{micro}INTERVENÇÕES entre bairros trabalho de conclusão de curso #1 (em processo)
aluna luana pedrosa orientador prof. ms. ricardo luis silva
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC SANTO AMARO LUANA PEDROSA
{micro}INTERVENÇÕES entre bairros
São Paulo 2016
LUANA PEDROSA
{micro}INTERVENÇÕES entre bairros
Trabalho de Conclusão de Curso (Parcial) de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC Campus Santo Amaro. Orientador: Prof. Ms. Ricardo Luís Silva.
São Paulo 2016
RESUMO Ao pensar nas dinâmicas atuais da metrópole, da homogeinização do espaço público e da relação do indivíduo com o espaço urbano, este trabalho busca discutir uma forma de ler e apreender o espaço subjetivamente, através do corpo e do caminhar, e a partir dessas percepções e compreensão do território, serão propostas intervenções de acordo com a especificidade que o lugar apresentar. Os elementos efêmeros, ações cotidianas e os usos que as pessoas dão ao lugar vão além de questões físico-territoriais e são de grande importância para planejar ou desenhar o espaço público, pois ao caminhar são vivenciadas, sentidas e reconhecidas. Sendo também uma forma de provocação, o recorte estabelecido é onde habito, dentro da Capela do Socorro, na zona sul de São Paulo, justamente para discutir a questão da, velocidade, anestesiamento e afastamento do espaço público mais próximo de cada cidadão, que é seu próprio bairro. Palavras-chave: Capela do Socorro, Intervenção, Urbanismo, Desenho urbano, Espaço público, Cotidiano, Bairro
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ABSTRACT Thinking in today’s metropolis dynamics, the homogenization of public space and the relationship between man with the urban space, this paper discusses a way to read and understand the space subjectively, through the body and walking; and from these perceptions and understanding of the territory, this paper proposes interventions according to the specificity of the place. The ephemeral elements, everyday actions and the uses that people give to the place go beyond physical and territorial issues, which have great importance to plan and design the public space, because the walk are experienced, felt and recognized. This paper is also a provocation because it’s the area where I live, within Capela do Socorro, on the south side of São Paulo, to discuss the issue of speed, anaestheticization and distance from the nearest public space for every citizen, which is your own neighborhood. Key-words: Capela do Socorro, Intervention, Urbanism, Urban design, Public space, Everyday life, Neighborhood
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SUMÁRIO EM PROCESSO Inquietações, escolhas e possibilidades 11 MÉTODO De perto e de dentro 19 O COTIDIANO O espaço e as práticas 25 (PARÊNTESES) UMA EXPERIÊNCIA Lentidão e desaceleração 31 O TERRITÓRIO Pelos bairros, entre bairros 45 Breve histórico 45 O bairro como unidade de percurso 50 Percepções e perambulações 53 REFERÊNCIAS PROJETUAIS E GRÁFICAS 81 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90 0REFERÊNCIAS PROJETUAIS E GRÁFICAS 92 LISTA DE IMAGENS 94
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EM PROCESSO
Inquietações, escolhas e possibilidades A cidade é o produto físico de uma cultura e as relações humanas que se estabelecem pelo espaço, uma obra aberta em processo de transformação contínuo a partir das alterações e intervenções operadas pelo capital financeiro, como assume Jacques (2012), bem como são operadas, em grande parte, por uma multidão anônima, que constrói a cidade e principalmente as relações e dinâmicas diariamente. Com esse pensamento inicial, coloco este trabalho como fruto de um processo composto por múltiplas experiências: experiências de quem planeja e de quem usa a cidade, experiências do corpo no espaço urbano, do (re) conhecimento e da exploração do território; experiências metodológicas, subjetivas e relativas, experiências de alteridade urbana; enfim, experiências que são pequenas partes de um todo, do que pude tirar como uma primeira conclusão de um extenso processo de formação, que é a formação de um arquiteto urbanista. E não é somente um trabalho composto por experiências, mas também por experimentações: experimentar a cidade, experimentar na cidade, experimentar através da cidade. Enfim, este trabalho é uma possível leitura de uma estudante de arquitetura e urbanismo que se insere em diferentes condições: a de habitante local e a de estrangeira; a de urbanista e a de praticante urbana ordinária. E por que a cidade? A cidade é onde nos reconhecemos e onde reconhecemos o outro; a cidade se forma, transforma, cresce e se expande [micro]INTERVENÇÕES 11
pelo território, o que permite múltiplas interpretações e experiências ao longo de um complexo tecido urbano. É o palco de conflitos, tensões e diferenças, é o local onde se concentram oportunidades, é o suporte físico para relações e assentamentos humanos. É o que venho estudando, até hoje, num vasto campo de estudo que é a cidade de São Paulo. Um grande emaranhado de ruas, vias, vielas, escadarias, praças, parques, casas, prédios, enfim... Poderia listar elementos que compõe o espaço urbano por mais alguns parágrafos, mas o que faz de todos esses elementos possuírem um caráter específico, ou melhor, como diria Norberg-Schulz, um “espírito do lugar”1, é o que está entre o indivíduo e o espaço: laços, dinâmicas, relações, ou a falta dessas relações. Esses elementos efêmeros, subjetivos e muitas vezes imateriais se refletem no ambiente construído, através das apropriações humanas, que podem transformar um espaço em lugar. A compreensão desses elementos, que vão além de questões físico-territoriais, são de grande importância quando se pensa em planejamento ou desenho do tecido urbano. Para explorar as inquietações aqui levantadas, estabeleço um recorte de cidade onde eu posso encontrar essas relações: o bairro, ou aquilo que posso chamar de “meu bairro”. Ao me dar conta das minhas próprias intenções ao escrever meu projeto de pesquisa para este trabalho final de graduação, percebi a necessidade e a possibilidade de voltar o olhar ao meu próprio local de origem, não só por conhecer suas características, 1 O conceito de “espírito do lugar”, ou genius loci, explorado por Christian Norberg-Schulz em “A fenomenologia do lugar” (1978), refere-se à essência do lugar. Trata o espaço como “totalidade intuitiva tridimensional da experiência cotidiana”, que abre espaço para intervenções, apropriações e para as relações humanas acontecerem ali. Entende-se o espaço (independente de sua escala, seja a escala de uma casa ou do espaço urbano, uma praça ou uma cidade) como um “sistema de lugares”, sendo também um sistema de relações. Os lugares possuem caráteres, atmosferas, constituídas por materialidade e forma.
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mas também como uma provocação pessoal. Ao experimentar os fluxos mais acelerados da metrópole paulista, os grandes deslocamentos e o medo constante do espaço público, implantado pelo “capital do medo” (termo utilizado por Zygmunt Bauman), me desconectei do local que habito, desfazendo-me dos laços e restando somente a memória daquilo que já vivenciei, sem mais utilizar tudo o que a região tem diponível ali: serviços, comércios, equipamentos públicos, praças, até a própria vida urbana e laços que ali resistem. Em vista dos processos de transformação que o espaço urbano sofre com a produção do espaço atual, de um urbanismo moderno, onde se privilegiam os espaços de circulação dos automóveis, onde os espaços públicos são homogeneizados, residuais, distantes da escala humana; além dessa experiência de distanciamento do local de origem, volto o olhar para este espaço que fica às margens de uma urbanização acelerada e aos projetos urbanos que excluem esses elementos que estão entre o espaço físico e o indivíduo. Escolho essa área que considero ser “meu bairro” que abrange, em teoria, cinco bairros: Veleiros, Vila Friburgo, Jardim Suzana, Jardim Ipanema e Jardim Paquetá. Com o tempo, perdi um hábito em relação ao meu próprio bairro: o caminhar, sem qualquer medo; portanto, utilizo esse trabalho como uma provocação a mim mesma. Num dia comum, numa conversinha besta, indo à costureira (que fica logo ali, descendo a rua) que eu percebi que, não só como arquiteta urbanista, mas como moradora e cidadã, preciso reconhecer-me em meu próprio bairro para compreender a importância e a dimensão do corpo na cidade, da identidade que se cria, dos espaços que nos apropriamos e como podemos transformá-los.
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- Nossa, mãe! Abriu mais uma duas lojinhas aqui no Suzana! Tá crescendo, né? - Pois é, a coisa tá boa aqui. Você não conhece nem mais seu próprio bairro, fica só indo p’ra faculdade e p’ro trabalho, você devia andar mais por aqui… Ao buscar “o bairro” que tenho em memória, entendo que este espaço ultrapassa as possíveis delimitações geográficas de cada bairro listado, pois foi entre esses bairros que criei laços e, mais que isso, percebi a existência de dinâmicas e interdependência entre bairros. A área de estudo proporciona a possibilidade de praticar uma micro-resistência (JACQUES, 2008): o caminhar. Caminhar para perceber o espaço e caminhar como prática cotidiana, pois é na escala do bairro onde temos maior apreensão do espaço público na escala urbana, onde o espaço doméstico tem o primeiro contato com o espaço público: o contato com o vizinho, com o comércio local, com a rua. Com esse contato mais subjetivo - do corpo com o espaço urbano - procuro acompanhar e vivenciar “procedimentos que escapam à disciplina sem ficarem fora do campo onde se exerce”, como descreve de Certeau (2009) as práticas cotidianas, resistentes e astuciosas2. Tendo o cotidiano e as relações humanas como principal elemento, a partir dessa experiência pessoal e por conhecer a área como moradora, compreendo que existem áreas mais comerciais, outras mais residenciais, com caráteres distintos porém complementares. Muitos dos moradores 2 De Certeau, em seu livro A invenção do cotidiano, decide estudar os acontecimentos “multiformes, resistentes, astuciosos e teimosos” que estão além do planejamento e de ações mais formais, mas que permanecem em seu recorte de cidade, estranhamente familiar (CERTEAU, 2009, p. 163)
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saem de sua casa em Veleiros para ir à padaria na Vila Friburgo, ou saem do Jardim Ipanema e caminham até o Jardim Suzana para ir à costureira ou à feira…
Nas palavras de Secchi, a “cidade e território pertencem inevitavelmente à experiência cotidiana de cada um” (SECCHI, 2006, p. 19) e assim tomo minha experiência cotidiana como parte desse projeto e possivelmente terá, como consequência, explorações projetuais em lugares específicos, que serão escolhidos após o (re)conhecimento da área. O espaço urbano, muitas vezes, é projetado por urbanistas ou pela
[1] Voltando da feira, às 10h, numa quarta-feira.
