Luana Pedrosa
(Re)descobrindo espaรงos comunitรกrios na zona sul: o CDC Jardim Suzana
LUANA PEDROSA
LÁ NO BAIRRO (Re)descobrindo espaços comunitários na zona sul: o CDC Jardim Suzana
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Ms. Ricardo Luis Silva
São Paulo 2016
Agradeço aos meus pais, Agnaldo e Edith, por me ajudarem, acreditarem e investirem em mim durante esses 5 anos. Pela paciência, pela dedicação e pelo amor incondicional. Sem vocês, nada disso seria possível. À minhas famílias, a de sangue e aquelas que escolhi, que sempre estiveram presentes e me apoiando, cada um da sua forma, do seu jeito, no seu tempo. Essenciais, parte de mim. Aos meus amigos, por todas as conversas, trocas, brincadeiras, risos, choros, crises e paciência. Aos amigos arquitetos e futuro arquitetos, aos companheiros de profissão, ao Coletivo Deriva, incluo também um obrigada pelas noites em claro, aos projetos incríveis, os ensinamentos, as discussões e reflexões, as pipocas de microondas e os cafés. Em especial, tenho que agradecer os amigos Aline Barros, Fiona Platt, Augusto Ruschi, Gabriela Cunha, Daniela Ciarvi, Rafael Zaia, Larissa Lobo, Hugo Martins, Rodrigo Antonio. Pitacos e ajudas constantes que fizeram diferença nesse processo. Aos lugares que tive a oportunidade de trabalhar, amadurecer e ter experiências únicas. Em ordem, agradeço a Pró-Reitoria de Planejamento da UNIFESP, Zoom Urbanismo Arquitetura e Design e Miguel Góes Arquitetura + Design. Ao meu orientador, Ricardo, pela enorme paciência, pelas conversas, pela (des)orientação que sempre me fez encontrar os caminhos e as respostas por mim mesma, por me incentivar a ir além da zona de conforto. Três vezes, obrigada. Aos professores que me acompanharam nessa jornada, que compartilharam seu conhecimento e sabedoria, que acreditaram e que sempre estiveram ali. Em especial, agradeço imensamente àqueles que me mostraram, cada um da sua forma, que ensinar é uma arte, é troca, é acreditar no outro. Ao Clube de Comunidade Jardim Suzana, por me receberem generosamente, participarem desse processo e por proporcionarem à região espaços necessários para dar vida ao bairro e à rua. Enfim, eu poderia escrever páginas e mais páginas de agradecimento, porque, no final das contas, este trabalho é uma construção coletiva. Pude pegar um pouquinho de cada experiência vivida e colocar aqui, de alguma forma, indireta ou direta. Obrigada à todos.
[FIGURA 01] Rua Brรกs Pires Meira, Jardim Suzana. Foto da autora, 2016.
This work starts from a question: the reconnection with the urban space that is inhabited - the neighborhood - considering the condition of the contemporary city and society. Firstly, an area is chosen in the Capela do Socorro, district of the south zone of São Paulo, and ethnography and walk as recognition and reading of the space are used as a method. Also as a critical tool to the urbanist architect’s posture and to the gradual distancing of people from the street, the corporeal experience in urban space and daily life - the uses and appropriations of space by people - are the main elements that compose this reading and the course of this work. As a result of this experience, three scales of intervention are explored according to the character presented by the place itself, with the objective of strengthening the community’s bonds with the space they use and inhabit. Key-words: neighborhood, daily life, urban ethnography, urban space, Capela do Socorro, Jardim Suzana Community Club
Este trabalho parte de uma provocação: a reconexão com o espaço urbano que se habita - o bairro tendo em vista a condição da cidade e sociedade contemporâneas. Para início dos estudos, delimitase uma área na Capela do Socorro, distrito da zona sul de São Paulo e utiliza-se, como método, a etnografia e o caminhar para reconhecimento e leitura do espaço. Também como uma ferramenta crítica à postura do arquiteto urbanista e ao gradativo distanciamento das pessoas com a rua, a experiência corpórea no espaço urbano e a vivência do cotidiano - os usos e apropriações do espaço pelas pessoas - são os principais elementos que compõe esta leitura e norteiam o rumo deste trabalho. Como resultado dessa experiência, são exploradas três escalas de intervenção de acordo com o caráter apresentado pelo próprio lugar, com o objetivo de potencializar e fortalecer laços da comunidade com o espaço que usam e habitam. Palavras-chave: bairro, cotidiano, etnografia urbana, espaço urbano, Capela do Socorro, Clube de Comunidade Jardim Suzana
[FIGURA 02] Rua Estoril, Veleiros. Foto da autora, 2016.
INTRODUÇÃO 15 [01] A CONDIÇÃO CONTEMPORÂNEA Aproximações sobre a metrópole 21 [02] O COTIDIANO O espaço e as práticas 31 [03] DE PERTO E DE DENTRO Um método de leitura e apreensão 37 [04] (PARÊNTESES) Uma experiência de lentidão e desaceleração 43 [05] O TERRITÓRIO Pelos bairros, entre bairros 61 Breve histórico 61 O bairro como unidade de percurso 66 [06] PERCEPÇÕES E CORPOGRAFIAS Mapeamento pela experiência corporal 71 [07] UM POSSÍVEL GENIUS LOCI Educação, esportes, lazer e ócio 99 [08] AÇÃO PROJETUAL Das explorações urbanas à intervenção 103 A escala macro: Vila Friburgo, Veleiros e Jardim Suzana 106 A escala meso: Avenida Inácio Cunha Leme e entorno 110 A escala micro: Clube de Comunidade Jardim Suzana 118 CONSIDERAÇÕES FINAIS 171 REFERÊNCIAS 175
A cidade é o produto físico de uma cultura e das relações humanas que se estabelecem pelo espaço, uma obra aberta, em contínuo processo de transformação processo esse que é operado, na maioria das vezes, por uma multidão anônima nas dinâmicas diárias da cidade. Como integrante da multidão, coloco este trabalho como fruto de um processo composto por múltiplas experiências: a de quem planeja a cidade e de quem usa a cidade, do corpo no espaço urbano, do reconhecimento e exploração do território, experiências metodológicas e também subjetivas, enfim, experiências que são pequenas partes de um todo, que encerram um ciclo. Este trabalho é uma possível leitura de uma estudante de arquitetura e urbanismo que se insere em diferentes condições: a de habitante local e a de estrangeira; a de urbanista e a de praticante urbana ordinária. E por que a cidade? A cidade é onde nos reconhecemos e onde reconhecemos o outro; a cidade se forma, transforma, cresce e se expande pelo território, o que permite múltiplas interpretações e experiências ao longo de um complexo tecido urbano. É o palco de conflitos, tensões e diferenças, é o local onde se concentram oportunidades, é o suporte físico para relações e assentamentos humanos. É o que venho estudando, até hoje, num vasto campo de estudo que é a cidade de São Paulo. Um grande emaranhado de ruas, vias, vielas, escadarias, praças, parques, casas, prédios, enfim... Poderia listar elementos que compõe o espaço urbano por mais alguns parágrafos, mas o que faz de todos esses elementos possuírem um caráter específico é o que está entre o indivíduo e o espaço: laços, dinâmicas, relações, ou a falta dessas relações. Esses elementos efêmeros, subjetivos e muitas vezes imateriais se refletem no ambiente construído, através 17
das apropriações humanas, que podem transformar um espaço em lugar. A compreensão desses elementos, que vão além de questões físico-territoriais, são de grande importância quando se pensa em planejamento ou desenho do tecido urbano. Ao dar um “zoom out” e olhar para os problemas da cidade, as disciplinas se cruzam, lidamos com aquilo que é público e privado, conflitos, disputas e diferenças. Esse campo da escala urbana me pareceu mais interessante e estimulante justamente por envolver disciplinas que vão além da arquitetura e que envolvem uma determinada comunidade, um grupo (grande ou pequeno) de pessoas. Afinal, construímos espaços para que as pessoas o utilizem. As pessoas são os usuários, são as pessoas que, no dia-a-dia, produzem, subvertem, alteram ou potencializam os espaços que compõem a cidade. São elas que constroem politicamente o espaço, constroem laços, destroem laços, ou até mesmo nem estabelecem qualquer laço com os lugares. Enquanto a arquitetura, aos poucos, se tornou uma ferramenta “decorativa”, sem qualquer ligação com os usuários finais, ficou no imaginário das pessoas como um objeto caro voltado para uma pequena parcela da população; enquanto a cidade continuou a expandir, as pessoas continuaram a construir e fazer o espaço com as próprias mãos. Me pareceu pertinente me aproximar um pouco mais de uma discussão sobre a relação das pessoas com o espaço e como arquitetos urbanistas podem colaborar com a construção de um espaço, lidando com as pré-existências. E justamente por pensar a relação das pessoas com o espaço, olhei para a minha própria relação com o espaço. Em especial, o bairro que morei a vida inteira. Que relação eu tinha com o meu próprio bairro? Passei muito tempo dentro de um “perímetro” que permanecia na periferia, afastada do centro. Não havia grande necessidade de afastar-me tanto do bairro que morava, nem para trabalho, nem para estudar, nem para lazer... Quando criança, nunca nem tinha visitado a famigerada Avenida Paulista, ou sequer conhecia o centro da cidade. Mas a partir de determinado momento da vida (onde a gente vira “gente grande”) quando tive que escolher qual faculdade e qual curso faria, fui ver onde o mercado de trabalho estava para que eu pudesse procurar emprego na área, onde estavam os locais mais interessantes para lazer, onde tinha uma diversificada gama de comércios 18
e serviços, os grandes deslocamentos até o centro se tornaram inevitáveis. Comecei a passar mais tempo fora de casa e fora do bairro, no trajeto entre meu bairro e o centro, ou no próprio centro. Passei a conhecer e a viver mais a realidade de outros bairros, conhecendo novos lugares, ou simplesmente passando por eles, naquele ritmo frenético que a metrópole paulista nos oferece. Com isso, também comecei a utilizar o tempo do trajeto do bairrocentro para lazer e estudos, os lugares que estavam “no meio do caminho” acabaram se tornando mais presentes no meu dia-a-dia do que meu próprio bairro, local que eu ia praticamente só para dormir, pois no dia seguinte já tinha que levantar cedo para a rotina começar. Uma realidade bem comum entre as pessoas que trabalham no centro e “moram longe”.
[FIGURA 03] No metrô Consolação, há uma hora de distância de casa. Foto da autora, 2015.
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Ao me dar conta da minha própria realidade, num dia que fui na costureira do bairro com minha mãe, acabei “descobrindo” várias coisas legais que tinha bairro, serviços e espaços que eu normalmente me desloco para poder usufruir estavam ali, há uma rua de distância. A partir desse insight, decidi que este trabalho poderia ser uma boa hora para me reconectar com o lugar que habito. Passei tanto tempo estudando outros lugares, outros bairros, o próprio centro da cidade, por que não estudar o lugar que eu moro, que eu nem conhecia direito mais? Então deixei que o próprio lugar me mostrasse um pouco mais do que ele é hoje e deixo registrado, neste trabalho, um pouco desse processo oriundo de uma questão inicial, que desencadeou a linha de raciocínio deste trabalho: desde a breve compreensão da vida na cidade contemporânea (capítulo 1) e a vida cotidiana (capítulo 2), que me levaram ao método a ser utilizado para realizar este trabalho (capítulo 3). A partir desse método, descrevo uma experiência particular como forma de memória etnográfica (capítulo 4), voltando ao local de estudo e reconhecendo o território (capítulo 5). Após tal reconhecimento, faço o mapeamento (capítulo 6) e leitura do espaço, onde identifico potencialidades (capítulo 7) e desenvolvo a compreensão do lugar estudado e chego à intervenção propriamente dita (capítulo 8), embasada por conceitos e diretrizes que conectam a leitura e percepção de uma escala macro a escala do bairro - à escala micro - escala do cotidiano, da intervenção espacial. Longe de ser algo técnico, este trabalho possui caráter experimental e subjetivo, e é resultado de um processo de apreensão urbana e do cotidiano a partir das minhas próprias experiências no espaço e do meu contato com o outro. Me concentro em explorar meu próprio bairro, onde moro, os lugares onde passei a infância, no distrito da Capela do Socorro na zona sul de São Paulo (região também considerada parte do “extremo sul”): região que (re) conheci e experimentei, através do desenho e intervenção no espaço, relações e apropriações que a caracterizam e lhe conferem sua essência.
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[FIGURA 04] Voltando da feira, quarta-feira, 10h. Foto da autora, 2016.
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Aproximações sobre a metrópole Este trabalho parte de uma inquietação da minha própria experiência pessoal, mas, como dito na introdução, faz parte de uma dinâmica que afeta diversas pessoas que sofrem com a questão do deslocamento (morar na periferia e trabalhar no centro, por exemplo) e do afastamento do seu próprio local de origem, tanto por conta da localização, quanto por conta das dinâmicas urbanas estabelecidas pelo desenvolvimento da sociedade e da cidade. Antes de apresentar o local de estudo, desenvolvo este capítulo, que explica brevemente a condição contemporânea e porquê, ao meu ver, este trabalho virou uma provocação, principalmente a mim mesma. A cidade contemporânea, por sua complexidade, pode possuir diversas abordagens sobre seu processo de construção e as consequências da urbanização em curso, porém essas abordagens levam a conclusões semelhantes quando tratamos sobre a cultura urbana: deterioração dos espaços e equipamentos públicos com a conseqüente privatização da vida coletiva, segregação, evitação de contatos, confinamento em ambientes e redes sociais restritos, situações de violência etc. As ruas, que antes eram locais de encontro e lazer, as verdadeiras “salas de estar comunitárias” (HERTZBERGER, 1999) se tornaram prioritariamente locais de passagem, os espaços públicos perderam aos poucos seu caráter de encontro, lazer e estar, perdendo qualidade e, consequentemente, perdendo usuários. Um processo de transformação da cultura de uso do espaço público e do espaço urbano tem início na Revolução Industrial, com o advento do carro, e segue em mutação ao longo dos anos, com o processo de urbanização. 23
É fundamental entendermos o processo de urbanização do planeta – as pessoas que se movem do campo para cidade buscam melhores perspectivas e oportunidades que as cidades concentram. (...) As cidades, ao mesmo tempo, concentram massa crítica, é nelas que se cria o conhecimento, são poderosos veículos de criação de riqueza. Creio que seja importante equilibrar essa noção de que a cidade tende a ser um lugar problemático, friccional e cheio de conflitos – porque, sim, se esses conflitos existem é porque há algo a se ganhar na cidade. (ARAVENA, 2013)
Partindo do raciocínio do arquiteto chileno Alejandro Aravena (2013), de que as grandes cidades concentram os maiores números de habitantes por conta da oferta de oportunidades - emprego, lazer, moradia, educação, saúde e as demais infraestruturas de uso diário - e o acesso a novas tecnologias, as pessoas foram buscar nas grandes cidades “seu próprio espaço”, construindo e se apropriando de onde era possível - o que levou a consequências em diversos aspectos, sejam sócio-econômicos ou ambientais. A exemplo disso, com a expansão da cidade para a periferia, a falta de infraestrutura, recursos e oportunidades para todos, acaba acentuando a desigualdade social e, como consequência a violência urbana, gerando o medo, a insegurança e a crescente privatização dos espaços e a individualização. A explosão metropolitana, que veio com o boom econômico, criou um grande ‘projeto de marginalização’, resultando em um crescimento acelerado e sem precedentes das periferias, que criou uma polarização entre pessoas de maior e de menor poder aquisitivo, com reflexos significativos no âmbito espacial, ou seja, no espaço urbano construído, cada vez mais assimétrico e complexo. Essa expansão urbana veio juntamente com a privatização e a degradação da cultura pública e dos recursos naturais, enquanto os conflitos socioeconômicos e demográficos continuam a aumentar. (CRUZ, p. 49)
Esse crescimento acelerado da metrópole, juntamente com o processo de globalização, possui aspectos positivos e negativos: a velocidade e a grande quantidade de informações, o avanço da tecnologia, entre outros fatores, causaram um descompasso entre a sociedade e a cidade, criando duas temporalidades: a rapidez com que a sociedade muda e a lenta transformação do ambiente construído em relação à essas mudanças da 24
sociedade (ASCHER, 2010). Seguindo o raciocínio do sociólogo Zygmunt Bauman (2009), a globalização não é somente um fenômeno econômico e atinge as dinâmicas do espaço urbano (principalmente o espaço público) e todas as esferas que este abrange: o cotidiano, a relação entre as pessoas, como as pessoas se apropriam dos espaços, como e o quê se consome.
