Projeto de Intervenão Urbanística | I Semestre

Page 1

Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

A presente memória surge no âmbito da disciplina de Projecto de

Intervenção Urbanística e consiste na consolidação e explicação de vários

estudos realizados sobre a Freguesia de Guifões, concelho de Matosinhos, bem como a sua proposta conceptual e respectiva estratégia, e o plano de reabilitação da estrutura urbana a vários níveis.

Como já foi referido, a área de intervenção pertence ao concelho de

Matosinhos e situa-se na freguesia de Guifões, acompanhando a margem sul do Rio Leça.

Relembrando os anteriores relatórios, e com o intuito de fortalecer os

elementos predominantes no terreno, geradores de toda a proposta, volto a

afirmar que “a ocupação deste território é marcada por quatro manchas: edificado, vias, água e verde (ou “vazio”).”

Dentro destas, é-nos relativamente fácil caracterizar alguns tipos e

usos de edificado como por exemplo fábricas e habitações (unifamiliares e

multifamiliares), bem como a sua cércea predominante (r/c + 1 + recuado), tipos de vias (vias de acesso, vias rápidas e restantes, assim como praças e

pátios que aquelas criam), áreas verdes como jardins, logradouros, espaços hortícolas e áreas expectantes, etc.

Também já verificado em análises anteriores, esta área possui

carências a vários níveis: desde viário (hierárquica e estruturalmente),

edificado, e até de estruturação de espaços “vazios” (como praças, espaços verdes ou simplesmente espaços expectantes), carências essas que, com esta memória procuro identificar e para as quais propor soluções.

No entanto, e para poder intervir de forma a reduzir estas carências, é

necessário mais uma vez recorrer a outras escalas de forma a entender a origem ou o motivo das mesmas.

Como se pode verificar na imagem, a área em estudo encontra-se numa

zona central relativamente a vários aspectos/acontecimentos: está entre duas Mafalda Almeida Macedo | 22140

1


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

zonas industriais (nomeadamente a zona industrial que serve Matosinhos e

Porto, e a zona industrial de Leça; um dos seus limites – o Rio Leça – desagua

no Porto de Leixões; duas vias rápidas que fazem ligações ao Norte, Centro e Sul do país atravessam esta freguesia; a antiga Estrada Nacional também tinha

lugar aqui; está entre dois centros comerciais – o Norteshooping e o

Marshooping; a Petrogal, embora fora dos limites da freguesia, está próxima; etc.

A meu ver, esta centralidade só poderia ter como consequência uma

freguesia bem estruturada e equilibrada, nutrida de espaços de transição, de

lazer e de concentração, bem como diversos equipamentos, hierarquias viárias, tipologias edificadas, etc.

No entanto, trata-se de uma freguesia meramente de passagem, a qual

pouco aproveita as suas potencialidades que, como veremos adiante, são inúmeras e abrangem várias temáticas.

Um dos aspectos que torna esta área tão desinteressante por parte de

quem a atravessa (independentemente do meio que utilize para o fazer –

peão, automóvel, transportes públicos, etc.) está relacionado com o excesso de espaços vazios desaproveitados e mal desenhados, como é o caso dos espaços abaixo indicados.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

2


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Embora grande parte destes tenha uso agrícola, a ausência de planeamento

torna estes espaços desinteressantes, desprovidos

de

beleza…

enfim,

espaços com potencial urbanístico e paisagístico elevados tornados meros locais

de

passagem

e

não

retenção, diria até verdadeiros espaços imperceptíveis, sem carácter.

de

Outro aspecto prejudicial a esta nossa freguesia está relacionado com

os núcleos ou aglomerados habitacionais. Pessoalmente

núcleos

que,

de

identifico certa

seis

forma,

estruturaram o espaço em estudo.

Poder-se-iam considerar mais,

no entanto, e devido à complexidade das

malhas

que

os

formam,

considerei-os como o resultado de

uma expansão não planeada, mas necessária (tanto por parte das freguesias fronteiriças como por parte de Guifões).

Por outro lado, esta divisão torna-se forte quando confrontada com um

pequeno estudo de vias estruturantes, traçadas através de uma planta com os espaços construídos, onde toda a restante informação foi ignorada. Aqui os quarteirões são marcados

pelas vias e, de certa forma desenham uma forma semelhante à da imagem

anterior onde divido o nosso terreno em vários núcleos.

