Acontece - Ed. 242 - maio 2022

Page 1

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XXII - ED. 242 - MAIO / 2022

PARQUE AUGUSTA É OPÇÃO DE LAZER NO CENTRO - p. 7 LEIA TAMBÉM:

CARIDADE EM BAIXA AFETA POPULAÇÕES VULNERÁVEIS EM SÃO PAULO - p. 3 COTIDIANO DE VIOLÊNCIA ALIMENTA A INSEGURANÇA DOS CIDADÃOS - p. 5 SURFE E SKATE CONQUISTAM ADEPTOS APÓS SUCESSO NAS OLIMPÍADAS - p. 8

A FOME MOSTRA SUA FACE NA METRÓPOLE MAIS RICA DO PAÍS

NOVAS ESTAÇÕES NA LINHA VERDE PROMETEM BENEFICIAR USUÁRIOS DO METRÔ - p. 9

Por Matheus Borges e Renan Parpinelli - p. 11

E MUITO MAIS!

Acontece • 1


Não é só diversão A realidade de jovens que sonham com a oportunidade de competir profissionalmente nos e-sports

Eduardo Saliby Salomão

N

ão é segredo para ninguém que os e-sports vieram para ficar no Brasil e no mundo, mas se engana quem pensa que é uma tarefa fácil entrar para esse mundo, pois as oportunidades no país são baixas e a concorrência é alta. Um dos principais games que movimenta o mercado nacional é o famoso League of Legends (LoL), que conta com mais de 180 milhões de jogadores ao redor do mundo. O cenário profissional de LOL no Brasil começou em 2012 e hoje em dia conta com apenas duas ligas consideradas profissionais, o que exclui milhares de jogadores que sonham em ter a oportunidade de participar de um campeonato profissional do jogo. Uma das alternativas para aqueles que têm a meta de chegar à elite nacional do game é começar pelas ligas amadoras, que são menores, mas bem estruturadas e contam com diversos times e jogadores que disputam entre si, almejando se tornarem profissionais. Conversamos com dois jogadores amadores que contaram um pouco de suas vidas com o game. O primeiro é Henrique Calheiros Pinto, 20 anos, que joga LoL há mais de sete e hoje compõe a formação de um time amador. Ao ser questionado sobre os motivos que o levaram a escolher esse caminho em sua vida, o mesmo disse: “toda essa caminhada começou como um meio de diversão, eu gostava de jogar com os meus amigos. Com o tempo, esse hobby foi crescendo e fui me apaixonando pelas diferentes partes que fazem o LoL, a estratégia, a paciência, o trabalho em equipe e toda a emo-

ção que aparece ao enfrentar e superar dificuldades e novos desafios constantes”, diz. Ele prossegue: “um tempo depois de conhecer o lado competitivo e o cenário profissional do game ficou claro para mim que isso era o que eu queria para a minha vida, e que, dando certo ou não no final, valeria a pena dar toda a minha dedicação para correr atrás. Ganhando ou perdendo, no fim do dia sempre tenho a felicidade de viver fazendo o que eu mais gosto. Outra pergunta feita para ele foi sobre quais metas que tem para seu futuro nos e-sports. “No futuro próximo, conseguir uma vaga no CBLOL academy, e mais para a frente entrar como profissional no CBLOL”, diz. Para finalizar a entrevista, ao ser questionado sobre quais conselhos ele daria aos novatos que sonham em entrar para esse mundo, ele disse: “Não se baseie nos resultados para melhorar, mas sim no processo. Analise os seus erros para não os cometer novamente, e seus acertos para ficar mais preciso ainda. Estudar o jogo e o mapa te ajuda mais do que treinar mecânica. Treinar menos com mais concentração te leva mais longe do que treinar muito pouco concentrado”. O segundo entrevistado foi Kaique Seixas, 24 anos, formado em design de games que joga LoL há 11 anos e hoje faz parte do Tusk E-sports, um time amador. Ao ser questionado sobre como sua caminhada no cenário competitivo do game começou, ele disse: “comecei a jogar competitivamente em 2016 pelo time da faculdade, onde fiquei por quatro anos”. Uma outra pergunta foi sobre quais as metas para sua carreira no futuro. “Espero que eu possa me

Acontece • 2

tornar um profissional de sucesso e consiga viver disso, também quero que minha história seja reconhecida pelas pessoas”, afirma. E para finalizar a entrevista, Kaique deu algumas dicas para quem pensa em seguir seus passos e entrar no mundo dos E-sports. “Acredito que para uma pessoa que já ame jogar, se for realmente isso que ela quer para sua vida e tenha condição para se dedicar, não custa tentar”. Ele completou falando: “É um meio muito difícil de entrar, mas se você quiser muito tem que mostrar o seu valor e seu empenho, para que possa ser reconhecido de alguma forma”. Portanto, o que se pode perceber ao longo das entrevistas é que esse meio é muito complicado de se entrar. É preciso, além de talento, ter muita disciplina com seus treinos, dedicação para melhorar suas habilidades, correr atrás das oportunidades. Começar por baixo para que um dia possa atingir o estrelato e que todo o seu esforço e sacrifícios possam ser recompensados com a sua meta sendo atingida.

Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras Diretor do CCL: Rafael Fonseca Coordenador do Curso de Jornalismo: Hugo Harris Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro Impressão: Gráfica Mackenzie


Caridade em baixa Mobilizações não conseguem acompanhar a demanda de pessoas em situação de vulnerabilidade Bethânia Machado e Isadora Giroldi

A

pandemia da Covid-19 mobilizou muitas pessoas, que doaram dinheiro, bens e tempo para fortalecer o enfrentamento da pandemia e combater seus efeitos. Segundo a Associação Prato Cheio, fundada em maio de 2001, as doações aumentaram consideravelmente em 2020. O relatório da instituição aponta: “Foi um ano marcado por grande mobilização. E o resultado é que a Associação Prato Cheio coletou e doou mais de 415 toneladas de alimentos,

11,7% a mais do que foi arrecadado e doado em 2019”. O mesmo documento informa que “a Prato Cheio aumentou seu impacto na sociedade usando seu conhecimento e experiência para melhorar o acesso à alimentação saudável e reduzir a vulnerabilidade social de novos públicos. Atendemos, em 2020, 16.895 pessoas de 52 instituições, 24,3% a mais do que em 2019”. “A pandemia foi indiscutivelmente um divisor de águas quando o tema é doação, ou seja, no início de 2020, o cidadão brasileiro provavelmente se sentia cansado e an-

Ação solidária da Cruz Vermelha de São Paulo na Avenida Paulista

Acontece • 3

siava por estabilidade externa e serenidade interna. Então, para coroar o ambiente externo e desafiar ainda mais o equilíbrio interno de cada um, veio a pandemia”, afirma Gabriel Ribeiro da Silva, 29 anos, profissional de relações públicas e funcionário do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS). Segundo Gabriela Martins, 26 anos, publicitária e voluntária da associação Santa Maria, ao longo da pandemia foram cedidos kits com máscaras, panfletos informativos com os cuidados direcionados para uma casa e para as ruas do centro de


As barracas de camping, geralmente doadas às pessoas em situação de rua, se multiplicam pela cidade

São Paulo, roupas, marmitas e kits de higiene básica. Porém, as dificuldades trazidas pela crise socioeconômica se converteram em queda das doações de todos os tipos. “As doações no início da pandemia se expandiram, mas estão em queda há algum tempo”, diz a publicitária. Ela completa: “os voluntários estão nos buscando com maior periodicidade, mas infelizmente as ações não estão podendo acontecer por conta da pandemia, logo tivemos que remanejar toda a ação usando a tecnologia como aliada, criamos um pix e sites como Catarse a fim de conseguirmos visibilidade e maiores doações”. O IDIS divulgou que o percentual de doadores para organizações e iniciativas socioambientais encolheu de 46% da população, quase a metade, em 2020, para 37% em 2021. A redução se deu majoritariamente entre as classes menos favorecidas, que se viram transfor-

madas de doadores, em 2020, para dependentes de doações, em 2021. A contrapartida é que as camadas de mais alto poder aquisitivo responderam doando ainda mais do que costumavam fazer em 2020. Entre aqueles com renda familiar acima de seis salários mínimos, o percentual de doadores para organizações e iniciativas socioambientais chegou a quase 60%, indicando que essa faixa da população se sente cada vez mais envolvida e corresponsável pela solução dos problemas do país. Segundo o instituto, mesmo a doação por impulso não sendo uma prática tão comum entre os brasileiros, os dados mostram que em 2020 apenas 35% da população escolheram institutos para a doação, enquanto em 2021 esse número cai para 23%. Essa queda se deve à crise gerada pela pandemia, que inicialmente sensibilizou a população e fez com que ela doasse mais espontaneamen-

Acontece • 4

te. Mas muitos que antes puderam ajudar hoje precisam de auxílios. Em relação às formas de doação, Gabriel diz ser necessário utilizar novos métodos para arrecadar e impulsionar mais pessoas a se solidarizarem com a situação, uma vez que o isolamento social impossibilitou as doações mais populares que eram em dinheiro e feitas de forma presencial: “A adesão dos brasileiros aos meios de pagamento online para fazer doação ainda é relativamente baixa: só 17% dos doadores institucionais tiveram essa experiência”, afirma. Ainda segundo ele, “os botões de doações nas redes sociais aparecem como os mais populares entre as diversas formas de doar online”. Pessoas em situação de vulnerabilidade também adotaram essa opção: em vários pontos da cidade se vê placas com números de chaves pix, facilitando a ação de quem quer ajudar o próximo.