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lógica de produção do espaço do mercado imobiliário, onde indicam-se usos possíveis, mas é justamente pelos atores anônimos da cidade que essas propostas são atualizadas ou subvertidas (JACQUES, 2012). Por isso, assumo o processo de percepção do espaço a partir do caminhar e da etnologia enquanto ferramenta fundamental para melhor compreender e planejar a cidade, ou mesmo projetar uma pequena intervenção. Busco, no cotidiano, ver o que realmente pode ser interessante como intervenção urbana. Ver o que é praticado no espaço ultrapassa os limites do que foi previamente projetado, além de abrir possibilidades e verificar oportunidades para propostas. Em suma, este trabalho possui caráter experimental e subjetivo, onde me concentro em explorar e praticar aquilo que Paola Jacques chama de “urbanismo incorporado” (JACQUES, 2008), experimentar através de intervenções pontuais as relações e apropriações (ou não) que existem no território aquilo que o caracterizam e lhe conferem seu espírito, seus espíritos, ou a ausência dele, além de discutir a sensação de pertencimento, ao pensar no conflito de fluxos e tempos na cidade contemporânea. A intenção é deixar que o próprio território me mostre, através das explorações, possibilidades de intervenção e de reflexão.
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MÉTODO
De perto e de dentro Iniciação, lição, aprendizagem, exercícios: são palavras de um saber que nasce numa longa relação com as pessoas de seu ‘campo’. (...) Os grandes acontecimentos, assim como os pequenos momentos da vida ele acredita ser possível transformá-los numa riqueza: uma cultura em formação, uma política dos lugares, uma inovação social. Ele passa um tempo imenso a observar a vida cotidiana (...). (AGIER, p. 10)
O espaço, como preocupação dividida entre múltiplos especialistas, é composto de um sistema de ações e de objetos, assim como afirma Milton Santos (1993)3. Como uma forma de apreensão da cidade e desse sistema de ações e objetos, considero o processo de etnografia, comumente utilizado por antropólogos em seus ambiente de estudo, onde há uma imersão na área de interesse. Por estar imersa no campo de estudo, voluntária e involuntariamente, o processo de pesquisa de cunho etnográfico é feito “de perto e de dentro”. Assim como assume Magnani (2002), esse método não se reduz a uma técnica, mas é um modo de apreensão e aproximação, feito de formas variáveis de acordo com cada pesquisa. A atenção aos detalhes, neste caso, detalhes da vida urbana, são essenciais para compreender a atmosfera na qual se envolve determinado espaço. 3 Informação retirada do livro Encontros: Milton Santos, de entrevista publicada na Revista Margem, de novembro de 1993.
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Nas palavras de Magnani (2002), os fragmentos podem arranjar-se num todo que oferece a pista para um novo entendimento. A metodologia proposta foca no olhar para o outro, aliás, na relação do outro com o espaço urbano. E por ser uma percepção mais subjetiva, agrego, à este método, o caminhar pela cidade, amplamente discutido por Francesco Careri e Paola Jacques. Justamente por já habitar o local escolhido, já existe um certo processo de imersão, apesar da influência da escala metropolitana e dos deslocamentos que existem para usufruir de determinadas dinâmicas em outros locais mais distantes da cidade. Neste caso, como utilizo minha experiência como parte do trabalho, acredito que, para uma única leitura do espaço, tenho duas visões distintas porém complementares: a primeira, é a que considero ser a visão “de fora”, como se eu fosse uma estrangeira (em específico: de uma moradora que se desloca pra fora do bairro com frequência, para usar outros locais da cidade. Por conta disso, existe um afastamento, não utilizo mais esse lugar com a mesma frequência que outros moradores). A segunda é a visão “de dentro”, de alguém que, neste caso, voltou a caminhar pelo bairro, a usar o que o bairro oferece, praticando uma imersão no local, além de possuir uma memória de quando usava aquele lugar antes. Assim como assume Bauman (2009), o “capital do medo” tornouse passível de se transfomado em qualquer tipo de lucro, seja político ou comercial, incidindo diretamente sobre as atuais condições de vida urbana e sobre o modo no qual a sociedade percebe sua existência na cidade e como imagina e apreende o ambiente urbano, chegando a distorcer tal realidade. Com o ritmo acelerado da cidade contemporânea, além 20 [micro]INTERVENÇÕES
do processo de espetacularização das cidades, perde-se o contato com o próprio local no qual se habita por conta da ação do “capital do medo” e da velocidade das informações e (re)produção do espaço. O anestesiamento frente aos estímulos que existem na atual condição, principalmente no espaço público, e a “necessidade” de segurança por conta do medo, a prática mais primitiva, comum e banal, que é o caminhar pela cidade, deixou de ser praticado. Atravessando Bogotá, Santiago do Chile, São Paulo, Salvador da Bahia, Talca, entendi que não sei caminhar na quadrícula colonial e que para ir em transurbância tenho de buscar os pontos em que a grelha se rompe, perder-me ao longo dos rios, circunavegar as novas zonas residenciais, imergir-me no labirinto das favelas. Na América do Sul, caminhar significa enfrentar muitos medos: medo da cidade, medo do espaço público, medo de infringir as regras, medo de apropriar-se do espaço, medo de ultrapassar as barreiras inexistentes e medo dos outros cidadãos, quase sempre percebidos como inimigos potenciais. (CARERI, 2013, p. 170)
Nas palavras de Careri (2013), “o caminhar é uma ação capaz de diminuir o nível de medo e de desmascarar a construção midiática da insegurança: um projeto ‘cívico’ capaz de produzir espaço púbico e agir comum”. Ainda seguindo seu raciocínio, o ato de caminhar faz com que nos libertemos de convicções pré-estabelecidas, recuperando e recordando o fato e que o espaço é uma invenção humana, onde intervimos e brincamos. Como uma experiência particular, durante as caminhadas que fiz pelo perímetro delimitado, descobri e redescobi uma série de particularidades e apropriações humanas pelo espaço [micro]INTERVENÇÕES 21
público, que tornam os lugares únicos. Segundo Certeau (2009), ver as coisas no nível mais elemental é um processo de apropriação do sistema topográfico pelo pedestre, uma realização espacial do lugar. O caminhante atualiza algumas possibilidades e proibições (CERTEAU, 2009) presentes no espaço físico, inventando, emergindo, modificando ou deslocando tais elementos. A transformação no espaço acontece de forma gradual. Dessa forma, assumo o caminhar como uma provocação a mim mesma, ao enfrentamento do medo constante e da possibilidade de me (re)identificar com o local que habito.
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O COTIDIANO O espaço e as práticas
Pela velocidade na qual vivemos atualmente, muitas vezes passamos despercebidos pelas pequenas coisas que nosso próprio cotidiano nos proporciona. Segundo Certeau (2013), o cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia. Em suas palavras: O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou de viver nesta ou noutra condição, com esta fadiga, ou este desejo. O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio-caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada. Não se deve esquecer este ‘mundo de memória’, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares, memória da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história ‘irracional’, ou desta ‘não história’, como o diz ainda A. Dupront. O que o interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível… (CERTEAU; GIARD; MAYOL, 2013, p. 31)
É no dia-a-dia que as coisas acontecem. O espaço se realiza enquanto for vivenciado, no qual indivíduos exercem dinâmicas, conferindo-lhe movimento, animação, um determinado caráter através de seu uso; o potencializam e o atualizam, passando à condição de “lugar praticado”,
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seja uma praça, um lote, uma quadra ou a própria rua. A máxima “habitar é deixar rastros” de Walter Benjamin se encaixa na lógica do cotidiano, onde as pessoas se apropriam, criam, reinventam e subvertem os espaços. Essas dinâmicas que transformam o lugar podem ser (e são, em sua maioria) efêmeras, mas adquirem sua condição específica justamente pela vivência temporal do indivíduo ou de um coletivo naquele lugar. A partir do pensamento de Certeau, o espaço público, por sua vez, só adquire identidade quando praticado pelos indivíduos através de intervenções, do contato físico, pressupondo a sensação de pertencimento com os espaços. Trazendo a discussão para a arquitetura, a partir do raciocínio do arquiteto Herman Hertzberger em seu livro Lições de Arquitetura, o arquiteto é somente responsável pela implantação e o desenho da arquitetura, onde define graus de compartilhamento e isolamento das pessoas. Não há possibilidade de forçá-las a conviver no espaço público, mas há meios, através do desenho, de estimular possíveis usos compartilhados e tirar as pessoas de um isolamento total e alienação que espaços segregadores proporcionam. A questão é o ponto de equilíbrio entre a privacidade e o contato com o outro, para não sentir que seu espaço tenha sido invadido por completo (e talvez sujeito a alterações) nem isolar completamente um e outro, mas para que o público e o privado se complementem, de forma que o usuário se identifique como ele próprio, com suas características e particularidades dentro de seu espaço; e que se identifique como um membro de uma comunidade e, apesar de existirem conflitos e diferenças, ele se sinta parte do espaço público. Antes do aumento de carros na rua e da priorização de espaços de passagem, a rua era tida como sala de estar comunitária, quando havia 26 [micro]INTERVENÇÕES
o costume de maiores ações conjuntas com os vizinhos; pois o espaço público está para “além da porta ou do portão”, para “um mundo onde de pouco temos a ver, sobre o qual praticamente não exercemos influência” (HERTZBERGER, 1999).
