INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS
GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG
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SALTO DA DIVISA
Conjunto Paisagístico das Cachoeiras do Tombo da Fumaça Foto: Acervo IEPHA/MG
O tombamento do Conjunto Paisagístico das Cachoeiras do Tombo da Fumaça, localizado no município mineiro de Salto da Divisa, foi aprovado pelo Conselho Curador em 11 de agosto de 1999, sendo então sua inscrição determinada no Livro de Tombo nº. I, do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e no Livro de Tombo nº. III, do Tombo Histórico, das Obras de Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.
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screver sobre o Conjunto Paisagístico das Cachoeiras do Tombo da Fumaça em Salto da Divisa é dizer sobre duas histórias distintas e imbricadas. A primeira diz sobre o que foi o Conjunto: exuberante marco natural, lugar simbólico e referencial cultural, elementos motivadores de seu tombamento. A segunda história diz da situação atual e do processo que resultou na submersão das cachoeiras e no consequente desrespeito ao patrimônio cultural estadual e a toda uma sociedade. A formação geológica que permitiu o aparecimento das cachoeiras do Tombo da Fumaça no rio Jequitinhonha demorou milhares de anos para se constituir no marco natural, histórico e simbólico. Ao longo do tempo, as corredeiras despertaram visões distintas: por um lado a da beleza paisagística e da importância como referência cultural e, por outro, o entrave que essas cachoeiras representavam para a colonização do território. Encravada nos chamados sertões do Leste1, as cachoeiras de Salto da Divisa estavam na região ocupada, até o início do século XX, por uma série de Fig. 1 – Tombo da Fumaça etnias indígenas, do tronco linguístico Macro-Gê, denominadas genericamente de botocudos2. Os movimentos de aproximação e de distanciamentos entre colonos e as populações indígenas foi a tônica da colonização de toda a região leste de Minas Gerais, ao longo do século XIX. A Junta de Civilização3, empreendimento da coroa portuguesa que dividiu o território em sete regiões, tinha por objetivo implementar a política de ocupação, com o controle das populações indígenas, através dos aldeamentos e da Guerra Justa4. Além disso, o objetivo da junta era o de dar segurança aos colonos, com as construções dos quartéis e promover o comércio pelo rio através da troca de mercadorias entre Minas Novas em Minas Gerais e Belmonte, na Bahia. Nesse contexto surge o Quartel do Salto, com o objetivo de dar segurança ao transbordo das cargas que aconteciam no local. Esse foi o início da ocupação e controle da região pela Coroa.
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Os sertões do leste de Minas coincidiram em grande parte com a região leste da Capitania/Província de Minas Gerais, que aproximadamente corresponderia aos vales dos Rios Mucuri, Doce, Jequitinhonha e adjacências. O nome vem dos botoques introduzidos no lábio inferior ou nos lóbulos das orelhas para alongá-los. A Junta de Civilização, Catequese, Comércio e Navegação do Rio Doce dividiu o Rio Doce em regiões lideradas, cada uma, por um Comandante que detinha amplos poderes. O empreendimento da Coroa, como o próprio nome dizia, não separava claramente as ações relacionadas ao comércio com aquelas estritamente de caráter civilizador, aliás, tudo era visto como um só corpo. O problema dessa situação é que os comandantes geralmente privilegiavam o comércio e o beneficio próprio, em detrimento da catequese dos nativos. (Molinari, 2009). 4 A Carta Régia de 13 de maio de 1808 e os documentos subsequentes relativos à catequização e ocupação dos sertões do Leste resgatavam o principio da Guerra Justa e instituíam uma declaração formal de guerra contra os índios Botocudos. 2 3
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