Literatas Sai às Terças-feiras
Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista à um amigo
O Veneno de Sócrates pg. 8
Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director Editorial: Eduardo Quive * Maputo * 12 de Julho de 2011 * Ano 01 * Nº 01 * E-Mail: kuphaluxa@gmail.com
S h owe s i a n a Colômbia e B ra s i l
Joana Ruas revela os mistérios das“Crónicas Timorenses” pg. 3
No Discurso Directo , Lília Momplé Diz
“Vivemos uma sociedade de negócios o ´Busness Society´, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento.”
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Tánia Tomé: Leva Showesia à Colômbia e Brasil
A cantora e poetisa Tânia Tomé volta a levar a Bandeira de Moçambique para fora do país. Desta vez, levou com sigo o showesia, que é uma forma criativa de dizer a poesia, ao Festival de Medellin XXI entre os dias 1 e 9 Julho, na Colômbia. O festival, é considerado um dos maiores eventos de poesia no mundo, com mais de 170 mil pessoas a aderir anualmente. No Medellin, vários músicos consagrados, nóbeis de literatura, actores mundiais já desfilaram, dando a imagem de grandeza. A moçambicana Tânia Tomé, foi convidada como cantora e poetisa, levando seus temas inéditos de música como Estoy Enamorada, Amar é bom, que irá cantar em acústico com seus dedos ao piano. Nas suas actuações n este festival, a artista, terá o palco compartilhado com a cantora Chiwoniso Maraire do Zimbabwe, Madosini Latozi Mpahleni cantora tradicional, e do cantor Pedro Espia - Sanchis do South África - Spain. Tânia também apresentou poesia ao lado de outros poetas, entre os quais se destacou-se a presença da actriz do filme “Hotel Ruanda” sobejamente conhecido, o prémio Nobel de literatura 1994, Derek Walcott, entre outros
vários poetas, que ultrapassam os 160, provenientes de vários destinos do mundo. Depois desta participação, a artista moçambicana internacional ruma ao Brasil, onde juntamente com vários artistas, será homenageada no Teatro do Sesi no Rio de Janeiro. A história, conta que no rol destas homenagens e nesta sala, artistas conceituados, passearam a sua classe, como Adriana calcanhoto, augusto Martins, Gilberto Gil, Maria entre outros. Os eventos na terra do samba, terão lugar nos dias 14 e 15 deste mês, com a declamação de poemas do seu mais recente livro, para além de uma sessão de música acústica, cantando vários temas inéditos do seu álbum, acompanhada dos seus dedos ao piano. Já na Kitabu, Livraria Nandyala, onde foi recentemente lançado o livro sobre Fela Kuti, da autoria de Carlos Moore e prefaciado por Glberto GIL, músico e ministro brasileiro. Tânia prepara seu mais recente álbum de música e irá, ainda estar com músico moçambicano Guilherme Silva, a radicado no Brasil e outros músicos como Grecco Buratto e Fernando, com os quais, estabeleceu contacto recentemente, para estudar a possibilidade de gravar alguns temas de música. Refira-se que a dias, Tânia Tomé lançou sua música e vídeo mais recente intitulada Cimbalaia.
Biografia Tânia Tomé, de 29 anos e de Moçambique é cantora, compositora, actriz, poetisa, declamadora e apresentadora de espectáculos e televisão. Conta já com vários prémios internacionais entre os quais se destacam prémio académico da Fundação Mário Soares, Prémio Festival da Canção, Porto, Portugal, Prémio Soundcity Music Award (África),
Prémio de música da Organização mundial de Saúde, Premio de Poesia Millenium Bim, no seu desempenho literário e musical. Licenciada em Economia, e Pós – graduada em Auditoria e Controlo Gestão. Tânia Tome produziu e realizou o primeiro DVD de poesia em Moçambique. Criou e fundou o conceito e movimento denominado Showesia – espectáculo de poesia É presidente da Associação Showesia com objectivos culturais e de carácter sócio-humanitário e directora do Festival internacional showesia. Lançou em Maio de 2010 em Moçambique seu livro de poesia “Agarra-me o Sol por trás” que é uma das referências bibliográficas da Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Finais de 2010 a editora brasileira escrituras lançou o livro “Agarra-me o Sol por tras, outros escritos e melodias” com prefácio do Brasileiro Floriano Martins e pintura de Eduardo Eloy. O livro foi seleccionado para o prémio Portugal telecom 2011 no Brasil. Faz parte da Antologia World Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas do mundo oriundos de 100 países do mundo), representando Moçambique e os Palop , e faz parte da Antologia THE BILINGUAL ANTHOLOGY ON AFRICAN POETRY EM CHINES, lançada em Shangai, China. Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado do Mia Couto e Calane da Silva. É membro da Associação dos escritores Moçambicanos, da Associação dos músicos moçambicanos, da Associação dos Poetas del mundo e membro correspondente da Academia Rio-Grandina de Letras do Brasil
Página oficial: www.taniatome.com
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em primeira
“Crónicas Timorenses” Joana Ruas – Lisboa
Crónicas Timorenses — estas crónicas abrangem um período que vai de 1910 a 1965.Dada a interferência no território de vários protagonismos quer antes quer depois da 2ª Guerra Mundial, a autora deu à
progressão dessa realidade complexa a forma de contos por se basearem em documentação escrita e oral. São estas as crónicas: D. Manuel dos Remédios — breve
texto sobre o exílio e morte na serra de Lavater deste liberal timorense perseguido pelas autoridades militares e religiosas em 1878; O Cofre e a Espada — a autora desenvolve e aprofunda, a partir de personagens timorenses, a trama que leva à guerra de Manufahi quando em Portugal vigorava o novo regime — a República. A autora segue o desenrolar deste conflito baseando-se na obra do oficial da Armada, Jaime do Inso, intitulada Timor-1912 ;Folhas soltas no bosque — a acção deste conto que se baseia nas informações contidas no livro Funo-A Guerra em Timor de Carlos Cal Brandão, decorre no rescaldo da retirada nipónica de Timor, em Agosto de 1945; Funan-Mutin (Branca- Flor) — a chegada dos oficiais milicianos e suas esposas a Timor-Leste, as consequências do golpe contra Sukarno e também sobre os ventos de mudança que se anunciavam em Portugal e nas colónias.
