FLORES SECAS POEMAS DE FORMA FIXA

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FLORES SECAS "POEMAS DE FORMA FIXA"

Versos de Esio Antonio Pezzato 2009


Um pequeno comentário Resolvi colocar neste pequeno volume, um tanto de tudo o que já produzi durante 40 anos de Poesia. Mas aqui vai um adendo: são os versos de forma fixa apenas, compostos de baladas francesas, pantuns malaios, e outras formas distintas de poesia. Algumas quase que totalmente esquecidas... Alguns possíveis leitores poderão ver pelas datas, que a grande maioria dos poemas foram escritos em poucos dias no ano de 2008. É que, quando decidi juntar tais formas de versos, verifiquei que poucos deles existiam. Então resolvi compor outros poemas a fim de que o volume ao menos pudesse ter um conteúdo, além da forma, é claro. Daí toque estudar, analisar, pesquisar e colocar as ideias no papel. Gostei do resultado. Claro que sei, mais que todos, que o que vai aqui não é Poesia pura, mas poesia estudada e pesquisada, já que a Forma não poderia fugir. Mas estudei muito a poesia portuguesa, a barroca, onde os exemplos de décimas são constantes e cheguei a esse resultado final.

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Este pequeno volume contém apenas isso. Claro que, em se falando em poesias de forma fixa, o Soneto também deveria aqui estar inserido entre tantas outras formas de se poetar... Mas aqui o deixo de fora e me atenho apenas a essas outras formas mais esquecidas, pois o Soneto é por demais difundido e até quem não sabe o que é Poesia, conhece um Soneto. Os poemas aqui seguem a tradição estrófica e rítmica. Busquei não inventar apenas criar sobre o já existente com algumas liberdades apenas. Se nas Baladas nossa Literatura traz muitos exemplares, com Martins Fontes e Gustavo Teixeira, Bilac possui apenas quatro Baladas e um Pantum apenas, em Alberto de Oliveira também a produção é pequena, em Machado de Assis outra pequena variedade, bem como Goulart de Andrade, as outras formas de se poetar são quase inexistentes, como o Pantum proveniente da Malásia, o Triolé, a Vilanela a Sextina, as Décimas, o Ritornelo, o Rondó, o Rondel, a Terza Rima, (cujo maior exemplo talvez seja a Divina Comédia, de Dante), e outras. No final deste Volume trago um Elucidário dizendo sobre a forma de se compor cada tipo de Poema, colhido Pg iii


principalmente no “Pequeno Dicionário de Arte Poética”, de Geir Campos. Serve de explicação, pois foi onde encontrei o necessário para tal empreitada. Compus algumas baladas em versos de nove sílabas, altamente aceitáveis, mas a grande maioria mesmo é feita em versos de oito silabas, com as estrofes tendo oito versos cada. Nas baladas decassílabas, tanto compus estrofes de oito como de dez versos, que é a mais correta. Quanto aos Pantuns, além dos versos decassílabos e da redondilha-maior, ainda compus no verso Alexandrino e fui além, criando um Pantum com rimas encadeadas. Não conheço outro. A Sextina sei que está imperfeita quando à disposição das palavras finais, mas é irrelevante. Também as Glosas, em Décimas, algumas estrofes trazem o ponto final no quinto verso, o que não deveria acontecer. Mas não me preocupei tanto com isso também. Oras, a interpretação de tudo no século XXI me dá tal liberdade. Os mais críticos poderão ver tais errinhos, tais falhas, mas as cito aqui para mostrar que, antes deles, eu já havia notado. Dentro disso tudo explicado, falei acima do Soneto, e decidi por mostrar apenas dois. Deveria Pg iv


me ater mais a ele, como sendo a Poesia de forma fixa mais conhecida do mundo. Desde Petrarca, nos idos do século XV, o mesmo é cultuado, então eu deveria aqui ir além e deixar nestas páginas, uma Coroa de Sonetos, mas iria alongar o livro desnecessariamente em mais 15 páginas. Sendo assim coloco aqui uma invenção minha, a Poesia monossilábica, e então tais Sonetos aqui vão não como Sonetos em si, mas como exemplo de monossilabismo. Espero que entendam isso também. Sou um afeiçoado à Escola Romântica, da qual sou seguidor; e entendo mesmo que essa Escola do Século XIX teve apenas início e seu fim ainda não chegou. A mesma, porém, não traz grandes exemplares. (Álvares de Azevedo tem uma Terza Rima) Apenas na Parnasiana, onde a Forma era altamente cultuada. Assim deixo para futuros leitores, um livro que deverá permanecer inédito. Que um dia, no futuro, esse pequeno volume de minhas obras possa ser lido e entendido. Esio Antonio Pezzato.

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BALADAS

Balada Francesa

Teço baladas à francesa Para entreter o meu amor. Planto meu verso com firmeza Para desabrochar em flor. Um ramalhete multicor Eu ofereço a ti, amada. E nele vai, com muito ardor, Toda a minh’alma apaixonada. Viajo nessa correnteza Olhando o rubro sol se por. Carrego em mim toda a certeza Que és o meu anjo encantador! Comigo irás por onde eu for A palmilhar a mesma estrada. Pg vi


Vai ao meu peito de cantor Toda a minh’alma apaixonada. Contemplo a bela natureza Cheia de luz e de esplendor. Em tudo vejo a áurea grandeza E as santas mãos do Criador. Por isso existe tanta cor Na minha lírica balada. Trago no peito com fervor, Toda a minh’alma apaixonada. Oferta: Não há na vida outro primor, Sou teu Poeta, minha Fada. E a ti entrego com louvor Toda a minh’alma apaixonada. 07.01.2000

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Balada do Tempo Após a leda mocidade Que chega em fogo e em cinzas passa, Somente a pálida saudade Fulgura ao céu como fumaça. Até parece haver trapaça Aos lindos sonhos que sonhamos, O tempo chega em férrea ameaça A apodrecer frutos nos ramos. A neve cobre sem piedade E o frio ingente tudo grassa. Sonhos de rubra intensidade Perdem fulgor, e brilho, e graça. À mocidade se ergue a taça Dos mais exóticos recamos, Mas a estiagem traz ameaça A apodrecer frutos nos ramos.

Pg viii


Sonha-se com a eternidade Mas corrosiva e rude traça Corroi o bronze, quebra a grade O tempo em fogo o ferro amassa. O que era lírico esfumaça E ao desespero nós entramos... Fuligem negra é treda ameaça A apodrecer frutos nos ramos. Ofertório: Não há mais brilho na vidraça, Funérea voz diz que partamos! A hora dos sonhos é ameaça A apodrecer frutos nos ramos. 01.02.2000

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Balada do Despertador À doce brisa da manhã De casa saio encapotado. Essa neblina temporã Há de trazer-me um resfriado. (A minha cama estava quente Eu me aquecia ao teu calor. Oh, minha amada, num repente Soou feroz despertador!) Do frio ingente não sou fã Amo o verão iluminado. Mas a neblina tecelã Faz tudo branco rendilhado. (Saio da cama reticente, Cedo acordar é pleno horror. Mas eis que toca persistente Duro e feroz despertador!)

Pg x


Visto blusão, meias de lã, Todo o meu corpo está gelado. Tremo de frio... hã... hã... hã... Religo o ar condicionado. (Aqui no quarto é diferente, Junto de meu querido amor. Mas eis que toca, intermitente, Brusco e feroz despertador!) Oferta Antes que o frio mais aumente E ao corpo traga artrite e dor, Melhor lascar no assoalho quente Esse feroz despertador! 30.07.2004

Pg xi


Balada Aquecida Os versos são armas que tenho Para vencer qualquer batalha. Com eles, forte me mantenho, Para ganhar áurea medalha. Em transes, quando eu os componho, Sei-me inspirado a toda brida. Rubra fagulha de meu sonho – Brasa que aquece minha vida. Carrego-os como um próprio lenho E os sinto em mim – feito mortalha; E do Parnaso quando venho Sei que me fere tal navalha. Porém, jamais fico tristonho, E nada, nada, me intimida. O Verso é luz para o meu sonho,

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Brasa que aquece minha vida. Jamais me cansa este interregno Que o verso é luz que me agasalha. À sua força me retenho A sua rima me retalha. Ao verso estou sempre risonho E esta Balada é colorida. A estrofe é o ar para meu sonho, Brasa que aquece a minha vida. Oferta Por isso sempre os versos ponho, Em minha vida tão querida. Pois a Poesia é mais que um Sonho: Brasa que aquece a minha vida. 13.12.1999

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Balada para um Amor

Eu sou Poeta, de maneira Que és minha Musa idolatrada. Por ti minh’alma é prisioneira E é eternamente apaixonada. Retorno aos versos da Balada E exalto o amor que me seduz. Sem ti, querida, não sou nada, E cego estou por tanta luz. Parece ser a vez primeira Que os sonhos pisam tal estrada. Desfraldo ao céu alva bandeira Escrito: “eu te amo, alma adorada!” A voz se torna embaralhada Em brilhos a alma ao céu reluz. Teus passos sigo, doce amada,

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E cego estou por tanta luz. O amor é chama verdadeira, Que à noite brilha iluminada. Parece tocha de roseira A florescer na madrugada. A pena torna-se inspirada! O verso puro jorra a flux! Na minha vida és doce fada, E cego estou por tanta luz. Oferta: Não há na vida encruzilhada: Teu coração o meu conduz. És o meu sol, minha alvorada, E cego estou por tanta luz. 07. 01. 2004

Pg xv


Balada da Entrega

Se o amor invade o coração E apaixonado o peito canta, A vida explode na canção Tudo é magia e tudo encanta. Estranha e lírica emoção A estrada brilha colorida. Não há no mundo outra razão Que te entregar a minha vida! Rosas azuis em cada mão Ponho no altar da minha santa. De joelhos rezo uma oração E a vida em sonhos me acalanta. Minh’alma é flor nessa estação! A vista torna-se florida. Não há no mundo outra razão

Pg xvi


Que te entregar a minha vida! Beijo-te a boca em convulsão, Meu corpo ao teu faço de manta! Divina e pura inspiração No êxtase santo me quebranta. Apaixonado beijo o chão Que sempre traz a alma querida. Não há no mundo outra razão Que te entregar a minha vida! Oferta: Não há , querida, sensação, Que a alma me deixa ensandecida. Não há no mundo outra razão Que te entregar a minha vida! 07.01.2004

Pg xvii


Balada do Amor Todas as noites quando canto A minha voz canta a balada Que ao coração traduz o encanto Da alma que trago apaixonada. E solto a minha melodia Numa ternura de recamo, Pois canto e canto noite e dia: Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo! O amor me vem num acalanto Que em êxtase eu não penso em nada. Porque te quero tanto, tanto, Que és minha Musa! a minha Fada! Rimo por ti minha poesia Teu nome a todo o instante clamo, E canto pleno de alegria: Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo! Com teu amor, tudo suplanto, Pg xviii


Sigo a sorrir, qualquer estrada. O teu amor é o azúleo manto Às frias noites de invernada! Contigo vivo a fantasia E de prazeres eu me inflamo, Canto da forma que queria: Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo! Oferta: Se tua vida for vazia Encha-a com a voz de meu reclamo, Pois este canto te alumia: Eu te amo! eu te amo! eu te amo! eu te amo!

