos salários, bolsas e condições de permanência, a resposta das reitorias e do governo do PSDB, em vez de cortar as vantagens dadas às corporações, é a implantação de mensalidades e a busca de investimento privado.
Resposta unitária O movimento estudantil e o movimento dos trabalhadores dessas universidades devem estar juntos, lutando por mais investimento na educação em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Essa crise não foi feita por nós, e é a hora de trazer a público essas contradições e dar uma resposta unitária às reitorias e governos. As categorias das estaduais paulistas já começaram a dar essa resposta, com greves e paralisações, reivindicando, além da correção dos salários, transparência nas contas das universidades e poder para decidir para onde vai o dinheiro.
6 • especial: Copa do Mundo
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
Futebol: um gr também parte O futebol, muito mais do que um esporte, é em boa parte e il Bras no ra lhado traba e da cultura da class passa por rte do mundo. Entretanto, há vários anos, o espo é uma hoje, ol, futeb O . um profundo processo de elitização Enios. esár empr os para ntes forma de gerar lucros giga ro paga nem mais egue cons não que o, quanto isso, o povã dio. está ingresso, tem que ficar do lado de fora do Cacá Melo No Brasil, esse processo tem suas origens nos anos 1970, com a introdução dos patrocínios nas camisas dos times. E qual é o problema de ter um patrocinador? Quando o time passa a depender do dinheiro de fora, ele perde sua autonomia e fica a mercê dos interesses daquela empresa. Já na década de 1990, começou o processo de transformação dos times em “clube-empresa”. Assim, o time deixa de ser uma associação e passa a ser uma corporação, uma empresa. E, no fim das contas, o objetivo de uma empresa é apenas gerar lucro a qualquer custo. Com o anúncio da realização da Copa de 2014 no Brasil, uma das exigências da FIFA foi que os estádios seguissem um “padrão internacional”. O que isso significa? Que os nossos estádios seriam transformados nas tais “arenas”. A promessa era que as “arenas da Copa” trariam mais conforto ao torcedor. Na prática, quem frequenta os doze estádios das cidades-sede do mundial deve seguir um série de regras para torcer.
Pelas regras da FIFA, por exemplo, é proibido levar bandeiras ou instrumentos musicais aos estádios. Os torcedores também são impedidos de assistir ao jogo de pé, devendo ficar sentados o tempo todo – e quem desobedece tem que se entender com a polícia ou com os seguranças da arena. Essas normas são um ataque ao jeito brasileiro de torcer! Afinal, é normal o torcedor querer ficar em pé no estádio, cantar e gritar, levantar bandeira, estender faixa na arquibancada e participar da festa das torcidas. Essa sempre foi a essência do futebol brasileiro. Nos novos “estádios padrão FIFA”, o torcedor é obrigado a ficar sentadinho, sem liberdade pra vibrar do jeito que bem entender.
Hoje em dia, é preciso ser rico pra entrar no estádio! A ideia principal da FIFA, dos clubes e dos administradores dos estádios é, justamente, afastar o tor-
R$ 100,00
Valor do ingresso do Fla-Flu 1994-2014
R$ 30,00 R$ R$ 30,00 30,00 R$ R$ 20,00 20,00 R$ R$ 8,25 10,00
1994
1995
2008
2009
2010
2012
2013
2014
cedor tradicional e atrair um público “diferenciado”. Um público que não quer se misturar com a “gentalha” que sempre frequentou as arquibancadas. E, mais que tudo, um público que esteja disposto a gastar, gastar e gastar. A começar pelo preço dos ingressos: nos últimos dez anos, o valor médio das entradas subiu 300%. O torcedor pobre é quem mais sofre com a alta do preço dos ingressos dos estádios. O mais famoso clássico do nosso futebol, entre Flamengo e Fluminense, teve, desde 1995, um aumento de mais de 1000% no valor das entradas. Em 1994, o preço do ingresso mais barato para o Fla-Flu era de 3.000 cruzeiros – o equivalente a uns R$8,25. Os preços se mantiveram mais ou menos estáveis até 2013, quando uma partida disputada no Estádio Engenhão custou a partir de R$40. Já em 2014, no dia 8 de fevereiro, o ingresso mais barato para o clássico disputado no “novo Maracanã”, reformado para a Copa do Mundo, custou absurdos R$100! A inflação acumulada no Brasil entre 1995 e 2013 foi de pouco mais de 333%. O aumento do valor do ingresso é, portanto, mais de três vezes a inflação acumulada. Se essa tendência se mantiver, como é que o torcedor comum vai conseguir prestigiar seu time? Afinal, quem é que consegue arcar com ingressos a 100 reais no Maracanã? Com isso, o público dos estádios mudou. Antigamente, com a geral e as arquibancadas, era possível reconhecer os “geraldinos” e aqueles torcedores-símbolo, que acompanhavam todos os jogos que podiam. Infelizmente, com a alta do preço das entradas, esse tipo de fã tem sumido. Em entrevista ao portal Copa Pública, o carioca Reinaldo Reis, flamenguista de 39 anos, resumiu bem essa situação: “Tô sentindo isso na pele. Tenho um filho de 14 anos, flamenguista também, e ainda não consegui levar ele no Maracanã devido a essa sem-vergonhice que eles fizeram. (…) O ingresso mais barato a 40 reais já não era tão acessível. Mas agora, com esse absurdo que tá o preço dos jogos, não tem como. Qual trabalhador tem esse dinheiro sobrando pra gastar em ingresso?” A verdade é que, para os cartolas, é melhor ter gente rica nos estádios, pagando ingressos super caros, do que torcedor de verdade. Esse elitismo fica bem evidente quando vemos a declaração de Amir Somoggi, consultor de marketing esportivo, ao jornal Lance em agosto de 2013. Após uma decisão do São Paulo de oferecer ingressos popula-
As grandes obras da Copa geram bilhões d res a dois reais, ele disse: “Quando o preço cai muito, o nível do torcedor que vai ao estádio é muito pior. Inclusive, atrai um perfil de público que devemos abolir dos estádios”.
Copa do Mundo: bilhões de dólares de lucros para empresários Faltando alguns dias para o início da Copa do Mundo, o torneio já tem um vencedor: é a própria FIFA. A entidade estima que irá receber pelo menos 4 bilhões de dólares em patrocínios e direitos de transmissão dos jogos – isso dá mais ou menos 8 bilhões e 800 milhões de reais! Esses valores foram divulgados por ninguém menos que o secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke. Desse total, 3,1 bilhões serão pagos pelos patrocinadores – por exemplo: McDonald’s, Coca-Cola, Adidas, Itaú, entre outros. Esse valor é aproximadamente 10% mais alto que os números da Copa de 2010, na África do Sul. Naquela ocasião, a FIFA ganhou “apenas” 8,2 bilhões de reais. Mas os donos da casa não viram quase nada desse dinheiro todo. O governo sul-africano gastou mais de 7,7 bilhões de reais em estádios e outras obras de infraestrutura. Como compensação, recebeu cerca de 500 milhões de “apoio” da FIFA.