Nesta imagem, é ainda notória e,

de certa forma reforçada a ideia de Mafalda Almeida Macedo | 22140

3


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

“espaço de passagem” uma vez que os eixos que agregam maior número de

edificabilidade correspondem a ligações entre outras freguesias, indústrias, etc, e os restantes têm uma estrutura e desenho confusos, talvez até labirínticos.

Uma outra conclusão que se pode obter deste espaço está relacionada

com o seu espaço vazio, sobrante, verde, ou como lhe queiramos chamar neste momento.

Consciente do efeito devastador que um

estudo como o que se segue poderia ter para o desenvolvimento de uma futura proposta, e até mesmo no seguimento dos estudos e conclusões

anteriores (e abstraindo-me propositadamente

de todas as indicações topográficas), surge

então um terceiro estudo, onde apenas está marcado o espaço sobrante entre as edificações, e a mancha construída.

Em termos paisagísticos poderia considerar a área ideal para intervir,

criando todo o tipo de espaços verdes, caminhos pedonais, ciclovias, etc, e tirando partido de outros conceitos paisagísticos.

Urbanisticamente, todo este espaço sobrante tornou-se o maior motivo,

ou a maior justificação para o facto de esta freguesia, apesar de

geograficamente bem localizada e ser um potencial centro importante, não

passar de um espaço de passagem, muitas vezes sem reconhecimento por parte de quem o atravessa e habita.

Feita esta leitura através do espaço construído, é altura de regressar à

realidade e confrontar estas conclusões, desprovidas de contextualização

urbana, com os outros elementos urbanísticos (como as vias existentes, os espaços verdes, vazios e agrícolas existentes, etc).

Mafalda Almeida Macedo | 22140

4


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Como é visível nas imagens anteriores, há elementos que se sobrepoem e

outros que ganham mais força, nomeadamente os espaços sobrantes que se sobrepõem às vias existentes; as vias desenhadas e as existentes, que se sobrepõem e, de certa forma competem umas com as outras; e os núcleos que se tornam mais explícitos.

Compilando estes três estudos obtemos uma imagem que, de certa

forma, representa o fim de uma tentativa de percepção deste “excerto urbano”.

Esta, embora confusa numa primeira abordagem,

dá-nos plena consciência de quais os eixos fundamentais de expansão (passada, presente e futura), quais os espaços de ligação e/ou ruptura, quais os usos de solo ou funções dos

espaços que estão em excesso ou em deficit, etc.

A partir desta percepção do terreno, e antes de iniciar uma estratégia,

parto para uma análise mais paisagística, uma vez que tanto urbanismo como paisagismo devem complementar-se e não competir pelo mesmo espaço. Desta

forma,

identifiquei

as

áreas

de

potencial paisagístico (como se verifica na imagem ao lado) criando uma mancha que, organicamente

percorre quase todos os espaços verdes do terreno,

criando novos eixos fundamentais paisagisticamente e reforçando outros já considerados relativamente à vertente urbanística.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

5


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Uma

das

paisagística

características passa

pela

de

uma

definição

visão de

espaços/corredores verdes destinados a usos diários e semanais, normalmente associados à

ideia de um eixo que funcione como corredor

cénico e que, para além de permeabilizar uma área também proporcione bem-estar ao peão, ao automóvel ou transporte público (indivíduo(s) que o utilizem como meio de transporte).

Desta forma, e segundo a imagem que

se segue, são criadas três áreas: uma de lazer diário (a laranja), uma de lazer

semanal (a lilás) e uma terceira de lazer ocasional

(a

bordeaux).

Estas

estão

relacionadas e interligadas por eixos/vias

marcados também a laranja (alguns destes coincidentes com eixos já falados anteriormente nesta memória). Inicialmente

verificado

em

termos

urbanísticos,

seguidamente

confirmado a nível paisagístico, conclui-se que a freguesia de Guifões é uma

freguesia cujo “espaço verde” (sendo este composto por espaços expectantes, agrícolas, jardins públicos, entre outros) é o elemento predominante e gerador desta desarmonia de usos, funções e ligações existentes no território. Outros

elementos

conflituosos

estão

presentes

nesta

área,

nomeadamente uma Auto-estrada que aparentemente quebra toda e qualquer

tentativa de relação entre as malhas que divide; ou a linha do metro que se apoderou de alguns dos eixos de crescimento mais antigos.

