Universidade Fernando Pessoa F
Faculdade de Ciência e Tecnologia Projecto de Intervenção Urbanística II
Análise do Espaço Público Praça Carlos Alberto
Mafalda Almeida Macedo | 22140
Índice 1
Introdução ............................................................................ 1
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A Praça Carlos Alberto.............................................................. 2 2.1
A Envolvente .................................................................... 3
2.1.1
Localização e Eixos dominantes ........................................ 4
2.1.2
Praças, Jardins, Edifícios e outros elementos importantes da
proximidade .......................................................................... 4 2.2
Forma e Elementos Compositivos ............................................ 5
2.3
Materiais, Equipamentos e seu Significado e Utilidade .................. 6
2.4
Usos............................................................................... 9
3
Considerações Finais ............................................................... 10
4
Conclusão ............................................................................ 10
5
Bibliografia Consultada ............................................................ 11
Projecto de Intervenção Urbanística II | Análise do Espaço Público | Praça Carlos Alberto
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Introdução
O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Projecto de Intervenção Urbanística II e tem como objectivo o estudo, exploração e análise dos elementos de caracterização e modelação espacial de um espaço público, escolhido previamente em aula. O espaço escolhido foi a Praça de Carlos Alberto, e esta será analisada a várias escalas (que vão desde a macro até a micro) para que melhor se expliquem e percepcionem os elementos que julgo serem propulsores e caracterizadores do espaço público, nomeadamente da Praça, uma vez que se trata do espaço em estudo no presente trabalho.
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Projecto de Intervenção Urbanística II | Análise do Espaço Público | Praça Carlos Alberto
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A Praça Carlos Alberto “A
praça
é
o
lugar
intencional
do
encontro,
da
permanência,
dos
acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações da vida urbana e comunitária e, consequentemente, de funções estruturantes e arquitecturas significativas.” (Lamas, 1993).
Da
Ágora,
passando
pelo
Fórum
Romano,
pelas
Praças
Medievais,
Renascentistas e Modernas, até chegar aos dias de hoje, constata-se que as praças desempenharam, e desempenham, um papel de grande importância na vida citadina. Apresentando-se como local de comércio, de encontro e sociabilização, de espectáculos ou testemunho de religiosidade, foram-se desenhando ao longo da história praças que primavam pelo refinamento da arte, através da ostentação de um rei, da nobreza e do clero, ou então submetidas a um edifício, a um monumento ou até mesmo uma função. Já a Praça Contemporânea não possui um carácter nem uma função específica, muito menos depende de um edifício ou de um monumento. A partir do final do século passado e início do presente, a praça passa a ser estruturada dentro de um contexto mais amplo que engloba um conjunto composto por vias, passeios, edificações, etc. Para além de agente físico estruturador, torna-se um elemento que adquire uma conotação simbólica, tornando-se parte de uma imagem que o observador retém na sua memória enquanto ponto de referência. Fruto dessa nova forma de ver e pensar a praça é o seu desenho, melhor elaborado, com linhas claramente conformadas que possibilitam uma "leitura visual" capaz de ser melhor definida e entendida. A Praça Carlos Alberto situa-se numa das zonas históricas da Cidade do Porto (freguesia da Vitória) e é marcada pela Rua de Cedofeita, a Rua das Oliveiras e a Rua de Carlos Alberto, sendo as duas primeiras importantes eixos de saída do centro da Img 1 - Aguarela Praça Carlos Alberto
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Cidade do Porto. Esta praça resultou da ramificação das estradas que atravessavam a Porta do Olival e se dirigiam para Braga e Guimarães. Inicialmente era conhecida como “Largo dos Ferradores” (como consta num registo paroquial da freguesia de Santo Ildefonso, datado de 1638), mais tarde passou a ser conhecida como “Feira das Caixas” e, posteriormente “Feira dos criados de lavoura e das criadas de servir”. Hoje tem o nome de Praça de Carlos Alberto em homenagem a Carlos Alberto da Sardenha, rei do Piemonte e da Sardenha. Foi palco de feiras, festas, encontros e manifestações. Nela ficava a paragem terminal do veículo da Empreza Portuense de Carros Ripert que fazia ligação com São Mamede de Infesta (entre 1853 e 1910), e dela partiu o primeiro Carro Americano do
Img 2 Fotografia Praça Carlos Alberto
Porto (em 1874). Já no século XX, em 1928, recebeu o Monumento aos Mortos da Grande Guerra e, já em pleno século XXI e no âmbito das obras de reabilitação urbana da baixa portuense, foi recuperada segundo um projecto do arquitecto Manuel Magalhães. Também nesta altura é construído um parque de estacionamento subterrâneo, interiormente ligado a outros parques desta zona histórica.