09.09.99

Pg xix


Balada do Sonho Dentro da noite existe o sonho E uma ansiedade contundente, Nas suas luzes eu me ponho Das suas chamas sei-me crente. Se a todos, tudo é indiferente, – Uma ilusão descolorida, A mim é força persistente, Razão para sorrir na vida. Sempre com passos de um tardonho É-me impossível vir à frente E de ilusões somente sonho Porque jamais tive o presente Do sonho casto, puro, ardente, Para deixar mais colorida E poder ter, naturalmente,

Pg xx


Razão para sorrir na vida. Por isso o olhar trago tristonho, Lanço um sorriso indiferente, Os passos piso no medonho, Junto à alegria estou ausente. Talvez me chegue num repente A minha busca desmedida, Para que tenha, enfim, contente, Razão para sorrir na vida. Oferta: Talvez me chegue simplesmente Como uma flor do chão nascida, E me ofereça sorridente Razão para sorrir na vida. 22.12.98

Pg xxi


Balada Amargurada Minh'alma em ânsias a procura De forma louca, insana, errante, Para por fim a esta loucura Que não me larga um só instante. Passaram dias, meses, anos, E não matei minha ansiedade. Somente achei tredos enganos Mas não a minha áurea verdade. O pensamento me tortura, De forma insana, anavalhante. É tão difícil a ventura Que minha busca é delirante. Ao pensamento só traz danos E o desespero é sem piedade. Encontro amores n'outros planos, Mas não a minha áurea verdade.

Pg xxii


Dias eu passo na tristura, E noites passo alucinante. A insônia chega e faz diabrura Ao pensamento é torturante. Ajo de modos mais insanos Para escapar desta atra grade, E encontro apenas desenganos Mas não a minha áurea verdade. Oferta: Talvez com gestos desumanos Chegue a matar minha vontade, Para encontrar n'outros arcanos Razões da minha áurea verdade. 31.05.2001

Pg xxiii


Balada Crente O meu amor é mais que um sonho, Mais que um delírio de frescor. Por causa dele vou risonho Cantando versos a este amor. É um sonho belo e encantador E que me faz viver contente. Sendo Poeta, sou cantor E deste amor me faço um crente. Baladas líricas componho Cheias de luz e de calor. E nos meus versos sempre ponho Rimas de pétalas de flor. Comigo vai por onde eu for Essa alegria permanente. Sou teu Poeta e teu cantor, E deste amor me faço um crente.

Pg xxiv


Se antes eu fui um ser tristonho E tinha o peito imerso em dor, Hoje somente alegre sonho Dentro do sono embalador. Sou um soldado guerreador Venço batalhas, num repente. E mais me sinto um vencedor E deste amor me faço um crente. Envio: Amada Musa, o teu valor, Somente n’alma é que se sente. Sou teu Poeta e o teu cantor, E deste amor eu sou um crente. 12.01.2004

Pg xxv


Balada da Desventura A solidão que me acompanha E que me faz tão infeliz Fere no fundo minha entranha E deixa à mostra cicatriz. Ela me vem tão mansamente Que enche minh'alma de tortura. Meu coração, sangrando, sente, Da vida toda a desventura. Com palpos fortes de atra aranha A solidão, em transe diz, E de maneira muito estranha Que segue minha diretriz. Caminha inopinadamente Com suas garras me segura Por isso sinto negramente Da vida toda a desventura.

Pg xxvi


Seu peso enorme de montanha Vem sobre mim de forma ultriz. É mar imenso que me banha Moldou-se em mim – fez-se matriz. Germina em mim como a semente Que foi lançada à semeadura, Mas doi em mim, por dar somente, Da vida toda a desventura. Oferta: E o coração por mais que tente Dar um final a tanta agrura, A cada instante mais pressente Da vida toda a desventura. 21.12.1998

Pg xxvii


Balada sem Cor Este silêncio me devora Parece noite de terror. Ainda demora tanto a aurora, Demora tanto o meu amor. Ponho no vaso rubra flor E ela perfuma todo o ambiente, Meu verso vai perdendo a cor Meu mundo fica diferente. Não solidão minh’alma chora, Estou sozinho em minha dor. Que noite imensa está lá fora, Sinto meu corpo num torpor! Pudesse agora ser cantor Cantar um verso diferente, Tocar a flauta de um pastor E ser do amor condescendente.

Pg xxviii


Mas essa angústia me deplora, É tudo tão desolador. Minh’alma triste, triste implora Que venha um lindo beija-flor Beijar no vaso a linda flor Que está morrendo num repente, E ressuscite o meu amor E a noite fria deixe quente. Ofertório Porém, o sono é bem traidor, E o sonho engana a alma da gente. Traz desalento o desamor, E até o amor se faz descrente. 03.03.1995

Pg xxix


Balada Feliz Canta feliz o coração O imenso amor que n’alma sente. Transforma mais uma oração Que mais pareço ser um crente. Esta presença permanente Ao meu viver traz a emoção Que hei de te amar eternamente Entre delírios de paixão. Carrego a doce sensação De te levar dentro da mente. Construo versos à canção Do amor que veio num repente. O sonho torna-se ridente No peito há enorme ebulição. Hei de te amar divinamente Entre delírios de paixão.

Pg xxx


Imponderável ilusão, Minh’alma canta sorridente. O amor transforma-se em razão, O amor transmuda-se em semente. Para teus braços vou tremente E a afagos nunca digo não. Hei de te amar continuamente Entre delírios de paixão. Oferta: De te levar dentro da mente Canta feliz o coração O amor transforma o sonho crente Entre delírios de paixão. 12.01.2004

Pg xxxi


Balada Dolorida Existe a sombra do passado Que brilha neste meu presente. Maldito sonho desgraçado Que fere e agride a minha mente. Passivo ao ódio que a alma sente Reflito a luz que o olhar me invade. Resisto à dor e à ira ardente E penso e agrido por maldade. O encanto brota iluminado Mas contra o amor sou resistente. Dou passos como um derrotado Que sente o sangue arder fervente. Não penso mais na áurea semente De ter a minha alacridade. Não tenho mais tal sonho ardente E penso e agrido por maldade.

Pg xxxii


O meu tesouro foi roubado Por isso o choro é persistente. Caminho olhando para o lado Pois já não sei olhar de frente. Tivesse um dia meu presente! Mas estou preso em ímpia grade. E mais me fere o fogo ardente E penso e agrido por maldade. Ofertório Oh! Minha Deusa, tu somente, Nas mãos tens essa Eternidade! Mas ao teu lado vou demente E penso e agrido por maldade. 12.01.2004

Pg xxxiii


Balada de um Amor Quero fazer-te uma Balada Para isso busco inspiração. Oh, meu amor, é madrugada, Longe te sinto o coração. Sem ti a noite é de aflição Minh’alma está desesperada. Por isso teço esta canção Oh, minha doce e terna amada. Sem ti, querida, a vida é nada, Perco dos sonhos a razão. És minha Musa, és minha Fada, Da minha vida és a emoção: Confundo o sim, inverto o não, A tua ausência é uma maçada. Sem ti não tenho aspiração, Oh, minha doce e terna amada.

Pg xxxiv


Com tua ausência é longa a estrada, A angústia trago em cada mão. Minh’alma treme angustiada, E é horrível esta sensação. Com versos faço uma oração E canto à noite enluarada. Depois... silêncio, tudo é vão, Oh, minha doce e terna amada. Oferta: Fico na vida sem ação E a alma na noite está entrevada. Mas continuo o meu refrão, Oh, minha doce e terna amada. 04.10.2005

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Balada para a Amada Minha querida e doce amada Estou aqui para dizer Que estou com a alma apaixonada E toda cheia de prazer. Quer-se mesmo então saber Da minha história tão florida, É que o amor passei a ter Desde que entraste em minha vida. Construo versos de balada Vivo a cantar e a bendizer Passo acordado à madrugada Compondo versos de lazer. Jamais, amor, vou te esquecer, Minh’alma canta comovida. É que no amor passei a crer Desde que entraste em minha vida.

Pg xxxvi


Doce ternura idolatrada Feliz poeta sei-me ser. A glória d’alma enamorada Em versos canta o bem-querer. Com teu amor quero viver Uma esperança colorida. Eu sou feliz, vivo a dizer, Desde que entraste em minha vida. Oferta: Anjo com forma de Mulher A quem eu chamo de querida: O amor jamais penso esquecer Desde que entraste em minha vida.

12.01.2004

Pg xxxvii


Balada Moderna Os poetas da atualidade Escrevem só versos modernos... E com louca tenacidade Vão preenchendo os seus cadernos Com versos brancos e sem métricas Numa infernal desembestada Poemas de formas geométricas, Mas desconhecem a Balada. Eles não tem curiosidade De degustar nobres falernos, Mas querem ter notoriedade, Sonham, também, ficar eternos... Fogem das formas mais simétricas Procuram não saber de nada... Fazem versos de formas tétricas,

Pg xxxviii


Mas desconhecem a Balada. Em três oitavas com beldade Rimas perfeitas como os ternos, Refrão que tem finalidade Mostrar sonoros timbres ternos; E das claridades elétricas Para a alma ficar inspirada... Procuram formas fonométricas, Mas desconhecem a Balada. Oferta: Oh, lindas Musas pirelétricas, Tirai a inspiração sagrada Aos que fazem canções herméticas, Mas desconhecem a Balada! 19.11.1994

Pg xxxix


Balada do Merecimento O meu amor merece ter Mimos, afagos e carinhos, Porque me dá tanto prazer E me constroi tão fofos ninhos, Que ele de fato, bem merece Tudo o que posso lhe ofertar: – O coração em terna prece De joelhos fica aos pés do Altar! O meu amor me faz viver Dando sorrisos nos caminhos, Me oferta um mundo de lazer, E quando estamos nós, sozinhos, Ele entre dengos oferece O que jamais pensei sonhar, Até minh'alma, em terna prece, De joelhos fica aos pés do Altar!

Pg xl


O meu amor sabe escolher Os mais exóticos docinhos, Para que eu possa, então comer, Depois de abraços e denguinhos. Ele de mim jamais se esquece E fica sempre a me louvar. O pensamento em terna prece, De joelhos fica aos pés do Altar! Oferta: És meu amor, és minha messe, És minha noite de luar, O meu amor reza uma prece De joelhos fica aos pés do Altar! 24.12.98

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Balada da Esperança Pus num baú toda a Esperança Que em transe um dia, alimentei. – Trágico sonho de criança Que pensa ser do mundo – um rei. Ela ficou como um brinquedo Do qual cansei-me de brincar. – Cansada história sem enredo Que a gente teme em escutar. Tudo mentiu; essa aliança, Que foi meu rumo e minha lei, Veio-me a ser maldita herança Da qual jamais, jamais sonhei. Caiu em mim como um torpedo Matou meu sonho e meu luar. – Canção de horror que causa medo Que a gente treme em escutar.

Pg xlii


Por isso trago atroz vingança Como liliputiana grei Que vai seguindo sem tardança E sou amargo, – bem o sei. Todo este sonho é meu segredo, Minha água, terra, fogo e ar; Nesta canção se faz segredo Que a gente teme em escutar. Ofertório: Bem sei que sou bastante azedo Se Ela em seu transe me matar, Aciono o som mexendo o dedo Que a gente treme em escutar. 24.11.99

Pg xliii


Balada da Vida

A minha vida é uma balada Que se repete em seu refrão. Constantemente, apaixonada, Jamais permite solidão. No dia a dia desta vida Este viver dá-me a razão. A estrada em brilhos é florida E faz cantar o coração. Feliz, contemplo a madrugada: Astros no céu, em explosão, Fazem ficar iluminada A minha vida em comoção. Desta existência bem vivida Tanto me dá satisfação Que a alma rebrilha enternecida

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E faz cantar o coração. Passo por passo nessa estrada Faz mais feliz esta ilusão. E vou seguindo esta jornada Tendo a esperança em cada mão. Esta existência é tão querida Que ora lhe oferto esta oração. A vida canta estremecida E faz cantar ao coração. Dedicatória: O amor alcanço na corrida E a paz é tanta em devoção Que a voz eu solto comovida E faz cantar o coração. 18.11.99

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Balada Efêmera Há névoa nesta tarde efêmera Da primavera que esmaece A alma carrega enormes dúvidas E alegorias ela tece. A chuva cai e cai a cântaros E a terra em bênçãos umedece. As flores vão nascendo exóticas Um mundo novo se parece! Tanta beleza é bem explícita! Cada ave entoa linda prece Em sinfonias ternas, líricas... Súbito o sol tênue aparece E vai lançando raios fúlgidos Que a névoa um pouco recrudesce... A tarde morre em brilhos – rápida! –

Pg xlvi


Um mundo novo se parece! O lusco-fusco brilha exótico Uma andorinha faz um S No céu nublado, plúmbeo, elétrico, E no horizonte o sol fenece – Deposto Rei de um reino túrgido Que deu a vida à loura messe. Uma estrelinha brilha tímida Um mundo novo se parece! Envio: Oh! Deus, Senhor do Espaço cósmico, Da Lei de fogo que acontece A cada vez que te olho em órbita Um mundo novo se parece! 15.12.99

Pg xlvii


Balada das Flores Secas Quero ao silêncio campesino Ficar com as vistas extasiadas, Do campanário, ouvir o sino, Rimar meus versos em toadas. Quero, ao crepúsculo tardio, Ouvir cigarras encantadas, Olhar o sol brilhando e, ao rio, Poder compor minhas Baladas. Saber ter alma de menino, Sair correndo em disparadas... Ir encontrar o meu destino Nas mãos de seda de áureas fadas. Encher de luz o meu vazio, Colher as rosas encarnadas. E ao ter da Musa um arrepio, Poder compor minhas Baladas.