Capital do medo Roubos, assaltos e furtos alimentam a insegurança dos cidadãos Juan Corona

H

á tempos a criminalidade é um grave problema em São Paulo. Pesquisa feita pele Rede Viva em janeiro de 2022 comprova o descontentamento da população em relação à qualidade de vida: 57% dos cidadãos disseram que se mudariam se pudessem, apontando a violência e a criminalidade como os maiores fatores para isso. Além disso, outra pesquisa realizada pelo Instituto Real Big Data em outubro de 2021 informou que apenas 22% dos cidadãos de São Paulo se sentem seguros. Os dados explicam um pouco dessa insegurança. De acordo com o site, a delegacia da Vila Mariana, bairro nobre da cidade, registrou um aumento de 40% nos roubos do mês de janeiro de 2022 em comparação com janeiro de 2021. Mas o índice não é grande apenas nessa área. A delegacia do Itaim Bibi registrou 1218 ocorrências em 2021 na

categoria “roubo-outros”, que reúne os que não são de veículos, bancos ou carga. Outro fato importante a ser ressaltado é que, em 2021, aparelhos celulares representaram 50% dos objetos roubados na capital. Sobre esse tema, entramos em contato com o tenente-coronel da PM Emerson Massera, 49 anos, subchefe do centro de comunicação policial. Ele afirma que a criminalidade é um problema social: “é claro que algumas pessoas roubam por mau-caratismo, porém a grande maioria rouba por necessidade. O ideal seria um equilíbrio entre investimento na educação do país, e um ajuste na questão do encarceramento”. Além disso, o militar diz que o sistema de código penal não é correto. “Eu já cheguei a ver uma mesma pessoa sendo presa 14 vezes. Dentro das penas, que supostamente são castigos, existem algumas cláusulas e benefícios, principalmente direcionados aos menores de idade, para que o preso possa sair rapida-

Os PMs Maurício e Severino durante ronda no bairro de Moema

Acontece • 5

mente ou, em diversas vezes, nem ficar lá, sendo liberado horas depois do acontecimento”. E completa afirmando que para a resolução da criminalidade deve haver um equilíbrio entre essa melhora no código penal e um investimento em educação. “É um processo muito demorado, porém eu acho que estamos em um caminho certo para o alto nível de segurança, contanto que tenhamos o investimento na educação”, afirma. Apesar dos pontos interessantes e coerentes apresentados pelo tenente-coronel, o fiscal de prevenção Eliezer Silva, de 37 anos, e o segurança Welington Lima, de 44 anos, ambos empregados de um supermercado Pão de Açúcar localizado em Moema, discordam em relação aos furtos que ocorrem no local. Welington afirma: “não acredito que os que furtem por aqui façam por necessidade financeira, eles chegam bem vestidos em gangues com carrão e tudo, parece que é uma necessidade para eles mesmos, um vício”. Eliezer completa a fala do colega e traz de volta a questão do mesmo indivíduo furtando mais de uma vez: “Deve ser adrenalina de que precisam. Eu já presenciei pessoas roubando mais de uma vez, nesse caso nós encaminhamos para a delegacia, porém normalmente apenas chamamos de canto e conversamos educadamente para que o cliente pague pelos produtos”. Ele também confirma a frequência alta de furtos na região, dizendo que há uma média de cinco a oito por dia. Os dados revelados pela prefeitura apontam aumento de furtos na delegacia do Campo Belo: comparando janeiro de 2021 e 2022, eles subiram de 176 para 217. Conforme citado pelo tenente-coronel Massera, a maioria de roubos e assaltos que ocorrem têm como principal motivação a necessidade. A diminuição na desigualdade social seria a melhor solução, até porque ela representa a base da maioria dos problemas socioeconômicos da cidade, do estado e do país.