Apresentação da obra pela autora Abordei este segundo volume da trilogia A Pedra e a Folha,
ainda antes de ter iniciado a investigação que me levaria ao primeiro volume, A Batalha das Lágrimas. Tinha entre mãos
as fontes escritas e tinha ainda as que me haviam sido fornecidas e que pertenciam à tradição oral. A análise desse material levou-me à conclusão de que uma vez concretizada a unificação administrativa do território, em finais do século XIX, este, embora tenha continuado a estar administrativamente dividido em reinos, esses reinos eram assim chamados formalmente pois os seus reis haviam deixado de ser vassalos do rei de Portugal, para serem apenas súbditos, não sendo os seus reinos nem já independentes nem mesmo autónomos. Apenas um, Manufhai, ousava ainda proclamar a sua independência face ao poder central. Constatei, pois, que a construção erguida durante séculos pela política de casados de Afonso de Albuquerque e mais tarde reforçada pela luta contra os Holandeses levada a cabo sobretudo pelos governadores pernambucanos, ruíra com as guerras de pacificação do território. Para um observador externo, a existência colectiva do povo timorense tinha sofrido uma descontinuidade, pois uma vez vencido na guerra de Manufhai, os episódios novos que viria a sofrer já não eram um prolongamento dos antigos. Perante estes novos dados da realidade, olhei para o material que tinha entre mãos. Fixar a história destes povos na sua longa e perigosa marcha é extremamente difícil. Uma das razões pode ser aduzida do facto da sua vida colectiva não possuir a característica ocidental da circularidade imutável em que mesmo com retrocessos se processa uma continuidade na vivência histórica. Na verdade, havia já factores de coesão que se viriam a manifestar na Resistência ao invasor indonésio e que paradoxalmente surgiu no território com uma corrente nacionalista que estava sintonizada com os nacionalistas indonésios liderados por Sukarno na sequência da invasão nipónica.
Em A Batalha das Lágrimas a intriga, de facto, perde-se na linearidade factual dos sucessivos episódios da guerra. A intriga perde-se porque estas histórias são histórias da resistência e dos vencidos e não as dos vencedores.
Nos vencidos, à excepção dos que possuem uma arte,
a arte da resistência que Dante, na Divina Comédia , define como a capacidade de resistência às adversidades e aos inimigos políticos, tudo se dissolve no inacabado porque a espoliação de que foram vítimas lhes rouba os fios da própria existência. Havia ainda que ponderar que na nossa cultura há uma oposição entre o oral e o escrito. Nas culturas orientais essa oposição não existe. Mesmo na cultura chinesa, a oposição que existe é entre o gesto e o discurso. Lembremos a Questão dos Ritos Chineses, essa controvérsia que se travou nos séculos XVII e XVIII, isto é de 1631 a 1743, quando se iniciava a evangelização da China. Assim, na medida em que a escrita muda a natureza da narrativa oral, pois pelo facto de passar para a forma escrita, o texto corta as amarras que o ligavam à oralidade, chamei-lhes crónicas e não contos . Crónicas no sentido dado às Crónicas Italianas de Stendhal, pela diversidade das fontes, escritas e orais e pela liberdade de invenção no tocante aos personagens mas não aos factos que se erguem sobre fundo histórico. Todas estas crónicas têm as suas fontes históricas assinaladas nas notas finais de cada uma delas. Entre as fontes portuguesas não se verifica já a dispersão das fontes e dos documentos que estão na base do
primeiro volume, A Batalha das Lágrimas. Ora esta concentração resulta da racionalidade imposta pela mudança de estatuto da colónia. Na documentação que esteve na base do 1º volume, à medida que li todos aqueles livros, relatórios militares, documentação avulsa e notícias dos jornais, os personagens foram-se-me impondo, quer porque os autores desses documentos os consideravam heróis nacionais, fossem portugueses, goeses ou timorenses, quer porque sendo gente obscura acedeu à História por infracção, isto é, as suas vidas cruzaram-se com o Poder, passando a fazer parte dessa pluralidade de vozes que se perdem no tempo, os infames como os descreveu Michel Foucault em La Vie des Hommes Infâmes : «Vidas breves, achadas a esmo em livros e documentos». Ora depois da pacificação do território como lhe chamou Celestino da Silva, tudo passou a ser diferente aos olhares dos observadores, militares e administrativos que relataram os acontecimentos havidos no século XX, em vésperas da 1ª Guerra Mundial: à excepção de D. Boaventura de Manufhai, não foi registado nome algum de timorense, todos passaram à categoria dos vastos e anónimos, fenómeno registado por Rilke e mais tarde por Canetti como os «sem nome». É minha convicção que o povo de Timor-Leste rasgou a noite de um longo sofrimento e de uma deriva histórica perigosa para a sua sobrevivência como povo até nos surpreender a todos nós Portugueses e ao mundo inteiro tornando-se a primeira nação do século XXI, Timor Loro Sae.A sua coragem, determinação e capacidade de sofrimento foram por assim dizer a minha veste de luz, e acolhi a inspiração que deles recebi nesses duros tempos de horror e de esperança. Indo a mais de meio do meu trabalho, apenas espero ter contribuído para a definitiva reconciliação da família timorense. Sobre tantos personagens colhidos aqui e ali apenas vos digo como Saint-Exupéry em O Principezinho :«Só se vê com o coração; o essencial é invisível aos olhos».
Biografia Joana Ruas nasceu em 1945 na Quinta do Pinheiro em
Freches, no distrito da Guarda. Por volta dos anos 50 do século XX , a sua família estabeleceu-se em Angola onde Joana Ruas viveu e estudou até aos quinze anos, idade em que, segundo o costume da burguesia colonial , regressou a Portugal para completar os seus estudos em Coimbra. A guerra colonial levou o seu ex-marido para Timor-Leste para onde Joana Ruas o acompanhou . Trabalhou como jornalista cultural e tradutora na Radiodifusão Portuguesa e no jornal Nô Pintcha da República da Guiné –Bissau. A convite de Natália Correia, traduziu prosa e poesia para diversas editoras. Participou na causa da Libertação do Povo de Timor-Leste, tendo feito várias conferências sobre a Língua Portuguesa em Timor –Leste, sua história e cultura. .Em 1975, o poeta Herberto Helder editou um poema seu e, desde então, consagrou-se à sua obra literária, tendo publicado romances, ensaios e poemas. Trabalha há anos na escrita de uma obra em três volumes (um romance, um livro de contos e uma novela), sobre cem anos de Resistência Timorense — de finais do século XIX até à Independência
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em poucas palavras / Poesia Que culpa temos nós?
Quero ser Ruth Boane - Tete
Mukurruza - Lichinga Gentil nossa alma, Nossa esperança, dores, mágoas, enfim, roubadas. Penúrias penduradas n’angústias Desfeitas de graças.
Quero ser uma estrela para o teu mundo iluminar Quero ser uma flor para o teu jardim embelezar.
Estas vaidades traduzidas nas danças de batuques marimba, enfim.
Oh! danças de ekuetthe danças desconhecidas! -Será que não lembram destas danças?
Quero ser o mar Para as tristezas comigo levar e as alegrias contigo deixar.
-Isto é mesmo que não lembrar do filho desta terra esquecida ah!
Que esperança falhada nesta terra de moldes, desfeita de estragar tijolos de adobe! Tristeza é a palavra que só se vos diz. Nestes gritos esquecidos; Gritos sem referentes, sem donos. Ah! que tristeza nos acolhe nestes abrigos sem reflexos! Que pena nos impedem de sonhar! Esperança desfeita de mistérios dos magnos xicuembos
Quero ser borboleta Quero borboleta ser Para um sorriso no rosto do teu jardim colocar. Quero ser poetisa para palavras de amor te dizer e seus ouvidos enlouquecer.
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Fazer Pedro Du Bois - Brasil Feito ao avesso: da cabeça aos pés transitam ordens desconexas o primeiro limite estabelece o siso o último rearranja as forças com que chuto as pedras desconheço a determinação da placa: disparo ao encontro do corpo contrário e o choque desintegra o mito da cordialidade.