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Ser leve como um bailarino Que sobe ao palco e de mãos dadas Um pas-de-deux – em leve tino – Desliza em valsas encantadas! E quando o vento em arrepio Deixar as ramas desfolhadas, Quero em suave murmurio, Poder compor minhas Baladas. Dedicatória: Quero num leito bem macio De flores secas enfeitadas, Aos beijos dados num cicio, Poder compor minhas Baladas. 22.03.1999

Pg xlix


Balada Quebrada

Quero compor, ao meu amor, Uma balada Que tenha sim bastante cor E alma encarnada, Para mostrar que sou só seu E que meu sonho mais infindo É ser um dia o seu Romeu Num sonho puro e muito lindo. Como um vulcão sou só calor. Apaixonada Minh’alma vibra de esplendor, – Canta encantada! – O seu amor há de ser meu! E viverei sempre sorrindo Junto às estrelas pelo céu

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Num sonho puro e muito lindo. Sou primavera toda em flor, Na vida nada Há de fazer-me um sofredor Minha adorada. Por ti meu sonho reviveu! Ao paraíso vou seguindo Tendo-te ao meu lado eu sou mais eu! Meu sonho puro e muito lindo. Oferta Minha Marília, sou Dirceu! O teu amor é-me bem-vindo! Só sei, amada, que sou teu Num sonho puro e muito lindo! 05.05.2002

Pg li


Balada da Vida Eu quero amar de forma pura Quero doar meu coração. Viver um sonho de ventura Fazer do amor uma canção. E hei de fazer lindo refrão Em honra deste amor tão forte; Pois tal amor será a razão Da minha Vida à minha Morte! Talvez me seja uma loucura Sonhar com a imaginação. Mas sonho, sim, esta aventura, Que chega a me faltar o chão. Não poder ser pura ilusão Imaginária de suporte. Mas sentirei grande emoção Da minha Vida à minha Morte!

Pg lii


Pois sem amor a vida é escura, – Não sei viver na escuridão! Eu sonho a luz da iluminura Que chegue logo essa Estação! Não sei viver na solidão E nem viver ser ter um Norte. O amor é pura vocação Da minha Vida à minha Morte! Oferta A ti oferto a minha mão Pois teu amor é minha sorte. Sê, com certeza, esta paixão Da minha Vida à minha Morte! 21.01.2003

Pg liii


Balada para Ana Maria

Leda Poesia me embalança. Em seu balanço ela me encanta. Com fagueirice de criança Minh’alma canta, canta, canta! Canto feliz a melodia Versos em êxtase componho. Estar no mundo da Poesia É como estar dentro de um sonho. Dentro da estrofe a rima dança No frio a aquece feito manta. E cada rima é uma esperança É pura imagem sacrossanta. Crio meu verso dia a dia Que o verso deixa-me risonho. Estar no mundo da Poesia

Pg liv


É como estar dentro de um sonho. A rima chega sem tardança E seu encontro não me espanta. O seu trabalho não me cansa, Qualquer cansaço se suplanta. O verso flui em harmonia E em cada verso um mundo ponho. Estar no mundo da Poesia É como estar dentro de um sonho. Oferta É teu amor, Ana Maria, Que em versos líricos transponho. Estar no mundo da Poesia É como estar dentro de um sonho. 29.04.2005

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Balada de palpitação Meu coração palpita um sonho Azul-dourado. Que alegria. Por onde os olhos ora ponho Luz uma rima de poesia. Estranha e doce fantasia Encantos dão-me ao coração. Felicidade me extasia E vibra n’alma em oração. Se no passado fui tristonho E tive atroz melancolia, Comungo ao sol o estar risonho, E frutifico em melodia. Doce e suave é esta harmonia Que explode aos ares em canção. Nessa esperança o olhar se fia E vibra n’alma em oração.

Pg lvi


Da vida apaga-se o medonho Que antes, sarcástico, sorria. O sonho outrora tão tardonho, Na madrugada abriu-se em dia. É realidade que irradia Estrelas, sóis, em convulsão. Presente em brilhos não adia E vibra n’alma em oração. Oferta Canto teu nome, Ana Maria, Que o amor nos faz um na emoção. No coração brota a alegria E vibra n’alma em oração. 22.05.2004

Pg lvii


Balada Encantadora Mereces, sim, esta poesia Que este Poeta agora faz. Doce suave melodia Terna canção de amor e paz. Tudo é singelo neste dia, Tudo é sublime e encantador. O teu encanto me extasia, Por ti eu vivo em pleno ardor. No verso crio alegoria – Com as rimas sempre sou capaz! – Me revigoro na energia, E no desejo sou voraz! Encanto tanto me inebria, É uma loucura esse estupor. Por ti meu verso em transe cria,

Pg lviii


Por ti eu vivo em pleno ardor. É realidade, é fantasia, Tudo em prazer me satisfaz. Ouve-se Gounod, na Ave-Maria, Tua lembrança ele me traz. Teu nome é mais que melodia, Mas com certeza é mais que flor. É amor que chamo Ana Maria, Por ti eu vivo em pleno ardor. Oferta: Tanto desejo me inebria, Nesse desejo eu canto o amor. Sou teu Poeta noite e dia, Por ti eu vivo em pleno ardor. 19.05.2006

Pg lix


Balada da Partida A noite passa triste, Eu canto uma canção... Meu peito não resiste A tanta ingratidão. Desde que tu partiste Vivo a vida a chorar... Meu peito ainda insiste Pois quer te ver voltar... Meu coração persiste Nessa recordação. E tudo em mim consiste Em ter seu coração. Tu vês que não existe Razões para cantar, Meu coração insiste Pois quer te ver voltar...

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Tu enfim, redimiste Fazendo uma ilusão. Aonde o amor existe Não dás satisfação. Depois que tu partiste Nada me faz sonhar. Meu coração insiste Pois quer te ver voltar... Envio: Vivo sempre tão triste Nunca vejo o luar... Meu coração insiste Pois quer te ver voltar... 12.10.1973

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Para um Grande Amor Todo este amor que nos invade E que nos deixa tão felizes, É feito de sinceridade Por isso tem fortes raízes. Sozinhos somos só metade Mas juntos somos uma vida... E é com fremente intensidade Que só te chamo de querida! Um outro amor assim quem há de? Um céu azul é nossas crises, Se o amor é feito de amizade Em nós não há quaisquer deslizes. E cada dia é mais vontade E cada dia é mais florida Esta canção em densidade Que só te chamo de querida!

Pg lxii


Talvez a nossa mocidade Encontre um dia outros matizes E fique presa em outra grade Que até nos cause cicatrizes... Porém irei sentir saudade Desta existência colorida, Por isso é com felicidade Que só te chamo de querida! Oferta Esta balada é só vaidade, Outra maior não me intimida, E é com enorme alacridade Que só te chamo de querida. 10.02.1998 (Viagem Poética)

Pg lxiii


Balada da Esperança Penso num grande amor florido Que em minha vida irá chegar, Deixando multicolorido Meu coração que espera amar. Quando este sonho iluminar Meu coração à luz da lua, Eu irei pô-lo num altar E a alma de angústias terei nua. Hoje que trago entristecido Este meu sonho secular, Inda procuro o bem querido: – Minha esperança tutelar. Sofrendo tanto e apesar De ter no peito a dor que amua, Ainda sei que irei cantar E a alma de angústia terei nua.

Pg lxiv


O amor é um sonho de bandido, Parece sempre se ocultar, Atira flechas de Cupido E de maneira irregular. Mas a distância olho o luar Seu brilho intenso me tatua: E irei sorrir a este manjar, E a alma de angústias terei nua. Oferta Se o amor é fruto de um pomar, E sorrateiro se insinua, A paz terei para lhe dar E a alma de angústias terei nua. 21.02.1998 (Viagem Poética)

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Balada Outonal Os crepúsculos outonais Sempre me dão melancolia. Minh’alma, em sufocantes ais, Solta lamentos de agonia. Do sol – a claridade é fria E quase não contém calor; Falta-me o encanto da magia, Falta-me o encanto de um amor... As folhas caem... espectrais Lembram fantasmas que algum dia Ao meu viver foram mortais Marcando minha fantasia... E hoje minh'alma se associa À solidão, á angústia, à dor... Falta-me a luz que me alumia, Falta-me o encanto de um amor...

Pg lxvi


Rajadas frias e ferais De lacerante ventania Arquejam altos bambuais Numa estonteante sinfonia... E eu vou chorando esta elegia No mais patÊtico rancor; Falta-me o canto da alegria, Falta-me o encontro de um amor... Oferta Minha esperança se abrevia E o vento ruge num tremor, Falta-me sua melodia, Falta-me o encanto de um amor... 21.02.1998 (Viagem PoÊtica)

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Balada Feliz Estou feliz! Minha alegria Transforma em canto minha Lira. A frase torna-se poesia E o coração é ardente pira. A sensação que estou sentindo Só sente quem já foi feliz. Estou cantando, o mundo é lindo, Para outra vida peço bis. Vivo embalado na magia E de prazer a alma transpira. Sempre sorrindo passo o dia Que até acredito ser mentira. Meu coração está florindo E meu cantar em brilhos diz Se a este viver estou sorrindo, Para outra vida peço bis.