Pacaembu para todos Praça Charles Miller é utilizada para a realização de diversas atividades pelos seus frequentadores Rafael Cunha

L

ocalizada na frente do Estádio Municipal do Pacaembu, a praça Charles Miller faz parte da rotina de muitas pessoas, principalmente de moradores da região. Dentre as principais atividades que acontecem nos arredores do estádio, a grande maioria está relacionada à prática de esportes como corrida, skate, treinamentos funcionais e até pequenas quadras improvisadas de futebol. Além disso, a área é palco de uma feira tradicional e também é ponto de encontro de diversos grupos, desde colecionadores de carros até amantes de drones e carros de controle remoto.

Para o advogado César Almeida, de 55 anos, o Pacaembu tem um lugar especial em seu coração e já faz parte de sua rotina há mais de cinco anos. César é amante de drones e não imagina seu fim de tarde e noites das segundas-feiras em outro lugar que não seja a praça, reunido com seus colegas de hobby. “Antigamente eu vinha apenas para assistir aos jogos de futebol e hoje me encontro todas as semanas para fazer voos com drones junto a uma galera com que me identifico bastante. Certo dia um amigo me trouxe pela primeira vez e logo me apaixonei por esses brinquedos e seus equipamentos”, diz ele. Desde então, ainda nas palavras de César, “toda segun-

César vai ao Pacaembu todas as segundas para pilotar drones com seus amigos

Acontece • 6

da-feira eu e meus colegas deixamos a família em casa e nos encontramos às 18 horas no Pacaembu. Quando chegamos, cada um monta o seu ‘set up’ no carro para a manutenção dos drones e, assim que está tudo pronto, levantamos voo. Eu tenho vários tipos de drones e dependendo de como foi meu dia e de como está meu humor, opto por utilizar um mais de passeio ou por um mais veloz e radical”. Além das feiras tradicionais, que acontecem todos os sábados e domingos, periodicamente o Pacaembu recebe alguns eventos. Nos dias 26 (sábado) e 27 (domingo) de março, ocorreu na entrada do estádio a feira Sabor Nacional. Diferentemente das feiras tradicionais, ela tem apenas de produtos artesanais, feitos predominantemente por pequenos produtores gastronômicos. A gastronomia da feira conta com diversos pratos regionais brasileiros e internacionais. Além dos pratos prontos, feitos na própria feira, também são vendidos vários outros produtos alimentícios. O espaço também conta com diversas oficinas abertas para o público interessado, que pode se inscrever e participar de forma gratuita no próprio dia do evento. Aos 26 anos, o vendedor Sérgio Baldassarini ficou surpreso com a oportunidade de experimentar novas tipos de comida e com a estrutura diferenciada do evento: “Eu estava dando um rolê de skate com o meu brother, como sempre faço aqui pelo Pacaembu, e vi essa feira diferente na entrada do estádio. Aí vi que tinha um bicicletário, deixamos os skates de lado e fomos comer e beber.” A data foi marcante por conta de ser a primeira edição da Feira Sabor após as restrições impostas pela covid-19. O evento começou a partir das 10 horas e se estendeu até as 19 horas durante os dois dias do final de semana. A edição foi considerada um sucesso.


Mais lazer no centro Inaugurado há alguns meses, Parque Augusta traz opções para todos os públicos Giulia Guimarães e Rafaella Mondelli

D

epois de anos, finalmente o centro de São Paulo ganha um novo parque. Após uma ampla repercussão, o Parque Augusta teve sua inauguração no dia 6 de novembro de 2021. O espaço fica em um quadrilátero formado pela Rua Augusta, Marquês de Paranaguá, Caio Prado e Consolação – sendo que nesta última não há entrada, pois uma parte do terreno é ocupada por um dos campi da PUC-SP. Apesar de seu projeto ter sido feito em 2019, as obras só começaram em 2020. Ainda em 2020, o prefeito Bruno Covas faleceu de câncer no sistema digestivo, logo após as eleições. Em sua homenagem, o local foi nomeado como Parque Augusta-Prefeito Bruno Covas. Sua estrutura e extrema organização são muito comentadas pelo público. A área conta com cerca de 23 mil m², um refúgio verde no centro de São Paulo com bosque, arquibancada para apresentações, playground para as crianças, bebedouro, deck elevado, pista de skate, slackline, cachorródromo para brincadeiras com os pets, trilhas e equipamentos de ginástica. As áreas de descanso contam com redários e oferecem a sombra das muitas árvores que fazem parte do terreno há décadas – e que foram mantidas no novo projeto. Um dos motivos do adiamento da entrega do parque foi a pandemia de covid-19, iniciada em 2020 no Brasil. Mas as obras vinham se arrastando há mais tempo, pois a Prefeitura demorou alguns anos até conseguir chegar a um acordo com as empresas que eram proprietárias do terreno. No lugar dos empreendimentos imobiliários que iriam ocupar o espaço, criou-se uma nova área verde. A falta de recursos financeiros também acabou sendo outro fator importante para o adiamento da construção. A população não entendia o motivo da demora na construção do

