Carta do diretor Lucas Fernandes
Formado em design gráfico e atuando no mercado desde 2010. Atualmente focado em direção de projetos. Dentre eles a revista digital Design Magazine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3.
O que é o Design se não uma ferra-
seu redor entendam o valor daquilo que ele
menta de transformação? Sua função é
faz. Mas antes de entender o valor é preciso
simples: buscar soluções para os mais di-
que as pessoas entendam o que é o Design.
versos problemas. Transformar o velho no
Entendam que não é algo fácil, não é algo rá-
novo, o óbvio em algo incrível, o mundo
pido, não é algo supérfluo. O designer tem o
em um lugar melhor.
trabalho de apresentar para o mundo a im-
E quando eu digo isso, me refiro a real-
portância da sua profissão, que existe há tan-
mente melhorar o mundo em todos os aspec-
to tempo, que está presente em tantos luga-
tos possíveis. Torná-lo melhor para todos.
res, mas que tanta gente não percebe.
As pessoas são diferentes, cada uma tem suas qualidades, seus defeitos, suas pre-
O Design precisa se expandir, precisa ser conhecido e reconhecido por mais pessoas.
ferências e suas limitações. Podendo essas
E esse ano é isso que a Bienal Brasileira
variáveis estar relacionadas a questões físi-
de Design vem celebrar, o Design para todos.
cas, psicológicas, sociais, etc. Quando um de-
Em Florianópolis, esse ano nós poderemos
signer está trabalhando, deve levar em conta
ver um pouco do cenário nacional de Design
tudo isso na hora de executar um projeto.
e mostrar para todos do que são feitos os de-
E uma outra missão (ou até mesmo desafio) do designer é fazer com que aqueles ao
2 • Edição 08
signers brasileiros. Viva o Design para todos!
Sumário
A simplicidade do dia-a-dia
Cahier d’Art Pág. 08
Entrevista à artista: Adriana Amaral
Pág. 14
Preview: BBD 2015
Pág. 20
Entrevista com Roselie Lemos
O “OBA”, de Pablo Cabistani Pág. 34
4 • Edição 08
Pág. 28
Pág. 42
Design Magazine Brasil
Abril 2015 • 5
Créditos
Edição #08 Abril/2015
Diretor Lucas Fernandes
Redatores Clara Carneiro Eliezer Santos Mayara Wal Thiago Scramignan Thiago Seixas Tiago Krusse
Idealizadores Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Projeto gráfico Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso
Diagramação Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes
Ilustrações Gilberto Ferreira Revisão Juliana Teixera Lourrane Alves Capa Pablo Cabistani
Logotipo Elementos À Solta
Site designmagazine.com.br Redes Sociais facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Email lucas@designmagazinebrasil.com.br A Design Magazine Brasil é uma projeto de LucasFAdS e Grupo I3C3. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia. 6 • Edição 08
Design Magazine Brasil VENHA E DESCUBRA
FLORIANÓPOLIS DE 15 DE MAIO A 12 DE JULHO DE 2015 Visite as exposições, workshops, seminários nacionais e internacionais, e outros eventos de design que tomarão conta da cidade.
INCENTIVO
CO-REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO - OURO
PATROCÍNIO - BRONZE
APOIO INSTITUCIONAL
APOIO
CIA AÉREA OFICIAL
APOIO CULTURAL
PARCERIA
REALIZAÇÃO
REVISTA OFICIAL
INICIATIVA
Abril 2015 • 7
A simplicidade do dia-a-dia Ilustração da vitrine: Gilberto Ferreira
Thiago Scramignan
Trabalha com publicidade, design gráfico e diagramação desde 2010, principalmente com propagandas de jornal, flyers e books fotográficos. Também já recebeu prêmios por vídeos que dirigiu.
“Praticidade e beleza foram as principais motivações para desenhá-la e criá-la.”