E essa história está se repetindo no Brasil: segundo um balanço divulgado pelo governo federal no dia 13 de maio, já foram gastos 25,6 bilhões de reais com a Copa, entre obras de estádios e infraestrutura. Deste valor, 83,6% saíram dos cofres públicos e apenas 4,2 milhões de reais vieram da iniciativa privada. Ou seja, o governo está ajudando a FIFA e os empresários a lucrar ainda mais! Outra artimanha que o governo utiliza para facilitar a vida dos empresários é a privatização dos estádios. O Maracanã, por exemplo, foi entregue em regime de concessão (que nada mais que é uma privatização disfarçada) a um grupo liderado por Eike Batista. Esse grupo irá pagar 5,5 milhões de reais ao ano para explorar o estádio até 2047. Outros estádios da Copa também foram privatizados, como o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte.
Futebol na TV: mais dinheiro envolvido A FIFA e os cartolas também ganham muito com a venda dos direitos de transmissão dos jogos na TV. Essa negociação envolve esquemas de bastidores, acordos entre os times e as emissoras e movimenta bilhões de dólares todos os anos. Para a Copa de 2014, a FIFA prevê que irá receber 5,7 bilhões de reais das
especial: Copa do Mundo • 7
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
rande negócio nhar pela televisão – isso se a Globo quiser exibir o jogo. Uma sociedade verdadeiramente socialista irá tratar o esporte da mesma maneira que trataria a saúde e a educação: como um serviço público essencial para o desenvolvimento do indivíduo e para o bem-estar da sociedade. O esporte deve ser parte integrante do processo de melhoria da qualidade de vida do povo. Os esportes competitivos devem ser um instrumento de integração da sociedade, não um espaço para que as pessoas e as torcidas se encarem como adversárias. Se os meios de produção e toda a riqueza estiverem nas mãos da classe trabalhadora, o esporte poderá se desenvolver melhor, com a construção de centros esportivos populares e gratuítos e professores de educação física em todas as escolas, para encontrar e treinar os novos talentos desde jovens. A remoção da lógica do mercado no esporte irá resultar em grandes resultados em todas as modalidades e na melhoria da qualidade de vida para toda a sociedade. Esse, sim, é o futuro do esporte.
Gareth Bale (GAL) – R$318 milhões
Cristiano Ronaldo (POR) – R$300 milhões
Zinedine Zidane (FRA) – R$174,5 milhões
Denílson (BRA) – R$80 milhões
Ronaldo (BRA) – R$72 milhões
Recordes mundiais de transferências de jogadores Roberto Baggio (ITA) – R$30 milhões
prejudiciais ao próprio futebol. Afinal, as emissoras decidem transmitir apenas as partidas que darão maior audiência e, consequentemente, mais dinheiro dos anunciantes. Ou seja, priorizam os times grandes e os campeonatos mais caros, prejudicando os clubes menores. A situação é particularmente grave no Norte e Nordeste, onde muitos dos campeonatos estaduais praticamente não têm cobertura da TV. Em estados como Acre, Amazonas, Maranhão ou Paraíba, a Rede Globo prefere exibir o Campeonato Carioca. No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, são transmitidos os jogos do Paulistão. Mesmo em estados com times de maior expressão, como Ceará, Bahia ou Pernambuco, muitos jogos dos campeonatos locais ficam de fora, para dar lugar às partidas do Rio ou de São Paulo. Por conta de sua influência junto aos clubes e à CBF, a Rede Globo também consegue influenciar até mesmo o horário de realização das partidas. Segundo muitos jogadores e torcedores, a prática da emissora de forçar o início dos jogos para depois da novela das nove (ou seja, os jogos começam a partir das 22 horas) é, além da alta do preço dos ingressos, um outro fator determinante para a queda do público nos estádios. Em entrevista ao jornal Lance, Alex, meio-campo do Coritiba, declarou que essa prática é desumana com os torcedores, especial-
Diego Maradona (ARG) – R$18,7 milhões
redes de TV de todo o mundo com esse negócio. Os valores pagos pelas emissoras variam de acordo com o potencial de audiência de cada campeonato. No Brasil, ESPN e Fox Sports dividem os campeonatos europeus, enquanto que a Rede Globo e o Sportv ficam com os campeonatos nacionais. Além disso, há as negociações entre os próprios canais. A Fox Sports, por exemplo, detém os direitos da Libertadores, mas repassa o torneio para a Globo. A própria Globo tem os direitos de vários campeonatos estaduais, incluindo os mais lucrativos, mas vende algumas partidas para a Bandeirantes. No caso do Campeonato Brasileiro, ocorre também uma negociação direta entre as emissoras e os grandes clubes. Corinthians e Flamengo, donos das maiores torcidas do país, recebem cerca de 110 milhões de reais da Rede Globo ao ano. Outros times também recebem grandes quantias, como o São Paulo (80 milhões) e o Vasco (70 milhões ao ano). A Globo também detém os direitos de transmissão no Brasil da Copa 2014 e não divulga quanto pagou – mas dá para ter uma ideia da cifra envolvida: a Rede Record chegou a oferecer 180 milhões de dólares à FIFA (quase 400 milhões de reais), mas a proposta da Globo foi ainda maior. Esses esquemas, entretanto, são
A lógica capitalista transformou não só o futebol, mas todos os esportes, em um grande negócio, um espetáculo para gerar bilhões de dólares para os bolsos de algumas poucas empresas. Para a realização desses espetáculos, milhares de pessoas pobres e trabalhadoras são removidas de suas casas para dar lugar a novos estádios - como aconteceu nas cidades-sede da Copa do Mundo no Brasil e como continuará ocorrendo no Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas de 2016. E esses estádios, com seus ingressos extremamente caros, servirão apenas para uma parcela muito pequena da sociedade. Ao povo, resta acompa-
Johan Cruyff (HOL) - R$3,5 milhões
ões de lucro para os empresários e a FIFA.
As negociações milionárias de atletas entre os times também geram lucros para empresários e cartolas. Na maior parte dos países, essas transferências envolvem a negociação do passe, ou seja, a compra e venda do contrato entre o jogador e o clube. O preço de um jogador é o valor da multa de rescisão (quebra) desse contrato. Dessa forma, para comprar um atleta de outro time, o clube interessado precisa pagar a multa. A primeira transferência da história do futebol foi a mudança do atacante escocês Willie Groves, do West Bromwich para o Aston Villa, ambos clubes ingleses, em 1893. A negociação custou apenas 100 libras, cerca de 375 reais na cotação atual. A medida que os empresários foram percebendo que o futebol era mais uma fonte de lucro, esses valores foram crescendo. O atual recorde é do meia Gareth Bale que, no ano passado, foi negociado do Tottenham para o Real Madrid por mais de 85 milhões de libras – mais ou menos 318 milhões de reais! A partir dos anos 1990, as transferências de jogadores brasileiros para o exterior se tornaram cada vez mais precoces. Hoje em dia, é comum que atletas de 16 anos deixem os campos brasileiros para atuarem na Europa ou na Ásia. Muitos seguem esse caminho imaginando que terão fama e fortuna – como Neymar, atacante do Barcelona e da seleção brasileira, que recebe mais de 35 milhões de reais por ano. Entretanto, enquanto “Neymares” e outros famosos têm grande exposição na TV e ganham salários de milhões de dólares por mês (e ainda tiram mais um por fora com contratos de publicidade), a grande maio-
O esporte na sociedade socialista
Bernabé Ferreyra (ARG) – R$85 mil
Fama e fortuna para poucos craques
ria dos jogadores de futebol no país ganha muito pouco. Dos mais de 30 mil atletas profissionais registrados na CBF, 82% recebem até dois salários mínimos por mês (1.448 reais). Esses jogadores estão espalhados nos milhares de clubes pequenos do país, nas divisões inferiores, nos estados do Norte e Nordeste, no interior ou nas periferias.