Quero ser a rainha do teu coração e contigo para sempre ficar. Amo-te Sansão!
Quinta D´Poesia: em “Noite de Revelação” maputo - Nos habituais encontros das primeiras quintas-feiras de cada mês, o grupo cultural Nkaringana Arte, proporciona verdadeiros momentos de recitação de poesia de novas revelações na poesia moçambicana. Nesta quinta-feira, não se foge a regra, o evento como sempre, teve lugar no Café – Bar Gil Vicente em Maputo, a partir as 18 e 30, e contou com ilustres figuras de cartaz na arte de declamar, tocar, e desta vez, em especial, acompanhado de um debate sobre um grupo de poesia, denominado “Canto da Poesia”, idealizado pelo já conhecido jovem poeta, Rafael Iguane, para além da presença de Eduardo Quive, quem falarou da revista digital, Literatas, um palco onde convergem várias formas de “Dizer, fazer
e sentir a literatura” Os jovens Dudas Aled e Rãs Soto, dedilharam as guitarras acompanhando os recitais com a especial presença do grupo Nkaringana Poetry, Voka, Yacy Lurdes, Bimazonda. Nos habituais encontros das primeiras quintas-feiras de cada mês, o grupo cultural Nkaringana Arte, proporciona verdadeiros momentos de recitação de
poesia de novas revelações na poesia moçambicana (Literatas)
Escritora brasileira a caminho de Maputo” Das terras brasileiras, concretamente de São Paulo, a escritora Ana Rusche, ruma para Moçambique, onde efectuará uma visita de cinco dias. Ana Rusche, vem a Maputo, para desenvolver várias actividades de índole artístico - literárias, com o Movimento
Literário Kuphaluxa. Dentre várias componentes, destaca-se a realização de uma oficina literárias, participação em saraus culturais do movimento e outros eventos artísticos da cidade, e vai entrevistas escritores moçambicanos, para além de orientar palestras com jovens amantes da literatura da capital moçambicana. Ana Rusche publicou Rasgada (Ed. Quinze & Trinta, 2005) e Sarabanda – Um caderno de Estudos (Selo Demônio Negro, 2007). Estreará em prosa com o romance Acordados (Ed. Amauta, no prelo), premiado pelo PAC – Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo. Posui poemas publicados em diversas revistas literárias, participou da Antologia Oitavas, org. Vanderley Mendonça (Selo Demonio Negro, 2006) e 8 Femmes, org. Virna Teixeira. (http://peixedeaquario.zip.net)
FICHA TÉCNICA Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: kuphaluxa@gmail.com Director Editorial: Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Coordenador: Amosse Mucavele (amosse1987@yahoo.com.br) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane (inguane.rafael@hotmail.com) Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane. Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza* Brasil: Itapema - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin. * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas. Design e páginação: Eduardo Quive
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prosa
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Escrevivências em Doses Uma prosa para Arsénia Crônicas David Bamo - Maputo
Dezembro de 2008, fim de um espetáculo alusivo ao Dia Mundial Contra a Sida. Uma jovem magra, quase com minha altura, bonita cabelos cumpridas se aproxima de mim e diz: Oi, gostei do show, apresentas muito bem! Muito obrigado! Disse eu. Curioso, porque durante o evento vi uma jovem atenta a todos os meus movimentos, pois estivera sentada num plano que a permitia controlar todos os meus passos. A sua saudação quase que precipitava as minhas. Moça que multiplicada por qualquer coisa seria igual a simpatia! Com uma beleza mais por interior que do lado de fora do seu fisico. Esta jovem chamava se Arsénia. - Eu sou David. Me introduzi! - Não precisavas me dizer já te conheço! Fiquei boqueaberto, tanta beleza e bondande feminina a minha disposição, só podia se tratar de um sonho! Mas como um sonho? Se eu sentia na pele e na alma o carinho daquela criatura que Deus trouxera do Eden para dar brilho ao meu dia, naquela data! - Vivo no Singathela, e tu? - Também! - Então vamos juntos para casa!?! - Sim vamos! Começava assim uma grande viagem de amizade entre duas almas, dois corpos, duas gentes que apesar das suas vivência diferentes partilhavam o mesmo sonho, fazer radio ou televisão um dia. A vontade de construir com betão e prata uma amizade entre nós, foi mais galopante que as nossas próprias vontades! Arsénia e David consiguiram em tempo curto mais que o sentido da própria palavra, aproximar os seus seres e traçar a mesma história. Uma amizade do tamanho da obra de José Craverinha. Ao longo destes quatro anos de amizade fui aprendendo que os encantos de uma mulher, não residem apenas nas curvas que compoem o seu corpo, muito menos no cruzamento entre as suas pernas, mas sim na personalidade! Conceito muito pouco conhecido nos dias que correm. A nossa intimidade significou o fim do que nunca tive em mim, a poesia, se não um conjunto de frases, versos e palavras gastas em almas satánicas que me fizeram sugar o veneno da Jiboa. Procurei todas explicações possíveis para conhecer o verdadeiro sentido dos nossos sentimentos, nenhuma resposta achei se não um tesouro chamado Amizade, possível de encontrar em terras onde abunda leite e mel. Todos cobiçavam indisfarçadamente o nosso relaccionamento! Lambusavam se de vontade, queriam de ser um de nós. Se contorciam para sentir a doçura de uma amizade pura como o grito de uma criança saindo do ventre da mãe. O nosso ninho chamou outros e juntamos o útil ao agradável! Não fomos, nem somos e nunca serenos só nós, porque sempre viajámos em outras vidas, buscando novos e melhores sabores para apimentar o lar que aos poucos iamos formando em nossas vidas! Descobri igualmente que a mulher da minha vida não foi aquela a quem devo a minha existência, muito menos a que me fezera descobrir os apetites carnais, mas sim foi a Arsénia! Não sou, porque não quis aprender, todavia, a Arsénia ensinou me a ser verdadeiro. Pena que as palavras nunca dizem tudo o que sentimos, mas fica esta prosa, que leva consigo o ritimo do Detalhes de Nós Dois, cantado pelo rei Roberto Carlos, pintada pelo mestre Malangatana. Esta carta de reconhecimento ultapassa a dimensão da obra do Dan Brown, o marximo resgatado por Lenin não chega aos calcanháres desta mensagem, feita por este pobre homem abanonado pela única mulher a quem ele não consiguiu satisfazer todos os seus desejos. Mulher que as exigências da vida a levaram para as outras terras de Moçambique. Mulher que se as forças do além quiserem voltaremos a cruzar o mesmo caminho!