8 • Edição 08
Design Magazine Brasil Imagem: Wikipedia
Todos concordam que um bom design é importante para qualquer produto, mas você já parou pra analisar os designs nas coisas mais comuns do dia a dia? Pois bem, repare! Um dos intuitos do design não é apenas deixar as coisas com um estilo diferente ou chamar a atenção, muito do design se usa para a praticidade em seus produtos. Todo, ou grande parte, dos produtores de bens de consumo querem levar um produto bonito, barato e realmente funcional para seus consumidores, e muitos designers passam dias imaginando como um produto pode ter tantas características diferentes. Alguns conseguem criar de um simples “estalo” criativo, enquanto outros passam muito tempo em pranchetas de desenho e discutindo até com engenheiros, para obter o resultado esperado. Vamos tomar como exemplo uma coisa simples do dia a dia, uma caneta. Se você vive nesse mundo, você já pegou em suas mãos uma caneta Bic Cristal... Caso tenha uma em mãos, repare a simplicidade de seu desenho, afinal é apenas uma caneta! Mas imagine como eles chegaram a esse produto com uma ponta esferográfica, respeitando padrões muito bem definidos, que não deixam escapar mais que o necessário de tinta e também não a deixam ficar sem fluxo, seu corpo transparente, para que o usuário consiga enxergar o nível de tinta em seu reservatório, o formato hexagonal de seu corpo, para melhor aderência/conforto e para evitar que ela role de mesas inclinadas, a tampa com o prendedor para se colocar no bolso, sem contar sua abertura para evitar que aconteça um vácuo e acabe puxando a tinta pela ponta, a tampa do Abril 2015 • 9
A simplicidade do dia-a-dia fundo indicando a cor é muito bem vedada para evitar vazamentos em caso de a tinta escapar do compartimento, até esse furinho minúsculo na lateral tem sua função! Simples não é? Nem tanto! Imagine quanto tempo demorou para se conseguir uma escrita tão contínua sem perder muita tinta, imagine como eles descobriram que esse furinho na lateral, que é para se manter a pressão dentro do corpo constante e evitar vazamentos e até falta de fluxo, serviria para isso e seria tão necessário. E uma lixeira? Acha estranho esse item tão despercebido ser comentado aqui? Sim, poderia falar de outra coisa, mas não quando se trata da lixeira Umbra Garbino. Seu desenho é tão único que está no acervo permanente do museu de arte moderna de Nova York, seu estilo elegante e sexy, foi inspirado na atriz Greta Garbo da década de 20. Seu designer, Karim Rashid, quis criar um produto que chegasse a todos os níveis de consumo, um produto que compusesse tão bem o ambiente e que fosse acessível, quase uma peça de decoração, mas muito funcional. Ao olhar para ela, você já nota suas alças altas, por estar acima da linha do lixo o usuário não tem contato com ele, seu fundo abobadado ajuda na limpeza de líquidos, ideia de Karim por jogar inúmeros copos de café na lixeira e ter muito trabalho para limpá-las, pois os líquidos ficaram nos cantos das lixeiras tradicionais, e seu desenho fluido a deixa quase com um tom de obra de arte. Praticidade e beleza foram as principais motivações para desenhá-la e criá seu. Seu material a deixa com um preço atrativo e competitivo, qualquer pessoa pode comprá-la. 10 • Edição 08
Imagem: Umbra
-la, ele não esperava q ela fosse parar em um mu-
Design Magazine Brasil Imagem: Productfind.interiordesign
Abril 2015 • 11
A simplicidade do dia-a-dia Imagem: Ventilador Spirit
12 • Edição 08
Imagem: Ventilador Spirit
Design Magazine Brasil E o ventilador de teto? Já reparou nele? Particularmente um modelo em especial, o Spirit do designer carioca Guto Índio da Costa. O Spirit foi encomendado por uma fábrica de fitas de videocassete, para que ela assim diversificasse sua produção, seu desenho com duas pás foi inspirado nas hélices do ‘Spirit of Saint Louis’, nome dado ao avião utilizado pelo aviador americano Charles Lindhenberg na primeira travessia aérea do Atlântico, em 1927. Uma referência de peso para um singelo ventilador não é? Nada disso! Pouco tempo depois de seu lançamento ele ganhou prêmios de design no Brasil e no mundo. Seu formato simples o deixa leve o que diminui o consumo de energia, mas o baixo consumo não o impede de ter um desempenho digno de seus prêmios e que faz frente a seus concorrentes tradicionais, veja os ventiladores de teto de décadas atrás. Geralmente feitos de ferro, pás gigantescas, altíssimo consumo e quase que padronizados, como se fossem feitos com uma espécie de molde, o Spirit veio com um desenho inovador e muito funcional. Com esses exemplos, conseguimos ver que nem sempre um designer precisa ser extravagante ou complicado, como diria alguém com fome “nada melhor que um feijão com arroz”, muitas vezes a simplicidade é o melhor caminho a ser seguido. Inspiração sempre é importante! Conhecimento e cultura nunca são demais, leia, veja, ouça, use sua curiosidade para ter o máximo de informação sobre tudo, qualquer coisa pode ser uma inspiração. Lembre-se sempre que quem vai comprar a sua ideia não será você! Abril 2015 • 13
Cahier d’Art Fotos: © Rebecca Fanuele - Cortesia de Cahiers d’Art
Mayara Wal
Designer de produto de formação e metida a doceira nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atualmente estuda Design de Serviços e Interação.
“[...] Refere-se ao mesmo tempo a uma editora, galeria de arte e revista. Sua concepção foi inteiramente original [...]”
14 • Edição 08
Design Magazine Brasil
História Fundada em 1926 por Christian Zervos a
Renomados artistas em colaborações com
Cahiers d’Art, que fica no coração de Saint-Germain-
a galeria, muitas vezes produziram obras de arte
des-Prés, refere-se ao mesmo tempo a uma editora,
originais. Por exemplo, Miró em 1937 com Aidez
galeria de arte e revista. Sua concepção foi inteira-
L’Espagne, e Marcel Duchamp em 1936 com Flu-
mente original: uma revista de arte contemporânea
ttering Heart, produziram em parceria com a ga-
que combinava tipografia e layout, fotografias, e
leria algumas das imagens mais icônicas destes
mistura de arte antiga e moderna, onde escritores
dois artistas.
como Tristan Tzara, Paul Éluard, René Char, Ernest
De 1930 até a eclosão da II Guerra Mundial, a
Hemingway e Samuel Beckett substituíram muitas
revista se concentrou no trabalho de Picasso, Ma-
vezes os críticos de arte habituais.
tisse, Braque, Léger, Ernst, Arp, Calder e Giacomet-
Cahiers d ‘Art trabalha diretamente com ar-
ti, entre outros. Em 1932, Cahiers d’Art havia pu-
tistas e suas obras criando revistas, livros de edição
blicado o primeiro volume do Inventário Picasso,
limitada e catálogos - cada um dos quais é uma ce-
um projeto que se tornaria o trabalho de uma vida,
lebração de caráter e visão individual do artista.
