Editorial Lucas Fernandes
Diretor e fundador da Design Magazine Brasil. Atua com design desde 2010. Focado em direção de projetos, mas também domina outras áreas do design.
Nesse mês de agosto, no dia 15 para ser mais
da revista. Modificações essas baseadas no
exato, fez-se um ano desde que apresentamos a
também novo design do site, fazendo assim com
todos nossa edição 00, especial de lançamento.
que as duas mídias compartilhem de uma mesma
Muita coisa aconteceu nesse um ano de Design
unidade visual.
Magazine Brasil. A cada edição que passou tivemos novos desafios, novas metas a serem atingidas...
É com muito orgulho também que estamos apoiando dois eventos: a primeira edição do
Com o tempo que tem passado, temos
Confred, 1° Congresso Online para Freelancers e
crescido consideravelmente nas redes sociais. E
Estudantes de Design; e o Pixel Show 2014, edição
com mais fãs e seguidores, a responsabilidade é
que comemora 10 anos de um dos maiores eventos
cada vez maior, pois queremos ter certeza de que
de arte e design da América Latina. No nosso site
estamos atingindo as expectativas do nosso público
você encontra mais informações sobre ambos.
em cada conteúdo novo que fazemos, seja no site ou nas revistas.
Além
dessas
novidades,
estamos
preparando mais algumas surpresas para o
A partir dessa edição de número 04, como
futuro. Enquanto vocês aguardam, aproveitem
parte da nossa busca por melhorias, resolvemos
bem essa edição e absorvam o máximo de
adotar algumas modificações no projeto gráfico
conteúdo possível. Até breve.
2 • Edição 04
Design Magazine Brasil
Agosto 2014 • 3
Sumário
Statoil Fornebu A-lab
Quebrando as regras Pág. 08
Pág. 12
Uma viagem pela Alemanha através do design
Fast Fashion Pág. 16
O design e a cidade
Design versus Realidade Pág. 24
4 • Edição 04
Pág. 18
Pág. 30
Design Magazine Brasil
Agosto 2014 • 5
Créditos Diretor Lucas Fernandes Idealizadores Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Projeto gráfico Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso
Edição #04 - Agosto/2014 Redatores Bernardo Cruz Eliezer Santos Hebert Tomazine João Valle Mayara Wal Thais Ribeiro Diagramação Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes
Ilustrações Beatriz Vieira Douglas Silva Hebert Tomazine Wendel Fragoso Revisão Juliana Teixera Lourrane Alves Lucas Fernandes Capa Hebert Tomazine
Logotipo Elementoa À Solta
Site designmagazinebrasil.com.br Redes Sociais facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Email lucas@designmagazinebrasil.com.br A Design Magazine Brasil é uma revista digital derivada da Design Magazine de Portugal. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzidos sem autorização prévia. 6 • Edição 04
Design Magazine Brasil
Agosto 2014 • 7
Statoil Fornebu A-lab Arte da vitrine: Wendel Fragoso.
João Valle
Estudante de arquitetura e urbanismo na Unigranrio, formado em técnico de design de interiores no Senac, apreciador de vinho e artista plástico de fim de semana.
“O projeto se baseia nas formas e técnicas da indústria de petróleo.”
8 • Edição 04
Design Magazine Brasil O Statoil Fornebu A-lab é a sede da maior companhia de energia da Noruega, projetada pelos arquitetos Geir Haaversen e Odd Klev. Sua composição é elogiada internacionalmente por se adequar perfeitamente ao seu entorno, arquitetura inovadora e alta flexibilidade de espaços na sua parte interna que acomodam 2500 funcionários. Seu design foi vencedor de uma competição Imagem: Vidariv
dada em fevereiro de 2009. Depois da fase de planejamento e um período de construção que durou 20 meses, a nova sede da Statoil foi completada em outubro de 2012.
