JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XXI - ED. 233 - ABRIL / 2021
SEMPRE É A HORA DE AJUDAR AOS OUTROS - 5
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TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO EM CRISE - 2 LITERATURA NOS VESTIBULARES - 3 MCS FAZEM BATALHAS DE RIMAS - 4
VAI UM CAFÉ AÍ? Padarias do centro de São Paulo e Higienópolis inovam em serviços e atendimento
O JEITO É VENDER NAS REDES SOCIAIS - 7 TIK TOK CADA VEZ GANHA MAIS ADEPTOS - 10
A crise que se perpetua no Municipal A pandemia agravou ainda mais a situação de um dos principais centros de cultura de São Paulo Bianca Nascimento Costa Bruna Aída Festa Martinho
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m março do ano passado, por conta da pandemia do coronavírus, o Theatro Municipal de São Paulo fechou as suas portas, cancelando várias apresentações, como óperas, balés e consertos presenciais. Para aqueles que efetuaram a compra de ingresso, o reembolso foi realizado pela equipe Eventim. Manoel Martinho Filho, 60 anos, trabalha com governante de dados no Bradesco Financiamentos e comentou que “não tive problemas ao estornar o dinheiro, contudo, o processo foi muito lento, durando quase um ano”. E apesar da permissão do governo de São Paulo, o Theatro continua trancado ao público – tudo por conta de uma crise que se propaga, pelo menos, desde 2016. Com o seu histórico de irregularidade em concorrências, relação indireta com vencedores da gestão, desclassificação por falta de documentos, demissão, chantagem, quebra de contrato, exoneração, difamação e desmobilização, o Tribunal de Contas do Município suspendeu as atividades do Theatro até que as insuficiências apontadas sejam sanadas. Manoel lamenta muito por essa decisão. “Eu nem imaginava que o Municipal estivesse passando por esses problemas. A mídia não noticia nada a respeito”, declarou. “Eu costumava assistir aos espetáculos seis vezes ao ano com minha esposa e nossa filha; não é sempre que tem ópera e música clássica em cartaz. Sentimos falta disso e esperamos que volte o mais rápido possível”. As polêmicas da situação econômico-financeira do Theatro pressionaram os três últimos prefeitos da cidade de São Paulo (Fernando Haddad, João Dória e Bruno Covas). Em outubro de 2016 teriam sido desviados R$ 26 milhões, equivalente ao investimento para montar dez óperas. Em setembro de 2017 houve mais um desvio de R$ 659 mil, causando diferenças nas contas da entidade administrativa que tinha assumido o controle do teatro municipal. A prefeitura ficou de mudar a administração em 2021.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados.
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Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: André Santoro Supervisor de Publicações: José Alves Trigo
Editor: José Alves Trigo Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Literatura nos vestibulares pós-pandêmicos Estudantes têm contato com a literatura durante a pandemia para enfrentar os vestibulares
Carolina Trancoso de Sena
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or conta da pandemia do novo coronavírus, escolas e universidades optaram pelo ensino a distância. Perto da época dos vestibulares e Enem, os estudantes e os professores têm enfrentado uma grande ansiedade. A preparação dos alunos para os grandes vestibulares é o que mais preocupa os professores, pelo fato do distanciamento dos brasileiros com a literatura. Segundo a professora de Literatura de um colégio particular, Simone de Oliveira Leme, atualmente, a literatura é vista como algo maçante “Infelizmente o aluno brasileiro não tem o hábito de leitura, ela é deixada para segundo plano e infelizmente a tecnologia abafou a literatura, o que não deveria acontecer”. A estudante Isabelle Marini Santos, 17, reitera que de fato perdeu o contato com a literatura com o decorrer dos anos “Alguns anos atrás eu lia bastante, mas