elaborado por Zervos juntamente com Picasso. Por Inge Mahn
Abril 2015 • 15
16 • Edição 08
Por Inge Mahn
Cahier d’Art
Design Magazine Brasil
Exposições A galeria que também exibiu exposição de arquitetos como Le Corbusier, Frank Lloyd Wright e Oscar Niemeyer, agora apresenta duas exposições solo dos artistas alemães Inge Mahn e Martin Kippenberger, até junho. Por Martin Kippenberger
Martin Kippenberger (1953-1997)
e Rio de Janeiro. Nas suas obras se utilizava de uma
Considerado um dos mais talentosos artistas
grande variedade de mídias: pinturas, esculturas, fo-
alemães de sua geração. Desde sua morte prematu-
tografias e gravuras, e tratava de temas provocativos,
ra, sua reputação continuou a crescer internacional-
quase sempre contendo comentários sociais.
mente, solidificando seu lugar como um dos artistas
O trabalho de Kippenberger pode ser encon-
mais influentes do século XX. Estudou arte na Hochs-
trado em renomadas coleções permanentes de ins-
chule für Künste em Hamburgo, mas viveu em várias
tituições de prestígio, como a Tate Modern, Centre
cidades como Berlim, Florença, Espanha, Nova York
Pompidou, MoMA e outros. Abril 2015 • 17
18 • Edição 08
Por Inge Mahn
Cahier d’Art
Por Martin Kippenberger
Design Magazine Brasil
Inge Mahn (1943) Nascida em Teschen (agora parte da Polônia), a artista estudou com Joseph Beuys na Kunstakademie Dusseldorf, trabalhou como professora de escultura na Academia de Belas Artes de Stuttgart e na Academia de Arte de Berlim Weibensee, onde atualmente é Professora Emérita. Em 1972 Harald Szeemann a convidou para exibir seu projeto Schulklasse em Kassel, onde já se podia notar seu interesse em compor objetos do cotidiano com arquitetura. Suas obras podem ser encontradas nas coleções de Stiftung Kunstmuseum Düsseldorf, Deutsche Bank e Kulturministerium Baden Württemberg. Abril 2015 • 19
Entrevista à artista: Adriana Amaral Pinturas e fotografias: Adriana Amaral
Clara Carneiro
Estudante de Publicidade e Propaganda na Unigranrio, adoradora de diversas áreas do ramo, apaixonada por todo tipo de arte e pretensa desenhista.
“Não há nada melhor para não desanimar na jornada que trilhamos profissionalmente, do que admirar o sucesso do outro.”
20 • Edição 08
Design Magazine Brasil
Abril 2015 • 21
Entrevista à artista: Adriana Amaral Não há nada melhor para não desanimar na
da-se pedaços de compensado ou madeira velha
jornada que trilhamos profissionalmente, do que
que ninguém mais queria e tintas guache. Aos 13
admirar o sucesso do outro, isso nos motiva e con-
anos ganhei de uma tia muito querida, minha pri-
cede forças para vencer nossos próprios desafios.
meira tela de verdade e tintas a óleo, desde então
Por isso, é com prazer que entrevistamos e traze-
não parei mais, comprava revistas de pinturas em
mos a vocês, o resultado da nossa conversa com a
telas para me basear e aprender. Passei a maior par-
talentosa Adriana Amaral.
te da minha adolescência no quarto e sozinha fui
Desde jovem, nossa entrevistada fazia suas
aprimorando as técnicas e aprendendo a manuse-
artes, e até mesmo com materiais escassos, criava
ar os pincéis. Não tenho um estilo fixo de desenho,
desenhos e pinturas impressionantes para alguém
faço desde traços infantis ao realismo, gosto de de-
de sua idade. Nossa artista tem certamente um
senhar mangá, por causa de suas técnicas maravi-
dom. É certo que todos podemos aperfeiçoar nossa
lhosas de corpo e movimento e estou começando a
arte, a própria Adriana motiva isso nas pessoas que
me arriscar nos traços de HQ. Quem sabe desenhar
conhece ou passou a conhecer com seu trabalho,
HQ, sabe desenhar qualquer coisa [RISOS].
mas existem também aqueles que já nasceram predestinados - acredito eu. Pouco incentivada pela família a seguir na carreira que desejava, Adriana não se abateu e seguiu na busca de seu sonho. Se antes ela desenhava inocentemente, como toda criança faz, hoje, ela é apoiada por seus admiradores e está a cada passo mais próxima de tornar seu desejo realidade, se manter com sua arte.
“Procuro passar firmeza e mostro a todos que a história de ninguém precisa ser fácil para se ter ‘sucesso’.”
--É um prazer ter você nos concedendo essa entrevista Adriana, que tal começarmos contando ao leitor no que se baseiam seus trabalhos e qual o seu estilo de desenho?