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Marcelo Soriano - Brasil
1ª dose - Prólogo Recebi com muito gosto o convite para escrever uma crônica para a Revista Literatas. Fico feliz e grato ao irmão Amosse Mucavele que disse-me: “Sabes, conquistaste o coração dos moçambicanos.”, referindose ao artigo publicado na Tempo Nº Zero (http://www.revista-tempo. com/) que foi relançada em Maio, recentemente. Mantenho firme, com este tipo de intercâmbio, o sonho de ver/ler a riqueza cultural dos países da CPLP transitando livremente, sem fronteiras, de lá para cá, daqui para lá. 2ª dose - A microliteratura nas redes sociais Desde pequeno tendo a escrever com o mínimo de caracteres. Aquilo que seria uma mania estranha de um garoto que pensava demais e falava (e escrevia) de menos, hoje transformou-se em modismo cultural, propagado amplamente pelo Twitter, Facebook, Blogues em geral, enfim, pelas chamadas Redes de Relacionamentos Sócio-Virtuais. Bem, o que poderia dizer aquele garoto de antigamente, de poucas letras com grande significado (ao menos para si)?! O garoto se encontrou, não apenas consigo mesmo, mas com uma proposta de literatura (e, por conseqüência, literatos jovens de todas as idades), tão espontânea, quanto fluente pelos países da CPLP. Críticas, estudos, discussões sobre o teor e a pertinência cultural das expressões literárias deste “novo” estilo de escrever... Bom, deixemos isto aos acadêmicos! 3ª dose - Aforismos sobre Literatura A literatura é um mar de rosas de cabeças baixas. Lembre-se: neste mundo, uma palavra vale muito mais que mil idéias. Nada de falar a verdade. Um poeta verdadeiro deve sempre escrever a verdade. Um grande escritor não é aquele que se libera ao ímpeto do escrever. Um grande escritor resiste ao ímpeto de não escrever. A poesia vem do nada, logo, poesia é tudo! O escrever é superior ao redigir. Todo o poema pode ser melhorado. Todo o poema deve ser melhorado. Não fosse assim, não seria poema. O universo uniu os versos... E esquartejou os poetas... Nunca duvide da Arte de dormir operário e acordar poeta. A poesia funciona quando o leitor sorri. O livro é uma gaiola de pássaros que canta para ser aberta. Os menos preparados sempre sucumbem ao afã da palavra final. O bom poema é o que nos lê. A verdade está situada em algum lugar ilegível entre as metáforas e as parábolas. O óbvio, às vezes, surpreende. Quem passa a maior parte do tempo tentando ser genial, acaba se tornando um gênio muito chato. Nós que escrevemos tanto sobre amor, não é que o saibamos ao ponto de ensinar, é porque precisamos escrever; escrever ao ponto de aprender. Por isso eu digo, sem ser douto no assunto... Escrever também é amar. Poetas são árvores frutíferas que acharam mais produtivo perambular. Escrever é pura falta do que fazer quando se está com a agenda lotada. Já observaram? O livro aberto tem formato de pássaro. O autor é o Deus do livro, mas é comum deuses serem engolidos pela vaidade da própria criação. Há poemas que são auto-exorcistas. Apelo aos escritores: deixem de definir o amor e comecem a amar! Para o poeta ser amado é ser lido. Um livro de papel comestível venderia mais (porque mataria, também, a fome do corpo). Por mais enfadonha que seja a nossa história de vida, largar o livro nem pensar! Escrevo primeiro; penso depois. Se pensasse antes, jamais escreveria. Escrever não é um caso pensado. A minha grande certeza é a incerteza das letras de um poema não escrito. Poesia de verdade não é a leitura do mesmo, é a releitura do novo. O Poeta se faz digno pelo strip-tease de suas palavras. Ler com o lápis; escrever com os olhos. A vida é uma luta diária. Em todos os amanheceres reiniciamos do nada. Escrever é semelhante. A cisma da Ordem dos Poetas Alucinados é jamais saber precisamente o lugar correto e derradeiro do ponto final
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- Discurso directo
Contadora de estórias que ilustram a história Eduardo Quive - Maputo
Ida dos remotos tempos da dominação colonial portuguesa nas terras moçambicanas e voltada dos horizontes do mundo fora, a escritora moçambicana Lília Momplé, encontrou-se com amantes da literatura para falar de si, da sua obra e do protagonismo em que expende a sua escrita nos leitores. Lília Momplé fora voz do nacionalismo, mas hoje, aos 76 anos de vida, é a palavra que se exalta na nova consciência e inspira as novas gerações. Mas não abandonou o seu nacionalismo literário. Na conversa promovida pelo Movimento Literário Kuphaluxa, na última quarta-feira em Maputo, a escritora brincou com as palavras e educou os literatos novatos, afinal de contas Lília, fora também professora. De nome completo Lília Maria Clara Carriére Momplé, natural da Ilha de Moçambique, esta mulher que escreve o que lhe vai na alma, inspira os jovens e nas suas obras, revela os mistérios da sua força nacionalista e pela justiça social. Há quem diga que cada escrito da Lília Momplé, é uma denúncia, mas a escritora prefere dizer que é um momento de desabafo, revelação, confidências e só o faz quando não aguenta mais se calar. “Há uma necessitada de se fazer valer a literatura oral. Esta forma literária é riquíssima e corre o risco de se esquecer. Com a literatura, há oportunidade de se criar riqueza. A literatura é a base para o conhecimento e criação, e num país onde há criação, já sabemos que se pode alcançar o desenvolvimento.
Como é que surge a vontade de escrever? - Quanto ao ser escritora, sempre sobe que um dia ia escrever, só não sabia quando. O gosto pela literatura herdei da minha avó. Ela era Macua e habitualmente contava-nos estórias lindas da tradição em volta da fogueira. Nesse momento eu dia para mim, «um dia vou escrever estas estórias». E ouve um outro acontecimento que significou muito para mim: aos 13 anos, estudei no Liceu Luís Salazar, uma escola que era apenas para brancos e pessoas com as melhores condições. Eu era a única negra e minha mãe teve que fazer muito sacrifício para que eu estudasse lá. Ela passava noites a costurar para poder pagar a minha escola, foi uma fase muito difícil. Foi mesmo um acto heróico estudar lá. Tive um professor de que o nome não posso me esquecer: o seu nome é Rodrigues Pinto, era professor de língua portuguesa. Mandou-nos fazer uma redacção sobre o último de dia de férias. Feita a redacção e chegada a hora de entrega dos trabalhos depois de avaliadas, ele foi chamando cada aluno para buscar o seu trabalho e o meu foi último. Confesso que fiquei com medo quando não chamaram-me. Quando terminou a entrega aos outros ele disse chamou-me e disse que o meu trabalho foi magnífico. E dali, ele passou a ler a redacção em, toda escola. Fiquei muito orgulhosa. Toda escola apontava no pátio por ter feito o melhor trabalho. Isso marcou-me muito e cada vez mais acreditava que um dia ia escrever.
E porque escreve? Escrevo porque me sinto honrada! Escrevo pelo desejo de contar e de descarregar os meus segredos.
E o primeiro livro… “Ninguém Matou Suhura”, como é que surge?
Escrevi o primeiro livro porque tinha uma carga muito grande sobre o colonialismo em Moçambique. Eu tinha raiva do
colonialismo. Muita raiva. Tinha a raiva da injustiça. Eu nunca me conformava por tudo que via: massacres sofrimento, opressão. isso incomoda-me.
