02 Política segundo a Bíblia_Luiz Lacerda

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PALESTRA 02 LUIZ LACERDA | http://luizlacerda.com


UMA IMPORTANTE INDICAÇÃO Wayne Grudem é graduado pela Universidade de Harvard, mestre em Divindade pelo Seminário Teológico Westminster e doutor em Novo Testamento pela Universidade de Cambridge. Foi professor de teologia bíblica e sistemática na Trinity Evangelical Divinity School e atualmente leciona no Phoenix Seminary. É autor de diversos livros e artigos, vários deles disponíveis em língua portuguesa. Esta obra é uma edição parcial da que o autor publicou em inglês, pois muitos capítulos da obra original tratavam de questões específicas do contexto norte-americano. Sendo assim, fizemos uma seleção dos capítulos fundamentais para que os cristãos de língua portuguesa possam ter uma visão política segundo a Bíblia.


NA PALESTRA PASSADA: TRÊS VISÕES EQUIVOCADAS A RESPEITO DE CRISTIANISMO E GOVERNO 1. O governo deve impor a religião; 2. O governo deve excluir a religião; 3. Todos os governos são perversos e demoníacos;


MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS A RESPEITO DE CRISTIANISMO E GOVERNO


ÍNDICE 1. Mais duas visões equivocadas a respeito de Cristianismo e Governo: a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política; b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Você já deve ter ouvido: “A missão da igreja não é política; a tarefa da igreja é só pregar!” Ou ouvido: “A igreja não tem que se meter com a esfera pública, não tem que preocupar com o que está a sua volta” Essas afirmações são de pessoas que corroboram com a visão de que a igreja deve se dedicar exclusivamente ao evangelho, não à política.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política “Deus não chama a igreja para influenciar a cultura ao promover legislações e decisões judiciais que favoreçam um ponto de vista bíblico (...) O Uso de métodos temporais para promover mudanças legislativas e jurídicas não é nosso chamado e não tem valor eterno. Quando a igreja assume uma postura que enfatiza o ativismo político e a moralização social, ela desvia energia e recursos da evangelização.”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política

Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: i. Devemos ensinar toda a Bíblia e não apenas os evangelhos, e a Bíblia fala sobre a influência política - e isso é fazer o bem.

• Jesus, na Grande Comissão, ordena: “ensinando-lhes a obedecer todas as coisas que vos ordenei.” (Mt 28.19b) • Mas, como igreja histórica, cremos na inspiração das Escrituras e, assim sendo, toda ela (AT e NT) deve ser ensinada com igual peso. Como disse Paulo: “As coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1Co 14.37) • Jesus também não se limitou a pregar e perdoar pecados; também as curou enfermidades físicas. • E se em vários lugares a Bíblia lidam com assuntos políticos e esferas públicas, esta área deve fazer parte do campo de preocupação do cristão.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: ii. Os governos fazem muita diferença na obra do reino de Deus • Eles podem facilitar ou impedir a evangelização, condenar ou promover o mal, etc..



LEGENDA DA PERSEGUIÇÃO Observe que as variáveis que definem o grau de perseguição são questões políticas e de esfera pública.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política

Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: ii. Os governos fazem muita diferença na obra do reino de Deus, facilitando ou impedindo a evangelização, condenando ou promovendo o mal, etc..

• Governos favoráveis ao evangelho eram uma preocupação de Paulo: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (1Tm 2.1-4)


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo:

iii. O evangelho transforma todas as esferas.

• João diz em sua carta: “Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.” (1Jo 3.8) • Se a esfera política é dominada por homens ímpios, a tendência natural é que a impiedade reine na sociedade que ele governa. • Mas a boa notícia é que Jesus, com sua mensagem de salvação transforma pessoas, consequentemente, transformando famílias, bairros, escolas, negócios, sociedades e governos. • Desprezar o mundo material e só focar o espiritual é platonismo pagão dos gregos e semelhante à uma seita do tempo apostólico chamada gnosticismo.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo:

iv.

Neste caso teríamos que negar vários textos sobre política.

