Jornal Maria Antônia 76

Page 1

No MackeNzie LaNguage ceNter você apreNde iNgLês a quaLquer hora e eM quaLquer Lugar.

Setembro 2019

I

ANO 10

I

Nº76

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DO MACKENZIE

Mais moradores de rua no centro Centros de acolhimento minimizam o sofrimento de quem não tem onde morar

Violência na Vila Buarque

Efeito colateral

Aumenta o policiamento, mas mesmo assim moradores mostram-se preocupados

A tentativa de acabar com a Cracolândia fez com que muitos usuários viessem para Santa Cecília


2

Cresce número de moradores de rua na região central de São Paulo

Policiamento comunitário beneficia moradores da Vila Buarque

Por Carolina Lobo e Isabella Inglez

Por Vinícius Murad e Pietra Minhon

Aumento gera críticas sobre eficiência dos centros de acolhimento

3

Posto da PM na Praça Rotary é elogiado pela comunidade que vive ou trabalha no bairro

Base Comunitária

Na cidade de São Paulo encontram-se 15.905 pessoas em situação de rua, segundo dados do censo realizado em 2015 através da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Os últimos dados estatísticos datam de 2015, no entanto, recentemente o jornal Folha de S.Paulo disponibilizou uma estimativa de 20 mil moradores de rua na cidade. Nossas repórteres foram até o Núcleo de Convivência para Adultos em Situação de Rua Dom Orione, no bairro Bela Vista para entender melhor como é a situação dessas pessoas. O espaço funciona das 7h da manhã até as 16h. Neste núcleo de convivência, é oferecido café da manhã, almoço e banhos. Mércia Bressan, gerente de serviço do Dom Orio­ ne, afirma que o centro mantém um convênio com a Prefeitura de São Paulo e tem capacidade para aten­ der 160 pessoas por dia. A casa inicialmente ate­n­­dia apenas 80 pessoas, mesmo dobrando o número, Mércia

Expediente O Jornal Maria Antônia é uma publicação sob responsabilidade do Instituto Presbiteriano Mackenzie, com colaboração de alunos e professores de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Gerência de Marketing e Relacionamento da Instituição.

diz que ainda é pouco. “A gente estava tentando atender mais 50 [moradores de rua], mas a Prefeitura não tem dinheiro”, explica. Como não é um centro de acolhida, não há es­ paço para as pessoas dormirem, assim, são obri­gadas a encontrar na rua lugares para passar a noite. Segundo a gerente, “eles dormem literalmente na rua, como a gente abre às 7h, eles dormem aqui também, aqui na frente da nossa casa”. Vanderlei Aparecido, 48 anos, trabalha há três anos no núcleo e conta que começou trabalhando na cozinha. Depois de terminar o estudo se tornou “edu­­­cador”, como se auto intitula. O funcionário é responsável por organizar o sistema de fichas e explica como funciona: cada pessoa tem direito a uma ficha que lhe garante café da manhã ou almoço ou banho. Edson, 41 anos, é frequentador diário e conta que já passou por muitos lugares e que sempre o tra­

REDAÇÃO Coordenação do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Santos Editores: André Santoro, Denise Paiero, Hugo Harris, José Alves Trigo, Patrícia Paixão e Rafael Fonseca Santos Gerente de Marketing e Relacionamento: Daniel Jankops Grandolfo Editoração: Imagem Um/Silvio Cusato Impressão: Elyon Soluções Gráficas

taram bem. “Na minha visão, mesmo o pessoal que está sem ficha, nunca deixa ninguém sair sem comer”, diz Edson. Sem lugar para dormir, ele passa as noites embaixo da ponte. Também conta que conseguiu um emprego com coleta de lixo e reciclagem, no entanto perderá o café da manhã e o almoço na casa, por falta de tempo. Vanderlei fala de projetos existentes na ca­sa, como voluntários que fazem cortes de cabelo e pa­ lestras que ele mesmo faz. “Às vezes faço palestra com eles aqui, eles gostam de falar comigo”, explica. “Tem casa que é bagunçada, os cara fazia de tudo, agre­­­dia até funcionário”, conclui. Apesar do serviço social prestado nesses locais, o número de pessoas em situação de rua continua a crescer. Havendo mais Núcleos de Convivência do que Centros de Acolhimento na região, tais pessoas se veem obrigadas a dormirem nas ruas. Os recursos destinados à pasta da Assistência Social em 2019 estão orçados em R$137 milhões, sendo maior que o orçado para o ano de 2018, de R$135 milhões. Mesmo com tal verba, não há uma diminuição na quantidade de moradores de rua e falta assistência a uma grande parte dessa população.