No entanto julgo que não possuem o mesmo carácter prioritário que os

espaços sobrantes adquiriram.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

6


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Justifico esta minha afirmação baseada num estudo já mencionado

neste texto, onde procuro as vias ou eixos de crescimento mais importantes.

Como se pode ver, a área ocupada pela auto-estrada correspondia a um

espaço sobrante. Embora corresponda a uma área já destinada à construção

de uma via rápida, o afastamento da linguagem dos quarteirões que a rodeiam é mais forte do que a própria presença da Auto-estrada. Esta aparece então

como a materialização de uma barreira já existente e não como o

aparecimento de uma barreira de crescimento com a força que aparenta ter. Arriscaria até em colocar esta “barreira” no mesmo patamar que um rio ou uma linha de água.

A linha do metro, como se pode verificar também, não é influente na

resolução da malha urbana pois apenas se aproveita de um eixo já estruturado e implementado ao invés de criar um novo e, provavelmente dispersar mais este aglomerado (que, com todos estes espaços vazios, já é bastante disperso), já para não falar que é uma barreira transponível como as vias, os jardins, as hortas, etc.

Já os espaços não construídos, mesmo num estudo direccionado apenas

para vias sobressaem de forma bastante negativa. Mafalda Almeida Macedo | 22140

7


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Feitas estas duas análises (pelo âmbito urbanístico e pelo âmbito

paisagístico) surge então a ideia de consolidar a malha urbana sem ferir

alguns dos aspectos que lhe dão identidade (nomeadamente o uso agrícola que esta possui), dando-lhe assim um carácter próximo ao de uma “cidade jardim/horta”.

Esta ideia consiste no aproveitamento dos usos do solo predominantes

(agricultura e edificação) de forma a criar um conjunto de espaços, percursos

e equipamentos que, na sua relação com a envolvente já consolidada, se

tornem espaços de retenção e de utilização e que criem uma imagem mais agradável da freguesia.

Embora seja um conceito embrionário, que aparentemente dá mais

ênfase ao âmbito paisagístico, é na realidade a procura de uma nova forma ou desenho urbano, preocupado não só com questões de consolidação viária e edificada, mas também com questões actuais como a sustentabilidade da mesma, as suas necessidades, a sua “identidade própria”, etc.

Deste modo, surge a estratégia para a requalificação da Freguesia que

consistirá na procura de uma nova linguagem de lote e quarteirão onde a importância dos elementos que o definem se inverte, ou seja, o espaço verde

(respeitando o uso que já possui) é dominante, o edificado, se existir, ocupará

uma parcela muito reduzida do lote (o equivalente ao espaço de logradouro

existente nos lotes comuns), a rede viária será substituída por pequenos

percursos pedonais que, para além de servirem de acesso aos respectivos lotes, fazem também a divisão dos mesmos.

Nas vias de maior importância, mas ainda não consolidadas (definidas

com a sobreposição dos estudo viário com o existente), o lote comum será

utilizado, por uma questão de coerência e impacto visual, não fazendo de todo sentido criar excepções nessas áreas, já que a intenção é reduzir e

suavizar o parcelamento existente e interligar da forma mais harmoniosa possível as vias.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

8


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Já nas vias secundárias de grande importância, nomeadamente a via

recente que atravessa e reforça a divisão da freguesia em duas zonas (o centro urbano e o centro industrial) e que se tornou um eixo com grande

potencial paisagístico, pois está ladeada por espaços agrícolas e expectantes e

conduz a uma das áreas que considerei como sendo de “uso/lazer semanal”, a nova linguagem que procuro ganhará aí alguma força.

Este eixo, para além da ligação com essa área, procura de certa forma

relacionar-se com outras áreas pois permite o atravessamento para elas (através de outros eixos que a cruzam e que ela mesma cruza).

Assim, a ideia de criar quarteirões cujo espaço construído corresponda

ao uso de uma determinada área (para fins agrícolas, hortícolas, educativos, etc.), e em que a habitação, quando existente na margem, se volte de costas para a rua (reforçando a ideia de que o espaço principal é o verde, e os

edifícios são meros auxiliares para marcar o traçado do (provavelmente) único

percurso viário existente), pertence a uma tentativa de resposta para consolidar uma área urbanisticamente expectante e paisagisticamente

potenciadora de percursos e corredores cénicos que se relacionam com outras áreas permeáveis a cidade/território, como é visível na imagem seguinte.