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Quem foi que pôs esta magia Que a todo instante a alma transpira? Pois se acredito que é magia Eu sou um mago que suspira. Este prazer é-me bem vindo E ser feliz eu sempre quis. Assim mais canto e assim vou indo, Para outra vida peço bis. Dedicatória: Se tu, amor, estás me ouvindo, Saiba que és tu o meu país. Se o amor um dia for-me findo, Para outra vida peço bis. 07.12.2001

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Balada Eterna

Minha poesia há de ficar Após meu fim, eternamente, Pois quem na vida sabe amar Nela achará uma semente Para fazê-la florescer Nos corações apaixonados, Que saberão sentir prazer Dentro dos sonhos aureolados. Minha poesia há de cantar No entardecer do dia quente, Que traz a noite de luar, Que faz o sonho persistente. E cada verso há de viver Em mil abraços apertados, Pois saberão que devem ter

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Milhões de sonhos aureolados. Minha poesia há de rimar No coração e na alma crente, Qualquer jardim, qualquer pomar, O amor será eterno e ardente. Basta ter olhos para ver: Beijos de amor quando trocados, Fazem a vida reviver Dentro dos sonhos aureolados. Dedicatória Minha poesia há de reter Dos corações – os namorados. Pois ela ao mundo irá dizer Milhões de sonhos aureolados.. 19.03.1998

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Balada da Esperança A vida brota na esperança E ferve em cores nos caminhos. Há um riso aberto de criança, E vidas tenras pelos ninhos. As rosas vivem com espinhos Mas seu perfume exala os lares. Os sonhos nunca vão sozinhos E vibra a vida mil sonhares. A vida roda em louca dança Amores fazem burburinhos. Leva-se sempre na lembrança Afagos, dengos e carinhos. Não pode haver sonhos mesquinhos Que angústias tragam pelos ares. Nos galhos trinam passarinhos

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E vibra a vida mil sonhares. A vida brilha e sempre avança Na estrada alvíssima dos linhos. É paz que chega sem tardança E brinda em taças de bons vinhos. Cintilam céus azuis-marinhos E trocam luzes céus e mares. Exalam cheiros rosmaninhos E vibra a vida mil sonhares. Oferta: Nas mãos carrego pergaminhos E gravo em odes seculares O meu amor que vem dos ninhos E vibra a vida mil sonhares. 15.01.2004

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Balada Piegas Eu quero nesta minha Lira Lembrar o amor que já perdi. O imenso amor que ainda me inspira A tocar n’harpa de David. E tantos sonhos eu vivi Naqueles tempos tão felizes, O coração que era um bisqui Hoje só mostra cicatrizes. Eu acredito na mentira Pois na verdade outrora cri, Naquele lindo olhar safira Tantos sonhos de amor eu li. No ocaso eu ouço a juriti Que canta triste, suas crises. O coração já não mais ri,

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Hoje só mostra cicatrizes. A alma, porém, ainda suspira Por um sorriso de Nini, E o sol, à tarde, triste mira, No chão um lindo bogari. Eu já não quero mais, aqui, Lembrar as cores e os matizes... O sol que outrora era um rubi Hoje só mostra cicatrizes. Oferta: No amor profano sucumbi, Vou visitar outros países. Porque meu coração sem ti Hoje só mostra cicatrizes. 14.03.1993

Pg lxxv


Balada da Oferenda A minha vida de poesia Passou a ser cheia de cor. Lembro-me bem o exato dia Que tu chegaste, meu amor. O teu olhar cobriu de luz Para eu seguir a longa estrada. E agora tudo me seduz, Que te ofereço esta Balada. O amor é mais do que magia, Pois tem encanto e tem fulgor. Vinho dos deuses que inebria, E põe meus sonhos num torpor. Meu céu de estrelas mais reluz A minha fé torna encantada. O amor intenso me seduz Que te ofereço esta Balada.

Pg lxxvi


Transformo a voz em melodia Feliz me faço até cantor. E cada verso me sacia Pois só escrevo em teu louvor. Todo meu canto se traduz Numa visão arcoirizada. É teu amor que me seduz Que te ofereço esta Balada. Ofertório: Oh, minha pérola de Ormuz, Golconda e Ophir não valem nada. É tanto o amor que me seduz, Que te ofereço esta Balada. 19.03.2001

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Balada técnica

Eu condiciono o pensamento Ao verso e à métrica exigida. Componho tudo no momento Que a estrofe sai já corrigida. Não erro a sílaba no verso Pois a medida é sempre exata. A Lei que rege este Universo Não contém página de errata! É sempre certo o movimento A rotação sempre é seguida. Os astros vagam pelo vento A Lei Maior sempre é regida. Tudo parece tão diverso: Desertos, mares, gelo, mata,

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Mas dentro deste áureo Universo Não contém página de errata! O homem se julga um monumento E pensa ser senhor da Vida. Mas anda a esmo e sem intento Buscando a glória carcomida... Com sonhos tolos vive imerso E o próprio corpo ele maltrata. Porém, o livro do Universo Não contém página de errata! Ofertório: O homem sem Deus vive submerso De sonhos tolos vai à cata. Porém a Bíblia do Universo Não contém página de errata! 26.03.2001

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Balada do Apaixonado

Meu coração (e a todos digo) Está feliz, está cantando. Pois afinal achou o abrigo Que estava há tempos procurando. Ninho de plumas da Poesia Eis afinal sua morada! E vou cantando dia a dia, Que estou com a alma apaixonada. Todo este amor mora comigo E é tão suave, meigo, brando. Que a ele abraçado sempre sigo E ele também vai me abraçando. Minha alma canta a melodia Logo ao romper da madrugada.

Pg lxxx


E tanto sonho me extasia, Que estou com a alma apaixonada. O amor na vida é tão antigo, Mas só agora sei-me amando. Do amor agora sou amigo Com ele sempre estou sonhando. Ao meu redor tudo é alegria, A vida está toda encantada. Foi só sentir esta magia Que estou com a alma apaixonada. Oferta: És tu, querida, Ana Maria, A minha luz, a minha Fada. E é teu amor que me alumia, Que estou com a alma apaixonada. 20.03.2001

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Balada das Folhas Mortas

Todo o passado é folha morta Caída da árvore da vida. Se recordá-lo nos conforta, Às vezes deixa a alma ferida. Todo o passado mais parece A cicatriz de fundo corte. E a gente nunca, nunca o esquece, Pois é impossível dar-lhe a morte. Mesmo que esteja atada a porta, Sempre ele encontra uma saída. E suas dores ele exorta De forma multicolorida. Dentro do pensamento tece O emaranhado de atra sorte.

Pg lxxxii


Multiplica-se nesta messe Pois é impossível dar-lhe a morte. Por uma estrada rude e torta (E que se torna mais comprida) Eis que o passado abre a comporta E tudo invade sem medida... E o coração tanto padece Que alucinado vai sem norte... Raivoso o corpo enleia um S Pois é impossível dar-lhe a morte. Oferta: Tanto o passado me aborrece Que não consigo dar-lhe um corte, Da minha angústia ele se aquece Pois é impossível dar-lhe a morte. 26.03.2001

Pg lxxxiii


Balada Inspirada

Há na minh’alma a inspiração De oferecer a ti, amada, Aos sons do amor, uma canção, Para mostrar que – apaixonada, Ela anda em plena madrugada A repetir este refrão: – Sem ti, querida, não sou nada, E a vida é apenas ilusão! Por isso, em plena comoção, Dentro da noite enluarada, Vou aos teus pés – com devoção, Oferecer-te esta balada. És minha Musa, és minha Fada, Hino de vida e de razão.

Pg lxxxiv


– Sem ti, querida, não sou nada, E a vida é apenas ilusão! Ardo de amor como o verão Que deixa a vida incendiada. E vivo sempre na estação Que a vida faz iluminada. Contemplo em luzes a alvorada Que traz-me o sol com explosão. – Sem ti, querida, não sou nada E a vida é apenas ilusão. Oferta: És minha fruta açucarada! Provo-te o sumo em emoção! – Sem ti, querida, não sou nada, E a vida é apenas ilusão! 21.02.2002 (Colcha de Retalhos)

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Baladilha Drummondiana

O Silêncio agora grita No peito de todos nós, E uma saudade infinita Cresce, atra e torna-se atroz. Do Poeta é morta a voz De tanta sonoridade, Passa, Cometa veloz, – Oh, Carlos Drummond de Andrade! O céu na angústia se agita – Parece um tigre feroz. Mas o sonho necessita Desatar os férreos nós Que aprisionam o Albatroz Que está preso na cidade. Deixem que voe veloz Pg lxxxvi


– Oh, Carlos Drummond de Andrade! Pureza de Alma Bendita Onde, agora estareis vós? Vereis a Pátria bonita Onde os lábios, cheios de ohs! Dirão divinos bemóis? Matai a nossa ansiedade... Dizei, num Sonho veloz, – Oh, Carlos Drummond de Andrade! Oferta: Brilharás entre outros Sóis Para ficares Saudade. E a alma ao céu, irá veloz, – Oh, Carlos Drummond de Andrade! 17.08.1987

Pg lxxxvii


Balada Triste

(Que saudade dos beijos que me deste!) (Gustavo Teixeira) Penso e ao pensar meus olhos umedecem, Pois penso no passado alegre e lindo Que a teu lado vivi... as dores crescem Num desespero enorme, eterno, infindo... E passa o tempo, o dia vai fugindo, O céu já não está azul-celeste. Meu pensamento aos poucos vai sumindo, Que saudade dos beijos que me deste... Vejo na terra os outros que padecem... Mas este sofrimento eu sei que é findo. Esses que sofrem, vejo-os... se parecem Como quem tem no peito o amor florindo. E já bem sei: não viverei sorrindo Que em mim a dor existe como peste.

Pg lxxxviii


No mundo já nem sei aonde vou indo... Que saudade dos beijos que me deste... Meus olhos para os sonhos se perecem; Para o amor já não ficam mais luzindo. Meus pensamentos, do universo descem, Pois eu também, aos poucos, vou caindo. O amor a mim já não se faz bem-vindo Já não o vejo numa azúlea veste. A noite chega aos poucos, vou dormindo... Que saudade dos beijos que me deste... Oferta: Senhora, enquanto a noite vai fulgindo, Não deixes que a agonia a tudo creste. Meus lábios por teus lábios vão se abrindo... Que saudade dos beijos que me deste... 14.04.1978 (Luzes da Aurora)

Pg lxxxix


Balada da Paixão

Airoso sonho me envaidece E faz cantar o coração Uma sublime e doce prece Numa balada de paixão. Canto feliz esta canção E paz imensa me inebria; Vivo no mundo da Ilusão, Vivo nos braços da Poesia! E cada rima se parece Com as lindas penas de um pavão Que ao ver a fêmea um leque tece Em sua doida exaltação. Um sonho trago em cada mão No reflorir de novo dia, Vivendo tal contemplação Pg xc


Vivo nos braços da Poesia! E dia a dia em mim mais cresce Este prazer como oração; O amor dá frutos nesta messe E se faz trigo e se faz pão. Por isso nesta exortação Minh’alma canta e se extasia. E ao ter na vida esta emoção Vivo nos braços da Poesia! Oferta: Oh! Minha Amada, é com razão Que a alma feliz, se contagia... E ao ter do amor esta explosão Vivo nos braços da Poesia! 21.05.2000 (Portal dos Sonhos)

Pg xci


Balada do Solitário

Soluço versos de Dirceu À minha doce e eterna amada. Se seu amor não for só meu, (Pobre de mim!) não sou mais nada. Eu sigo só na madrugada Sofrendo a dor de estar assim. Minh’alma sofre agoniada E sigo só meu triste fim. Já fiz loucuras de Romeu Ao elegê-la minha Fada. Tomei da Lira... fui Orpheu, Mas ela olhou-me e desprezada Deixou minh’alma abandonada Qual rosa triste num jardim.

Pg xcii


– A minha noite está entrevada E sigo só meu triste fim. Se ela soubesse quem sou eu E lesse um dia, esta balada, Se desse vida ao que morreu Abandonado em longa estrada... Se ela com a voz apaixonada Ao meu amor dissesse sim... Mas ela passa e vai calada E sigo só meu triste fim. Oferta: Oh! Minha Musa idolatrada, Por que não vens junto de mim? A noite é fria, atra, gelada, E eu sigo só meu triste fim. 15.01.1996 (Portal dos Sonhos,2000)

Pg xciii


Balada Decadente

Meu Deus! É pura decadência Os poetas da atualidade Desconhecendo a nobre ciência Proclamam a modernidade, Criam sonetos pés-quebrados, Torcem a métrica na trova E alarmam forte, em altos brados: – A minha ideia é ideia nova! É sem perdão tal indecência E que Camões construa a grade Onde não haja penitência E reza alguma de um bom frade. Quem sabe assim desesperados, Seus versos jogarão na cova Pg xciv


E não dirão em altos brados: – A minha ideia é ideia nova! Que exista fim a esta insolência A essa fatal atrocidade, Pois a Poesia é da frequência De celestial sonoridade. Que tais poetas condenados Recebam uma boa sova E que se acarem, sim tais brados: – A minha ideia é ideia nova! Oferta: Que todos eles condenados Para o perdão tenham uma ova. E mudos fiquem os tais brados: – A minha ideia é ideia nova! 27.03.2001

Pg xcv


Balada Feliz

Quantas baladas já te fiz Para dizer-te, alma adorada, Que sou feliz, feliz, feliz, Tendo-te junto em minha estrada. E não existe nada, nada, Que mude um dia esse teor, Pois a minha alma apaixonada Não vive sem o teu amor. Sou teu Poeta, Beatriz, Sou Dante e trago a alma inspirada. No voo de áureos colibris Por flores mil, és minha fada! Eu te ofereço esta Balada Feita com pétalas de flor.