2.1 A Envolvente “Praça, o lugar privilegiado e tradicional de trocas, ponto de convergência de ruas e teatro de todas as formas sociais, eixo de cada movimento.” (ZULIANI, 1995)
Mais do que conhecer a história e evolução urbana, é impossível falar ou analisar uma praça sem antes perceber o espaço que a circunda, as ruas que esta corta, os percursos que remata, ou até mesmo os acessos que proporciona.
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Assim e para melhor compreender a Praça em estudo, será feita uma breve descrição da sua envolvente, inicialmente a uma escala macro, onde são perceptíveis os eixos dominantes e as relações mais fortes desta para com a Cidade, e posteriormente a uma escala mais micro onde algumas relações de proximidade e alguns eixos se tornam importantes pontos estratégicos quer de identidade quer de definição da própria praça. 2.1.1 Localização e Eixos dominantes Começando por uma escala macro, e como se pode constatar na imagem que se segue (Img 3), a Praça Carlos Alberto encontra-se no cruzamento de três vias de maior importância da cidade do Porto. Falo da Rua de Cedofeita e da Rua das Oliveiras, importantes vias de saída da cidade e que forneciam o acesso a outras cidades portuguesas como Vila do Conde, Braga e até alémfronteiras como é exemplo Santiago de Compostela; e a Travessa de Sá Noronha que, seguindo através da Rua da Fábrica, faz a ligação à Avenida dos Aliados, um outro importante eixo viário de saída da Cidade.
Img 3 Envolvente da Praça de Carlos Alberto | Macro escala
2.1.2 Praças,
Jardins,
Edifícios
e
outros
elementos
importantes
da
proximidade Não são apenas as ruas envolventes que caracterizam, desenham e integram os espaços, também algumas praças, jardins e até mesmo equipamentos ou edifícios ganham um importante papel como parte de percursos, momentos 4
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intermédios, pontos charneira e elementos de referência, que nos aproximam ou afastam do espaço mais importante em estudo. Poder-se-há dizer que a Praça de Carlos Alberto é um espaço priveligiado no que toca à sua localização pois nela encontramo-nos perto de um Hospital, um Museu, um Pólo Universitário e seu respectivo espaço de lazer, uma Câmara Municipal, um Tribunal, vários jardins com dimensões que variam entre o pequeno jardim (como o jardim que ladeia o Hospital de Santo António) ao jardim de grande dimensão (como o Jardim da Cordoaria ou o jardim da Praça da República), a Praça dos Leões, a Torre dos Clérigos e muitos outros espaços e edifícios de importante interesse quer patrimonial quer urbano (img 4).
Img 4 Praças, Edifícios, Jardins e outros Elementos Importantes da proximidade
2.2 Forma e Elementos Compositivos A Praça Carlos Alberto possui uma forma triangular composta por uma grande área pavimentada e algumas áreas ajardinadas que procuram marcar os limites da mesma e ao mesmo tempo criar acessos ao seu interior. Toda a praça é acompanhada por uma via automobilizada composta por grandes passeios, edifícios de cércea relativamente alta (R/C+3, Img 5 Vista aérea da Praça Carlos Alberto
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R/C+4) com cores e revestimentos diversos e carácter maioritariamente comercial, o que faz desta uma rua muito movimentada e enérgica, levando a pensar a praça como uma “ilha deserta” no meio de uma “cidade comercial”, onde a rua ganha o papel de “curso de água que separa esta ilha da cidade”. Embora a cércea seja considerada elevada, o facto de haver largos passeios e uma rua de dimensões consideráveis, faz com que este espaço seja dotado de luz e não se crie o efeito claustrofóbico que, em muitas ruas do Porto se sente. Como havia mencionado, a praça possui uma forma triangular, com vértices boleados, e um aspecto interessante desta está relacionado com a direcção dos próprios vértices sendo que um parece apontar para a Rua de Cedofeita, o segundo para a Rua dos Olivais, e o terceiro para a Rua de Carlos Alberto, ou para a Praça dos Leões. É talvez uma forma discreta de reforçar os limites da Praça, ou talvez reforçar a sua relação com estas ruas, muito bem conseguida. 2.3 Materiais, Equipamentos e seu Significado e Utilidade Uma relação de marginalidade entre praça e rua e um jogo de relações entre vértice e rua são algumas das características que, numa primeira abordagem, podemos reter desta praça. Um aspecto curioso prende-se com os materiais que predominam tanto na praça como nos passeios marginais, que julgo terem igual poder de desenho e compreensão do espaço.
