CAMILA Paulínia | São Paulo Qual é a tua idade? 34. E onde tu moras? Paulínia, uma cidade no distrito de Campinas. E quem abastece a cidade é a sabesp? Olha, eu acho que não é a SABESP, mas é uma boa pergunta porque a nossa conta de água vem no condomínio. Deixa eu ver se tem alguma coisa aqui (som de papéis sendo folheados)... mas eu acho que não tem… só um minutinho. É, aqui não fala nada. Tu moras com quantas pessoas? Eu moro eu e meu marido. Qual é a tua profissão? Eu agora estou trabalhando com consultoria de pesquisas. Quando eu falo em água, qual a primeira palavra que vem a tua cabeça? Olha… é… não sei se é uma palavra só, mas, é uma necessidade básica. É uma associação que tu fazes positiva ou negativa? É uma… como é que eu posso as… é uma associação talvez negativa porque eu falo isso e me recordo do ano de 2015 (foi?), eu morava em São Paulo e que houve uma possibilidade de faltar água e foi bastante aterrorizante. Os cenário que pintavam eram bem ruins e, realmente, tinha uma sensação de “o que vai acontecer?”, “para onde vamos?”. Não se sabia muito bem o que ia acontecer e aqui também é uma cidade muito seca, então, é, nesse período né… então, estou
sendo muito assim… quase uns 50 dias sem chuva. Daí teve uns 3 ou 4 dias de chuvas e agora também tem mais umas duas ou três semanas sem chuva. Isso é bem complicado, assim, o ar fica muito ruim, fica muito assim de respirar né, é bem complicado. E onde tu enxergas a água no teu cotidiano? Ah, sei lá, em tudo, né? Desde questão de alimentação, hidratação mesmo, né, de corpo e de higiene tanto pessoal quanto para casa, né, e para as plantas. Por aqui também no , jardim, quintal, uma horta. É totalmente presente e é muito, assim, acho que tem uma questão que para mim é muito cara que é a questão de saúde. A questão da água com saúde no sentido de beber bastante água e sinto que faz bem, que me faz bem né, então, eu estou grávida agora e isso é bem perceptível. Tem toda essa questão, então, acho que é bem por aí né. E quando eu falo em ciclo da água o que tu entende com isso? O ciclo da água, bom, imagino que seja , é… é isso, né, a água precipita. Para onde que ela vai e como a gente capta isso depois novamente… Isso, o tratamento dela e essas coisas. como tu enxergas isso? É, olha, eu até estava conversando esses dias com meu marido sobre isso. É… cada vez mais a gente vê, né, o quanto muitas vezes a gente precisa dar uns passos para atrás assim, né, então. Eu não tenho conhecimento profundo de como é todo esse ciclo, mas eu vejo que é um negócio bastante complexo, imagino que deva ser. E vejo também né, enfim, que tem muitas pessoas, inclusive que nem tem acesso a água tratada e tudo mais, né? Não chega. E o quanto isso tbm é grave, em termos de saúde pública e tudo mais. Como a gente não aproveita muito dos nossos recursos, né? Como não existem possibilidades de… eu vejo o meu pai, né, ele que tem... ele mora aí no Rio Grande do Sul, e ele gosta muito de plantas também. Sempre que chove ele coloca um monte de baldes para pegar água da chuva, né, para molhar as plantas dele. Inclusive, é melhor que a água da torneira para molhar as plantas. E isso poderia ser feito no dia a dia e que facilitaria, né, ou economizaria, enfim. Poderia, inclusive, nesse caso assim, acabar esse ciclo, né.