com o tempo fui perdendo o costume”. Mesmo comentando sobre a distância do estudante brasileiro com a leitura, a professora diz que para ela a pandemia contribuiu para a diminuição da defasagem literária pelo simples fato de os alunos estarem em casa. “Eu tentei agregar fornecendo material, vídeos, abordando e transmitindo a disciplina de formas diferentes, pedindo para que produzissem artigos de opinião, por exemplo. Dando liberdade para o aluno discutir e formar um pensamento crítico acerca do assunto. Acabei somando a pandemia as minhas aulas”. Já a estudante comenta que não tem se preparado para os vestibulares como planejou, mas que busca aprimorar seu conhecimento fazendo resumos e assistindo a vídeo aulas. Ainda durante a conversa a professora diz que é preciso ter afinidade com História para que o aluno se sinta mais próximo da literatura
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“antes de sugerir ou mencionar um livro ou um autor, é preciso contar um pouco sobre ele para aguçar o interesse e a curiosidade do aluno”. Simone comenta que sua maior preocupação é a sociedade regredir tanto ao ponto de voltarmos ao tempo da “idade da pedra”, cada vez mais sintetizando tudo ao redor. “Penso no mito da caverna, de Platão. Vivemos na escuridão, ao ponto que não saberemos viver na claridade”, diz. Por fim, a professora acrescenta “lteratura é arte. Enquanto as pessoas não derem importância à arte, os escritores, que são nosso patrimônio, chegarão ao ponto de todos serem esquecidos. Isso é muito triste, porque eles fazem parte da nossa história e do nosso desenvolvimento cultural”. Isabelle acrescenta também “Deveríamos dar mais valor aos nossos estudos, nos interessarmos mais pela literatura, pois é algo que faz parte da nossa história, da nossa vida e do nosso dia a dia”.
Batalha de rima promove conscientização Mc’s têm contato com o hip hop e organizam batalhas em São Paulo Geyza Melo e Regiane Lins
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atalha de rima se caracteriza como uma competição composta por, no mínimo, dois rappers improvisando letras, geralmente contendo vanglória e insultos ao adversário. A presença de um público ao vivo é de extrema importância, já que, mesmo com juízes, a reação do público ao que os MC’s falam têm grande peso na decisão de quem foi o vencedor do confronto. Estima-se que as batalhas surgiram praticamente junto ao rap nos EUA, país pioneiro do estilo musical, e no Brasil não foi diferente. Rodas de freestyle sempre aconteceram e foram evoluindo com o passar dos anos, até chegarem no status atual, eventos organizados e que ocorrem de maneira regular. Em São Paulo, a batalha pioneira na expansão dessa cultura foi a Batalha de Santa Cruz, onde começou o rapper Emicida, fato esse que influenciou diretamente no reconhecimento e no sucesso das rinhas de freestyle por todo o país e internacionalmente. Há uma variação de estilos entre as batalhas, entre essas, estão o “bate e volta” e o “tradicional”. No primeiro, os mc’s têm o direito de ataque com 8 ou 4 versos, variando de acordo com a decisão vinda da organização. Após isso, cada um dos mc’s têm espaço de fala com 2 versos cada mais 3 vezes, até o fim do round. Tendo a necessidade de um terceiro round, ele é decidido em 4 espaços de fala com 2 versos para cada lado presente na batalha. Já no estilo tradicional, cada mc tem direito de ataque em um espaço de tempo que varia entre 30 à 60 segundos, variando de acordo com a opção escolhida pela organização. Caso ocorra um terceiro round, ele funciona da mesma forma que o terceiro round do estilo “bate e volta”. Além disso, o formato utilizados por algumas batalhas abre espaço para a inclusão de todos, “normalmente fazem um doubletree, isso porque eles