Tiragem: 500 exemplares, distribuídos gratuitamente pelos bairros de Bela Vista, Consolação, Higienópolis, Vila Buarque, Santa Cecília e Pacaembu. Dúvidas, críticas, sugestões e contatos para publicidade: 2766-7243 - Sheila Cunha

ISSN 2318-020X

A Base de Policiamento Comunitário (BPC) da Praça Rotary surgiu no ano de 1996 a partir da insatisfação dos moradores da região com altos índices de uso de drogas, prostituição e roubos. Incomodados, os próprios moradores se mobilizaram e conseguiram viabilizar a construção de uma base de policiamento totalmente diferenciada dos moldes brasileiros. Em parceria com o governo do Japão, foi se consolidando a BPC e, desde 2005, policiais militares de São Paulo têm ido ao país parceiro para aprender sobre o modelo japonês de policiamento comunitário, pioneiro em todo o mundo. Além da segurança do bairro, o projeto acabou por promover uma relação positiva com a comunidade. A parceria entre a PM de São Paulo e a Polícia Nacional do Japão rendeu aos moradores da Vila Buarque um contato mais próximo com a polícia e um laço que garante à comunidade uma melhoria na segurança da região. “A gente conhece todos os policiais aqui, quando tem coisa suspeita já liga direto para eles e aí eles resolvem”, afirmou José Ribamar que trabalha em um comércio na Rua General Jardim. Segundo o Sargento Júlio, líder da Base Comunitária, o policiamento realizado por lá tem como objetivo estreitar laços com a comunidade para que eles se sintam seguros. “Todo mundo tem o telefone da base e liga direto para a gente, eles já nos conhecem e não precisa falar com o 190”, disse. Os policiais representam também uma presença importante para a comunidade no que diz respeito à infância dos jovens do bairro. Para se contrapor à realidade de criminalidade que afligia as crianças da praça, o cabo Valmir, também da mesma BPC, criou um projeto que aproxima as crianças do esporte e estimula os estudos. “Quando começamos com o futebol dos garotos, a procura foi muito grande e aí todos queriam entrar. Por isso a ideia de exigir que eles estejam comprometidos com a escola, porque assim todos vão se dedicar mais para poder entrar para o grupo”, atesta o Cabo. Valmir acredita ainda que o tempo que os jovens ficam pela praça é mais bem aproveitado, visto que não estão mais se envolvendo com coisas prejudiciais para a juventude. Com o auxílio dos moradores, os policiais da base realizam anualmente o Natal Solidário, para

ajudar pessoas mais carentes da região. “Alguns moradores e comerciantes doam roupas, brinquedos e tênis para a gente passar para as crianças que precisam”, disse um soldado da base. Ele contou ainda que em dezembro é realizado um encontro na praça que junta os moradores e policiais.

O modelo de “policiamento comunitário” foi criado no Japão no ano de 1868 com o intuito de fixar os policiais em territórios delimitados, tornando-os integrantes da comunidade e exercendo uma polícia de defesa da cidadania em estreita parceria com os moradores. Esse projeto foi iniciado no Brasil em 1999 como “Base comunitária de segurança”, apesar de exigirem a presença da po­lícia militar junto à sociedade não atenderam todas as expec­ tativas, principalmente por não haver uma padronização da forma de atuação. Diante disso, foi firmado em 2004 o acordo de “cooperação técnica” entre Japão e Brasil, na busca de fundamentar o sistema de planejamento operacional dos Japoneses, atendendo às carac­terísticas da população.

No MackeNzie LaNguage ceNter você apreNde iNgLês a quaLquer hora e eM quaLquer Lugar.

