Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva
A presente memória surge no âmbito da disciplina de Projecto de
Intervenção Urbanística e consiste na consolidação e explicação de vários
estudos realizados sobre a Freguesia de Guifões, concelho de Matosinhos, bem como a sua proposta conceptual e respectiva estratégia, e o plano de reabilitação da estrutura urbana a vários níveis.
Como já foi referido, a área de intervenção pertence ao concelho de
Matosinhos e situa-se na freguesia de Guifões, acompanhando a margem sul do Rio Leça.
Relembrando os anteriores relatórios, e com o intuito de fortalecer os
elementos predominantes no terreno, geradores de toda a proposta, volto a
afirmar que “a ocupação deste território é marcada por quatro manchas: edificado, vias, água e verde (ou “vazio”).”
Dentro destas, é-nos relativamente fácil caracterizar alguns tipos e
usos de edificado como por exemplo fábricas e habitações (unifamiliares e
multifamiliares), bem como a sua cércea predominante (r/c + 1 + recuado), tipos de vias (vias de acesso, vias rápidas e restantes, assim como praças e
pátios que aquelas criam), áreas verdes como jardins, logradouros, espaços hortícolas e áreas expectantes, etc.
Também já verificado em análises anteriores, esta área possui
carências a vários níveis: desde viário (hierárquica e estruturalmente),
edificado, e até de estruturação de espaços “vazios” (como praças, espaços verdes ou simplesmente espaços expectantes), carências essas que, com esta memória procuro identificar e para as quais propor soluções.
No entanto, e para poder intervir de forma a reduzir estas carências, é
necessário mais uma vez recorrer a outras escalas de forma a entender a origem ou o motivo das mesmas.
Como se pode verificar na imagem, a área em estudo encontra-se numa
zona central relativamente a vários aspectos/acontecimentos: está entre duas Mafalda Almeida Macedo | 22140
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zonas industriais (nomeadamente a zona industrial que serve Matosinhos e
Porto, e a zona industrial de Leça; um dos seus limites – o Rio Leça – desagua
no Porto de Leixões; duas vias rápidas que fazem ligações ao Norte, Centro e Sul do país atravessam esta freguesia; a antiga Estrada Nacional também tinha
lugar aqui; está entre dois centros comerciais – o Norteshooping e o
Marshooping; a Petrogal, embora fora dos limites da freguesia, está próxima; etc.
A meu ver, esta centralidade só poderia ter como consequência uma
freguesia bem estruturada e equilibrada, nutrida de espaços de transição, de
lazer e de concentração, bem como diversos equipamentos, hierarquias viárias, tipologias edificadas, etc.
No entanto, trata-se de uma freguesia meramente de passagem, a qual
pouco aproveita as suas potencialidades que, como veremos adiante, são inúmeras e abrangem várias temáticas.
Um dos aspectos que torna esta área tão desinteressante por parte de
quem a atravessa (independentemente do meio que utilize para o fazer –
peão, automóvel, transportes públicos, etc.) está relacionado com o excesso de espaços vazios desaproveitados e mal desenhados, como é o caso dos espaços abaixo indicados.
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Embora grande parte destes tenha uso agrícola, a ausência de planeamento
torna estes espaços desinteressantes, desprovidos
de
beleza…
enfim,
espaços com potencial urbanístico e paisagístico elevados tornados meros locais
de
passagem
e
não
retenção, diria até verdadeiros espaços imperceptíveis, sem carácter.
de
Outro aspecto prejudicial a esta nossa freguesia está relacionado com
os núcleos ou aglomerados habitacionais. Pessoalmente
núcleos
que,
de
identifico certa
seis
forma,
estruturaram o espaço em estudo.
Poder-se-iam considerar mais,
no entanto, e devido à complexidade das
malhas
que
os
formam,
considerei-os como o resultado de
uma expansão não planeada, mas necessária (tanto por parte das freguesias fronteiriças como por parte de Guifões).
Por outro lado, esta divisão torna-se forte quando confrontada com um
pequeno estudo de vias estruturantes, traçadas através de uma planta com os espaços construídos, onde toda a restante informação foi ignorada. Aqui os quarteirões são marcados
pelas vias e, de certa forma desenham uma forma semelhante à da imagem
anterior onde divido o nosso terreno em vários núcleos.