Willie Groves (ING) – R$375
mente com aqueles que dependem do transporte público: “O cara sai de casa ou do trabalho, precisa ir para o estádio dez horas da noite, assistir ao jogo, voltar para casa, e ainda precisa acordar sete horas da manhã no outro dia”. Em 2013, no embalo dos protestos de junho, Alex foi um dos organizadores do movimento Bom Senso FC, organizado por vários atletas dos principais times brasileiros. Entre outras pautas, o grupo protestou contra o calendário do futebol brasileiro para 2014 – acertado entre Clube dos 13, CBF e Rede Globo, sem qualquer consulta aos jogadores. Saiba mais no artigo “Junho deu uma lição de Bom Senso no futebol”, no site da LSR: www. lsr-cit.org/1097.
1893 1932 1973 1984 1990 1997 1998 2001 2009 2013
8 • Copa do Mundo
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
Mulheres e megaeventos
As propostas de “Lei Antiterrorista” servem para intensificar a criminalização dos movimento sociais.
O legado repressivo da Copa do Mundo Com a desculpa de trazer mais proteção aos turistas e às autoridades públicas de vários países que se hospedarão no Brasil em razão dos jogos da Copa do Mundo, está em curso uma série de implementações repressivas comandadas pelos três poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário) e impostas pela FIFA. Igor Marchetti Entre essas medidas, as que mais saltam aos nossos olhos são as chamadas “Lei Antiterrorista” (PLS 499/2013) e a “Lei Contra o Vandalismo” (PLS 508/2013), também chamada de “lei antiprotesto”. A PLS 508/2014 busca intensificar o processo de criminalização de condutas denominadas como “terroristas”, entre elas “promover o pânico generalizado mediante dano a bem ou serviço público”, com pena de 8 a 20 anos de prisão. O projeto também prevê pena de reclusão de 3 a 8 anos a quem der proteção ao suposto terrorista, ou ainda pena de 15 a 30 anos para quem financiar os supostos terroristas. Além disso, a progressão de regime (do fechado para semi-aberto) só poderá ser realizada após cumprimento de 4/5 da pena, percentual sem precedentes no sistema político brasileiro. Na prática, isso será usado como política de encarceramento da população da periferia.
Manifestação vira terrorismo Várias organizações ligadas aos direitos humanos, tais como Anistia Internacional, Conectas, IDDH e Justiça Global, têm criticado es-
se projeto em razão de ser muito abrangente. Por exemplo, manifestações que venham a interromper serviços públicos ou fechar avenidas poderão ser enquadradas como terrorismo. Aliás, em vários países em que a lei antiterrorista foi implementada, ocorreu o aumento da repressão às organizações de trabalhadores e aumento da xenofobia. Essa lei pode ser aplicada inclusive contra greves, ou seja, quando os trabalhadores lutam por melhores condições de trabalho, sob pretexto de conter práticas terroristas. O aumento da repressão em razão da Copa do Mundo e das Olimpíadas também é facilmente verificável nos eventos anteriores, como na África do Sul, onde verdadeiros tribunais de exceção foram criados sob ordens da FIFA.
Querem calar os protestos Não há dúvidas de que quem sofrerá com a lei antiterrorista e outras medidas repressivas, como os tribunais improvisados durante o evento, são os trabalhadores. Também não há dúvidas de que, na verdade, o governo Dilma, os senadores e os deputados desejam calar a voz daqueles que, no ano passado, se levantaram contra o aumento das tarifas de ônibus e obtiveram vitórias, pressionando os governos a recuarem em suas medidas de ataque ao povo. Agora, a classe dominante, representada pelos seus governos e o próprio Poder Judiciário, busca intensificar o processo de criminalização dos movimentos sociais, pois sabem no fundo que, se os trabalhadores se organizam, podem arrancar vitórias concretas e pautar suas reivindicações pressionando o
Poder Público, a exemplo das greves dos garis, rodoviários, professores, etc. O governo Dilma, visando às eleições e buscando evitar um desgaste ainda maior após a intensa campanha nacional e internacional contra essas leis de exceção, tem dado sinais de recuo quanto à aprovação de tais leis. No entanto, sabemos que os aliados do governo e a direita tradicional têm interesses de sobra em manter o projeto em tramitação. Nossa luta não cessará até que esses projetos sejam rejeitados ou arquivados para os “escaninhos do esquecimento”.
Não à lei antiterrorista! Assim, dizer não à lei antiterrorista é ser a favor da luta dos trabalhadores, no sentido de garantir os direitos básicos de reunião e associação para enfrentar a FIFA, os governos e os patrões. Devemos dizer em alto e bom som que não vamos tolerar a retirada de garantias democráticas, nem que eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas sirvam de pretexto para reprimir os trabalhadores que se manifestam contra os eventos. Devemos nos manifestar contra o verdadeiro terrorismo que é cometido pelas empresas e governos ao criarem um sistema caótico com a falta de saúde, educação, moradia, transporte. Devemos dizer que terrorista é quem tira direitos dos trabalhadores, arrochando salários, evitando a organização da classe para conquista de melhores condições de vida. Mas é óbvio que esses não serão enquadrados em nenhuma lei antiterrorista. Por isso, reafirmamos um NÃO! para todas essas leis e medidas repressivas oportunistas.
A cidade do Rio de Janeiro tem sido palco de grandes intervenções para receber a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Essas mudanças causam impacto direto na vida das mulheres trabalhadoras, especialmente no campo do trabalho informal, que representa 60% das mulheres brasileiras. Segundo pesquisa realizada pela Casa da Mulher Trabalhadora, as ambulantes do Rio terão extrema dificuldade para trabalhar durante o período da Copa do Mundo, devido ao “choque de ordem” da prefeitura e às restrições impostas pela FIFA.
Copa) no 1o. Encontro de Atingidos pela Copa, que ocorreu em Belo Horizonte no mês de maio. Por pouco mais de um salário mínimo, as costureiras estão produzindo de 400 a 800 dessas peças por dia, em turnos de 12 a 14 horas, sem garantia de direitos sociais ou trabalhistas. Nas doze cidades-sede da Copa, estima-se que cerca de 200 mil pessoas foram removidas de suas casas por conta de obras como estádios e avenidas. Só no Rio de Janeiro já são mais de 30 mil pessoas retiradas de suas moradias ou sob ameaça de remoção – e as mulheres são as mais afetadas.