[FIGURA 05] Vista via satélite da Região metropolitana de São Paulo, 2016. (Fonte: Google Earth)
[FIGURA 06] Vista aérea da cidade de São Paulo, por Eiji Matsumoto, 2007. (Fonte: skyscrapercity.com) 25
São percebidas novas formas de relações sociais, onde são produzidos novos medos e inseguranças a partir desse complexo processo de transformação contínua na qual se insere a cidade contemporânea. Visto a desigualdade e segregação social, que tende a estar cada vez mais acentuada, há uma busca por tudo o que trás segurança, afastando aquilo que é estranho - isso inclui o contato com outras pessoas e com o espaço que é público. Segundo Teddy Cruz (2014), são consolidadas políticas de exclusão, o encolhimento de instituições públicas e sociais e seu papel na construção da cidade. Em suas palavras, “antes de ser uma crise econômica e ambiental, nossa crise é, prioritariamente, cultural.” (CRUZ, 2014, p. 49). Por conta dessa condição da cidade e sociedade contemporânea, Bauman (2009) assume que o medo, oriundo da violência urbana e da imagem criada sobre a cidade, virou um objeto de venda, o então “capital do medo”, que tornou-se passível de ser transformado em qualquer tipo de lucro, seja político ou comercial, incidindo diretamente sobre as atuais condições de vida urbana e sobre o modo no qual a sociedade percebe sua existência na cidade e como imagina e apreende o ambiente urbano, chegando a distorcer tal realidade. Assim como o dinheiro líquido disponível para investimentos de todo o tipo, o “capital do medo” pode ser transformado em qualquer tipo de lucro político ou comercial. É isso mesmo. A segurança pessoal tornou-se muito importante, talvez o argumento de venda mais necessário para qualquer estratégia de marketing. A expressão ‘lei e ordem’, hoje reduzida a uma promessa de segurança pessoal, transformou-se num argumento categórico de venda, talvez o mais decisivo nos projetos políticos e nas campanhas eleitorais. (...) Tudo isso não pode deixar de incidir sobre as condições da vida urbana, sobre o modo como percebemos a existência na cidade e sobre as esperanças e apreensões que tendemos a associar ao ambiente urbano, a ponto de distorcê-lo. (BAUMAN, 2009, p. 55-56)
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[FIGURA 07] A “evolução” das casas: a falsa sensação de segurança e o isolamento da casa perante a rua. (Fonte: Quadrinhos Ácidos)
Mais um fator desse processo, uma grande questão levantada pelo sociólogo alemão Georg Simmel ao analisar a vida moderna em 1903 (e permanece atual) foi a individualização para preservar sua autonomia e peculiaridade frente à sociedade, herança e cultura exterior. Em suas palavras: 27
“(...) O fundamento psicológico sobre o qual se eleva o tipo das individualidades da cidade grande é a intensificação da vida nervosa, que resulta da mudança rápida e ininterrupta de impressões interiores e exteriores. (...) As impressões, persistentes, a insignificância de suas diferenças, a regularidade habitual de seu transcurso e de suas oposições exigem por assim dizer menos consciência do que a rápida concentração de imagens em mudança, etc. (...) Na medida em que a cidade grande cria precisamente estas condições psicológicas - a cada saída à rua, com a velocidade e as variedades da vida econômica, profissional e social -, ela propicia (...) uma oposição profunda com relação à cidade pequena e à vida no campo, com ritmo mais lento e mais habitual, que corre mais uniformemente de sua imagem sensível-espiritual de vida”. (SIMMEL, 1903, p. 578)
Dessa forma, o habitante da cidade encontra uma forma de se proteger: ele não reage, se torna apático e indiferente às coisas que acontecem ao seu redor - assume a atitude que Simmel chama de blasé. Esse processo de individualização veio junto com dois outros processos - o da racionalização e da diferenciação social - durante a modernização das cidades. No fim da Idade Média ao começo da revolução industrial, a sociedade ocidental passa por uma transformação do modo de pensar e do lugar da religião na sociedade. Segundo Ascher (2010), as lógicas de apropriação e domínio coletiva foram substituídas gradativamente pela lógica individual, o que faz com que a sociedade moderna divida-se em indivíduos, e não mais em grupos. A racionalização, como parte desse processo, consiste na substituição da tradição pela razão, onde o conhecimento derivado da experiência e dos saberes científicos substituem a repetição sem questionamento; o que, por consequência, resulta também no processo de diferenciação social: a diversificação de funções de grupos e indivíduos, que é reforçada pelas condições econômicas e de trabalho. Todos esses processos “alimentamse reciprocamente e produzem sociedades cada vez mais diferenciadas” (ASCHER, 2010, p. 23), refletindo diretamente na construção das cidades: diversidade, desigualdade e complexidade no ambiente construído.
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Unindo os seguintes fatos: o espraiamento da cidade, o uso da rua e do espaço urbano público como passagem, as duas temporalidades e velocidades de transformação, a violência urbana, o “capital do medo” e a falsa sensação de adquirir a segurança - além do processo de espetacularização das cidades - criam-se imagens de cidade que ameaçam a individualidade e a segurança e, como consequência, perde-se aos poucos o contato com o espaço urbano público; em muitos casos, com o próprio bairro que se habita. A sensação de falsa segurança através do isolamento e do anestesiamento frente aos estímulos que recebemos a todo momento, o contato com o Outro urbano (principalmente no espaço público), fez com que uma prática comum e banal, que é o caminhar pela cidade, deixou de ser praticada.
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Bente altas, queimada, rolimã, futebol, pipa, pique-esconde: jogos e brincadeiras de rua. Todos extintos com a extinção da própria rua. Afinal, depois de tanto “matar a rua” ao longo do século 20 parece que finalmente conseguimos o que queria Le Corbusier, aquele arquiteto franco-suíço que queria também demolir a Île de la Cité em Paris onde se encontra a Notre Dame para ali erguer a sua “Cidade Radiosa”, uma espécie de Barra da Tijuca primordial. Mas não é que a rua propriamente dita tenha desaparecido, afinal todos os dias somos surpreendidos por outdoors propagando a duplicação e o alargamento das vias por toda a cidade. O que desapareceu mesmo, foi a possibilidade da rua como lugar do ócio, do encontro, das brincadeiras, dos jogos e da festa. Desapareceu a rua como lugar privilegiado da infância, ou de infâncias privilegiadas. Aquela infância dos nossos pais nas florescentes porém ainda humanas capitais, mas também a rua das crianças dos interiores por todo o país. Ruas em que crianças passavam as noites jogando e brincando, em que os portões eram gol, que a calçada era pista, que o degrau era rampa, que o muro era esconderijo, que a árvore era desafio, que o lixo era brinquedo, que o asfalto era campo, que os carros eram raros. Pois, as razões desse fato histórico são óbvias: o crescente aumento da frota de veículos sustentada por políticas públicas tardo-desenvolvimentistas equivocadas (vide Linha Verde em Belo Horizonte, duplicação da Marginal em São Paulo e a recente redução de IPI dos automóveis) corroboradas pela gradual e covarde substituição por parte da classe-média urbana de todas as esferas do público por soluções imediatistas e privatistas: o SUS pela Unimed, o grupo escolar pela escola particular, o ônibus pelo “zero quilômetro”, a polícia pelo vigia de plantão, o mercado pelo shopping, o buteco pela praça de alimentação, o bairro pelo subúrbio militarizado, a praça pelo clube da moda, e claro a rua pelo condomínio e seus indefectíveis pilotis, área de lazer, gazebo gourmet e salão de festas. Em tempos de “civilização capsular”, “cocooning”, “cidades de muros”, ou qualquer outra expressão que os teóricos da cidade possam encontrar para descrever esse fenômeno que é global, mas indiscutível e absurdamente mais violento e nefasto nos trópicos, a rua se tornou simplesmente um lugar de passagem e circulação (motorizada, obviamente). E sendo assim, lugar puramente utilitário, regido pelo relógio do trabalho, do comércio e do rush, se tornou lugar escuro, ermo, vazio, perigoso, assustador, terra de ninguém. (...) (Trecho extraído do texto de Wellington Cançado, “A insurgência das pipas (e outros jogos potencialmente subversivos)”, 2010)
O espaço e as práticas Pela velocidade na qual vivemos atualmente, muitas vezes passamos despercebidos pelas pequenas coisas que nosso próprio cotidiano nos proporciona. Muitas vezes não notamos pequenas sutilezas, elementos e até mesmo dinâmicas locais que ocorrem ao nosso redor e focamos em acontecimentos isolados que não necessariamente fazem parte da realidade cotidiana. E cotidiano, por definição de Certeau (2013), é o que acontece e o que temos a cada dia em nossas vidas. Em suas palavras: O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou de viver nesta ou noutra condição, com esta fadiga, ou este desejo. O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio-caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada. Não se deve esquecer este ‘mundo de memória’, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares, memória da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história ‘irracional’, ou desta ‘não história’, como o diz ainda A. Dupront. O que o interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível... (CERTEAU; GIARD; MAYOL, 2013, p. 31)
É no dia-a-dia que o espaço se realiza enquanto for vivenciado, no qual indivíduos exercem dinâmicas, 33
[FIGURA 08] O espaço habitável entre as coisas. (Fonte: HERTZBERGER, 1999 p. 9)
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conferindo-lhe movimento, animação, um determinado caráter através de seu uso; o potencializam e o atualizam, passando à condição de “lugar praticado”, seja uma praça, um lote, uma quadra ou a própria rua. A máxima “habitar é deixar rastros” de Walter Benjamin se encaixa na lógica do cotidiano, onde as pessoas se apropriam, criam, reinventam e subvertem os espaços. Essas dinâmicas que transformam o lugar podem ser (e são, em sua maioria) efêmeras, mas adquirem sua condição específica justamente pela vivência temporal do indivíduo ou de um coletivo naquele lugar. A partir do pensamento de Certeau, o espaço público, por sua vez, só adquire identidade
quando praticado pelos indivíduos através de intervenções, do contato físico, pressupondo a sensação de pertencimento com os espaços - desde o uso da mesa de xadrez da praça, ao bairro como um todo. Segundo Jacobs (2011), pensando na vida cotidiana inserida no contexto metropolitano, mesmo que a cidade tenha uma grande variedade onde podemos escolher onde trabalhar, estudar, se divertir, onde consumir, em quais lojas ou restaurantes ir, o que buscar de entretenimento, até a escola dos filhos - os moradores urbanos têm mobilidade na cidade e possuem a opção de utilizar outros distritos e outros bairros. Dessa forma, as qualidades de um bairro não podem conflitar com a mobilidade e a fluidez de uso urbano sem enfraquecer economicamente a cidade. Os bairros precisam ser dependentes de outros bairros e cidade para justamente fazerem parte de um todo. Não é necessária a imitação de uma vila ou de um bairro de uma cidade pequena, mas os bairros precisam promover algum tipo de autogestão civilizada, justamente pelo motivo de que, nas palavras de Jane Jacobs (2010, p. 128), “os moradores comuns da cidade dependem bastante de seu bairro na vida cotidiana que levam”. Ampliando a escala e trazendo a discussão para o desenho do espaço, o arquiteto holandês Herman Hertzberger (1999) afirma que o arquiteto é somente responsável pela implantação e o desenho da arquitetura, onde define graus de compartilhamento e isolamento das pessoas. Não há possibilidade de forçá-las a conviver no espaço público, mas há meios, através do desenho, de estimular possíveis usos compartilhados e tirar as pessoas de um isolamento total e alienação que espaços segregadores proporcionam. A questão é o ponto de equilíbrio entre a privacidade e o contato com o outro, para não sentir que seu espaço tenha sido invadido por completo (e talvez sujeito a alterações) nem isolar completamente um e outro. O espaço público e o privado devem se complementar, de forma que o usuário se identifique como ele próprio, com suas características e particularidades dentro de seu espaço; e que se identifique como um membro de uma comunidade. Apesar de existirem conflitos e diferenças, o indivíduo precisa sentir-se parte do espaço público - incentivando a questão da autogestão, discutida por Jacobs. Antes do aumento de carros na rua e da priorização de espaços de passagem, a rua era tida como sala de estar comunitária, quando havia o costume de 35
maiores ações conjuntas com os vizinhos; pois o espaço público está para “além da porta ou do portão”, para “um mundo onde de pouco temos a ver, sobre o qual praticamente não exercemos influência” (HERTZBERGER, 1999). Ao observar a relação entre o usuário e o espaço (ou o objeto), nota-se que no cotidiano um espaço com potencial, ou apropriado pelos usuários, mostra a capacidade da forma em desempenhar diversos papéis sob circunstâncias mutáveis e a expansão das possibilidades de todas as coisas projetadas (HERTZBERGER, 1999). A forma e o espaço devem potencializar a acomodação, gerando maior receptividade a diversas situações para estimular a vida cotidiana, onde a interpretação do usuário em relação ao objeto necessita ser mais livre e criar outras condições. Por exemplo, o sentar, que oferece oportunidades de apropriações temporárias e cria novas possibilidades e situações para o contato com o outro, mas sempre com cautela para evitar desperdícios de espaço. O deslocamento do olhar do âmbito oficial para o informal traz uma leitura mais humana à arquitetura (ou ao espaço de modo geral, seja público ou privado) onde sempre encontra a alteridade como alternativa para que as dinâmicas cotidianas tenham maior fluidez.
