Diário da montanha

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R o s e a n a M u r ray

Diรกrio da Montanha


© do texto, 2012 by Roseana Murray Direitos de edição adquiridos por Manati Produções Editoriais Ltda. Rua da Quitanda, 30, sala 711, Centro CEP 20011-030, Rio de Janeiro, RJ Telefax: (21) 2512-4810, 2274-2942 manati@uninet.com.br / www.manati.com.br É terminantemente proibida a reprodução do texto e/ou das ilustrações desta obra, em parte ou no todo, para qualquer fim, sem autorização expressa e por escrito da editora. Revisão de originais: Hebe Coimbra Revisão tipográfica: Sheila Til Projeto gráfico: Silvia Negreiros Ilustração: Nadhine Arvia

Obra impressa conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

M962d Murray, Roseana, 1950 Diário da montanha / Roseana Murray. - Rio de Janeiro : Manati, 2012. 88p.

ISBN 978-85-86218-90-3

1. Poesia brasileira. I. Título. II. Série.

12-1898.

CDD 869.91 CDU 821.134.3(81)-1


Para Bia, que também é árvore.



S umário O silêncio e a troca • 11 Trajetórias • 15

Princípio • 38

Avalanche • 58

Pequena casa • 16

Estilo • 39

A chuva • 18

Pele • 40

André na cozinha da floresta • 60

Borboletas • 19

Café • 41

Dani Keiko na cozinha da floresta • 61

Um amigo • 20

Juan • 42

Primeiro fio • 62

Luz • 22

A estranha • 43

Redemoinho • 63

Vento • 23

Música • 44

Maritacas • 64

Tucanos • 24

Dentro da noite • 45

Orquestra • 25

Tempestade • 46

O mundo • 26

Acalanto • 47

O sol • 28

Para escrever • 48

De longe • 29

Quietude • 49

Muitos dias • 30

Limões • 50

Agradecimento • 31

Copos-de-leite • 51

Nas costas • 32

Delírios • 52

As horas • 33

Raiz • 54

Mãos e pés • 34

Antecipação • 55

Horizonte • 36

Nascimento 56

Milagres • 78

Entrelinhas • 37

Primavera • 57

Arco-íris • 80

Hora sagrada • 65 Moldura • 66 Agapantos • 68 Existência • 69 Os primeiros • 70 Bastam seis • 71 Mala aberta • 72 Navegável • 74 Fim de tarde • 75 Hortênsias • 76 Mandala • 77



O silêncio e a troca

Algumas experiências em nossas vidas precisam de nosso

mais puro silêncio, da nossa solidão mais visceral, de uma simples e ao mesmo tempo difícil capacidade de simplesmente ser para se realizarem. Essas são experiências cada vez mais raras, pois pressupõem uma plenitude e uma ampliação de consciên­cia antagônicas à ideia da falta. Da falta real ou inventada que sentimos ou acreditamos sentir. Da falta que nos prende ao passado ou nos projeta ansiosamente a um futuro, eliminando, assim, nosso único campo possível de ação e realização pessoal: o aqui e agora. E é justamente dessas experiências centradas no silêncio e na solidão que se alimentam os poetas, os filósofos, os seres humanos conscientes, as pessoas que escolhem, a cada dia, simplesmente ser. Para elas, há que se encontrar um lugar no tempo e no espaço, no aqui e no agora. Um lugar de silêncio, onde a consciência e a sensibilidade possam firmar raízes. Para Roseana Murray, uma das grandes poetas contemporâneas, esse lugar é uma casinha no alto de uma montanha. Lá, onde ela é capaz de passar imensos períodos vivendo sozinha, desconectada dos meios de comunicação e da tecnologia, estão as raízes de sua poesia mais sutil e profunda.

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E é essa poesia que cresce, se espalha e busca o leitor como uma planta que busca o sol neste Diário da montanha, pois outras experiências em nossas vidas parecem só se concretizar de fato quando há uma troca, quando conseguimos compartilhá-las. Compartilhar o sentimento, a emoção, a percepção e a poesia do mundo é também um ímpeto inato ao ser humano — esse ser gregário que constrói famílias, tribos, sociedades e civilizações sustentadas pela sua capacidade de criar e usar símbolos, palavras e linguagens. Assim, a poesia que brota das vivências mais solitárias de Roseana é, curiosamente, aquilo que a aproxima dos outros seres humanos. Com as palavras, ela cria símbolos e uma linguagem tão fortes que atravessam o papel e as diferenças individuais para atingir a consciência e a sensibilidade coletivas. Lemos seus versos livres ouvindo nossa própria voz e nosso próprio silêncio. Que este Diário da montanha encontre um caminho fecundo para fincar raízes e crescer nos mais lindos silêncio e solidão que você seja capaz de experimentar!

Bia Hetzel fevereiro de 2012

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Poesia é uma fagulha presa num pedaço de vidro. Amóz Oz (in Não diga noite)



T

rajetórias É frágil a trajetória dos pássaros: caminham sobre a superfície das suas notas musicais, voam nos intervalos do tempo. Com suas asas constroem castelos e casulos de sonho para que nós, rastejantes humanos, possamos respirar. 0 4 .03. 2 0 1 1

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