Natália Oliveira PSOL Rio de Janeiro – Frente de Mulheres e Movimentos Sociais
Outro impacto é o aumento do turismo sexual. O Brasil possui um dos maiores níveis de exploração sexual infanto-juvenil do mundo. De acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, estima-se que existam 500 mil crianças e adolescentes na indústria do sexo no Brasil. Este índice tende a crescer ainda mais com a Copa de 2014. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o mercado da prostituição deve crescer em 60% durante o torneio. Mesmo antes da Copa, já há denúncias do aumento de exploração sexual, incluindo crianças e adolescentes, nos arredores dos estádios. Nas cidades de Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Manaus, já conhecidas internacionalmente como rota de tráfico de mulheres e locais de maior incidência da exploração sexual, a situação é especialmente crítica. Essas questões têm se configurado como desafio à organização do movimento de mulheres para construir uma agenda de lutas que enfrente esta realidade. No Rio, o Fórum Estadual de Combate à Violência Contra à Mulher tem promovido panfletagens, debates, atividades de rua e atos a fim de dar visibilidade da luta das mulheres neste contexto de conflitos urbanos em evidência.
A Lei Geral da Copa, aprovada em 2012, impõe que um perímetro de dois quilômetros ao redor dos eventos oficiais da Copa do Mundo é “Território da FIFA”. Esses espaços são reservados exclusivamente para as grandes redes e marcas patrocinadoras do megaevento. Para trabalhar no “Território da FIFA”, só com autorização. Sendo assim, as maiores preocupações das ambulantes que não possuem licença para trabalhar é a garantia de sua sobrevivência e de suas famílias, tendo em vista que, com a Copa, irão aumentar tanto a repressão do “choque de ordem” quanto a violência e a extorsão da polícia.
Quem faz a bandeira? Há também graves denúncias de exploração de força de trabalho feminina e infantil nas confecções onde são feitas bandeiras, camisetas e outros adereços em verde e amarelo. Este trabalho tem sido feito sob longas e intensas jornadas de trabalho, conforme afirmou a ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares da
Turismo sexual
Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o mercado da prostituição deve crescer em 60% durante o torneio.
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
movimento • 9
Terra Livre faz cinco anos de luta popular por moradia, terra e direitos! O Terra Livre – Movimento Popular do Campo e da Cidade faz cinco anos no primeiro semestre de 2014. Foram muitas lutas, resistência e vitórias do povo pobre! Nestes cinco anos, crescemos e nos consolidamos como importante movimento popular nacional, enquanto vários outros preferiram abaixar a cabeça e ser meros assessores dos governos federal e municipais.
Marcio Silva Coordenação do Terra Livre Igor Marchetti Terra Livre SP No fim de 2008, militantes do movimento popular do campo e da cidade de quatro estados se uniram e realizaram um seminário em Belo Horizonte para discutir uma nova organização para ser a bandeira de suas lutas. Em 2009, nascia o Terra Livre – Movimento Popular do Campo e da Cidade, fruto de lutas pela reforma agrária, moradia, das lutas em sindicatos e outras formas de resistência popular. Sabíamos que seria muito difícil encarar esta tarefa em uma conjuntura desfavorável, sem estrutura e após tantas decepções em organizações que trocaram a luta de base popular pelo oportunismo. Os pontos políticos fundacionais do Terra Livre são a unidade dos trabalhadores de categorias e formas de organizações diversas, do campo e da cidade, a oposição clara ao governo antipopular de Lula, a democracia de base e autonomia na organização interna do movimento e a defesa do socialismo.
Enfrentando enchente criminosa Nestes cinco anos, enfrentamos o capital e seus governos com organização e persistência, muitas vezes resistindo nas piores situações. Exemplo foi a enchente do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, na virada do ano 2009 para 2010. Ela foi causada pelos governos Serra e Kassab, que fecharam a barragem da Penha, com o objetivo de despejar dezenas de milhares de famílias da região para a construção do Parque Linear do Tietê. Despejaram centenas sem aviso e sem direitos, com polícia e tratores. O Terra Livre e o MULP (Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal) ajudaram a organizar a resistência no meio do desespero e da repressão, unindo os bairros, denunciando, impedindo derrubada de casas, formando
O Terra Livre nasce fruto de lutas pela reforma agrária, moradia, das lutas em sindicatos e outras formas de resistência popular. a frente de movimentos, fechando João Lyra, o parlamentar mais ri- des e da especulação imobiliária. Como o governo escolheu fortaavenidas e ocupando áreas para re- co do Brasil, entre outros. fugiar as famílias. Um grande ato Apesar da grande luta do agricul- lecer o capital, perderam as quase na frente da Prefeitura conquistou tor sem-terra brasileiro, a reforma dez milhões de famílias que ainda a abertura da barragem, secando agrária tem perdido força, já que vivem em favelas, áreas de risco, os bairros rapidamente após dois o governo Dilma fez uma escolha de favor ou pagando aluguéis cameses de inundação, além do de- clara e quase paralisou a desapro- ros. O resultado é que o déficit hacreto de apartamentos e áreas para priação de terras. Enquanto isso, bitacional não diminuiu, mesmo a construção de casas. Se não fos- fortaleceu o agronegócio e o lati- após cinco anos de programa. se a resistência organizada do po- fúndio, dando incentivos financeiLutamos por moradia em Servo do Pantanal, muitas mais famí- ros astronômicos – média de 18 bi- gipe, com as ocupações da granlias seriam expulsas! lhões de reais por ano do BNDES de Aracaju e a linda resistência a Após a enchente, cem famílias e mais tantos outros bilhões de dí- uma reintegração de posse das 300 organizadas pelo Terra Livre ocu- vidas que não pagam – e isentan- famílias da ocupação Novo Amaparam um dos terrenos que a Pre- do-os de multas e impostos, assim nhecer, em 2013, retratada no filme feitura desapropriaria, a ocupação como os apoiando politicamente e “Paz com Direitos”. Conquistaram Alagados do Pantanal. A única res- juridicamente. o auxílio-aluguel e o compromisso posta da Prefeitura foi a omissão Enquanto isso, 1% dos proprie- de destinação de casas populares. e apoio ao despejo, após um mês. tários têm 44% das terras brasileiMas ficou marcada a revolta e ca- ras, quase um quarto da área do paTijolinho Vermelho pacidade de luta do povo do Pan- ís é de terras devolutas (sem dono) Em João Pessoa, Paraíba, lutatanal! e este quadro vai piorando com a violência e genocídios dos gran- mos em resistência a despejos e des fazendeiros e a vista grossa do ocupações urbanas, conquistando Contra o latifúndio cerca de cem moradias no Fundo governo. em Goiás de Habitação Social. Há um ano, Em Goiás, ocupamos terras do 200 famílias ocuparam um hotel Luta por moradia latifúndio e conquistamos a desaabandonado do centro da cidade propriação de fazendas para a reNa mesma direção, os governos forma agrária. do PT fizeram o Minha Casa Minha Estamos atuando no sudoeste Vida, anunciada como uma grande do Estado e já chegamos em Ma- obra social. Mas, apesar de se consto Grosso do Sul e no noroeste do truir pouco mais de um milhão de Estado, em diversas cidades, on- casas para as classes médias e pode se planta e produz nos acampa- pulares (só 40% para a baixa renmentos e assentamentos e se ofe- da), muito aquém da meta, a preferece comida barata, de qualidade rência foi em fortalecer o mercado e sem agrotóxico para as cidades. imobiliário e as construtoras, que Ocupamos o INCRA-GO mais morderam a maior parte do bolo do uma vez em abril deste ano e fo- programa. É um programa de crédimos a várias marchas e reuniões to barato para a construção de moem Brasília. Em Alagoas, estamos radias, baseado no sistema finanem acampamentos em latifúndios ceiro, deixando as casas populares improdutivos na Zona da Mata, co- em segundo plano, conforme as nemandados por Renan Calheiros e cessidades dos políticos das cida-
de propriedade da União, a ocupação Tijolinho Vermelho, já exemplo de luta popular na cidade, pelos protestos de rua e união com outros movimentos de trabalhadores. Estamos na Zona Oeste e Leste da grande São Paulo em comunidades de resistência a despejos, como o Raio de Luz, em Osasco, e a Vila Clara, em Cotia, onde conseguimos, no ano passado, com a ação direta dos moradores, o compromisso da construção de mais de 1,3 mil apartamentos populares. Na Baixada Fluminense, estamos no Centro Cultural Terra Livre e temos militantes em Minas Gerais. Em setembro de 2011, fizemos nosso primeiro congresso, onde reafirmamos a nossa disposição em continuar na luta popular e consolidamos organicamente o movimento, com regimento, estruturas e instâncias de decisão. No fim de 2014, será nosso segundo congresso, quando estaremos maiores e mais fortes para enfrentar nossos inimigos de classe.