• Todos os textos bíblicos que falam sobre política, governo e leis: Rm 13:1-7, 1Pe 2:13-14, Gn 9:5,6 etc. • Omitir momentos em que servos de Deus foram abençoados em situações de governo (cf. José, Daniel, Esdras, Neemias, etc.) • Negar a profecia de Isaías a outras nações (Is 13-23) • Deixar de pregar nas profecias de Amós a outras nações (Am 1-2) Se quisermos pregar toda a Bíblia, necessariamente precisaremos falar sobre questões governamentais.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: v. Os cristãos estão na terra para pregar o evangelho e fazer o bem em todas as áreas da vida humana (Mt 22.39; Gl 6.10; Ef 2.10; etc.). • Estas boas obras, inclusive na política, glorificam a Deus: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5.16)


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: vi. O governo civil cumpre função dada por Deus • Em Rm 13 Paulo diz que o Governo é instituído por Deus (v.1) para: • Ser instrumento de Justiça (v. 2) • Punindo malfeitores (v. 4) • Louvando os justos (v. 3)

• Se o cristão não se envolver nas esferas políticas e civis, que são legitimadas por Deus para a justiça, só lhe restará o pacifismo idiota ou a vingança pessoal ilegítima.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo: vii. Cristãos exerceram muita influência positiva sobre os governos ao longo da história, por causa de seus pressupostos Bíblicos. Segundo o How Cristianity changed the world, Alvin Schmidt, os cristãos influenciaram diretamente e majoritariamente em debates e na implantação de leis contra infanticídio, torturas, escravidão, sacrifícios humanos, racismo, pelos direitos humanos, liberdade, igualdade perante a lei, etc.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS a. A igreja deve se dedicar ao evangelho, e não à política Contudo esta visão de exclusividade encontra dificuldades se olharmos os argumentos abaixo:

viii. O trabalho político não compete, necessariamente, com o evangelístico. • A pergunta mais cabível aqui não é “Será que a influência política desvia recursos do evangelismo?”, mas sim “Será que a influência política é algo que Deus nos chamou para exercer?”. • Deus vocacionou seu povo de maneira diversa. Ele deu “diversidade de dons” (1Co 12.4) e, embora a igreja seja uma instituição com “muitos membros”, também é “um só corpo” (v. 12). • Logo, Deus pode vocacionar alguns para se dedicarem ao serviço político, sem que isso interfira no trabalho do evangelismo. • Quem estaria envolvido é o indivíduo, não a igreja (instituição).


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Talvez você já tenha ouvido: “Cansei do blablabá da igreja; quero mais prática!” Ou ouviu: “Do que adianta esse tanto de estudo, essa quantidade de teologia, se tem gente passando fome na rua?” Ou quem sabe já escutou: “A igreja tem que entrar para a esfera política, tem que trabalhar, ser socialmente responsável. A igreja tem que ser relevante!” A maioria das pessoas que assim pensam, provavelmente defendem a ideia de que a Igreja deve se dedicar à política e não o evangelismo.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. De acordo com esta visão, a igreja deve simplesmente tentar mudar as leis e a cultura e não enfatizar o evangelismo. Ganhou proeminência no Movimento do Evangelho Social no final do Sec. 19 e início do séc. 20, com suas campanhas para que a igreja trabalhasse agressivamente para acabar com a pobreza, as favelas, o crime, a discriminação racial e outros males sociais.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Todas essas causas eram, em si mesmas, muito nobres, mas o movimento dava pouca ênfase à necessidade de cada pessoa crer em Cristo como Salvador e à necessidade de proclamar a Bíblia toda como Palavra de Deus, digna de nossa confiança. • Aqui na América Latina, esta visão foi difundida pela Teologia da Libertação e, aparentemente, por alguns seguimentos da Teologia da Missão Integral.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Estes grupos, se apropriam de frases como “pregue o evangelho, se necessário use palavras”, atribuída a Santo Agostinho ou São Francisco de Assis, para dizer que quando estão engajados socialmente já estão evangelizando. Os problemas dessa frase são: (1) Nosso testemunho por melhor que seja não tem poder de convencer ninguém do pecado, o homem é convencido do mesmo quando está diante do evangelho explicado e em seguida entendido. (2) O testemunho é importante, entretanto nunca foi ordem de Cristo pregar o evangelho e se necessário usar palavras. Ele disse "pregue o evangelho", “Fale das boas novas".