Composição Sua composição é formada por quatro grandes volumes, cada um em forma de paralelepípedo com 140 metros de extensão, 23 metros de largura e com três pavimentos cada, onde os quatro volumes são empilhados em forma de jogo da velha e um último volume empilhado cortando na diagonal o formato de jogo da velha dos outros quatro volumes. Possui uma área Imagem: morfae
total de 117.000m² sendo que 65.500m² são dos escritórios e 51.500m² do parque.
Agosto 2014 • 9
Imagem: inhabitat
Statoil Fornebu A-lab
Cada volume foi projetado com um alto grau de flexibilidade assegurando que os espaços de trabalho possam ser adaptados facilmente às necessidades futuras. A sede foi alocada em um antigo aeroporto, o conceito limita o impacto ambiental do complexo e dá uma quantidade generosa de espaço para o parque que tem o acesso do público, o que cria um átrio grande e atraente para os usuários do complexo que não são limitados por estarem dentro das edificações, pois seu formato estrutural foi orientado de uma forma a potencializar as condições internas da luz, o que reduz o consumo de energia e dá vistas deslumbrantes da paisagem do fiorde. Na parte externa sob os dois volumes do segundo pavimento existem um painel tecnológico luminoso em cada um desses dois volumes com imagens coloridas que se assemelham aos antigos vitrais encontrados em edificações góticas.
10 • Edição 04
Design Magazine Brasil No interior, os volumes criam um átrio comunal, com uma “praça urbana” conectando muitas das funções sociais no pavimento térreo e possui uma cobertura envidraçada de alta tecnologia em formato de hélice. O projeto se baseia nas formas e técnicas da indústria de petróleo. A superestrutura de aço permite que os diferentes módulos em consola cheguem a Imagem: Vidariv
até 30 metros. Escadas de incêndio e serviço estão concentradas em quatro grandes núcleos feitos de concreto que também estabilizam
a
superestrutura.
A fachada consiste em 1600 elementos pré-fabricados com janelas integradas, isolamento
Imagem: retaildesignblog
térmico e sombreamento.
Agosto 2014 • 11
Quebrando as regras Arte: Hebert Tomazine.
Hebert Tomazine
Apaixonado e especializado em design editorial, grids, proporções e minimalismo. Trabalha na área desde 2008. Atualmente atua como designer gráfico e editorial na Diocese de Duque de Caxias.
“O medo de arriscar faz o profissional se acomodar e limita o seu potencial.”
12 • Edição 04
Design Magazine Brasil
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Regras do design são caminhos para auxiliar os profissionais a transmitir a mensagem e o conceito desejado no projeto, e cabe ao designer aplicar a teoria na prática. Mas porque não quebrar essas regras? É válido fugir do convencional e tentar algo inovador. Diversos grandes projetos de design foram resultados de quebra de regras convencionais, mas por outro lado, também há grandes projetos que foram consagrados por seguirem a risca estas mesmas regras. As opiniões entre os profissionais se divergem, alguns defendem uma doutrina rígida na aplicação das regras, outros defendem que toda regra foi feita para ser quebrada. Eu particularmente creio que todo extremo não é viável, mas tenho uma leve tendência a ser do time dos ‘regras foram feitas para serem quebradas’. Mas existem projetos que necessitam ser mais conservadores, limitando esta minha tendência, como projetos institucionais, governamentais, religiosos, etc.
Agosto 2014 • 13
Quebrando as regras
Sempre haverá consequências ao tomar a decisão de um projeto mais ousado, cabe ao designer medir e avaliar se essas consequências são cabíveis e viáveis ao projeto. Para isso é necessário e importante conhecer a fundo as regras do design, e saber as consequências ao quebrá-las, o que isso vai agregar ao conceito do projeto e se a mensagem transmitida será entendida corretamente.