Nesta imagem, é ainda notória e,
de certa forma reforçada a ideia de Mafalda Almeida Macedo | 22140
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“espaço de passagem” uma vez que os eixos que agregam maior número de
edificabilidade correspondem a ligações entre outras freguesias, indústrias, etc, e os restantes têm uma estrutura e desenho confusos, talvez até labirínticos.
Uma outra conclusão que se pode obter deste espaço está relacionada
com o seu espaço vazio, sobrante, verde, ou como lhe queiramos chamar neste momento.
Consciente do efeito devastador que um
estudo como o que se segue poderia ter para o desenvolvimento de uma futura proposta, e até mesmo no seguimento dos estudos e conclusões
anteriores (e abstraindo-me propositadamente
de todas as indicações topográficas), surge
então um terceiro estudo, onde apenas está marcado o espaço sobrante entre as edificações, e a mancha construída.
Em termos paisagísticos poderia considerar a área ideal para intervir,
criando todo o tipo de espaços verdes, caminhos pedonais, ciclovias, etc, e tirando partido de outros conceitos paisagísticos.
Urbanisticamente, todo este espaço sobrante tornou-se o maior motivo,
ou a maior justificação para o facto de esta freguesia, apesar de
geograficamente bem localizada e ser um potencial centro importante, não
passar de um espaço de passagem, muitas vezes sem reconhecimento por parte de quem o atravessa e habita.
Feita esta leitura através do espaço construído, é altura de regressar à
realidade e confrontar estas conclusões, desprovidas de contextualização
urbana, com os outros elementos urbanísticos (como as vias existentes, os espaços verdes, vazios e agrícolas existentes, etc).
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Como é visível nas imagens anteriores, há elementos que se sobrepoem e
outros que ganham mais força, nomeadamente os espaços sobrantes que se sobrepõem às vias existentes; as vias desenhadas e as existentes, que se sobrepõem e, de certa forma competem umas com as outras; e os núcleos que se tornam mais explícitos.
Compilando estes três estudos obtemos uma imagem que, de certa
forma, representa o fim de uma tentativa de percepção deste “excerto urbano”.
Esta, embora confusa numa primeira abordagem,
dá-nos plena consciência de quais os eixos fundamentais de expansão (passada, presente e futura), quais os espaços de ligação e/ou ruptura, quais os usos de solo ou funções dos
espaços que estão em excesso ou em deficit, etc.
A partir desta percepção do terreno, e antes de iniciar uma estratégia,
parto para uma análise mais paisagística, uma vez que tanto urbanismo como paisagismo devem complementar-se e não competir pelo mesmo espaço. Desta
forma,
identifiquei
as
áreas
de
potencial paisagístico (como se verifica na imagem ao lado) criando uma mancha que, organicamente
percorre quase todos os espaços verdes do terreno,
criando novos eixos fundamentais paisagisticamente e reforçando outros já considerados relativamente à vertente urbanística.
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Uma
das
paisagística
características passa
pela
de
uma
definição
visão de
espaços/corredores verdes destinados a usos diários e semanais, normalmente associados à
ideia de um eixo que funcione como corredor
cénico e que, para além de permeabilizar uma área também proporcione bem-estar ao peão, ao automóvel ou transporte público (indivíduo(s) que o utilizem como meio de transporte).
Desta forma, e segundo a imagem que
se segue, são criadas três áreas: uma de lazer diário (a laranja), uma de lazer
semanal (a lilás) e uma terceira de lazer ocasional
(a
bordeaux).
Estas
estão
relacionadas e interligadas por eixos/vias
marcados também a laranja (alguns destes coincidentes com eixos já falados anteriormente nesta memória). Inicialmente
verificado
em
termos
urbanísticos,
seguidamente
confirmado a nível paisagístico, conclui-se que a freguesia de Guifões é uma
freguesia cujo “espaço verde” (sendo este composto por espaços expectantes, agrícolas, jardins públicos, entre outros) é o elemento predominante e gerador desta desarmonia de usos, funções e ligações existentes no território. Outros
elementos
conflituosos
estão
presentes
nesta
área,
nomeadamente uma Auto-estrada que aparentemente quebra toda e qualquer
tentativa de relação entre as malhas que divide; ou a linha do metro que se apoderou de alguns dos eixos de crescimento mais antigos.