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. 3. Os incrédulos podem demostrar valores cristãos e mesmo assim continuarem incrédulos, mudanças morais podem ser vistas nas diferentes classes sociais. 4. O mau testemunho do cristão ou igreja não é o principal motivo do ímpio não se entregar a Cristo, o motivo tem o nome bem conhecido, PECADO. 5. Nenhum, NENHUM apóstolo ou evangelista bíblico usou apenas a sua vida para pregar o evangelho, mesmo em culturas diferentes. Os apóstolos sempre pregaram. Chegavam nas cidades e começavam a pronunciar o evangelho da salvação, sendo este "convalidado" pelas suas vidas.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Mas diante destes argumentos, é possível que alguém ainda pergunte: • Qual será o principal: “Evangelizar ou fazer boas obras?” • “As duas não teriam pesos iguais? “Eu realmente preciso priorizar alguma delas?” Há um documento escrito justamente para responder estas perguntas.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. “Evangelização e responsabilidade social teriam igual peso ou não? Teria uma delas predominância sobre a outra? Diz o pacto de Lausanne que ‘na missão de serviço sacrificial da igreja, a evangelização é primordial’ (§ 6). Embora essa afirmação incomode bastante alguns de nós, pelo receio de estarmos quebrando essa parceria, ainda assim nós a aprovamos e temos duas explicações para ela.”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. “Em primeiro lugar, a evangelização tem certa prioridade. Não estamos falando em prioridade temporal, mas em prioridade lógica, pois há situações em que o ministério social precisa vir primeiro.¹ O próprio fato da responsabilidade social cristã pressupõe a ideia de cristãos socialmente responsáveis, e isso só acontecerá através de evangelização e discipulado. Se a ação social é o objetivo e a consequência da evangelização, como afirmamos, então a evangelização deve precedê-la.”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. “Em segundo lugar, a evangelização relaciona-se com o destino eterno das pessoas; e, trazendo-lhes as boas novas da salvação, os cristãos estão fazendo uma obra que ninguém mais pode fazer. Raras serão as ocasiões, se é que elas ocorrerão, em que nós teremos que optar entre satisfazer a fome física e a espiritual, entre curar o corpo e salvar a alma, pois um amor autêntico pelo próximo nos levará a servi-lo como um ser integral...


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. ... No entanto, se tivermos que fazer essa opção, é bom lembrar que a necessidade suprema e máxima de todo ser humano é a graça salvadora de Jesus Cristo. Portanto, a salvação espiritual e eterna de uma pessoa é de maior importância do que o seu bem-estar temporal e material (cf. 2Co 4.16-18).”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Na década de 1980 foram produzidas cartilhas cujo propósito era identificar os grandes desafios da Igreja para completar sua tarefa de levar o evangelho pleno aos povos da terra. Dentre os dez temas propostos nessas cartilhas estava o marxismo. Com o título de “O Evangelho e o marxista – Como comunicar o evangelho aos marxistas”, esta série identificou esta ideologia como uma das grandes opositoras do cristianismo, em teoria e prática. Apesar de alguma ambiguidade, não resta dúvida de que este movimento de evangelização entendeu que a Igreja precisa confrontar as diversas vertentes da ideologia marxista.


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. “Cristãos politicamente conscientes, sensíveis para com o sofrimento dos pobres, viram-se totalmente frustrados pela inércia e, algumas vezes, pela franca oposição da igreja, o que os levou à conclusão que a análise de Marx, afinal de contas, estava certa. Por fim, de tal maneira se identificam com os marxistas, aparentemente as únicas pessoas a fazerem algo a favor da justiça, que acabam perdendo a identidade cristã.”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Neste mesmo artigo, há uma conclusão mostrando a conversão de um líder estudantil comunista, numa universidade Latino Americana: “Após 6 meses de crise intelectual, dobrei meus joelhos diante de Deus. Isto foi em 1971. Desde então, meu avô e outros jovens líderes comunistas se tornaram cristãos. A reação imediata do meu irmão diante da minha conversão, foi dizer “isto é ridículo”, contudo, 3 anos mais tarde ele também se converteu e hoje ele é pastor. Todos nós pudemos testemunhar sobre a natureza sobrenatural da mensagem, o que nos atraiu a Cristo, e não as ‘respostas cristãs’ de cunho sóciopolítico.”


1. MAIS DUAS VISÕES EQUIVOCADAS b. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo. Mudanças autênticas e duradouras em uma nação só ocorrerão: 1. Se o coração das pessoas mudar para fazerem o bem e não o mal (pelo evangelismo e poder do Evangelho); 2. Se a mente das pessoas mudar para que suas convicções morais se alinhem com a Bíblia (pelo ensino, diálogo e debate público); 3. Se as leis mudarem para incentivar a boa conduta e a punição do mal (pelo envolvimento político dos cristãos).


PRÓXIMOS ENCONTROS • Um caminho melhor: Influência Cristã Expressiva Sobre o Governo • Princípios Bíblicos a respeito do Governo • Uma Cosmovisão Bíblica


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Alegres na esperança, Fortes na fÊ, Dedicados no amor, Unidos no trabalho.


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