Cuíca de Santo Amaro

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Edilene Matos

Cuíca

de Santo Amaro o boquirroto de megafone e cartola

DIREÇÃO

Waly Salomão

(in memoriam)

Maria Vitória de Seixas Caldas


© do texto, 2004 by Edilene Dias Matos © direção da coleção, 2002 by Waly Salomão & Maria Vitória de Seixas Caldas Direitos de edição adquiridos por MANATI PRODUÇÕES EDITORIAIS LTDA. Telefax: (21) 2512-4810, 2274-2942 manati@uninet.com.br www.manati.com.br É terminantemente proibida a reprodução do texto e/ou das ilustrações desta obra, em parte ou no todo, para qualquer fim, sem autorização expressa e por escrito da editora. Pesquisa: Edilene Matos Revisão tipográfica: Tereza da Rocha Projeto gráfico: Silvia Negreiros

Patrocínio

Chesf Agradecimentos Rodolpho Tourinho e Hélio Vitor Ramos Magnesita S. A. e Renato Travassos

A transcrição dos versos de Cuíca de Santo Amaro foi feita diretamente dos folhetos impressos, tendo sido mantida a grafia original. Os desenhos e vinhetas utilizados neste livro foram reproduzidos de folhetos de cordel do arquivo particular da autora, sendo a maior parte deles de autoria de Sinézio Alves. Todos os esforços foram envidados no sentido de obter as autorizações para a utilização das fotografias e imagens desta obra. Se porventura ocorrer alguma omissão quanto a créditos, os direitos encontram-se reservados aos seus titulares e, com a devida comprovação, à disposicão nesta editora.


À memória de Dona Maria do Carmo Sampaio, que muito me contou sobre o seu “Zeca”

Para Sinézio Alves, com carinho Para Fernando, motivo constante de inspiração Para Pedro, meu neto baiano, filho de Oxossi e Oxalá


CIP–BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M381c Matos, Edilene, 1951Cuíca de Santo Amaro : o boquirroto de megafone e cartola / Edilene Matos. – Rio de Janeiro : Manati, 2004 136p. : il. – (Bahia com h ; 4)

Inclui bibliografia ISBN 85-86218-31-6 1. Cuíca de Santo Amaro, 1909-1964 – Biografia. 2. Poetas brasileiros – Biografia. 3. Literatura de cordel brasileira. I. Título. II. Série.

04-0529.

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CDD 928.699 CDU 929 Cuíca


CUÍCA DE SANTO AMARO O BOQUIRROTO DE MEGAFONE E CARTOLA

Soneto

RETRATO DE JOSÉ GOMES, O CUÍCA DE SANTO AMARO* Silva Dultra

Na cara alegre, os óculos escuros, uma flor na lapela, o fraque usado com grande gola rubra em cada lado e a calça de xadrez com certos furos. E no chapéu-de-coco, em gestos puros, a pena de pavão que o deixa ornado. A sátira na Rampa do Mercado, com cartazes pregados pelos muros. No Elevador Lacerda, o fraque preto, chega da Feira de Água de Meninos, onde o Cuíca vende o seu folheto. Fazendo o povo rir o tempo inteiro, contava nos seus versos bem ferinos o que a cigana disse ao Brigadeiro.

*

Este soneto foi escrito pelo poeta-sonetista Silva Dultra e dedicado à autora deste livro.

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CUÍCA DE SANTO AMARO O BOQUIRROTO DE MEGAFONE E CARTOLA

Sumário Ô ABRE ALAS... 11 INTRODUÇÃO 13 1

LÁ VEM ELE, O TAL, CUÍCA DE SANTO AMARO 18 MITOLÓGICA FIGURA 29 O MEGAFONE DE CARTOLINA E A PALAVRA VIVA 37

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O MOTE GLOSADO EM SÁTIRA: POETA DE CORDEL 44 DESENHOS E GRAVURAS: ILUSTRAÇÕES DO RISO 62 QUESTÕES DE AUTORIA 68

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MIL FOLHETOS PARA CANTAR 76 CONTRACAPAS 109

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CUÍCA NA BOCA DO MUNDO: A SAUDAÇÃO DOS CULTURAIS 118 ENTROU POR UMA PORTA, SAIU POR OUTRA / O REI MEU SENHOR QUE ME CONTE OUTRA 125 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131 9


CuĂ­ca de Santo Amaro. Foto de Pier re Verger publicada na revista O Cruzeiro, 1946.

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CUÍCA DE SANTO AMARO O BOQUIRROTO DE MEGAFONE E CARTOLA

Ô abre alas... Yo soy el poeta ambulante Com mis versos aventurando, Soy, en los pueblos que ando, Prudente, honrado y constante. Lisandro Arancibia (Hoja nº 2, Colección Lenz, Imp. De La Igualdad, Chillán)

D

ia quente e de brisa morna, típico do verão na Bahia: 23 de janeiro de 1964. Hoje não houve confusão no Mercado de Santa Bárbara, mas sobrou pelo menos uma flor em cada barraca. As floristas recolheram cedo seus escancarados sorrisos, com a certeza de que não voltariam mais a ouvir os habituais elogios safados aos requebros sensuais de seus corpos. As normalistas não mais levariam beliscões das madrinhas, quando, entre tímidas e curiosas, parassem na Praça Cayru ou em frente ao Elevador Lacerda para ouvir a narração de folhetos de temas “picantes”, em sextilhas ferinas e maledicentes, escritas em linguagem ambivalente. Os soldados teriam menos trabalho e poderiam se dar ao luxo de contemplar demoradamente os indecentes cartazes dos filmes do Jandaia, ou tomar com preguiçosa lentidão os refrescos de laranja e maracujá do Bar e Café Astúrias, certos de que agora usariam seus cassetetes apenas como bastões de brincantes.

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