No entanto julgo que não possuem o mesmo carácter prioritário que os
espaços sobrantes adquiriram.
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Justifico esta minha afirmação baseada num estudo já mencionado
neste texto, onde procuro as vias ou eixos de crescimento mais importantes.
Como se pode ver, a área ocupada pela auto-estrada correspondia a um
espaço sobrante. Embora corresponda a uma área já destinada à construção
de uma via rápida, o afastamento da linguagem dos quarteirões que a rodeiam é mais forte do que a própria presença da Auto-estrada. Esta aparece então
como a materialização de uma barreira já existente e não como o
aparecimento de uma barreira de crescimento com a força que aparenta ter. Arriscaria até em colocar esta “barreira” no mesmo patamar que um rio ou uma linha de água.
A linha do metro, como se pode verificar também, não é influente na
resolução da malha urbana pois apenas se aproveita de um eixo já estruturado e implementado ao invés de criar um novo e, provavelmente dispersar mais este aglomerado (que, com todos estes espaços vazios, já é bastante disperso), já para não falar que é uma barreira transponível como as vias, os jardins, as hortas, etc.
Já os espaços não construídos, mesmo num estudo direccionado apenas
para vias sobressaem de forma bastante negativa. Mafalda Almeida Macedo | 22140
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Feitas estas duas análises (pelo âmbito urbanístico e pelo âmbito
paisagístico) surge então a ideia de consolidar a malha urbana sem ferir
alguns dos aspectos que lhe dão identidade (nomeadamente o uso agrícola que esta possui), dando-lhe assim um carácter próximo ao de uma “cidade jardim/horta”.
Esta ideia consiste no aproveitamento dos usos do solo predominantes
(agricultura e edificação) de forma a criar um conjunto de espaços, percursos
e equipamentos que, na sua relação com a envolvente já consolidada, se
tornem espaços de retenção e de utilização e que criem uma imagem mais agradável da freguesia.
Embora seja um conceito embrionário, que aparentemente dá mais
ênfase ao âmbito paisagístico, é na realidade a procura de uma nova forma ou desenho urbano, preocupado não só com questões de consolidação viária e edificada, mas também com questões actuais como a sustentabilidade da mesma, as suas necessidades, a sua “identidade própria”, etc.
Deste modo, surge a estratégia para a requalificação da Freguesia que
consistirá na procura de uma nova linguagem de lote e quarteirão onde a importância dos elementos que o definem se inverte, ou seja, o espaço verde
(respeitando o uso que já possui) é dominante, o edificado, se existir, ocupará
uma parcela muito reduzida do lote (o equivalente ao espaço de logradouro
existente nos lotes comuns), a rede viária será substituída por pequenos
percursos pedonais que, para além de servirem de acesso aos respectivos lotes, fazem também a divisão dos mesmos.
Nas vias de maior importância, mas ainda não consolidadas (definidas
com a sobreposição dos estudo viário com o existente), o lote comum será
utilizado, por uma questão de coerência e impacto visual, não fazendo de todo sentido criar excepções nessas áreas, já que a intenção é reduzir e
suavizar o parcelamento existente e interligar da forma mais harmoniosa possível as vias.
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Já nas vias secundárias de grande importância, nomeadamente a via
recente que atravessa e reforça a divisão da freguesia em duas zonas (o centro urbano e o centro industrial) e que se tornou um eixo com grande
potencial paisagístico, pois está ladeada por espaços agrícolas e expectantes e
conduz a uma das áreas que considerei como sendo de “uso/lazer semanal”, a nova linguagem que procuro ganhará aí alguma força.
Este eixo, para além da ligação com essa área, procura de certa forma
relacionar-se com outras áreas pois permite o atravessamento para elas (através de outros eixos que a cruzam e que ela mesma cruza).
Assim, a ideia de criar quarteirões cujo espaço construído corresponda
ao uso de uma determinada área (para fins agrícolas, hortícolas, educativos, etc.), e em que a habitação, quando existente na margem, se volte de costas para a rua (reforçando a ideia de que o espaço principal é o verde, e os
edifícios são meros auxiliares para marcar o traçado do (provavelmente) único
percurso viário existente), pertence a uma tentativa de resposta para consolidar uma área urbanisticamente expectante e paisagisticamente
potenciadora de percursos e corredores cénicos que se relacionam com outras áreas permeáveis a cidade/território, como é visível na imagem seguinte.