Ao observar a relação entre o usuário e o espaço (ou o objeto), nota-se que no cotidiano, um espaço com potencial ou apropriado pelos usuários mostra a capacidade da forma em desempenhar diversos papéis sob circunstâncias mutáveis e a expansão das possibilidades de todas as coisas projetadas (HERTZBERGER, 1999). A forma e o espaço devem
[2] e [3] Imagens retiradas do livro Lições de Arquitetura, das páginas 9 e 48, respectivamente.
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potencializar a acomodação, gerando maior receptividade a diversas situações para estimular a vida cotidiana, onde a interpretação do usuário em relação ao objeto necessita ser mais livre, criando condições; por exemplo, o sentar, que oferece oportunidades de apropriações temporárias e cria mais circunstâncias para o contato com o outro, mas sempre com cautela para evitar desperdícios de espaço. O deslocamento do olhar do âmbito oficial para o informal traz uma leitura mais humana à arquitetura (ou ao espaço de modo geral, seja público ou privado) onde sempre encontra a alteridade como alternativa para que as dinâmicas cotidianas tenham maior fluidez.
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[4] Caminhada pelo Barrio Góes, em Montevidéu, Uruguai
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(PARÊNTESES)
Uma experiência: lentidão e desaceleração Este trecho do trabalho se trata de uma memória etnográfica, onde tive a chance de experimentar, fora do meu contexto, um outro ritmo de cidade, uma outra velocidade, de grande importância para apreensão e entendimento da cidade e da especificidade de cada local. Pretendo, com este breve relato de um desvio no meio do caminho, explanar como uma vivência tão breve teve um impacto significativo neste trabalho (e mais importante: no meu próprio olhar). Por uma casualidade afortunada, tive a oportunidade de participar de um congresso estudantil na cidade de Montevidéu, no Uruguai, logo no começo deste trabalho de graduação. A cidade de Montevidéu, claramente, possui um caráter distinto e uma escala muito menor que a cidade de São Paulo, sendo impossível compará-las. Mas a intenção de colocar a experiência de Montevidéu neste momento do trabalho é para falar da experiência da lentidão, essencial para compreender a velocidade cotidiana, a velocidade do bairro. Localizada ao sul do país, a cidade está às margens do Rio de la Plata, sendo a maior cidade uruguaia. A cidade possui o “centro velho”, que abrange os bairros Ciudad Vieja, Centro e Barrio Sur, e o “centro novo”, entre os bairros Cordón e Palermo, com a Avenida 18 de Julio sendo uma das principais da cidade.
[5] Mapa da cidade de Montevidéu.
No primeiro dia que estive lá, já pude experimentar uma outra realidade, que o caos metropolitano paulista não me proporciona há um [micro]INTERVENÇÕES 31
tempo: caminhar ao longo de quadras e mais quadras, sem me preocupar com a distância. Ao sair do Terminal Tres Cruces, juntamente com outros estudantes, caminhamos até o alojamento e fomos conversando. Foi garantido por Álvaro, estudante paraguaio, apaixonado por Montevidéu e São Paulo, caminhante e errante nato, que era tranquilo caminhar por aquelas ruas. Era muito fácil de se localizar ali no centro. Para alguém que estava em contato, pela primeira vez, com aquela cidade, estranhei. A princípio, achei tudo longe, não conhecia o suficiente para pegar um ônibus, sem dinheiro para o táxi, enfim, não estava orientada ali. Seria muito fácil de me perder. As coisas não pareciam tão próximas, até caminhar no lugar por mais de uma vez. Ao chegar no alojamento, todos saíram para ir à casas de câmbio, decidi ficar um tempo para reconhecer o local onde passaria a próxima semana. Após acomodar-me ali, peguei o mapa da cidade e me dirigi à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UdelaR (Universidad de la República). A princípio, não parecia tão longe. Decidi não olhar no mapa e guiar-me pelos nomes das ruas e pelo traçado viário. “É bem pertinho! Dá pra ir a pé, pelo menos pra mim, que gosto de caminhar”, me disse Álvaro, antes de sair. E eu achava que aquilo era uma mentira, pois para o contexto da pressa e ansiedade paulista, aquilo não chegava nunca. Durante o caminho, fui percebendo algumas coisas que perdemos em São Paulo: desfrutar o caminho. Olhar para os mínimos detalhes, olhar para as pessoas, sem medo. Descobri lojas, serviços, calçadas quebradas, pessoas simpáticas, linhas de ônibus, um rabisco na parede. Pude descobrir o espaço pelas minhas próprias pernas e fazer daquilo que mais me interessava, ou mais se destacava a partir da minha percepção, um marco. Busquei passar mais tempo experimentando a cidade do que 32 [micro]INTERVENÇÕES
fotografando-a efetivamente, mas procurei registrar algumas coisas que me chamaram mais a atenção.
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Esquina da Avenida 18 de Julio com a Dr. Eduardo Acevedo
Caminhada na Plaza del Entrevero
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Assim como afirma Sarlo (2014), é possível que o habitante local tenha imagens estereotipadas da cidade por conta do acúmulo de experiências, sejam elas atentas ou não. Já o estrangeiro, naquele local, parte do zero: caminha mais que os habitantes locais e acredita que a cidade é mais “caminhável” uma vez que seus deslocamentos não incluem trabalho, filas ou experiências do dia-a-dia. O turista é um caminhante “puro”, que pode caminhar, se perder, ir além do que uma possível automatização do dia-a-dia permita; diferentemente do habitante local que enfrenta a hostilidade em sua cidade, que é mais ou menos desconhecida para o turista, pois o vive em sua própria cidade de origem. (SARLO, 2014, p.180). O estrangeiro possui uma pecepção fora daquele contexto, na qual saltam-lhe aos olhos as ações e objetos possivelmente considerados banais, ou simplesmente sem qualquer relevância para os habitantes locais, já que possuem uma rotina mais “automatizada” no local em que vivem. Na cidade estrangeira não é necessário padecer essa nostalgia, porque seu passado, mesmo que seja conhecido, não foi o passado do visitante, que se sente livre de uma reminiscência que sempre lhe seria alheia. (...) O tempo do estrangeiro que passeia pela cidade favorece a percepção do detalhe que, intensamente captado, comentado, fotografado, começa a tomar dimensões de um traço ou uma qualidade estável. (SARLO, 2014, p.180).
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[8] À tarde na Plaza de la Independencia
[9] Entre as ruas da Ciudad Vieja
[10] No banco da praça
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[11] Vendedores de rua se apropriam do espaço do edifício
[12] Esperando o ônibus
[13] Numa das feiras da Ciudad Vieja
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Indo além do centro principal da cidade, pude explorar o Bairro Góes, localizado mais ao norte. Parte de um workshop proposto pelo congresso, a ideia era explorar o bairro e a partir do caminhar e tinhamos as seguintes questões: que relatos se escondem atrás da cidade visível? Porque o entorno é mutável? A partir das indagações de elementos e variáveis que compõe o tecido urbano, e do reconhecimento do território, cada grupo tinha como tarefa chegar a uma pergunta ou tema para o começo de uma inevstigação. Um bairro que é mais pobre e um pouco mais distante do centro já possui características diferentes. Os comércios são de pequeno porte, mais locais, com menor volume de pessoas na rua, mas com maior lentidão. Neste bairro também havia um misto de pequenos comércios, residências e alguns galpões pequenos de indústrias. Existem planos de requalificação e adensamento do bairro, mas até então nenhum plano obteve o êxito esperado. Percebi, neste bairro, que as pessoas ficavam mais em calçadas, com suas cadeiras, tomando o tradicional mate, comendo ou conversando. Se apropriavam de peitoris mais baixos e das fachadas para colocar sua barraquinha de comida, comércio, bandejas de frutas. O desenho da cidade e dos espaços públicos, no geral, são mais convidativos e permitem que os usuários se apropriem do espaço.