Então algumas coisas… captar a água de alguma outra forma, não sei. É, acho que tem a questão também de qualidade da água, né, enfim. É, quando começou essa história lá em São Paulo, os níveis [de água] estavam muito baixos e tudo mais. Muitas conversas rolaram, inclusive, de que se começaria a usar água de uma outra represa lá que não é utilizada porque a qualidade da água está ruim, que é a Billings, que tem muita população em volta e tal. E, a partir de então, é consumido água mineral… Em tua casa? Isso. Aqui a gente meio por hábito continuou, por também não conhecer da onde vem a água e tudo mais. A gente continuou a usar água mineral para beber, para consumo de alimentação também. E quando eu falo esgoto qual a primeira palavra que vem na tua cabeça? Esgoto… é… sei lá, vaso sanitário. Isso é positivo ou negativo? Eu acho que é positiva no sentido de ter esse encaminhamento desses dejetos por uma rede de tratamento de esgoto. Ao mesmo tempo, eu sempre me questiono a quantidade de água pessoalmente que é utilizada no vaso sanitário. Que seria uma outra água que poderia ser útil. Como assim? Não usar água limpa, potável, para o vaso? Isso, exatamente. E onde é que tu enxergas esgoto no teu cotidiano? Onde que eu enxergo? Eu acho que só nessa situação, assim, só no banheiro. E o esgoto não está em mais lugar nenhum na tua vida? É, enfim, né, tem as torneiras e tal da casa que eu imagino que vão para o mesmo lugar mas que eu não sei, realmente, não… não domino.
E quando eu falo saneamento básico qual a primeira palavra que vem na tua cabeça? O tratamento desses dejetos, né? E isso é positivo ou negativo? Ah, isso é bem positivo! Necessário, né? O que tu acha sobre o valor que tu paga atualmente pelo serviço de água e esgoto? Olha, boa pergunta, porque como eu te falei vem no condomínio, né? Inclusive não é separar por unidade, né. Então é uma coisa que a gente não consegue dimensionar, né, nós. Mas existe o tratamento de esgoto? no seu condomínio, ele é coletado? Acho que sim, imagino que sim, porque fala água e esgoto entre as despesas Tu achas que ele deveria ser cobrado junto? Pois é, não sei. Tenho falta de conhecimento sobre isso. Fazendo um exercício, suponhamos que tu estejas com sede e vais até a pia da cozinha e enches um copo de água para beber. tu sabes me dizer como essa água chegou até a pia da torneira ou que caminho ela percorreu? Que caminho? Eu não sei te dizer… Não te ocorre nenhuma idéia sobre? Ah, imagino que seja essa captação das represas, o transporte... é... que é feito com, não sei, canos pela cidade, não sei. E depois vai para a caixa d’água, né, e da caixa d’água então, desce para a torneira. Entendi. continuando nesse exercício. tu desistes de tomar a água e resolve despejar essa água na pia do banheiro. tu consegues me descrever o que vai acontecer com essa água, depois que tu a jogou na pia?
É, não sei, né, mas imagino que dali vá para algum, é… para alguma rede de esgoto e leve para uma estação de tratamento para depois ir para um… dar um encaminhamento. E para onde vai depois dessa ação? Para onde vai? Não sei também. Fazendo um outro exercício, digamos que tu recebas R$ 1.000,00 de salário por mês, o quanto desse valor tu destinarias para pagar a tarifa de água em tua cidade? Quanto eu destinaria, tu diz, o quanto que eu acharia adequado? Exatamente! o pensamento seria “eu tenho só essa quantia de R$ 1.000,00. o quanto deve ser pago pela água, destinado a esse pagamento” Poxa vida! Eu acho que… sei lá, R$ 50,00. OK, entendi. E digamos que tu recebas R$ 1.000,00 de salário por mês, o quanto desse valor tu destinarias para pagar a tarifa de esgoto, então? Ah tá, separar. É, não sei, talvez… talvez… R$ 30,00. OK, então teríamos R$ 50,00 para água e R$ 30,00 para o esgoto? É.
E tu percebes alguma diferença de valor entre essa duas tarifas? Se sim, qual delas seria a mais importante? É, então, a gente sempre pensa na água, eu acho, porque é algo que a gente vai consumir. Mas claro que a importância seria a mesma, né, porque vai vir depois de volta. Eu não sei qual é, o que acontece depois que o esgoto é tratado mas imagino que possa uma parte dessa água retornar também. É, consumo.