14 • Edição 04
A prioridade é a transmissão da ideia e do conceito. O projeto pode estar perfeito visualmente, mas se o consumidor não compreender a informação transmitida, não há sentindo no projeto. Cabe ao designer decidir qual a melhor solução. Se uma solução menos convencional é viável e não prejudica o conceito do projeto ou agrega um novo valor condicente, porque não realizar? Um exemplo claro de design que vai contra as regras é o design editorial da revista americana Ray Gun. Seu fundador e diretor de arte, David Carson, explorava um design tipográfico experimental. O resultado era um projeto abstrato, caótico e nem sempre legível, forçando o receptor a pensar na mensagem para compreendê-la, criando assim algo inovador e que se tornou referência em todo o mundo.
Arte de David Carson
Design Magazine Brasil
m deve s o d o uida preensã c , s m do sousa vel de co sa ser de s i a í , i os m ter um n tra prec editorial t e j o o ou pr an gra, Em rojet nencial ra m e p r a p a m xpo dos ra r um mu oma quebra mplo, e mente e líbrio pa t r e s e u Ao equi em peror ex idade, a bra. m p o u o a ,s o l d and itida , com a legibi c a s m d s u a n eb tac tra tar ficul isibilidad nsagem i d ao av me te su ento da o. n e m ad im tend ito adot n e e o conc o r e d
Arte avid
de D on
Cars
ara se p l a b éa íve rico o é poss ó e t ã to he men sólido. N não con , a d n fu ito tos cê leonce o que vo ndamen ac p r m e t u b fu lg nte é as do rar a hecer os sem em , a b t e r u o a r q p eg con tétic ções s a m i e r ais im o das r o cone c S m ir o em e. O ent ndo pro- c em surg fusas e s fazer alg u m f i c a e ‘ d m po no con ndo onh de de ‘u nto, amado no c conhece á aplicar flexão o e t s m o sa re ir n é ch pleto op nosso ob í s e desig ue você quisa e s u é o q ’, o com q é po es que , ’ r o ceito studo, p s, assim scernio d rra vad i i E enta reza e d mais e jeto ino o. jeto. m a ro jad fund com cla as são s p ivo alme a r são l r g e i e d jet al ecid as r m vel d quais d o, ou qu o b t m to proje radas. U men o a is ueb viáve er q s m pode Agosto 2014 • 15
Fast Fashion Arte da vitrine: Wendel Fragoso.
Thais Ribeiro
Aluna de moda, ilustradora e stylist. Tem como amor inicial a fotografia e criação artística. Atualmente trabalha com produção de moda e fotografia.
“Com certeza você se lembra daquela mega tendência da ‘coisa’ da calça de lycra listrada.”
16 • Edição 04
Design Magazine Brasil A China vem sendo motivo de preocupação no âmbito econômico, de importação e exportação. Segundo o Ibope, a produção têxtil caiu em 34%. Não se tem mais uso de matéria prima nacional, o cuidado com a produção básica e se vê mais vantagem em comprar e sofrer pela inflação do que produzir, ainda que por grandes escalas. Devido à importação desenfreada, à política de comércio livre e ilegalidade, a China vem dominando o que chamamos de Fast Fashion, que nada mais é, do que a desvalorização da produção nacional, a queima de tendência, o chamado “comprar pronto”, seria o “fast food” da moda. Mas não existe apenas o Fast Fashion na China, e sim todos os grandes pólos de produção de roupas, sapatos e acessórios. O grande atrativo vem do preço e da falta do esforço, nesse caso, a cópia. A maioria das coisas é comprada ou produzida ao valor de um terço Imagem: Otávio Nogueira
do que seria aqui no Brasil. Com certeza você se lembra daquela mega tendência da “coisa” da calça de lycra listrada, que veio de uma forma desgovernada. Na verdade nenhum estilista, empresa ou produção teve a ideia de criar uma calça de um tecido barato, a malha, com duas
Rua 25 de Março, São Paulo - um dos polos do
cores e só. Isso foi um exemplo de Fast Fashion, já que
fast fashion no Brasil.