parque, já que as construtoras Cyrela e Setin haviam dito que as obras iniciariam logo após a negociação. Agora que o parque está em funcionamento, o público argumenta sobre o ocorrido. “Eu acompanhei os jornais, a covid atrasou um pouquinho e a prefeitura sempre tinha alguma desculpa, mas que bom que saiu”, disse a babá Shirley Nascimento, 42 anos, que estava com duas crianças no parque. O horário de funcionamento vai das 5h às 21h, e o horário de pico ocorre das 8h às 12h. O sol é o grande motivo disso tudo, já que o ponto forte do local é sua iluminação. O empreendedor Michel Lima, 27 anos, dá sua opinião: “É possível caminhar, tomar um solzinho, conversar com os amigos, fazer uma social e ler um bom livro”. Outro local favorito não só dos pets, mas também de seus donos é o famoso cachorródromo. “Eu acho perfeito, porque são poucos cachorros circulando. Você passa por lá perto e ouve os latidos, mas aqui de longe você não consegue escutar. é tranquilo, não incomoda em nada. Acho que todos os parques tinham que ter uma área dessa para o cachor-

ro”, diz Shirley. A área ideal para quem gosta de praticar esportes matinais é o deck elevado. Angélica Figueiredo, terapeuta holística de 31 anos, afirma: “Eu acho bom porque é uma área mais reservada pros esportes, gosto de praticar ioga, meditação e exercícios físicos com meus amigos”. Não deixando de lado os outros tipos de esportes e aventura de lado, o parque também tem uma pista de skate e equipamentos para slackline, especializados para você. “Ao ver o gramadão, acho interessante que as pessoas interagem mais do que o normal, saem dos celulares e se conectam”, diz o gestor do Parque, Eraldo Aguiar, 63 anos. O sol, segundo ele, ajuda muito nisso. “Flui muito a natureza, pois quando você entra no parque e no bosque esquece até que está no centro da grande São Paulo”, diz. Ele acrescenta: “algo que acho muito interessante é quando artistas de rua podem fazer sua arte e interagir com o público. Nosso desejo é manter as relações e fazer do parque um local de conforto e utilizar as partes ambientais que o parque oferece”.

Gramado do Parque Augusta conta com vista para os prédios da região

Acontece • 7


Os novos astros olímpicos Como o surfe e o skate deixaram de ser marginalizados e se transformaram nos queridinhos do Brasil Maynara Mendes e Renata Cipili

A

mbos já foram taxados como esportes marginalizados na década de 1980, sofrendo muitas represálias de uma parcela mais conservadora da população. Tendo como lei a proibição da prática do esporte, muitos eram presos apenas por praticar o que amavam. Por isso, os atletas se fecharam em uma bolha, o que fez com que surgissem dúvidas e hesitações a respeito de como a modalidade seria recebida nas Olimpíadas, inclusive com questionamentos dos próprios praticantes. Muitos, no entanto, enxergaram a inclusão do surfe e do skate nas Olimpíadas como uma oportunidade positiva. É o caso de Letícia Cavalcante, professora de surfe no Guarujá. “O esporte só se fortaleceu depois do anúncio, pois sempre foi uma modalidade hostilizada pela sociedade. Acredita-se que grande parte dos espectadores foram encorajados a iniciar a prática esportiva dessas modalidades por sentirem menos pressão ou exposição social”, diz ela. E os números comprovam que realmente foi um sucesso. As duas novas modalidades estrearam nos jogos olímpicos no topo da audiência dos principais canais de TV aberta e de serviços de assinatura. De acordo com dados liberados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o surfe e o skate ficaram entre os cinco programas olímpicos mais vistos no Brasil durante a primeira semana de jogos. Ter esses esportes nos canais de TV fez com que muitas crianças conhecessem e se interessassem pela modalidade, e levassem de inspiração os atletas olímpicos. Isso ocorreu sobretudo após Rayssa Leal, a fadinha do Brasil, de 13 anos, trazer uma medalha de prata para casa. A conquista possibilitou que crianças também se sentissem incluídas e com esperanças de um dia representarem o Brasil em uma Olimpíada. O Parque do Ibirapuera, em

