CINDY SHERMAN
Cindy Sherman/Crítica Institucional Design e texto de Lúcia Rocha Orientação de Mário Moura Faculdade de Belas Artes do Porto 2010/2011
CINDY SHERMAN CRÍTICA INSTITUCIONAL
6
7
CINDY SHERMAN CRÍTICA INSTITUCIONAL Cindy Sherman nasceu em 1954, Glen Ridge, em New Jersey. Sherman é uma fotógrafa e directora de filmes americana, muito conhecida pelos seus retratos e autoretratos conceptuais, cujo figurante é quase sempre ou até mesmo sempre, feminino, com o propósito de levantar questões acerca do papel da mulher e a sua representação na sociedade, contudo não é por isto que se pode considerar o seu trabalho feminista. ¶ Cindy Sherman trabalha em séries, nas quais fotografa a si própria vestindo diferentes personagens. A forma como esta autora realiza o seu trabalho é interessante, na medida em que é ela que, sozinha num estúdio, assume diversas funções: actriz, directora, make-up, cabeleireira, assistente de roupeiro e, por fim e não menos importante, modelo. ¶ Uma das séries fotográficas em que se pode verificar a versatilidade desta autora, pela variedade de personagens que ela veste e despe, é a série "Bus Riders" capturada em 1976 (FIGURA 2), em que Sherman transforma a sua identidade para cada uma das imagens, simulando o espaço interior de um autocarro com uma cadeira de madeira e ela própria caracterizada, sentada em diferentes posições.
54 UNTITLED, #123, 1983
8
"…because Sherman is both the subject and object of tis fictions, catres and director, image and author, she takes control of the dynamic that regulates desire... she deflects the gaze of desire away from her body toward reproduction itself, forcing the viewers to recognize these own conditioning." Lisa Phillips
Muitos críticos afirmam que ao ser modelo das suas próprias imagens, Sherman detém total controlo sobre elas. ¶ A questão que aqui se coloca é a noção de autoria. Podemos considerar
o mesmo não de pode dizer de Sherman, porque ela não captura a imagem, mas sim é o objecto da própria imagem. ¶ O que identifica o trabalho de Cindy Sherman é, na maioria
Cindy Sherman uma fotógrafa na sua verdadeira ascensão? Todo o trabalho de encenação e caracterização que cada uma das suas imagens envolve é de facto produto da sua autoria, pois podemos afirmar que todo ocenário foi realizado por Sherman, no entanto, não se pode constatar da mesma forma que a imagem foi capturada por ela. Enquanto que, por exemplo, Henri Cartier-Bresson aguardava pelo momento ideal para capturar a imagem perfeita,
dos trabalhos, a sua presença nas imagens, daí a ambiguidade, como é que a personagem principal da imagem pode ser considerada progenitora da mesma imagem? ¶ De facto, nem mesmo a própria autora se diz fotógrafa, mas sim artista. Não há dúvida de que as imagens são suas, porque todo o trabalho envolvente não implica a participação de outrem, mas no que se refere à prática fotográfica, não é justo dizer que Cindy Sherman é uma fotógrafa,
99
tendo em conta a variedade de nomes conceituados nesta área que, de realmente, praticaram esta forma de arte. ¶ Fotograma #21 Sem título (FIGURA 1) é um auto-retrato da série fotográfica a preto e branco intitulada "Fotograma", que alude ao estilo de fotogramas utilizado para anunciar filmes. Nesta série Sherman copiou o estilo granulado e ligeiramente desfocado dos fotogramas originais, na qual ela assume o papel de uma actriz.
53 SEM TÍTULO, #122, 1983
10
FIGURA 1 FOTOGRAMA #21 SEM TÍTULO, 1978
1 11
"A única razão por que não chamo a mim própria fotógrafa é porque não penso que as ou-tras pessoas que se consideram fotógrafas me reconhecessem como uma delas." Cindy Sherman
O que faz do trabalho de Cindy Sherman uma obra de arte não é a forma, mas sim o conteúdo conceptual, as ideias complexas e subtis que cada uma das imagens traduz. ¶ A sua presença nas fotografias, apesar de repetitiva, é o que confere personalidade aos fotogramas simulados. Umas das características mais visíveis nas suas séries de fotografas é a ausência de títulos. Ela recusava-se a legendar as suas imagens com o intuito de deixar o observador ser livre de criar as suas próprias narrativas à medida que visualizasse o trabalho.
FIGURA 2 BUS RIDERS, 1976
14
"The criticism, even if it's really good criticism, makes me realize, 'well, if that's the way they all think it's going, then I'm going to take it this way." Cindy Sherman
Em meados dos anos 90, Cindy Sherman, numa das diferentes fases da sua carreira, atribui às suas imagens uma linguagem completamente diferente daquela que foi mencionada até agora, que foge à estética clássica dos fotogramas. Neste período, Sherman começa a ausentar-se das suas imagens, dando lugar a manequins, a próteses e plásticas, a corpos que não o dela, onde a manipulação é o meio de intervenção mais utilizado, tornando, em certos casos, a imagem saturada de tanta informação. É um período de imagens mais violentas, muito distantes do cenário cinematográfico, nas quais Sherman dá o seu corpo a manequins desfigurados que, mesmo assim, muitas vezes, se confundem com ela.
"Não consigo pensar em qualquer outro corpo de obras que seja ao mesmo tempo tão intemporal e que tenha contudo tanto do seu próprio tempo como os fotografas de Cindy Sherman (…) São obras perversas, astutas e inteligentes, espirituosas, mordazes e descontraídas. Mas estão entre as raras obras das últimas décadas que se elevam às exigências da grande arte, que dão corpo às metáforas transformativas do sentido da realidade humana." Arthur Danto
Bibliografia Livros: O que é um autor?, Foucault, Michael – Vega Passagens; O que é a arte?, Warburton, Nigel – Editorial Bizâncio; Cindy Sherman, Photographic Work 1975-1995 – Ed. Zdenek Felix and Martin Schwander – Schirmer/Mosel, Munique; Internet: http://www.pbs.org/art21/artists/cindy-sherman/; http://www.metropicturesgallery.com/index. php?mode=artists&object_id=4#; http://www.brickhaus.com/amoore/magazine/Sherman.html; http://www.bbc.co.uk/photography/genius/gallery/sherman. shtml; http://folksonomy.co/?permalink=1052;
http://www.webexhibits.org/colorart/sherman.html; http://www.revistacinetica.com.br/cindysherman.html.
24