[FIGURA 09] Amsterdam, bairro operário, a vida nas ruas: bem diferente de hoje. (Fonte: HERTZBERGER, 1999 p. 48)
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Um método de leitura e apreensão Iniciação, lição, aprendizagem, exercícios: são palavras de um saber que nasce numa longa relação com as pessoas de seu ‘campo’. (...) Os grandes acontecimentos, assim como os pequenos momentos da vida, ele acredita ser possível transformálos numa riqueza: uma cultura em formação, uma política dos lugares, uma inovação social. Ele passa um tempo imenso a observar a vida cotidiana (...) (AGIER, p.10)
O espaço, como preocupação dividida entre múltiplos especialistas, é composto de um sistema de ações e de objetos, assim como afirma Milton Santos (1993)1. Como uma forma de apreensão da cidade e desse sistema de ações e objetos, me aproprio do processo de etnografia, comumente utilizado por antropólogos em seus ambiente de estudo, onde há uma imersão na área de interesse. Por estar imersa no campo de estudo, voluntária e involuntariamente, o processo de pesquisa de cunho etnográfico é feito “de perto e de dentro”. Conforme assume Magnani (2002), esse método não se reduz a uma técnica, mas é um modo de apreensão e aproximação, feito de formas variáveis de acordo com cada pesquisa. A atenção aos detalhes, neste caso, detalhes da vida urbana, são essenciais para compreender a atmosfera na qual se envolve determinado espaço. Nas palavras de Magnani (2002), os fragmentos podem arranjar-se num todo que oferece a pista para um novo entendimento. A metodologia proposta foca no olhar para o outro, 1 Informação retirada do livro Encontros: Milton Santos, entrevista publicada na Revista Margem, novembro de 1993. 39
aliás, na relação do outro com o espaço urbano. E por ser uma percepção mais subjetiva, agrego, à este método, o caminhar pela cidade, amplamente discutido por Francesco Careri e Paola Jacques. Justamente por já habitar o local escolhido, já existe um certo processo de imersão, apesar da influência da escala metropolitana e dos deslocamentos que existem para usufruir de determinadas dinâmicas em outros locais mais distantes da cidade. Neste caso, como utilizo minha experiência como parte do trabalho, acredito que, para uma única leitura do espaço, tenho duas visões distintas porém complementares: a primeira, é a que considero ser a visão “de fora”, como se eu fosse uma estrangeira (em específico: de uma moradora que se desloca para fora do bairro com frequência, para usar outros locais da cidade. Por conta disso, existe um afastamento, não utilizo mais esse lugar com a mesma frequência que outros moradores). A segunda é a visão “de dentro”, de alguém que, neste caso, voltou a caminhar pelo bairro, a usar o que o bairro oferece, praticando uma imersão no local, além de possuir uma memória de quando usava aquele lugar antes. A cidade é, assim, percebida pelo corpo como conjunto de condições interativas, e o corpo expressa a síntese dessa interação descrevendo, em sua corporalidade, o que chamo de corpografia urbana.A corpografia seria então uma espécie de cartografia corporal, que parte da de que a experiência urbana fica inscrita, em diversas escalas, de temporalidade, no próprio corpo daquele que a experimenta e, dessa forma, também o define, mesmo involuntariamente. A ideia de corpografia propõe articular os aspectos processuais e configurativos implicados no relacionamento do corpo com a cidade, que tanto registra quanto reorganiza a síntese desse relacionamento e, assim, estabelece as novas condições para continuidade dessa relação. Em resumo: além dos corpos ficarem inscritos e contribuírem na formulação do traçado das ruas, as memórias dessas ruas também ficam inscritas e contribuem na configuração de nossos corpos. (JACQUES, 2011, p. 166)
Para reconectar-me com o lugar, a maior necessidade, a princípio, era sentir o que as ruas, o cotidiano e o espaço urbano poderiam me dizer. Sem qualquer propósito ou ideia prévia, utilizei o caminhar para para sentir o espaço urbano. Nas palavras de Careri (2013), “o caminhar é uma ação 40
capaz de diminuir o nível de medo e de desmascarar a construção midiática da insegurança: um projeto ‘cívico’ capaz de produzir espaço púbico e agir comum”. O ato de caminhar faz com que nos libertemos de convicções préestabelecidas, recuperando e recordando o fato e que o espaço é uma invenção humana, onde intervimos e brincamos. Como uma experiência particular, durante as caminhadas que fiz pelo perímetro delimitado para estudo inicial, descobri e redescobi uma série de particularidades e apropriações humanas pelo espaço - seja público ou privado, nas calçadas, fachadas ou lotes - que tornam os lugares únicos. Segundo Certeau (2009), ver as coisas no nível mais elemental é um processo de apropriação do sistema topográfico pelo pedestre, uma realização espacial do lugar. O caminhante atualiza algumas possibilidades e proibições (CERTEAU, 2009) presentes no espaço físico, inventando, emergindo, modificando ou deslocando tais elementos. A transformação no espaço acontece de forma gradual. Dessa forma, assumo o caminhar como uma provocação a mim mesma, ao enfrentamento do medo constante e da possibilidade de me (re)identificar com o local que habito. Atravessando Bogotá, Santiago do Chile, São Paulo, Salvador da Bahia, Talca, entendi que não sei caminhar na quadrícula colonial e que para ir em transurbância tenho de buscar os pontos em que a grelha se rompe, perder-me ao longo dos rios, circunavegar as novas zonas residenciais, imergir-me no labirinto das favelas. Na América do Sul, caminhar significa enfrentar muitos medos: medo da cidade, medo do espaço público, medo de infringir as regras, medo de apropriar-se do espaço, medo de ultrapassar as barreiras inexistentes e medo dos outros cidadãos, quase sempre percebidos como inimigos potenciais. (CARERI, 2013, p. 170)
Tratando-se temas extensos (a condição contemporânea, a vida cotidiana e a etnografia como processo) e que resultariam, por si só, em trabalhos individuais além deste, me detenho de onde parte a provocação deste trabalho: colocar o corpo à prova no espaço urbano e entender as práticas cotidianas e ordinárias, que fazem o espaço ser o que ele é - e daí extrair possibilidades de intervenção no espaço.
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[FIGURA 10] Avenida dos Lagos. Foto da autora, 2016.
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[FIGURA 11] Caminhada pelo Barrio Góes, Montevidéu (UY). Foto da autora, 2016.
Este trecho do trabalho se trata de uma memória etnográfica, de
quando tive a chance de experimentar, fora do meu contexto, um outro ritmo de cidade, uma outra velocidade, de grande importância para apreensão e entendimento da cidade e da especificidade de cada local. Pretendo, com este breve relato de um desvio no meio do caminho, explanar como uma vivência tão breve teve um impacto significativo neste trabalho (e mais importante: no meu próprio olhar).
Por uma casualidade afortunada, tive a oportunidade de participar
de um congresso estudantil na cidade de Montevidéu, no Uruguai, logo no começo deste trabalho de graduação. A cidade de Montevidéu, claramente, possui um caráter distinto e uma escala muito menor que a cidade de São Paulo, sendo impossível compará-las. Mas a intenção de colocar a experiência de Montevidéu neste momento do trabalho é para falar da experiência da lentidão, essencial para compreender a velocidade cotidiana, a velocidade do bairro. Localizada ao sul do país, a cidade está às margens do Rio de la Plata, sendo a maior cidade uruguaia. A cidade possui o “centro velho”, que abrange os bairros Ciudad Vieja, Centro e Barrio Sur, e o “centro novo”, entre os bairros Cordón e Palermo, com a Avenida 18 de Julio sendo uma das principais da cidade.
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[FIGURA 12] Mapa da cidade de MontevidĂŠu, Uruguai. (Fonte: sig.montevideo.gub.uy)
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[FIGURA 13] Esquina da Av. 18 de Julio com Dr. Eduardo Acevedo. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 14] Caminhada na Plaza del Entrevero. Foto da autora, 2016.
Assim como afirma Sarlo (2014), é possível que o habitante local tenha
imagens estereotipadas da cidade por conta do acúmulo de experiências, sejam elas atentas ou não. Já o estrangeiro, naquele local, parte do zero: caminha mais que os habitantes locais e acredita que a cidade é mais “caminhável” uma vez que seus deslocamentos não incluem trabalho, filas ou experiências do dia-adia. O turista é um caminhante “puro”, que pode caminhar, se perder, ir além do que uma possível automatização do dia-a-dia permita; diferentemente do habitante local que enfrenta a hostilidade em sua cidade, que é mais ou menos desconhecida para o turista, pois o vive em sua própria cidade de origem. (SARLO, 2014, p.180). O estrangeiro possui uma pecepção fora daquele contexto, na qual saltam-lhe aos olhos as ações e objetos possivelmente considerados banais, ou simplesmente sem qualquer relevância para os habitantes locais, já que possuem 49
uma rotina mais “automatizada” no local em que vivem. Na cidade estrangeira não é necessário padecer essa nostalgia, porque seu passado, mesmo que seja conhecido, não foi o passado do visitante, que se sente livre de uma reminiscência que sempre lhe seria alheia. (...) O tempo do estrangeiro que passeia pela cidade favorece a percepção do detalhe que, intensamente captado, comentado, fotografado, começa a tomar dimensões de um traço ou uma qualidade estável. (SARLO, 2014, p.180).
[FIGURA 15] À tarde na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016. [FIGURA 16] No banco da praça. Foto da autora, 2016. [FIGURA 17] Entre as ruas da Ciudad Vieja. Foto da autora, 2016. 50
[FIGURA 18] ร tarde na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016. [FIGURA 19] No banco da praรงa. Foto da autora, 2016. [FIGURA 20] Entre as ruas da Ciudad Vieja. Foto da autora, 2016.
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[FIGURA 21] Na porta de casa, cadeirinha de praia. Foto da autora, 2016. [FIGURA 22] Apropriações pelas janelas. Foto da autora, 2016. [FIGURA 23] Manequins na calçada. Foto da autora, 2016.
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[FIGURA 24] Um lugar para sentar numa fachada. Foto da autora, 2016. [FIGURA 25] A esquina das frutas. Foto da autora, 2016. [FIGURA 26] As caixas de frutas. Foto da autora, 2016.
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[FIGURA 27] Conversas na calçada Foto da autora, 2016.
Decidi colocar essa experiência como parte do processo de apreensão
da cidade, uma “memória etnográfica” que serviu para entender (novamente) o que é a lentidão e a diferença de tempos e velocidades, e porque ela se faz necessária para que o corpo compreenda o espaço. No lugar da pressa caótica constante da cidade de São Paulo, pude experimentar na lentidão o olhar no olho do outro, a experiência de alteridade urbana Esse ritmo mais lento sobrevive apesar da hegemonia da rapidez e da alta produtividade, que busca esconder, acelerar ou eliminar os tempos lentos que resistem, sobretudo, nas cidades brasileiras (JACQUES, 2012).
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[FIGURA 28] Uma noite na Plaza de los Treinta y Tres Orientales. Foto da autora, 2016. [FIGURA 29] Esperando o Ă´nibus. Foto da autora, 2016. [FIGURA 30] Na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016.
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Senti, naquela cidade, a lentidão citada por Jacques (2012), que se
referem principalmente aos pobres ao citar os homens lentos, a experiência da lentidão, comumente, ocorre em lugares à margem da aceleração do mundo contemporâneo. “Pobres, homens comuns, homens ‘lentos’ acabam por ser mais velozes na descoberta do mundo” (JACQUES, 2012, p. 282) e da cidade.
[FIGURA 31] Lendo jornal. Foto da autora, 2016. 58
[FIGURA 32] Feira de Tristรกn Narvaja, onde hรก todo tipo de mercadoria. Domingo de sol. Foto da autora, 2016. [FIGURA 33] Ao ar livre, no meio da praรงa. Foto da autora, 2016. [FIGURA 34X] Ao ar livre, no meio da praรงa. Foto da autora, 2016.
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Represa Guarapiranga
Represa Billings
[FIGURA 35] Imagem aérea da área de estudo. (Fonte: Google Earth)
Pelos bairros, entre bairros A unidade de percurso é o bairro, e a qualidade do espaço é a familiaridade. Borges, caminhante crepuscular ou anoitecido, percorre lugares cotidianos, onde a cidade se torna mais íntima e amistosa. O percurso promete a salvação da cidade cosmopolita pela regularidade silenciosa da cidade em expansão na direção do subúrbio. (SARLO, 2014, p.145)
Breve histórico A área escolhida para estudo está localizada ao sul do Município de São Paulo, delimitada fisicamente pelo Rio Pinheiros (canal Guarapiranga e Jurubatuba), represa do Guarapiranga e represa Billings; inserida no distrito de Socorro, próxima aos distritos Cidade Dutra e Grajaú, administrada pela Subprefeitura da Capela do Socorro. Parte desta área está sob proteção dos mananciais. A ocupação deste território está ligada à expansão e estruturação urbana de Santo Amaro, região à qual esteve ligada administrativamente até 1985. Sua formação começa com a tentativa de atrair imigração européia. Em 1827, os primeiros grupos de colonos alemães desembarcam em Santos e espalharam-se por toda a região sul. Ao contrário de cidades mais ao sul do Brasil, não preservou-se aspectos da tradição cultural alemã, restando muito pouco dessa experiência imigratória com famílias que ainda residem na região, além da presença do tradicional colégio alemão Humboldt, que permanece na região até hoje. 63
O interesse por ocupar a região vem das primeiras décadas do século XX com a construção das barragens da Light: a represa do Guarapiranga, em 1907, e a do rio Grande, após a grande seca de 1924, que deu origem à represa Billings. As represas formaram, para a região, um grande potencial de lazer junto às águas, atraindo interesse e intensa especulação imobiliária para loteamentos direcionados à construção de equipamentos recreativos. Ao olhar o antigo mapa da região, percebe-se no próprio desenho urbano a presença de grandes chácaras, além da presença de vários clubes de campo e clubes náuticos ao longo das bordas da represa, com foco para o antigo Clube Santa Paula e o Clube Atlético São Paulo. Algumas dessas chácaras foram desmembradas, outras se tornaram equipamentos, como a Escola Estadual José Geraldo de Lima. Ao longo das bordas da represa Guarapiranga, instalaram-se restaurantes, bares e demais estabelecimentos de lazer. 64
Na década de 20, uma grande área da região foi loteada e algumas indústrias se instalaram nas imediações, o que trouxe um crescimento rápido para o bairro. Alguns loteamentos residenciais de padrão médio surgiram nessa mesma época, na porção norte da Capela do Socorro, com destaque para a Vila Friburgo, que era o maior de todos até então. Até a década de 40, esta região era pouco ocupada, mas já possuía o caráter industrial. Com o processo de abertura de loteamentos industriais em Santo Amaro, houve um crescente interesse pela região, trazendo indústrias de pequeno a médio porte e principalmente loteamentos residenciais, onde trabalhadores da região de Santo Amaro encontraram um local mais acessível para moradia. Os bairros que se encontram neste perímetro se formaram, inicialmente como vilas, a partir de um desenvolvimento mais espontâneo em torno de entroncamentos de estradas ou de vilas rurais pré-existentes. Esses bairros, por estarem ao lado represa, receberam nomes ligados ao lazer, como Jardim Guarapiranga, Jardim Paquetá, Parque Interlagos e Veleiros. Com o adensamento e desenvolvimento mais acelerado, a região passou a ser servida por linhas de ônibus, facilitando mais ainda o acesso. As estradas funcionavam como eixos e geraram pequenas aglomerações próximas aos pontos de parada, trazendo comércios e serviços de pequeno porte para atender demandas locais. Com o adensamento dos bairros, esses pequenos pólos também cresceram, onde surgiram novos bairros. Nas décadas de 50 e 60, São Paulo passou por um intenso processo de expansão industrial, com alterações no padrão de localização das indústrias de maior porte. Um dos aspectos foi a consolidação e ampliação do pólo industrial de Santo Amaro, que trouxe um significativo adensamento da população que trabalhava nas indústrias recém-chegadas, pois ainda era uma região não consolidada, com disponibilidade de terra e baixo custo. Os novos bairros que surgiram acompanharam o mesmo estilo de expansão urbana periférica, sem qualquer preocupação urbanística, o que caracterizou a expansão e espraiamento da cidade nos anos 70. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, o crescimento populacional é um dos indicadores da transformação ocorrida na região: de 30.000 habitantes em 1960, a região da Capela do Socorro passou a 261.230 habitantes em 1980, 563.922 em 2000, e 594.930 em 2010, segundo dados do Censo. No 65
distrito do Socorro, onde localiza-se a área de estudo, a população estimada em 2010 é de 37.783 habitantes, onde ainda sobrevivem diversos comércios locais, pequenas indústrias e residências unifamiliares, principalmente de antigos moradores da região.