Pg xcvi


Pois a minha alma apaixonada Não vive sem o teu amor. O novo amor deita raiz Segue radiante esta jornada. E sempre vai pedindo bis Mal raia à noite, a madrugada. Oh, meu amor, oh, minha amada, Sou teu Poeta, teu Cantor, Pois a minha alma apaixonada Não vive sem o teu amor. Oferta: A rima pobre é iluminada Mas tem arco-íris cada cor, Pois a minha alma apaixonada Não vive sem o teu amor. 09.08.2007

Pg xcvii


Balada do Piracicamirim

Pernilongos, mosquitos, muriçocas, Lagartos, escorpiões, cobras e aranhas... Sob a ponte, dezenas de malocas, E moleques com fúteis artimanhas. Mau cheiro horrível, água estagnada, Touceiras e touceiras de capim... Que o motorista passa e não vê nada À margem do Piracicamirim... As águas lembram pútridas vinhocas, E parecem conter quilos de banhas, O perigo constante das barrocas Fazem essas visões tristes e estranhas. O perigo é demais na derrapada Quando um bêbado sai de um botequim; E a Prefeitura deixa abandonada Pg xcviii


A margem do Piracicamirim... Morcegos ali fazem suas tocas E os ratos fazem suas artimanhas... Meninos sujos fazem troca-trocas E no escurinho traçam as piranhas... Toda a população desesperada Reclama em vão... e a angústia não tem fim... Ai, quando ficará embelezada A margem do Piracicamirim? Dedicatória: Amigo Nazareno, esta maçada Chega até me dar cólicas de rim, Sempre que passo e vejo derrocada A margem do Piracicamirim! 14.04.1991

Pg xcix


Balada para a Lua

No céu da noite brilha a Lua, Colar de estrelas a rodeia. Serenamente brilha nua À luz do sol que lhe incendeia. Poeta – fico enamorado E lhe componho logo um verso. Que a Lua em seu brilhar dourado É a grande Musa do Universo! Seu forte brilho invade a rua E a alma de sonhos deixa cheia. E cada raio que tressua, Transforma em grades de cadeia. Porém, eu vivo apaixonado De um modo cálido e diverso,

Pg c


Que a Lua em seu brilhar dourado É a grande Musa do Universo! Minh’alma, Diana, é toda tua! É o que Ela em vida mais anseia. Desse desejo não recua E nunca chora ou devaneia. Deixa o caminho iluminado Para travar o tempo adverso. Que a Lua em seu brilhar dourado É a grande Musa do Universo! Envio: A ti meu canto é consagrado... Embora seja tão disperso, Que a Lua em seu brilhar dourado É a grande Musa do Universo! 25.04.2008

Pg ci


Balada de um Louco

Para glorificar a Fantasia Fiz-me de louco e – pária da loucura Pus meu pijama em plena luz do dia; Com gestos eu soltei minha magia, Fui estudar hirundinicultura Visitei as pirâmides do Egito, No Saara fui pastar o meu cabrito! E se tudo o que fiz foi muito pouco, De coragem maior eu necessito Para ser condenado como louco! Bradei abracadabras na alquimia! Coloquei sal num tacho de doçura. Por causa de uma vã radiografia Tomei um cálice de anestesia

Pg cii


Para fazer sessão de acupuntura. No instante do silêncio dei um grito, Pintei no peito as cores do Infinito Fiquei dez dias como um dorminhoco. Fui à rua imitando um periquito, Para se condenado como louco! Sem ter talento fiz Agronomia, Misturei chocolate e rapadura, Forjei ataques, sim, de epilepsia Dei falso alarme de uma epidemia. No frio me queixei de queimadura. Vou agora acender cigarro e pito Pois acho que vai bem, fica bonito. Vou por para benzer água de coco No instante de silêncio dou um grito Para ser condenado como louco!

Pg ciii


Oferta: Mas vejam só, será o Benedito! Ainda tenho o coração aflito. Se alguém der contra, vou de tapa e soco, Tudo o que fiz foi por amor, repito, Para ser condenado como louco! 27.11.1986

Pg civ


Balada da Fumaça

O cigarro descansa no cinzeiro Mas a fumaça, em longa serpentina Densa, vai preenchendo o ambiente inteiro, E em tudo vai colando um forte cheiro Que mais parece ser névoa londrina. Em baforadas lentas, mornas, graves, Aguço mais e mais o pensamento... Forma a fumaça serpenteantes naves E em rodopios forma imensas aves Enquanto me desfaço num lamento. Na extremidade um tímido braseiro Parece ser um olho de rapina. Fica me olhando fixo, prazenteiro, Como se fosse a lança de um arqueiro Querendo cometer uma chacina... Pg cv


No cinzeiro outros tocos, em conclaves, Não se rendem, jamais, ao forte vento... Querem ao meu destino por entraves Ou pensam, ao meu olho ser as traves, Enquanto me desfaço num lamento. Ah, vício insano, sou teu prisioneiro. E meu desejo nunca te abomina E sempre um novo maço te requeiro Pois és meu solitário companheiro, – Fiel amigo de fiel rotina! – Oh, mistura de fumos tão suaves! Fumar exige um ritual bem lento Tal um segredo posto a sete chaves... Estamos dentro um do outro como claves, Enquanto me desfaço num lamento. Oferta: Fumaça, quero que meus sonhos laves. Sê nesta noite a essência de óleo bento;

Pg cvi


Mística paz em todos os conclaves, Quero que meus pulmões, tu lenta caves, Enquanto me desfaço num lamento. 21.11.1994

Pg cvii


Balada das Meninas Prostitutas

Essas meninas pobres e esquecidas, Muitas vezes de rosto assaz pintado, Nos lábios marcas de batom borrado,. Vão levando sem eira, as suas vidas. Em velhas ruas, praças e avenidas, Aos transeuntes fazendo mil gracejos, Acenando com as mãos, jogando beijos, Sempre à espera que passe um pretendente, Mostram seus jovens corpos diariamente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas tristes, desvalidas, Seminuas expõem-se a este mercado, Exibindo um sorriso fabricado,

Pg cviii


Mostram no rosto, as expressões sofridas. Às vezes, com barrigas já crescidas, Mais lembra periquitos dos realejos Lançando a sorte em rápidos festejos Para encontrar decerto outro cliente... Tolas sonham e o sonho é contundente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas julgam-se queridas, Na fantasia tem um namorado. Sonham também viver junto ao amado Com parcas esperanças coloridas... Essas tristes meninas desvalidas São a escória do mundo em seus arpejos, São mendigas traçando vis cortejos São a crença de um mundo já descrente!. Pobres mostram um corpo repelente, Vendendo seus gemidos, seus desejos.

Pg cix


Essas meninas, umas – pervertidas, Outras – com triste olhar n’alma marcado, Podres mercadorias de atacado, Tem as suas vontades prostituídas. Da Sociedade sempre são banidas, São as flores dos charcos e dos brejos, São ratos nos esgotos, aos rastejos, Retratos de um país pobre e demente. Todas tem um sorriso deprimente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas – pobres margaridas, Sem futuro, presente e sem passado, Viciadas na bebida e no baseado, De bares e de clubes são excluídas. A muitos elas são jovens perdidas, São cacos de cortantes azulejos, Motivos para motes sertanejos Em canções de mau-gosto, inconsequente. Pg cx


Passam rindo, escondendo o olhar doente Vendendo seus gemidos, seus desejos. Oferta A Beira-rio traçam seus motejos, Mostrando dentes podres em bafejos, Essas meninas são, em nossa mente, A realidade de um Brasil dormente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. 04.01.2008

Nota: conferir com o Canto Real das Meninas Prostitutas, onde adicionei um verso a mais em cada estrofe desta Balada, transformando o Poema.

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Balada do Meu Amor

Componho sempre uma balada Para agradar minha querida. Minh’alma vive apaixonada Desta alegria estremecida. Esta é paixão que me convida A lhe dizer de peito aberto: Se, estás ausente a minha vida, Não tem oásis no deserto. Sem ti por certo não sou nada Sou folha da árvore caída. Meus passos vão de madrugada, Numa incerteza sem saída. O amor é colcha bem tecida, Com essa colcha me acoberto.

Pg cxii


Se, estás ausente a minha vida Não tem oásis no deserto. De forma tal vive encantada Nossa esperança colorida, Que nesta vida não sou nada Se acaso estás triste e ferida. A estrada é longa percorrida, Porém, de mim, sempre vais perto. Se, estás ausente a minha vida Não tem oásis no deserto. Oferta: Por isso te amo, Ana, querida, E digo assim de peito aberto: Se, estás ausente a minha vida Não tem oásis no deserto. 15.01.2008

Pg cxiii


Balada da Riqueza

O meu amor sempre merece Que lhe dedique uma canção. Assim minh’alma em cantos tece Versos de amor com o coração. É tão feliz a sensação Que em rimas todo o glorifico. E ao demonstrar tal emoção Da vida sinto-me mais rico. O meu amor jamais me esquece Vive a me dar satisfação. E dia a dia ele mais cresce Lembrando lavas de um vulcão. Escorre em flores pelo chão E mais feliz, com a alma fico.

Pg cxiv


Ao bendizê-lo em oração Da vida sinto-me mais rico. O meu amor é santa prece Que elevo ao céu numa oblação. Na noite fria ele me aquece Nos faz um só nesta união. Procuro sempre uma razão E ajoelhado o santifico. E por viver essa paixão Da vida sinto-me mais rico. Oferta: Carrego um sonho em cada mão E a realidade ratifico: Seja qualquer do ano a estação, Da vida sinto-me mais rico. 22.01.2008

Pg cxv


Balada da Saudade

Crio baladas à francesa Que é toda musicalidade. Ritmo, harmonia, singeleza, Doce ternura e suavidade. A inspiração a alma me invade Feliz os versos eu componho. Balada lembra uma saudade E de saudade vivo e sonho. Estrofes teço com beleza E é galanteio o verso que há de Fazer do amor uma certeza: – Poema de sinceridade. O amor num hino de verdade O coração deixa risonho.

Pg cxvi


Balada lembra eternidade Na eternidade vivo e sonho. Balada é verso de princesa Que canta e sonha de ansiedade. Inveja a pobre camponesa Que satisfaz-se indo à cidade. Nos olhos tem vivacidade Jamais revela o olhar tristonho. Seu véu encobre a castidade Na castidade vivo e sonho. Envio: O meu amor não tem idade. Se meu viver já vai tardonho, Quero viver a realidade Pois fora dela vivo e sonho. 22.01.2008

Pg cxvii


Balada do Cantor

Dedico versos ao amor Que na minh’alma vibra e canta. Por isso sou feliz cantor Que trago um verso na garganta. A minha rima em esplendor É rara e pura sinfonia. Sinto-me Orpheu e sou tenor Ao declamar minha Poesia. Um sonho raro e embalador Na minha vida se agiganta. Faço brotar viçosa flor Em qualquer rama, em qualquer planta. Sempre um perfume embriagador

Pg cxviii


Exala em cálida harmonia. E sinto em paz meu interior, Ao declamar minha Poesia. Na vida existe tanta cor, Tanta alegria, tanta, tanta, Que teço loas em louvor Num sentimento que me encanta. O verso levo num andor Numa paixão que me extasia. Por isso sinto tanto ardor Ao declamar minha Poesia. Oferta: Da vida sou um sonhador. Na vida não se passa um dia Que eu sinta o peito encantador Ao declamar minha Poesia. 23.01.2008

Pg cxix


Balada Carnavalesca É Carnaval! É Carnaval! A voz do samba é a voz da vida. Há um ritmo alegre e há um festival Que põe desfile na avenida. Pierrô procura Colombina Que oculta o rosto com um véu. Chove confete e serpentina E colorido fica o céu. Momo desfila triunfal Com sua roupa colorida. É rei que evoca o bacanal E se entorpece na bebida. A Escola firme determina Que haja furor, haja escarcéu.