- Quero agradecer a oportunidade que o vosso movimento (Movimento Literário Kuphaluxa) me deu de estar aqui em conversa com os jovens e devo dizer que vos admiro. Realmente vocês são amantes da literatura e esta conversa que aqui tivemos é muito significativa para mim. Já passei por mais de 20
Mesmo quando casei-me, embora com um branco, ele porque também não suportava ver a injustiça disse que tínhamos que sair do país. Foi assim que acabei vivendo no Brasil por muito tempo. Escrevi o Ninguém Matou Suhura porque eu queria conversar com alguém sobre o que vi e vivi durante aquele tempo. Tinha que me revelar.
As outras obras «Os olhos da Cobra Verde» e um Romance, intitulado «Neighbours» não fogem muito do quem caracterizou a primeira…? - O segundo livro também se baseou em factos reais. Da morte de uma amiga que era muito boa gente. Ela tinha muita vida, se não mesmo ela era a própria vida. Isso foi muito doloroso e marcou-me. Eu tinha que escrever. O terceiro também foi mais uma revelação.
Vivemos uma sociedade de negócios o “Busness Society”, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento. Tem em vista mais uma obra? - Estou a preparar mais um livro, talvez seja o último. Ele vai retrar o que chamo de “Busniss Society” (sociedade de negócios). O título poderá ser “Fantoches de Aços”. Nesta obra vai sair muitas verdades. É mais uma revelação de algo que me vai na alma, sobre os dias que vivemos. Onde as pessoas são insensíveis pelos negócios. Tudo eles fazem pelo dinheiro. Pobres que sofrem e só discursos políticos vazios. Só para fazer negócios. É o Busness Society a que me refiro. Essa sociedade não é a verdadeira moçambicanidade, isso nos tira a identidade e aconselho-vos a sair dela. São Fantoches porque são; e são de Aço porque não tem piedade. No Busness Society o que vale é o medíocre e não o desenvolvimento.
Como é que se define Lília Momplé? - Essa é uma pergunta muito difícil. Acho que não sei me definir, mas vou tentar. Penso que sou uma pessoa coerente, que, por exemplo, não se pode adaptar ao Busness Society. Porque não suporto injustiça. Sou coerente.
A caminho dos 80 e com percursos brilhantes na sua vida literária, pensa ainda em fazer alguma coisa na literatura, para além do livro que vai lançar em breve? - Essa também é muito difícil de responder. Engraçado que nunca pensei nisso. Sinceramente que não. Mas é assim…Não escrevo porque quer fazer alguma coisa na literatura, aliás eu nunca quis fazer nada na literatura. Quando não tenho nada para dizer não escrevo. Então não quero fazer nada na literatura, por isso não falta nada para fazer. Eu escrevo porque tenho que escrever.
Qual é o segredo que quer deixar para uma nova geração de escritores? - Que amem a literatura antes de querer ser escritor, porque só assim poderão ser os verdadeiros escritores. Eu não acredito em quem quer ser escritor, pois escrever tem que ser por força de alguma coisa. Uma emoção forte. Você é um enviado especial de algum sentimento. Mas se os jovens amarem a literatura, farão algo por ela e nessa convivência, podem ser escritores e bons escritores. Que sinceramente o nosso Moçambique precisa.
Tem mais alguma coisa a dizer?
países para falar da literatura de mim e das minhas obras, mas a emoção que estar a falar com os verdadeiros mensageiros da literatura e que são jovens muito novos do meu país, que mostram o verdadeiro interesse pelas artes, isso me deixa muito feliz. Obrigado Kuphaluxa. E mais… se querem realmente crescer nesta área, leiam. Leiam muito. Assim o podem ser de facto uma nova geração de escritores e eu tenho fé, que daqui a mais quatro anos ou menos. Um de vocês vai aparecer no sucesso e lembrar-se das minhas palavras. Continuem assim. Convidem mais escritores para estes encontros, que não seja apenas a Lília Momplé, os jovens precisam destes momentos e eu sempre estarei ao vosso dispor, para qualquer momento destes e outros.
Breve biografia
Lília Maria Clara Carriére Momplé, nascida a 19 de Março de 1935 na Ilha de Moçambique, província de Nampula, a norte de Moçambique, é Assistente Social de profissão, com licenciatura em Serviços Sociais. Lília Momplé, foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária de Ilha de Moçambique e directora da mesma escola entre 1970 e 1981. Em outras missões, Lília Momplé foi, de 1992 a 1998, directora do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural de Moçambique (FUNDAC) e de 2001 a 2005, membro do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. No seu percurso literário, dirigiu a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) de 1991 a 2001, como secretária geral, de seguida ficou presidente da Mesa da Assembleia-geral da mesma agremiação. O seu primeiro livro veio ao público em 1988, editado pela AEMO, com o título «Ninguém Matou Suhura», uma colectânea de Contos; «Neighbours» romance publicado em 1995 e «Os Olhos da Cobra Verde» obra de contos publicada em 1997, também sob a chancela da AEMO. Ainda na arte, a escritora publicou o «Muhipiti-Alima» um vídeo de drama, editado pela PROMARTE em 1997. As obras da Lília Momplé, já foram editadas em Inglês, Italiano, Francês e Alemão. Neste momento, a escritora faz parte do «Internacional Who´s Who of Authores and Writeres» e desde 1997 é membro de «Honorary Fellow in Literature» da universidade IOWA dos Estados Unidos da América (EUA). Em termos de prémios, Lília Momplé, conquistou o primeiro prémio do concurso literário comemorativo da cidade Maputo, intitulado Prémio 10 de Novembro com o conto «Caniço» em 1987. Melhor vídeo-drama moçambicano em 1998, com o vídeo «Muhipiti-Alima». Foi nomeada o Caine Prize for Africaan Writing, edição de 2001. fez parte dos cinco nomeados entre 120 escritores de 28 países.
Terça-feira, 12 de Julho de 2011
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“Canto da poesia” Nomis Erudam Sinto que bem recebido E na voraz necessidade de me proclamar Em algum verso bem teso, Porque me confundo: Despir o meu veste? E ficar como? Assim me desidentifico, Corro o risco. Ou logra-se que me dispa Somente para que o mundo me veja? Sem entrelinhas? De novo me confundo E adestro: os poetas não se despem. Mas é-nos consentido partilhar, Cada pedaço de palavra Que germina em cada orgasmo, Uma orgia com cada um de nós isolado.
Eu respeito Manhiça David Gabriel Nhassengo Pelas suas terras... Verdes de esperança Que se incorporam à maravilha dos solos Nutrindo de simpatia o semblante do seu povo E expondo o sorriso contagiante das suas crianças Pelo seu povo... Único e muito especial Brioso sobremaneira e sensacional. Maravilhoso e esperançoso Que em desafios sociais, sempre vitorioso Transfigura-se em povo heróico Miticamente glorioso Pelas estradas... Locais onde capotam as divergências E correm as semelhanças. Asfaltos harmónicos de estradas calmas
Sou um dessidente Lua Cheia Vicente Sitoe
Nico Tembe
Tenho um grande favor por pedir Primeiramente peço emprestado ouvidos Segundamente rogo ser deixado pedir Por fim imploro para ser entendido Não quero ser julgado porque não sei julgar Não quero ser desprezado porque não sei desprezar
Na minha vida aceito críticas sem negar Porque depois delas ajoelho e começo a rezar Sou um cidadão comum Sou um indivíduo como qualquer um Tentei ser cientista e terminei como um idiota Mergulhei em muitas teorias Marxismo, capitalismo, africanismo socialismo, idealismo, sanguissuguismo Até naveguei sobre todos dogmas Não sou um cão É a convivência que me faz parecido Não estou a tentar me justificar Estou a seguir os meus instintos Fizeram da minha vida uma desgraça Deram-me pão quando precisava de amor Na minha vida há muitos que veêm à caça Procuram matar os meus sentimentos Sou activista da paz, por isso não luto Tive um percurso muito bruto por isso sou assim tão estranho Até não sou estranho, sou diferente
Pelo seu poderio vocal... Que ressoa admiravelmente no canto coral
Canto para não chorar Finjo que sou feliz para não perder peso Para espantar inimizades mantenho o sorriso Continuo vivo para cumprir a missão evolutiva
Pela produção... Colossal da banana E da batata-doce de polpa alaranjada Vendida à beira da estrada.