querem dar espaço para os mc’s desconhecidos porque geralmente cada batalha tem seus mc’s fixos, que já tem vaga garantida e qualquer mulher que entrar para rimar, já tem o seu lugar garantido. No doubletree, os 3 mc’s desconhecidos batalham entre si e o público decide quem ganhou, para ter o seu lugar garantido. Tudo isso para que os mc’s desconhecidos tenham espaço”, declarou Igor Silva, 19 anos, artista independente. A participação de eventos como esse também oferece aos mc’s um enriquecimento no que diz respeito ao desenvolvimento de raciocínio e linguagem e a busca por diferentes áreas do conhecimento como a história, a filosofia e a poesia. Igor fala sobre como ocorre a evolução dessas habilidades, “por trás do Freestyle tem a parte de raciocínio, já que vamos fazendo tudo na hora, mas quando estamos na batalha, também ouvimos o que o adversário vai falar para retrucar ele. Então, tem toda uma questão de domínio de linguagem, de Flow e assim vai indo”, completa. Luiz Claudio dos Santos Gomes, mora em São José dos Campos e conheceu as batalhas de rima com o Emicida, “há, mais ou menos, 6 ou 7 anos atrás, eu via o Emicida, que era um cantor que tinha batalhado e pensei: é isso que eu quero fazer. Desde então, só esperei uma oportunidade pra fazer o mesmo.”. Ele também fala sobre o quão importante é saber sobre tudo o que ocorre no mundo, quando se é participante de batalhas. “Acredito que para rimar mi-
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nha maior referência é aquilo que vivo, mas agora falando de mc’s, o Dudu, César, Black, Alves e Emicida acredito que são minhas maiores referências”, acrescentou Luiz. Há, dentro do espaço de realização das batalhas de rima, a possibilidade da inserção de críticas sociais, além de uma forte identificação com a população periférica. “As batalhas me ajudaram a falar sobre consciência social e a entender melhor a realidade de outras pessoas porque eu sempre vivi a favela. Onde moro, já chegou a ser considerado o terceiro lugar mais perigoso do Vale do Paraíba. Então sempre tive o que falar, às vezes, apenas não sabia como dizer. Nas batalhas estamos fazendo constantes desabafos em forma de rima, então, aprender a ouvir o que o outro tem a dizer, como e o que falar nos momentos certos foi o maior ensinamento que a batalha pode me dar. As batalhas de rima se configuram como um espaço de voz ativa e pode ser usada como ferramenta no exercício da cidadania, uma vez que ela estimula o desenvolvimento do pensamento crítico e a construção de uma conscientização. “Durante a batalha, não adianta você fazer um freestyle com te de palavras sem uma mensagem e um sentido. Para você conseguir fazer um freestyle bom e ir bem nas batalhas, você precisa saber do que está falando, precisa estudar e, principalmente, saber História. É assim que você se prepara para a vida e para as batalhas”, destaca Igor Silva.
Empresários ajudam moradores de rua Coletivo de proprietários de bares e restaurante se mobiliza para ajudar pessoas em situação de rua
Giovanna Siebra
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ão Paulo é a cidade brasileira com o maior número de pessoas em situação de rua. Segundo a pesquisa realizada pelo Censo 2019, temos 12.651 pessoas vivendo nas ruas da capital, sem contar os que se encontram em centros de acolhimentos, que se somados, totalizam em 24.344. Na mesma pesquisa, também é possível encontrar as principais causas, em que as três mais recorrentes são: conflitos familiares, desemprego, e dependência de drogas ilícitas. Além dos centros de acolhimentos oferecidos pela prefeitura da cidade, essas pessoas também podem contar com a solidariedade de diversos projetos que buscam levar mais dignidade aos cidadãos que se encon-