Nesta imagem, bem como nesta fase, os espaços marcados como destinados a edificação não correspondem à forma e tipologia que irão ter, são meramente Mafalda Almeida Macedo | 22140
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pontos que julguei serem importantes para marcar e redefinir a hierarquia viária.
É de salientar também o carácter semi-público de todos os espaços
marcados a laranja. Embora espaços abertos e de uso agrícola, podem ser
percorridos pelo peão e alguns até poderão ser utilizados pelo mesmo (espaços esses que ainda irei definir).
Em relação à zona sudoeste da nossa área (marcada a lilás), devido à
existência de uma pequena lagoa e de uma bolsa verde, e como esquematizado na imagem acima, haverá uma tentativa de reforçar a ligação
existente para com o centro de forma a criar um pequeno parque (de uso semanal ou ocasional) e proporcionar um percurso mais agradável e consolidado de saída/entrada no centro de Guifões.
“A cidade é feita de coisas urbanas e o urbanismo está indissociavelmente relacionado com o existente.” Sola Morales in de Cosas Urbanas
Nós (cidadãos) temos um papel importante na cidade uma vez que cada
um adapta a cidade às suas necessidades, fazendo com que esta se transforme num “sem número de cidades” sem deixar de ser uma só. Esta nossa
apropriação e interpretação pessoal da cidade é muito semelhante à apropriação que nós, como futuros urbanistas, procuramos fazer quando traçamos algo na malha de uma cidade.
A parte que se segue corresponde à aproximação à escala 1/2000 e à
explicação da proposta para a requalificação da área já mencionada.
Como se pôde verificar, Guifões é uma freguesia meramente de
passagem, a qual pouco aproveita as suas potencialidades deixando uma vasta mancha de vazios desaproveitados e mal desenhados.
O “espaço verde” é o elemento predominante e, aparentemente,
gerador desta desarmonia de usos, funções e ligações existentes no território.
Já os núcleos urbanos são resultado de uma expansão não planeada, talvez Mafalda Almeida Macedo | 22140
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fruto da industrialização que a circunda e os eixos que agregam maior número de
edificabilidade
correspondem
a
ligações
entre
indústrias, etc e não a zonas importantes do seu território.
outras
freguesias,
Como tal surgiu a ideia de consolidar a malha urbana sem ferir os
elementos que lhe conferem identidade (espaço verde de carácter
maioritariamente agrícola e edificado e a sua relação com as vias), mas recriando-os e dando-lhes uma nova identidade.
O aproveitamento dos usos do solo predominantes de forma a criar um
conjunto de espaços, percursos e equipamentos com poder de retenção e utilização,
que
agregassem
núcleos,
redefinissem
ou
reforçassem os
quarteirões e fossem capazes de criar uma imagem mais agradável da freguesia, é a ideia de maior força neste projecto.
Para que tal fosse concretizável,
e numa primeira fase, procurei definir linhas de força através de espaços
edificados. Verifiquei que no existente havia
já
organização
alguns
quarteirões
demonstrava
cuja
potenciais
eixos reguladores e estruturantes para a proposta. Numa segunda fase, e como
tentativa de reforçar o carácter minoritário que atribuí à auto-
-estrada, houve a necessidade de
tentar agrega-la aos quarteirões, surgindo então a necessidade de criar mais ligações entre as partes que esta divide.
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Paralelamente, e em conjunto com a cadeira de P.I.U. (Projecto de
Intervenção Urbanística), na cadeira de Arquitectura Paisagista, desenvolvia o mesmo projecto, resolvendo problemáticas relacionadas com o espaço verde.
“A cobertura vegetal na cidade é um dos elementos de composição da estrutura urbana e não uma mera consequência do planeamento urbano pois esta possui funções como amenidade ambiental, suporte de recreio e lazer e até como
componente da própria morfologia urbana. Por esse motivo exige uma perspectiva de intervenção que potencie as suas funções no tecido urbano e uma intervenção que
passe pelo reconhecimento e valorização das múltiplas tipologias de verde presentes no meio urbano.”
Helena Madureira em Dissertação de Mestrado em Planeamento
e Projecto do Ambiente Urbano
Nesta perspectiva, surge a necessidade de valorizar os espaços até
então de uso maioritariamente agrícola, criando percursos e corredores onde
o verde estivesse sempre em contacto directo com o peão, o ciclista, ou mesmo o automobilista.