Juntos na luta! O Terra Livre participou ativamente das jornadas de junho, quando milhões foram às ruas, e tivemos conquistas neste período. Estamos unidos aos movimentos, sindicatos e organizações dos trabalhadores que estão indo às ruas e construindo um levante organizado e generalizado da nossa classe. Aí sim, conseguiremos transformar a nossa sociedade e resolver os problemas cotidianos causados pela repressão e exploração do capitalismo. Participamos da Frente de Resistência Urbana, junto com o MTST, MUST, MPM, MLP, Círculo Palmarino, entre outros movimentos. A unidade das organizações populares e operárias combativas na atual conjuntura é urgente e necessária! Neste cinco anos, o Terra Livre se constitui como importante nome do movimento popular no Brasil e avança de mãos dadas a toda a classe trabalhadora, até a sua libertação!
10 • internacional
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
25 anos desde o massacre na Praça da Paz Celestial
O fantasma de 1989 ainda assombra o governo chinês No dia 4 de junho, completam-se vinte e cinco anos desde o massacre na Praça da Paz Celestial na capital da China. A data é um tabu na China e todo ano o governo manda prender ativistas temendo protestos que lembrem o massacre. Em Hong Kong, que ainda tem uma legislação especial, as comemorações em memória do movimento de 1989 têm mobilizado cerca de 200 mil participantes cada ano. Tirar as lições dos protestos de 1989 é fundamental para ajudar a reconstruir um movimento independente da maior população trabalhadora do mundo. Vicente Kolo e Marcus Kollbrunner Ativistas estudantis em Pequim haviam planejado protestos para coincidir com a visita do líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, no dia 15 de maio de 1989. Gorbachev era visto como alguém que estava promovendo uma “democratização” no Leste Europeu. Mas a morte de Hu Yaobang, ex-secretário geral do Partido “Comunista” Chinês, no dia 15 de abril de 1989, antecipou os planos. Hu Yaobang tinha sido deposto como líder do partido em 1987, acusado de ser indulgente perante os protestos a favor de democracia em dezembro de 1986, realizados por estudantes em Pequim e Xangai. Ele também defendia que o exército chinês deveria se retirar do Tibete, onde já existia um movimento pró-independência. A ala “linha dura” da burocracia temia que isso abriria espaço para mais protestos. Com isso, pressionaram o supremo líder, Deng Xiaoping, a sacrificar seu aliado Hu que, junto com ele, havia sido pioneiro em implementar as primeiras reformas pró-capitalistas em 1978. Hu foi sucedido por Zhao Ziyang, um mais entusiástico adepto das “reformas” pró-mercado.
Divisão no governo Mas a situação continuava instável. Em março de 1989, houveram os maiores protestos nas rua de Tibete em trinta anos. A inflação estava no nível mais alto desde a revolução de 1949 e o governo, com as medidas de austeridade, levou ao fechamento de um milhão de fábricas. No governo, havia uma divisão entre aqueles que defendiam a liberação dos preços e aqueles que queriam manter o sistema de dois preços: um regulado pelo estado e um do mercado. Esse sistema du-
plo abria oportunidade para especulação, o que enriquecia parte da burocracia. Zhao defendia a liberação dos preços. Isso acabaria com a especulação, mas aumentaria os preços das mercadorias, o que iria afetar os trabalhadores. O plano de preços livres foi implementado após o massacre, quando a ameaça de mais protestos foi afastada. Ironicamente, Zhao já estava em prisão domiciliar, onde permaneceria até sua morte em 2005.
Os protestos começam No dia 17 de abril de 1989, foi realizada uma primeira marcha com 700 estudantes e professores universitários, gritando “Viva Hu Yaobang! Viva a democracia! Abaixo a corrupção! Abaixo a autocracia!”. O movimento se espalhou para mais de 110 cidades ao redor do país, mas o centro do movimento foi a ocupação da Praça da Paz Celestial na capital Pequim. Cerca de 200 mil pessoas se reuniram no dia 22 de abril, dia do enterro de Hu Yaobang, desafiando o a proibição do governo. A praça permaneceu ocupada até o massacre. Foi declarada uma greve em vinte universidades e faculdades e a formação de uma “federação autônoma” para coordenar o movimento. No meio de maio, trabalhadores industriais começaram a construir um movimento sindical independente do Estado. A possibilidade de um crescimento explosivo do movimento sindical independente, como ocorreu na Polônia em 198081 com o “Solidariedade”, atemorizou os líderes do governo chinês.
Stalinismo em crise e surgimento da ala pró-capitalista Os governos stalinistas estavam em crise desde os anos 1970. O planejamento da economia e a estatização dos meios de produção possibilitou a rápida industrialização logo após a derrubada do capitalismo, mas a burocracia ditatorial sufocou a economia. Isso era inevitável sem a participação ativa e democrática da classe trabalhadora na gestão da economia e da sociedade – o fundamento do verdadeiro socialismo. O socialismo também não é possível em escala nacional, a esfera de poder das diferentes burocracias, mas sim com a vitória da revolução socialista internacionalmente. Em vários países no bloco stalinista, setores da burocracia começaram a ver a reintrodução do capitalismo como uma saída para salvar seus privilégios e poderes. E a chegada ao poder de Deng Xiaoping em 1978, depois da derrota
Um homem tentando barrar o caminho para tanques de guerra a caminho da Praça da Paz Celestial, no dia após o massacre. e prisão da “Gangue dos Quatro” maoísta, foi um ponto de inflexão na China. Ele começou a implementar elementos de economia de mercado, o que resultou no surgimento de uma ala conscientemente pró-capitalista nos anos 1980, liderada por Deng. Entre 1979 e 1983, a agricultura coletiva foi destruída, com a abolição das “comunas populares”. A educação e a saúde na zona rural foram sucateadas através disso, já que eram baseadas nas comunas. Foram lançadas as “Zonas Econômicas Especiais”, onde empresas privadas internacionais poderiam investir, com mão de obra barata e sem direito dos trabalhadores se organizarem. No setor estatal, o sistema de emprego vitalício, que também dava direito a moradia, saúde, educação e aposentadoria, foi abolido em 1986. Um setor capitalista privado começou a crescer rapidamente, ao mesmo tempo em que o controle político se manteve sob o controle do partido comunista e seus líderes se tornaram bilionários.