tram nessa triste realidade, muitas vezes com artigos de higiene, roupas, mas principalmente com comida. Wesley Roberto Batista Oliveira, 35 anos, empresário no ramo de bares e restaurantes é um desses cidadãos. No início da pandemia, Wesley se deparou com o fechamento dos estabelecimentos, como o que ele é proprietário. A partir disso, buscando uma solução para a situação que se formava, surgiu a ideia de utilizar os insumos daquela semana, que, com o fechamento, já não seriam mais utilizados, para a produção de marmitas que seriam distribuídas para pessoas que residem nas ruas de São Paulo. “Juntamos muitas pessoas e na primeira semana, já conseguimos sair com 250 marmitas. Apareceram algumas pessoas de outros grupos e outras ONGS, pessoas que já faziam esse trabalho há mais de 4 anos, como
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o grupo Pão Nosso, e que já sabiam os locais onde entregar essas marmitas, mas havia parado de entregar porque as pessoas que produziam essas marmitas eram do grupo de risco. Então, eles se uniram à nós, aproveitando que a gente tinha os alimentos e a produção, mas não tinha o conhecimento sobre onde entregar. Desde então, eles estão com a gente até hoje”, declarou. O projeto “Prato Solidário”, do qual Wesley faz parte, produz, semanalmente, durante as quartas- feiras, mais de 120 marmitas. Entretanto, o projeto não se restringe a essa ação, ele também auxilia outras ONGS como a Santidade ao Senhor e a Casa da Tia Demi. Desse modo, o alcance é ampliado, ajudando um maior número de pessoas. A Santidade ao Senhor oferece todas as refeições diárias para cerca de 70 pessoas, já a
Casa da Tia Demi, realiza a distribuição de 180 almoços, além de receber pessoas em situação de rua, sendo, em sua maioria, idosos e dependentes químicos, em uma casa localizada na região central de Guarulhos. Todos os acontecimentos de 2020 resultaram em alterações na vida da população mundial, entretanto, cidadãos como o Wesley, conseguiram extrair algo bom de todo o caos que a disseminação do novo coronavírus provocou. “Podemos tirar um lado bom da pandemia. Ela conseguiu tocar muitas pessoas e, por sermos formadores de opinião, servimos como exemplo, tornando possível a mobili-
zação de muitas pessoas”. A realização de doações para o projeto Prato Solidário pode ser feita a partir do acesso em suas redes sociais, como o Instagram (@prato. solidario) e o Facebook (prato.solidario). No Instagram, você encontra a localização dos pontos de doações de alimentos não perecíveis e o link de uma vaquinha virtual para aqueles que preferem não sair de casa. Nelson Neto, universitário de 19 anos, também faz parte de um projeto que surgiu dentro de um grupo de amigos do ensino fundamental, começaram em 2017 com o objetivo de dar uma ceia de natal e companhia
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na época mais sentimental do ano. No primeiro ano de projeto eles se organizavam com o próprio dinheiro para poder ajudar os moradores de rua, mas com o passar tempo eles criaram um Instagram para o projeto, que hoje possibilita que outras pessoas os ajudem também. As doações acontecem em duas épocas do ano, no inverno, com doações de agasalhos e cobertores, e no natal, com marmitas de comida. O grupo foi a primeira experiência de projeto social de Nelson e hoje ele consegue ajudar por volta de 50 pessoas. Os planos para o projeto no ano de 2020 eram muito maiores, como começar a atender em outras épocas importantes do ano, mas com a pandemia eles não podiam se reunir, e também não tiveram tantas doações por conta da crise em consequência da pandemia. Apesar desse fator, ainda se propuseram a realizar as doações de cobertores. Nelson conta que tiveram mais gastos que o normal, para protegerem a saúde dos membros do projeto e também dos moradores de rua, a comida e roupas tinham que ser embaladas, e além de tudo isso o número de participantes do projeto neste ano diminuiu, o que era um projeto englobando por volta de 30 pessoas se tornou um projeto de 10 pessoas aumentando os gastos para cada membro. O nome do projeto é Solidários ao trabalho, o Instagram para maiores informações e ajuda é @solidarios_ao_trabalho, lá eles vendem rifas por 5 reais comprêmios como 100 reais em barbearia, 100 reais em lojinhas de roupas femininas, ensaio fotográfico, e muito mais.