Pensando no preço coletivo, tu achas que todos os consumidores devem ser cobrados igualmente pelo consumo de água e de seu ciclo? Considere desde a preservação de reservatórios até o tratamento, a coleta e tudo o mais. Eu acho que, é, bom, eu tendo a pensar que deva existir uma tarifa social, né? Para pessoas que não tem condições de pagar porque é um bem de necessidade básica, Então, assim, não imagino que alguém possa ficar sem acesso a isso por falta de dinheiro para pagar. Por outro lado, o que a gente sabe que, inclusive, que acontece com grandes consumidores, né, isso foi uma disputa que aconteceu naquele período em São Paulo, empresas e grandes consumidores de água acabam tendo descontos. Não dá! Quem consome demasiadamente, que pode pagar mais, acaba sendo beneficiado pelo sistema que está vigente aí. E isso tu achas errado? Um contrassenso completo, né? E durante suas férias, digamos que tu fiques fora da cidade um mês. Tu achas que deverias ser cobrada da mesma forma pela água e saneamento? Ou seja, ser cobrado uma taxa mesmo sem uso algum. Hmm, entendo. É, pois é, isso é uma questão complicada… uma taxa de manutenção eu acho que sim. A questão é que às vezes essa taxa ela é um pouco, é, um pouco alta, né? Eu sei que isso muito, por exemplo, com quem tem casa de veraneio e tal, né, e acaba pagando o ano inteiro uma taxa que é bastante alta, não sei. Não teria como mensurar isso. Acho que uma taxa de manutenção do sistema, acho ok. A questão é o valor dela. Então, quer dizer que no mês que tu “não usaste” poderia ser cobrado menos? Sim, sim. É, talvez do que deveria ser cobrado, a maior parte desse valor deveria ser realmente o que foi consumido, entendeu? É, o serviço continua acontecendo… O serviço?
É, o serviço de saneamento. Ele não parou em nenhum momento, tu só não utilizaste. Sim, sim, exatamente. Digamos que, hipoteticamente, hoje tu pagues r$ 10,00 por dez litro de água utilizado. O que tu acharias se recebesse uma notificação informando que passarias a pagar r$ 11,00 por esse serviço a partir de agora? O que eu acharia? Bom, primeiro, certamente eu não ficaria contente de ter que pagar mais. Mas, acho que seria importante ter alguma justificativa a respeito disso, né. Como o quê, por exemplo? Tipo qual o motivo desse aumento. Como “estamos fazendo uma certa ampliação do sistema” ou “x”, assim. Teria que ter uma explicação porque é uma tarifa que você não pode escolher, né? Não tem como dizer “ah, não vou comprar a água da SABESP, vou comprar de outro”. Não tem muito o que discutir, você aceita ou não aceita. Mas é importante ter transparência de como é calculada essa tarifa. É importante tu saberes porque estás pagando a mais? Exatamente!
E o que tu acharias se recebesse uma notificação hoje informando que passaria a pagar R$ 12,00 por esses dez litros a partir de agora? Eu acho que a mesma coisa. E, sendo drástico, o que tu acharias se recebesse uma notificação hoje informando que passaria a pagar R$ 13,00 por esses dez litros a partir de agora? Tem algo que tu farias? Olha, (risos), não sei, assim. Claro que reclamaria, talvez algum movimento nesse sentido. Mas não sei exatamente se isso levaria a algum lugar, né? Até por experiência do que a gente já viveu. Então, é isso. Ah, “vai ter um aumento na conta
de quem consumir mais”. Claro, quando eu observo isso, lá em São Paulo [capital] eles aplicavam multa se você aumentasse o consumo. E tu achas que isso funciona? E isso, assim, muitos... Não sei, talvez. Eu acho, na verdade, um pouco complicado isso assim, né? Por que as realidades são muito particulares, né. Então, né, como eu trabalhava, inclusive, na prefeitura, o que acontecia: tinha um prédio que estava desocupado e era transformando em um centro de recolhimento de pessoas em situação de rua. E ali né, o consumo atualmente, né, é diferente do que era no mês anterior. E isso significava aplicação de multa. Você tinha que recorrer, você tinha que explicar e tudo mais. Tinha toda uma burocracia em torno disso, toda uma burocracia que se cria né, uma complicação que, na verdade é uma realidade bem característica de São Paulo em torno de regras e regras que são colocados porque o sistema não está funcionando, entendeu? Ao mesmo tempo, né, tinha muitas denúncias de vazamento, de falta de investimento da companhia em cuidar dessas questões da rede, técnicas. Muito desperdício e tudo mais. Você ficava “quem que… é você o consumidor que paga“ essa conta, né, de uma companhia que talvez foi mal administrada ou que foi administrada não no interesse público. E aí, no fim das contas, isso vira um aumento da tarifa, né, ou multa. Um risco de ficar… Então
só
nas
situações
muito
grave
para
a
população
ver
que
são
responsabilidades não só da companhia mas do governo que concede o serviço, né?