Banho de sangue Para conseguir retomar o controle, o governo teve que passar por um rio de sangue. Deng Xiaoping e outros dirigentes da linha dura mobilizaram 200 mil soldados para invadir a capital e esmagar o movimento. Isso é comparável com os 248 mil soldados que os EUA usaram para invadir o Iraque em 2003.
Na noite entre os dias 03 e 04 de junho de 1989, foram mortos pelo menos mil pessoas no Massacre da Praça da Paz Celestial, segundo a Anistia Internacional. Outras fontes dizem que foram sete mil mortos. Nas semanas seguintes, mais de 40 mil foram presos. Foram os trabalhadores que sofreram as piores consequências. Aqueles que organizaram ou tentaram articular greves foram executados ou condenados a prisão por muitos anos, sob acusação de serem “contrarrevolucionários”. A “Federação Autônoma de Trabalhadores de Pequim”, que chamou uma greve geral contra o ataque militar, foi acusada de planejar um insurreição armada e seus ativistas foram presos.
Caráter do movimento Segundo a versão oficial do governo, poucas pessoas morreram e Deng Xiaoping foi forçado a agir para evitar o “caos social” e assegurar a “prosperidade da China”. Alguns apoiadores do regime chinês dizem até hoje que o movimento de 1989 era pró-capitalista e “pró-Ocidente”. Como é comum em movimentos de massas, o movimento de 1989 era complexo e diversificado. Isso era inevitável, tendo em vista a ditadura de um partido único e a completa falta de organizações independentes da classe trabalhadora e dos setores oprimidos. Com certeza haviam setores
com ilusões na democracia burguesa ocidental. Outros acreditavam que Gorbachev poderia “renovar” o socialismo. Os protestos começaram por iniciativa de intelectuais e estudantes, dos quais muitos hoje defendem o neoliberalismo. A maioria da direção não queria derrubar o governo, mas impulsionar uma mudança na balança em prol da ala “pró-reformas” no governo. Com a entrada das massas no movimento, cresceu a oposição ao regime como um todo. Os denominadores comuns dos protestos eram as demandas democráticas e uma rejeição crescente do regime vigente, mas sem ter clareza sobre o que o poderia substituir. Havia, especialmente entre os trabalhadores, uma preocupação com as reformas de mercado, que ameaçavam seus direitos, além de uma vontade de defender a propriedade estatal, a maior conquista da revolução de 1949. Durante todo o movimento, até o momento do massacre, os manifestantes cantavam “a Internacional” nos protestos – desmentindo que se tratavam de elementos burgueses. O líder da Revolução Russa, Leon Trotsky, disse que uma revolução acontece quando as massas começam, elas mesmas, a formar os eventos e sentir que têm esse poder. Uma revolução política, que visava derrubar a burocracia e colocar a propriedade estatal sob o controle e gestão dos trabalhadores, estava ao alcance em 1989. Faltava um elemento vital para que o movimento pudesse ser vitorioso: que ele estivesse unificado por trás de uma ferramenta política, um partido, com um programa definido, estratégia e táticas para a luta.
Crise e protestos hoje O rápido crescimento da economia chinesa foi usado como justificativa para o massacre de 1989 e ajudou a manter a estabilidade do governo. Mas vemos que o modelo de crescimento está se esgotando e a economia desacelerando. Há uma quantidade enorme de protestos contra a crescentes desigualdades e injustiças. Em 2010, o último ano com dados oficiais, houve 180 mil “incidentes de massas” (protestos). Recentemente, houve uma greve envolvendo 50 mil operários em uma fábrica de sapatos. O regime está consciente dos riscos. Nos últimos anos, o orçamento policial superou os gastos do exército, mostrando que o governo teme revoltas populares. O ressurgimento de um movimento independente da maior classe trabalhadora no mundo vai ser um elemento chave na luta para abolir o sistema capitalista em escala mundial.
PSOL • 11
Ofensiva Socialista n°20 junho 2014
Que o eco das ruas se reflita nas urnas Ainda em defesa da Frente de Esquerda! O festival de greves e lutas que atingiu o país no mês de maio deixou claro que a classe trabalhadora voltou à cena com seus métodos de luta. O que garis, rodoviários, professores, metalúrgicos e sem-teto mais precisam hoje é a construção da unidade. Unidade pra avançar na luta, enfrentar a manipulação da mídia, a repressão estatal e impor uma derrota aos governos e patrões. Essa unidade precisa expressar-se no campo da luta sindical, popular e estudantil. Construir uma plataforma e um plano de ação comuns dos diferentes movimentos é essencial. Mas, a unidade precisa também refletir-se no terreno eleitoral. Liberdade, Socialismo e Revolução - LSR Reage Socialista (Niterói-RJ) Gomes Eduardo Paulo vereador do Mandato Mandato do vereador Renatinho (Niterói-RJ)
Para a esquerda socialista, as eleições gerais desse ano representam uma grande oportunidade para que as demandas específicas de cada setor sejam projetadas nacionalmente e articuladas entre si como parte de um projeto político global alternativo da classe trabalhadora e do povo, um projeto anticapitalista e socialista.
Não há justificativas para a divisão Diante dos trabalhadores em luta e do novo momento no país, não há justificativa forte o suficiente para que a esquerda socialista se apresente mais uma vez dividida no processo eleitoral. É inaceitável a prevalência de qualquer tipo de hegemonismo e sectarismo, a obsessão pela autoconstrução acima dos interesses da classe como um todo e também o pragmatismo nos cálculos eleitorais descolados de um projeto estratégico socialista. Esse alerta vale para todos os partidos que se colocam no campo da oposição de esquerda ao governo Dilma e aos governos estaduais. Tanto o PSOL, como o PSTU e o PCB tem uma responsabilidade histórica diante da qual não podem se omitir. Mas, é evidente que, como maior partido, a responsabilidade do PSOL é particularmente importante nesse processo. O PSOL nasceu para ajudar na reconstrução desse projeto político da classe trabalhadora. Com todas as suas limitações e contradições, o partido tornou-se desde sua fundação o prin-
cipal espaço para avançar no cumprimento dessa tarefa. Mas, não é o único e está longe de ser suficiente. Na verdade, o partido vive hoje uma crise política que só pode ser superada apostando-se na imensidão do novo que começou a surgir principalmente depois de junho de 2013. Repetir os velhos erros, as velhas práticas dos tempos de refluxo nas lutas sociais, só agravará a situação do partido, do conjunto da esquerda e dos movimentos em luta.