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[14] A vista para as janelas
[15] Manequins pela calçada
[16] Na porta de casa, de cadeirinha de praia
[17] Um lugar para sentar numa fachada
[18] Outro lugar na fachada
[19] Frutas na esquina
[20] Aproximação das frutas
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Decidi colocar essa experiência como parte do processo de apreensão da cidade, uma “memória etnográfica” que serviu para entender (novamente) o que é a lentidão e a diferença de tempos e velocidades, e porque ela se faz necessária para que o corpo compreenda o espaço. No lugar da pressa caótica constante da cidade de São Paulo, pude experimentar na lentidão o olhar no olho do outro, a experiência de alteridade urbana. Esse ritmo mais lento sobrevive apesar da hegemonia da rapidez e da alta produtividade, que “busca esconder, acelerar ou eliminar os tempos lentos” que resistem, sobretudo, nas cidades brasileiras (JACQUES, 2012). Ao final de uma semana, não estava mais em Montevidéu como uma estrangeira, e sim como uma habitante local. Me tornei “mais uma” em meio aos estudantes, “mais uma” pedestre, mais uma usuária do local. Já sabia quais ônibus tomar, as esquinas a dobrar, as praças a se frequentar e os locais mais úteis (e não os mais espetaculares) para usufruir de algo. O centro da cidade também possui algo que posso chamar de pequenas gentilezas: o desenho do espaço público é, na maioria das vezes, convidativo. É um convite à lentidão. Muitas vezes, em grandes cidades, espetacularizadas, com um tempo mais rápido que o próprio corpo dá conta, com o triplo de informações que nos fazem ficar completamente anestesiados diante de tantos estímulos, perdemos a completa noção da escala humana e do tempo que nosso corpo necessita para se conectar com o lugar, e assim começar a criar algum tipo de laço com aquele lugar em específico. Ressalto, nesse breve relato, a necessidade de sentir o espaço. A percepção subjetiva, corpórea e atenta aos menores detalhes trás novas possibilidades além dos fatos, daquilo que já está dado. 40 [micro]INTERVENÇÕES
[21] Passando o tempo na Plaza de la Independencia
[22] Esperando o ônibus
[23] Uma noite na Plaza de los Treinta y Tres Orientales
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Senti, naquela cidade, a lentidão citada por Jacques (2012), que se referem principalmente aos pobres ao citar os homens lentos, a experiência da lentidão, comumente, ocorre em lugares à margem da aceleração do mundo contemporâneo. “Pobres, homens comuns, homens ‘lentos’ acabam por ser mais velozes na descoberta do mundo” (JACQUES, 2012, p. 282) e da cidade. A velocidade com a qual quero chegar de um lugar à outro diminuiu, aliás, a necessidade de se ter um ponto de chegada, muitas vezes, era inexistente. O caminhar pelo caminhar, permanecer num determinado espaço sem qualquer propósito, esquecer do tempo. Aproveitar o final de tarde numa praça, observar o que os outros estavam fazendo ali: aproveitar a companhia alheia, jogar conversa fora, passar pela praça sem qualquer pressa, tocar violão com os amigos na escada… Parar, observar, permanecer. Descansar.
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Encontros pelas ramblas na costa da cidade
A tradicional feira de TristĂĄn Narvaja, onde se encontra todo tipo de mercadoria: chaveiros, roupas, discos antigos, fotografias, artes, detergente, leite condensado, etc.
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O TERRITÓRIO
Pelos bairros, entre bairros A unidade de percurso é o bairro, e a qualidade do espaço é a familiaridade. Borges, caminhante crepuscular ou anoitecido, percorre lugares cotidianos, onde a cidade se torna mais íntima e amistosa. O percurso promete a salvação da cidade cosmopolita pela regularidade silenciosa da cidade em expansão na direção do subúrbio. (SARLO, 2014, p. 145)
Breve histórico A área escolhida para estudo está localizada ao sul do Município de São Paulo, delimitada fisicamente pelo Rio Pinheiros (canal Guarapiranga e Jurubatuba), represa do Guarapiranga e represa Billings; inserida no distrito de Socorro, próxima aos distritos Cidade Dutra e Grajaú, administrada pela Subprefeitura da Capela do Socorro. Parte desta área está sob proteção dos mananciais. A ocupação deste território está ligada à expansão e estruturação urbana de Santo Amaro, região à qual esteve ligada administrativamente até 1985. Sua formação começa com a tentativa de atrair imigração européia. Em 1827, os primeiros grupos de colonos alemães desembarcam em Santos e espalharam-se por toda a região sul. Ao contrário de cidades mais ao sul do Brasil, não preservou-se aspectos da tradição cultural alemã, restando muito pouco dessa experiência imigratória com famílias que ainda residem na região, além da presença do tradicional colégio [micro]INTERVENÇÕES 45
MAPA DA CIDADE DE SÃO PAULO
ÁREA DE ESTUDO
VELEIROS
Santo Amaro
Av. Rio Bonito
Socorro Cidade Dutra Av. Atlântica
Grajaú
REGIÃO ADMINISTRATIVA CAPELA DO SOCORRO
JARDIM SUSANA
JARDIM IPANEMA
VILA FRIBURGO
JARDIM PAQUETÁ
Av. Antonio B. da Silva S.
[26] e [27]
SEM ESCALA
46 [micro]INTERVENÇÕES
Localização o bairro a partir da visão da cidade e perímetro da área de estudo
alemão Humboldt, que permanece na região até hoje. O interesse por ocupar a região vem das primeiras décadas do século XX com a construção das barragens da Light: a represa do Guarapiranga, em 1907, e a do rio Grande, após a grande seca de 1924, que deu origem à represa Billings. As represas formaram, para a região, um grande potencial de lazer junto às águas, atraindo interesse e intensa especulação imobiliária para loteamentos direcionados à construção de equipamentos recreativos. Ao olhar o antigo mapa da região, percebese no próprio desenho urbano a presença de grandes chácaras, além da presença de vários clubes de campo e clubes náuticos ao longo das bordas da represa, com foco para o antigo Clube Santa Paula e o Clube Atlético São Paulo. Algumas dessas chácaras foram desmembradas, outras se tornaram equipamentos, como a Escola Estadual José Geraldo de Lima. Ao longo das bordas da represa Guarapiranga, instalaram-se restaurantes, bares e demais estabelecimentos de lazer. Alguns loteamentos residenciais de padrão médio surgiram na década de 20, na porção norte da Capela do Socorro, com destaque para a Vila Friburgo, que era o maior de todos até então. Mas até a década de 40, esta região era pouco ocupada, mas com o processo de abertura de loteamentos industriais em Santo Amaro, houve um crescente interesse pela região, trazendo indústrias de pequeno a médio porte e principalmente loteamentos residenciais, onde trabalhadores da região de Santo Amaro encontraram um local mais acessível para moradia. Os bairros que se encontram neste perímetro se formaram a partir de um desenvolvimento mais espontâneo em torno de entroncamentos de estradas ou de vilas rurais pré-existentes. Com o adensamento e [micro]INTERVENÇÕES 47
desenvolvimento mais acelerado, a região passou a ser servida por linhas de ônibus, facilitando mais ainda o acesso. As estradas funcionavam como eixos e geraram pequenas aglomerações próximas aos pontos de parada, trazendo comércios e serviços de pequeno porte para atender demandas locais. Com o adensamento dos bairros, esses pequenos pólos também cresceram, onde surgiram novos bairros.
[28] e [29] Imagem aérea da área de estudo em 1958 e 2008
48 [micro]INTERVENÇÕES
Nas décadas de 50 e 60, São Paulo passou por um intenso processo de expansão industrial, com alterações no padrão de localização das indústrias de maior porte. Um dos aspectos foi a consolidação e ampliação do pólo industrial de Santo Amaro, que trouxe um significativo adensamento da população que trabalhava nas indústrias recém-chegadas, pois ainda era uma região não consolidada, cm disponibilidade de terra e baixo custo. Os novos bairros que surgiram acompanharam o mesmo estilo de expansão urbana periférica, sem qualquer preocupação urbanística, o que caracterizou a expansão e espraiamento da cidade nos anos 70. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, o crescimento populacional é um dos indicadores da transformação ocorrida na região: de 30.000 habitantes em 1960, a região da Capela do Socorro passou a 261.230 habitantes em 1980, 563.922 em 2000, e 594.930 em 2010, segundo dados do Censo. Na região da Capela do Socorro, a população estimada em 2010 é de 594.930 habitantes e no distrito do Socorro, onde localiza-se a área de estudo, a população estimada em 2010 é de 37.783 habitantes, onde ainda sobrevivem diversos comércios locais, pequenas indústrias e residências unifamiliares, principalmente de antigos moradores da região.
[30] “Antes desse galpão, que está entre as árvores, ser construído, você via toda a represa do Guarapiranga. Era lindo…” Palavras de Najla Drgnam, dentista e residente da região. Vista do seu consultório odontológico na Av. Rio Bonito, um dos pontos mais altos do bairro. Fotomontagem de sequência de fotos.
