Modernidade e tradição Elísio Macamo
A linha que separa a normatividade da objetividade nas ciências sociais é muito fina. A noção de modernidade perde um pouco do seu vigor analítico por estar constantemente a atravessar esta linha. Com efeito, no mesmo fôlego a noção de modernidade pode descrever características estruturais tais como a secularização, a industrialização, o capitalismo, a preponderância da racionalidade na organização da vida, a autonomia e a individualização, entre outras, como também servir-se dessas características para classificar sociedades e chamar nomes feios às que se saiem mal nas listas daí resultantes. Na verdade, esta tem sido a experiência africana na sua relação com a noção de modernidade. Trata-se duma relação que recupera a sugestão feita por Boaventura de Sousa Santos (2002) sobre as ausências no sentido em que a noção de modernidade, quando do lado normativo da linha, descreve o que a África não é — “civilizada”, desenvolvida, racional, esclarecida. Logo, tradicional. Este entendimento da modernidade corresponde a uma concepção linear da História, apanágio do pensamento social europeu do século XIX. (FABIAN, 1983; KUPER, 1988) Com efeito, dadas as grandes transformações sociais e políticas que ocorreram nesse período da história europeia, houve uma tendência bastante vincada de pensar a vida humana como um percurso com princípio e fim.
363