Nesta imagem, bem como nesta fase, os espaços marcados como destinados a edificação não correspondem à forma e tipologia que irão ter, são meramente Mafalda Almeida Macedo | 22140

9


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

pontos que julguei serem importantes para marcar e redefinir a hierarquia viária.

É de salientar também o carácter semi-público de todos os espaços

marcados a laranja. Embora espaços abertos e de uso agrícola, podem ser

percorridos pelo peão e alguns até poderão ser utilizados pelo mesmo (espaços esses que ainda irei definir).

Em relação à zona sudoeste da nossa área (marcada a lilás), devido à

existência de uma pequena lagoa e de uma bolsa verde, e como esquematizado na imagem acima, haverá uma tentativa de reforçar a ligação

existente para com o centro de forma a criar um pequeno parque (de uso semanal ou ocasional) e proporcionar um percurso mais agradável e consolidado de saída/entrada no centro de Guifões.

“A cidade é feita de coisas urbanas e o urbanismo está indissociavelmente relacionado com o existente.” Sola Morales in de Cosas Urbanas

Nós (cidadãos) temos um papel importante na cidade uma vez que cada

um adapta a cidade às suas necessidades, fazendo com que esta se transforme num “sem número de cidades” sem deixar de ser uma só. Esta nossa

apropriação e interpretação pessoal da cidade é muito semelhante à apropriação que nós, como futuros urbanistas, procuramos fazer quando traçamos algo na malha de uma cidade.

A parte que se segue corresponde à aproximação à escala 1/2000 e à

explicação da proposta para a requalificação da área já mencionada.

Como se pôde verificar, Guifões é uma freguesia meramente de

passagem, a qual pouco aproveita as suas potencialidades deixando uma vasta mancha de vazios desaproveitados e mal desenhados.

O “espaço verde” é o elemento predominante e, aparentemente,

gerador desta desarmonia de usos, funções e ligações existentes no território.

Já os núcleos urbanos são resultado de uma expansão não planeada, talvez Mafalda Almeida Macedo | 22140

10


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

fruto da industrialização que a circunda e os eixos que agregam maior número de

edificabilidade

correspondem

a

ligações

entre

indústrias, etc e não a zonas importantes do seu território.

outras

freguesias,

Como tal surgiu a ideia de consolidar a malha urbana sem ferir os

elementos que lhe conferem identidade (espaço verde de carácter

maioritariamente agrícola e edificado e a sua relação com as vias), mas recriando-os e dando-lhes uma nova identidade.

O aproveitamento dos usos do solo predominantes de forma a criar um

conjunto de espaços, percursos e equipamentos com poder de retenção e utilização,

que

agregassem

núcleos,

redefinissem

ou

reforçassem os

quarteirões e fossem capazes de criar uma imagem mais agradável da freguesia, é a ideia de maior força neste projecto.

Para que tal fosse concretizável,

e numa primeira fase, procurei definir linhas de força através de espaços

edificados. Verifiquei que no existente havia

organização

alguns

quarteirões

demonstrava

cuja

potenciais

eixos reguladores e estruturantes para a proposta. Numa segunda fase, e como

tentativa de reforçar o carácter minoritário que atribuí à auto-

-estrada, houve a necessidade de

tentar agrega-la aos quarteirões, surgindo então a necessidade de criar mais ligações entre as partes que esta divide.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

11


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Paralelamente, e em conjunto com a cadeira de P.I.U. (Projecto de

Intervenção Urbanística), na cadeira de Arquitectura Paisagista, desenvolvia o mesmo projecto, resolvendo problemáticas relacionadas com o espaço verde.

“A cobertura vegetal na cidade é um dos elementos de composição da estrutura urbana e não uma mera consequência do planeamento urbano pois esta possui funções como amenidade ambiental, suporte de recreio e lazer e até como

componente da própria morfologia urbana. Por esse motivo exige uma perspectiva de intervenção que potencie as suas funções no tecido urbano e uma intervenção que

passe pelo reconhecimento e valorização das múltiplas tipologias de verde presentes no meio urbano.”

Helena Madureira em Dissertação de Mestrado em Planeamento

e Projecto do Ambiente Urbano

Nesta perspectiva, surge a necessidade de valorizar os espaços até

então de uso maioritariamente agrícola, criando percursos e corredores onde

o verde estivesse sempre em contacto directo com o peão, o ciclista, ou mesmo o automobilista.