Novo Curso inglês online MatrícuLas abertas

Descontos a partir da 2ª mensalidade: • • • •

30% para funcionários do Mackenzie 20% para alunos do Mackenzie 1 5% para funcionários de Empresas Conveniadas 10% para alunos antigos do Mackenzie

mlc@mackenzie.br - Rua Maria Antônia, 139/163 Consolação - CEP 01222-010 (11) 2114-8431 / (11) 2114-8624 / (11) 2766-7313

MLC.MACKENZIE.BR


Santa Cecília sofre com furtos

Bico de aposentadoria

Por Artur Alvarez e Murilo Pandini

Por Diogo Auad e Thiago Pastro

A Rua Dona Veridiana, localizada no bairro Santa Cecília, ganhou um aumento do policiamento desde o início do ano, por conta dos recorrentes assaltos no local. Hoje em dia, na Veridiana, é possível perceber a constante presença de carros de polícia, tanto na base policial fixa na altura da Paróquia Santa Cecília, como também transitando na via. No entanto, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo os casos de roubo no distrito cresceram 16% entre os meses de janeiro e março deste ano com os do ano passado. Os furtos cresceram 18% (de 793 para 940). O número de lesões corporais dolosas cresceu de 75 para 94. Givaldo dos Santos, 24, porteiro de prédio residencial da Veridiana, relatou que gostou do maior número de carros de polícia que, atualmente, transitam na rua. “Se acontecer alguma coisa, os caras tão passando”, disse. Entretanto, não se sente mais seguro quando caminha pelo local – “quase a mesma coisa, bem dizer”, pontuou. Carlos da Silva Gonçalves, 38, funcionário do restaurante Cantinho da Cecília, disse que “hoje é mais tranquilo. Bem mais tranquilo”. Ele crê que a segurança melhorou com o intenso policiamento e sente-se mais tranquilo andando na rua. Miriam Mizrahi, moradora do bairro, 50, gostou do maior policiamento. Sua rotina mudou, antes andava na rua sempre atenta e olhando para trás. Agora transita sem essa preocupação. Para ela, o problema agora é a presença dos moradores de rua, em abundância no bairro. Contou que em uma vez sua mãe deu um saco de pães para um deles, que jogou no chão e disse grosseiramente “Eu não quero pães”. Também notou que a vizinhança não se ajuda, em duas ocasiões presenciou alguém correndo e gritando “pega ladrão”, sem ser acudido. O capitão do 13º Batalhão da Polícia Militar, identificado apenas como Júlio, 45, disse que

Todos os dias, no centro de São Paulo, plaqueiros trajando coletes dourados anunciando a compra de ouro ficam nas ruas, de pé, por mais de 8 horas. As histórias desses “cartazes humanos” são raramente ouvidas. Esse comércio misterioso da compra de ouro oferece serviço para quem precisa de um emprego temporário. Apesar de serem orientados a não dar entrevista, alguns concordaram em falar. José Carlos das Graças, 70 anos, é um deles. Foi uma vítima da terceira revolução industrial: era diagramador de jornal até ser substituído pelos computadores, forçando sua adaptação. “Em meio às dificuldades, você não pode reclamar, tem que achar um meio de suprir as suas necessidades”, disse ele, que trabalha 10 horas por dia e ainda tem sua firma de sublimação, personalizando produtos. Com o dinheiro de plaqueiro e com a renda da empresa, José sustenta sua esposa e seu cachorro, Cacau. Todos os seus filhos trabalham. Elizabete Regina Pavani, 50 anos, também é plaqueira. A fã de rock começou a trabalhar no ramo da propaganda de venda de ouro após trabalhar em metalúrgicas. Quando as indústrias migraram para o interior de São Paulo, na era Collor, ela não acompanhou seu serviço e teve que se adaptar também. “Meu sonho na verdade era ser polícia” conta Bete, como preferiu ser chamada; disse que passou no concurso, mas ficou muito doente à época e seu contrato não pode ser firmado. Ela é bastante conhecida na região, cumprimentando frequentadores do bar e trabalhadores próximos com toda a sua simpatia. O mercado do ouro exige muita segurança, porque de vez em quando surgem pessoas que querem tirar vantagem. “Ainda bem que no tempo que eu tô aqui, nunca aconteceu nada comigo”,

Fotos: Xxxxxx Xxxxxxx

designa o policiamento do bairro de acordo com a população. Justificou o aumento do policiamento em consequência ao da população. Dessa maneira, negou que seja por causa do aumento dos números principais da violência. Ainda afirmou que os cidadãos têm que ser mais eficazes na proteção de seus bens – ou defesa primária, como chamou. Finalizando, ressaltou a importância da vizinhança solidária para o resguardo da comunidade.

