Brasil de Fato - Especial Eleições

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Crise da água causa protesto em todo o estado p.4

Porque o metrô é tão lotado? p.3

SÃO PAULO

Outubro de 2014 • Edição Especial • brasildefato.com.br • distribuição gratuita

São Paulo na UTI

fundo social

Pré-sal, patrimônio da juventude brasileira p.6

transporte

Haddad promete construir 450 km de ciclovia p.8

Lena Diaz / Fotos Públicas

Rafael Stedile

TRANSPORTE

ÁGUA


editorial

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São Paulo pode mais? O estado de São Paulo, por ser o mais populoso e o mais industrializado do Brasil, sempre foi considerado a locomotiva que puxava o desenvolvimento do país. Esta potencialidade do estado, baseada principalmente no trabalho dos paulistas de origem e dos imigrantes que para aqui vieram e continuam vindo, está há um bom tempo dando claros sinais de enfraquecimento. Em São Paulo, estado mais rico do país e da América

Latina, o povo tem a clara impressão que não terá água para beber ou tomar banho. Metade da população já denuncia que falta água todos os dias. A Santa Casa, tida como modelo na área da saúde, está à beira da falência. Isto, aliado com o fechamento de vários hospitais, deixa a situação da saúde do estado em estado precário. Investimentos no metro serviram antes de tudo para formar um cartel entre os gestores do estado e as

empresas multinacionais, enquanto o povo vive apertado nos trens e metrôs.

» Não é a toa que as grande mobilizações de junho de 2013 começaram por São Paulo. As universidades estaduais também se encontram em estado de falência, como tem sido frequentemente denunciada pelos trabalhadores e estudantes da UNESP, UNICAMP e USP.

São Paulo é o lanterna na geração de empregos, quando analisado a indústria do petróleo no país, perdendo oportunidades e milhares de empregos qualificados. Não é a toa que as grande mobilizações de junho de 2013 começaram por São Paulo. O povo e, principalmente, a juventude foram aos milhares para a famosa Avenida Paulista protestar. Para muito a resposta é o silencio ou a violência policial, como foi no início das mobilizações de junho de 2013.

O povo de São Paulo tem respondido aos problemas com muito trabalho, lutas e protestos. Agora, como mais uma conquista histórica contra a ditadura, contra a discriminação e o preconceito, os paulistas irão votar para escolher o seu novo governador. O voto para o novo governador de São Paulo pode manter tudo como está ou indicar mudanças no estado mais populoso da nação.

Oswaldo Corneti/Fotos Públicas

Em SP, movimento LGBT realiza “beijaço” contra declarações homofóbicas de Levy Fidelix (30/09)

Vitor Teixeira

SÃO PAULO O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país com uma edição nacional e em edições regionais, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país. Contato: redacaosp@brasildefato.com.br | (11) 2131-0800 Conselho Editorial: Aton Fon Filho, Carla Bueno, Gabriel Sollero, Igor Felippe, Igor Fuser, João Paulo Rodrigues, Neuri Rossetto, Ricardo Gebrim, Ronaldo Pagotto e Vitor Polacchini • Diretores executivos: Igor Felippe e Ronaldo Pagotto • Editora: Elisa Estronioli e Guilherme Weimann • Repórteres: Alexania Rossato, Bruno Ferrari, Guilherme Weimann, Hugo Fanton, Maria Júlia Montero, Vinicius Denadai • Jornalista responsável: Elisa Mergulhão Estronioli - Mtb 0064434/SP • Fotógrafos: Rafael Stedile e Joka Madruga • Coordenação da distribuição: Laryssa Sampaio • Administração: Ana Karla Monteiro • Publicidade: publicidadesp@brasildefato.com.br • Endereço: Al. Eduardo Prado, 676 – Campos Elíseos – CEP 01218-010 – Tel. (11) 2131-0800 / Fax: (11) 3666-0753 – São Paulo-SP


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METRÔ

Caos do metrô afeta milhões de trabalhadores diariamente Reprodução

por Vinícius Denadai

Promessas não cumpridas do atual governador são apontadas como justificativas para a crise do sistema metroviário paulistano. Geraldo Alckmin ficou longe de cumprir seu plano de expansão do metrô. No início do seu mandato, em janeiro de