no Paris Fashion, a Dior veio com uma calça de couro, em listras horizontais, e falando assim até parece algo
Essa “moda rápida” é algo relativamente
simples e bonito, o que acontece, entretanto, é que
bom para comerciantes atacadistas e lojas
as empresas querendo imitar causaram a famosa
independentes
tendência do acúmulo espontâneo, que é legal, mas
desvaloriza os processos manuais, o trabalhador
acaba ficando feio. Onde é visado apenas o lucro.
local e a cultura.
de
matérias
primas,
porém,
Assim como o fast food, comprar algo tão
“A pergunta é: o Fast Fashion é bom, ou ruim?”
rápido e bom na verdade traz danos. Talvez não hoje, mas se tratando do Fast Fashion, daqui a alguns anos veremos os danos do “Made in China”, no comércio, na arte e na cultura brasileira. Agosto 2014 • 17
Uma viagem pela Alemanha através do design Arte da vitrine: Beatriz Vieira.
Eliezer Santos
Atua como freelancer desde 2012 com criação de logotipos, peças publicitárias, etc. Atualmente, tem se dedicado a edição de vídeos e motion design.
“Os alemães também deram contribuições valiosas através de movimentos artísticos e culturais.”
18 • Edição 04
Design Magazine Brasil Quem viu o futebol da Seleção da Alemanha revolucionar o mundo na última copa pode ter se surpreendido com o povo alemão no que diz respeito à inovação, planejamento e projeto de longo prazo. Mas os alemães estão mais do que “acostumados” a revolucionar tudo aquilo que se propõem a fazer. Com a nossa profissão não foi diferente. Se hoje o design é o que é, muito se deu graças as grandes contribuições que o povo do chucrute nos deu. Tudo começou em 1919, quando um projetista chamado Walter Gropius resolveu criar uma escola que unisse artes plásticas e arquitetura, e lançar uma proposta de criação através das Imagem: Chrstian Stock
artes. Nascia então a staatliches-Bauhaus, ou simplesmente Bauhaus. A proposta da Bauhaus era criar uma academia de artes, juntando estudantes de artesanato, artes plásticas, desenhistas, projetistas e criar profissionais capacitados unicamente para criar, imaginar e transformar suas ideias em soluções. Nascia então a primeira escola de design da história. Inicialmente, seu idealizador, Walter Gropius, não queria que o foco de seus alunos fosse criar soluções para os produtos da indústria, e isso foi motivo de muitas controvérsias internas entre ele e Johannes Itten, um de seus parceiros e o principal incentivador da “industrialização” do design. Inevitavelmente (já que viver só de artes nunca foi suficiente para a sobrevivência de nenhum artista), a indústria venceu, e a Bauhaus se tornou pioneira
Imagem: Maarten
no movimento que depois ficou conhecido como Design Moderno. Agosto 2014 • 19
Uma viagem pela Alemanha através do design A Bauhaus infelizmente teve uma história curta, pois na década de 1930 sofreu muitas perseguições do regime nazista, e acabou fechando em 1933. Mas a iniciativa de Gropius deu origem a muitas outras escolas.
Escola de Ulm Imagem: Wikipedia
Uma das principais sucessoras da Bauhaus foi a Escola de Ulm, ou HFG Ulm, criada no pósguerra por Max Bill, em 1950. A escola ganhou esse nome porque tinha sede na cidade de Ulm, na Alemanha, e foi uma tentativa de continuação da Bauhaus, se utilizando de todo idealismo iniciado pela antiga escola. A escola de Ulm foi a primeira a trazer o conceito de pesquisa e criação para o desenvolvimento da sociedade como um todo, expandindo e muito os horizontes a serem explorados pelo design.