Foto: Xxxxxx Xxxxxxx

conta Elizabete. “Nesse ramo, quem lucra mais não são os bandidos ‘pé de chinelo’ ,mas sim os de terno” disse ela, que fala sobre o meio em que trabalha. Ela afirma que esse é uma espécie de ramo oculto e muito reservado do comércio. A plaqueira não sabe de nada que ocorre dentro das lojas, mas aprendeu a definir se a peça de ouro é verdadeira ou falsa. O mercado é muito cuidadoso com o serviço, com seguranças à paisana, e os pontos de compra e venda ficam em prédios comerciais com portaria. As lojas, em geral, limitam o contato com o cliente por

um vidro fumê e uma campainha. O serviço não se limita somente à divulgação. Como um trabalho extra, geralmente não remunerado, os plaqueiros também fazem um serviço secundário de guias turísticos, ajudando pessoas perdidas e indicando lugares a se visitar no centro. Ganhando perto de um salário mínimo e sem carteira assinada, as pessoas ativas nesse ramo em sua maioria são mais velhas e que foram forçadas a se adaptar a uma perda de emprego ou uma mudança de mercado.

Igrejas ajudam moradores de rua nas proximidades do Mackenzie Programas sociais auxiliam necessitados, mas ainda há muito a ser feito

Metrô atua na prevenção acidentes

Por Lucas Taveira e Matheus Zúñiga Silvestre

Por Gabrielle Mantovani e Marina Genaro hospitalar, ministrado pela empresa Visão e Ação. Os profissionais são capacitados para atuar em situações cotidianas como: mal súbito, infarto, fratura exposta, incidentes na via e também evacuações de pessoas em situações de perigo. “Lembro que, diante de todos estes procedimentos, nem a Polícia Militar, nem o Corpo de Bombeiros e nem o SAMU são acionados”, relata Denis. O setor responsável por receber em primeira mão os acidentes é o Centro de Controle Operacional (CCO). É necessário fazer contato com o segurança

do local, para que saiba a situação do acidente e quais medidas precisam ser tomadas. Por exemplo, quando envolvem os vagões, precisam interromper a circulação dos metrôs e desenergizar a via. Outro funcionário da linha de metrô, Matheus Bueno, que trabalhava como OTM I, explica que se o passageiro sofrer algum tipo de acidente, por exemplo, um mal súbito, ele tem o direito decidir se quer ser encaminhado para um hospital ou não. Apesar de toda prevenção, ainda há casos de incidentes nas linhas. Segundo um segurança do metrô que não quis ser identificado, um passageiro decidiu burlar o sistema de segurança pulando o parapeito de vidro e acabou caindo no vão da escada rolante. O cidadão perdeu todos os dentes, quebrou a mandíbula e ficou com escoriações nas costas e nas pernas. Mesmo assim, teve que responder por dano ao patrimônio, por fazer com que a escada rolante parasse de funcionar.

Os moradores de rua da região dos bairros ao redor do Mackenzie recebem ajuda frequentemente das Igrejas próximas, através da entrega de uma variedade de suprimentos básicos e outros serviços. Elas têm o intuito de reintegrar essas pessoas à sociedade. As Igrejas da Consolação e Santa Cecília desenvolveram programas de assistência social: Fraternização Cristã e Serviço Promocional e Social da Paróquia Santa Cecília (Spes), respectivamente. Edson Soares da Silva, 61, é voluntário da Fraternização Cristã, que existe há seis anos. Ele contou que, além dos itens citados acima, são

compradas passagens de ônibus para os moradores de rua retornarem às suas cidades natais. O programa permanece ativo pelo ano inteiro. Por ser da Igreja, os sem-teto procuram assistência por conta própria. Já o Spes foi criado em 1969. De acordo com a assistente social Maria Helena da Silva Barbosa, 63, as doações vêm dos fiéis e da prefeitura. Parte destas são vendidas em um bazar, cujo dinheiro arrecadado vai para compra de remédios e de armações de óculos para os moradores de rua. A instituição fornece cestas básicas e materiais pedagógicos, além de ajudá-los a tirar documentos e buscar emprego.