2011, o governador do estado havia prometido entregar 30 km até o final de 2014. Entretanto, o tucano entregará menos de 30% das obras. No início do seu mandato, em janeiro de 2011, o governador de São Paulo havia prometido entregar uma malha metroviária com 200 km até o final de 2018, caso ree-

leito. Para isso, o governador teria que impor um ritmo 13 vezes mais rápido que sua atual gestão. O crescimento precisaria passar de 1,4 km por ano para 21 km por ano até 2018. Mantendo a mesma velocidade dos últimos anos, a expansão demoraria 90 anos. Para o jornalista Gabriel Maia Salgado, morador da Vila Formosa, na zona Leste de São Paulo, essa estagnação de novos investimentos no metrô paulista tem gerado visíveis problemas aos usuários. “Há poucas semanas presenciei duas senhoras desmaiando no mesmo vagão em que eu estava e pessoas chegarem ao ponto de se agredir, tamanho o caos na estação”.

Gabriel também associa os constantes atrasos à superlotação, principalmente nos horários de pico. “Muitas vezes o trem fica parado quinze minutos entre as estações sem se mover” Já vi um senhor de 70 anos sendo agredido gratuitamente por seguranças internos da linha amarela, além de saber dos vários casos de suicídio que não chegam aos jornais. E o pior é que a política adotada pelo metrô não permite que essas notícias sejam divulgadas. E isso não é um caso isolado. Acontece diariamente”. Depoimentos como este de Gabriel Maia Salgado, que utiliza o metrô diariamente para ir trabalhar, são muito comuns. Todos os dias, cer-

ca de 3,7 milhões de pessoas na grande São Paulo utilizam o metrô e os trens da CPTM como meio de transporte. As principais reclamações dizem respeito à falta de linhas, a lentidão dos trens, a superlotação e aos poucos investimentos. O metrô de São Paulo começou a ser construído em 1968, durante a gestão do governador Abreu Sodré (1967 a 1971), nomeado pela ditadura militar. Em 1995, quando Mário Covas assumiu o governo do estado, a capital tinha 49 km de metrô. Hoje, são cerca de 74 km. Nos últimos 20 anos de governos do PSDB em São Paulo governadores tucanos aumentaram, juntos, apenas 25 km, ou seja 1,25 km/ano.

Infelizmente, o governo do estado de São Paulo (Geraldo Alckmin, PSDB) recusou-as, alegando falta de verba para mantê-las. Foram realizadas outras várias políticas voltadas para as mulheres, seja na área da saúde, educação, mas queremos dar destaque à PEC das domésticas. A medida contribui para tirar o trabalho doméstivo da invisibilidade, e garantir segurança social e direitos para essas trabalha-

doras, majoritariamente negras e muito pobres. A garantia de direitos sociais e econômicos é imprescindível para o acesso à cidadania e à igualdade de oportunidades. Por isso, é preciso que todas essas políticas sejam mantidas e aprofundadas, para garantir a autonomia e a liberdade das mulheres.

Opinião

Doze anos de visibilidade: as políticas públicas para as mulheres no Brasil

Reprodução

Reprodução

Em 20 anos de governo do PSDB, São Paulo construiu pouco mais de 1 km de linha por ano

Políticas sociais e econômicas direcionadas à população feminina ajudaram a aumentar a autonomia das mulheres nos últimos anos por Maria Júlia Montero*

Nestes últimos doze anos, houve um grande incremento nas políticas públicas do nosso país, principalmente no que diz respeito à geração de emprego e renda, que tiveram grande impacto na vida da população feminina. Talvez a maior e com maior resultado direto seja o Bolsa Família. Para além do combate à fome e à extrema pobreza, o programa propicia autonomia econômica para milhares de mulheres, pois 93% das benecificadas são do sexo feminino. A autonomia econômica possibilita,

por exemplo, o rompimento com relacionamentos abusivos. Com o dinheiro, as mulheres não ficam mais financeiramente dependentes dos homens, e podem se mudar, pedir o divórcio etc. A melhora da qualidade de vida faz com que as meninas não precisem trabalhar para ajudar a família, podendo continuar os estudos, além de ficar longe das redes de prostituição. Um outro ponto forte presente nas políticas criadas pelos governos Lula-Dilma é o enfrentamento à violência contra a mulher. Em primeiro lugar, temos a aprova-

ção da Lei Maria da Penha no ano de 2006. Foi um grande marco, pois significa o Estado reconhecendo a existência de uma violência específica contra a mulher, e que requer uma política direcionada à população feminina. Aliado à aprovação da lei, criaram-se políticas como o disque-denúncia “Ligue 180”, e também as centrais móveis de atendimento - ônibus equipados para prestar atendimento multidisciplinar a mulheres da zona rural, de difícil acesso. O governo federal disponibilizou unidades para todos os Estados.