São Paulo, é um dos principais locais da prática amadora do skate. Em uma quinta-feira de março deste ano, encontramos uma antropóloga de 45 anos – que prefere não se identificar – acompanhando dois filhos no local. “Eles sempre foram muito antissociais e não gostavam nem de sair de casa. Depois que começaram a andar de skate e viram os atletas ganhando medalhas, estão mais alegres e não param mais em casa. Eles viram a esperança de um dia representar o Brasil”, diz. De acordo com uma pesquisa feita para a Organização das Nações Unidas (ONU), o esporte atua diretamente na inclusão social e é capaz de transformar a vida de quem o pratica. Um bom exemplo é o publicitário André Almeida, 25 anos, que anda de skate há quase duas décadas. “A maioria dos meus amigos eu fiz andando de skate, é algo por que sou muito grato. O skate me proporcionou muitas coisas boas, inclusive a vontade de ser mais ativo e saudável para ter um melhor desempenho”, afirma. Bruno Gonçalves, de apenas 11 anos, anda de skate há seis meses e já afirma: “quero estar cada vez mais saudável para realizar as manobras de forma segura e não me machucar”. Outro lado interessante foi o aumento surpreendente de mulheres no esporte, que a cada dia conquistam

o espaço merecido em um ambiente ainda dominado por homens: “O surfe passou por diversas transformações e hoje é possível observar essa participação das mulheres sem muitos obstáculos, mas o maior fator foi a união delas para juntas conseguirem se inserir e se firmar no esporte, pois a supremacia masculina era muito forte”, relata Letícia Cavalcante. Um ponto positivo, que também ilustra como o esporte vem evoluindo e se desenvolvendo a cada ano, é a profissionalização dos atletas, que agora podem ter carteira assinada e receber benefícios por sua prática. Eles também podem se aposentar como atletas, e não apenas depender de patrocínios e investimentos próprios, algo que no passado, apesar de comum, era muito difícil conseguir. Hoje em dia há inclusive a conscientização de empresas organizadoras e patrocinadoras dos campeonatos em relação a premiações justas e iguais para homens e mulheres. Os dois esportes seguem confirmados para os próximos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e Los Angeles 2028, dessa vez contando com um número maior de atletas interessados buscando as vagas classificatórias, e com um apoio muito maior do público, que tem altas expectativas para medalhas e o sonhado pódio Brasileiro.

Aulas de surfe se tornaram comuns nas praias brasileiras (Foto: Maynara Mendes)

Acontece • 8


Linha verde terá novas estações Ampliação promete trazer benefícios para os usuários do Metrô de São Paulo

Construções sendo realizadas na estação Penha (Foto: Gabriel Belitz)

Gabriel Belitz e Julia Dias

O

s paulistas e paulistanos são os que mais sofrem com a rede de transporte público de São Paulo. São desde veículos extremamente lotados até a necessidade de fazer muitas baldeações para alcançar o destino final, entre outros problemas. Pensando no benefício dos passageiros, o Metrô de SP criou um plano de expansão que permitirá uma integração entre as linhas verde e vermelha, algo que ainda não existe. Nesse projeto, as estações Vila Prudente (linha verde) e Penha (linha vermelha) serão conectadas, e nesse percurso de uma linha até a outra surgirão estações que irão favorecer muitos passageiros. Eles não precisarão, por exemplo, utilizar ônibus devido à falta de estações nas proximidades dos seus locais de trabalho ou mora-

dia. Além disso, a novidade deve trazer facilidade e rapidez para os passageiros que precisarem acessar ambas as linhas. Uma das consequências dessa expansão é o surgimento de novas estações na linha verde. Um exemplo é a estação Aricanduva, que fará com que

os passageiros tenham um melhor acesso ao Shopping Aricanduva, lugar de muito movimento e entretenimento. Conversamos com a estudante de publicidade Gabriela Sartorato, 21 anos, na estação Penha, e ela nos disse como essa conexão entre as linhas irá favorecer e otimizar seu tempo. “Vai

Instalação de novos trilhos para a Linha Verde (Foto: Julia Dias)

Acontece • 9


meiros 20 meses, de abril de 2020 até dezembro de 2021, todavia, segundo a Prefeitura de São Paulo, a obra encontrava-se com 82% já no dia 17 de fevereiro de 2022. Com isso, a previsão é que a linha verde irá iniciar sua operação até o fim do mês de abril de 2022. Essa primeira parte abrange o percurso da Estrada do Imperador, na região sul da cidade, até o terminal intermunicipal, na região central. Com o intuito de facilitar as obras das novas estações, assim como na Penha, certas ruas e vias foram modificadas, fazendo com que as rotas ficassem mais congestionadas do que o comum, se tornando um ponto negativo com estas novas mudanças. Por conta disso, vários ônibus passaram a levar mais tempo até a chegada nas paradas, detalhe que foi percebido pelos próprios usuários. “Aí, acho que está com mais muvuca, e acho que os ônibus estão mais atrasados também”, diz a diarista Adriane de Sousa, 48 anos, ao abordar o cotidiano nas estações com as obras presentes. A diarista também acrescenta um exemplo sobre sua rota com destino para Guarulhos: “tem vezes que a gente fica aqui 45 minutos esperando um ônibus e não tem ninguém pra reclamar”. As obras exigiram que o trânsito em algumas vias fosse modificado