20 • Edição 04
Design Magazine Brasil
Imagem: studyblue
Deutscher Werkbund Apesar de ter sido criado antes, em 1907, o Deutscher Werkbund foi uma espécie de conselho criado por especialistas alemães em arquitetura e desenho industrial, vindo a incorporar os conceitos da Bauhaus (ou seja, a criação através da arte), anos depois. O Deutscher Werkbund existe até hoje, porém não se configura como uma escola de design, e sim como um conselho de vanguarda, visando trazer conceitos inovadores ao design, sem perder as origens da profissão. As principais contribuições do Werkbund foram as inovações arquitetônicas, pois a visão de seus integrantes era conceber desde a planta da casa até as curvas dos utensílios ou objetos de decoração, visando uma harmonização de formas. Agosto 2014 • 21
Uma viagem pela Alemanha através do design
Movimentos Os alemães também deram contribuições valiosas através de movimentos artísticos e culturais, que posteriormente vieram a ser incorporados ao design. Os principais foram o Dadaísmo e o Surrealismo.
Dadaísmo Com duração relativamente curta, o Dadaísmo se iniciou em 1912 e teve fim em 1922, mas deixou contribuições notórias, que são essenciais para um bom design de propaganda. A principal inovação trazida pelo movimento Dadaísta foi a proposta de dar ênfase na tipografia
Imagem: Wikipedia
(cubismo) como fator de maior relevância numa peça artística, separando assim a tipografia do conteúdo visual em si, dando às peças gráficas uma “estrutura” e um alinhamento mais conciso, além de despertar nos designers a necessidade de se criar peças “chocantes” e “surpreendentes”, como fator primordial para chamar a atenção do espectador.
Surrealismo O movimento surrealista visava “a busca do real além do real”, por assim dizer, e era voltado totalmente para o subconsciente. Inspirados pelas ideias de Freud, este movimento trouxe grandes influências para as artes visuais através de peças gráficas inspiradoras, como o Gestalt, por exemplo, que foi utilizado como finalidade artística pela primeira vez através do movimento, e é até hoje muito utilizado na comunicação visual, sempre trazendo ao espectador uma atmosfera de criatividade e requinte.
Imagem: Wikipedia
22 • Edição 04
Design Magazine Brasil Por estas e outras, os alemães são referência mundial em design e arquitetura, e lá estão as principais escolas e faculdades destinadas ao ensino da profissão. Abaixo, seguem alguns nomes e links das principais escolas de design alemãs: Institute für Kunstwissenchaft - Karlsruhe www.hfg-karlsruhe.de
Kunsthochschule für Medien - Koeln www.khm.de
Fachhochschule Pforzheim www.fh-pforzheim.de
Fh Potsdam www.design.fh-potsdam.de
Hochschule Wismar www.hs-wismar.de
Kunsthochschule Berlin - Berlin-Weissensee www.kh-berlin.de
Por fim, é inegável a contribuição dos alemães Hochschule für Gestaltung -FH Schwäbisch Gmünd
para a nossa profissão. Basicamente, não é errado
www.hfg-gmuend.de
dizer que o design e a arquitetura moderna só é o que conhecemos hoje por causa dos alemães.
Bauhaus-Univesitat Weimar
Com sua incrível disciplina e capacidade de
www.uni-weimar.de
inovação, eles moldaram o design moderno, e um dos grandes expoentes de toda essa evolução é o conhecidíssimo Hans Donner, o homem que revolucionou a comunicação visual brasileira. Nós, como designers e apaixonados pela profissão que seguimos, só podemos dizer, em bom alemão: Dank, Deutschland! Agosto 2014 • 23
O design e a cidade Arte da vitrine: Hebert Tomazine.
Mayara Wal
Designer de produto de formação e metida a doceira nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atualmente estuda Design de Serviços e Interação.
“O design está contido na cidade, espaços urbanos transferem diferentes tipos de emoções em cada indivíduo.”
