re(vi)vendo a arteao vivo

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Re(vi)vendo a arte ao vivo - Um arranjo graforrágico de memórias rotas, gerado por Lucio Agra, com interferências de Otávio Donasci e referências de Renato Cohen.∗ Este texto pretende defender duas idéias que se articulam: a primeira sustenta que não é possível compreender o momento contemporâneo da arte de São Paulo sem que se perceba as suas fontes geradoras e que estas se situam na singular confluência entre experimentos simultaneamente construtivos e desconstrutivos, levados a cabo principalmente durante os anos 80; a segunda percebe que esta singularidade vem à tona em um momento no qual a música pop passa a ser relevante para a produção artística, instaurando uma nova noção de arte plástica e cênica. O principal defensor da segunda idéia foi Renato Cohen (1953-2003) que a expôs, não de forma tão simplificada, em seu livro Performance como linguagem1 . Como se poderá observar ao longo do texto, seus argumentos em favor do environment dos anos 80 como ambiência ideal para o desenvolvimento da performance irão convergir para a minha própria perspectiva e a do co-autor deste texto, Otávio Donasci, performer e video-maker, criador das Videocriaturas, híbridos humano-eletrônicos desenvolvidos dos anos 80 até hoje2. Foi a partir do convite para participar da “Máquina Futurista”, trabalho intermídia, realizado na mostra Arte e Tecnologia do Itaú Cultural (1997)3, que meu contato com Renato Cohen desdobrou-se em um constante diálogo e uma parceria que nos levaria a outras aventuras como KA (1998) baseado no texto-experimento do poeta russo do início do séc. XX, Velimir Khlébnikov, apresentado no Museu Ferroviário de Campinas4; Dr. Fausto liga a luz (1999) a partir de texto de Gertrude Stein; o trabalho conjunto no Curso de Comunicação e Artes do Corpo da PUC-SP 5(2002) e, ainda no mesmo ano, performances em teleconferência (Constelação) no Sesc Vila Mariana6, 12 horas no ar. Durante estes anos, a confiança de Renato integrou-me ao convívio de pessoas como Arthur Matuck, Arnaldo Mello, Lali Krotozinsky, Samira Brandão, Rogério Borovik, Vanderlei Lucentini, Otávio Donasci, Ricardo Karman, Wilson Sukorski, Lívio Tragtenberg. Nem todos são da mesma geração, mas a generosidade de nosso amigo impedia que nos visse como pessoas distantes no tempo. Acolheu, no seu curto período de vida, todos os tempos que pôde, tratando-os com a mesma atenção. Comparecem, aqui, fragmentos de texto do próprio Renato, como se verá, e de conversas com Otávio. Juntos, produzimos algumas horas de gravação, passagens que vão se entremeando, em itálico7. Por outro lado, devo a Suely Rolnik o desafio desta discussão. No início deste ano, lançou, em uma conversa informal, argumentos desafiadores, dizendo estar 

Publicado, de forma reduzida, em edição bilíngüe (inglês/francês) na revista canadense Parachute número 116, segundo semestre de 2004. O tema dessa edição foi São Paulo, com curadoria de Suely Rolnik. A versão aqui estampada é o texto original. 1 COHEN, Renato Performance como linguagem SP, Perspectiva, col. Debates vol. 219, 1989 2 http://www.videocreatures.net 3 http://www.pucsp.br/~cos-puc/budetlie 4 http://www.iar.unicamp.br/~projka/ (não mais disponível) 5 http://geocities.yahoo.com.br/proflucio/acindex.htm (não mais disponível). Não está mencionado aqui o trabalho desenvolvido por Renato Cohen na Companhia Ueinzz., com “atores especiais” do Hospital-Dia “A casa” (atualmente autônomos). Isto mereceria um ensaio à parte, por sua amplitude. 6

http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/constelacao (11/2002) As conversas com Otávio Donasci foram registradas em MP3, durante o mês de fevereiro de 2004, especialmente para a elaboração deste texto. 7


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