Tu achas correto ser cobrado uma taxa mínima para a utilização do serviço de água e esgoto? É… talvez sim né, para o próprio sistema, imagino que sim. E tu tomas ou tomarias alguma medida para economizar água, em todo o ciclo dela? Se sim, quais? Sim, sim. Bom, eu acho que “encurtar”, digamos assim, o tempo que as torneiras ficam abertas, estas medidas mais simples. Torneira, chuveiro, né. Então, não lavar a louça com a torneira aberta, não escovar os dentes com a torneira aberta, não
ficar no banho por muito tempo, todas essas medidas assim, né. O que... é... aqui nossa casa é alugada, né, então, não tem nada de especial em termos da estrutura que possa colaborar para isso. E no dia que a gente possa ter nossa casa, a ideia é que a gente possa ter algum sistema que possa também colaborar nesse sentido. Como é que tu vês a oferta de água e saneamento na tua região? Como vejo o quê? A Oferta de água e saneamento na região que tu moras. Pois é, eu conheço pouco aqui. Faz desde fevereiro que eu moro aqui então eu não saberia dizer, assim, da região, de todas as áreas da cidade né. Não sei, não posso… A cidade é grande? Não muito grande. Tem uns 80 mil habitantes. E como tu classificarias a SABESP? Olha, bom, eu já te falei um pouco, né, do que… do que eu penso, assim. Eu achei bastante grave, assim, o que eu conheci da crise hídrica, a respeito da economia, né, e acho que, é, achei inadmissível que tivesse chegado àquele ponto a situação, em uma cidade como São Paulo, né. Com risco de vida, né, então se falava nisso, “que as universidades vão suspender as aulas”, enfim, “que o pessoal vai ter que sair da cidade”. Então, eu achei uma administração muito ruim da companhia. E que nota tu darias para a SABESP? Que nota? Eu acho que 4. Por esses motivos já ditos? Isso! E se a SABESP fosse uma pessoa, quem ela seria? Não sei… que pergunta! (risos)
Quando tu pensas na SABESP a imagem de que pessoa vem a tua mente? Ah, eu penso no… no governador, o [Geraldo] Alckmin. OK. E tu poderias me descrever algumas características dele? Eu acho que é isso, assim, muito pouco preocupado com o interesse público, e mais preocupada com os interesses privados, né? O próprio lucro… é, da companhia, enfim. Isso é positivo ou negativo? Negativo. Se tu pudesses mandar um recado para a SABESP, qual seria? Eu, sei lá, diria que é preciso mais responsabilidade e talvez uma nova visão, né? Que eu tinha comentado também a respeito desses contratos que existem com as empresas, né. Então, esses contratos que estimulam o consumo. Eu acho que a gente está em um momento em que é cada vez mais claro que o caminho é mudança de hábitos, né, e compreensão, assim, ficar mais claro de que são recursos finitos, né. Que se precisa usar isso de forma racional. Então, além de responsabilidade na administração desse recurso que é tão importante, também visão mais… é… mais adequada, digamos, a essa compreensão a respeito da finitude dos recursos naturais, do planeta. Para finalizar, em uma ou duas palavras: como tu percebes o futuro da água? Eu acho que, assim, eu sou bastante otimista, assim. É… eu acho que a gente tem tomado cada vez mais consciência, né? E até, enfim, acho que as crianças hoje têm outra consciência e tal a respeito disso. Mas ainda é preciso que isso se - sobre o uso da água, sobre o uso mais adequado da água -, ainda é preciso que isso se enraíze nas pinturas, digamos assim, que existem hoje porque isso ainda não aconteceu. Então, é, eu acho que tem um caminho longo, mas eu acho que é positivo, assim. Eu acho que a gente caminha pra entender que a gente precisa “levar de outra forma” com esse recurso.
E qual seria o teu papel nesse futuro? Bom, o meu papel eu acho que é bastante modesto, assim. É aplicar, assim, essas diversas mudanças na minha vida e no meu cotidiano, no meu entorno, assim.