[micro]INTERVENÇÕES 49
O bairro como unidade de percurso O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é mais favorável para um usuário que deseja deslocar-se a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, pe o pedaço de cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada (...) pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. (MAYOL in CERTEAU; GIARD, MAYOL, op. cit., p. 41)
[31] Fachada de uma casa em construção na Vila Friburgo
50 [micro]INTERVENÇÕES
Passei a maior parte da minha infância nessa região, usufruindo de diversos serviços, além dos laços familiares que ali existem. Desde que me entendo por gente, habito, uso, frequento os bairros que escolhi como objeto de estudo. Por anos, passei as tardes na casa de minha vó, moradora da Vila Friburgo, e estudava há exatos dois quarteirões da casa dela. Fazia o trajeto a pé, todos os dias, para ir e voltar. Passei um bom tempo frequentando academias, feiras e outros serviços pela região, fazendo todos os percursos a pé. Antes de ter contato mais frequente com outras áreas da cidade, ainda não tinha sofrido com uma possível distorção daquilo que é o local que habito, muito menos com um outro ritmo de cidade, uma outra velocidade, ou com os fenômenos decorrentes da urbanização acelerada e do adensamento da cidade, como a violência urbana e o próprio anestesiamento a partir dos grandes deslocamentos e da grande quantidade de informações que a metrópole proporciona. Ao resgatar o relato e a experiência de lentidão em Montevidéu, percebo como me isolei em relação ao bairro e ainda possuía medo de ultrapassar a barreira do espaço privado para o espaço público. Após experimentar e (re)conhecer a lentidão, a desorientação e corporeidade (temas desenvolvidos por Paola Jacques (2012)) em um local estrangeiro,
voltei ao meu local de origem com um olhar diferenciado para um local que ainda resiste à velocidade da cidade contemporânea, onde as relações permanecem. Diferente da experiência em Montevidéu, onde fiquei no centro da cidade, minha experiência em São Paulo é na zona sul, aproximando-se do extremo sul da cidade. Por estar distante do centro da metrópole paulista, minha área de estudo tem certo caráter de centralidade, na escala do bairro, ao olhar todo o perímetro. As pessoas se apropriam, usam, caminham, percorrem, permanecem, sem qualquer preocupação. É espontâneo, as coisas simplesmente acontecem. “Agora, estamos descobrindo que, nas cidades, o tempo que comanda, ou vai comandar, é o tempo dos homens lentos. (...) quem, na cidade, tem mobilidade - e pode percorrê-la e esquadrinhá-la - e acaba por ver pouco, da cidade e do mundo. sua comunhão com as imagens, frequentemente préfabricadas, é a sua perdição. Seu conforto, que não desejam perder, vem, exatamente, do convívio com essas imagens. Os homens ‘lentos’, para quem tais imagens são miragens, não podem, por muito tempo, estar em fase com esse imaginário perverso e acabam descobrindo as fabulações.” (SANTOS, 1996 apud JACQUES, 2012, 272)
Segundo Jacques (2012), a prática dos homens lentos no espaço urbano se aproxima das ações dos praticantes ordinários de Certeau: as formas de adaptação e invenção dos homens lentos equivalem às astúcias e táticas do cotidiano, criando táticas que subvertem e modificam o que fora planejado anteriormente. Para apreender essas astúcias cotidianas, o movimento lento, garantido pela perambulação, faz com que o corpo encontre o outro, uma prática urbana de alteridade. A partir desta [micro]INTERVENÇÕES 51
experiência, incorpora-se tal experiência. Nas palavras que Jacques (2012), o sujeito corporificado também está diretamente relacionado à necessidade de ressubjetivação das relações sociais, resistindo à aceleração e à velocidade. Para Deleuze e Guattari, a lentidão não seria, como se pode acreditar, um grau de aceleração ou desaceleração do movimento (...) mas sim de outro tipo de movimento: ‘Lento e rápido não são graus quantitativos do movimento, mas dois tipos de movimento qualificados’ (...) Porém, esta lentidão também pode ser vista como uma crítica ou denúncia da aceleração contemporânea, (...) ávidos de meios de circulação cada vez mais velozes. Lentidão não se refere a uma temporalidade absoluta e objetiva, mas sim relativa e subjetiva, ou seja, significa uma outra forma de apreensão e percepção do espaço urbano, que vai bem além da representação meramente visual. São os homens lentos, como dizia Milton Santos, que podem melhor ver, aprender e perceber a cidade e o mundo, indo além de suas fabulações puramente imagéticas. (JACQUES, 2008 apud DELEUZE; GUATTARI, 1996)
[32] Domingo à tarde (foto: Aline Barros)
52 [micro]INTERVENÇÕES
Decidi, então, desprender-me do medo que sentia, de pré-conceitos sobre o próprio local. Após muito tempo sem, de fato, caminhar pelo bairro, estabelecer um contato real com aquele trecho de cidade que habito (mas sem habitar), me questionei sobre o meu afastamento deste lugar em específico. Já com uma ideia de retomar esse contato com o lugar ao conceber o tema deste trabalho, sem pensar em qualquer qustão urbanística ou arquitetônica, a experiência “fora” me fez sentir novamente a lentidão e a alteridade no espaço urbano, contrários ao anestesiamento vivido diariamente.
Percepções e perambulações
[33] Um banco no canteiro: apropriações pela Av. Inácio Cunha Leme
[micro]INTERVENÇÕES 53
A rua, que eu acreditava fosse capa de imprimir à minha vida giros surpreendentes, a rua, com as suas inquietações e os seus olhares, era o meu verdadeiro elemento: nela eu recebia, como em nenhum outro lugar, o vento da eventualidade. (BRETON, A. Les pas perdus. Paris, N.R.F., 1924. In: Walkscapes: O caminhar como prática estética)
[34] Indo à feira
Para reconectar-me com o meu bairro, além do maior contato com a área de estudo, me permiti passar algum tempo perambulando pelo bairro, conversando com moradores, usuários do local e levando outras pessoas para perambular comigo, inclusive alguns dos próprios moradores. Já disposta a desvencilhar-me de medos, também pratiquei algumas perambulações sozinha, para livrar-me de qualquer pré-conceito ou deixar-me contaminar por percepções de outras pessoas. Quando penso nesse recorte de cidade que utilizo e frequento, não consigo desconectar, por exemplo, Veleiros do Jardim Susana, e por mais que eu quisesse eu realmente não conseguiria, justamente pelas relações e pelos laços estabelecidos: o que há entre um bairro e outro, o que há entre o lugar e o indivíduo. Não há uma delimitação geográfica, muito menos uma barreira visível, física. Eu sei quando estou dentro de Veleiros, sei quando estou no Jardim Susana, sei quando estou na Vila Friburgo, mas não percebo os limites pela fluidez que há ao percorrer as ruas. Me perco facilmente, com a mesma rapidez que me encontro dentro deste recorte: entro em uma rua na Vila Friburgo e, quando me dou conta, já sinto que estou em Veleiros. Essas sensações permitiram com que eu pudesse descobrir um “novo” território dentro do bairro.
54 [micro]INTERVENÇÕES
Por achar que já conhecia o bairro, pensei que não teria curiosidade
ou que determinados lugares não me despertassem interesse, medo, conforto ou qualquer outra sensação. Ao contrário do que imaginava, descobri mais coisas interessantes que imaginava a respeito do próprio lugar. Pequenas astúcias praticadas no dia-a-dia, o espaço como suporte para relações cotidianas e, principalmente, como suporte para ações lentas, fora de um circuito caótico. A princípio, imaginei encontrar um bairro com uma vida urbana extremamente ativa, com diversas pessoas na rua. Ao olhar para o mapa, pensar na morfologia urbana ali existente, já tive outra percepção: talvez aquele lugar não fosse tão animado quanto eu esperava, talvez até “morto”, por ser em grande parte composto por residências e pela presença das indústrias, mas sem qualquer movimentação comunitária, ou relação da própria comunidade com o local. Me surpreendi ao percorrer o local, descobrindo diversas dinâmicas pelo espaço, diferente daquilo que esperava a partir de pré-concepções sobre o próprio lugar. Busquei mapear características físicas da região, bem como colocar em mapas as percepções que tive ao caminhar pelas ruas e locais que meu corpo me guiou até lá por mais vezes. Para esta etapa do trabalho, deixo apenas os registros fotográficos do que pude apreender durante as perambulações. Em alguns lugares decidi não tirar fotos, pois poderia criar um certo estranhamento ou desconforto para os moradores, ou não era o local apropriado por conta de seu uso. O registro fotográfico fica como uma memória daquilo que acontece em cada lugar.
[35] Uma praça, uma sombra e dominó.
[micro]INTERVENÇÕES 55
56 [micro]INTERVENÇÕES
[36]
[37]
Pausa para ler o jornal na padaria
“Temos côco gelado” na Quitanda do Milton
[38] Sequência: passeio entre folhas secas
[39] Sequência: Quarta é dia de feira
[micro]INTERVENÇÕES 57
58 [micro]INTERVENÇÕES
[40]
[41]
Conversas na padaria
Esquinas de boteco, vista da padaria
[42] Hora do intervalo
[43] Viela no Jardim Susana
[44] Um caminho entre árvores
[45]
[46]
[47]
Conversas sob a sombra
Uma mesa na árvore
Saindo da banca de jornal
[micro]INTERVENÇÕES 59
[48] Sequência: o morangueiro e o parklet
[49] Sequência: rotatória da Vil Friburgo
60 [micro]INTERVENÇÕES
[50] Alugam-se quartos
[51] Muros baixos
[52] Entre o caminhão e a fábrica
[53] Sequência: acesso ao Humboldt
[micro]INTERVENÇÕES 61
[54] Sequência: Córrego
62 [micro]INTERVENÇÕES
[55] Sequência: pequenas ruas de Veleiros
[56]
[57]
[58]
Casinhas de Veleiros
Instituto Social Nossa Sra. de Fátima
Brechó em Veleiros
[micro]INTERVENÇÕES 63
[59] Sequência: Praça do escoteiro
[60] Sequência: No cruzamento da Rua Leonardo Di Fássio
64 [micro]INTERVENÇÕES
[61] Descendo para a represa
[62] Feira de domingo
[63] Dominó de domingo
[64]
[65]
[66]
Cerca elétrica
Uma cadeira
Dia de jogo no CDC Jardim Susana
[micro]INTERVENÇÕES 65
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Mapa topográfico (declividade)
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Rua Eugênio Bartolomai
Ave nid aA
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Avenida Atlântica
785 66 [micro]INTERVENÇÕES
725
Cotas de nível Perímetro
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
Mapa cheios e vazios
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Rua Eugênio Bartolomai
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Avenida Atlântica
ESCALA APROXIMADA
Edificações Perímetro
[micro]INTERVENÇÕES 67 1:20.000
Mapa áreas verdes e praças (espaço público)
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Rua Eugênio Bartolomai
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68 [micro]INTERVENÇÕES Áreas verdes e praças públicas Perímetro
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
Mapa hidrográfico
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Rua Eugênio Bartolomai
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Avenida Atlântica
ESCALA APROXIMADA
Córregos e rios Perímetro
[micro]INTERVENÇÕES 69 1:20.000
Sobreposição
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Rua Eugênio Bartolomai
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Avenida Atlântica
70 [micro]INTERVENÇÕES Córregos e rios Perímetro
Áreas verdes e praças públicas Edificações
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
Feiras e Clubes de Comunidade (pontos de encontro) Quarta
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Sábado
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Escola de Futebol São Paulo
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CDC Vila Friburgo
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Domingo Terça CDC Veleiros
Rua Eugênio Bartolomai
CDC Jardim Suzana
Avenida Atlântica
ESCALA APROXIMADA
Feiras
Clube de comunidade/Escola de futebol
Perímetro
Escolas e creches (públicas e privadas)
[micro]INTERVENÇÕES 71 1:20.000
Escolas Colégio Piemonte
EMEI Viriato Correia
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Instituto Social Nossa Sra. de Fátima
Colégio Brasil Jovem
Colégio Pequeno Castelo
Colégio e Teatro Humboldt
EMEI Clara Nunes
EE José Geraldo de Lima
EM Heitor de Andrade
CEI Diret. Veleiros
CEI Ayrton Senna
Rua Eugênio Bartolomai
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EM Plácido de Castro
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Colégio Dimensão
Ave nid aA
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Colégio Alcance
Avenida Atlântica
72 [micro]INTERVENÇÕES Feiras Perímetro
Clube de comunidade/Escola de futebol Escolas e creches (públicas e privadas)
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
Silv aS
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Mapa sensorial: onde o corpo me levou
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Rua Eugênio Bartolomai
Ave nid aA
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Avenida Atlântica
ESCALA APROXIMADA
Áreas mais atrativas Perímetro
[micro]INTERVENÇÕES 73 1:20.000
Mapa da malha viária e acessibilidade
Avenida Rio Bonito
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Silv aS .