A saída é vender nas redes sociais A nova moda de comprar roupas usadas vem crescendo a cada dia, juntamente com a preocupação do consumidor com a sustentabilidade e libertação dos padrões já existentes. Ana Carolina do Nascimento Yamazaki e Heloísa Marques Barbosa
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os últimos anos a sociedade vem buscando medidas sustentáveis, mais especificamente na compra e venda de roupas e acessórios usados. Isso ocorre através dos brechós e bazares, que têm feito mais sucesso em conjunto com o avanço das redes sociais. Os clientes se tornam vendedores de seus objetos em apenas um click. Jade Teixeira Florêncio, 22, é proprietária do “019 Bazar”, com uma conta no Instagram com quase 40 mil seguidores atualmente. “Sempre soube que trabalharia com moda, mas a revenda de produtos veio naturalmente”, afirma. Inicialmente, a ideia surgiu em 2014 após uma viagem aos Estados Unidos, onde teve seu primeiro contato com uma loja de itens seminovos, e ao retornar ao Brasil decidiu vender, pelo Facebook pessoal, algumas das peças compradas no exterior. Ela conta que desde então se sentiu atraída pela variedade de estilos e peças que podem ser encontradas em brechós e bazares. “Não se limita a um estilo próprio de uma marca ou a uma estação do ano, quando você trabalha com peças de diferentes estilos e atemporais, sua gama de clientes se amplifica”, diz. Ultimamente, a recompra e revenda estão sendo adotadas mais rapidamente pela “geração Z”. “Evitar o desperdício de recursos na produção de algo novo já é algo muito benéfico. O lado ruim é que trabalhamos geralmente com peças únicas então não temos estoque, o que acaba limitando um pouco o cliente, mas esse é o preço da moda exclusiva, são verdadeiros achados e relíquias que todo mundo quer ter no guarda roupa”, explica Jade sobre o upcycling, que tem a vontade de abrir uma loja física.
A proprietária do “I Need Brechó”, Stheffany Wendy, 27, tem uma conta do Instagram com mais de 125 mil seguidores, um website e uma loja física, localizada no centro de São Paulo. Ela diz que teve uma oportunidade de viajar a Paris em 2015 e portanto decidiu vender algumas de suas peças, a fim de acumular dinhei-
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ro o suficiente para essa viagem. Em geral, o brechó conta com a ajuda de mais duas pessoas e vende aproximadamente de 20 a 30 peças por dia. A empreendedora planeja comprar uma Kombi para alcançar ainda mais clientes, visto que já considera-os bem variados em questão de idade, gênero e localização.
Padarias inovam em Higienópolis Espaços gourmet tornam-se cada vez mais comuns na região central e de Higienópolis
Israel de Jesus Filho Pedro Liberali Gambassi
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s cafeterias e padarias marcam presença por toda São Paulo, concentradas em bairros mais nobres como Higienópolis, atraem público de diversos nichos. Não se trata somente de um local para consumo de uma das bebidas mais tradicionais do país, mas também são lugares procurados para conversas, negócios, debates e até de movimentos políticos. “A gente não vende o café, a gente vende uma experiência para os nossos clientes. Não é só uma xícara de café que estou vendendo para o meu cliente, é muito mais do que isso, porque é uma experiência totalmente nova para ele, seja no preparo da bebida, seja na apresentação da bebida, seja na apresentação do método, seja na recepção dele na cafeteria”, afirmou o barista Wilians Santos, 39 anos. Wilians, paulistano do bairro Pirituba, é barista na cafeteria Senhor Espresso há um ano e meio, ele deixou sua graduação em Letras e pós-graduação em literatura infantil para conhecer esse universo do café. Fez um curso, oferecido pelo dono da cafeteria onde trabalha, para atuar como barista e degustador, e até então permanece trabalhando na área no interior de São Paulo. Na rede de padarias Le Pain Quotidien Brasil, o gerente de marketing Eduardo de Godoy, 38 anos, informa que os visitantes dos estabelecimentos vão em busca de um ambiente acolhedor “como casa da vó”, além de conferir a variedade do seu cardápio, que vai do café até pães totalmente orgânicos e pratos variados. Por anos, o café foi apenas uma mercadoria bruta, sem qualquer diferenciação dos grãos. Aos poucos, a partir da década de 1990, observa-se
uma mudança completa desse cenário. Um dos primeiros vendedores de café a incentivar uma produção especial foi o italiano Ernesto Illy, que premiava cafeicultores brasileiros pela qualidade dos grãos. Segundo o editor-sênior e crítico de restaurantes da revista Veja São Paulo, Arnaldo Lorençato, “o café começa a ser valorizado longe do Brasil e por países que não se dedicam à produção por questões climáticas. De lá para cá, esse processo se ampliou sensivelmente com muitos cafeicultores nacionais investindo em grãos de qualidade e diferente tipos de torra. Com os grãos especiais, o produto vem sendo cada