Desta forma, e respeitando o conceito que veio a acompanhar-me este
semestre, deveria ser criada uma nova tipologia de quarteirão onde o verde
predominasse sobre o edificado e onde as linhas de água, sempre que possível, invadissem o mesmo, criando assim vários momentos dispersos, mas
ao mesmo tempo relacionados que nos conduzissem ao longo do lote, do edifício, do quarteirão, da via... em suma, de toda a área.
Com estas premissas, a primeira aproximação à escala 1/2000 na
cadeira
de
Paisagismo
resultou
na
selecção
de
algumas
consequentemente percursos de potencial interesse paisagístico.
Mafalda Almeida Macedo | 22140
áreas
e
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Uma vez desenvolvidas em conjunto, as propostas para cada uma das
disciplinas foram fundidas e procurei dar uma resposta equilibrada aos
princípios que defini, tanto em Paisagismo como P.I.U., criando quarteirões marcados por tipologias edificadas cujo interior possuía um misto de tipologias verdes e urbanas.
Assim surge a proposta que venho por este meio apresentar e justificar,
composta por linhas de edificado que marcam os percursos mais importantes do território, percursos pedonais e espaços de retenção acompanhados ou compostos por pequenos jardins e hortas, etc.
De uma forma geral a proposta surge da continuidade das linhas de
força já marcadas criando uma imagem que se vai repetindo e vai marcando
percursos importantes no território, percursos estes que se relacionam e que, de certa forma, desencadeiam outros, os rematam e os escondem.
Para melhor explicar esses percursos e como se relacionam no todo,
não há melhor forma que amplia-los individualmente, sob a forma de núcleos e apresenta-los consoante a ordem e lógica em que foram pensados.
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Assim, começo por falar dos dois eixos centrais de Guifões.
Falo da via que vem da zona florestal e acompanha toda a área verde e
da linha criada pelos edifícios multifamiliares. Em todas as análises efectuadas, estas duas vias ganharam uma importância extremamente
elevada, sendo a primeira uma via com carácter mais paisagístico que funcionaria como corredor verde e a segunda com um carácter mais urbano. Tanto uma como outra
possuíam forças próprias e distintas e a única forma de as
relacionar
seria
um
elemento neutro, cuja função seria
rematar
uma
via
e
anunciar a outra, e vice-
versa. Deste modo interrompi a
linha
de
edificado
no
momento em que estas duas
se cruzavam, criando assim
um espaço de retenção com características de praça. Para
reforçar
houve
a
necessidade
(nome
dado ao
este
momento retentor de forças,
de
reforçar o eixo paisagístico eixo
que
relaciona o espaço verde com
o espaço urbanizado) e este reforço foi dado com uma pequena linha de edificado com a mesma linguagem do que existe no eixo urbano. Desta forma para além de marcar limites visuais a quem percorre a via paisagística,
também consegui relacionar as duas vias e a praça, tornando-as um só elemento e não a junção de três.
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Neste momento, e após a leitura do texto “Ciudades Cortadas” de Sola
Morales onde se fala que “ (…) as auto-estradas entram nas cidades e cortam-
-nas de fora para dentro deixando-nos imaginar como se podem encadear as partes distintas que criam. É essa representação da relação entre partes
distintas que identifica e caracteriza a cidade, bem como a comparação das duas diferenças pois tanto os monumentos como os traços ordenadas de uma
cidade, se vistos sozinhos não lhe conferem identidade, não fazem cidade. (…)”, e visto que junto a este espaço se encontra uma auto-estrada, surge a
ideia de relacionar este espaço de retenção com a outra margem da referida
via rápida, criando assim uma relação entre margens, um remate visual na praça e, talvez, devolver a identidade que aquela via, devido ao seu tamanho e função, retiraram ao território.
Seguidamente, e após a leitura de uma tese de mestrado da autoria de
Helena Madureira, para além de aprofundar o conceito de continnum
naturale, a ideia de que “ A paisagem envolvente deve penetrar na cidade de
modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções que vão
desde o espaço de lazer e recreio ao de enquadramento de infra-estruturas e edifícios, aos espaços de elevada produção de frescos agrícolas e à protecção e integração
de linhas ou cursos de água com seus leitos de
cheia e cabeceiras” (MAGALHÃES et al., 1992: 11)
tornou-se o ponto charneira para a resolução do problema de integração da componente
urbana e paisagística em algumas zonas, como por exemplo a área que irei explicar em seguida.