Não sou nenhum revolucionário porque sequer consegui mudar a minha vida Não sou nem sequer reaccionário porque não tenho nada em contrapartida
Pela beleza... Da variedade e significância das capulanas E do grito comovente das nossas mamanas.
Sou um cidadão comum não um idiota como qualquer um Sou um candidato ao novo mundo Quero sentir o sabor da nova geração
Por temor... Que me deixa com tremor Pois o mal ainda habita nas curvas do alvor E nas das nossas belíssimas meninas Entendidas em feitiçarias.
Aliás, quero ser o próprio sabor Com uma dose eloquente de poesias Quero ser desfrutado a garfo e faca Por isso sou um candidato
Baza lixa* Ando de Incoluane a Maluana E de Calanga a Mirrona Sempre, respeitando Manhiça
Ao novo mundo da literatura Idiota que escreva poesias idiotas Cidadão comum que todos gostem Quero ser activista da paz e do amor
Legenda: *Ao raiar do sol
Tenho um grande favor por pedir Primeiramente peço emprestado ideias Segundamente rogo para não ser julgado Por fim... imploro para ser entendido
Exaltação Osório Chembene Menino preto, o que fazes tu ai? Procuro a minha pessoa, O eu que se esconde de mim. Mas preto, o que fazes tu ai? Busco por minha alma, A única escrava de mim. Mas preto escravo, de que falas tu afinal? Eu também tenho alma patrão Sou humano, não animal
Preto, olha para cor da tua pele É preta patrão É a raiva de quem me ferre Mas preto, tu és homem de cor Aah… então é por isso… Por isso é que não me das valor Tu és um bicho, não tens coração Fique sabendo branco Que eu me orgulho de ser preto, preto carvão.
Grupo do facebook: http://www.facebook.com/home.php?sk=group_185846178099556&ap=1 responsável: Rafael Inguane
Vadiando pelo percurso do anoitecer Indo e vindo vejo as nuvens desvanecer Trapaceando, se jogando ao porém do além Ao compasso descompassado de outrem Linda moça contra-curvada se faz ver Invejada, cortejada lua aparecer Nesta noite de lua cheia A encontrei Andando, desfilando entre os oásis Rolando, espalhando a sua classe Livre feito um pássaro voando ao mar Intocável, depreciável feito frases Norteando alvoradas, iluminado palavras Descobrindo sonhos e concretizando-os Ondulando, harpeando prazeres Nessa noite a encontrei Há momentos a procurei Andei, naveguei e cheguei ate a voar Nua, despida, em teus braços me lavei Oh meu céu, minha Lua Meu abrigo é em cada curva sua Bela e redundante se faz comparar ao seus seios Espero voltar a vela, embaciada de estrelas
Fazendo amor de joelhos Raffael Inguane Nossos corpos desnudos na noite fria Meu olhar dividia Todas partes do teu corpo fatia por fatia Meus lábios bebiam o néctar da tua boca vadia Tua pele crua minha língua lambia Em nossa cama eras o meu prato do dia No teu ouvido minha voz sussurava a poesia Dizendo “amo-te” de formas diferentes, usando a melodia
Fiz de ti uma gostosa iguaria Temperada com piri-piri, meu talher genital ardia A cada toque teu, meu apetite crescia Era bom o sabor que em minha boca perecia Lá estavas tu implorando-me Gemendo suavemente Dizendo, ama-me e coma-me Mas de repente,
Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7
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Ser poeta Ana De Sousa Baptista Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!
Noites da Minha cidade Jessemusse Cacinda - Nampula São longas noites Que passo aos sonos moribundos Me desespero no açoite Daqueles que têm fundos Passo! Versos de amor Escrevendo E versos de dor No papel pintando Utopias metafísicas Acompanham as veias poéticas Que me levam a não dar ouvidos As críticas Platónicas Muikhwiris¹ rondando a minha palhota Voando na peneira para qualquer frota Prostitutas sem medo circundam O matador² e de carro em caro saltitam É tempo de fazer dinheiro Que é o bem supremo Pelo mundo inteiro Outros roubam, outros agridem E sobre o corpo de outrem, outros se estendem
Passei meu dedo, estavas molhada, lubrificada e quente
Mesmo no escuro eu te via deitada de cócoras E eu, rico de tanta pobreza Não podia ver, não queria e nem sabia as horas Confesso os pecados que cometi durante o dia Com coragem e frieza Minhas mãos serenamente apalpavam teus seios Eu de joelhos Escrevo esta poesia Um som afro-reggae invadia meus ouvidos Aventurei-me na maravilhosa vista do teu corpo E fui beijando carinhosamente tuas costas Glossrio Pele doce, lisa e cheirosa como as rosas (1) Feticeirio em Emakhuwa, língua a de Nampula
Penetrei, Ao som da música eu coreografava as penetrações Num passo de dança alternavamos as posições Sentia o aumento dos teus batimentos cardíacos Em nossa dança eu ia acelerando os passos Domado pelo prazer, eu puxava teus cabelos Ouviam-se gritos, rugidos e latidos Alguns nomes atractivos e gemidos E ah, ah ,ah, ah Lá estavamos em ritmos sincronizados Simultaneamente atingindo orgasmos sucessivos.
Peter Pedro Pierre Maravilhada pela beleza impar e indescritível da virgem Deusa branca Minhas palavras transbordam de tesão lírica Entrelaçam-se e chocam-se de forma abrupta E vão de encontro a aquela Deusa Enlaçam e acariciam delicadamente os contornos curvilíneos do seu corpo
(2) Nome do meu bairro
Deliciando a com beijos ardentes e cheios de desejo Completando o pequeno e destemido verso. O verso sem pudor arranca-lhe as vestes Deita-se no seu leito e Lambuza os pontiagudos e duros mamilos dos seus seios pomposos Percorre em seguida todo seu corpo nu Satisfazendo com doçura os seus desejos. Abrasado de tesão penetra as suas genitálias na estrofe ansiada. Endurecidas genitálias cantam odes ofegantes numa dança frenética E num estugado balançar de rimas Sedentas debruçam os versos lascivos Perspectivando a penetração nas outras duas deliciosas estrofes E um orgasmo múltiplo para concluir o poema Sobre o subtil e enlaces corpo da virgem Deusa branca.