* Maria Júlia Montero é integrante da Marcha Mundial de Mulheres


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crise da água

CPI

Protestos contra racionamento de água aumentam no estado de São Paulo Facebook MTST

Na capital, 5 mil manifestantes protestam em frente à sede da Sabesp

Protesto aconteceu no dia 25 de setembro, em frente a sede da Companhia de Água e Saneamento de São Paulo, na região de Pinheiros por Bruno Ferrari

Cerca de 5 mil manifestantes se reuniram na última quinta-feira (25) em frente à sede da Sabesp, Companhia de Água e Saneamento de São Paulo, na região de Pinheiros. O protesto foi organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MSTS). Segundo a organização do ato, o objetivo foi “denunciar o racionamento permanente que está sendo feito em bairros da periferia e a falta de respostas do governo do estado em relação ao tema”. Manifestantes fizeram uma grande “dança da chuva” ironizando as afirmações do governador Geraldo Alckmin que há tempos vem negando o racionamento e colocando a culpa da crise hídrica na falta de chuva.

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Após ameaças de ocupação do prédio da Sabesp, a coordenação da empresa aceitou receber uma comissão de integrantes do MTST para discutir pontos específicos sobre o racionamento.

» 71% dos moradores da capital acreditam que o governador Geraldo Alckmin omite informações sobre a estiagem. Na região metropolitana, grande ABC e no interior do estado, diversos municípios também tem sofrido com a falta de água. Protestos ocorreram nas cidades de Bauru, Campinas e Itu. Nesta última, houve forte repressão por parte da polícia militar, onde um garoto de 16 anos levou um tiro de

borracha e foi hospitalizado. Em Mauá, na região do ABC paulista, a prefeitura declarou que a partir do dia 1 de outubro, durante a semana, serão quatro dias com água e um sem, em cerca de 25 bairros do município que é abastecido pelo Sistema Alto Tietê e Rio Claro, ambos gerenciados pela Sabesp. Segundo pesquisa Ibope, divulgada no início do mês, 50% dos paulistanos relataram ter sofrido interrupção no abastecimento de água. Em todo o Estado, o índice foi de 38%. Numa outra pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em agosto deste ano, 71% dos entrevistados, moradores da capital, acreditam que o governador Geraldo Alckmin omite informações sobre a estiagem, fornecendo apenas dados que interessam a gestão. No estado de SP, esse número é de 64%.

CPI investiga crise da água No mês passado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada na Câmara Municipal de São Paulo com o objetivo de investigar o contrato da Prefeitura com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Aprovada por trinta votos a favor e nove contra, a CPI foi uma iniciativa da base aliada do prefeito Fernando Haddad (PT). A presidente da Sabesp, Dilma Pena, foi intimada a depor na última quarta-feira (24), no entanto, alegando um problema de saúde na “faringe”, seu depoimento teve que ser adiado. Segundo Pena, ela só teria disponibilidade após o primeiro turno das eleições, no dia 8 de outubro. Durante a primeira sessão da CPI, o vereador ligado ao governo, Mario Covas Neto (PSDB), voltou a colocar a culpa em São Pedro. “Não dá para você atribuir a alguém a responsabilidade pela crise se você não tem a comprovação de que um ato que ele

tenha feito tenha resultado nisso”, afirmou o vereador. No entanto, um documento da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) datado em fevereiro de 2014, obtido pela CPI, aponta que o desperdício de água no sistema chega a 32% e que não houve alteração significativa nesse percentual nos últimos quatro anos, o que pode provar o descaso sob o comando do governo tucano. Além disso, para o especialista e coordenador da Frente Nacional de Saneamento Ambiental, Edson da Silva, os R$ 4,3 bilhões repassados aos acionistas privados nos últimos 10 anos poderiam ter servido como investimento e evitado a atual crise. “A tarifa que você paga gera lucro para os investidores das bolsas de valores, que muitas vezes moram nos Estados Unidos, por exemplo, o que dá uma clara demonstração do que é prioridade na política do governador Alckmin quando se trata do tema da água”. Guilherme Weimann