24 • Edição 04
Design Magazine Brasil Imagem: Urban Design Associates
Resolvi escrever sobre algo que me fascina, a cidade. Como não perder horas observando e pensando nas movimentações e na vida que acontecem nessa urbe. E daí me veio a pergunta, e o design? Primeiras respostas óbvias: mobiliário urbano e comunicação visual. Mas porque não pensar mais a fundo? A cidade foi criada para as pessoas, portanto deve priorizar as interações entre as pessoas. é
interação,
interações
criam
Foto:Divulgação
Tudo
experiências, experiências despertam emoções e tudo que a isso envolve é design. O design está contido na cidade, espaços urbanos transferem diferentes tipos de emoções em cada indivíduo. E tudo é desenhado para isso, ou deveria ser.
“A cidade foi criada para as pessoas, portanto deve priorizar as interações....” Projeto de Sunny Lee Foto:Divulgação
Projeto de Proposed Pfaffmann + Associates, and Studio for Spatial Practice
Agosto 2014 • 25
O design e a cidade Foto:Divulgação
Projeto de Sunny Lee
26 • Edição 04
Design Magazine Brasil Foto:Divulgação
Projeto de design da empresa Flock
O design na cidade hoje O design na cidade deixou de ser apenas ponto de ônibus, lixeiras, bancos de praça, etc. Ele pode transformar e resignificar espaços diferentes. Esses espaços e as pessoas que nele convivem cada vez mais pedem coisas diferentes e em momentos diferentes, reconhecer isso e traduzir em ações é o mote do design. Design de Interação, no contexto
“O design na cidade deixou de ser apenas ponto de ônibus.”
urbano, é um campo cada vez mais importante Foto: nutsbike.com
da pesquisa, pois está sempre em um fluxo muito rápido de mudanças. Um exemplo legal são as ciclovias suspensas que foram inauguradas esse ano em Copenhague, a cidade que já é conhecida como uma das melhores capitais para quem utiliza esse meio de transporte quer facilitar e estender o acesso dos moradores há diversos pontos da cidade, além de oferecer mais uma opção de lazer. Outro exemplo que eu gosto muito foi a reestruturação do trânsito em Nova York conduzido pela secretária de transporte da cidade, Janette
Ciclovias suspensas em Copenhague
Agosto 2014 • 27
Foto: wallpaperz.co
O design e a cidade
Trânsito em Nova York
Sadik- Khan. Fechou a Times Square, pensou
Projetos
que
provocam
interações
nas pessoas que ali passam todos os dias, e não
temporárias também são legais de citar, por
nos carros. Aumentou as ciclovias, possibilitou
exemplo, o ponto de ônibus da Duracell em
maiores interações colocando mesas e cadeiras
Montreal. Idealizada pela Cossette, uma cabine
nas calçadas, modificou tempos de sinaleiros em
semelhante a uma grande pilha da Duracell
determinadas avenidas para que se adequassem
foi instalada no local. E ela só aquecia se seus
aos moradores locais.
ocupantes dessem as mãos formando uma Foto:Divulgação
Ponto de ônibus da Duracell em Montreal
28 • Edição 04
Design Magazine Brasil
Foto:Divulgação
Sun Valley Axis, na China, exibe grande potencial harmônico da sociedade urbana com o meio ambiente, coleta água da chuva para os jardins, e capta luz solar, gerando energia para iluminar-se quando a noite cai sobre os céus de Xangai.
“Tudo é interação, interações criam experiências despertam emoções e tudo que a isso envolve é design.”
corrente elétrica humana entre as extremidades do abrigo, ou seja, obriga que essas pessoas interajam por um tempo para que obtenham um benefício para todos. Aglomerados urbanos estão rapidamente se tornando um híbrido do ambiente físico da esfera digital. Começou-se a falar em Cidades Inteligentes que devem gerar um crescimento econômico sustentável e melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos, ou seja, o foco volta a ser o cidadão.