A disputa pelos rumos do PSOL O IV Congresso do PSOL representou um retrocesso para o partido. Os métodos antidemocráticos e até fraudulentos utilizados ajudaram a construir uma linha política que não se coloca à altura do momento que vivemos. O setor que saiu majoritário no Congresso (autodenominado Unidade Socialista) acabou por referendar as políticas inaceitáveis para um partido socialista adotadas em Macapá e Belém (alianças políticas com o Lulismo e até setores da direita) e deixaram espaço para que se repitam nessas eleições. A opção por uma política de oposição de esquerda light para ocupar o espaço que Marina Silva deixou vazio só serve para tornar o PSOL mais parecido com falsas alternativas como o PSB ou o PV. Junho impõe para o PSOL a construção de uma alternativa radical (pela raiz) em relação ao modelo e o sistema vigente. Mas, apesar dos rumos adotados pelo IV Congresso, a base militante e combativa que o PSOL conseguiu construir representou um contrapeso à linha da direção majoritária. Isso se refletiu também nas candidaturas construídas em vários estados. Nesse cenário, a mão pesada da burocracia partidária voltou a agir e ameaça colocar tudo a perder.
Um golpe em São Paulo
Vladimir Safatle
Depois de tentar, com ou sem sucesso, derrubar candidatos com posições mais à esquerda em vários
estados, o setor majoritário do partido provocou uma profunda crise em São Paulo com repercussões nacionais. Nesse estado, a pré-candidatura de Vladimir Safatle foi conscientemente minada pela Unidade Socialista (US). A votação sumária no Diretório Estadual de São Paulo de um nome alternativo em uma reunião sem a presença de parte substancial dos membros representa um ato de força que divide o partido, desmoraliza a militância e sabota sua própria campanha eleitoral. Refletindo as jornadas de Junho de 2013, o nome de Safatle como candidato do PSOL representa uma lufada de ar fresco no cenário político como um todo e uma esperança de um bom combate tanto para a militância do PSOL como para um setor importante da juventude e dos trabalhadores mais conscientes. Safatle também significa uma chance muito maior para a construção de uma Frente de Esquerda em São Paulo. Por isso, é preciso lutar para reverter essa situação. A esquerda do PSOL nacionalmente e todos aqueles que querem um partido sem golpes de mão burocráticos, assim como toda a vanguarda ativa nas lutas, devem se mobilizar para isso.
Frente de Esquerda nacional e nos estados Os erros do PSOL são importantes, mas não representam o único fator que tem inviabilizado a construção de uma Frente de Esquerda. Não podemos concordar com o argumento apresentado pela direção do PCB de que uma aliança eleitoral não se justificaria na medida em que essa frente não se coloca para o dia a dia das lutas. Por essa lógica, jamais chegaremos a nenhuma frente, nem nas eleições tampouco nas lutas. É preciso dar algum passo e avançar a partir daí. Da mesma forma não podemos concordar com a postura de recusa da Frente de Esquerda por parte do PSTU mesmo depois da companheira Luciana Genro e sua corrente (MES-PSOL) abrirem mão da proposta de ocupar a vice-presidência na chapa com Randolfe Rodrigues. Essa posição correta de Luciana foi tomada para que as negociações com o PSTU pudessem avançar. Mas, o partido optou por utilizar as críticas à linha política do PSOL (muitas delas corretas) como justificativa definitiva. Junto com a maioria da base ativa e militante do PSOL e a ala esquerda do partido, o PSTU poderia travar a batalha para que a linha política de uma Frente de Esquerda nacional fosse combativa, classis-
ta e radical como deveria ser. Afinal, se puderam fazer frente com o PSOL em 2006 em torno de Heloísa Helena, apesar de todas as diferenças que existiam, por que não fazer agora, em um momento político ainda mais decisivo? Um exemplo de como o sectarismo e a divisão podem jogar um papel nefasto é o Rio Grande do Norte. Não existe qualquer justificativa para que o PSTU tenha rompido as discussões sobre a construção de uma Frente de Esquerda no estado que repetisse a vitoriosa experiência das eleições municipais de Natal em 2012. Diante do impasse criado pelo PSTU a pré-candidatura de Robério Paulino ao governo do estado pelo PSOL propôs que se fizesse uma ampla consulta entre os ativistas dos movimentos sociais e da esquerda no sentido de definir qual o melhor nome para encabeçar uma chapa unitária. Infelizmente o PSTU não respondeu a essa proposta, preferindo anunciar diferenças políticas mesmo onde elas não existem. Outro caso relevante é o do Rio de Janeiro. Reafirmamos aqui que desde o início defendemos (algumas vezes de forma isolada dentro do próprio PSOL) a construção da Frente de Esquerda no estado, independente de qualquer cálculo eleitoral ou outro fator que não reflita as necessidades estratégicas da classe. Ao mesmo tempo não podemos entender como o PSTU recusa-se a fazer uma Frente nacional com o PSOL, mas insiste numa Frente no Rio onde as perspectivas eleitorais a partir da primavera carioca liderada por Marcelo Freixo são muito mais favoráveis. Defendemos uma Frente nacional e estadual e não apenas onde existam interesses eleitorais pragmáticos. Chamamos a todos os setores da esquerda do PSOL para que reconstruamos o Bloco de Esquerda no partido e lutemos para garantir uma Frente de Esquerda nos estados e nacionalmente com um programa socialista.
A quem interessa o Exército e as UPPs em Niterói? SEGURANÇA PÚBLICA Alegando o aumento da criminalidade em Niterói, o prefeito Rodrigo Neves e seus aliados solicitaram ao secretário de Segurança Pública Estadual, José Mariano Beltrame, a instalação de UPPs na cidade. Como presidente da Comissão dos Direitos Humanos de Niterói, denuncio a farsa das UPPs no Rio de Janeiro. Longe de acabar com a violência, tal política de segurança pública mantém a lógica de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais. As UPPs no Rio de Janeiro foram situadas em áreas que fazem parte do circuito turístico e regiões estratégicas para os megaeventos. O critério é proteger os investimentos empresariais. São constantes as denúncias contra a polícia por desrespeito aos direitos humanos: assassinatos de trabalhadores, agressões, invasões arbitrárias de domicílios e restrição às manifestações culturais locais. Precisamos debater uma transformação aguda na forma de agir da polícia. Um ponto fundamental é a desmilitarização das polícias. A polícia não deve servir à barbárie, ao extermínio, mas à segurança dos cidadãos. A polícia comunitária, dedicada à interlocução com os movimentos sociais e moradores, deve ser o mecanismo principal para estabelecer uma política de segurança democrática. Também não há como pensar em diminuir o crime sem pensar políticas públicas de saúde, educação, emprego, habitação e transporte. Mandato do Vereador Renatinho do PSOL
Apoio aos profissionais de educação de São Gonçalo
EDUCAÇÃO No dia 21 de maio, Paulo Eduardo esteve presente na audiência pública da Comissão de Educação da ALERJ, convocada para debater a situação dos profissionais de educação da rede municipal de São Gonçalo que se encontram em greve. Ficou evidente que a educação pública de São Gonçalo vive uma das maiores crises de sua história. O déficit hoje é de mais de mil professores, fruto de demissões. A Prefeitura de São Gonçalo sequer paga o piso salarial da categoria e há professores ganhando míseros 600 reais líquidos ao mês. As péssimas condições das escolas também são motivo da denúncia e da justa revolta dos profissionais.