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SAÚDE

Santa Casa endividada e população paga a conta Problemas financeiros no maior hospital filantrópico do país demonstram a má gestão do governo de São Paulo na saúde por Hugo Fanton

Filas em hospitais, falta de vagas para especialidades médicas, reserva de leitos em hospitais públicos para planos de saúde e, mais recentemente, o fechamento do serviço de emergência na Santa Casa de São Paulo são exemplos da péssima gestão na saúde do governo estadual de SP. A calamidade financeira vivida hoje pelo maior hospital filantrópico do país tem como um de seus principais motivos o descaso do governo tucano com a saúde dos paulistas. Em matéria publicada pela Folha de S. Paulo, o atual superintendente da Santa Casa de Misericórdia, Irineu Massaia, afirma que a dívida da instituição ultrapassa hoje os R$ 450 milhões. Uma das causas, de acordo com Kalil Rocha Abdalla, provedor da

instituição, é o fato de o governo estadual ter deixado de repassar parte da verba federal destinada à entidade. “O governo federal me manda 10 e o estadual me paga 5”, explicou Abdalla em entrevista à Folha, em 26/7/2014. As informações foram confirmadas pelo Ministério da Saúde, em 24/7/2014, por meio de nota oficial. Nela, afirma-se que, em 2013, R$ 54,1 milhões de recursos repassados pelo governo federal não chegaram ao hospital. Em 2014, o montante que o governo Alckmin deixou de transferir já é de R$ 20,6 milhões, totalizando R$ 74,7 milhões apenas nos últimos dois anos. Desse modo, é possível afirmar que a Santa Casa de São Paulo suspendeu os atendimentos porque a política adotada pelo governador não repassou verbas direcionadas pelo Ministério

da Saúde para a entidade. Outro fator que explica a situação vivida pela Santa Casa é a dívida dos planos de saúde com a instituição, que chega a R$ 80 milhões, de acordo com Massaia. Este problema, no entanto, não é específico da Santa Casa, já que o governo Alckmin adota como política a chamada “dupla porta” dos hospitais públicos, ou seja, a reserva de leitos públicos para os planos de saúde. Hoje, serviços como o Hospital das Clínicas e Incor direcionam parte de seus leitos para pacientes particulares ou de planos privados. A adoção dessa política, além de reduzir a capacidade de atendimento do SUS, tem causado sérios prejuízos à sociedade, uma vez que os planos de saúde não pagam o Estado pelos procedimentos mais caros, e a conta fica para a população.

CAOS GENERALIZADO

Hospital Emílio Ribas também sofre com desmandos Os problemas vividos pela Santa Casa de Misericórdia se repetem em outros serviços de saúde sob responsabilidade do governo estadual. Em maio de 2013, a Revista Adusp revelou a situação de abandono vivida pelo Hospital Emílio Ribas, principal serviço estadual para tratamento e prevenção de HIV e outras infecções. Denúncias de irregularidades envolvendo o então secretário de saúde de SP, Guido Cerri, resultaram em inquérito policial e representação ao Ministério Público Estadual. Além das suspeitas de irregularidades financeiras, os funcionários do hospital denunciam falta de materiais básicos e manutenção precária dos equipamentos. Cabe lembrar que a gestão

do Emílio Ribas foi terceirizada pelo governo do estado para a Fundação Faculdade de Medicina, entidade privada que, durante a gestão Alckmin, tinha como “presidente licenciado” o próprio secretário de saúde, Guido Cerri. Além deste conflito de interesse, Cerri ocupava cargos importantes no Hospital Sírio Libanês e possuía três empresas que atuam no setor. Com o desgaste de Cerri, o governador do estado decidiu nomear um novo secretário de Saúde para o estado: David Uip. Lamentavelmente, Uip ocupava o cargo de diretor do mesmo hospital Emílio Ribas, e apesar de todas as denúncias envolvendo a gestão do serviço foi “promovido” por Alckmin.


