Fronteira do múltiplo: perfomance, pedagogia, contemporaneidade* Lucio Agra
O meu propósito nesse texto é tentar discutir as possibilidades de uma pedagogia da performance no momento atual, tendo em vista alguns aspectos que tem me chamado a atenção. Não se trata de um levantamento exaustivo ou histórico da atividade performática como didática, nem tampouco um conjunto de prescrições para a sua execução. Antes de perguntarmos quais seriam as possibilidades estratégicas que a performance pode oferecer ao professor, gostaria de primeiro colocar algumas questões sobre o momento que vivemos no contemporâneo. Esta é uma tarefa muito difícil, porque geralmente temos poucos referenciais para meditar sobre algo que está se desenvolvendo à nossa volta, acima e abaixo de nós, de um lado e de outro enquanto nos esforçamos para pensar nisso. A primeira e mais segura tática para enfrentarmos tal empreitada talvez seja entender em que medida a performance contribuiu, desde o seu nascimento, para forjar o conjunto de sensações e conceitos que aqui pretendemos apontar para ajudar-nos a entender seu “lugar” e nosso “lugar” nesse torvelinho em que vivemos. Quer seja tratada como reação ao jogo pesado da crítica e das galerias nos Estados Unidos (Jorge Glusberg), quer como “ação centrada em corpos” (Lea Vergine) ou “forma artística centrada na representação em movimento” (Hoffmann e Jonas), ou ainda “um carrefour das artes” (Renato Cohen), a performance é hoje, passados mais de 30 anos desde o seu aparecimento no território das artes visuais, um das mais intrigantes e duradouras linguagens artísticas autônomas. Resiste a todas as definições e se põe permanentemente em contato com todas as linguagens existentes. Talvez, por subsistir nesse estado de fronteira é que venha se mantendo à tona mesmo tendo sua morte “anunciada” diversas vezes. É possível falar de video-performance, teatro-performance, dançaperformance, foto-performance. O próprio termo admite, aqui e no exterior, várias denominações, tais como live-art (arte ao vivo), body art (mais comum nos anos 70) e arte de acción (termo comum em língua hispânica). Como ressaltaram Joan Jonas (também performer, esteve na última Bienal de SP) e Jens Hoffman, é um termo muito usado, sobre cujo significado não pairam tantas dúvidas quanto sobre sua definição. Entretanto, essa é uma das características que tornam a performance – ou performance art – uma atividade artística tipicamente contemporânea. A partir de uma inquietação surgida no território das artes plásticas, tendo suas origens em práticas do início das vanguardas (GOLDBERG,1996; GLUSBERG,1987; COHEN,1989) ou mesmo muito antes (SCHECHNER,1982; PHELLAN,1993), foi se constituindo – e institucionalizando-se – um saber devotado à investigação de uma linguagem que ganha sua