Patrimônio Antonio Motta
Desde suas origens, o vocábulo patrimônio vem conhecendo diversos sentidos e significados, o que, certamente, tem concorrido para sua expansão e transbordamento semântico. Devido à plasticidade e polissêmica utilização dessa palavra (mais onto do que filo), tem ela, por isso, se prestado a usos e empregos diversificados. Em épocas passadas, o termo patrimônio (patrimonium), de origem latina e corrente a partir do século XVI, remetia essencialmente à ideia de propriedade (bens materiais) transmitida hereditariamente a um determinado grupo em linha sucessória, princípio que pauta ainda hoje, no direito civil, as regras sobre heranças. Nos séculos subsequentes houve um progressivo deslizamento dessa noção que, do domínio estritamente privado, inerente ao grupo familiar (pater familias), começou também a contemplar a ideia de esfera pública (coletividade) cujo corolário, a partir de então, firmou-se no pressuposto do legado histórico transmitido pelos antepassados. No século XVIII, a vocação universalista do iluminismo fez com que essa noção adquirisse horizontes mais amplos, passando a denotar valores universais acumulados e partilhados, por meio da transmissão voluntária e não apenas normativa (baseada na tradição). Assim, gradativamente, foi sendo conferido ao conceito de patrimônio o atributo de algo comum à humanidade ou de pertencimento a uma
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