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FUP

PRÉ-SAL

No Rio, movimentos sociais realizam ato em defesa do Pré-sal (15/09)

O petróleo e as eleições A gigantesca bacia de petróleo do pré-sal pode transformar o Brasil no segundo maior exportador de petróleo do mundo por Igor Fuser*

O petróleo entrou, com destaque, no debate eleitoral. É positivo que isto aconteça, pois favorece o voto consciente, com base nos assuntos que realmente interessam. No centro da discussão está uma pergunta: de que maneira o Brasil conseguirá tirar o máximo proveito da sua imensa riqueza, o petróleo encontrado no fundo do mar, na camada conhecida como pré-sal¿ Afinal, trata-se de uma das maiores reservas de petróleo no mundo, calculada entre 50 bilhões e 120 bilhões de barris. E esse é o recurso natural mais valioso e importante do planeta. No governo Lula, o Brasil adotou um conjunto de leis com o objetivo de proteger o nosso petróleo e impedir que as empresas estrangeiras se apropriem da renda que será gerada com a sua exploração. Essas regras colocam a Petrobrás, empresa brasileira controlada pelo

Estado, como a principal responsável pela extração da área do pré-sal. As regras adotadas por iniciativa de Lula, e mantidas no governo de Dilma Rousseff, também favorecem a geração de empregos e o progresso econômico do Brasil. Em todos os projetos de exploração do pré-sal, é obrigatória a compra de equipamentos e serviços produzidos no nosso país, em certas proporções estabelecidas por lei. Por exemplo, os navios envolvidos na extração do petróleo em alto-mar estão sendo fabricados aqui mesmo, em vez de serem importados de fora. Com isso, a indústria naval brasileira, que estava parada, se reativou e hoje oferece empregos de qualidade a dezenas de milhares de trabalhadores. Os candidatos da oposição (Marina Silva e Aécio Neves) querem mudar essas regras, em favor das empresas petrolíferas estrangeiras. Aécio propõe medidas que, se aprovadas, irão au-

mentar a fatia do capital externo nos lucros do petróleo e retirar a obrigatoriedade do chamado “conteúdo nacional” no processo de produção do pré-sal. Já a proposta de Marina é mais difícil de entender, pois ela muda de opinião o tempo todo. Porém o sentido de suas falas é igual ao de Aécio: favorecer o capital estrangeiro e diminuir o papel da Petrobrás no campo do pré-sal. Ela chegou até a propor que o nosso petróleo recém-descoberto ficasse no fundo do mar. Depois, disse que mudou de ideia. Essa é uma questão muito grave. Se o petróleo brasileiro cair nas mãos das multinacionais, o sonho de utilizar essa riqueza em favor da melhoria da educação e da saúde do nosso povo vai... para o beleléu e os filhos dos trabalhadores serão os principais prejudicados. *Igor Fuser é professor no curso de Pós-Graduação em Energia na Universidade Federal do ABC (UFABC).

Fundo social

Pré-sal, patrimônio para a juventude brasileira por Alexânia Rossato

A descoberta de petróleo de alta qualidade e grande quantidade em área do chamado pré-sal tem colocado o Brasil num cenário muito positivo. Atualmente são mais de 500 mil barris de petróleo do pré-sal retirados do fundo do mar a cada dia. A pergunta a ser feita é: para quem servirá esta grande reserva natural, que a partir do trabalho do povo brasileiro pode se tornar uma enorme riqueza? Muitas respostas têm sido dadas ao longo do tempo, mas a que mais brilha os olhos da juventude foi dada pelo ex-presidente Lula, ao afirmar que o pré-sal é para o futuro dos jovens brasileiros. De fato, se analisarmos os números possíveis na exploração do pré-sal vemos que a produção já em 2015 pode trazer ao país mais de 18 bilhões de dólares ou mais de 40 bilhões de reais, com a retirada dos 500 mil barris ao dia. A criação de um fundo social para garantir que esta riqueza favoreça a juventude brasileira já é lei e a maior parte dos recursos vai ser destinada à

educação e à saúde. Porém, este tema, por envolver muitos recursos, é alvo de cobiça das grandes empresas privadas que querem se apropriar desta riqueza. Organizações como o Levante Popular da Juventude e a União Nacional dos Estudantes (UNE) defendem a idéia de que a riqueza produzida com o pré-sal esteja sob controle do Estado brasileiro e não seja privatizado como querem os empresários. “Eu concordo com o que o Lula falou, os recursos do pré-sal são para melhorar a vida do jovem estudante e do trabalhador e por isso o Brasil não pode retroceder, precisa é avançar mais estimulando que os recursos do pré-sal estejam sob controle público”, afirmou Juliana Melhado, do Levante Popular da Juventude de São Paulo. Os jovens também condenam as tentativas que foram feitas pelo então presidente Fernando Henrique que por pouco não privatizou a Petrobras. “Se a privatização tivesse sido feita o Brasil teria perdido a maior riqueza dos últimos 100 anos”, concluiu Juliana.