Igreja Santa Cecília

Igreja Consolação

Fotos: Xxxxxx Xxxxxxx

Funcionários da estação do bairro Higienópolis relatam melhoria na segurança De acordo com a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos foi registrado um aumento de 117% no número de falhas notáveis, como casos que podem causar paralisação ou redução na velocidade dos trens afetando os usuários, no primeiro semestre de 2019. Em São Paulo, uma das responsáveis pela linha do bairro Higienópolis é a linha amarela, comandada pela Via Quatro. Denis Santos Oliveira, ex-funcionário do metrô, relata que os seguranças responsáveis pela linha fazem um curso preparatório de pré-atendimento

5

Plaqueiros contam suas histórias e detalham o mercado do ouro

Polícia reforça atuação no bairro para combater a violência

Fotos: Xxxxxx Xxxxxxx

4

Através do Spes, a reportagem teve contato com Alex Almeida, 28. O rapaz veio de Pernambuco em busca de uma vida melhor, porém nada deu certo. Diz que hoje vive na rua catando latinhas, e até consegue se alimentar de graça, além de ganhar roupas do Spes. Comenta que um dos grandes problemas que enfrenta é a falta de oportunidades de trabalho. É notória a insuficiência de programas de ajuda aos sem-teto, apesar do suporte oferecido pelas Igrejas. Como foi visto pela apuração, seria interessante que houvessem mais instituições na região dispostas a ajudar os moradores de rua.


Crack: um problema sem solução

Uma praça de todos para todos

Há dois anos foi realizada uma ação na região da Cracolândia que resultou na dispersão dos usuários para os arredores de Santa Cecília

Grupo de amigos e vizinhos realizam o projeto “Praça da Vila Buarque” com o intuito de revitalizar o espaço Por Vitória Campos

Por Melissa Marques e Julia dos Santos O governo Doria, em 2017, realizou uma ação para combater o tráfico na Cracolândia, o que causou a dispersão dos usuários por toda a região central da cidade de São Paulo. A operação, que tinha o intuito de acabar com o tráfico de drogas na região e tentar levar usuários para clínicas de recuperação, fez com que estes partissem em busca de outros pontos para ficar, como foi o caso do bairro de Santa Cecília. Sobre a segurança do bairro, moradores e tra­ balhadores divergem nas opiniões. Marisol Alma­da,19, disse que nos últimos tempos o bairro se tornou mais perigoso. Já Leonardo Pinheiro, 20, disse que desde a chegada dos usuários a presença da guarda policial aumentou, o que fez o bairro ainda mais seguro do que era antes. Porém, quando o assunto é a limpeza da região, os moradores têm a mesma visão de que o lixo não aumentou significativamente desde a chegada dos antigos moradores da Cracolândia ao bairro. Thiago Silva, 40, disse que o maior impacto da chegada dos usuários de drogas foi o aumento da pros­ tituição na redondeza. Ele, que é morador de Santa Cecília há 30 anos e que trabalha como voluntário na recuperação dos usuários, contou que a cavalaria da polícia militar está sempre passando pelo bairro, garantindo assim a segurança, e relatou também que o lixo continua como sempre foi.

Mariana Bernardo, assessora de imprensa da empresa Inova, responsável pelos serviços de limpeza urbana do bairro, afirmou que recolhem, em média, nove toneladas de lixo diariamente da região da Cracolândia. Porém, por fazerem a limpeza de toda a região noroeste de São Paulo, não há como afirmar se o

número de resíduos de Santa Cecília aumentou após a chegada dos novos moradores de rua. Até o momento da publicação desta matéria, a prefeitura não havia respondido as perguntas sobre o que pretendem fazer para reverter e controlar a atual situação do bairro.