Sei que você também faz palestras, o que procura passar a quem te assiste? Sim, comecei a palestrar ano passado e pelo visto não vou parar mais. Desde a primeira palestra
Primeiramente, muito obrigada pelo convite,
procuro passar firmeza e mostro a todos que a histó-
adianto que o prazer é todo meu em participar des-
ria de ninguém precisa ser fácil para se ter “sucesso”
sa entrevista. Bem, vamos lá, meus trabalhos artís-
naquilo que acredita. A minha história de vida tem
ticos são baseados em coisas que me cercam no dia
sido inspiradora para muitas pessoas, porque eu
a dia. Sempre fui apaixonada por paisagismo, natu-
mostro a elas que a fé e a persistência gera resulta-
reza, verde e mesmo sem entender nada de nada,
dos avassaladores. Correr atrás do que se deseja é
eu comecei a me arriscar nesse mundo e comecei a
mais que apenas um esforço, é abrir mão de coisas,
pintar telas com 10 anos de idade – por telas, enten-
é um desafio diário. Eu tenho mostrado às crianças e
22 • Edição 08
Design Magazine Brasil
aos adolescentes que a vida deles está aí e que eles
que digo que tem de se abrir mão de algumas coisas
têm um futuro brilhante à sua espera, basta querer.
para se ter outras -, com isso, tenho que ter um em-
No término da maioria das palestras, os alunos vêm
prego fixo, que eu ganhe o suficiente para pagar meu
me abraçar e agradecer pela motivação.
aluguel sem dores de cabeça. Preciso ter essa base,
Então conte mais, como é a profissão, quais os percalços?
ainda não pude largar tudo para viver só da arte e para a arte, e mesmo assim eu vivo. Chego em casa
Por mais que eu esteja envolvida nesse mun-
a noite e é aí que minha real história começa, tenho
do até o pescoço, graças a Deus, eu ainda não estou
encomendas de todo o Brasil e faço de um tudo para
nele totalmente, como eu realmente desejo. Há dois
dar conta de atender tanta gente. Eu sei que é a hora
anos saí da casa dos meus pais, justamente por isso,
de eu pensar que posso viver disso, mas ainda tenho
para ter meu espaço com minhas tintas, telas espa-
alguns poréns que me impedem.
lhadas pela sala e os pincéis organizados do meu jei-
Nada tem sido fácil, mas mesmo com alguns
to. Passei então a pagar aluguel - e essa é a parte em
tropeços, bloqueio criativo, falta de ânimo, eu tenho Abril 2015 • 23
Entrevista à artista: Adriana Amaral conseguido forças para continuar. Ao contrário do que muitos pensam, vida de artista não é nada fácil e o que vem me motivando a cada dia é o público que consegui conquistar. O que te motivou a seguir até hoje, algum momento especial que queira dividir conosco? Todos os dias recebo muitas mensagens de pessoas que eu nem conheço me incentivando com palavras poderosas. A demanda de pedidos de camisas pintadas a mão, desenhos e telas tem aumentado a cada dia, é incrível você sentir que as pessoas gostam do que você faz com amor. Muita coisa já aconteceu para que eu visse que tudo têm valido a pena, mas tem um momento que gosto de recordar sempre. Pintei uma camisa para entregar para o grande dublador Orlando Drummond (Scooby-Doo, Popeye, Alf, etc.) e consegui fazer isso pessoalmente com a ajuda do querido Guilherme Briggs -, no Prêmio de Dublagem Carioca em 2012. Poder estar junto deles foi épico. Drummond é um lord, elogiou meu trabalho e de quebra agradeceu com a voz do Scooby. Como é ter, finalmente, pessoas que realmente admiram o que você faz? Na sua página no Facebook percebemos claramente o apoio que você menciona. É gratificante demais, esse tem sido o grande motivo para eu continuar com o gás todo. Cada elogio, cada mensagem de carinho é como um abraço caloroso em tudo que venho fazendo. Recebo mensagens de pais me dizendo que eu tenho sido o motivo para seus filhos quererem desenhar ou até mensagens de pessoas que dizem ter voltado a pintar telas por causa das minhas pinturas e postagens motivadoras. Tudo que tenho feito tem me dado 24 • Edição 08
Design Magazine Brasil bons frutos, eu espero fazer muito pelas pessoas al-
mada no Instituto de Artes da minha cidade para
gum dia. Sinto-me com vontade de retribuir.
receber a notícia de que eu havia ganhado minha
Você se sente realizada atualmente? Sei
primeira exposição de quadros, uma exposição
que já teve a oportunidade de expor seus tra-
só minha, aquilo foi o céu pra mim, eu não podia
balhos, isso é certamente uma realização.
acreditar. Em seguida, fui chamada para expôr
Eu me sinto andando pela estrada de tijo-
alguns dos meus quadros da serie Sherlock (Tra-
los amarelos, a caminho da realização. Sinto que
balho criado pela artista devido a sua admiração
estou cada vez mais perto, mas ainda não estou
ao personagem Sherlock Holmes e a homônima
100% realizada.
série de TV da BBC) na FNAC do Barra shopping,
Sim, minha primeira exposição foi em março de 2014, fui pega de surpresa quando fui cha-
Rio de Janeiro e em Santo André, São Paulo, em setembro de 2014.