Img 6 Praça Carlos Alberto
Começando pela Praça, esta é maioritariamente composta por Calçada Portuguesa (pedras de calcário e basalto de tamanho irregular dispostas de forma a criar padrões ou percursos normalmente pedonais). Possui também pequenas áreas ajardinadas que tanto limitam a área da praça, como também criam os acessos à mesma (Img 6).
Também ao longo da Rua de Cedofeita e em Parte da Rua de Carlos Alberto (até à Praça dos Leões sensivelmente) este tipo de pavimento está presente, como que se de uma marcação de percurso se tratasse. Na realidade, se 6
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prestarmos alguma atenção ao desenho deste pavimento e à movimentação das pessoas temos a clara noção que cada espaço tem uma função e, consequentemente um material ou desenho de pavimento específico. Por exemplo, a Rua de Cedofeita é uma rua marcada pelo comércio e atravessamento de pessoas e automóveis (pois é um dos eixos de saída da cidade mais antigos), pelo que tem como pavimento Calçada Portuguesa e como desenho uma malha que tem por base um desenho semelhante a uma linha de comboio Img 7 rua de Cedofeita azul e desproporcionada, que quebra lateralmente, criando pequenas “paragens” que marcam ora as entradas das lojas existentes na rua, ora as montras das mesmas (Img 7). Esta malha azul para além de criar um certo ritmo na rua, também marca a zona viária existente, ainda que condicionada. Seguindo para a Rua de Carlos Alberto (Img 8) em direcção à Praça dos Leões, o pavimento permanece em calçada portuguesa, mas apenas encontramos calcário. Uma forma de dar continuidade ao percurso já iniciado em Cedofeita e de reforçar a ideia de que este é apenas para peões, sem quebrar a imagem, que julgo ser muito interessante. Esta rua também é provida de estabelecimentos comerciais, no entanto e por possuir diferentes tipos de comércio (desde uma farmácia, a restauração, retrosarias etc.), julgo ser o motivo que levou à inexistência de desenho no Img 8 Rua de Carlos Alberto pavimento (nomeadamente o uso das pedras basálticas para criar algum tipo de padrão). Saindo da Rua de Cedofeita e seguindo para a nossa esquerda, na direcção do Palacete Viscondes de Balsemão, verificamos que há uma ruptura nesta linguagem de pavimento (Img 9). Esta quebra tão marcada de pavimentação talvez seja justificada por ser uma zona com um carácter mais lúdico e Img 9 Rua Carlos Alberto | Pavimento cultural pois temos um “Atl” e um edifício histórico nessa área, bem como uma escultura alusiva ao mesmo e um pequeno quiosque (que infelizmente não está em funcionamento). O mesmo acontece na Praça dos Leões onde, na zona da fonte dos Leões, altera para a mesma estereotomia presente neste espaço o que me leva a crer que se trata de uma forma de definir os espaços lúdicos presentes nesta área.
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Como se pode constatar, não há referência à existência e tipologia de mobiliário urbano nesta área que circunda a “ilha” ou praça pois, à excepção da iluminação ao longo dos percursos (que é feita vertical e pontualmente) e de uma pequena linha arbórea na zona do Palacete, não existe qualquer elemento urbano, e os poucos que poderiam ser vistos como tal pertencem a edifícios de restauração pelo que não poderão ser considerados mobiliário urbano.