[FIGURA 36] “Antes desse galpão, que está entre as árvores, ser construído, você via toda a represa do Guarapiranga. Era lindo…” Palavras de Najla Drgnam, dentista e residente da região. Vista do seu consultório odontológico na Av. Rio Bonito, um dos pontos mais altos do bairro. Fotomontagem de sequência de fotos, fotos da autora, 2016.
[FIGURA 37] Imagem aérea da área de estudo, em 1958 e 2008, respectivamente. (Fonte: Geoportal) 66
BAIRRO VILA SOCORRO
Avenida Rio Bonito Avenida Atlântica
Represa Guarapiranga
Rua Eugênio Bartolomai
BAIRRO INTERLAGOS
Rio Pinheiros Av. Antônio B. da Silva Sandoval Autódromo de Interlagos
[FIGURA 38] Recorte da área de estudo com indicação das avenidas e ruas limites. 67
O bairro como unidade de percurso O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é mais favorável para um usuário que deseja deslocar-se a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, pe o pedaço de cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada (...) pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. (MAYOL in CERTEAU; GIARD, MAYOL, op. cit., p. 41)
Passei a maior parte da minha infância nessa região, usufruindo de diversos serviços, além dos laços familiares que ali existem. Desde que me entendo por gente, habito, uso, frequento os bairros que escolhi como objeto de estudo. Por anos, passei as tardes na casa de minha vó, moradora da Vila Friburgo, e estudava há exatos dois quarteirões da casa dela. Fazia o trajeto a pé, todos os dias, para ir e voltar. Passei um bom tempo frequentando academias, feiras e outros serviços pela região, fazendo todos os percursos a pé. Antes de ter contato mais frequente com outras áreas da cidade, ainda não tinha sofrido com uma possível distorção daquilo que é o local que habito, muito menos com um outro ritmo de cidade, uma outra velocidade, ou com os fenômenos decorrentes da urbanização acelerada e do adensamento da cidade, como a violência urbana e o próprio anestesiamento a partir dos grandes deslocamentos e da grande quantidade de informações que a metrópole proporciona. Ao buscar “o bairro” que tenho em memória, entendo que este espaço ultrapassa as possíveis delimitações geográficas estabelecidas, pois foi entre esses bairros que criei laços e, mais que isso, percebi a existência de dinâmicas e interdependência entre bairros. A área de estudo proporciona a possibilidade de praticar uma micro-resistência (JACQUES, 2008): o caminhar. Caminhar para perceber o espaço e caminhar como prática cotidiana, pois é na escala do bairro onde temos maior apreensão do espaço público na escala urbana, onde o espaço doméstico tem o primeiro contato com o espaço público: o contato com o vizinho, com o comércio local, com a rua. Com esse contato mais subjetivo - do corpo com o espaço urbano - procuro acompanhar e vivenciar “procedimentos que escapam à disciplina sem ficarem fora do campo onde se exerce”, como descreve de Certeau (2009)2 1 as práticas cotidianas, resistentes e astuciosas. 2 De Certeau, em seu livro A invenção do cotidiano, decide estudar os acontecimentos “multiformes, resistentes, astuciosos e teimosos” que estão além do planejamento e de ações mais formais, mas que permanecem em seu recorte de cidade, estranhamente familiar (CERTEAU, 2009, p. 163) 68
Ao resgatar o relato e a experiência de lentidão em Montevidéu (ver capítulo 4), percebo como me isolei em relação ao bairro e ainda possuía medo de ultrapassar a barreira do espaço privado para o espaço público. Após experimentar e (re)conhecer a lentidão, a desorientação e corporeidade (temas desenvolvidos por Paola Jacques (2012)) em um local estrangeiro, voltei ao meu local de origem com um olhar diferenciado para um local que ainda resiste à velocidade da cidade contemporânea, onde as relações permanecem. Diferente da experiência em Montevidéu, onde fiquei no centro da cidade, minha experiência em São Paulo é na zona sul, aproximando-se do extremo sul da cidade. Por estar distante do centro da metrópole paulista, minha área de estudo tem certo caráter de centralidade, na escala do bairro, ao olhar todo o perímetro. As pessoas se apropriam, usam, caminham, percorrem, permanecem, sem qualquer preocupação. É espontâneo, as coisas simplesmente acontecem. Segundo Jacques (2012), a prática dos homens lentos no espaço urbano se aproxima das ações dos praticantes ordinários de Certeau: as formas de adaptação e invenção dos homens lentos equivalem às astúcias e táticas do cotidiano, criando táticas que subvertem e modificam o que fora planejado anteriormente. Para apreender essas astúcias cotidianas, o movimento lento, garantido pela perambulação, faz com que o corpo encontre o outro, uma prática urbana de alteridade. A partir desta experiênciade perambulação, incorpora-se tal experiência urbana de alteridade. Nas palavras que Jacques (2012), o sujeito corporificado também está diretamente relacionado à necessidade de ressubjetivação das relações sociais, resistindo à aceleração e à velocidade. Para Deleuze e Guattari, a lentidão não seria, como se pode acreditar, um grau de aceleração ou desaceleração do movimento (...) mas sim de outro tipo de movimento: ‘Lento e rápido não são graus quantitativos do movimento, mas dois tipos de movimento qualificados’ (...) Porém, esta lentidão também pode ser vista como uma crítica ou denúncia da aceleração contemporânea, (...) ávidos de meios de circulação cada vez mais velozes. Lentidão não se refere a uma temporalidade absoluta e objetiva, mas sim relativa e subjetiva, ou seja, significa uma outra forma de apreensão e percepção do espaço urbano, que vai bem além da representação meramente visual. São os homens lentos, 69
como dizia Milton Santos, que podem melhor ver, aprender e perceber a cidade e o mundo, indo além de suas fabulações puramente imagéticas. (JACQUES, 2008 apud DELEUZE; GUATTARI, 1996)
Decidi, então, desprender-me do medo que sentia, de pré-conceitos sobre o próprio local. Após muito tempo sem, de fato, caminhar pelo bairro, estabelecer um contato real com aquele trecho de cidade que habito (mas sem habitar), me questionei sobre o meu afastamento deste lugar em específico. Já com uma ideia de retomar esse contato com o lugar ao conceber o tema deste trabalho, sem pensar em qualquer questão urbanística ou arquitetônica, a experiência “fora” me fez sentir novamente a lentidão e a alteridade no espaço urbano, contrários ao anestesiamento vivido diariamente.
[FIGURA 39] Pelo jardim Suzana. Foto da autora, 2016. 70
[FIGURA 40] Pelo bairro Veleiros. Foto da autora, 2016.
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Mapeamento pela experiência corporal A rua, que eu acreditava fosse capa de imprimir à minha vida giros surpreendentes, a rua, com as suas inquietações e os seus olhares, era o meu verdadeiro elemento: nela eu recebia, como em nenhum outro lugar, o vento da eventualidade. (BRETON, A. Les pas perdus. Paris, N.R.F., 1924. In: Walkscapes: O caminhar como prática estética)
Percepções iniciais Para reconectar-me com o meu bairro, além do maior contato com a área de estudo, me permiti passar algum tempo perambulando pelo bairro, conversando com moradores, usuários do local e levando outras pessoas para perambular comigo, inclusive alguns dos próprios moradores. Já disposta a desvencilhar-me de medos, também pratiquei algumas perambulações sozinha, para livrar-me de qualquer pré-conceito ou deixar-me contaminar por percepções de outras pessoas. Quando penso nesse recorte de cidade que utilizo e frequento, não consigo desconectar, por exemplo, Veleiros do Jardim Suzana, e por mais que eu quisesse eu realmente não conseguiria, justamente pelas relações e pelos laços estabelecidos: o que há entre um bairro e outro, o que há entre o lugar e o indivíduo. Não há uma delimitação geográfica, muito menos uma barreira visível, física. Eu sei quando estou dentro de Veleiros, sei quando estou no Jardim Suzana, sei quando estou na Vila Friburgo, mas não percebo os limites pela fluidez que há ao percorrer as ruas.
Me perco facilmente, com a mesma rapidez 73
que me encontro dentro deste recorte: entro em uma rua na Vila Friburgo e, quando me dou conta, já sinto que estou em Veleiros. Essas sensações permitiram com que eu pudesse descobrir um “novo” território dentro do bairro. Por achar que já conhecia o bairro, pensei que não teria curiosidade ou que determinados lugares não me despertassem interesse, medo, conforto ou qualquer outra sensação. Ao contrário do que imaginava, descobri mais coisas interessantes que imaginava a respeito do próprio lugar. Pequenas astúcias praticadas no dia-a-dia, o espaço como suporte para relações cotidianas e, principalmente, como suporte para ações lentas, fora de um circuito caótico. A princípio, imaginei encontrar um bairro com uma vida urbana extremamente ativa, com diversas pessoas na rua. Ao olhar para o mapa, pensar na morfologia urbana ali existente, já tive outra percepção: talvez aquele lugar não fosse tão animado quanto eu esperava, talvez até “morto”, por ser em grande parte composto por residências e pela presença das indústrias, mas sem qualquer movimentação comunitária, ou relação da própria comunidade com o local. Me surpreendi ao percorrer o local, descobrindo diversas dinâmicas pelo espaço, diferente daquilo que esperava a partir de pré-concepções sobre o próprio lugar. Busquei mapear características físicas da região, bem como colocar em mapas as percepções que tive ao caminhar pelas ruas e locais que meu corpo me guiou até lá por mais vezes. Fiz uma série de registros fotográficos e desenhos a partir das impressões que tive. Em alguns locais em específico decidi não tirar fotos, pois poderia criar um certo desconforto para os moradores e transeuntes, ou não era o local apropriado para fotografias, por conta de seu uso. Os registros ficam como uma memória daquilo que acontece em cada lugar. Segundo Jacques (2008), a experiência corporal da cidade é um tipo de micro-resistência à espetacularização das cidades contemporâneas e também uma forma de ler o espaço subjetivamente. Para isso, fiz diversas perambulações pelo perímetro de estudo (além dos percursos que já 74
faço normalmente de carro, transporte público ou mesmo a pé), que resultaram nas chamadas corpografias urbanas, como citado no capítulo sobre o método etnográfico (ver capítulo 3), expressas através do registro fotográfico e dos mapas a seguir.
MAPEAMENTO MEIO FÍSICO
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Topografia Áreas verdes e hidrografia Cheios e vazios
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Rua Eugênio Bartolomai
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Avenida Atlântica
TOPOGRAFIA (DECLIVIDADE)
Cotas de nível (Metros acima do nível do mar) 785
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Avenida Rio Bonito
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6 5
13
4 15
Rua Eugênio Bartolomai
1. Praça Israel 2. Praça Nicolau Aranha Pacheco 3. Praça Domingos Borges; Praça José J. Rodrigues; Praça Pedro Caetano Valente 4. Praça sem nome 5. Praça João Pedro da Luz 6. Praça sem nome 7. Praça Ramiro Cabral da Silva 8. Praça José Gomes da Silva Neto 9. Eixo verde Avenida dos Lagos 10. Praça Élida Fontanesi Glagliardi; Praça dos Escoteiros Almirante Tamandaré 11. Praça Antônia Pereira de Almeida Morais 12. Praça Lisboa 13. Praça Aníbal Figueiredo de Albuquerque 14. Praça Berlim 15. Praça Marcelo Costa Tavares; Praça Sebastiana Conceição 16. Praça Dr. Paulo Chocrane Suplicy
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B.
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12 11 3
14
10
16
2
Córrego Ipazury
1
Avenida Atlântica
Córrego sem identificação
CHEIOS E VAZIOS, HIDROGRAFIA E ÁREAS VERDES
[PRAÇA 8]
[PRAÇA 7]
[PRAÇA 3]
[PRAÇA 4]
[PRAÇA 3]
[PRAÇA 2]
[PRAÇA 2] [FIGURAS 41 A 54] Praças e áreas verdes; Número das fotos corresponde ao mapa. Fotos da autora, 2016.
78
[PRAÇA 3]
[PRAÇA 13]
[PRAÇA 9]
[PRAÇA 10]
79
[PRAÇA 15]
[PRAÇA 11]
80
MAPEAMENTO USOS DO TERRITÓRIO [PARA ALÉM DA HABITAÇÃO]
[PRAÇA 3]
81
Equipamentos públicos, feiras, espaços comunitários, escolas
Escolas públicas e privadas (ensino fundamental e médio) Posto de saúde/Unidade básica de saúde
io
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13
10
Silv a Sa
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12
11
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Biblioteca pública/ Telecentro
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Clubes de comunidade e academias
7 1
15
2 14
9
4
Avenida Atlântica
Rua Eugênio Bartolomai
3
EQUIPAMENTOS PÚBLICOS E ESCOLAS
8
6 5
1. Instituto Social Nossa Senhora de Fátima 2. EMEF Heitor de Andrade 3. EMEI Clara Nunes 4. CEI Diret. Veleiros 5. Colégio e Teatro Humboldt 6. EE Professor José Geraldo de Lima 7. Colégio Pequeno Castelo 8. Colégio Brasil Jovem 9. CEI Ayrton Senna 10. EMEI Viriato Correia; EMEF Plácido de Castro 11. Colégio Alcance 12. Colégio Dimensão 13. Colégio Piemonte 14. UBS Veleiros 15. Biblioteca Pública Malba Tahan
Av.
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Feiras livres
11
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12
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Av.
Ant
1 9 8
3
5 1. Feira de sábado (Veleiros/Vila Friburgo) 2. Feira de terça-feira (Veleiros) 3. Feira de domingo (Jardim Suzana) 4. Feira de quarta-feira (Vila Friburgo) 5. CDC Veleiros 6. CDC Jardim Suzana 7. CDC Vila Friburgo 8. Escola de Futebol São Paulo; Filipina Escola de Natação 9. Estúdio de dança Adriana Soares 10. Academia Smart Fit 11. Academia Cristal Water 12. Academia Guri Jiu-Jitsu
10
Rua Eugênio Bartolomai
6
2 Avenida Atlântica
CLUBES DE COMUNIDADE, FEIRAS E ÁREAS DE LAZER E ESPORTES
[ESCOLA 10]
[FEIRA 1]
[CDC 7]
[CDC 7]
[ESCOLA 6]
[ESCOLA 7]
[FEIRA 1]
[BIBLIOTECA 15] 84
[FIGURAS 54 A 70] Feiras, escolas, clubes e demais equipamentos; Número das fotos corresponde ao mapa. Fotos da autora, 2016.
[FEIRA 1]
[CDC 6]
[FEIRA 1]
[FEIRA 3]
[FEIRA 3] 85
[FEIRA 1]
[FEIRA 1]
86
[PRAÇA 2: MORANGUEIRO]
MAPEAMENTO FLUXOS, AGLOMERAÇÕES E FRONTEIRAS [FIGURA 71] Caminhada de domingo. Fotos da autora, 2016.