Abril 2015 • 25
Entrevista à artista: Adriana Amaral Então, você faz palestras, exposições, só posso parabenizá-la pelo sucesso! Mas o que o futuro reserva agora? O futuro é incerto como dizem, mas tenho feito de um tudo para estar o mais envolvida com a arte possível. Começarei a dar aulas de desenho e pintura esse ano e darei mais palestras. Já fui chamada para palestrar fora da região do Rio, mas ainda não foi possível. Continuarei lutando para mostrar que qualquer pessoa pode alcançar seus objetivos, basta querer. Continuarei pintando, desenhando, criando enquanto tiver forças pra isso. Uma certeza eu tenho, no meu futuro existe cor. E onde podemos conferir mais dos seus trabalhos? Vocês podem encontrar todos os meus trabalhos no meu facebook pessoal (Adriana Neves do Amaral), na minha página (Driih Desenhos) e no meu Instagram (@DRIIHDESENHOS), sejam muito bem vindos. Para finalizar, alguma mensagem pros nossos leitores? Sim, claro. Eu gosto muito de falar de sonhos e isso porque todos temos sonhos dentro de nós, sonhos grandes, pequenos, sonhos que pareçam impossíveis, e como já dizia Walt Disney: “Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade”. Nunca desista dos seus objetivos, por mais que te digam palavras de desaprovação, siga suas metas. Eu já fui muito criticada, não tive apoio nenhum dos meus pais e mesmo assim não desisti. Não desista também, seja qual for o seu sonho, até esse mais louco que está passando por sua cabeça nesse instante. Não desista tão fácil. 26 • Edição 08
Design Magazine Brasil Obrigada a todos que dedicaram o seu tempo lendo essa entrevista, foi bom falar um pouquinho do que amo fazer. Mais uma vez, agradeço imensamente o convite, foi um prazer. A DMB também agradece Adriana, foi maravilhoso poder ouvir sua história. Tenho certeza que servirá de inspiração para muitos de nossos leitores e que muitos deles se identificarão com sua trajetória. A DMB também está aqui para inspirar, e que tenhamos ainda muitas outras histórias inspiradoras a contar.
Abril 2015 • 27
Preview: BBD 2015 Foto da vitrine: Fernando Willadino
Thiago Seixas
Designer gráfico e de produto, apaixonado por artes e futebol. Buscando conhecimento e experiências, para um dia poder ser uma referência e inspiração para os novos designers.
“Embora tenhamos alcançado uma notoriedade no âmbito nacional, ainda sofremos com muitos problemas, principalmente com relação ao reconhecimento e entendimento sobre nossa profissão.” 28 • Edição 08
Design Magazine Brasil Promover o design no Brasil é uma tarefa que muitas organizações e indivíduos vêm fazendo arduamente ao longo das últimas décadas, e, embora tenhamos alcançado uma notoriedade no âmbito nacional, ainda sofremos com muitos problemas, principalmente com relação ao reconhecimento e entendimento sobre nossa profissão.
A história Indo a favor desta corrente, a Bienal Brasileira de Design foi criada com o objetivo de divulgar e promover trabalhos nacionais, profissionais, discussões e principalmente o reconhecimento da importância na esfera econômica para o Brasil. A história da Bienal tem início no fim da década de 1960, quando, por iniciativa dos professores da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), o Museu de Arte Moderna sediou uma mostra de projetos nacionais e estrangeiros, que se caracterizavam pelo ideal da boa forma. As três primeiras edições ocorreram em 1968, 1970 e 1972. Após um longo hiato, o evento voltou a ocorrer em 1990 e em 1992, com a curadoria de Ivens Fontoura, com objetivo de retomar as discussões sobre o design no Brasil. Abril 2015 • 29
Preview: BBD 2015 Foto: José Marconi Bezerra de Souza
A “Primeira” Bienal Mais um longo tempo se passa até que novamente se cria um movimento entre organizações para a criação de um evento que voltasse a discutir o verdadeiro papel e valor do design. E em 2006, São Paulo sedia aquela que é considerada a primeira Bienal, por ter alcançado uma repercussão muito maior e pelo grande volume de projetos apresentados. Com a curadoria-geral de Fábio Magalhães, crítico e historiador de Arte e Design e gestor cultural, a primeira Bienal Brasileira de Design expôs cerca de 600 produtos, tendo recebido 35 mil visitantes. O evento teve ainda mais relevância, por ter ocorrido simultaneamente com outros eventos importantes como a São Paulo Design Week e a Bienal Brasileira
Freddy Van Camp, curador geral da BBD 2015
de Design Gráfico.
A maior de todas Após o sucesso de 2006, o evento foi ganhando cada vez mais importância e notoriedade, até chegar em sua terceira edição, na cidade de Curitiba. Movimentando completamente a cidade, o evento atraiu mais de 300 mil visitantes, sendo um recorde de público até hoje. Além disso, foi a primeira Bienal onde se estabeleceu um tema, a sustentabilidade. A Bienal de Curitiba foi um grande sucesso por ter transbordado os limites dos espaços institucionais. Ela levou para espaços públicos, como o Parque Barigui e o Jardim Botânico, exposições que contribuíram para o elevado número de interação com os visitantes. O sucesso da exposição “Sustentabilidade: E eu com isso?”, que teve a curadoria de André Stolarski e Rico Lins, foi tão grande que lhe garantiu passaporte para outros grandes eventos, como a conferência Rio +20. 30 • Edição 08
Design Magazine Brasil
Abril 2015 • 31
Preview: BBD 2015
O pulo do gato Dando continuidade ao sucesso de suas precedentes, a Bienal de 2012, em Belo Horizonte, teve como tema a diversidade brasileira. Essa Bienal teve um grande sucesso no âmbito internacional, com seminários e ações de negócios que atraíram jornalistas e compradores estrangeiros.