Pg cxx


Chove confete e serpentina E colorido fica o céu. Sambista nua e sensual Rebola o corpo sem medida. No frenesi sensacional Para a devassidão convida. Samba frenético alucina E o corpo vai de déu em déu. Chove confete e serpentina E colorido fica o céu. Dedicatória: Na quarta-feira eis a rotina: Há um desespero por troféu. Luto, confete e serpentina Em cinzas fica todo o céu. 23.01.2008

Pg cxxi


Balada Amarga

Delírios d’alma. A sensação É sempre a mesma. Ando perdido. Perdida está minha razão Na vida sou incompreendido. Ao longe mágico violão Empresta som à melodia. Mas como é triste essa canção, Que letra amarga essa poesia. E digo sim, e digo não, Pelos delírios sou vencido. No peito bate o coração Na estrada o passo é indefinido. Sigo vazio de emoção E a tarde traz o fim do dia.

Pg cxxii


Crio um soneto... que ilusão! Que letra amarga essa poesia. Um sonho trago em cada mão Mas o meu sonho é entristecido. Poeta sem inspiração Busco um momento colorido. O eco repete uma oração Tristonha prece de agonia. Do verso a rima é um sonho vão Que letra amarga essa poesia. Envio: Oh! Meu amor, minha paixão, Venha trazer-me uma alegria Mas tu me dizes – decepção! – Que letra amarga essa poesia. 01.02.2008

Pg cxxiii


Minhas Baladas

Minhas Baladas... quando as componho Enamorado fico por elas. Pois nascem dentro de um lindo sonho Aureoladas por mil estrelas. Minhas Baladas sĂŁo sentinelas De um sonho lindo cheio de cor. Dentro do sonho feliz caminho, Declamo versos cheios de amor, E cada verso traz o esplendor E traz a vida a quem ĂŠ sozinho. Minhas Baladas quando eu as sonho

Pg cxxiv


São feiticeiras, são tagarelas, Trazem no olhar um mundo risonho, Ternas cantigas nas passarelas. Minhas Baladas abrem janelas, Invadem mundos com resplendor. No voo alegre do passarinho Declamam versos, fazem louvor, E cada verso traz o esplendor E traz a vida a quem é sozinho. Minhas Baladas... onde eu as ponho Trazem a chama rubra das velas, Quando por nada fico tristonho Espargem flores pelas vielas. Minhas Baladas doces, singelas, Trazem mil risos, não trazem dor. Tem a ternura de um níveo ninho Tem a meiguice do beija-flor. E cada verso traz o esplendor Pg cxxv


E traz a vida a quem ĂŠ sozinho. Oferta: A ti, Querida, todo fervor! Mais que esses versos, te dou carinho. Se houver outono, frio ou calor, Me primavero, rebento em flor, Jamais deixando este amor sozinho. 31.01.2008

Pg cxxvi


Balada Triste

Minha poesia planta a esperança Pelos canteiros de imensa horta. Cada semente – sou eu criança Doando sonhos de porta em porta. Minha poesia – lembra eu menino Correndo alegre pelos quintais. Buscando em rimas o meu destino Sonhando o mundo, querendo mais. Minha poesia canta a lembrança Que a alma poetisa em versos exorta. E cada rima no verso dança Por vezes certa, por vezes torta. Com versos claros eu me ilumino Teço baladas e madrigais.

Pg cxxvii


Ao sol brilhando vou no destino Sonhando o mundo, querendo mais. Minha poesia – manta que trança Uma vontade que há muito é morta. Cresce o menino, seu tempo avança, Do lar materno seu sonho corta. Declino passos, sonhos declino, Sonhos brilhantes bradam – jamais! – Ao longe fito um amplo destino Sonhando o mundo, querendo mais. Oferta em Saudade: A passos firmes no sol a pino, Os versos tangem tristes finais. Fica o passado, morre o destino, Sonhando o mundo, querendo mais. 26.02.2008

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Balada da Paixão

Dentro do peito o coração Entoa versos de balada. Transforma o Sonho na canção Que a vida fica apaixonada. Deixo a tristeza abandonada No fundo escuro do porão. Na vida não existe nada Que me provoque mais paixão. Transmudo o verso em oração E com a alma em luz, ajoelhada, Olho no céu a Imensidão Com seus segredos, encantada. È sinfonia iluminada, É puro amor, santa emoção,

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Na vida não existe nada Que me provoque mais paixão. Da vida os dias longos são E o sol – qual tocha iluminada! – Aos homens traga-lhes razão, Para que a Fé lhes seja dada. Que traga o verso a paz lavrada No ouro da pura exaltação. Na vida não existe nada Que me provoque mais paixão. Oferta: Que a Alma nos versos, inspirada, Entoe forte este refrão: Na vida não existe nada Que me provoque mais paixão. 28.02.2008

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Balada Cantante

Minha alma canta, o peito canta, É meu mister assim cantar! Ponho meus versos na garganta Teço cantigas de ninar. Mil versos canto na lembrança Que uma explosão de amor traduz. Se a voz no verso não se cansa, Meu verso na alma é pura luz. Meu verso em preces me acalanta Pois vem em ondas pelo mar. Se na poesia a alma se encanta, Lanço-os ao vento, à brisa, ao ar. Traduzo em versos a esperança Que no meu peito jorra a flux.

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Meu verso canta, embala, dança, Meu verso na alma é pura luz. A sinfonia me quebranta Em notas mil fico a sonhar. A paz que sinto é tanta, tanta, Que versos canto sem parar. A vida corre, o tempo avança, Meu céu em versos luz, reluz. Meu verso à paz tece aliança, Meu verso na alma é pura luz. Envio: De onde me veio tal herança Que verso puro reproduz? Desde os meus tempos de criança Meu verso na alma é pura luz. 28.02.2008

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Balada com Melodia

É necessário que a Poesia Viva nas nossas ilusões, E sua terna melodia Transforme nossos corações. Necessitamos de emoções Para viver o nosso dia. Assim as nossas decepções Terão um pouco de alegria. Que sua eterna sinfonia Preencha o dia de clarões, Que haja ternura e haja magia E as mais sinceras sensações. Que o som das mágicas canções Matem as horas de agonia,

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Assim as nossas decepções Terão um pouco de alegria. Que os versos tragam harmonia E tragam à alma mil razões Para florir tanta energia Que a paz transmuda em orações. Que o amor rebrilhe em mil florões E que não haja uma utopia Assim as nossas decepções Terão um pouco de alegria. Oferta: Mulher! Que os urros dos leões Tenham alguma serventia, Assim as nossas decepções Terão um pouco de alegria. 28.02.2008

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Balada para Maria Cecília

Cecília se tornou saudade Deixando aqui, abandonados, Poetas tristes na orfandade Com corações desesperados. Sua Poesia tão sentida Porém ficou a florescer, Desabrochando colorida Em hinos plenos de prazer. Da azul-celeste Eternidade Lança mil raios inspirados Para podermos, na ansiedade, Versos tecer iluminados. Aos versos teus, cheios de vida, Plenos de sonhos, por colher,

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Quero a Poesia mais sentida Em hinos plenos de prazer. Silêncio tece insana grade Prendendo versos cadenciados. Hinos em cantos de Verdade À flor da Vida estão calados. Ausência triste, enegrecida, Na solidão vive a sofrer. Faz falta a Musa enternecida Em hinos plenos de prazer. Dedicatória: A flor no vaso está caída, Sem ti não vai sobreviver. Volta, Cecília e dá-lhe vida Em hinos plenos de prazer. 28.02.2008

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Balada dos Olhos

Houve um adeus na despedida Que me deixou triste e chorando... Pássaro morto, fim da vida, Passos na noite vão errando. Caiu a lágrima furtiva No triste instante que houve o adeus. Porque deixei a alma cativa Naqueles lindos olhos teus. Noite sem lua, enegrecida, Sonhos no espaço vão num bando. Trago no peito a alma partida Sem rumo certo em transes ando. Por mais que nesta vida eu viva Me lembrarei de ti, oh, Deus!

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Porque deixei a alma cativa Naqueles lindos olhos teus. Sinto meus sonhos de partida Quedo-me em lágrimas olhando. Vai tua imagem refletida No coração que está sangrando. A dor da morte sempre ativa Tece relâmpagos nos céus. Porque deixei a alma cativa Naqueles lindos olhos teus. Oferta: Ah, que profunda expectativa De ouvir-te a voz... ai, sonhos meus... Porque deixei a alma cativa Naqueles lindos olhos teus. 28.02.2008

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Balada Brilhante

Embalo em versos a canção Que dentro d’alma me entorpece, Canta, feliz, o coração, Ouvindo os timbres dessa messe. A voz é plácida oração Que igual magia a tudo encanta. Em êxtase ouço-a em emoção, A própria vida em brilhos canta. Notas febris; doce ilusão, Como rosários a alma tece Hinos de amor feito paixão. Porém, de súbito acontece No largo céu... revolução: As rimas tecem fofa manta

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Bordada a pena de pavão. A própria vida em brilhos canta. Repete o verso o seu refrão: – Crença de luz que permanece Com esplendor numa oblação Que o céu dourado resplandece. Pura e divina é a sensação, É imagem virgem, sacrossanta. É frenesi, é comoção, A própria vida em brilhos canta. Oferta: Eterno Amor, com devoção Tamanho amor até me espanta. Mas ao te dar meu coração, A própria vida em brilhos canta! 29.02.2008

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Balada para Ana Maria

Trago no peito a alma inspirada E um coração aberto à vida. Para a Poesia é longa a estrada: Se traz espinhos... é florida. Engasto a rima... a mais preciosa Para poder versos compor. Às vezes colho alguma rosa Para fazer versos de amor! Respiro com a alma apaixonada A vida bela e colorida. Declamo versos para a Amada Que me ouve atenta e comovida. Descamba a tarde bela e airosa... Que maravilha é o sol se por!

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À doce Amada oferto a rosa A ela declaro o meu amor! No mundo não existe nada Que deixe a alma entristecida. Bem lembra algum conto de fada A história antiga e a ser vivida. Cada manhã maravilhosa Nos traz o sol raro esplendor. Oferto a mais perfeita rosa A quem eu chamo meu amor! Dedicatória: A vida é bela, é cor-de-rosa! Sou teu Poeta, teu Cantor! Ana Maria é minha rosa! É meu amor! Eterno amor! 29.02.2008

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Balada Poética

Sou teu Poeta, minha flor! Por isso em rimas sempre canto Que és o meu puro e eterno amor. Nas rimas sempre me suplanto Para ofertar, com esplendor, Meu verso pleno de carinho Pois sou, Querida, o teu cantor E canto como um passarinho. Demonstro assim o meu valor E é natural que exista espanto. Se a rima é pobre, por favor, Meu verso vai cheio de encanto. Amada, seja como for Iremos juntos no caminho.

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Pois sou, querida, cantador E canto como um passarinho. Minha Balada tem vigor! E canto-a sempre, em qualquer canto. Tecer baladas é labor Poético, e o esforço é tanto... Mas não demonstro mágoa ou dor. E perfumado teço um ninho Pois sou Poeta e trovador E canto como um passarinho. Envio: Sou Deus-Poeta e Criador Jamais irei viver sozinho. Sou teu Poeta, meu amor, E canto como um passarinho. 03.03.2008

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Balada das Rimas Pobres

Dentro das regras seculares Fico a compor minhas baladas: Oitavas simples e vulgares Com rimas pobres, desprezadas. Mas o prazer que sinto é tanto Que eu as componho com fervor. Com versos puros teço um canto Pois sou Poeta trovador. Rimas engasto iguais colares E brilham como as madrugadas; Milhões de massas estelares Fazem as noites encantadas. Momento mágico de encanto, A rima é pétala de flor.