CIDADE DUTRA
Ant oni
1. Av. Inácio Cunha Leme 2. R. Dr. Luís Arrobas Martins 3. R. Maria Aparecia Cardia/ R. Antônio Mariano 4. Av. Berna 5. Av. Ipanema 6. Av. Coronel Octaviano de Freitas 7. Av. Leblon 8. R. Leonardo Di Fássio
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3
RUAS E AVENIDAS
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1
SANTO AMARO/ GUARAPIRANGA
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Rua Eugênio Bartolomai
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Pontos de ônibus Avenidas principais Ruas e avenidas de conexão/entrada na área
Avenida Atlântica
Acesso bloqueado para veículos Vielas
74 [micro]INTERVENÇÕES Quadras
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
Silv aS .
Mapa de percepções
oB Ant oni
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Rua Eugênio Bartolomai
Ave ni
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Residências, padrão médio-alto, muros, portões, cercas, vazio, lotes à venda Eixos comerciais, botecos, padarias, mercados, serviços variados, bastante movimento, pessoas na rua, praças utilizadas com mais frequência Áreas mistas, comércios e serviços locais e médios, médio movimento, diversidade, botecos Residências, padrão médio-baixo, pessoas na rua, comércio local, médio movimento, comunidade
Galpões industriais, insegurança, movimento, poucas pessoas na rua
vazio,
sem
Avenida Atlântica
Galpões, mecânicas, agências de carros, lojas de artigos usados, serviços, área mais degradada Muro, barreira, insegurança, equipamento privado, poucas pessoas na rua Equipamentos públicos, pontos de encontro, escolas, CDCs, movimento, diversão, lazer, esporte, saúde
ESCALA APROXIMADA
[micro]INTERVENÇÕES 75 1:20.000
Ao conversar informalmente com diversas pessoas que habitam o local (ou áreas próximas), usam com certa frequência ou possuem laços com o lugar, pude acrescentar uma noção maior dos laços que existem no bairro. É evidente o caráter de esporte, lazer e ócio de alguns lugares específicos, comumente nas praças públicas e nos clubes de comunidade da região. Numa conversa com Gabriela Nakamura, moradora e usuária da região, descobri que ao lado do Clube de Comunidade Jardim Susana, existe uma pequena praça que é gerida pela própria comunidade e pelo Clube. Ao pesquisar um pouco mais sobre o local, encontrei registros dos próprios moradores e usuários ajudando na reforma do Suicida Park, a pista de skate daquela praça. Além dos treinos e jogos de futebol, o CDC Jardim Susana conta também com uma equipe de Jiu-Jitsu e promove festas e encontros para reunir a comunidade.
[77] e [78] CDC Jardim Susana e sequência de fotos da reforma da pista de skate Suicida Park
76 [micro]INTERVENÇÕES
Outro ponto interessante é o Guri Jiu-Jitsu, ao lado do antigo Açaí na Tigela, na Vila Friburgo. A academia é antiga na região, e segundo entrevistas, também teve grande participação de seus usuários em sua construção. Antigamente instalando no canteiro, o Açaí na Tigela (também conhecido como Piauí) é antigo no bairro, sendo um ponto de
(também conhecido como Piauí) é antigo no bairro, sendo um ponto de interesse por estar próximo a um grande eixo de circulação (Av. Rio Bonito). Por enquanto não tenho registros fotográficos deste local. Além desses dois pontos com visível participação comunitária, também me chamou a atenção o eixo do Córrego da Avenida dos Lagos (não foram encontradas informações sobre o nome do córrego). O córrego cruza boa parte da área delimitada, criando uma espécie de barreira, ao mesmo tempo que cria praças e passeios arborizados. Não é um local muito utilizado pelas pessoas pois não está em boas condições. Essa área cruza Veleiros e Vila Friburgo, passando por áreas com características diferentes. Pode ser interpretado como uma barreira, um local de transposição ou conexão, uma área de descanso ou de passagem. (ver imagem 54: sequência de fotos do córrego). Além desses pontos citados, existem outros locais que interessam à esse trabalho como locais possíveis de intervenção, que podem ser vistos no mapa de possíveis intervenções na próxima página. Para complementar o levantamento feito, pretendo entrar em contato com alguns estabelecimentos e instituições da região, como o Clube de Comunidade Jardim Susana e Sociedade Amigos de Veleiros, continuar em busca de associações de moradores, coletivos ou semelhantes, e moradores para recolher mais informações que possam ser úteis. Para essa primeira etapa, ficam faltando análises mais consistentes sobre o local.
[micro]INTERVENÇÕES 77
Mapa de possíveis intervenções 2
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6 7 4 5 Possibilidades: 1. CDC Jardim Suzana 2. Guri Jiu-Jitsu e Açaí na Tigela 3. Eixo verde e córrego da Av. dos Lagos/Av. Ipanema 4. Espaço público da Av. Inácio Cunha Leme 5. CDC Veleiros 6. Praças da Av. Ipanema e Av. Leblon 7. Cruzamento Av. Ipanema x Av. Leblon x R. Dr. Luís Arrobas Martins 8. Espaço público entre colégios, CDC e feira na Av. Danton Jobim 78Praças [micro]INTERVENÇÕES 9. do Jardim Paquetá 10. Proposta em lote subutilizado na Vila Friburgo (não indicado mas é uma possibilidade)
Rua Eugênio Bartolomai
1
Avenida Atlântica
ESCALA APROXIMADA 1:20.000
[micro]INTERVENÇÕES 79
80 [micro]INTERVENÇÕES
REFERÊNCIAS
PROJETO INTERVENÇÃO
Projetuais e Gráficas
ES
os projetos buscam novas formas de co fundamentais que rege
Como referências projetuais, selecionei alguns projetos que estavam de acordo com aquilo que tinha imaginado como microintervenções (ou intervenções pontuais). A escala de intervenção dos projetos que selecionei são mais interessantes para uma relação mais próxima do indivíduo com o lugar, além da possibilidade de expandir seu potencial para além do local de intervenção. Primeiramente, como um breve estudo de intervenções arquitetônicas no espaço, os projetos Espacios de Paz, na Venezuela, possuem escalas e uma premissa interessantes de serem analisados. Os projetos da ação Espacios de Paz buscam criar dinâmicas sociais que convidam a novas formas de convivência, transformar as categorias fundamentais que regem a vida cotidiana: o uso do tempo e do espaço, segundo os próprios autores. Coordenado pelo coletivo PICO Estudio com a tutoria de instituições pública, para cada projeto são eleitos representantes de quatro coletivos de jovens arquitetos que desenvolvem o processo de diálogo com a população, pesquisa, desenho e construção de algum equipamento, social, educativo ou esportivo, que será administrado pela comunidade local. Esse trabalho é desenvolvido durante 5 semanas. (imagem 79)
PI es
[79] Espacios de Paz na Venezuela
Outro projeto referencial para este trabalho é o projeto vencedor para Concurso de Requalificação Urbana e Segurança Viária em São [micro]INTERVENÇÕES 81
PROJETO INTERVENÇÃO
ESTUDO DE CASO
Miguel Paulista. O concurso parte da Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP), comconcurso consultoria capacitação da Iniciativa Bloomberg parae área 40 em são miguel paulista; de Segurança no Trânsito (BIGRS), com o objetivo de reduzir conflitos e desenho das ruas mais seguras para pedestres; mortes no trânsito e promover maior segurança viária para os pedestres. região conta com grande volume de pedestres e ciclistas. Entre outros objetivos, essa iniciativa teve como parte das atividades uma concorrência fechada com oito escritórios de arquitetura e engenharia destaque para 23SUL: mapeamento dos locais passíveis PROJETO de São Paulo, para abordar diferentes formas de desenho de ruas mais INTERVENÇÃO indicam diretrizes e estratégias, de intervenção, seguras para todos os usuários. O projeto vencedor, do escritório 23 propõe sistema viário com SUL, se destaca pelareadequação estratégia dedo implantação e pelo seupequenas alinhamento concurso para área 40 em são intervenções. às normas técnicas e exequibilidade. O interessante destemiguel projetopaulista; é
ESTUDO DE CASO
desenho das ruas mais seguras para pedestres; região conta com grande volume de pedestres e ciclistas.
destaque para 23SUL: mapeamento dos locais passíveis de intervenção, indicam diretrizes e estratégias, propõe readequação do sistema viário com pequenas intervenções.