Sua sucessora, a Bienal de 2014, acabou não acontecendo. Devido ao fato de no ano de 2014 dois grandes eventos estarem ocorrendo no Brasil, a Copa do Mundo de Futebol e as eleições, o comitê organizador decidiu então pular um ano e, assim, realizar a 5ª Bienal Brasileira de Design no ano de 2015. 32 • Edição 08
Design Magazine Brasil
O grande desafio
sas ações é mostrar para as pessoas que o design
A Bienal 2015 irá ocorrer na cidade de Floria-
não é somente uma disciplina estética que visa o
nópolis - Santa Catarina, entre os dias 15 de maio
encarecimento de produtos, mas sim, uma forma
e 12 de julho. Serão 60 dias de evento, que con-
de pensamento que agrega vantagens e valores,
tará com exposições, mostras, workshops e semi-
que não é somente mercadológico, mas que tam-
nários. O objetivo da organização é fazer com que
bém tem como objetivo gerar um bem estar para a
essa seja a maior e a melhor Bienal já realizada. O
sociedade e seus indivíduos.
desafio é realizar um evento que tenha uma repre-
Por esses e muitos outros motivos, a Bienal
sentatividade nacional, um vínculo com a comu-
Brasileira de Design é um evento importantíssimo
nidade local e que gere uma repercussão interna-
para nosso setor, e o mínimo que nós como estu-
cional positiva. Além disso, a organização contará
dantes e profissionais da área devemos fazer é dar
com ações que visão a aproximação do público
suporte, divulgar e fazer o máximo esforço para es-
geral, não só aquele que já está conectado de al-
tar presentes e fazer parte desta grande mobiliza-
guma forma com a área do Design. O objetivo des-
ção em prol do progresso do Design no Brasil. Abril 2015 • 33
Entrevista com Roselie Lemos Foto da vitrine: Estúdio Fotográfico Univali – Campus Florianópolis
Tiago Krusse
Fundador e diretor da DESIGN MAGAZINE. Jornalista profissional há mais de 20 anos. Sempre se dedicando à produção de informação sobre design, arquitetura e arte por esse mundo afora.
“O Brasil é pioneiro na produção de bienais de design e muito recentemente deu um passo em frente”
34 • Edição 08
Design Magazine Brasil
O Brasil é pioneiro na produção de bienais de design e muito recentemente deu um passo em frente no que diz respeito à regulamentação da profissão. A coordenadora executiva da Bienal Brasileira de Design Floripa 2015, expressa como todo o processo foi desenvolvido e deixa-nos as razões pelas quais ela tem tão boas expectativas em relação ao evento. Designer, professora e presidente da Associação Santa Catarina Design, Roselie Lemos sublinha um trabalho de cooperação pleno entre o governo e instituições com o propósito de trazer um acontecimento mais democrático sob o mote “Design for All” e a consciência de contribuir para o desenvolvimento social, cultural, industrial e econômico da região. Abril 2015 • 35
Entrevista com Roselie Lemos O Brasil é pioneiro na produção de bienais de design. Que diferenças encontra na produção de um evento destas caraterísticas nos anos 60 para os dias de hoje?
Quem é responsável por avançar com a Bienal Brasileira de Design 2015 Floripa? Fui buscar a Bienal para acontecer em Florianópolis por estar ligada a um curso novo de design
Na década de 60 o design mundial se expan-
e por ter a consciência de que seria necessário abrir
diu e passou a expressar a diferença entre gerações
o mercado para os novos formandos, dos quais
e a enorme mudança do pensamento e comporta-
uma grande parte deles era de minha responsabili-
mento da sociedade. Naquele momento o Brasil se
dade. Foi uma saída racional para um problema de
industrializava seguindo os propósitos do Presiden-
falta da cultura de design em um estado altamente
te Juscelino Kubitschek e do então governador pro-
industrializado. Mais que isso, Santa Catarina preci-
gressista do estado da Guanabara, Carlos Lacerda.
sava retomar seu papel pioneiro do design que começou nos anos 80 com o LBDI.
“Neste cenário foi criada a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI)”
Quando é que se deu o início do processo? Que obstáculos e oportunidades foram contabilizados desde essa altura? Começou justamente na Bienal de Curitiba e naquele momento já estava escolhida a cidade de Belo Horizonte para sediar a Bienal de 2012. Era necessário batalhar a Bienal de 2014, fazen-
Neste cenário foi criada a Escola Superior de
do uma grande articulação política unindo a área
Desenho Industrial (ESDI) no Rio de Janeiro que atraiu
acadêmica e de pesquisa com a política e a in-
estudantes de arquitetura de todo o país e novatos
dústria do estado.
como eu, que se encantaram com a nova profissão. O design passava por uma fase mundial de super valorização da tecnologia e da funcionalida-
Foram 2 anos de muitas reuniões em Florianópolis com representantes do Governo, Fapesc, SCParcerias, Fiesc e das Universidades.
de. Esse processo racional abriu as portas para a
Esses contatos fizeram com que notasse que
experimentação de novas formas, conceitos e pro-
o design precisava somente de um empurrãozinho
cessos de produção.
para deslanchar no estado, com um grande poten-
Estava aberto o campo para a realização de uma Bienal Internacional de Design que buscava avidamente mais informação, mais exemplos de bom
cial criativo e industrial. Como foi possível apresentar tamanho evento em Florianópolis?
design com maior grau de industrialização e novos
Foi possível introduzir a Bienal em Santa
conceitos. Foram realizadas 3 Bienais em 68, 70 e 72
Catarina com o apoio institucional do Fiesc, do
no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com
Estado, da Prefeitura, das Universidades além do
grande empenho dos professores da ESDI, profissio-
reconhecimento do potencial turístico do evento.
nais e políticos da época.