As palavras são as armas

Batalhas de MCs ocupam os espaços públicos de São Paulo com rimas e improviso Por Camille Santos e Isabela Almeida Derivado do cenário do rap, o movimento das batalhas de MC’s vem crescendo nos últimos anos, especialmente nos centros urbanos de São Paulo. Cada lugar tem a sua dinâmica de conduzir as batalhas, porém a essência é a mesma em todas: a improvisação e a rima. Parques, saídas de metrô e avenidas conhecidas são alguns dos locais onde ocorrem esses eventos. Algumas batalhas não têm regras, como é o caso da Batalha da Roosevelt, que acontece toda quarta-feira às 20h, na praça com o mesmo nome, situada no centro de São Paulo. “Nosso lema é ‘quem fala o que quer, ouve o que não quer’”, diz Carol Zamproni, que faz parte dos organizadores da batalha. O vencedor é decidido pelo público, que leva em conta a qualidade das rimas e a empatia do concorrente. No caso da Roosevelt, o prêmio também é o público que decide. Um boné é passado e a platéia colabora com o que tiver, valendo de tudo, desde pizza até cigarros e dinheiro. Ser o próximo artista de sucesso é a ambição de Salvador MC, um jovem de 18 anos, campeão de uma das batalhas da Roosevelt. Batalhando desde 2017, sua principal referência é o Emicida. “O movimento é a minha vida. Eu vivo disso, e amo o que faço”, diz. Ele vive do chamado freestyle (estilo livre) ganhando a vida nos vagões de São Paulo. “Me alimento disso, porém é apenas o começo, minha meta é ser o próximo nome da década, como o Emicida já foi”. Amigos reunindo-se após a aula na Rua Taguá para fazer freestyle. Foi assim que nasceu a Sexta Free – Batalha Racional. Quem contou isso foi Nego Bena, 27 anos, um dos organizadores. Todas às sextas, por volta das 21h, o evento acontece em frente ao Banco Safra na Avenida Paulista. Grande parte do público vem por entretenimento, “mas o maior intuito é disseminar o conhecimento através do debate de ideias sobre determinado tema”, diz Bena. “É possível qualquer pessoa batalhar. Já rimaram professores, empresários, entre outros”, afirma. Para isso basta chegar às 20h30 e se inscrever. Tanto Carol quanto Bena apontam as batalhas como uma porta de entrada para o rap. “Os MC’s

7

Situada na rua Major Sertório, está a Praça Ro­ tary, também conhecida como Praça da Vila Buarque, uma das poucas áreas verdes do bairro e arredores. A praça é um marco pois abriga a “Biblioteca Monteiro Lobato”, a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento no Brasil. A biblioteca possui um dos maiores acervos infanto-juvenis da América Latina e guarda documentos e objetos pessoais do próprio Monteiro Lobato, já que o escritor visitava a biblioteca para contar histórias para as crianças. Junto da bi­blio­­teca, a Praça da Vila Buarque possui um posto po­licial na esquina, um cachorródromo, parquinho para as crianças, jardim, mesinhas, uma quadra e periodicamente abriga a feira “Ofício”, que incentiva pequenos produtores manuais. Entretanto, a praça vem sofrendo com a má conservação e degradação de suas áreas para uso da população. Observando todo o potencial que a praça possui e como isso poderia ser aproveitado, surgiu o projeto “Praça da Vila Buarque”, iniciado por um grupo de vizinhos e amigos que tem como objetivo revitalizar a praça. Eles decidiram adotá-la após inú­ meras tentativas frustradas de apoio da Prefeitura. Lua Nitsche, arquiteta e uma das organizadoras do projeto conta que mora perto da praça há 15 anos e que quando suas filhas nasceram queria levá-las até lá para brincar, mas devido à má conservação e à sujeira acabava levando-as para outro lugar. Para ela, o espaço estava sendo desperdiçado por causa da falta de manutenção. O projeto visa a reforma da praça, recupe­ rando sua infraestrutura, mas mantendo as carac­ terísticas do local. O foco é melhorar a limpeza das áreas mais utilizadas e de jardinagem, renovar os pisos de terra onde ficam os brinquedos para as crianças e substituir o piso de concreto que abrange quase a praça inteira por um piso liso para onde se possa andar de patins. Também procura investir em um novo mobiliário urbano e na criação de duas faixas de pedestres elevadas, visando a uma maior

segurança dos usuários. Além disso, o projeto realiza mutirões para remoção de lixo e plantio de árvores. O projeto “Praça da Vila Buarque” conta com doações mensais a partir de R$20,00 para pessoas

físicas e R$100,00 para pessoas jurídicas. Para se tornar um “Amigo da Praça da Vila Buarque” e obter mais informações é necessário acessar o site https:// vilabuarque.pracas.com.br/ .