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Vou modulando a voz num canto Pois sou Poeta trovador. Os versos brotam dos teares E estampam rosas encarnadas. Sonhos mergulho em fundos mares E trago pérolas douradas. Esse prazer é sacrossanto! Esse milagre é encantador, Que aos céus e aos mares vibro um canto, Pois sou Poeta trovador. Oferta: Contudo o verso finda e o pranto Cala meu peito de cantor. Mas crio logo um novo canto Pois sou Poeta trovador. 07.03.2008

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Balada Inocente

É necessário que a poesia Viva nos corações humanos, Que vivem presos na utopia E na arrogância dos enganos. É necessário que a alegria Brote em canteiros de esperança, Talvez assim, o mundo, um dia, Tenha a inocência da criança. O mundo vive na fobia E o homem somente causa danos. Explode a guerra, a epidemia, Podres estão rios e oceanos. Parece o amor não ter valia, Vivendo preso na lembrança.

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Sonho que o nosso mundo, um dia, Tenha a inocência da criança. Na vida a atroz melancolia Planta o desprezo em vis arcanos. Onde o sorriso outrora havia, Viceja hoje o ódio dos tiranos. Fatal e fúnebre agonia Com seu desejo a tudo entrança. Porém, que o amor no mundo, um dia, Tenha a inocência da criança. Envio: Homem profano, eu só queria Viver a paz sem mais tardança, Que assim a vida, em paz um dia, Tenha a inocência da criança. 07.03.3008

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Velha Balada de um Amor

Hoje te vi e uma paixão imensa Povoou a minh’alma em esplendor. E cantei, em delírio, linda crença, Para te declarar o meu amor. Tudo foi alegria multicor Quando beijei teus lábios delirantes, E na paixão tão cheia de calor, Na tarde a fenecer, fomos amantes. E o prazer não pedia recompensa Pois n’alma nós sentíamos o ardor Da entrega, numa força tão intensa, Que tudo, para nós, se fez fulgor! Era no ocaso, o sol ia se por, Mas antes que seus raios coruscantes Deixassem tudo em lívido negror, Pg cxlix


Na tarde a fenecer, fomos amantes. Nossa paixão vibrava no ar, suspensa; Dos nossos corpos, vinham o rumor Das carnes satisfeitas e era tensa A volúpias das almas, em frescor! Era a felicidade em sua cor Que a nós chegava em passos ebriantes, E ainda me lembro – em lindo resplendor, Na tarde a fenecer, fomos amantes. Envio: E todo esse romance, minha flor, Foi para mim como explosões radiantes De luz e ainda me lembro com ardor: Na tarde a fenecer, fomos amantes. 24.09.1981

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Balada para Gustavo Teixeira

Oh! Gustavo Teixeira, hoje o Poeta Rende glórias a ti, bardo inspirado, No peito o coração apaixonado Tuas loiras estrofes interpreta. E vibra uma paixão – sublime seta Que fere a alma num doce relicário! – E se transforma em trinos de canário. É delírio, é prazer, que tanto almejo Em tua fronte dar um terno beijo Nos cem anos do lírico Ementário! Oh! Gustavo Teixeira, grande esteta! Teu “Último Evangelho” é iluminado. Nele mostras Jesus – Filho Sagrado! – Que devemos segui-Lo como meta.

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Tua Musa, divina borboleta, De flor em flor, num vôo refratário, Beija “Leda”, tão triste em seu fadário. Mas a “ilusão ridente” num solfejo Dentro do coração soa um gracejo Nos cem anos do lírico Ementário! Oh! Gustavo Teixeira, tão discreta Foi tua vida, meu Poeta amado, Que relendo teus versos, inspirado, Fico a pensar, de forma até concreta, Que és brisa envolta em luz numa violeta. Mais leio “A Tempestade” e atroz cenário O espaço dilacera... e mais eu vejo: Os Poetas te saúdam num cortejo Nos cem anos do lírico Ementário! Oferta: Oh! Poeta das Rosas! Há um sacrário Na alta serra onde luz um campanário.

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E eu, Poeta, somente aqui desejo Que cante pela rua um realejo Nos cem anos do lírico Ementário! 13.03.2008

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Balada da Saudade I

Sim, é impossível que a maldade Maltrate tanto um coração. E aja em perversa atrocidade Ferindo-o a balas de canhão. Vivo de sonho e de ilusão E ser feliz assim quem há de? Disfarço em versos de canção Tudo o que chamo de Saudade. Sua feroz intensidade É monorrítmica estação. No inverno é pura frialdade, E é brasa pura no verão. Na primavera a sensação

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Floresce apenas por piedade. Porém, no outono é com razão Tudo o que chamo de Saudade. Tanto no campo ou na cidade É sempre a mesma sensação. Não acredito na verdade Mas a mentira é uma oração Que o eco repete num refrão. Com ela vivo na orfandade Sem ela é tudo solidão Tudo o que chamo de Saudade. Oferta Madrasta ingrata! Os sonhos vão Nessa sem fim perversidade. Por maltratar um coração Tudo o que chamo de Saudade. 24.03.2008

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Balada da Saudade II

Não é possível que a saudade Com suas garras de Quimera Contenha, sim, tanta ansiedade Que a alma em mil transes dilacera. Agarra à vida como a hera Com seus espinhos pontiagudos. Quer seja inverno, ou primavera, Os sonhos todos morrem mudos. Essa Senhora ingrata ainda há de Despedaçar-se na alta Esfera. E sua sombra de maldade Irá morrer de tanta espera. O tempo corre... Era após Era Traz os delírios mais agudos.

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Mas passa o inverno e à primavera, Os sonhos todos morrem mudos. Doce e fatal calamidade! Essa Senhora o mundo impera. Chama de ardente claridade Que amargo fruto delibera. E o coração jamais supera Os seus brocados e veludos. Mas tanto o inverno e a primavera Os sonhos todos morrem mudos. Oferta: Quero que vivas na tapera, Não vou cantar-te em meus estudos. Pois eu me inverno em primavera Os sonhos todos morrem mudos. 25.03.2008

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Balada da Criação

Nas pontas dos meus dedos já treinados, Eu tamborilo o ritmo com frequência. A métrica procuro em persistência Para os versos jamais soarem quebrados. Enquanto a mente explode em altos brados, Uso a técnica, domo o pensamento Que flui de leve, no valsar do vento. A estrofe em êxtase de luz suprema Como pérolas alvas de um diadema Brota d’alma em delírio atroz, violento. Maremotos, trovões, gritos, silvados, E tudo vibra em luz ,numa cadência. O coração explode em fúria e ardência, Solta laivos de dor desesperados.

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A ideia ferve, os sonhos vão alados, Há pulverizações de filamento. Uivam lobos da noite num lamento, Surgem constelações de forma extrema, Há colisão de sóis e o verso em gema Brota d’alma em delírio atroz, violento. Os abismos de treva – iluminados! Inexiste saber para tal ciência! Germina ainda no lodo da existência E os sonhos – deixa, em transes, inspirados. Lábios em beijos fortes, esmagados, Dão o prazer real desse tormento. Febre, fúria, paixão – divino unguento Faz que, à Força Divina, a alma trema. Momentos abissais! E tal teorema Brota d’alma em delírio atroz, violento. Oferta: Canta o Poeta! Deus desse momento

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Ele contempla a luz do Firmamento. Qual Príncipe celeste, enquanto rema, Na pura inspiração sente que o Poema Brota d’alma em delírio atroz, violento. 26.03.2008

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Balada do Galanteio

Minha querida, hoje te escrevo Como lembrança, esta Balada. Coloco as rimas em relevo – Doce homenagem para a Amada. Sem ti, amore, não sou nada, Repito sempre, sem parar, Pois a minh’alma apaixonada Nunca se cansa de te amar. Enfim nos versos mais me atrevo Que a alma a paixão deixa inspirada. Do quanto sou – tudo o que devo Por que na vida – és minha fada. Se, acordo em alta madrugada Em teu amor fico a pensar,

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Pois a minh’alma apaixonada Nunca se cansa de te amar. Se, estás ausente, eis que me entrevo E a vida sinto abandonada. Dentro do peito, Amiga, levo Um coração de alma encarnada. És minha doce namorada, Amor sem tempo de acabar, Pois a minh’alma apaixonada Nunca se cansa de te amar. Oferta Se a rima é pobre, terna Amada, É rico o amor para te dar, Pois a minh’alma apaixonada Nunca se cansa de te amar. 26.03.2008

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Balada Piracicabana

Piracicaba! Hoje te exalto Nos versos líricos que faço. Contemplo em êxtase teu Salto Que se transforma num regaço Para alentar meu coração. Te adoro tanto, tanto, tanto, Que solto a voz em oração Cheia de flores e de encanto. Piracicaba! Em sobressalto Eu te visito passo a passo. Bela Cidade! A força do Alto Embelezou-te em cada espaço. Nesta balada-exaltação É muito pouco este meu canto.

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O olhar te vê com emoção Cheia de flores e de encanto. Piracicaba! és no Planalto Referenciada em letras de aço. Que a voz no peito num assalto Brilha nos versos que ora traço. A vida vibra com razão Ao ver-te assim co’olhar de espanto. E é minha lírica oração Cheia de flores e de encanto. Oferta: O olhar te vê na Imensidão Lembra um poema sacrossanto. E findo minha inspiração Cheia de flores e de encanto. 27.03.2008

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Balada da Mocidade

Recordo a leda mocidade Cheia de sonhos por viver. Em tudo havia intensidade, Momentos puros de prazer. Mas foi passando a quadra airosa E foi chegando a luz da treva. E da esperança cor-de-rosa Foi-se o calor e a noite neva. Brotaram flores de saudade Em espinhoso belveder. A angústia e o tédio – por maldade Fizeram-me um triste esmoler. O sonho outrora era uma rosa E hoje, meu Deus, nada se leva...

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E da esperança cor-de-rosa, Foi-se o calor e a noite neva. Outrora tanta claridade Rumos de luz a percorrer. Aquela azul felicidade Perdeu a cor, pôs-se a morrer. A luz no Ocaso é tenebrosa, E um sonho ingrato se releva. E da esperança cor-de-rosa, Foi-se o calor e a noite neva. Oferta: A morte chega pegajosa, Da noite a luz também se entreva. E da esperança cor-de-rosa, Foi-se o calor e a noite neva. 27.03.2008

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Balada da Vitória

Para o poeta parnasiano A forma fixa é uma cadeia. A inspiração é um oceano Que a alma em instantes incendeia. Mas ele o verso e a rima doma, Doma a cesura mais correta. Leão sacudindo a hirsuta coma, Eis a vitória do Poeta. E nada o prende neste plano... Se a ideia foge ou devaneia, Tal qual um grande soberano, Eis que ele trava uma epopeia. A inspiração n’alma lhe assoma E a forma torna-se concreta.