Floripa é conhecida no Brasil todo pelas suas lindas
36 • Edição 08
Design Magazine Brasil
Fotografia: Estúdio Fotográfico Univali – Campus Florianópolis
Abril 2015 • 37
Entrevista com Roselie Lemos praias e pela sua gastronomia. Unir o design com a beleza da ilha é um dos pontos mais explorados na divulgação da Bienal. Ou seja, quem vier participar da Bienal terá como ganho extra o céu, o mar e a grande energia positiva da cidade. Por que razão o estado de Santa Catarina é relevante para abraçar a bienal? Pelo seu desenvolvimento industrial e pelo desempenho de sua economia. Mesmo nesse momento em que o Brasil mostra resultados insignificantes na economia, o índice de crescimento da indústria catarinense não caiu. Ao contrário, a economia catarinense cresceu mais do que a brasileira em 2013. O Índice de Atividade Econômica Regional de Santa Catarina (IBCR-SC) subiu 4,1% no ano passado, enquanto a média do Brasil ficou em 2,52%(fonte IBC-Br). Pode-se dizer que Santa Catarina possui uma vocação para o desenvolvimento e para a competitividade, que é um dos objetivos do design. É feita assim a integração entre indústria, o design e a inovação na construção de uma economia forte e sustentável.
38 • Edição 08
Design Magazine Brasil Que novas oportunidades, vai o evento trazer para a região e empresas locais? As empresas poderão entrar em contato com novos conceitos de empresas criativas, novas tecnologias de makers, com a tecnologia de impressão 3D, novos métodos de co-participação coletiva concretizando um novo olhar na construção de um design catarinense contemporâneo. Como é que o design e o papel da profissão são percebidos pela entidade regionais, bem como os agentes industriais e comerciais? As empresas e as autoridades governamentais investem muito na inovação tecnológica em Santa Catarina. No entanto, é necessária a visão de que não existe inovação sem design nem design sem inovação. O conjunto dessas duas forças mais a compreensão de que a criatividade é um elemento essencial para a inovação, trará como resultado o reconhecimento do valor do design para a construção de uma economia mais sustentável a longo prazo. Em que estágio de desenvolvimento Santa Catarina se encontra quando consideramos os níveis educacionais e tecnológicos? Santa Catarina possui 75 cursos de design (graduação, técnicos e tecnológicos), 15 cursos de mestrado e um doutorado em design. Só perde em número para São Paulo. Uma grande força na educação corporativa está sendo incentivada pela Fiesc junto às empresas e às industrias catarinenses. O IEL e o Senai mantém convênios com o Politécnico de Milão, com a Steinbeis University de Berlin e com o MIT (Massachusetts Institute of Technology). É a busca do conhecimento através do intercâmbio e transferência de tecnologia. Abril 2015 • 39
Quais são as principais atividades ligadas ao design?
O que dá corpo ao mote da bienal “Design for All”?
O design está em tudo: Na atividade projetu-
A democratização total do design: Para
al, na gestão organizacional e política, na concep-
uso de todos os públicos com configurações
ção dos novos conceitos de produtos, nas novas
físicas diversas relacionadas à idade, peso,
formas de produção de produtos, em intervenções
altura e possibilidades cognitivas além de
estéticas e até na forma de construir novos modelos
necessidades especiais de acessibilidade.
de negócios. Pensar como um designer é mais do
Estamos construindo uma Bienal para
que um novo processo de desenvolvimento de pro-
todos, acessível a públicos diversos, de di-
dutos, serviços ou modelos de negócios, para ser
versas faixas de compreensão, mas que pos-
um reconhecimento da transversalidade do pensa-
sam se beneficiar dos conceitos universais
mento criativo do designer.
do design.
40 • Edição 08
Design Magazine Brasil
“Grande parte dos designers brasileiros se envolvem e se mobilizam enviando seus trabalhos” O processo de regulamentação da profissão designer é um passo conquistado por toda a comunidade. Como tem sido o envolvimento dos designers brasileiros e instituições profissionais, relativo à missão e objetivos da bienal? Grande parte dos designers brasileiros se envolvem e se mobilizam enviando seus trabalhos para seleção pelos curadores e criando novas maneiras de participação nos eventos, não só pela importância de uma Bienal como a sua grande visibilidade e com a oportunidade para novos contatos e montando um novo networking. Quais são as suas principais expectativas? Espero que o resultado seja positivo para os profissionais de design, empresários e gestores públicos valorizando o design como conhecimento e fazendo com que o público possa celebrar o design brasileiro nessa grande festa. Espero principalmente que esta seja a melhor e mais instigante das Bienais. Como vê o papel do Centro Design Catarina depois da bienal? O Centro de Design Catarina vai se beneficiar do papel que tem de realização e execução da Bienal criando oportunidades em ampliar as suas funções de pesquisa e observação de sinais e novas tendências, difundir informações e preservar a memória histórica do design, virtual e fisicamente. Abril 2015 • 41
O “OBA”, de Pablo Cabistani Foto da vitrine: Arquivo pessoal de Pablo Cabistani
Eliezer Santos
Atua como freelancer desde 2012 com criação de logotipos, peças publicitárias, etc. Atualmente tem se dedicado a edição de vídeo e motion design.