Agosto 2014 • 29
Design versus Realidade Arte: Douglas Silva.
Bernardo Cruz
Estudante de engenharia e curioso na área de design. Redator por persistência, trazendo sua visão externa e leiga para a Design Magazine Brasil.
“O que é possível ver na imagem?”
30 • Edição 04
Design Magazine Brasil Durante o estudo e o trabalho na área de design, você provavelmente já deve ter se perguntado: “Qual é o meu objetivo no trabalho?” ou “Que impactos essa arte deve causar no meu público alvo?” Esse tipo de questionamento é muito bom para o profissional entender o que o público realmente absorve de seu trabalho. Nesse caso, o Feedback é sempre essencial, mas à medida que se ganha confiança, muitas vezes a equipe pode esquecer de ter uma visão “leiga” para notar algo que ela mesma, em seu vasto conhecimento não é capaz de enxergar. Pensando nesses temas, resolvemos realizar um pequeno experimento para demonstrar qual impacto uma arte pode causar em seu público.
Agosto 2014 • 31
Design versus Realidade Observe esta imagem e antes de prosseguir reflita sobre alguns pontos.
de conceitos, técnicas e tendências e podem explicar e compreender as mais diversas formas
O que é possível ver na imagem?
de expressão, o que não acontece com a grande
Qual ou quais técnicas foram empregadas?
maioria. O grande público, muitas vezes, precisa ser
Que interpretação seria possível retirar
guiado a uma ideia, e quando isso não acontece é
da imagem? Agora, vamos criar um comparativo entre a sua percepção e o objetivo do ilustrador. (Texto do Douglas sobre a arte, redigido) “Através do estudo de uma nova técnica de desenho baseada em Noir, o objetivo foi retirar
bastante comum que surjam diversas teorias que tentam explicar o que é visto, algumas engraçadas e outras beirando o absurdo. Nesse caso trataremos apenas da imagem, mas imagine que esse cenário pode ser transposto para qualquer forma de trabalho. Fique atento!
qualquer foco de detalhes e aplicar o enfoque no contraste, peso e luz utilizando a Gestalt. Com a
O experimento
proximidade, foi possível expressar formas humanas com uma imagem sombria que vem do suspense de Noir, uma técnica muito comum entre ilustradores, que visa expressar de um modo rápido e de fácil entendimento uma ideia, sem se ater a detalhes que tomariam muito tempo. A imagem em si, mostra dois personagens caminhando a frente, e um terceiro observando-os ao fundo.” Já é possível notar algumas diferenças, correto? Obviamente que muitas delas são de
“A figura passa uma sensação de solidão, pois o homem ao fundo parece estar triste ao ver sua amada com outro homem.”
caráter pessoal e remetem apenas a opinião, mas é preciso estar sempre atento para que essas não sejam tão divergentes, afinal, o objetivo é que
Depois de observar a imagem e a descrição do
o ilustrador tenha em mente quais reações são
autor sobre a mesma, sua visão sobre ela pode ter
esperadas de seu público.
mudado, afinal é muito mais fácil compreender algo
A importância de tentar prever o resultado
quando nos é explicado. Como é bem conhecido
de uma campanha vai muito além da eficácia de
nas imagens que se aproveitam da chamada
seu trabalho, mas em garantir que o público não vá
ilusão de ótica, quase sempre após nos falarem
notar algo impensável e arruinar horas de trabalho
o que realmente deveria ser visto ficamos com
em segundos. Todo o cuidado é pouco.
aquela expressão de “como eu não percebi isso?”