87
Principais fluxos, acessos e passagens Fronteiras entre bairros: transição entre um bairro e outro Aglomerações e maior uso pelas pessoas
Principais avenidas e maior fluxo
Avenida Rio Bonito
CIDADE DUTRA
Ruas e avenidas de conexão/ entrada nos bairros
San
dov
al
Ruas e avenidas de conexão/ passagem entre bairros secundárias
Silv a
Principais acessos/entradas nos bairros
ôni oB . da
Acessos bloqueados para veículos
Ant
Vielas/passagens
Av.
Fronteiras: quadras de transição entre bairros
Rua Eugênio Bartolomai
1. Av. Inácio Cunha Leme 2. R. Dr. Luís Arrobas Martins 3. R. Maria Aparecida Cardia/R. Antônio Mariano 4. Av. Berna 5. Av. Ipanema 6. Av. Coronel Octaviano Freitas 7. Av. Leblon 8. R. Leonardo de Fássio
SANTO AMARO/ GUARAPIRANGA
Avenida Atlântica CIDADE DUTRA
FLUXOS, ACESSOS E FRONTEIRAS
Esse mapa representa os locais onde as pessoas mais usam e onde elas mais frequentam no bairro, pelo que pude perceber a partir das caminhadas.
Avenida Rio Bonito
Rua Eugênio Bartolomai
Av.
Ant
ôni oB . da
Silv a
San
dov
al
As manchas vermelhas representam a quantidade de pessoas na rua e o uso daquele local: quanto maior a mancha vermelha, maior o uso daquele local e maior a quantidade de pessoas na rua. As manchas mais finas representam o fluxo local, mais voltado à passagem ou à quem mora/trabalha na rua indicada.
Avenida Atlântica
AGLOMERAÇÕES E MAIOR USO PELAS PESSOAS
[FIGURA 72] Descida da Av. Antonio B. da Silva S. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 74] Calçadão da Padaria Nova Susy. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 76] Calçadão da Padaria Nova Susy. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 75] Sábado à tarde, visitando a família. Foto de Aline Barros, 2016.
[FIGURA 73] Bar do Oscar. Foto de Aline Barros, 2016.
90
[FIGURA 77] Centrinho comercial em Veleiros. Foto da autora, 2016.
[FIGURAS 78 A 80] InĂcio das fronteiras entre Vila Friburgo e Veleiros. Fotos da autora, 2016.
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[FIGURA 81] Bar do João, Vila Friburgo, chegando perto de Veleiros. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 83] Fumódromo do bar do João. Foto da autora, 2016.
92
[FIGURA 82] No centrinho comercial do Jardim Suzana. Foto da autora, 2016.
[FIGURA 84] Descendo da Vila Friburgo para o Jd. Suzana. Foto de Aline Barros, 2016.
MAPEAMENTO PERCEPÇÕES
[FIGURA 85] Na banca de Jornal, Jardim Suzana. Foto da autora, 2016.
93
Onde meus pés me levaram Sensações e percepões sobre o território
ndo v al a Sa Silv da osa
Rua Eugênio Bartolomai
Av.
Ant
As manchas brancas representam os lugares pelos quais mais caminhei: quanto mais branca a mancha, mais vezes cheguei à esses pontos durante as caminhadas.
Avenida Rio Bonito
ôni oB arb
Esse mapa representa a incidência do corpo na cidade durante as caminhadas. As caminhadas foram feitas em diferentes dias e, como me deixei levar pelos lugares e ruas que me chamavam a atenção, cheguei nos mesmos pontos algumas vezes. Procurei caminhar por todas as ruas dentro do recorte estabelecido, mas cair num mesmo lugar era inevitável muitas vezes.
Avenida Atlântica
ONDE MEUS PÉS ME LEVARAM
Característica #1: Centralidade da área, mais pessoas na rua que carros, diversidade, presença de equipamentos públicos, escolas, praças, pontos de encontro, lazer diurno e noturno, caminhos a pé, feiras, movimento, serviços locais, residências médio padrão, eixo comercial
Avenida Rio Bonito
Característica #2: Centralidade do bairro, pessoas e carros na rua, presença de equipamentos públicos, escolas, praças, pontos de encontro, lazer diurno, caminhos a pé, feiras, serviços locais, residências médio-baixo padrão, eixo comercial Característica #3: Fluxo do bairro, área mista, movimentação pontual, pessoas e carros na rua, serviços locais, bares e academias, residências médio-baixo padrão, praças, passagem
an do
val
Característica #4: Miolo de bairro, predominantemente residencial médio-baixo padrão, tranquilo, muros e cercas médias, vazio à noite, fluxo local de pessoas e carros, lotes pequenos, quadras irregulares
B.
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Silv aS
Característica #5: Miolo de bairro, predominantemente residencial médio-alto padrão, tranquilo, muros e cercas altas, câmeras, insegurança, vazio, fluxo local de pessoas e carros, passagem, lotes grandes, quadras regulares, mais arborizado
Av
.A
ntô
nio
Característica #6: Áreas industriais/lotes privados, ruas vazias, lotes grandes, quadras grandes, insegurança, muros e cercas altas, quadras irregulares, passagem, fluxo de carros
Barreiras para o corpo: linhas mais grossas representam barreiras físicas e/ou sensoriais, onde percebi que as características do lugar mudavam bruscamente. “Daqui pra cá é uma coisa, daqui pra lá é outra.”
Rua Eugênio Bartolomai
Característica #7: Borda de avenida, galpões, mecânicas, serviços de maior porte, mercados, atacadistas, agências de carro, grande fluxo de carros e ônibus, degradado
Avenida Atlântica
PERCEPÇÕES E SENSAÇÕES SOBRE O TERRITÓRIO
[FIGURAS 86 A 91] Fotos de Veleiros em sequência linear. Foto da autora, 2016.
[FIGURAS 92 A 97] Fotos da Vila Friburgo em sequência linear. Foto da autora, 2016.
[FIGURAS 98 A 103] Fotos do Jardim Suzana em sequência linear. Foto da autora, 2016.
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Educação, esportes, lazer e ócio Agora, estamos descobrindo que, nas cidades, o tempo que comanda, ou vai comandar, é o tempo dos homens lentos. (...) quem, na cidade, tem mobilidade - e pode percorrê-la e esquadrinhá-la - e acaba por ver pouco, da cidade e do mundo. sua comunhão com as imagens, frequentemente pré-fabricadas, é a sua perdição. Seu conforto, que não desejam perder, vem, exatamente, do convívio com essas imagens. Os homens ‘lentos’, para quem tais imagens são miragens, não podem, por muito tempo, estar em fase com esse imaginário perverso e acabam descobrindo as fabulações. (SANTOS, 1996 apud JACQUES, 2012, p. 272)
A questão do espaço sempre esteve presente em nossas atividades. Não como resultado de um desenho arquitetônico, mas como é organizado, distribuído e direcionado pelo proprietário e como o espaço é apropriado ou não pelos usuários finais (LIMA, 1989, p.9). Todos os elementos que fazem do espaço o que ele é fazem com que esse espaço tenha uma essência, um espírito, o que Christian Norberg-Schulz chama de genius loci. O espaço é, em sua concepção, a totalidade intuitiva tridimensional da experiência cotidiana, que abre espaço para intervenções, apropriações e para que as relações humanas ali aconteçam. Entende-se o espaço - independente de sua escala, seja uma casa, uma praça ou um bairro - como um sistema de relações, que formam os lugares. Ou seja, o lugar é o espaço ocupado, habitado, no sentido de que o espaço ganha um novo significado e valor em razão da presença do homem, seja para acomodá-lo fisicamente - um lar, seja para servir como 101
palco de suas atividades (REIS-ALVES, 2007). Os lugares possuem caráteres e atmosferas, constituídas por materialidade e forma que delimitam suas fronteiras (“onde o lugar se começa a fazer presente”), aspectos espaciais e característicos, criando o ambiente. Para realizar as propostas de intervenção, identifiquei, ao caminhar pelos bairros que estão inseridos neste recorte, locais onde existe a apropriação das pessoas em determinado espaço, seja este espaço uma rua, um lote ou uma praça. Apesar da leitura em uma escala maior, determinados locais me chamaram mais a atenção. Percebi a existência de diversos clubes de comunidade, academias e escolas de futebol e natação em uma pequena área comparado com outras regiões da cidade, o que já me chamou a atenção para um possível caráter da região. Além disso, o recorte de estudo está numa das bordas da Represa do Guarapiranga, local que por natureza já possui diversas atividades ligadas à esportes e ao lazer - notada a presença da antiga Casa de Barcos Santa Paula e o próprio Clube Santa Paula, São Paulo Yacht Club e o Clube Atlético São Paulo - onde os moradores de cada bairro podem usufruir dessa condição particular. O potencial do local fica cada vez mais nítido, uma vez que a topografia e os principais eixos percebidos na região levam à Represa do Guarapiranga, tanto pelas condições físicas quanto pelos usos já existentes no local. Os aspectos físicos - proximidade com a represa do Guarapiranga, arborização, áreas verdes e a própria topografia, que leva à represa - e os usos que as pessoas dão ao lugar já remetem a uma área mais voltada ao lazer e ao ócio, usos que deixamos esquecidos conforme a cidade e a sociedade se desenvolveu. Identificado esse caráter, esse genius loci, me concentro em pensar maneiras de como e onde agir neste espaço. A organização e a distribuição dos espaços, a limitação dos movimentos, a nebulosidade das informações visuais e até mesmo a falta de conforto ambiental estavam e estão voltadas para a produção de adultos domesticados, obedientes e disciplinados - se possível, limpos -, destituídos de vontade própria e temerosos de indagações. (LIMA, 1989, p. 10)
Ao pensar em espaços de lazer e ócio em espaços comunitários e públicos, penso, principalmente, em ambientes onde as pessoas possam utilizar o espaço de diferentes formas, em um desenho do espaço que permita isso. A segunda questão que penso é em como unir, num só espaço, atividades e elementos que possam receber pessoas de todas as idades, pensando nos diferentes tipos de percepção e uso que cada um confere ao lugar.
102
O espaço urbano por muitas vezes não tem elementos que possam trazer possibilidades de leitura e apropriação por parte dos usuários, sendo um fator importante para se ensar espaços de lazer: o corpo se movimenta, ocupa, age no espaço; pula, brinca, sobe, desce, cai, escala, gira, balança. As relações são estabelecidas num espaço físico, seja com pessoas ou com o mundo e o espaço é a moldura, o pano de fundo, no qual as sensações se revelam e produzem marcas, em qualquer etapa da vida (LIMA, 1989). Nas palavras de Mayumi: “as casas, os caminhos, as cidades são espaços da criança que transcendem as suas diensões físicas e se transformam nos entes e locais de alegria, de medo, de segurança, de curiosidade, de descoberta” (LIMA, 1989, p. 14). Levando em consideração esses elementos, chego em lugares onde acredito que seja interessante pensar o espaço, qualificá-lo ou potencializar seu uso a partir de intervenções que conversem com a necessidade real da população.
103
Das explorações urbanas à intervenção Segundo Jacobs (2010), um dos maiores trunfos da cidade, se não o maior, é formar comunidades com interesses comuns. Por outro lado, um dos trunfos necessários aos distritos urbanos é contar com pessoas que tenham acesso a grupos com força políticoadministrativa e de interesse comum, tanto da região quanto da cidade como um todo. Isso fortalece a autogestão comunitária e das ruas, onde a vizinhança pode atuar com mais propriedade, mesmo em coisas básicas, como tecer redes de vigilância pública, protegendo a todos que passam pelas ruas (moradores ou estranhos), formar aos poucos uma rede em escala reduzida na vida cotidiana dos habitantes locais e, como consequência, redes de confiança e controle social. Dessa forma, propicia a integração das crianças a uma vida urbana razoavelmente responsável e tolerante. E mesmo que exista a autogestão e a questão da escala local, nas palavras de Jacobs: As vizinhanças têm ainda outra atribuição vital na autogestão. Devem ter meios efetivos de pedir auxílio diante de um problema de grandes proporções que a própria rua não consiga resolver. Às vezes, esse auxílio precisa vir da cidade como um todo, na outra ponta da escala. (...) Todas as atribuições da autogestão das ruas são modestas mas indispensáveis. Apesar das várias experiências, planejadas ou não, não há o que substitua as ruas vivas. (JACOBS, 2010, p. 131)
Durante as caminhadas, percebi que, no geral, o espaço público tem uso (em alguns lugares mais, 105
outros menos), tem potencial mas não tem um desenho convidativo, ou simplesmente não tem desenho. Outro ponto que me chamou a atenção foi a proximidade entre os equipamentos, praças e locais de encontro, cada bairro com seu “centro” mais específico. O projeto, ou a intervenção no espaço, começou juntamente com as perambulações e caminhadas pelos bairros. A partir do momento que insiro meu corpo na cidade, começo a agir no espaço, criar memórias e impressões sobre o local. Mas, para propor um desenho de espaço propriamente dito, me aproprio dos conceitos de Cidades Educadoras e do Território CEU, que serão explicados logo em seguida. Com base nesses conceitos, ligados à minha percepção do espaço, segui esta linha de raciocínio para chegar num ponto de intervenção: - a escala macro: uma escala mais ampla de leitura e reconhecimento do território, busquei interpretar esse trecho de cidade a partir da minha experiência corporal e compreender os bairros, as fronteiras, transições e barreiras. Analisando cada bairro de uma forma mais geral, ampla, considero os pontos mais relevantes (de forma subjetiva) de cada bairro, as características mais fortes, as tipologias mais presentes. - a escala meso: após o reconhecimento do local, encontrei em um local específico um circuito interessante, com equipamentos próximos e uso do espaço público. Neste local, estabeleço um recorte que considero ser a centralidade, abraçando os espaços de maior interesse e definindo diretrizes como melhoria da infraestrutura dos equipamentos, intervenção espacial, redesenho e (re)planejamento do local, do viário, etc., com croquis e esquemas do que considerei ser interessante intervir para potencializar o uso do lugar. - a escala micro: a partir das diretrizes estabelecidas, escolho uma diretriz para desenvolver como desenho. Essa intervenção conta com as necessidades reais do próprio local e naquilo que acredito que pode potencializar o uso do espaço, inspirado nos projetos de referência (que serão apresentados ao longo deste capítulo) que utilizam estruturas e desenhos simples e exequíveis.