“Há ainda uma grande confusão por parte da nossa sociedade em saber o que é a profissão e qual a importância do designer para a sociedade. ”
42 • Edição 08
Design Magazine Brasil O ano era 2013. O mês, Julho. A Bienal Brasileira de Design lançava então um concurso que seria um grande desafio para designers em todo território nacional.
países de língua portuguesa), num total de 90 propostas válidas. Trabalhando como designer profissional há 10 anos, Cabistani já trabalhou em um escritório de
A proposta era criar uma identidade visual
Design em São Paulo, e tem vários de seus traba-
para o próximo evento, que, como o nome já define,
lhos exibidos em seu site (pablocabistani.com). Ele
acontece de dois em dois anos, e voltaria a aconte-
começou a trabalhar no projeto da Bienal em Julho
cer no presente ano de 2015, na cidade de Florianó-
de 2013, e trabalhou nele por 3 meses. O interessan-
polis, Santa Catarina. O tema do concurso era “Oba
te é que o projeto poderia ser elaborado em grupos,
– Design for all (Design para todos)”, uma celebra-
mas Cabistani preferiu se dedicar sozinho, o que
ção ao conceito criado pela fundação Design for All
valoriza ainda mais o seu feito. O projeto realmente
(designforall.org). E a proposta era criar uma ID vi-
impressiona: desenvolvido com cores fortes e varia-
sual que incorporasse este tema em si. O vencedor
das, usando muitas texturas e vários elementos da
viria a ser o designer Pablo Cabistani.
nossa cultura, Cabistani conseguiu incorporar com
Natural do Rio grande do Sul, o Gaúcho con-
excelência a proposta do concurso em seu projeto.
seguiu a proeza de ter seu trabalho escolhido numa
Ele conseguiu criar uma identidade visual alegre,
disputa que movimentou cerca de 1.300 designers
que representa a variedade e a diversidade huma-
inscritos de todo o Brasil (e também oriundos de
na, e celebra o tema proposto.
Abril 2015 • 43
O “OBA”, de Pablo Cabistani “Eu acredito que as orientações (para o de-
como Alexandre Wollner e Aloísio Magalhães, (3)
senvolvimento da ID visual) são as mesmas para
as “caras OBA”, um conjunto de rostos de pessoas
qualquer projeto de Design: foco em resolver o
de várias idades e etnias, e (4) um conjunto especí-
problema apresentado, criar algo único e, como
fico de cores e texturas.
diz a bem conhecida expressão de Massimo Vig-
Perguntado sobre o que poderia ter levado os
nelli: “visualmente poderoso”. Disse ele, em en-
jurados a escolherem seu projeto como vencedor,
trevista para a Design Magazine de Portugal (ed.
Cabistani respondeu que não sabia.
Janeiro-Fevereiro de 2015).
“Não é fácil dizer exatamente por que um gru-
A Identidade é composta por um conjunto
po de experts prefere um conceito ao outro”, disse.
de elementos que interagem uns com os outros:
Ele complementou dizendo que considera que seu
(1) Uma versão temática da logo tradicional da
projeto tenha sido o escolhido pela sua relevância e
Bienal, que recebeu um detalhe colorido em seu
pelo seu aspecto “humano”. Ele também considera
símbolo, (2) o grafismo “OBA” (a geométrica e colo-
que a criação da logo específica para essa edição,
rida palavra OBA), que complementa o tema “De-
sem alterar a logo tradicional, apenas inserindo
sign for All” e é um toque modernista, baseado na
nela um detalhe colorido tenha sido uma boa sa-
Escola Modernista Brasileira, um movimento que
cada, e pode ter tido alguma relevância na escolha
tem lançado grandes e já conhecidos designers,
dos jurados.
44 • Edição 08
Design Magazine Brasil
A aplicação na cultura e sociedade brasileiras de um dos tópicos a serem discutidos na Bienal, por outro lado, mereceu críticas de Cabistani. Perguntado sobre sua opinião sobre como a importância do designer vem sendo difundida na sociedade, ele afirmou que há ainda uma grande confusão por parte da nossa sociedade em saber o que é a profissão e qual a importância do designer para a sociedade. Segundo ele, há dez anos, quando ele ainda era um iniciante, a situação era a mesma ou era muito parecida com o que vivemos agora, não tendo uma evolução significativa de lá pra cá. Ele considera que com a ajuda da internet, o Design se tornou mais comerciável, mas que sua incorporação junto à sociedade e a cultura brasileira ainda estão muito distantes. Cabistani citou ainda algumas referências que ele usa para desenvolver seus projetos, tais como os estúdios Wolf Ollins, RedAntler e Duffy&Partners. Citou ainda alguns designers: Jason Little e Jessica Walsh, que ele definiu como “brilhantes”, e Gustavo Piqueira. Sobre o que ele espera da Bienal, ele afirmou: “A Bienal é um dos maiores eventos de Design do Brasil. Eu costumo visitar as praias de Florianópolis nas férias e tenho um carinho muito especial por aquele lugar. Estou muito orgulhoso do meu projeto ter sido escolhido e pelo que tenho lido a respeito, será uma Bienal memorável, e eu estarei lá, com certeza”. Abril 2015 • 45
46 • Edição 08