me ajudar bastante, porque eu estudo na linha verde, moro em Guarulhos e pego o ônibus aqui, aí eu acabo precisando fazer muitas baldeações, então vai reduzir meu tempo em cerca de 40%”, afirma. Também conversamos com mais algumas pessoas que desfrutam dos serviços metroviários, e pelo menos três de cinco comentaram o quão bom seria esse projeto, tanto para eles quanto para seus conhecidos. A maioria, assim como a estudante, consegue se sentir mais confiante de que esta nova expansão irá acontecer, percebendo as obras presentes nas estações. “Eu vi algumas matérias falando sobre isso, mas confesso que já li várias vezes matérias sobre linhas de metrô, mas nunca vi nada sólido, então vendo a obra aqui eu tive certeza que vai acontecer”, diz Gabriela. A primeira parte da obra já avançou cerca de 70% nos seus pri-

Alguns dos materiais utilizados na construção das estações

Acontece • 10


Educação pós-pandemia Mostramos diferentes visões sobre o retorno presencial nas universidades da capital paulista João Pedro Benedetti e Luca Martins

E

m decorrência da pandemia da Covid-19, o setor educacional sofreu fortes impactos. O pesquisador e economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, é responsável por um levantamento que aponta o tamanho do problema gerado pelas aulas remotas. Segundo o estudo, 35 milhões de alunos em todo país foram afetados pela perda de proficiência. A pesquisa também mostra que, em decorrência de uma série de questões, como a desigualdade social, a falta de acesso à internet e equipamentos adequados, o ensino remoto teve sua eficiência baixa quando comparada ao ensino presencial. A Faculdade Getúlio Vargas (FGV-SP) optou em manter as aulas online no princípio do primeiro semestre de 2022. Mas a decisão não agradou o corpo estudantil. Gabriel Domingues, 19 anos, aluno de administração pública e presidente do Diretório Acadêmico, comentou sobre a reação dos estudantes: “os alunos tiveram uma reação totalmente contrária ao adiamento, pois desde o 2º semestre de 2021 outras faculdades privadas em São Paulo foram mais rápidas no retorno às atividades presenciais e mais flexíveis também em diversos contextos”. Devido à insatisfação gerada, os alunos promoveram protestos com intuito de reverter a decisão de manter as aulas no sistema remoto. “Os protestos foram efetivos de certa forma, mas não fizeram a direção mudar de decisão. Entretanto, permitiram que tivéssemos flexibilização no acesso à escola, com pessoas entrando diariamente para estudar, quadras para treinos e uso das entidades”, afirma. Em contrapartida, a Faculdade Belas Artes optou por retornar de forma híbrida no segundo semestre de 2021, quando houve a liberação pelo Ministério da Educação. No primeiro semestre deste ano, o retorno presencial já era uma certeza. Segundo Elwyn Correia, 58 anos, professor e coor-

denador do curso de Design na Belas Artes, a faculdade seguiu à risca a lista de protocolos para que o retorno fosse o mais seguro possível: “É obrigatório o uso de máscaras em todos os ambientes dentro da universidade. Além disso, não pode haver mais de cinco pessoas dentro do elevador e o uso da escada é feito para locomoções de poucos andares. Também existem totens de álcool em gel espalhados pela universidade e na entrada ocorre a aferição da temperatura corporal”. (nota do editor: as informações foram coletadas antes da medida que desobrigou o uso de máscaras em locais fechados na cidade de São Paulo). Segundo a Unicef Brasil, durante a pandemia, 79% dos alunos só conseguiram assistir às aulas por WhatsApp, com ajuda dos professores enviando arquivos de estudo através do aplicativo. Para Elwyn, o retorno presencial é de extrema importância para melhor fluidez das aulas e aprendizado: “Nós conhecemos os alunos pelas expressões corporais. Percebemos se estão entendendo ou não pela forma como reagem à explicação. Eles parecem estar muito mais animados