Desta forma, e respeitando o conceito que veio a acompanhar-me este

semestre, deveria ser criada uma nova tipologia de quarteirão onde o verde

predominasse sobre o edificado e onde as linhas de água, sempre que possível, invadissem o mesmo, criando assim vários momentos dispersos, mas

ao mesmo tempo relacionados que nos conduzissem ao longo do lote, do edifício, do quarteirão, da via... em suma, de toda a área.

Com estas premissas, a primeira aproximação à escala 1/2000 na

cadeira

de

Paisagismo

resultou

na

selecção

de

algumas

consequentemente percursos de potencial interesse paisagístico.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

áreas

e

12


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Uma vez desenvolvidas em conjunto, as propostas para cada uma das

disciplinas foram fundidas e procurei dar uma resposta equilibrada aos

princípios que defini, tanto em Paisagismo como P.I.U., criando quarteirões marcados por tipologias edificadas cujo interior possuía um misto de tipologias verdes e urbanas.

Assim surge a proposta que venho por este meio apresentar e justificar,

composta por linhas de edificado que marcam os percursos mais importantes do território, percursos pedonais e espaços de retenção acompanhados ou compostos por pequenos jardins e hortas, etc.

De uma forma geral a proposta surge da continuidade das linhas de

força já marcadas criando uma imagem que se vai repetindo e vai marcando

percursos importantes no território, percursos estes que se relacionam e que, de certa forma, desencadeiam outros, os rematam e os escondem.

Para melhor explicar esses percursos e como se relacionam no todo,

não há melhor forma que amplia-los individualmente, sob a forma de núcleos e apresenta-los consoante a ordem e lógica em que foram pensados.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

13


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Assim, começo por falar dos dois eixos centrais de Guifões.

Falo da via que vem da zona florestal e acompanha toda a área verde e

da linha criada pelos edifícios multifamiliares. Em todas as análises efectuadas, estas duas vias ganharam uma importância extremamente

elevada, sendo a primeira uma via com carácter mais paisagístico que funcionaria como corredor verde e a segunda com um carácter mais urbano. Tanto uma como outra

possuíam forças próprias e distintas e a única forma de as

relacionar

seria

um

elemento neutro, cuja função seria

rematar

uma

via

e

anunciar a outra, e vice-

versa. Deste modo interrompi a

linha

de

edificado

no

momento em que estas duas

se cruzavam, criando assim

um espaço de retenção com características de praça. Para

reforçar

houve

a

necessidade

(nome

dado ao

este

momento retentor de forças,

de

reforçar o eixo paisagístico eixo

que

relaciona o espaço verde com

o espaço urbanizado) e este reforço foi dado com uma pequena linha de edificado com a mesma linguagem do que existe no eixo urbano. Desta forma para além de marcar limites visuais a quem percorre a via paisagística,

também consegui relacionar as duas vias e a praça, tornando-as um só elemento e não a junção de três.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

14


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Neste momento, e após a leitura do texto “Ciudades Cortadas” de Sola

Morales onde se fala que “ (…) as auto-estradas entram nas cidades e cortam-

-nas de fora para dentro deixando-nos imaginar como se podem encadear as partes distintas que criam. É essa representação da relação entre partes

distintas que identifica e caracteriza a cidade, bem como a comparação das duas diferenças pois tanto os monumentos como os traços ordenadas de uma

cidade, se vistos sozinhos não lhe conferem identidade, não fazem cidade. (…)”, e visto que junto a este espaço se encontra uma auto-estrada, surge a

ideia de relacionar este espaço de retenção com a outra margem da referida

via rápida, criando assim uma relação entre margens, um remate visual na praça e, talvez, devolver a identidade que aquela via, devido ao seu tamanho e função, retiraram ao território.

Seguidamente, e após a leitura de uma tese de mestrado da autoria de

Helena Madureira, para além de aprofundar o conceito de continnum

naturale, a ideia de que “ A paisagem envolvente deve penetrar na cidade de

modo tentacular e contínuo, assumindo diversas formas e funções que vão

desde o espaço de lazer e recreio ao de enquadramento de infra-estruturas e edifícios, aos espaços de elevada produção de frescos agrícolas e à protecção e integração

de linhas ou cursos de água com seus leitos de

cheia e cabeceiras” (MAGALHÃES et al., 1992: 11)

tornou-se o ponto charneira para a resolução do problema de integração da componente

urbana e paisagística em algumas zonas, como por exemplo a área que irei explicar em seguida.