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EMPREGOS

por Guilherme Weimann

A possibilidade de dobrar a extração de petróleo no Brasil até 2020 está transformando o mundo do trabalho neste setor. A consequência positiva é a geração de empregos em toda a cadeia de produção do petróleo, em especial na indústria naval. Em 2002 existiam cerca de 170 mil trabalhadores ligados à Petrobras, 47 mil próprios e 121 mil terceirizados. Em 2013 o número chegou à 450 mil, sendo 86 mil próprios. “Nos últimos 10 anos houve a retomada do crescimento dos empregos no setor de petróleo”, afirmou João Antônio de Moraes, trabalhador da Petrobras e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Segundo ele, a expectativa é animadora: “Não é nenhum exagero estimar em 500 mil trabalhadores atualmente e 800 mil nos próximos anos se os investimentos da Petrobrás continuarem”. Os investimentos previstos até 2018 para exploração e produção de petróleo estão na ordem de R$ 350 bilhões, 60% no pré-sal, e segundo informações da estatal, até o ano 2020 o Brasil

vai dobrar a produção atual, que está em 2,5 milhões de barris diários. O desenvolvimento da produção de petróleo estimula a indústria naval. Neste cenário, um debate referente ao mundo do trabalho se faz necessário: os estaleiros onde são fabricados os navios, as plataformas, barcos, peças e equipamentos para atender as demandas da Petrobrás serão construídos no Brasil ou importados? Esta é uma opção política referente à oferta de empregos no país. Segundo dados do Sindica-

Joka Madruga

Pré-sal gera milhares de empregos no Brasil

O diretor da FUP, Antônio Moraes, acredita que a Petrobrás responderá por mais de 800 mil empregos

to Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval, atualmente já existem 390 encomendas de navios nos estaleiros brasileiros. E pelos dados apresentados no I Fórum de Conteúdo Local, a estimativa é ter uma frota de cerca de 850 embarcações, entre navios petroleiros, de apoio,

Número de empregos, por Estado, nos estaleiros, em 2014.

de perfuração e de produção de petróleo. “Isso demonstra uma grande possibilidade para o desenvolvimento da indústria naval em território brasileiro”, disse o sindicalista da FUP. “A política do governo Dilma determina que cerca de 60% destas demandas sejam obri-

gatoriamente produzidas no Brasil. Isso é conhecido como a “política de conteúdo local” e serve para estimular a indústria brasileira e para gerar empregos em nosso país. Uma mudança nesta política significaria abrir mão deste enorme potencial”, argumentou.

São Paulo em atraso O Estado desperdiça oportunidade de empregos qualificados no setor de petróleo

Fonte: SINAVAL, 2014

Se a geração de empregos na indústria naval está em alta, São Paulo está ficando para trás e deixando de gerar milhares de empregos. O estado está atrás do Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até do Amazonas. Nos anos 80, o Brasil foi o segundo parque industrial de estaleiros do mundo, só perdia ao Japão. Nos anos 90, com a política de privatização e sucateamento do PSDB, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a indústria naval brasileira foi praticamente destruída. Segundos dados fornecidos pelo DIEESE, dos 39 mil trabalhadores, restaram apenas 2.900 em 2002.

Com os governos Lula e Dilma esta indústria foi sendo recuperada. A medida mais importante foi a política de conteúdo local, obrigando que navios, máquinas e equipamentos para produção de petróleo sejam feitos em território brasileiro. Atualmente já são 81.891 trabalhadores e a perspectiva é que nos próximos anos ultrapasse os 100 mil trabalhadores. No entanto, o estado de São Paulo não vem aproveitando esta oportunidade. Mesmo que uma grande parte do pré-sal esteja no litoral paulista, apenas 1.838 empregos diretos gerados pela indústria naval estão em São Paulo.