Fotos: Vitória Campos

6

O centro que usa quipá

Judeus têm forte influência no comércio de alguns bairros de São Paulo Por Júlia de Lima e Ton Brunno

acabam encontrando um modo de começar a trabalhar sua rima, de passar presença de palco, para a partir daí começar a ter contatos para conseguir chegar em um DJ aqui, alguém que grave um clip ali”, diz Bena. “Enquanto existirem sonhos a batalha sempre será relevante, porque é isso que nos inspira a fazer

essa intervenção cultural. Não temos apoio financeiro de ninguém, literalmente fazemos isso por amor”, diz Carol. Bena também aponta a importância social das batalhas. “Muitos MC’s que são de lugares distantes, de periferia, poderiam estar em outra vida e eles acabam na música, no rap, no improviso, para não tomar outros caminhos piores”.

Os judeus recriaram na região central de São Paulo o seu modo de vida particular. Abriram sinagogas, escolas, lojas de roupas, restaurantes e instituições com o objetivo de oferecer serviços e fortalecer a comunidade judaica brasileira. Esse é o caso da comerciante Orah Beila Zussia, 42 anos, judia ortodoxa. Ela reside no Bom Retiro e trabalha como subgerente no açougue Mehadrin, situado na rua Rosa e Silva, em Higienópolis. O estabelecimento segue a culinária Kosher (ou Kasher) que consiste em consumir apenas alimentos permitidos pela lei judaica. “O abate do animal, tanto do frango quanto da carne bovina, é feito pelo rabino. O sangue é drenado e o mashgiach vistoria o animal para ver se há algum problema. Somente após todo o procedimento o animal pode ser consumido. Isso envolve o nosso lado espiritual também”, afirma Orah. Altair Malaquias, 51 anos, é gerente do açougue Livenn, localizado na Alameda Barros, em Santa Cecília. Ele diz que a loja foi criada para atender exclusivamente o público judeu, porém atualmente 10% dos clientes não seguem o judaísmo. Em decorrência da forte concentração de judeus, as lojas da região estão adaptando suas mercadorias para o consumo desse público. Esse cenário pode ser encontrado em um outlet da rede de lojas de roupas Tess Concept, na rua Barão de Tatuí, em Santa Cecília. Daniela Francisco Nogueira, 36 anos, vendedora da loja, diz que a procura por peças mais fechadas aumentou e, em consequência, houve uma preocupação por parte da loja em oferecer produtos nessa linha. Apesar da presença marcante, os judeus ainda

sofrem com a ausência de produtos e serviços que atendam suas necessidades. Orah Beila conta que faltam lojas especializadas e as existentes elevam os preços. Assim, os deixam de mãos atadas e fazem com que paguem um preço abusivo. Dessa forma, o povo que por muitas vezes foi excluído e castigado durante a história conseguiu construir o seu espaço e sua identidade religiosa e social na região. Estimase que o número atual de judeus no estado de São

Paulo é de 65 mil, sendo que 25% desse número se concentra em Higienópolis. Mesmo diante desses crescentes dados, os judeus ainda lutam contra a intolerância. Orah relata que sofre muito preconceito por seguir a religião, e também que falta respeito e entendimento das pessoas em relação à sua cultura. Mas Joseph Osmair, 19 anos, estudante da religião judaica, se vê esperançoso e ressalta: “quem sabe um pouco de história não tem preconceito”.


8

SPAC completa 131 anos

O São Paulo Athletic Club não se desconecta das origens, porém diminuiu sua competitividade esportiva e agora dá prioridade ao lazer dos seus sócios Por Matheus Fiuza e Pedro Gallo O São Paulo Athletic Club, mais conhecido como SPAC, completou 131 anos de história em 13 de maio de 2019 e é a agremiação esportiva mais antiga no estado de São Paulo. Pioneiro do futebol, com Charles Miller entre os fundadores, hoje se sustenta como um clube social tendo o rúgbi como principal esporte. Fundado em 1888, por trabalhadores ingleses que construíam a “São Paulo Railway” e, por isso, chamado de “clube dos ingleses”, foi o primeiro a praticar esportes no Brasil – inicialmente com críquete e bowls, depois o futebol. Teve sua primeira partida oficial do ‘‘football’’ em 1895, contra a equipe ‘‘Gás Works Team’’ e venceu por 4 a 2. E, junto de outras agremiações que surgiam na época, como o Mackenzie College, Esporte Clube Germânia, atual Pinheiros, e Clube Atlético Ipiranga, eram organizadas as primeiras competições oficiais do esporte bretão. “Não tinha futebol no São Paulo Athletic, como não tinha em lugar nenhum. Quem trouxe o esporte foi Charles Miller, que era, além de sócio, uma pessoa muito influente”, diz o pesquisador e jornalista esportivo, Celso Unzelte, 51. Ainda, ele destaca a importância de Miller para a expansão do futebol. “Se a base do futebol no Brasil é Charles Miller e ele era filho do SPAC, nada mais natural que o esporte começasse a ser disputado dentro do SPAC (...) e participasse e ganhasse os primeiros campeonatos paulistas, com Miller artilheiro do campeonato”, complementa. Apesar do tricampeonato paulista no início do século XX – 1902, 1903 e 1904, e outro título em 1911 ¬–, o SPAC não seguiu com a parte