[80] Imagens retiradas de ArchDaily Brasil. Projeto vencedor do concurso.
82 [micro]INTERVENÇÕES
PROJETO INTERVENÇÃO
ESTUDO D
sua implantação em três etapas com diferentes prazos (fundamentais, complementares e futuras), em pontos estratégicos de intervenção, o que mostra a compreensão dos fluxos e do local que receberá tal intervenção. Outros projetos tidos como referência são as intervenções do coletivo espanhol basurama. Um dos projetos estudados é o Paisaje Sur: intervenciones el en Huerto de San Juan, onde o coletivo desenvolve mobiliários com diferentes funcionalidades, que permite diversas apropriações por parte dos usuários, premissa citada por Herman Hertzberger, para abrir possibilidades para as pessoas utilizarem o local ou o equipamento. Seu principal objetivo é gerar processos de colaboração entre associações de bairro, agentes locais e coletivos artísticos para a análise do entorno na escala do bairro, e a ativação de espaços através de intervenções colaborativas.
basurama intervenciones del proyecto Paisaje Sur
Outro projeto é Espacio de estudio y juegos en el CCE de Malabo, que é um dos espaços culturais de referência da capital da Guiné Equatorial. O CCE dispõe de um espaço exterior onde grupos de teatro, coros, grupos de dança e estudantes realizam suas próprias atividades. A partir do uso intenso e das diversas atividades ali praticadas, o coletivo buscou um projeto que se adaptasse ao mobiliário, sombra e iluminação do disponíveis. Assim como os projetos do coletivo basurama, o estúdio britânico Assemble também desenvolve projetos em uma escala mais humana, que permite alterações e subversões de usos. O projeto The Playing Field entra como uma referência projetual. Foi um teatro montado em uma praça pública, no centro de Southampton, que usou a paixão pelo futebol da
bas esp jue Ma [81] e [82] Paisaje Sur e CCE de Malabo
[micro]INTERVENÇÕES 83
cidade para trazer uma nova audiência ao teatro. A estrutura é híbrida, de madeira e aço, que lembra a estrutura e a estética dos tradicionais campos de futebol.
emble studio playing field
[83] e [84] The Playing Field
Além das referências de projeto, foram pesquisadas algumas referências de representação gráfica, que ainda está em estudo para este trabalho. Ainda não foi decidido se será usado desenho a mão livre ou material gráfico digitalizado.
84 [micro]INTERVENÇÕES
Make, Don’t Make Do é projeto baseado em desenho estratégico e
assemble stud the playing fiel
pesquisa, que explorou a área ao redor da via elevada Stratford (Stratford High Street) e do ponto de ônibus Bow (Bow Interchange), no Reino Unido. O estudo possui o estudo do histórico do lugar e uma série de propostas de intervenção em maior escala, sendo uma referência de representação gráfica e organização do material. ESTUDO DE CASO REPRESENTAÇÃO DIAGRAMAÇÃO
assemble studio make, don’t make do
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Outra referência de representação é O Guia Fantástico de São Paulo, elaborado por Ángela León, integrante do coletivo basurama. O guia conta com ilustrações, sendo um passeio pela arquitetura, cultura e natureza da cidade, feitas à mão, de forma mais livre e lúdica, como propõe o próprio título do livro.
Publicação Make, Don’t Make Do O Guia Fantástico de São Paulo
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CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Essa reconexão com o próprio local onde moro e a percepção dos diferentes tempos e velocidades que coexistem dentro da cidade foram elementos essenciais para perceber o caráter, ou nas palavras de Norberg-Schulz, o espírito de cada lugar. Com as explorações conceituais e da exploração inicial do espaço, o produto deste trabalho se dará a partir da vivência no bairro e do que percebi através de perambulações e do próprio contato com o bairro. Com o mapeamento de elementos do cotidiano, cruzo as informações levantadas e as percepções que tive de cada lugar, e a partir daí emergem possíveis espaços com potencial para experimentar intervenções ou projetos, seja de caráter público ou privado, arquitetônico ou urbano. Por ser uma área ampla, as intervenções serão caráter pontual, mas com a intenção de que essa pontualidade extrapole seus próprios limites. Como proposta, vou fazer intervenções pontuais em pelo menos três pontos diferentes do bairro, daqueles levantados anteriormente. As propostas possuem diferentes naturezas: a proposta pode se basear num uso já existente e potencializar as relações que ali ocorrem, basear-se num uso tímido porém potencial ou subverter uma lógica já existente, propor um novo uso. Para isso, farei uma maior análise dos lugares selecionados. Ainda sinto necessidade de percorrer mais o bairro e me “aprofundar” em determinados lugares para que eu comece o exercício projetual na escala escolhida, que é a escala micro. Essa escala micro pode se configurar como um redesenho de praça, gestos pontuais no viário, intervenções de mobiliário urbano ou arquitetura. A ideia é de [micro]INTERVENÇÕES 87
que a escala da intervenção seja adequada ao corpo e, mais que isso, seja pertinente ao que existe ali no bairro, sejam os usos, sejam as relações estabelecidas pelas pessoas que ali vivem. Tenho a intenção de complementar o embasamento teórico (caso haja real necessidade) e fazer algumas melhorias no texto e na organização das ideias, pois entrego este volume ainda inacabado, em processo. Da mesma forma, ainda busco melhores formas de representação gráfica para este trabalho, é um ponto a se melhorar, atualmente está em desenvolvimento para a próxima etapa. Realizei uma pesquisa de referências gráficas e projetuais, onde busco inspiração para uma representação menos “rígida”, mais lúdica. Além dessas intervenções, pretendo formular um guia do bairro com o máximo de informações que eu puder recolher sobre lugares, dinâmicas, pontos de encontro e relações estabelecidas com o espaço. Esse guia necessita, consequentemente, de mais perambulações e reconhecimento do território. Ainda estudo a possibilidade de fazer esse guia ou não. Claramente não esgotarei minha área de estudo, pois as próprias dinâmicas entre pessoas e lugares faz com que, a cada dia, exista algo novo. Dessa forma, reforço o caráter experimental desse trabalho, tanto como método de leitura urbana como de ação projetual.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aqui estão listadas bibliografias utilizadas e outras que serão úteis para a próxima etapa. AGIER, Michael. Encontros Etnográficos: Interação, contexto, comparação. São Paulo: Editora Unesp; Alagoas: Edufal, 2015. 100 p. ARAVENA, Alejandro. Os Fatos da Arquitetura. ArchDaily Brasil. 13 de dezembro de 2013. Acesso em 3 maio 2016. Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/01-160245/os-fatos-da-arquiteturaslash-alejandro-aravena> CANÇADO, Wellington. A insurgência das pipas (e outros jogos potencialmente subversivos). Minha Cidade, São Paulo, ano 10, n. 114.02, Vitruvius, jan. 2010 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/minhacidade/10.114/3388> BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 94 p. CARERI, Francesco. Walkscapes: O caminhar como prática estética. São Paulo: Gustavo Gili, 2013. 188 p. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. 316 p. 90 [micro]INTERVENÇÕES
CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. 372 p. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 272 p. HOLL, Steven. Cuestiones de percepción: Fenomenología de la arquitectura. Barcelona: GG Mínima, 1994. 64 p. GUATELLI, Igor. Arquitetura dos entre-lugares: Sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: Senac São Paulo, 2012. JACQUES, Paola Berenstein; BRITTO, Fabiana Dultra (org.). Experiências metodológicas para compreensão da complexidade da cidade contemporânea: I. Experiência, Apreensão, Urbanismo. Salvador: EDUFBA, 2015. ______. Experiências metodológicas para compreensão da complexidade da cidade contemporânea: III. Alteridade, Imagem, Etnografia. Salvador: EDUFBA, 2015. JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2012. 331 p. ______. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165> [micro]INTERVENÇÕES 91
LEITE, Maria Angela Pereira (org.). Encontros: Milton Santos. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2007. 204 p. MAGNANI, José Guilherme C. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.17, n. 49, jun. 2002 PEREC, Georges. Tentativa de esgotamento de um local parisiense. São Paulo: Gustavo Gili, 2016. 62 p. ROSA, Marcos L. Microplanejamento: Práticas Urbanas Criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011. 232 p. SARLO, Beatriz. A cidade vista: mercadorias e cultura urbana. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. 226 p. SECCHI, Bernardo. Primeira Lição de Urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 2006. 207 p.