106
107
A escala macro: Vila Friburgo, Veleiros e Jardim Suzana Os bairros possuem caráteres distintos, tanto na morfologia urbana, quanto da relação da população com o espaço urbano. Produzi este pequeno mapa como uma forma de análise geral dos bairros. De forma geral, eu compreendo o local pela caracterização de três bairros - por mais que existam mais bairros ali, como Jardim Paquetá, Jardim Santa Helena, Jardim Ipanema, etc. O bairro muitas vezes é delimitado por características mais subjetivas que objetivas, extrapolando os limites geográficos. São três diferentes caráteres que percebo em cada um desses bairros, principalmente sobre sua dinâmica diária. - Vila Friburgo: bairro que possui pequenas indústrias e galpões, pequenas residências (médio-baixo padrão), quadras mais extensas, fica entre Jardim Suzana e Veleiros. As ruas são mais vazias, a sensação de insegurança é maior, mas há um intenso uso das ruas em dois pontos em específico no bairro: no CDC Vila Friburgo e na padaria Mamma Xica, que estão próximas à três escolas (duas públicas e uma particular, respectivamente: EMEF Plácido de Castro, EMEI Viriato Correia e Colégio Alcance) e em frente à padaria Bandeirantes IV, ao Bigatto Espetinhos e a Limit Academia. (ver mapas do capítulo 6) - Veleiros: ocupado anteriormente por residências de médio-alto padrão, como o próprio nome do bairro diz, o caráter desse bairro era essencialmente de lazer. Muitas pessoas iam velejar na represa e tinham casas de veraneio e chácaras ali. Por conta da urbanização e do parcelamento do solo, os lotes são menores hoje em dia. As quadras são menores se comparadas às quadras da Vila Friburgo, são mais extensas e estreitas. Já existem mais escolas, comércios e serviços distribuídos na região - tanto comércios locais quanto informais. Dentro da área de leitura, é neste bairro onde está a UBS utilizada pela população local - UBS Veleiros - sendo um local de encontro, mesmo que não seja comunitário necessariamente. Porém, na mesma quadra da UBS, existem duas escolas (EMEF Heitor de Andrade e EMEI Clara Nunes), o que anima consideravelmente o local. (ver mapas do capítulo 6) - Jardim Suzana: ocupado por residências de médio padrão e diversos 108
comércios e serviços locais, o bairro se encontra em um dos principais eixos - Avenida Inácio Cunha Leme e Rua Leonardo de Fássio - que levam à Represa do Guarapiranga. A região possui uma concentração interessante de equipamentos públicos, praças e caminhos. Parte do bairro, antigamente, era constituída por grandes chácaras, o que faz com que a morfologia urbana desse trecho seja irregular em alguns pontos, pois não segue um padrão de parcelamento do solo. O bairro conta com lazer noturno (bares) e com o Clube de Comunidade Jardim Suzana, que oferece diversas atividades para a população local em distâncias caminháveis. (ver mapas do capítulo 6) Destes bairros, o local de interesse está inserido na região que compreendo por Jardim Suzana: bairro que percebi maior movimentação e ação da população no local, maior concentração dos equipamentos e espaços públicos de maior uso e a possibilidade de aplicar o conceito de Cidade Educadora - movimento que São Paulo integra e, após pesquisas, faz completo sentido utilizar nesta área da cidade.
109
[REFERÊNCIA CONCEITUAL] CIDADES EDUCADORAS As cidades educadoras começaram como um movimento, e a partir do I Congresso Internacional de Cidades Educadoras em Barcelona (1990), cidades representadas por seus governos locais se reuniram para pactuar o objetivo comum de trabalhar juntas em projetos e atividades para melhorar a qualidade de vida os habitantes, a partir da sua participação ativa na utilização e evolução da própria cidade. Em 1994, o movimento foi formalizado como o III Congresso Internacional em Bolonha. O conceito que move uma cidade educadora é planejar e desenhar a cidade de forma que integre a oferta de atividades sociais e culturais para potencializar o caráter educativo da cidade, formal e informalmente. Dessa forma, deve-se encontrar alternativas para integração dessas atividades e expandir pelo território, promovendo um equilíbrio entre identidade e diversidade - elementos inerentes às cidades contemporâneas. Os princípios das cidades educadoras são baseados em aprender na cidade, com a cidade e com as pessoas e valorizar o aprendizado vivencial. Com isso, as cidades educadoras preveem (ou deveriam prever) projetos e atividades para melhorar a qualidade de vida dos habitantes, a partir de sua participação ativa na utilização e evolução do local e da própria cidade. A cidade por si só já é educativa através de diversos meios (as vezes educa, as vezes “deseduca”), mas ela se torna educadora quando assume a intenção consciente de que as propostas voltadas ao planejamento e desenho do espaço urbano possuem consequências e a convivência no espaço urbano gera novos valores, habilidades e conhecimentos. (Fontes: cidadeseducadorasbrasil.net / edcities.org / portal.mec.gov.br)
110
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A escala meso: Avenida Inácio Cunha Leme e entorno Ao caminhar pelo bairro, notei a presença de diversos clubes de comunidade em um pequeno perímetro. A Avenida Inácio Cunha Leme é o principal eixo do bairro, sendo o eixo de caráter comercial e de lazer, o que configura a centralidade do Jardim Suzana. É em seu entorno onde estão os principais equipamentos do bairro, o que facilita a interligação entre os equipamentos e a mobilidade a pé, para quem mora no bairro. Quem o visita para consumir algo, também pode estacionar o carro e caminhar por ali. É neste trecho onde existem diversas praças com uso, duas escolas públicas (CEI Ayrton Senna da Silva e EMEF José Geraldo de Lima), a Biblioteca Pública Malba Tahan e o Clube de Comunidade Jardim Suzana. Foi pensada a possibilidade de planejar um Território CEU na região, mas já existe o equipamento CEU Cidade Dutra (ver figura xx), que fica próximo ao recorte de estudo, mas não próximo o suficiente para conectar os equipamentos dos bairros ao CEU Cidade Dutra. Além disso, há o bairro de Interlagos, que se encontra entre o Jardim Suzana e a Cidade Dutra, que se configura como uma barreira física pelas sus características: residencial médio-alto padrão, lotes e quadras muito maiores que os do Jardim Suzana, além de ser um bairro tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico). Por curiosidade, o bairro de Interlagos foi tombado por conta de seu valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico do bairro. O bairro foi criado e projeto no início do século XX pelo engenheiro Louis Romero Sanson e pelo urbanista francês Alfred Agache. O objetivo era fazer do local uma cidade-satélite de São Paulo, que contava com loteamento de alto padrão, loteamento popular (que se transformou no bairro Cidade Dutra), um centro comercial, um hotel de luxo e uma “praia” à beira da Represa do Guarapiranga. O tombamento proíbe a alteração da largura das calçadas sem o consentimento do Conpresp, exige que todos os terrenos tenham mais de 7 metros de fachada e uma árvore na calçada, em frente ao imóvel - imóvel este que não pode passar de 10 metros de altura. O bairro já era considerado patrimônio ambiental desde 1989, por meio de um decreto estadual. Ao mesmo tempo que esse caráter da região de Interlagos reforce o genius loci 112
do lazer e ócio, as restrições e seu uso fazem com que a ação no espaço se restrinja ao Jardim Suzana, que possui um caráter completamente diferente de seu bairro vizinho. Os mapas a seguir mostram a linha de raciocínio da escala macro à escala meso, com a referência do que foi planejado para Território CEU Grajaú.
[REFERÊNCIA CONCEITUAL] TERRITÓRIO CEU O conceito de Território CEU é produto de uma reflexão de diversas teses sobre educação no Brasil. Os CEUs (Centros Educacionais Unificados) foram implantados em São Paulo pela primeira vez em 2002, pensados como espaços de integração entre programas educacionais. Nos CEUs, são ofertadas diversas atividades que vão além do ensino fundamental e médio, como aulas de violão, dança, esportes e atividades aquáticas, entre outros. Desde então, esses equipamentos consolidaram-se como referência de articulação de políticas públicas no território, tendo 45 CEUs implantados e em funcionamento na cidade de São Paulo. Na atual gestão (Gestão Haddad 2013-16), um dos objetivos é implantar novas 20 unidades, que serão integradas com os equipamentos públicos existentes no entorno, o que configura os chamados Territórios CEU. Os novos CEUs ampliam o conceito original de integração entre programas educacionais, ao possibilitar a integração com outros equipamentos públicos do bairro. Esta integração visa garantir o acesso seguro da população, especialmente das crianças e adolescentes, ao espaço da cidade, consolidando São Paulo como uma Cidade Educadora. O Território CEU se realizará enquanto território vivo, múltiplo e vibrante, a partir do reconhecimento das forças e fluxos culturais locais. Para tanto, foram iniciadas diversas atividades – debates e oficinas – para construir a leitura e o projeto compartilhados do Território. (Fonte: Texto adaptado de gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/rede-deequipamentos/territorios-ceu/)
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Área estudada
Interlagos
CEU Cidade Dutra
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[FIGURA 104] Vista aérea: área estudada x CEU Cidade Dutra (Fonte: Google Earth)
Caminhos potenciais/a serem potencializados/de integração
[FIGURA 105] Planejamento e localização do Território CEU Grajaú. (Fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov. br/territorio-ceu-grajau/) [FIGURA 106] Vista aérea do futuro Território CEU Grajaú, num terreno de um CDC (Fonte: gestaourbana. prefeitura.sp.gov.br/territorioceu-grajau/)
ÁREAS EM POTENCIAL ESCALA MACRO
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Características mais fortes de cada bairro Demarcação de áreas em potencial e possíveis caminhos para integração entre equipamentos
As diretrizes de intervenção são: - melhorar ligação entre as praças existentes com a calçada a partir do desenho de piso: dessa forma, pode-se criar caminhos - nem sempre de forma explícita entre os espaços de uso público; - melhorar sinalização e segurança viária nos cruzamentos destacados: por conta do local ser uma centralidade, há maior movimentação de carros, ao mesmo tempo que temos a presença de escolas no local. Em alguns cruzamentos, é necessário que tenham faixas de pedestres mais generosas considerando o fluxo de pessoas; - melhorar, com elementos simples (cores, plantas, pequenos ajustes físicos), os acessos/entradas das escolas (CEI Ayrton Senna e EE Professor José Geraldo de Lima), garantindo que seja uma calçada mais amigável às crianças, jovens e à todos estudantes; - iluminar vielas e inserir mobiliários (bancos) para animar as passagens e tornálas mais convidativas ao passeio; - melhorar com elementos simples (cores, plantas, pequenos ajustes físicos, bancos), a entrada/acesso da Biblioteca Pública Malba Tahan, de forma a criar, em sua entrada, um espaço semi-público, uma espécie de acolhimento na calçada; - melhorar e ampliar a infraestrutura existente do Clube de Comunidade e sua relação com a rua, tendo em vista o uso da rua pelas pessoas e do potencial reconhecido no lugares. Escolas
Ruas sem saída
Biblioteca
Local escolhido
Praça Academia Clube de comunidade
Locais de interesse Potencial de expansão/influência
Cruzamentos a serem redesenhados/ planejados Caminhos potenciais/a serem potencializados
DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO ESCALA MESO Fragilidades e potencialidades Diretrizes de redesenho e intervenção dos espaços Indicação do local escolhido para desenvolvimento de desenho
[FIGURAS 107 A 109] À direita, de cima para baixo: Fachada da escola EE Professor José Geraldo de Lima, fachada da Biblioteca Malba Tahan, e da viela entre as Ruas Madagascar e Rua João Teizen Sobrinho. À esquerda: croquis de possíveis intervenções nestes locais de acordo com as diretrizes. Fotos e croquis da autora, 2016. 118
[FIGURA 110] Acima: Rua Madagascar/CDC Jardim Suzana. Ao lado: croquis de possíveis intervenções neste local de acordo com as diretrizes. Fotos e croquis da autora, 2016.
Dentre as diretrizes estabelecidas, escolhi uma delas para desenvolver como produto final deste trabalho: o Clube de Comunidade Jardim Suzana. Uma questão de grande importância para a escolha de um clube de comunidade (CDC) como local de atuação é por ser uma iniciativa "bottomup", legalmente constituídos em forma de associação comunitária ou eleitos pela própria população do bairro. Um espaço construído e mantido pelos moradores, feito da comunidade e para a comunidade. 119
[FIGURA 111] Num sรกbado de sol, na pista Suicida Park, CDC Jardim Suzana. Foto da autora, 2016. 120
A escala micro: Clube de Comunidade Jardim Suzana Mas, na maioria das vezes, o projeto de cidade foi apresentado pelos próprios urbanistas como o produto de uma cultura, de intenções e saberes que não podiam remeter a imediatamente apenas a um autor específico, mas sim a sujeitos coletivos, aliás, vagamente identificáveis. (...) Para construir, modificar e transformar a cidade, a multidão anônima é frequentemente uma protagonista tão importante quanto os grandes autores. (SECCHI, 2006, p.46)
No CDC Jardim Suzana, encontrei a oportunidade para transformar em desenho o que pude compreender do conceito e dos princípios das cidades educadoras, tirando proveito do que já existe no local, tanto as dinâmicas cotidianas, quanto o uso e as infraestruturas do local. Apesar de existirem diversos clubes na região e diversos pontos a serem analisados e redesenhados a partir das diretrizes definidas, o CDC Jardim Suzana (localizado na Rua Madagascar, esquina com a Rua Leonardo de Fássio) se mostrou ser um dos principais pontos de encontro por ter uma infraestrutura especial, não encontrada em outro lugar do bairro: uma pista de skate - infraestrutura que atrai pessoas do bairro e de fora do bairro. Diferente dos outros clubes de comunidade vistos no perímetro, somente o CDC Jardim Suzana oferece outras atividades além do futebol: skate, ping pong, tai chi chuan, jiu-jitsu e tênis.
[FIGURA 112] Vista aérea do CDC (Fonte: Google Earth)
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[FIGURA 113] Movimentação da rua Madagascar durante o dia, em final de semana. Foto da autora, 2016.
[FIGURAS 115 E 116] Treino de jiu-jitsu, novembro de 2014. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana) 122
[FIGURA 114] Movimentação da rua Madagascar durante a noite, em dia de semana. Foto da autora, 2016.
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[FIGURAS 117, 118 E 119] Jogo de futebol à noite, durante semana, uso da área livre durante o dia e uso do salão com churrasqueira. Foto da autora, 2016.
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[FIGURAS 120 E 121] Treino de tĂŞnis, no final de semana e vista do quiosque, que fica ao lado da quadra. Foto da autora, 2016.
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Atualmente, o clube ampliou a pista de skate (batizada de Suicida Park): antes, era somente um half, e aumentou para duas pistas, inspiradas nas pistas tradicionais da Califórnia (EUA), de onde originou-se a cultura do skate. A pista estava prevista para ser inaugurada dia 7 de setembro de 2016, mas sua inauguração foi adiada devido a alguns ajustes a fazer na pista. A construção foi feita pela própria comunidade, onde o CDC entrou com a verba arrecadada e os usuários e diretoria ajudaram com mão-de-obra.
[FIGURAS 122 E 123] Pista de skate antigamente, 2012. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana)
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[FIGURAS 124, 125 E 126] Reforma/ampliação da pista, 2016. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana)
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[FIGURAS 127 E 128] Uso da pista de skate, final de semana. Foto da autora, 2016.
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Na mesma área da pista, há o playground para as crianças, junto com bancos e mesas, configurando uma área de estar semi-pública. É bastante utilizada pelas crianças antes e depois do horário da escolinha de futebol. [FIGURA 129] Treino de futebol infantil, 2012. (Fonte: Reprodução/Facebook CDC Jardim Suzana)
[FIGURA 130] Uso do playground pelas crianças. Foto da autora, 2016.
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[FIGURAS 131 A 134] Fotos do Dia das Crianças (2012) e Dia da Costela (2015). (Fonte: Reprodução/Facebook CDC Jardim Suzana)
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O CDC também promove também uma série de festas e eventos que reúnem a população, como festas típicas (festa junina, dia das crianças, halloween, entre outros), churrascos de comemoração e ações sociais.
Além do programa oferecido, o clube possui uma condição urbana única: seu terreno é dividido por uma rua. O CDC Jardim Suzana foi fundado em 30 de agosto de 1982, iniciado pela Associação de Amigos do Jardim Suzana e construído em seu próprio terreno, numa porção de terra da Capela do Socorro próxima a represa, onde ainda não havia arruamento nem parcelamento do solo. Em 1994, o Clube foi oficialmente consolidado, com a nomenclatura CDM (Clube Desportivo Municipal). Na Gestão Marta (PT), os CDMs tiveram alteração de nomenclatura, sendo chamados de CDCs (clubes de comunidade).