Visite o nosso site:
Preço: R$ 2,00 • Solidário: R$ 4,00
www.lsr-cit.org facebook: www.facebook.com/lsr.cit e-mail: lsr.cit@gmail.com telefone: (11) 3104-1152
N° 20 • junho 2014
“Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo!” predação do Itaquerão. Essa campanha vergonhosa e sórdida teve a ajuda de intelectuais do PT, como o professor Emir Sader, que em sua página no Facebook, conclamou a Gaviões da Fiel a enxotar o MTST. No entanto, essa campanha pretendia jogar povo contra povo foi logo enterrada com a proposta de realização de atividades da torcida Gaviões da Fiel na ocupação Copa do Povo. Numa semana marcada pela greve dos condutores, além dos professores, ocorreu o 3° Ato “Copa do Povo, Tô na Rua de Novo”, no dia 22 de maio.
A copa do mundo, longe do legado prometido pelo governo Dilma/PT, tornou-se um grande tormento para a grande maioria dos trabalhadores e para a população mais pobre. José Afonso Silva A propaganda que diz que a Copa do Mundo deixaria obras importantes em benefício do país, como infraestrutura, aeroportos e melhorias em mobilidade urbana, ficou bem longe da realidade. No caso dos estádios, muitas das obras do entorno ainda ficarão inacabadas. Obras atrasadas significam aumento dos valores previstos e mais lucros para as empreiteiras e grandes construtoras. Essas empresas são as grandes beneficiadas com os megaeventos e com a utilização do dinheiro público em detrimento dos serviços necessários á população. Se por um lado os governos demonstraram ineficiência em cumprir o cronograma de obras, foram muito eficientes em sua política de despejos e remoções de comunidades pobres e indígenas.
A Copa impulsionou a especulação imobiliária A especulação imobiliária também age de forma agressiva no entorno das obras da Copa do Mundo. Os preços dos terrenos se valorizaram e consequentemente o valor dos alugueis dispara. Na região de Itaquera, por exemplo, o valor dos alugueis, que aumentou mais de 140% nos últimos anos, faz com que moradores da região sejam obrigados a se mudarem para bairros e cidades ainda mais periféricas. O que significa morar em condições mais precárias e com serviços públicos escassos. Isso motivou a Ocupação do terreno de 150 mil metros quadrados em Itaquera, a cerca de 3 quilômetros da Arena Corinthians, estádio da abertura da copa do mundo. O terreno é de propriedade da Construtora Viver, dona de mais de 3,9 bilhões em terras, especificamente destinadas a especulação imobiliária. Mais escandaloso ainda, e demonstra como trabalha nos bastidores o mercado financeiro, foi a
20 mil tomaram as ruas
Novo”, Mais de 20 mil particiaparam no 3° ato “Copa do Povo, Tô na Rua de maio. de 22 dia no Paulo, São em os Pinheir al Margin a ou paralis que constatação de que o terreno consta nos registros como propriedade rural, o que lhe “obriga” a pagar apenas 57 reais de imposto por ano pelo terreno. Tudo isso sob as vistas grossas de vereadores e o prefeito da cidade de São Paulo.
“Copa do Povo” Batizada de “Copa do Povo” a ocupação já tem 4 mil pessoas morando em barracas de lona. A ocupação Copa do povo se tornou um símbolo da luta do povo pobre da periferia e uma denúncia ao mundo de que aquilo que se pinta no exterior sobre o Brasil está muito longe de ser a verdade propagandeada. A justiça burguesa, sempre servil aos interesses das grandes corporações, de imediato acatou o pedido de reintegração de posse do terreno, mas convencida pela evidência de uma resistência dos acampados e pelo fato de isso se tornar uma tragédia que ficaria como a marca de sangue da Copa, foi obrigado a recuar num primeiro momento.
Não por acaso, no último dia 08/05, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), organizou uma ocupação simultânea das principais empreiteiras que se beneficiam com os gastos da copa: Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS. No dia seguinte ocorreu a ocupação da construtora Viver, no intuito de obriga-los a abrir mão da reintegração de posse do terreno. As ocupações das empreiteiras também inaugurou a campanha “Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo!” impulsionada pelo MTST e pela Resistência Urbana, porém abraçada por diversos outros movimentos sociais. A campanha “Copa sem Povo, Tô na Rua de Novo!”, fazendo alusão à disputa da seleção brasileira pelo sexto campeonato mundial, faz a defesa do hexa de direitos para a população: moradia, educação, saúde, justiça, transporte e soberania. Esse ato também marcou o início das grandes manifestações contra a copa do mundo em 2014, pois além
das ações dos movimentos populares, dezenas de categorias como professores, policiais civis e rodoviários entraram em luta. Foi tamanho o impacto das manifestações do 08/05, que a presidente Dilma Rousseff se viu obrigada a sentar com os representantes do MTST e membros da Ocupação “Copa do Povo” e escutar a pauta do movimento.
15 de maio: dia nacional de lutas O 2° ato “Copa do Povo, Tô na Rua de Novo!” ocorreu em 15 de maio como parte de um dia nacional de lutas contra os crimes da copa. O MTST organizou o travamento das principais vias da cidade de São Paulo, além de um grande travamento na Radial Leste, ao lado do “Itaquerão”. Agentes do governo e a grande imprensa tentaram criar atrito entre os moradores da ocupação “Copa do Povo” e torcedores do Corinthians, insinuando uma suposta de-
Foram mais de 20 mil pessoas, na maioria sem-teto das mais de 15 ocupações do MTST na grande São Paulo, que debaixo de forte chuva marcharam por quase três horas do Largo da Batata até a Ponte Estaiada, cartão postal da cidade e um dos exemplos de que os investimentos públicos se concentram nas áreas onde moram os ricos da cidade. Esse foi o maior ato em torno do tema da copa do mundo desde as jornadas de junho de 2013, mas com a diferença de que se tratava de uma mobilização com uma pauta clara e real, a pauta da moradia. Outra marca do 3° Ato “Copa do Povo, Tô na Rua de Novo” foi a organização e disciplina dos militantes do MTST. A ponto de não haver um único incidente digno de nota. As mais de 20 mil pessoas que tomaram a Ponte Estaiada, voltaram com o semblante de alegria, demonstrando força e confiança na luta. Isso só comprova que a força e a radicalização consequente da luta se dão apenas com organização coletiva e trabalho de base. Assim é possível frear e combater a repressão policial. Esse último ato coloca o MTST como o principal movimento popular do país e um dos poucos com condições e disposição (caso suas demandas não sejam atendidas) de afetar realmente a realização do mundial. Como disse um dos coordenadores do MTST no fechamento da manifestação: se não atenderem nossas reivindicações, a cidade vai parar durante a Copa.