Img 10 Praça Carlos Alberto | Interior
Voltando o olhar de novo para a nossa ilha, a Praça Carlos Alberto (Img 10), verificamos que esta é um “respiro”, um momento de paragem desta “cidade movimento”. Aqui encontramos percursos marcados no chão, pequenos espaços verdes que proporcionam alguma sombra e repouso, existe bancos também e até um ponto focal (neste caso um monumento
aos mortos da 1ª Guerra Mundial). Fazendo um enfoque a uma das características que mais me chamou a atenção nesta praça (e também nas ruas adjacentes), nomeadamente o desenho do pavimento verifico que este também é trabalhado de forma extremamente interessante. O que aparentemente não passa de uma estereotomia diferente apenas para marcar a praça, trata-se de uma forma suave de direccionar e relacionar o peão com a praça e os seus momentos. Este consiste numa série de linhas que, dependendo do sítio e ângulo que são percepcionadas, indicam um percurso ou um momento diferente, revelando os momentos de descanso, os enfiamentos visuais, os momentos de miragem e até os momentos de entrada e saída da praça (Img 11 e 12). É, sem dúvida, um Img 11 Desenho do Pavimento na Praça elemento que passa despercebido numa primeira abordagem, mas que nos influencia de uma forma inconsciente desde esse primeiro contacto. Uma outra característica que, aliada ao desenho do pavimento, se torna um elemento de alguma importância é o pequeno largo que existe em frente à praça e que, para além de servir como elemento de estruturação viária também é um importante ponto de miragem para o centro da mesma onde se encontra o Monumento aos Mortos da 1ª Grande Guerra. Esta, em conjunto com o desenho do pavimento, proporciona uma percepção muito interessante
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e majestosa do Monumento, tendo os espaços verdes como acompanhamento e os edifícios como plano de fundo. Img 12 Perspectivas através do Desenho do Pavimento
Voltando ao mobiliário urbano, nomeadamente no que diz respeito aos bancos, estes encontram-se próximos das zonas ajardinadas de forma a poderem usufruir de sombra nas horas de maior calor e em diversas partes do dia e são-nos apresentados por meio de um desenho no pavimento que vai desde a zona monumental até aos mesmos. Em relação às áreas ajardinadas, estas possuem alguma vegetação e árvores de médio porte. 2.4 Usos Como referido anteriormente, a Praça Carlos Alberto está relativamente isolada na área que ocupa, o que não a impede de se relacionar com a mesma. Exemplo disso é a Feira do Porto Belo que se realiza aos Sábados.
Img 11 Feira Porto Belo
Nesta a Praça, embora com outra linguagem e tipologia, passa a fazer parte de toda uma área comercial ganhando cores, novos movimentos, odores, etc.
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Outras
“imagens”
ou
usos
são
feitos
desta
praça
nomeadamente
manifestações, encontro de pessoas idosas, ponto de encontro de jovens e área de lazer infantil. Ao contrário de outras praças na Cidade do Porto, a Praça Carlos Alberto também possui “imagem nocturna” pois, devido à existência de uma das faculdades da UP na proximidade, da presença da Praça da Cordoaria (onde se realizam a Serenata e outras manifestações académicas) e de se encontrar no centro de uma nova área de bares e áreas de encontro de jovens estudantes e turistas, esta ganha novas funções como palco e parte de uma vida estudantil e turística. 3
Considerações Finais
Outros aspectos não visíveis fazem parte da caracterização e estrutura desta Praça nomeadamente sons, cores e aromas que ficam na nossa memória, ainda que inconscientemente (tal como os desenhos do pavimento). Num exercício simples de visitar a Praça num dia de semana é possível caracterizar esta praça como musical pois nela ouvimos, ainda que distorcido, o som de um ou outro indivíduo a tocar ou cantar ao longo da Rua de Cedofeita, e o estalar das sacas que os transeuntes carregam ao longo da Rua de Cedofeita e até da Rua Carlos Alberto. Também somos invadidos por vários aromas, desde as castanhas que estão a queimar num dos cantos da praça até à torrada que está a ser servida numa das esplanadas que ladeiam a praça. 4
Conclusão
Como se pode verificar ao longo do trabalho, são vários os elementos que caracterizam o espaço público, nomeadamente a Praça, que vão desde uma escala macro onde apenas se percepcionam eixos e relações espaciais até uma escala micro onde se percebe pormenores como os desenhos e formas que o pavimento pode ter para marcar e caracterizar o mesmo espaço. 10
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Bibliografia Consultada
Universidade do Porto, [Em linha], Disponível em: <http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1006578> [Consultado em fevereiro 2012]. Universidade do Porto, [Em linha], Disponível em: <http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1006538> [Consultado em fevereiro 2012]. Wikipédia, [Em linha], Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_de_Carlos_Alberto> [Consultado em fevereiro 2012]. SRU, [Em linha], Disponível em: <http://www.portovivosru.pt/pdfs/DE_CA.pdf> [Consultado em fevereiro 2012]. Apropriações do Espaço Público, [Em linha], Disponível em: < http://www.revispsi.uerj.br/v7n2/artigos/pdf/v7n2a13.pdf> [Consultado em fevereiro 2012]. UTL, [Em linha], Disponível em: <https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/242873/1/Tese.pdf> [Consultado em fevereiro 2012].
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