[FIGURA 135] Mapa GEGRAN da região em 1981. Na época, a rua Madagascar estava em processo de consolidação/asfaltamento. (Fonte: EMPLASA)
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Os Clubes de Comunidade são uma iniciativa da Prefeitura, que começou nos anos 60, para incentivar a criação de clubes comunitários nas periferias, como forma de levar o lazer e o esporte para as regiões mais afastadas do centro e fortalecer o senso de comunidade na região, sem qualquer finalidade lucrativa. Os Clubes eram, inicialmente, destinados a lazer, cultura e esportes, com gestão comunitária. Atualmente, com a ampliação do conceito de Território CEU, foram inclusas também as atividades sócio-culturais como parte do programa oferecido dos CDCs. Conversando com o atual diretor do CDC, Marcos, já existe uma ideia de expansão e melhoria do espaço físico do clube levando em consideração que, por conta do Território CEU, o CDC pretende abrigar novas atividades. As necessidades são: - Ampliação da área administrativa; - Criação de um novo salão (um segundo pavimento) para abrigar as novas atividades previstas, ex. dança; - Ampliação, melhoria ou criação de um novo vestiário (por conta da adição de mais um salão); - Criação de um deck na área da pista de skate para abrigar mais pessoas; - Criação/delimitação de espaço para academia ao ar livre (equipamentos já foram comprados), - Criação de uma “caixa de areia” na área da praça para jogos mais informais (partida de vôlei e similares). Pensando numa possível reconfiguração do espaço, foram pensadas algumas possibilidades de reorganização do programa com as novas atividades. Além disso, foram pensadas possibilidades de contaminação da rua como desenho de piso conectando os dois lotes do clube e uso dos muros e gradis de divisórias para criar uma relação mais franca com a rua.
[FIGURAS 136 A 150] Levantamento fotográfico do local (próximas páginas). Fotos da autora, 2016.
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Quadra de tênis Quadra de futebol Bar/quiosque Salão multiuso Área livre/Acolhimento Salão para reunião Vestiário/Banheiro Cozinha/Depósito Administrativo Pista de skate Deck/Pergolado Praça
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[FIGURA 151] Distribuição atual do programa do CDC Jardim Suzana
[FIGURA 152] Nova distribuição do programa do CDC Jardim Suzana no primeiro pavimento + ideias de intervenção
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[SOBRE O PROJETO] 10
A principal referência estética e de desenho do espaço são os projetos da ação Espacios de Paz, que buscam criar novas dinâmicas sociais que convidam a novas formas de convivência e transformar categorias fundamentais que regem a vida urbana: o uso do espaço e do tempo. coordenado pelo Pico Colectivo com a tutoria de instituições públicas, para cada projeto são eleitos representantes de quatro coletivos de arquitetura que desenvolvem o processo de diálogo com a população, pesquisa, desenho e construção de algum equipamento social, educativo e/ou esportivo, que será administrado pela comunidade local. Em alguns casos, trabalha-se com centros comunitários já existentes, construindo um projeto de reforma ou readequação do local. O processo tem a duração de 5 semanas. Os locais escolhidos são em 5 cidades e 5 comunidades consideradas violentas na Venezuela, daí o nome Espacios de Paz.
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[FIGURA 153] Planta atual do CDC Jardim Suzana. Escala 1:1000.
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1. Quadra de futebol 2. Área livre coberta/ Acolhimento 3. Vestiário/Banheiro 4. Bar/Quiosque 5. Salão Multiuso
Um dos pontos mais interessante deste tipo de projeto é a simplicidade das intervenções: aplicação de cores, grafismos, estruturas leves, simples e de fácil execução, a arquitetura é simples mas causa um impacto positivo na paisagem e na dinâmica do local. O uso de materiais descartados como pneus e tambores também parece ser uma saída interessante.
6. Salão para reunião 7. Cozinha/Depósito 8. Administrativo 9. Quadra de tênis 10. Praça 11. Pista de skate
Como a ideia é que seja algo minimamente exequível, tomo como referência projetos com materiais simples e um desenho convidativo, que abre possibilidades de diversos usos e, porque não, bonitos de se ver também. Com base nas referências a seguir, os principais materiais pensados para o projeto de intervenção foram: blocos de concreto, estrutura metálica, perfis metálicos, telas hexagonais galvanizadas, madeira (ripas para deck e ripas maiores, madeira de demolição), tambores de ferro (reaproveitados) e pinturas coloridas.
REFERÊNCIA DE PROJETO ESPACIOS DE PAZ 2014 E 2015
Os projetos que aqui destaco como referência utilizam materiais simples e de fácil manuseio, pensando que a própria população possa executar. 137
Comisión Presidencial del Movimiento por la Paz y la Vida + Pico Colectivo Venezuela
[FIGURA 154] Vista aérea, Petare. (Fonte: picocolectivo.org.ve) [FIGURAS 155 E 156] Foto do Mirante El Chama, Mérida/VE e foto do processo de construção. (Fonte: picocolectivo.org.ve) [FIGURAS 157 E 158] Fotos do projeto El Mirador 70, Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve)
[FIGURAS 159 E 160] Antes e depois. Projeto Petare, La Y 5 de Julio, Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve) [FIGURAS 161 E 162] Isométricas do Projeto Petare. (Fonte: picocolectivo.org.ve)
[FIGURAS 163 E 164] Fotos do mobiliário urbano em uso e do projeto em construção. (Fonte: estudioentre.com)
[FIGURAS 165 E 166] Fotos do mobiliário urbano Tiquatira em Construção. (Fonte: estudioentre.com) [FIGURA 167] Desenho do projeto completo Tiquatira em Construção ao longo de todo o muro. (Fonte: estudioentre.com)
[SOBRE O PROJETO] Uma das princiapis inspirações para este trabalho é o Tiquatira em Construção, trabalho de conclusão de duas estudantes de arquitetura, Andréa Helou e Julieta Fialho. O projeto surge do estudo de uma área na zona leste de São Paulo, parte do programa RenovaSP, destinada a ser um parque linear com habitações. Mas a área, na época, era completamente murada. ao relacionar a condição da área pública estar murada com a dinâmica local, as estudantes decidiram contatar a população, identificar necessidades locais e utilizar esse muro, que separava uma área pública do uso público, como suporte para transformar aquela realidade a partir das pré-existências. Ao levantar as necessidades que os moradores identificaram, as estudantes criaram uma série de mobiliários urbanos básicos, como bancos, lixeiras, luminárias e bicicletários, inexistentes na região. pensando em materiais simples e um projeto exequível, as estudantes arrecadaram uma determinada verba através de crowdfunding e construíram os mobiliários fazendo mutirões com a comunidade, estudantes e demais interessados. O mais interessante desse projeto são as soluções simples, que atendem as necessidades, e a criação de um laço da comunidade com o local a partir da articulação: processo participativo, projeto e construção coletiva do espaço. Outras referências de projeto >>>
[FIGURA 168] Instalação do Grupo Contrafilé para a exposição Playground 2016 (Fonte: Reprodução/ Facebook Grupo Contrafilé) [FIGURAS 169 E 170] Projeto Juegódromo, que transformou uma passagem em local de brincar, em Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve)
REFERÊNCIA DE PROJETO TIQUATIRA EM CONSTRUÇÃO Trabalho de conclusão de curso de Andréa Helou e Julieta Fialho, projeto executado Brasil
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[FIGURA 171] Projeto Canchas irregulares, que transforma espaços vazios entre edifícios em quadras, na Tailândia. (Fonte: futbolsapiens.com)
Pensando numa forma de conciliar as necessidades do clube, um espaço sonhado e um espaço real, foram pensados elementos de desenho que pudessem abrir o espaço de acordo com a necessidade e com o uso: festas abertas à comunidade, festas fechadas, jogos simultâneos, jogos de rua, a rua como área de estar, a rua como área de passagem. Enfim, desenhos que possam ser, na medida do possível, adaptáveis às necessidades dos usuários.
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[FIGURA 172] Croquis de estudos e possibilidades de desenho.
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[FIGURA 173] Setorização de áreas: descanso, brincar, exercitar-se e acesso à pista.
[FIGURA 174] Croquis de estudos e possibilidades de desenho para mobiliário.
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[FIGURA 175] Croquis de estudos e possibilidades de desenho de piso.
[FIGURA 176] Croquis de estudos e possibilidades de desenho para a praรงa.
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[FIGURA 177] isométrica de implantação do projeto do CDC Jardim Suzana.
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[FIGURA 178] Vista da praça: usos previstos a partir do desenho. [FIGURA 179] Vista da praça: árvores existentes. Nenhuma árvore foi removida ao pensar o projeto: todos os mobiliários respeitam e envolvem as árvores.
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[FIGURAS 180 A 183] Isométricas do mirante/ casinha das crianças e ampliação mostrando usos. Mobiliário possui escorregador, trepa-trepa, cordas para escalada e balanço de pneus. <<< [FIGURAS 184 E 185] Ampliação do pergolado com balanço e bancos. >>>
[FIGURA 186] Vista da parede de escalada em uso.
[FIGURA 187] Vista da rampa e escada-arquibancada, que serve de acesso à pista de skate, área de estar e arquibancada para a caixa de areia. [FIGURA 188] Vista da pista de skate para o deck-aquibancada.
[FIGURA 189] Vista da rua para o muro de divisรณria da praรงa e seus usos: sentar, encostar, espiar, entre outros.
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[FIGURA 190] Vista da praรงa para o muro de divisรณria e seus usos: sentar, encostar, espiar, entre outros.
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[FIGURA 191] Vista da “área fitness” da praça: uso da caixa de areia para jogos, e área abaixo do deck para estar e possível armazenamento de equipamentos de exercício físico desmontáveis.
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[FIGURA 192] Isométrica de implantação do projeto do CDC Jardim Suzana.
[FIGURAS 193 A 196] Isométricas para explicação da intervenção no CDC. >>> 164
1. Quadra de futebol 2. Área livre coberta/ Acolhimento 3. Vestiário/Banheiro 4. Bar/Quiosque 5. Salão Multiuso 6. Salão para reunião 7. Cozinha/Depósito 8. Administrativo
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1. Quadra de futebol 2. Área livre coberta/ Acolhimento 3. Vestiário/Banheiro 4. Bar/Quiosque 5. Salão Multiuso 6. Salão para reunião 7. Cozinha/Depósito 8. Administrativo
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[FIGURA 197] Uso do pavimento tĂŠrreo. <<< [FIGURA 198] Uso do primeiro pavimento. >>>
[FIGURA 199] Relação do primeiro pavimento com a quadra e a rua. “Camarote” para os jogos de futebol. << [FIGURA 200] Acesso ao segundo pavimento. Possibilidade de instalação de plataforma elevatória (caso necessário) próximo à escada para aproveitar o patamar de acesso. << [FIGURAS 201 E 202] Janelas-banco-marquise: vista da rua e vista de dentro do salão, respectivamente. Possibilidade de expansão de atividades do clube para a rua. >>
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O redesenho do CDC Jardim Suzana para intervenção foi pensado por conta de seu potencial contaminador da rua: a sua condição urbana única – da rua que cortou o terreno e o dividiu em duas quadras – faz com que as pessoas usem a rua como um espaço de encontro e de estar. Ou seja, faz com que aquela experiência de rua que perdemos por conta da modernização, crescimento e espraiamento das cidades e as mudanças de comportamento da sociedade seja recuperada, mesmo que somente para este ponto da cidade. Mas, antes de pensar uma intervenção, decidi me aproximar do local e conversar e observar as pessoas que utilizam o espaço. 170
[FIGURA 203] Esquina da Rua Madagascar com a Rua Leonardo de Fássio. Esquina aberta, mais convidativa.
Fiz uma relação das necessidades e dos desejos dos usuários do local e busquei aplicar um pouco daquilo que tem potencial e que acredito ser importante para extrapolar os limites do Clube. Esse processo de aproximação e conversa com os usuários, com as pessoas que realmente usam e praticam o espaço foi muito importante e foi uma experiência rica, onde pude ver que espaços construídos e geridos pela população tem um grande potencial de contaminação do espaço urbano, além de engajar a população a ser um ator urbano ativo, a praticar de fato o espaço.
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Neste último trecho do trabalho, procuro amarrar todas as ideias e todo o processo aqui apresentado. A questão aqui não era necessariamente pensar em espaços úteis, ou apenas uma requalificação da área, mas sim pensar a cidade como um agente educador, de como o espaço urbano pode nos estimular a usá-lo coletivamente e construí-lo em conjunto com outras pessoas e outros atores urbanos. Quando me deparei com o desafio de buscar um tema para meu trabalho final, eu poderia muito bem ter escolhido um projeto específico, me deter na atividade do desenho e talvez nem chegar a dizer o que eu gostaria de dizer num trabalho que finaliza um ciclo, mas começa outro. Acredito que esse trabalho seja mais parte de um processo, uma fase de descobertas e o início de um pensamento crítico sobre a atuação do arquiteto, do arquiteto que é, também, morador, usuário e cidadão. As experiências e percepções individuais, independente de a formação como arquiteta urbanista, fazem deste trabalho mais um ensaio sobre o corpo na cidade e um pequeno manifesto que exalta a importância do processo, mais que seu resultado. Decidi valorizar as pequenas experiências vividas durante este ano de pesquisa e trabalho que alimentam minha formação e que transformam, ampliam e iluminam a forma de pensar e agir na cidade. Eu não queria ter certeza do que eu iria fazer, um rumo certo, um programa definido. Queria ver o que a cidade tinha para me mostrar. E pela experiência que tive até hoje, acredito que passamos muito tempo da nossa formação atrás de um computador, produzindo desenhos, constantemente na linha tênue entre uma resolução técnica, estética e funcional, às vezes criando uma certa distância do local de ação. 173
Arquitetos possuem o conhecimento da técnica e desenho do espaço, têm sua sensibilidade treinada para atentar-se aos pequenos detalhes, aos usos e às necessidades dos usuários daquele espaço. O desenho do espaço por si só não opera milagres, muito menos altera profundamente as dinâmicas do local, mas pode estimular novos usos, sugerir, incentivar ou subverter uma dinâmica existente. Me apropriei, também, de conceitos que faziam sentido para o caminho que este trabalho tomou. Mas para ocorrer tal transformação, é necessário um trabalho de mobilização, articulação multidisciplinar e empoderamento dos usuários finais daquele espaço desenhado, ou simplesmente dar-lhes a oportunidade de dizer o que realmente precisam. Ressalto, com esse trabalho, a importância de olhar para esses equipamentos e para o território no qual estão inseridos e o olhar para regiões periféricas. Mesmo que existam conflitos (e sempre vão existir), espaços de lazer e esportes de qualidade nas periferias – aquele lugar onde a infraestrutura não chegou (mas as pessoas dão um jeito) – são, ou deveriam ser, de grande importância para que a própria comunidade possa gerir cria e fortalece os laços entre as pessoas e o lugar habitado, o que retoma os “olhos da rua” que Jane Jacobs considera importante para a segurança pública. E pensando não somente na gestão comunitária e apropriação do espaço, mas naquilo que acredito ser de extrema importância, principalmente nas condições de cidade e sociedade que temos hoje: os espaços de lazer, descompressão, esportes, ócio e cultura. Muitas vezes nos deslocamos de nossos bairros para utilizar e consumir sem mesmo olhar para o que o próprio bairro pode oferecer. Mesmo que seja apenas um breve estudo perto da complexidade que isso poderia ter na prática, é um ponto de partida para pensar sobre como olhamos para o espaço e como podemos perceber as potencialidades do local, usando isso como uma das diversas ferramentas que temos para melhorar as relações entre o espaço e as pessoas.
