INVOCAVIT
Celebração quaresmal (Ciclo da Páscoa) Jundiaí, 26 de fevereiro de 2012
Arte: Juliana Mesquita
LITURGIA DE INVOCAÇÃO Prelúdio:
[A comunidade permanece em oração]
Abertura:
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.
[Isaías 55.6-13]
Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Saireis com alegria e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, e em lugar da sarça crescerá a murta; e será isto glória para o SENHOR e memorial eterno, que jamais será extinto.
♫ Vinde, adoremos: [“Come all you people” – Alexander Gondo]
Saudação e acolhida:
Depondo as máscaras: ♫ Confissão:
[Erhalt Uns, Herr; Wittenberg; Sarah Poulton Kalley — HE 251 (1ª. estrofe)]
Vinde, cantemos, a Deus adoremos. Vinde, louvemos a Deus!
[Boas-vindas aos/às presentes e apresentação do tema da celebração: Invocavit – Quaresma e o Ciclo Pascal (identidade e pertença) – motivos de oração] [Identidade: As Máscaras do Carnaval... e as Cinzas da Quarta-Feira] Tu me sondaste a mim, ó Deus, Não há segredo aos olhos teus; Prevês por onde quero andar, E sabes como vou falar.
LITURGIA DA PALAVRA Leitura do Primeiro Testamento: [Joel 2.12-13, 16-18]
Assim diz o DEUS ETERNO: “Voltem agora para mim com todo o coração, jejuando, chorando e se lamentando. Em sinal de arrependimento, não rasguem as roupas, mas sim o coração.” Voltem para o SENHOR, nosso Deus, pois ele é bondoso e misericordioso; é paciente e muito amoroso e está sempre pronto a perdoar. [...] Reúnam todo o povo e digam que se purifique. Que venham todos, velhos e crianças e até as criancinhas de peito! Que os recém-casados saiam de casa e venham também! E vocês, sacerdotes, que no pátio do Templo servem ao Deus ETERNO, chorem e façam esta oração: “Ó Deus, não castigues o teu povo! Não nos humilhes diante dos outros povos para que eles não caçoem de nós e perguntem: ‘Onde está o Deus de vocês?’ ” Então o ETERNO mostrará o seu grande amor para com a sua terra e terá piedade do seu povo.
♫ Confissão:
[Erhalt Uns, Herr; Wittenberg; Sarah Poulton Kalley — HE 251 (2ª. estrofe)]
Salmódia:
[Salmo 51.1-17
♫ Confissão:
[Erhalt Uns, Herr; Wittenberg; Sarah Poulton Kalley — HE 251 (4ª. estrofe)]
Leitura do Evangelho: [Mateus 6.1-6, 16-21]
Teus olhos veem meu interior! Quem compreenderá, Senhor, Tua ciência e teu poder? Pois infinito é teu saber. 51.1 [Ao mestre de canto. Salmo de Davi, quando o profeta Natã veio ter com ele, depois de haver ele possuído Bate-Seba] Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar. Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que te comprazes na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores. Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. Ó Deus da minha salvação, Vem pesquisar meu coração; Sondar e ver o meu sentir E minha vida conduzir. Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu. — Quando você der alguma coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. — Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. [...] — Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como fazem os hipócritas, pois eles fazem isso para todos saberem que eles estão jejuando. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando jejuar, lave o rosto e penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E somente o seu Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. — Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Pelo contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês.
Silêncio
Leitura do texto da vida: “Pertencer”: [Clarice Lispector]
♫ Alguém total:
[Luiz Tatit e Dante Ozzetti, Voz: Consiglia Latorre (CD “Tempo da delicadeza”)]
Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou. Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça. Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus. Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso. Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro. Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos – e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos. Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força – eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa. Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida. No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido. A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho! Vem me abraçar, vem Vem reparar bem Quem é que abraçou quem Pois vou lhe abraçar também Quem dá um abraço Não sabe se deu Ou se devolveu Ou se perdeu Quando o abraço sai alguém e não volta Não envolveu Anunciou Renunciou Dissolveu Quem quer um pedaço Um pouco de alguém Abraçando tem E ainda mais Se o abraço for além de um minuto Aí é fatal Envolveu Você tem Um alguém Total
Abraço
LITURGIA DA MESA ♫ Ofertório:
Abraça, Senhor, os nossos corações Que ofertamos com fé, esperança e amor E amor
Preparação
[Em silêncio]
[L: Luiz Ramos; M: Liséte Espíndola]
♫ Hino eucarístico:
Partilha Eucarística:
Este é meu corpo Partido por ti Traz salvação e dá a paz Toma e come E quando o fizeres Faze-o em amor por mim
Este é meu sangue Vertido por ti Traz o perdão e liberdade Toma e bebe E quando o fizeres Faze-o em amor por mim
[Em silêncio]
LITURGIA DO CAMINHO Oração final:
[Jan Hughes, adap. por L. C. Ramos]
Materno Pai, Vem e tece o silêncio em nossos ouvidos; Vem e tece o descanso em nossos olhos; Vem e acalma a turbulência do nosso coração. Acompanha-nos em nossa travessia pelo vale da sombra da morte E não nos deixe nunca sem a esperança da plena ressurreição.
♫ Bênção: [L: Texto litúrgico celta; M: Juan Gattinoni]
Que a terra vá abrindo um caminho ante teus passos E que o vento sopre suave nos teus ombros Que o sol brilhe sempre cálido e fraterno em tua face Que a chuva caia suave entre teus campos E até quando nos tornemos a encontrar Deus te guarde bem na palma de sua mão. E até quando nos tornemos a encontrar Deus te guarde, Deus nos guarde, em suas mãos.
Despedida:
Vamos em paz.
(Creative Commons, Non Commercial License) Liturgia preparada pelo Rev. Luiz Carlos Ramos Pianista: Liséte Espíndola; Regente: Elenise Ramos; Ambientação: Vastí Ferrari Marques; Ilustração: Juliana Mesquita; Fotografia: Carlos Nagumo