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vez mais valorizado.” Wilians, que já está acostumado com o preparo dos cafés especiais, conta um pouco sobre a diferença de um café consumido em casa e os vendidos na cafeteria onde trabalha. “O fato de ser um grão in natura, que a gente pega e faz uma torra e uma moagem pura, não tendo outro tipo de substância. Por exemplo, há cafés que eles colocam o grão de café, palha de milho e outras impurezas, tudo junto, e vende como sendo o café. Ou fazem uma torra muito escura, muito forte, para maquiar as impurezas do café. Nós trabalhamos sempre com uma torra média, uma torra Arábica e uma torra que o café
em si está sendo respeitado, porque é um grão limpo e e só o grão, mais nada.” As primeiras cafeterias no Brasil, ainda em período colonial, eram denominadas como “Casas de Café” ou “Casa de café e licores”, eram lugares simples que ofereciam o café com algum alimento, em geral pães, às vezes possuíam mesas de bilhar e eram frequentados, principalmente pela manhã, por todo tipo de gente. Por volta de 1820 começaram a surgir no Rio de Janeiro as primeiras cafeterias propriamente ditas, como o “Café do Estevam”. Em São Paulo, assim como a cafeicultura, as cafeterias apareceram mais tardiamente, somente na década de 1850 que se tem notícia da primeira cafeteria. Três lugares muito simples se destacam, todos tocados por mulheres, ao que tudo indica, foram os pioneiros. Eram as vendedoras Maria Punga, Umbelina e Maria Café, que se concentravam no centro. O Café da Maria Punga, instalado na casa de sua proprietária, Maria Emília Vieira, era um estabelecimento simples, com poucas xícaras e mesas, frequentado, principalmente, por estudantes da Faculdade de Direito Largo de São Francisco (USP), que ficava à sua frente. Onde hoje está o Edifício Martinelli, na Praça Antônio Prado, foi sede do famoso Café Brandão, inaugurado em meados do século XIX e demolido no início dos anos 1920 para dar lugar ao arranha-céu. “O café mudou o cenário econômico brasileiro desde sua introdução por Melo Palheta, em especial, a partir do momento que tornou uma mercadoria cobiçada mundialmente e foi, por décadas o principal produto de exportação. Do ponto de vista sociocultural, o café acaba desenhando uma nova paisagem rural, com fazendas distribuídas, principalmente, pelos estados do sudeste. O mais surpreendente é o surgimento só mais recentemente de cafeterias e redes especializadas. Demorou para que isso acontecesse. O café era tomado em casa e, tradicionalmente, coado”, explica Lorençato. A partir da década de 30, as cafeterias foram perdendo espaço
como lugares de socialização, “meio casa de família, meio grêmio, meio escritório”. Elas foram desaparecendo, caindo em desuso por causa do ritmo de vida mais acelerado que exigia uma permanência mais rápida. Mais recentemente, algumas cafeterias quiseram resgatar essas formas de ocupação de seus espaços, buscando oferecer uma atmosfera literária e artística, com exposições e atrações musicais. As cafeterias estão em expansão no Brasil, é um setor forte e com ótimas marcas nacionais, entre elas Coffee Lab, Um Coffee e Sofá Café. Todos enfrentam a concorrência da americana Starbucks, que particularmente não agrada ao crítico Arnaldo Lorençato. “Não me agrada, não pela qualidade da matéria-prima, mas pela torra, sempre escura, que apaga as nuances do café”. Willians observa que o reaparecimento dessas cafeterias especiais e gourmets de uns anos para cá é uma oportunidade para o crescimento da área no Brasil. “É uma área que tem
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tudo para ser explorada, tem tudo para crescer, tem tudo para evoluir. O objetivo maior de quem trabalha com o café especial, como disse, não é a venda em si, mas apresentar para o cliente que ele pode, sim, tomar um café de qualidade, pagando pouco. Porque nós temos àquela visão de que tudo que é melhor, é exportado. Mas grande parte fica, e não é apresentado. Então nós, como pessoas que trabalham com esse tipo de café especial, temos que apresentar aos clientes que ele pode ter uma experiência nova com uma bebida tradicional”, afirmou o barista de 39 anos. Apesar das expectativas de redução de preço com o aumento da oferta no país, há que se lembrar que os cafés especiais ainda são a menor parcela da produção nacional, além de passar por cuidados que vão desde a colheita até a distribuição e com isso o café passa a ter mais qualidade, assim como os preços disparam. São cafés mais caros que a média, ainda assim com preços relativamente razoáveis e, por isso, acessíveis a quase todos.