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Livros e Publicações AGIER, Michael. Encontros Etnográficos: Interação, contexto, comparação. São Paulo: Editora Unesp. Alagoas: Edufal, 2015. 100 p. ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. São Paulo: Romano Guerra, 2010. 104 p. BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 94 p. CARERI, Francesco. Walkscapes: O caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. 188 p. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. 316 p. CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. 372 p. CRUZ, Teddy. Rethinking Uneven Growth: It’s about inequality, stupid (p. 49-55). In: GADANHO, Pedro (org). Uneven Growth: Tactical urbanisms for expanding megacities. New York: The Museum Of Modern Art (MoMA), 2014. 168 p. HELOU, Andréa; FIALHO, Julieta. Caderno de Projeto: Tiquatira em Construção. São Paulo, 2013. 44 p. Trabalho de Conclusão de Curso Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Associação Escola da Cidade, 2013. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 272 p. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. 510 p. 177
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LISTA DE IMAGENS Figura 1: Rua Brás Pires Meira, Jardim Suzana. Foto da autora, 2016. Figura 2: Rua Estoril, Veleiros. Foto da autora, 2016. Figura 3: No metrô Consolação, há uma hora de distância de casa. Foto da autora, 2015. Figura 4: Voltando da feira, quarta-feira, 10h. Foto da autora, 2016. Figura 5: Vista via satélite da Região metropolitana de São Paulo, 2016. (Fonte: Google Earth) Figura 6: Vista aérea da cidade de São Paulo, por Eiji Matsumoto, 2007. (Fonte: skyscrapercity.com). Disponível em < http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=211579&page=810> Acesso em 10 novembro 2016. Figura 7: A “evolução” das casas: a falsa sensação de segurança e o isolamento da casa perante a rua. (Fonte: Quadrinhos Ácidos). Disponível em < http://www.quadrinhosacidos.com.br/2014/08/60-casas. html> Acesso em 14 outubro 2016. Figura 8: O espaço habitável entre as coisas. (Fonte: HERTZBERGER, 1999 p. 9). Foto de livro. Figura 9: Amsterdam, bairro operário, a vida nas ruas: bem diferente de hoje. (Fonte: HERTZBERGER, 1999 p. 48). Foto de livro. Figura 10: Avenida dos Lagos. Foto da autora, 2016. Figura 11: Caminhada pelo Barrio Góes, Montevidéu (UY). Foto da autora, 2016. Figura 12: Mapa da cidade de Montevidéu, Uruguai. (Fonte: sig.montevideo.gub.uy). Disponível em <http://sig.montevideo.gub.uy/> Acesso em 16 de maio de 2016. Figura 13: Esquina da Av. 18 de Julio com Dr. Eduardo Acevedo. Foto da autora, 2016. Figura 14: Caminhada na Plaza del Entrevero. Foto da autora, 2016. Figura 15: À tarde na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016. Figura 16: No banco da praça. Foto da autora, 2016. Figura 17: Entre as ruas da Ciudad Vieja. Foto da autora, 2016. Figura 18: À tarde na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016. Figura 19: No banco da praça. Foto da autora, 2016 Figura 20: Entre as ruas da Ciudad Vieja. Foto da autora, 2016. Figura 21: Na porta de casa, cadeirinha de praia. Foto da autora, 2016. Figura 22: Apropriações pelas janelas. Foto da autora, 2016. Figura 23: Manequins na calçada. Foto da autora, 2016. Figura 24: Um lugar para sentar numa fachada. Foto da autora, 2016. Figura 25: A esquina das frutas. Foto da autora, 2016. Figura 26: As caixas de frutas. Foto da autora, 2016. Figura 27: Conversas na calçada. Foto da autora, 2016. Figura 28: Uma noite na Plaza de los Treinta y Tres Orientales. Foto da autora, 2016. Figura 29: Esperando o ônibus. Foto da autora, 2016. Figura 30: Na Plaza de la Independencia. Foto da autora, 2016. Figura 31: Lendo jornal. Foto da autora, 2016. Figura 32: Feira de Tristán Narvaja, onde há todo tipo de mercadoria. Domingo de sol. Foto da autora, 2016. Figura 33: Ao ar livre, no meio da praça. Foto da autora, 2016. Figura 34: Ao ar livre, no meio da praça. Foto da autora, 2016. Figura 35: Imagem aérea da área de estudo. (Fonte: Google Earth) Figura 36: “Antes desse galpão, que está entre as árvores, ser construído, você via toda a represa do Guarapiranga. Era lindo…” Palavras de Najla Drgnam, dentista e residente da região. Vista do seu consultório odontológico na Av. Rio Bonito, um dos pontos mais altos do bairro. Fotomontagem de sequência de fotos, fotos da autora, 2016. Figura 37: Imagem aérea da área de estudo, em 1958 e 2008, respectivamente. (Fonte: Geoportal). Disponível em <http://www.geoportal.com.br/index.aspx> Acesso em 15 abril 2016. Figura 38: Recorte da área de estudo com indicação das avenidas e ruas limites. Figura 39: Recorte da área de estudo com indicação das avenidas e ruas limites. Figura 40: Pelo bairro Veleiros. Foto da autora, 2016. Figuras 41 a 54: Praças e áreas verdes; Número das fotos corresponde ao mapa. Fotos da autora, 2016. Ver página 76. Figuras 54 a 70: Feiras, escolas, clubes e demais equipamentos; Número das fotos corresponde ao mapa. Fotos da autora, 2016. Ver página 82. Figura 71: Caminhada de domingo. Fotos da autora, 2016. Figura 72: Descida da Av. Antonio B. da Silva S. Foto da autora, 2016.
Figura 73: Bar do Oscar. Foto por Aline Barros, 2016. Cedida pela autora. Figura 74: Calçadão da Padaria Nova Susy. Foto da autora, 2016. Figura 75: Sábado à tarde, visitando a família. Foto por Aline Barros, 2016. Cedida pela autora. Figura 76: Calçadão da Padaria Nova Susy. Foto da autora, 2016. Figura 77: Centrinho comercial em Veleiros. Foto da autora, 2016. Figuras 78 a 80: Início das fronteiras entre Vila Friburgo e Veleiros. Fotos da autora, 2016. Figura 81: Bar do João, Vila Friburgo, chegando perto de Veleiros. Foto da autora, 2016. Figura 82: No centrinho comercial do Jardim Suzana. Foto da autora, 2016. Figura 83: Fumódromo do bar do João. Foto da autora, 2016. Figura 84: Descendo da Vila Friburgo para o Jd. Suzana. Foto por Aline Barros, 2016. Cedida pela autora. Figura 85: Na banca de Jornal, Jardim Suzana. Foto da autora, 2016. Figura 86 a 91: Fotos de Veleiros em sequência linear. Foto da autora, 2016. Ver página 94. Figura 92 a 97: Fotos da Vila Friburgo em sequência linear. Foto da autora, 2016. Ver página 94. Figura 98 a 103: Fotos do Jardim Suzana em sequência linear. Foto da autora, 2016. Figura 104: Vista aérea: área estudada x CEU Cidade Dutra (Fonte: Google Earth) Figura 105: Planejamento e localização do Território CEU Grajaú. (Fonte: gestaourbana.prefeitura.sp.gov. br/territorio-ceu-grajau/). Disponível em <http:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov. br/territorio-ceu-grajau/> Acesso em 10 outubro 2016. Figura 106: Vista aérea do futuro Território CEU Grajaú, num terreno de um CDC (Fonte: gestaourbana. prefeitura.sp.gov.br/territorioceu-grajau/) Disponível em <http:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov. br/ territorio-ceu-grajau/> Acesso em 10 outubro 2016. Figura 107 a 109: À direita, de cima para baixo: Fachada da escola EE Professor José Geraldo de Lima, fachada da Biblioteca Malba Tahan, e da viela entre as Ruas Madagascar e Rua João Teizen Sobrinho. À esquerda: croquis de possíveis intervenções nestes locais de acordo com as diretrizes. Fotos e croquis da autora, 2016. Figura 110: Acima: Rua Madagascar/CDC Jardim Suzana. Ao lado: croquis de possíveis intervenções neste local de acordo com as diretrizes. Fotos e croquis da autora, 2016. Figura 111: Num sábado de sol, na pista Suicida Park, CDC Jardim Suzana. Foto da autora, 2016. Figura 112: Vista aérea do CDC (Fonte: Google Earth). Figura 113: Movimentação da rua Madagascar durante o dia, em final de semana. Foto da autora, 2016. Figura 114: Movimentação da rua Madagascar durante o dia, em final de semana. Foto da autora, 2016. Figura 115 e 116: Treino de jiu-jitsu, novembro de 2014. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana). Disponível em <https://www.facebook.com/JardimSuzana/?fref=ts> Acesso 01 novembro 2016. Figura 117, 118 e 119: Jogo de futebol à noite, durante semana, uso da área livre durante o dia e uso do salão com churrasqueira. Foto da autora, 2016. Figura 120 e 121: Treino de tênis, no final de semana e vista do quiosque, que fica ao lado da quadra. Foto da autora, 2016. Figura 122 e 123: Pista de skate antigamente, 2012. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana). Disponível em <https://www.facebook.com/JardimSuzana/?fref=ts> Acesso 01 novembro 2016. Figura 124, 125 e 126: Reforma/ampliação da pista, 2016. (Fonte: Reprodução/ Facebook CDC Jardim Suzana). Disponível em <https://www.facebook.com/JardimSuzana/?fref=ts> Acesso 01 novembro 2016. Figura 127 e 128: Uso da pista de skate, final de semana. Foto da autora, 2016. Figura 129: Treino de futebol infantil, 2012. (Fonte: Reprodução/Facebook CDC Jardim Suzana). Disponível em <https://www.facebook.com/JardimSuzana/?fref=ts> Acesso 01 novembro 2016. Figura 130: Uso do playground pelas crianças. Foto da autora, 2016. Figura 131 a 134: Fotos do Dia das Crianças (2012) e Dia da Costela (2015). (Fonte: Reprodução/Facebook CDC Jardim Suzana). Disponível em <https://www.facebook.com/JardimSuzana/?fref=ts> Acesso 01 novembro 2016. Figura 135: Mapa GEGRAN da região em 1981. Na época, a rua Madagascar estava em processo de consolidação/asfaltamento. (Fonte: EMPLASA) Figura 136 a 150: Levantamento fotográfico do local (próximas páginas). Fotos da autora, 2016. Ver páginas 132 e 133. Figura 151: Distribuição atual do programa do CDC Jardim Suzana. Figura 152: Nova distribuição do programa do CDC Jardim Suzana no primeiro pavimento + ideias de intervenção. Figura 153: Planta atual do CDC Jardim Suzana. Escala 1:1000. Figura 154: Vista aérea, Petare. (Fonte: picocolectivo.org.ve). Disponível em <picocolectivo.org.ve/petare -la-y-5-de-julio> Acesso 01 novembro 2016. Figura 155 e 156: Foto do Mirante El Chama, Mérida/VE e foto do processo de construção. (Fonte: picoco-
lectivo.org.ve). Disponível em <picocolectivo.org.ve/el-chama/> Acesso 01 novembro 2016. Figura 157 e 158: Fotos do projeto El Mirador 70, Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve). Disponível em <picocolectivo.org.ve/el-70-3> Acesso 01 novembro 2016. Figura 159 e 160: Antes e depois. Projeto Petare, La Y 5 de Julio, Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve). Disponível em <picocolectivo.org.ve/petare-la-y-5-de-julio> Acesso 01 novembro 2016. Figura 161 e 162: Isométricas do Projeto Petare. (Fonte: picocolectivo.org.ve). Disponível em <picocolectivo.org.ve/petare-la-y-5-de-julio> Acesso 01 novembro 2016. Figura 163 e 164: Fotos do mobiliário urbano em uso e do projeto em construção. (Fonte: estudioentre. com) Figuras 165 e 166: Fotos do mobiliário urbano Tiquatira em Construção. (Fonte: estudioentre.com) Figura 167: Desenho do projeto completo Tiquatira em Construção ao longo de todo o muro. (Fonte: estudioentre.com) Figura 168: Instalação do Grupo Contrafilé para a exposição Playground 2016 (Fonte: Reprodução/ Facebook Grupo Contrafilé) Disponível em < https://www.facebook.com/grupocontrafile/?fref=ts> Acesso em 13 novembro 2016. Figuras: 169 e 170: Projeto Juegódromo, que transformou uma passagem em local de brincar, em Caracas/VE. (Fonte: picocolectivo.org.ve). Disponível em < picocolectivo.org.ve/juegodromo> Acesso 13 novembro 2016. Figura 171: Projeto Canchas irregulares, que transforma espaços vazios entre edifícios em quadras, na Tailândia. (Fonte: futbolsapiens.com). Disponível em < http://www.futbolsapiens.com/actualidad/las-irregulares-canchas-de-tailandia/> Acesso 13 novembro 2016. Figura 172: Croquis de estudos e possibilidades de desenho. Figura 173: Setorização de áreas: descanso, brincar, exercitar-se e acesso à pista. Figura 174: Croquis de estudos e possibilidades de desenho para mobiliário. Figura 175: Croquis de estudos e possibilidades de desenho de piso. Figura 176: Croquis de estudos e possibilidades de desenho para a praça. Figura 177: isométrica de implantação do projeto do CDC Jardim Suzana. Figura 178: Vista da praça: usos previstos a partir do desenho. Figura 179: Vista da praça: árvores existentes. Nenhuma árvore foi removida ao pensar o projeto: todos os mobiliários respeitam e envolvem as árvores. Figura 180 a 183: Isométricas do mirante/ casinha das crianças e ampliação mostrando usos. Mobiliário possui escorregador, trepa-trepa, cordas para escalada e balanço de pneus. Figura 184 e 185: Ampliação do pergolado com balanço e bancos. Figura 186: Vista da parede de escalada em uso. Figura 187: Vista da rampa e escada-arquibancada, que serve de acesso à pista de skate, área de estar e arquibancada para a caixa de areia. Figura 188: Vista da pista de skate para o deck-aquibancada. Figura 189: Vista da rua para o muro de divisória da praça e seus usos: sentar, encostar, espiar, entre outros. Figura 190: Vista da praça para o muro de divisória e seus usos: sentar, encostar, espiar, entre outros. Figura 191: Vista da “área fitness” da praça: uso da caixa de areia para jogos, e área abaixo do deck para estar e possível armazenamento de equipamentos de exercício físico desmontáveis. Figura 192: Isométrica de implantação do projeto do CDC Jardim Suzana. Figuras 193 a 196: Isométricas para explicação da intervenção no CDC. Figura 197: Uso do pavimento térreo. Figura 198: Uso do primeiro pavimento. Figura 199: Relação do primeiro pavimento com a quadra e a rua. “Camarote” para os jogos de futebol. Figura 200: Acesso ao segundo pavimento. Possibilidade de instalação de plataforma elevatória (caso necessário) próximo à escada para aproveitar o patamar de acesso. Figura 202: Janelas-banco-marquise: vista da rua e vista de dentro do salão, respectivamente. Possibilidade de expansão de atividades do clube para a rua. Figura 203: Esquina da Rua Madagascar com a Rua Leonardo de Fássio. Esquina aberta, mais convidativa.
Impressão em papel pólen 90g/m² Subtítulos e legendas em Droid Sans e texto em Droid Serif (free font)