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Terça-feira, 12 de Julho de 2011
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Em Outras palavras
O veneno de Sócrates … Foi pois sob o «veneno de Sócrates» que Carlos Antunes sucumbiu entre as pernas da mulher, com os lábios ainda molhados de sucos vaginais …
Victor Eustaquio - Lisboa I. Carlos Antunes foi vítima de homicídio por envenenamento. Com diligências várias, e após uma investigação exaustiva mas secreta sobre o verdejante mundo dos alcalóides venenosos extraídos de plantas facilmente acessíveis a um olhar botânico mais atento, Maria Clara, uma mulher fogosa e apetrechada, que nunca se opôs aos criativos desejos carnais do marido, que incluíam práticas sexuais um tanto ao quanto invulgares, decidiu untar a vagina com cicutina, uma substância tóxica mortal insípida com a aparência de um óleo amarelado. Extraída da cicuta, uma planta apiácea também conhecida como abioto, a cicutina, ou em rigor, a cicutoxina – que ficou inscrita na História como o «veneno de Sócrates» – provoca o colapso do sistema nervoso central e, por conseguinte, a morte, que, por sinal, não é coisa bonita de se ver. Pelo menos desta forma (já que a mors, no sentido da mitologia greco-romana, até pode assomar de modo exuberante, como uma bela e flamejante imolação por fogo). Mas não é o caso. Que o diga o filósofo grego, se ainda falasse, ou escrevesse, após a famigerada ingestão do chá de cicuta que lhe arrefeceu e enrijou o corpo. É certo que o ataque tóxico não foi imediato. Sócrates ainda teve tempo de andar às voltas pelo quarto, mergulhado nos seus profundos e derradeiros pensamentos até que começou a sentir as pernas pesadas. E aí sim, depressa passou das voltas pelo quarto ao quarto às voltas, desaire locomotor que obrigou o pensador ateísta, um malévolo instigador da corrupção moral dos jovens gregos, a deitar-se de costas. Os seus carrascos examinaram-lhe os pés e as pernas até se certificarem de que o filósofo havia deixado finalmente de as sentir. Seguiram-se as carícias mitigativas da toxina no coração e o princípio do fim da existência cartesiana, ontológica e epistemológica do enigmático pai da filosofia ocidental. “E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, excepto Deus”, ter-se-á despedido Sócrates, o ateu, que aparentemente acreditava no Senhor, como relata o seu discípulo Platão, lançando a dúvida sacrossanta dos filósofos, que pouco tem de sagrada para o venerável e sacro conhecimento daqueles que condenaram o pensador à morte em nome da santidade. E provavelmente de alguma, ou muita, necessidade de sanidade religiosa para tempos tão adversos.Foi pois sob o «veneno de Sócrates» que Carlos Antunes sucumbiu entre as pernas da mulher, com os lábios ainda molhados de sucos vaginais. E de uma dose letal de cicutoxina. Uma mise-en-scène clitoriana indigna para um homem de tão alta posição na sociedade, condenado, também ele, a ser imortalizado, pelo menos ao olhar de Maria Clara, com a boca caída sobre a púbis aloirada da mulher e o corpo retesado, nu, de rabo para o ar. Quem deles ficou com a melhor parte ninguém sabe, ele que partiu para morrer, ela para viver; porém, Maria Clara pouco se importava com o assunto pelas razões de que estava convencida ter, razões que, do seu ponto de vista, legitimavam em absoluto a prática daquele nefasto gesto assassino. Não deixa de ser curioso, contudo, no quadro deste bizarro crime vaginal, que alguns investigadores forenses tenham perdido imenso tempo, na fase das entrevistas periciais, a tentar descobrir se a expedita companheira marital de Carlos Antunes, que acreditava ser tanto a esposa de Cristo como a esposa do Senhor (o que vai dar ao mesmo, embora a Igreja diga que não), terá chegado a atingir o orgasmo de tão excitada que estava em atentar de forma definitiva e irremediável contra a integridade física do seu esposo. A avaliar pelos fulgores a que costumava dar-se no acto do amor, como várias fontes próximas da homicida corroboram, é bem provável que tenha chegado a sentir as tão populares contracções reflexas ritmadas dos músculos perivaginais e perineais que circundam a vagina, a intervalos de 0,8 segundos. Para isso, e não obstante estar consciente de que o seu centro gravitacional de prazer ocultava um alcalóide altamente venenoso, Maria Clara terá de ter sentido uma vasocongestão e o início da lubrificação vaginal, com os pequenos lábios ingurgitados a assumir uma coloração intensa arroxeada ou cor de vinho e uma retração do clitóris em posição protuberante a colocar-se por trás da sínfise pubiana. São meras suposições fisiológicas, mas a ciência forense a tal se vê obrigada em busca da validação das suas descobertas, tantos mais que é delas que depende, em parte considerável, uma boa acusação judicial e a deseja condenação da ré. Quanto a Carlos Antunes, apesar de não ter sido tarefa fácil remover-lhe da boca e da língua os restos de pêlos púbicos da mulher, pelo menos o seu corpo não apresentava um tom cor-de-
rosa, como sucedia com os judeus. É sabido que os nazis não resistiam a dar umas boas gargalhadas sempre que abriam as câmaras de gás. E compreende-se. Corpos e mais corpos, todos amontoados, todos rosados. Não é por acaso que a diáspora judaica escolheu o azul para o centro da sua bandeira nacional, a estrela de David, que traduz a primeira territorialização soberana sionista: o Estado de Israel. Pelo menos é a tese defendida por alguns especialistas que, melhor do que ninguém, sabem explicar estas coisas, embora não esteja ainda muito claro o porquê do azul em prejuízo de outra cor primária como o amarelo ou o vermelho. É certo que o azul é a cor da espiritualidade, da abóboda celeste (ou a ilusão da mesma, que no espaço a imensidão de negritude bem que poderia ser o paraíso cosmológico das mais variadas diásporas subsarianas, faltava aqui Isaac Newton para o sugerir); a cor de um céu limpo e imaculado, o que faz supor uma predisposição para uma maior proximidade com as divindades que erram pelo universo; mas remete também o pensamento e, já agora, para um grupo de artistas de inspiração expressionista, curiosamente germânico, o Der BlaueReiter, ou O Cavaleiro Azul. Poder-se-á aduzir o argumento de que o azul simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e subtileza. Trata-se, com efeito, de uma cor romântica, talvez porque lembre a cor do mar, mas está igualmente associada à falta de coragem ou monotonia. Por seu lado, o amarelo transmite calor, luz, descontracção; é uma cor cheia de energia, activa, associada à prosperidade e que transmite optimismo. Tal como o vermelho, a cor da paixão e do sentimento, do amor e do desejo, do orgulho e da violência, da agressividade e do poder. Mas os hebreus assim decidiram, e está decidido. Para acabar de vez com a humilhação da morte corde-rosa, e a fragilidade, delicadeza e o pendor feminino que lhes são inerentes. Até nisso o nacional-socialismo alemão foi cruel: chacinou a praga judaica sob o jugo da efeminação. De certo modo, também foi este o destino de Carlos Antunes: nu, de rabo para o ar, com a língua enfiada na vagina ardente e possessa da mulher, com o corpo inerte e sem vida. Um homem desvirilizado na hora definitiva e irreversível