para aprender neste retorno”. Na esfera do ensino público, a Universidade de São Paulo (USP) teve o calendário letivo afetado pela pandemia, além das greves gerais que ocorreram no período em que as aulas aconteceram no sistema remoto. Entretanto, mesmo que o semestre letivo tenha começado tardiamente em relação às outras instituições citadas, o retorno também ocorreu de forma 100% presencial. O estudante de educação física Joaquim Gatto Rossi, 18 anos, comentou sobre as questões relacionadas ao calendário: “Por mais que nossas aulas tenham voltado um pouco depois da maioria das universidades aqui da capital, esse retorno presencial está sendo fantástico. Meu curso exige muito da prática, então poder estar de volta ao campus agrega muito ao aprendizado”. A Semesp, que reúne as mantenedoras das instituições de ensino superior no estado de São Paulo, juntamente com o Ministério da Educação, definiu, no dia 19 de fevereiro deste ano, que ficaria a critério de cada instituição retornar às aulas nos formatos presencial, remoto ou híbrido.

USP retoma aulas presenciais após dois anos de ensino remoto

Acontece • 11


O vírus da fome Pessoas em situação de rua sofrem ainda mais com os efeitos negativos da pandemia

O número de pessoas em situação de rua cresceu mais de 30% em São Paulo Matheus Borges e Renan Parpinelli

A

pandemia afetou a todos, mas principalmente aqueles que têm uma renda baixíssima e vivem em condições precárias. Nesse período de colapso global, o número de moradores de rua na cidade de São Paulo aumentou muito – segundo informações divulgadas pela Prefeitura de São Paulo, o acréscimo de pessoas nessa condição foi de cerca de 31% nos últimos 2 anos. Muitos estão na rua por conta da perda de emprego ou moradia devido à crise econômica trazida pela Covid-19. Durante a pandemia, a economia do Brasil foi muito afetada, ainda mais em São Paulo, a maior metrópole da América Latina. Portanto, grande parte da população se viu assolada pela miséria e pelo desem-

prego, não conseguindo mais sustentar seu padrão de vida, por mais precário que fosse. Para muitos, a única opção foi buscar abrigo na rua. Além disso, o número de barracas, que servem como moradias improvisadas, cresceu cerca de 330% em 2021 em comparação com 2019, também de acordo com dados da prefeitura de São Paulo. Quando perguntado sobre como foi o começo da pandemia, David José, 55 anos, morador de rua do bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, afirmou: “No começo foi muito ruim, porque as pessoas não saíam mais de casa e a gente demorou muito pra saber o que estava acontecendo. Então, sem as pessoas na rua, a comida, roupa e dinheiro que eles davam também sumiu, aí foi complicado, passei muito frio e muita fome’’. Ao ser entrevistado, David es-

Acontece • 12

tava na rua Desembargador Bandeira de Mello e estava se alimentando. No bairro de Santa Cecília, localizado na região central da cidade, Wellington de Jesus fala sobre a situação ainda mais difícil que tem enfrentado por conta da pandemia. “Agora eu estou passando essa necessidade aqui na rua e sem proteção. Por enquanto eu tento pegar uma lata, entendeu? Mas há muita gente ainda dessa forma. Estou esperando uma oportunidade para melhorar, porque eu sou ser humano’’, diz ele, que estava na rua Baronesa de Itu quando foi abordado. Ambos os relatos transmitem a realidade de uma parcela considerável da população brasileira, que depende quase que inteiramente de doações e da solidariedade das pessoas, além terem que se arriscar para conseguir algum dinheiro, e sobreviver no meio desse caos. Em entrevista, Leila Ferraz, de 39 anos, diretora do Instituto GAS (Grupo de Atitude Social) afirma: “Todas as pessoas querem sim sair da rua. Não é fácil, não é um lugar que as pessoas ficam por vagabundagem ou por quererem facilidade. Muitas delas mesmo durante a pandemia sempre trabalharam. Mesmo assim essas pessoas não conseguem sair dessa lamentável situação pois falta estrutura de acolhimento para elas’’. Em vista disso, junto com a ONG “Na Rua Somos Um”, o GAS fez um movimento de pressão no então prefeito de São Paulo, Bruno Covas, para que os moradores de rua fossem acolhidos em hotéis e quartos vagos da cidade, até que políticas fossem criadas. Além disso, Leila evidencia que diversos dados e informações fornecidas pelo governo são falsas ou alteradas para não comprometer ainda mais o Estado. “Eu acho que o número fornecido sobre o aumento da população de moradores de rua é apenas uma estimativa, mas ele não pode ser tomado como número real, já que muitos bairros da Zona Norte de São Paulo não foram contados”.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.