REFERÊNCIAS PROJETUAIS E GRÁFICAS José Tomás Franco. “Cómo el proyecto “Espacios de Paz” está transformando los espacios comunitarios en Venezuela” 17 out 2014. Plataforma Arquitectura. Disponível em <http://www. plataformaarquitectura.cl/cl/755609/como-el-proyecto-espacios-depaz-esta-transformando-los-espacios-comunitarios-en-venezuela> Acesso 09 maio 2016 às 22h15. 92 [micro]INTERVENÇÕES
Equipe Editorial. “Espacios de Paz 2015: cinco ciudades, cinco comunidades, veinte colectivos de arquitectura” 20 may 2015. Plataforma Arquitectura. Disponível em <http://www. plataformaarquitectura.cl/cl/766864/espacios-de-paz-2015-cincociudades-cinco-comunidades-veinte-colectivos-de-arquitectura> Acesso 09 maio 2016 às 23h05. Romullo Baratto. “Resultado do concurso de requalificação urbana e segurança viária em São Miguel Paulista” 19 Fev 2016. ArchDaily Brasil. <http://www.archdaily.com.br/br/782314/resultado-doconcurso-de-requalificacao-urbana-e-seguranca-viaria-em-sao-miguelpaulista> Acesso 09 maio 2016 às 19h20. Projetos do Assemble Studio. Disponível em <http://assemblestudio. co.uk/> Acesso 06 junho 2016 às 10h02.
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LISTA DE IMAGEM Figura 1: Voltando da feira, quarta às 10h. Fonte: Acervo da autora. Figura 2: “Domínio Público”, na página 9. Fonte: HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 272 p. Figura 3: “A rua”, na página 48. Fonte: HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 272 p. Figura 4: Caminhada pelo Barrio Góes, em Montevidéu, Uruguai. Fonte: Acervo da autora. Figura 5: Mapa da cidade de Montevidéu. Fonte: Sistema de Información Geográfica (Intendencia de Montevideo). Disponível em < http://sig. montevideo.gub.uy/> Figura 6: Esquina da Avenida 18 de Julio com a Dr. Eduardo Acevedo. Fonte: Acervo da autora. Figura 7: Caminhada na Plaza del Entrevero. Fonte: Acervo da autora. Figura 8: À tarde na Plaza de la Independencia. Fonte: Acervo da autora. Figura 9: Entre as ruas da Ciudad Vieja. Fonte: Acervo da autora. Figura 10: No banco da praça. Fonte: Acervo da autora. Figura 11: Vendedores de rua se apropriam do espaço do edifício. Fonte: Acervo da autora. Figura 12: Esperando o ônibus. Fonte: Acervo da autora. Figura 13: Numa das feiras da Ciudad Vieja. Fonte: Acervo da autora. Figura 14: A vista para as janelas. Fonte: Acervo da autora. Figura 15: Manequins pela calçada. Fonte: Acervo da autora. Figura 16: Na porta de cada, de cadeirinha de praia. Fonte: Acervo da autora. Figura 17: Um lugar para sentar numa fachada. Fonte: Acervo da autora. 94 [micro]INTERVENÇÕES
Figura 18: Outro lugar na fachada. Fonte: Acervo da autora. Figura 19: Frutas na esquina. Fonte: Acervo da autora. Figura 20: Aproximação das frutas. Fonte: Acervo da autora. Figura 21: Passando o tempo na Plaza de la Independencia. Fonte: Acervo da autora. Figura 22: Esperando o ônibus. Fonte: Acervo da autora. Figura 23: Uma noite na Plaza de los Treinta y Tres Orientales. Fonte: Acervo da autora. Figura 24: Encontros pelas ramblas na costa da cidade. Fonte: Acervo da autora. Figura 25: A tradicional feira de Tristán Narvaja, onde se encontra todo tipo de mercadoria: chaveiros, roupas, discos antigos, fotografias, artes, detergente, leite condensado, objetos antigos, objetos usados, entre outros. Fonte: Acervo da autora. Figura 26: Localização o bairro a partir da visão da cidade. Fonte: Acervo da autora. Figura 27: Perímetro da área de estudo. Fonte: Acervo da autora. Figura 28: Imagem aérea da área de estudo (1958). Disponível em < http:// www.geoportal.com.br/memoriapaulista/> Figura 29: Imagem aérea da área de estudo (2008). Disponível em < http:// www.geoportal.com.br/memoriapaulista/> Figura 30: “Antes desse galpão, que está entre as árvores, ser construído, você via toda a represa do Guarapiranga. Era lindo…” Palavras de Najla Drgnam, dentista e residente da região. Vista do seu consultório odontológico na Av. Rio Bonito, um dos pontos mais altos do bairro. Fotomontagem de sequência de fotos. Fonte: Acervo da autora. Figura 31: Fachada de uma casa em construção da Vila Friburgo. Fonte: Acervo da autora. [micro]INTERVENÇÕES 95
Figura 32: Um banco no canteiro: apropriações pela Av. Inácio Cunha Leme. Fonte: Acervo da autora. Figura 33: Domingo à tarde. Fonte: Acervo Aline Barros. Figura 34: Indo à feira. Fonte: Acervo da autora. Figura 35: Uma praça, uma sombra e dominó. Fonte: Acervo da autora. Figura 36: Pausa para ler o jornal na padaria. Fonte: Acervo da autora. Figura 37: “Temos côco gelado” na Quitanda do Milton. Fonte: Acervo da autora. Figura 38: Sequência: passeio entre folhas secas. Fonte: Acervo da autora. Figura 39: Sequência: Quarta é dia de feira. Fonte: Acervo da autora. Figura 40: Conversas na padaria. Fonte: Acervo da autora. Figura 41: Esquinas de boteco. Fonte: Acervo da autora. Figura 42: Hora do intervalo. Fonte: Acervo da autora. Figura 43: Viela no Jardim Susana. Fonte: Acervo da autora. Figura 44: Um caminho entre as árvores. Fonte: Acervo da autora. Figura 45: Conversas sob a sombra. Fonte: Acervo da autora. Figura 46: Uma mesa na árvore. Fonte: Acervo da autora. Figura 47: Saindo da banca de jornal. Fonte: Acervo da autora. Figura 48: Sequência: o morangueiro e o parklet. Fonte: Acervo da autora. Figura 49: Sequência: rotatória da Vila Friburgo. Fonte: Acervo da autora. Figura 50: Alugam-se quartos. Fonte: Acervo da autora. Figura 51: Muros baixos. Fonte: Acervo da autora. Figura 52: Entre o caminhão e a fábrica. Fonte: Acervo da autora. Figura 53: Sequência: acesso ao Humboldt. Fonte: Acervo da autora. Figura 54: Córrego. Fonte: Acervo da autora. Figura 55: Sequência: pequenas ruas de Veleiros. Fonte: Acervo da autora. Figura 56: Casinhas de Veleiros. Fonte: Acervo da autora. Figura 57: Instituto Social Nossa Sra. De Fátima. Fonte: Acervo da autora. 96 [micro]INTERVENÇÕES
Figura 58: Brechó. Fonte: Acervo da autora. Figura 59: Sequência: Praça do escoteiro. Fonte: Acervo da autora. Figura 60: Sequência: No cruzamento da Rua Leonardo Di Fássio. Fonte: Acervo da autora. Figura 61: Descendo para a represa. Fonte: Acervo da autora. Figura 62: Feira de domingo. Fonte: Acervo da autora. Figura 63: Dominó de domingo. Fonte: Acervo da autora. Figura 64: Cerca elétrica. Fonte: Acervo da autora. Figura 65: Uma cadeira. Fonte: Acervo da autora. Figura 66: Dia de jogo no CDC Jardim Susana. Fonte: Acervo da autora. Figura 67: Mapa topográfico (declividade). Fonte: Acervo da autora. Figura 68: Mapa cheios e vazios. Fonte: Acervo da autora. Figura 69: Mapa áreas verdes e praças (espaço público). Fonte: Acervo da autora. Figura 70: Mapa hidrográfico. Fonte: Acervo da autora. Figura 71: Sobreposição. Fonte: Acervo da autora. Figura 72: Feiras e CDCs. Fonte: Acervo da autora. Figura 73: Escolas. Fonte: Acervo da autora. Figura 74: Mapa sensorial: onde o corpo me levou. Fonte: Acervo da autora. Figura 75: Mapa da malha viária e acessibilidade. Fonte: Acervo da autora. Figura 76: Mapa de percepções. Fonte: Acervo da autora. Figura 77: CDC Jardim Susana. Fonte: Acervo da autora. Figura 78: Sequência de fotos da reforma da pista de skate Suicida Park. Fonte: Página do facebook CDC Jardim Susana. Disponível em <https:// www.facebook.com/soccergol1/> Figura 79: Espacios de Paz. Fonte: Plataforma Arquitectura. Disponível em <http://www.plataformaarquitectura.cl/cl/766864/espacios-de[micro]INTERVENÇÕES 97
paz-2015-cinco-ciudades-cinco-comunidades-veinte-colectivos-dearquitectura> Figura 80: Requalificação urbana Áreas 40. Fonte: ArchDaily Brasil. Disponível em < <http://www.archdaily.com.br/br/782314/resultadodo-concurso-de-requalificacao-urbana-e-seguranca-viaria-em-saomiguel-paulista> Figura 81: Paisaje Sur. Disponível em <http://basurama.org/proyecto/ paisaje-sur-intervencion-en-el-huerto-de-san-juan/> Figura 82: Espacio de Estudio y Espacios de Juegos en el CCE Malabo. Disponível em <http://basurama.org/proyecto/espacio-de-estudio-yespacio-de-juegos-en-el-cce-de-malabo/> Figura 83: The Playing Field. Disponível em < http://assemblestudio. co.uk/?page_id=972> Figura 84: The Playing Field. Disponível em < http://assemblestudio. co.uk/?page_id=972> Figura 85: The Playing Field. Disponível em <http://assemblestudio. co.uk/ > Figura 86: Fotos do livro O Guia Fantástico de São Paulo. Fonte: Acervo da autora.
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