da partida. Por efeito do seu desejo mais primitivo e animalesco atacado selvaticamente por um clítoris venenoso. O doce veneno do escorpião, esse temível aracnídeo que nem no Zodíaco escapa de ter fama de má rês. Um invertebrado artrópode cujo móbil gravitacional é tão-só o prazer e a posse na sua relação com o outro; o sexo e a paixão possessiva; o amor e o ódio; sempre pronto a atacar. Não foi este o animal enviado por Apolo para matar Órion, enciumado com a relação entre este e a sua irmã Ártemis? Não está cientificamente demonstrado que as estrelas de Órion desaparecem do Ocidente quando as do escorpião nascem no Oriente? O sexo oral sempre teve destes problemas. Foi justamente através de um pequeno vídeo caseiro, no qual se via uma mulher a lamber à força os baixios vaginais de uma adolescente – à força é como quem diz, porque a menor estava inconsciente – que Karla Leanne Homolka (a retratada no filme) e o marido Paul Bernardo, um casal de serial killers canadiano, foram apanhados pela polícia. Após dezenas de casos de abusos sexuais e assassinatos violentos de mulheres adolescentes que se arrastaram durante três longos anos. Aliás, esta onda de produção de vídeos ditos caseiros com imagens de natureza sexual mais ou menos explícitas tem muito que se lhe diga. Sobretudo quando caem na rede. Não supomos, apesar de tudo, que valha a pena perder muito tempo com o assunto. Tanto mais que o mesmo está devidamente documentado e até se transformou numa prática comum com intuitos nem sempre muito claros. Os visados tendem a queixar-se, com ameaças várias em conformidade com a natureza e a dimensão da publicidade dada às imagens, mas o protagonismo mediático que decorre destes já célebres vídeos leva a crer que o fenómeno digital, que enferma de contornos claramente neuróticos – dizemos nós, embora se remeta a questão para quem melhor seja capaz de a avaliar – será bem mais objectivo, nos efeitos que visa produzir, do que um mero e subjectivo fetiche, posicionado a montante, como alguns defendem. Tudo somado, a verdade é que, a jusante, o resultado é o mesmo. Para delícia dos cibernautas adeptos deste voyeurismo pastoral.O que parece dramático é o crescente apetite pela inocência roubada, uma liberdade eufemística a que nos damos ao luxo de recorrer para sublinhar a problemática da devassa da intimidade por meios ilegítimos (ou quase, porque nestas coisas da legitimidade a zona cinzenta é extensa e pantanosa). Devassa, pois não se trata de gente adulta, ou no limite legalmente emancipada, a sopesar, lamber, sugar, tilintar, penetrar ou deixar penetrar as protuberâncias e os orifícios erógenos e ejaculadores dos seus corpos suados e tensos, no
precipício do prazer supremo; mas de menores, seres humanos ainda a caminho da consciência plena da sua sexualidade. No Chile, o caso «Wena Naty» é paradigmático. A história começou com as imagens amplamente divulgadas, sobretudo na Internet, de uma jovem de 14 anos, estudante de um colégio católico, a abocanhar o falo erecto de um rapaz num dos parques mais frequentados de Santiago, à luz do dia, enquanto um amigo da dupla, ou amigos – há várias versões – registava às escondidas o famigerado felaccio juvenil. As provas materiais da degustativa felação levaram milhares de visitantes ao sítio que as publicou online e as autoridades locais a investigar o assunto depois de considerarem que havia fortes indícios da existência de um grupo organizado de adolescentes que se dedicava à produção de material pornográfico. Wena Naty, a rapariga da garganta prematuramente funda, ficou conhecida em todo o Mundo, tal como o nome dela, que entrou inclusive para o património lexical daquele País sul-americano. «Dicese de la mujer ke le gusta lamer una y otra vez el miembro inferior masculino, sin importarle de kien es», «cabra culia q le chupa el pico a todos los compañeros» ou «pequeña prostituta que le gusta hacer mamadas en plazas y ser exhibida en youtube» são algumas das definições que podem ser encontradas para a expressão «Wena Naty». De resto, foi justamente com este nome que se popularizou o sítio que divulgou os três vídeos malditos da perversa filha da blasfémia, entretanto removidos pela Justiça. Sublinhe-se, todavia, que a perfilhação demoníaca nunca chegou a ser estendida ao co-protagonista masculino, uma vez que, cremos nós, em terrenos da Igreja e da fé – a Católica Apostólica Romana, que as outras não são para aqui chamadas – quem manda são os homens. É que, apesar de todos os encantos do misterioso feminino tão exaltados pelos vários movimentos intelectuais fruto do romantismo europeu, as mulheres servem para pouco. Basta lembrar o que o Senhor Deus disse no acto da criação: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe um ajudante em conformidade”. Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Mas entre todos eles não havia para o homem um ajudante em conformidade. Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre o homem e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o buraco com carne. Depois da costela tirada ao homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Chamar-se-á mulher porque foi tirada do homem”. Está tudo escrito no Antigo Testamento. Quem somos nós para contrariar os desígnios do Senhor Deus, nosso pai? Primeiro, há o homem. Depois há os animais e as mulheres, cada uma das espécies com os seus respectivos deveres e obrigações para
com o homem, em nome da vontade divina. Após o felaccio da jovem chilena, Wena Naty, o sítio da web, mostrou mais. Ainda chegou a aventurar-se pela libidinosa adrenalina do bullying, mas os falos erectos e robustos abocanhados por pequenas e pueris bocas femininas é que faziam sensação. Daí que se seguiu mais um caso, de novo num colégio, agora franciscano, um pouco mais distante do centro nevrálgico da capital, mas ainda situado nos limites da região metropolitana de Santiago. Desta vez, o protagonista central foi um estudante de 14 anos, um aluno problemático e, por conseguinte, repetente, que conseguiu derramar as sementes líquidas das suas glândulas reprodutoras sobre as línguas e os lábios de pelo menos de três raparigas de 12 anos. A diferença é que o fez, entre ruidosos gemidos, em plena sala de aulas à frente de toda a turma. Uma, duas, talvez três ou mais vezes. Por estranho que pareça, ninguém sabe ao certo quantas foram nem as condições em que foi possível que os supostos factos ocorressem e de forma tão reiterada. Mas há imagens que o provam, captadas com telemóveis. As alegadas vítimas acusaram o rebelde de as ter forçado a tão ignóbil prova oral perante o olhar impassível e complacente dos restantes alunos, tanto rapazes como raparigas. Em contrapartida, o presumível autor dos desenfreados crimes sexuais alegou que as bocas das meninas abriram-se milagrosamente, com o devido consentimento, para receber a jeito e com prumo o seu membro viril, determinado a distribuir esperma pelas demais, que se infiltrava pelas narinas e corria em longos fios gelatinosos pela boca e o queixo de cada uma das raparigas. por terra o anonimato das filhas amadas; e, por fim, ouviram igualmente o presumível coleccionador exibicionista de felaccios. Ouviram, condenaram, mas ninguém foi sentenciado
Continua