Trata-se
da
zona
que
lavadouro até à frente de rio.
vai
desde
o
Aqui a ideia seria trazer a linha de água à
superfície e fazer um conjunto de percursos
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verdes com tipologia jardim e agrícola que a acompanhavam e rematavam num espaço amplo de retenção com carácter de jardim público.
Este espaço seria marcado por uma linha de edificado unifamiliar de
forma a marcar o quarteirão e a proteger a zona hortícola das agressões
oriundas das vias. Desta forma a já mencionada ideia de criação de uma nova
linguagem de quarteirão onde o verde prevalecesse sobre o edificado dá os primeiros passos, e o espaço verde penetra na cidade tentando tornar-se um elemento urbano e não meramente paisagístico.
Seguindo a orientação deste quarteirão, e dirigindo-me a sul, encontra-se
outro ponto de cruzamento de linhas já marcadas com potencial paisagístico e urbanístico, sendo que agora há o acréscimo deste conjunto de percursos e novos usos que dei a um dos quarteirões charneira.
Mais uma vez, foi em dois conceitos
abordados na tese de Helena Madureira que encontrei a forma de relacionar verde e urbano
sem
que
estes
fosse
vividos
e
interpretados como elementos independentes.
Na sua tese, Helena defende que “ (…) a
contribuição do «verde» para a forma urbana é
estabelecida
através
de
duas
principais
dimensões: os espaços percebidos e os espaços não
percebidos. (…)” sendo um exemplo de espaços
não percebidos aqueles que se encontram
escondidos no interior dos quarteirões, e
funcionam “como espaço de descompressão e arejamento do tecido construído, potenciando o
contraste entre volumes e vazios, e podendo
inclusivamente constituir um elemento de
conformação dos modelos de urbanização. Já o
verde percebido é “ aquele usado, visto e sentido, é
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fundamentalmente composto pelos jardins e parques públicos e pelas ruas
arborizadas.”
Desta forma, utilizando estes conceitos de verde percebido e verde não
percebido, e usufruindo das linhas de força edificadas, constituídas por edifícios multifamiliares, procurei rematar e criar quarteirões cujo interior
encobrisse as diversas tipologias de verde e ao mesmo tempo as exibisse por
entre os vazios existentes entre cada edifício. Da mesma forma, os percursos criados no seu interior relacionavam-se com os quarteirões vizinhos criando percursos variados que tanto levavam à margem do rio, como à zona mais a
sul do território, ao novo centro marcado pela grande praça dobre a autoestrada e até à outra margem da mesma.
Uma vez que ao longo de todo o projecto fui utilizando a linha de
edifícios multifamiliares como elemento que marcaria um percurso ao longo de todo o território, e a ideia de relacionar as duas margens da auto-estrada não era suficientemente sustentada pela praça criada sobre esta, havia que
procurar, por meio de linhas edificadas, criar eixos que relacionassem as duas partes.
Deste modo crio duas ligações
viárias, uma a norte onde termina a
linha de força proposta, e uma outra a sul onde começa a linha de edificado
que deu origem à já falada linha de força.
No
seguimento
acompanhando
alguns
destas,
e
edifícios
multifamiliares já existentes, procurei
que a imagem já tao característica da outra margem se relacionasse com esta zona assumindo um papel integrante das malhas.
Da junção e relação destes pequenos núcleos surge então a proposta já
apresentada.
Mafalda Almeida Macedo | 22140
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Esta, como demonstrado na análise do território, era uma zona periférica
e de passagem que não possuía elementos de retenção nem uma organização espacial atractiva.
O facto de se encontrar numa zona central a nível de serviços e acessos e
de possuir uma grande capacidade hortícola, fez com que esta minha proposta
de intervenção assentasse na introdução de edifícios de uso residencial uni e multifamiliar e de tipologias de verde hortícola e jardim, ao invés de introduzir equipamentos de uso colectivo como hotéis, shoppings, etc.
Assim, trazendo mais habitação também trarei mais movimento, e o
facto de haver pequenas hortas e espaços verdes, de uso e lazer público e privado, tornará esta freguesia mais interessante.
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