competitiva e se dedicou ao social. “O SPAC nem tentou o profissionalismo. Depois do título de 1911, ele, espontaneamente, assume a condição de clube social.”, completa Unzelte. Para o gerente de esportes do clube, Ricardo Amirato, 55, a preocupação da agremiação não se volta para a formação de atletas. “Nós somos um clube recreativo e social. Não somos uma indústria como o São Paulo Futebol Clube, em Cotia, ou o Corinthians, em Itaquera, que visa o lucro”, afirma. Porém, com o rúgbi foi diferente. O clube é campeão do Campeonato Brasileiro de Rúgbi 13 vezes, sendo o último em 2013, e é o maior campeão do torneio. No âmbito social, os sócios desfrutam do que o clube oferece: quadras de tênis, restaurantes, academia, aulas de yoga, playground, pub, piscina, entre outros. Mônica Dias, 61, que frequenta o clube há 40 anos e é sócia faz 6 anos, destaca a influência familiar e a localização do clube. “Meu sogro e minha sogra mudaram para cá por causa deste clube, eles eram de origem inglesa e sempre frequentei aqui (...) e é uma coisa que a gente chama de oásis. Tem verde, área de esporte. É um ponto de encontro”. Assim como ela, Yoram Fingerman, 46, sócio há 5 anos do SPAC, ressalta a geografia e os serviços oferecidos. “É perto da minha casa e tem tudo que eu preciso (...) e é agradável. Eu gosto de fazer yoga, academia e comer aqui no restaurante.”

Concessão do Pacaembu é retomada

Prefeitura dá continuidade ao processo e reacende debate público Por Luis Fabiani e Eduardo Brollo

No último dia 13 de abril, deu-se continuidade ao processo de concessão do estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. O processo, no entanto, não é bem visto por todos, uma vez que os valores envolvidos no caso são considerados baixos. O projeto chegou inclusive a ser suspenso pela juíza Maria Gabriella Spaolonzi, da 13ª Vara de Fazenda Pública da Capital, alegando, de acordo com matéria publicada no G1, que assim evitaria maiores prejuízos aos cofres públicos. Wilson Poit, Secretário da Desestatização e Parcerias do município, em entrevista ao jornal Maria Antônia, comentou que a realização dessa concessão colabora com a melhoria das finanças públicas, fazendo com que “os valores anteriormente

investidos no caso fossem revertidos para demandas prioritárias, tais como saúde, educação, habitação, segurança e assistência social”. Há, no entanto, uma mobilização muito grande por parte dos moradores da região contrários à concessão. A associação Viva Pacaembu, em nota, afirmou se tratar de um processo contraditório, visto que apesar de afirmar que o custo do estádio é prejudicial aos cofres públicos, o governo não apresentou documentos oficiais que comprovassem a alegação de problemas no balanço financeiro do município. Para o vereador Fernando Holiday (DEM), o processo é benéfico. Para ele, a concessão

garantiria “um interesse de iniciativa privada para promover o espaço e, com isso, lucrar e obter os valores para o custeio”. O Estádio Paulo Machado de Carvalho foi inaugurado dia 27 de abril de 1940, como parte de um projeto nacionalista de apoio ao esporte do governo de Getúlio Vargas. Seu terreno foi uma doação da CIA CITY ao Estado de São Paulo, que foi repassado à Prefeitura. A concessão do Pacaembu foi a principal do pacote de PPPs do ex-prefeito João Dória, que renunciou ao cargo para concorrer a governador. O Projeto de Lei (PL 364/2017) foi aprovado pela primeira vez em agosto de 2017, quando venceu por 42 votos a 11.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.