Aplicativo de vídeos curtos vira febre nas redes sociais Com o aumento da popularidade do aplicativo, surgem novas oportunidades e formatos de conteúdo digital
Mariana Silva Alves
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esde o seu surgimento, a linha do tempo do TikTok consiste unicamente em vídeos, nos quais os seus criadores de conteúdo exploram os mais diversos temas. O aplicativo vem crescendo desenfreadamente na internet e influenciando cada dia mais a forma de produzir conteúdo online, além de dar visibilidade e oportunidade para todos os tipos de criadores de conteúdo, uma vez que são várias as áreas a serem exploradas dentro da plataforma. O TikTok foi lançado em 2014, primeiramente com o nome Musica.ly. Foi então, em 2018, que o nome foi trocado para o mundialmente conhecido atualmente, quando a empresa chinesa ByteDance comprou a Musica.ly Inc., antes dona do aplicativo. Desde então, o TikTok é o aplicativo não-estadunidense que mais cresceu no mundo, o que gerou, inclusive, questões políticas. O então presidente americano Donald Trump entrou com uma ação para banir o aplicativo nos Estados Unidos alegando que a China estaria roubando dados dos usuários. Porém, ao recorrer à justiça, a ByteDance conseguiu manter a plataforma no ar. Em todo o mundo, novas personalidades foram descobertas e destacadas através do aplicativo, que se tornou o mais baixado em um trimestre com 2 bilhões de downloads, segundo a empresa de análise de mercado, Sensor Tower. “Eu cresci não apenas no TikTok, mas também em outras redes sociais. Hoje eu já não posso postar qualquer coisa porque isso virou o meu trabalho. Surgiram muitas oportunidades, trabalhos com marcas incríveis.”, diz a TikToker Julia Toledo, que acumula 949.000 seguidores na plataforma e
mais de 16 milhões de curtidas em seus vídeos. Muitas marcas e empresas passaram a investir no aplicativo como estratégia de marketing. Nomes como Disney, Guaraná Antártica e Nestlé aparecem entre elas, investindo nos famosos challenges, fazendo parcerias com TikTokers, e até mesmo usando a plataforma para processos seletivos. A estratégia também é usada por grandes nomes da música internacional, como Lady Gaga, Harry Styles, BTS, Shawn Mendes entre outros que tiveram músicas virais na plataforma. “Além de colocar em destaque novos influenciadores, o TikTok trouxe uma nova maneira de se divertir nas redes sociais. Os vídeos fizeram muito sucesso e outros aplicativos criaram ferramentas para que vídeos assim fossem
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criados dentro deles.”, acrescenta Julia, se referindo ao Instagram. A rede social de Mark Zuckerberg recentemente lançou a nova ferramenta “Reels” que, não coincidentemente, oferece as mesmas funções do TikTok, com um layout muito similar ao aplicativo, mas dentro do próprio Instagram. A rede social, já conhecida por anteriormente copiar os stories do Snapchat, tenta ao máximo unificar o entretenimento em um único aplicativo. A tendência é que a plataforma continue a crescer, à medida que o conteúdo vem sendo consumido cada vez mais por pessoas de todas as idades. Também segundo relatório da Sensor Tower, o TikTok é o aplicativo mais baixado em Androids e IOS, perdendo para gigantes como Facebook, Instagram e WhatsApp.