Em grande parte dos casos, o erro crasso é
estampada em nossa face, surpresos sobre como
considerar que o público em geral possui a mesma
nossa mente é capaz de nos enganar. Para ilustrar
visão que os membros da equipe, conhecedores
melhor esse pensamento recolhemos algumas
32 • Edição 04
Design Magazine Brasil opiniões de pessoas ligadas a área de design, e outros mais leigos no assunto para demonstrar que nem sempre o que se pretende mostrar é percebido pelo receptor. Nosso querido diretor Lucas Fernandes deu seu parecer sobre a imagem: “É possível ver um casal e uma outra pessoa isolada ao fundo, é muito difícil distinguir se foi feita a mão ou no computador , se for no papel provavelmente foi utilizada caneta preta em rabiscos soltos com o mínimo de geometria possível (propositalmente, claro). A figura passa uma sensação de solidão, pois o homem ao fundo parece estar triste ao ver sua amada com outro homem.” Enquanto nossa revisora Lourrane criou uma outra teoria também interessante: “Parece que um casal deixou alguém pra trás, alguém que ficou só. Pareceu-me desenhado a lápis. Parece realmente que o personagem de trás é deixado pela mulher, como é visto pela sua posição a frente, com a mão sobre o ombro de outro homem. Ou até mesmo, a pessoa abandonada atrás, poderia ser um filho do casal!” Embora também sejam membros da equipe podemos observar que tanto a opinião quanto o objetivo e a técnica já diferem um pouco do objetivo de nosso ilustrador, e o mais característico é que quase sempre, quando observamos uma imagem, somos levados a lhe dar algum sentido em sua composição, o que explica a pequena história de abandono criada, ou mesmo uma traição. Esse tipo de reação, embora seja muito difícil de prever, é sempre preciso levar em consideração na arte em geral. É comum vermos simpósios discutindo avidamente se Monalisa estava ou não sorrindo e Agosto 2014 • 33
Design versus Realidade para quem, possivelmente quando Da Vinci poderia ter pintado uma mulher que se quer existia. O lembrete é para que sempre se mantenha uma linha de raciocínio facilmente explorável, para que se evitem teorias e interpretações que desfoquem do objetivo atual. Pulando para o público em geral, separamos algumas curiosas impressões sobre a arte, que são ideias da dimensão de onde se pode chegar com uma imagem que a principio é feita nos moldes da simplicidade, mas que pode conter uma impactante profundidade ao seu receptor.
contextualizá-las. Uma parcela dos entrevistados
“Ela parece aquelas imagens de ilusão e ótica.
admitiu se identificar com uma das figuras, dizendo
Você não acredita, mas o homem do fundo e o da
que se sentia solitário ou que se sentia feliz por ter
frente são do mesmo tamanho.”
a pessoa amada ao lado, mesmo quando nada na
“Que ele era triste antes, ai conheceu uma mulher e ficou feliz.”
imagem lhes dizia se tratar desse tema. Agora, é possível comparar a sua visão com a
“Parece que o cara de trás vê o grande amor
de todos os entrevistados, e talvez se surpreender
da vida dele com outro cara, por não ter tomado
com a diferença de pensamento, e isso não é
uma iniciativa antes.”
nenhum problema. Mas para os próximos trabalhos
“Eu vejo a família do Slenderman.”
lembre-se de evitar que se perca o foco, e sempre
“Eu me vejo no cara triste ali atrás, vendo a
se coloque no lugar do receptor. É preciso cuidado,
guria que gosto sendo conquistada por outro cara.” “Por um lado pode ser algum grupo específico ignorando alguém em especial, alguém que nunca conseguiu se entrosar antes, ou alguém que escolheu viver assim, observando tudo na sombra, por algum motivo.” Essas foram algumas das respostas recebidas, e a impressionante maioria, mesmo sendo perguntada, não se ateve a falar sobre como o desenho foi feito, embora a imagem demonstrasse por si só o uso dos rabiscos como forma de expressão. Para a grande maioria, a partir do momento em que se fez possível compreender que se tratavam de figuras humanas, o principal seria 34 • Edição 04
ou você pode acabar sendo um filho abandonado do Slenderman.
Design Magazine Brasil
Agosto 2014 • 35
36 • Edição 04