Trata-se

da

zona

que

lavadouro até à frente de rio.

vai

desde

o

Aqui a ideia seria trazer a linha de água à

superfície e fazer um conjunto de percursos

Mafalda Almeida Macedo | 22140

15


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

verdes com tipologia jardim e agrícola que a acompanhavam e rematavam num espaço amplo de retenção com carácter de jardim público.

Este espaço seria marcado por uma linha de edificado unifamiliar de

forma a marcar o quarteirão e a proteger a zona hortícola das agressões

oriundas das vias. Desta forma a já mencionada ideia de criação de uma nova

linguagem de quarteirão onde o verde prevalecesse sobre o edificado dá os primeiros passos, e o espaço verde penetra na cidade tentando tornar-se um elemento urbano e não meramente paisagístico.

Seguindo a orientação deste quarteirão, e dirigindo-me a sul, encontra-se

outro ponto de cruzamento de linhas já marcadas com potencial paisagístico e urbanístico, sendo que agora há o acréscimo deste conjunto de percursos e novos usos que dei a um dos quarteirões charneira.

Mais uma vez, foi em dois conceitos

abordados na tese de Helena Madureira que encontrei a forma de relacionar verde e urbano

sem

que

estes

fosse

vividos

e

interpretados como elementos independentes.

Na sua tese, Helena defende que “ (…) a

contribuição do «verde» para a forma urbana é

estabelecida

através

de

duas

principais

dimensões: os espaços percebidos e os espaços não

percebidos. (…)” sendo um exemplo de espaços

não percebidos aqueles que se encontram

escondidos no interior dos quarteirões, e

funcionam “como espaço de descompressão e arejamento do tecido construído, potenciando o

contraste entre volumes e vazios, e podendo

inclusivamente constituir um elemento de

conformação dos modelos de urbanização. Já o

verde percebido é “ aquele usado, visto e sentido, é

Mafalda Almeida Macedo | 22140

16


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

fundamentalmente composto pelos jardins e parques públicos e pelas ruas

arborizadas.”

Desta forma, utilizando estes conceitos de verde percebido e verde não

percebido, e usufruindo das linhas de força edificadas, constituídas por edifícios multifamiliares, procurei rematar e criar quarteirões cujo interior

encobrisse as diversas tipologias de verde e ao mesmo tempo as exibisse por

entre os vazios existentes entre cada edifício. Da mesma forma, os percursos criados no seu interior relacionavam-se com os quarteirões vizinhos criando percursos variados que tanto levavam à margem do rio, como à zona mais a

sul do território, ao novo centro marcado pela grande praça dobre a autoestrada e até à outra margem da mesma.

Uma vez que ao longo de todo o projecto fui utilizando a linha de

edifícios multifamiliares como elemento que marcaria um percurso ao longo de todo o território, e a ideia de relacionar as duas margens da auto-estrada não era suficientemente sustentada pela praça criada sobre esta, havia que

procurar, por meio de linhas edificadas, criar eixos que relacionassem as duas partes.

Deste modo crio duas ligações

viárias, uma a norte onde termina a

linha de força proposta, e uma outra a sul onde começa a linha de edificado

que deu origem à já falada linha de força.

No

seguimento

acompanhando

alguns

destas,

e

edifícios

multifamiliares já existentes, procurei

que a imagem já tao característica da outra margem se relacionasse com esta zona assumindo um papel integrante das malhas.

Da junção e relação destes pequenos núcleos surge então a proposta já

apresentada.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

17


Universidade Fernando Pessoa| Projecto de Intervenção Urbanística I| Arquitectura Paisagista Memória Descritiva

Esta, como demonstrado na análise do território, era uma zona periférica

e de passagem que não possuía elementos de retenção nem uma organização espacial atractiva.

O facto de se encontrar numa zona central a nível de serviços e acessos e

de possuir uma grande capacidade hortícola, fez com que esta minha proposta

de intervenção assentasse na introdução de edifícios de uso residencial uni e multifamiliar e de tipologias de verde hortícola e jardim, ao invés de introduzir equipamentos de uso colectivo como hotéis, shoppings, etc.

Assim, trazendo mais habitação também trarei mais movimento, e o

facto de haver pequenas hortas e espaços verdes, de uso e lazer público e privado, tornará esta freguesia mais interessante.

Mafalda Almeida Macedo | 22140

18


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.