mobilidade

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TRANSPORTE

Prefeitura de São Paulo quer construir 400 km de ciclovias até 2015 Número de paulistanos usando bicicletas como meio de transporte cresceu 50% em 2014 por Roney Rodrigues

Em nove meses, a cidade de São Paulo ganhou 58,3 km de ciclovias. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quer manter a meta de gestão, alcançando 200 km até o fim deste ano e 400 km até 2015, o que levou muitos especialistas – e até membros de sua base aliada – a emitirem opiniões “reticentes” à iniciativa da Prefeitura. Porém, segundo o Datafolha, 80% da população paulistana se diz favorável à implantação das ciclovias, o que surpreendeu o prefeito. “Eu imaginava que o apoio viria em 4, 5, 6 anos. Eu acho que é pelo atraso da agenda em relação a outras cidades do mundo que nós recebemos um apoio mais rápido para as ciclovias”, declarou Haddad à imprensa. São Paulo tem hoje cerca de 60 km de ciclovia, número baixo quando comparado às demais metrópoles do mundo, que têm de 400 km a 500 km de vias exclusivas para pedalar. No entanto, o número de paulistanos usando bicicletas como meio de transporte cresceu 50% em 2014, segundo o IBOPE. Proporcionalmente, porém, os ciclistas ativos ainda são poucos: representam 3%. Isso de fato tem agradado a muitos cidadãos, como Larissa Vieiralves, que trabalha fazendo entregas rápidas de bike. “As ciclofaixas e ciclovias oferecem segurança e incentivo ao uso da

» Para muitos, iniciativas como essa podem contribuir para repensar a utilização dos meios de transporte, principalmente numa cidade com 5,4 milhões de automóveis. ‘magrela’, isso de modo objetivo; por outro lado, representam uma mudança cultural, pois defendem a bike como um agente do trânsito, sendo reconhecida como meio alternativo e inteligente de locomoção”, afirma Vieiralves. “O poder público demorou muito tempo para adotar a bicicleta como modal de transporte”, analisa Gustavo Nunes, coordenador do Grupo de Trabalho (GT) de Mobilidade Urbana do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP). “Quando se tratava de discutir mobilidade, as ações se concentravam em medidas para ônibus. E apesar da implantação das ciclovias e ciclofaixas não terem sido discutidas da maneira necessária, a medida é benéfica para a população e vai estimular outras modais de transporte não motorizado, que nem sequer costumam aparecer em pesquisas”. Para muitos, iniciativas

Prefeito pedala por novas ciclovias em São Paulo

como essa podem contribuir para repensar a utilização dos meios de transporte, principalmente numa cidade com 5,4 milhões de automóveis. Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), Alexandre Delijaicov, é necessário articular quatro conceitos. “A premissa humanista, social, pública e coletiva, assim se pode fazer a antítese da lógica perversa e dissimulada de um urbanismo mercantilista e rodoviarista. Se houvesse pontos de emprego e de trabalho distribuídos pela cidade até uma distância de 20 ou 30 minutos de caminhada, pedalada ou transporte sobre trilhos – teríamos um melhor índice de urbanidade e de melhora coletiva na vida das pessoas”.

BRASIL

Municípios devem ter Plano de Mobilidade Urbana até 2015 Municípios com população acima de 20 mil habitantes têm de elaborar, até 2015, um Plano de Mobilidade Urbana atrelado ao Plano Diretor, sob pena de perderem recursos federais destinados à área. A determinação está estabelecida na Lei Federal 12.587, de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana. A expectativa é que os municípios apresentem projetos com ênfase na utilização da bicicleta. O plano de mobilidade prevê que a população use todos os recursos existentes para se deslocar, mas estabelece uma “hierarquia”: em primeiro lugar, o pedestre e o transporte público; em segundo, as bicicletas e, em último,

o carro. O Plano também antecipa aos desafios futuros, prevendo quais regiões terão maior demanda por transporte. “A função do plano de mobilidade é justamente integrar todos os meios de transporte, todos os modais, e com as características regionais da cidade, facilitando a mobilidade das pessoas”, afirma Nunes. “Porém, temos que reconhecer que os profissionais de arquitetura e urbanismo não estão aptos para projetos em mobilidade urbana. Na universidade, a carga horária destinada a disciplina é inexistente ou pequena, o que dificulta sua formação. É necessário capacitação para beneficiar a sociedade. E 2015 já está aí”.


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