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Um brinde às Musas ele toma, Eis a vitória do Poeta. Se o desespero lhe é insano, A rima filtra e tece a ideia. Pois o poeta é um ser humano Que adoça a vida da colmeia. Tal qual um gladiador de Roma A rima rica é sua seta. Multiplicando a sua soma, Eis a vitória do Poeta. Envio: Deixa o poema na redoma E faz do amor a sua meta. Ao dominar o sacro Idioma, Eis a vitória do Poeta. 28.03.2008

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Balada das Juras

Quantas baladas, quantos versos, Em teu louvor eu já compus! Nos meus sonetos pus, imersos, Jóias e pérolas de luz. Porém, tu fazes pouco caso De tudo o quanto já te fiz, Já coloquei rosas no vaso, Te prometi – serás feliz! Jurei te dar mil Universos, Já me preguei até na cruz! Agi dos modos mais diversos, E declamei versos a flux. Louco me fiz, foi um arraso,

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Nada valeu... não me sorris! Recoloquei rosas no vaso, Me prometi – serás feliz! E ages dos modos mais perversos, Pisas nas sombras, fazes uuus, Me assustas com teus gestos tersos, Me comes como os urubus. Pois bem, contigo não me caso, Cigana, doida, meretriz. Retiro as rosas lá do vaso, E não serás, jamais, feliz. Envio: No encontro próximo me atraso, Irei juntar-me a outra Beatriz. Ela terá flores no vaso, E tu serás muito infeliz! 29.02.2008

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Balada Apaixonada

Quando te vejo, o coração Badala como fosse um sino. Feliz bimbalha uma canção Num longo verso alexandrino. (Tal verso aqui, não cabe, não, Pois quebraria esta Balada.) Mas minha voz, em oração, Diz que por ti é apaixonada. Não há na vida outra razão De haver no mundo outro destino: O nosso amor se fez a união De uma menina e de um menino Que tinham n’alma uma ilusão. Juntos seguimos a jornada

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E minha voz, em oração, Diz que por ti é apaixonada. Juntos vivemos a paixão E com meus versos te ilumino. Sem ti a vida é solidão, É pranto amargo e desatino. O tempo voa num desvão E vamos nós na longa estrada. Mas minha voz, em oração, Diz que por ti é apaixonada. Envio: Mil sonhos trago em cada mão Para ofertar-te, minha amada. Pois minha voz, em oração, Diz que por ti é apaixonada. 02.04.2008

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Balada da Poesia A Poesia que está dentro de mim, Tem vida própria: pulsa, vibra, canta. Em cada verso a rima é régia manta, Bordada com brocados em cetim. Teve início, porém, jamais tem fim A ânsia de extravasar-me em harmonia. E canto, dia e noite e noite e dia Esta paixão que me consome a vida. Já se faz longa a estrada percorrida, Pois eu vivo nos braços da Poesia! Criança eterna, sou papa-capim Com trinado afiado na garganta. E canto em qualquer galho, em qualquer planta, E a estrofe – tico-tico num flautim – Fica a insistir que a vida é assim, assim... Eu transmudo essa doce melodia Pg clxxiii


Num poema que feito, a alma inebria. Esta paixão sublime, colorida, Faz que a Esperança viva mais florida, Pois eu vivo nos braços da Poesia! Ouço, às vezes, na mata, algum sem-fim E ele me diz numa ternura santa, Que esta vida é de fato sacrossanta. Também, molhando as flores no jardim, As ramas perfumadas do jasmim Pintam a primavera que anuncia Mudando o inverno em mágica alquimia. E esta paixão divina e tão sentida, Multiplica meus sonhos sem guarida, Pois eu vivo nos braços da Poesia! Envio: Ouço do céu sublime melodia! É a voz de Deus que tange em sinfonia!

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Mas que, com meu amor sempre divida Essa estrada de luz a ser seguida, Pois eu vivo nos braรงos da Poesia! 28.03.2008

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Balada dos Sonhos

Sonhos existem para ser sonhados E se tornarem realidade um dia. Enquanto sonho, vivo de poesia, E vivo de tais sonhos tão dourados. Os meus caminhos amplos e azulados São pinturas de sonhos coloridos. Espectros de desejos não vividos Esperas e ilusões que vão à frente. A realidade é fria, o sonho é quente, Que nossos corações deixam feridos. Outrora os sonhos eram esperados No fulgor resplendente da magia. E a contá-los, a voz, em harmonia,

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Tinha timbres e tons aveludados. Brilharam d’alma os olhos inspirados, Em desejos de luz irreprimidos. Os rumos a seguir eram floridos E nos acalentava o sonho ardente. Mas sinto que na vida tudo mente, Que nossos corações deixam feridos. Na jornada da vida os passos dados Foram passos de angústia e de agonia. A vida – uma esperança fugidia, Os sonhos – desesperos aloucados. Os fardos do martírio eram pesados, E os desejos tornaram-se corroídos. A céu aberto os cantos tão sofridos. Foram sonhos e esperas simplesmente, Plantando a solidão sua semente Que nossos corações deixam feridos.

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Envio: Da batalha saímos nós feridos, Derrotados ficamos mais perdidos. Os sonhos foram sonhos, tão-somente, Trazemos n’alma um sonho displicente, Que nossos corações deixam feridos. 31.03.2008

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Balada para a Ausente

Anjo querido e tutelar, Cuida meus passos nesta vida. Pois não pretendo mais vagar Qual folha morta ao chão caída. Vem com ternura, agasalhar Um coração que sofre tanto. Eu sinto o frio me gelar, Sem ti a vida é sem encanto. Quando contemplo o alvo luar, Fico com a alma entristecida, Somente tu podes curar O sangramento da ferida Que jorra sangue a borbulhar Quais quentes lágrimas do pranto

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Por isso, Amada, vem me amar, Sem ti a vida é sem encanto. Se ausente estás, forte é o pesar Da estrada longa a ser vivida. Somente tu – posso chamar Na longa estrada, – de querida. És como abelha no pomar: Produzes mel num doce canto. És minha praia – um doce mar, Sem ti a vida é sem encanto. Envio: Sonhemos juntos um lugar No céu, na terra, em qualquer canto! Ao Éden vamos sim, voar, Sem ti a vida é sem encanto. 03.04.2008

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Balada Encantadora

O meu amor é como rocha, É um lindo sonho encantador. Dentro do peito desabrocha, Lembra uma rosa multicor. Em cada pétala de flor Músicas doces de um compasso. E há nesse sonho, nesse amor, Carícia, afeto, beijo, abraço. O meu amor é como rocha, Forte e sereno, tem vigor. Dentro da noite é rubra tocha Iluminando e pondo cor Para seguirmos com fervor De nossas vidas, passo a passo.

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E há nesse sonho, meu amor, Carícia, afeto, beijo, abraço. O meu amor é como rocha, Declaro sempre, com louvor. Na Eternidade não se afrouxa, Dentro do frio, traz ardor. Sono suave e embalador O meu amor voa no espaço. E te oferece, meu amor, Carícia, afeto, beijo, abraço. Envio: Sou teu Poeta e teu cantor, És tudo o quanto em vida faço. Te oferto em mil canções de amor, Carícia, afeto, beijo, abraço. 04.04.2008

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Balada da Vida

Azul é o sonho quando a mocidade No chão da vida vai plantando flores. O ar se impregna de mágicos olores, E tudo vibra em força e intensidade. Esbanja o coração felicidade Soletrando canções do verbo amar. As noites são de estrelas e luar E sorrisos estampam nosso rosto. Na boca há adocicado e suave gosto, E a vida por viver é nosso lar! Tudo rebrilha à luz, à claridade, E nossos sonhos tem milhões de cores. Das esperanças somos os senhores

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E caminhamos frente à Eternidade. A vida é nossa luz, nossa verdade, Nosso canto de fé no caminhar. E nossos passos podem nos levar Do amanhecer à sombra do sol-posto. Os espinhos se apõem no lado oposto, E a vida por viver é nosso lar! Somos livres e temos liberdade, Temos as asas fortes dos condores! E somos todos nós conquistadores, E travar nossos sonhos, que é que há de? Vencemos com denodo a tempestade Que em turbilhões da vida é o insano mar! Viver, sorrir, vencer! E a divagar Nosso corpo se torna aberto e exposto. Mas na fila da frente é nosso posto, E a vida por viver é nosso lar.

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Envio: Corre o tempo em frenético voar... Faltando o chão, sentimos falta de ar. Tudo que de prazer era composto, Toma contornos de um glacial agosto E a vida por viver não tem mais lar... 03.04.2008

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Balada Iluminada

À flor da pele a inspiração Vibra em meu peito, instante a instante. Pulsa mais forte o coração Numa cadência delirante. A rima brota em profusão E ideias brotam coloridas. E cada estrofe é um cantochão Iluminando nossas vidas. Entoo versos de canção Modulo a voz, mudo o semblante. O canto sai como oração E invade o espaço em tom ebriante. Da terna amada tomo a mão

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E ponho pétalas floridas. Britam as flores da paixão Iluminando nossas vidas. A voz que canta é a da emoção E sei-me rei e sou amante! O sonho é belo, é inspiração, Um espetáculo vibrante. Nesta Balada-exaltação Mil esperanças são vividas. Os nossos sonhos lindos vão Iluminando nossas vidas. Envio: O amor na vida é sensação! As nossas almas são queridas. Que continue a Inspiração Iluminando nossas vidas. 04.04.2008

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Balada sem Importância

Pouco me importa a rima pobre Quando me chega a inspiração. Se de ouro, prata, bronze ou cobre, Riqueza está no coração. Eu sou, portanto, um milionário, Tudo o que tenho me irradia. Por isso canto igual canário Engaiolado na Poesia. Essa riqueza que me cobre Somente dá satisfação. Que importa ao longe um sino dobre Se o sonho está na minha mão? Ser rico é um dom extraordinário, Jamais ser rico me extasia.

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Por isso canto igual canário Engaiolado na Poesia. Assim o verso é sempre nobre Em seus delírios de paixão. Que a inspiração sempre me sobre Para compor, com devoção, Neste sem-fim itinerário, Versos de amor a cada dia. Por isso canto igual canário Engaiolado na Poesia. Envio: Musa divina, em teu sacrário Bebo a hóstia santa da harmonia. Por isso canto igual canário Engaiolado na Poesia. 04.04.2008

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Balada da Chuva

Choveu. Choveu o dia inteiro. A chuva era miúda e fria. Não era, não, forte aguaceiro Mas era a chuva da agonia, Que lentamente, lentamente, Traz solidão e em harmonia Invade e molha a alma da gente Numa sem fim melancolia. Choveu. Meu sonho aventureiro Olhava a tarde ampla e vazia. Mais parecia um marinheiro Num alto mar de calmaria. Mas a enxurrada – ela somente, No frio chão, fugaz, corria

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Numa cadência inconsequente, Numa sem fim melancolia. Choveu. Meu coração – braseiro Do frio ingente me aquecia. Mesmo no sonho sorrateiro, Deu-me calor – como magia. E ele aqueceu a minha mente Trouxe-me o amor todo poesia, Matou a angústia atra e gemente Numa sem fim melancolia. Oferta: Mas foi-se a chuva num repente, Rebrilha o sol de um novo dia. A solidão vai à corrente Numa sem fim melancolia. 07.04.2008

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Balada para a Ausente

Meu coração fica a sorrir Quando se encontra com a amada. Pois este amor é o elixir Que mais me deixa a alma inspirada. Por isso crio esta balada Que é feita toda exaltação. Porque sem ti, minha adorada, Meus dias tristes, tristes são. No espaço-tempo que há de vir – Quer seja dia ou madrugada! – Sonho viver sempre a seguir Junto de minha namorada. Se houver alguma encruzilhada Que ela não traga a solidão.

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Porque sem ti, minha adorada, Meus dias tristes, tristes são. A cada dia do porvir Sonho viver com minha fada. Tesouros de Golconda e Ofhir Estão no fim da longa estrada. Sigamos juntos na jornada Cantando em paz uma canção. Porque sem ti, minha adorada, Meus dias tristes, tristes são. Envio: Sem ti, querida, não sou nada. De teu amor sou devoção. Porque sem ti, minha adorada, Meus dias tristes, tristes são. 07.04.2008

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Balada Feliz

Quando componho minhas baladas Doida alegria em minh’alma infesta. Gemem violinos com ar de festa, Canários cantam nas madrugadas. Estrelas brilham alcantiladas Minha alma em cantos, doce, tressua, E faz cirandas, rodeando a lua. O ar se perfuma de áurea esperança, Sei-me Poeta, me sei criança, Canto nas praças, canto na rua. As rimas brotam apaixonadas E brilham luzes na minha testa. Doida magia se manifesta Canta parlendas pelas calçadas.

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Sonhos carrego e vão de mãos dadas Numa alegria que se insinua. Minh’alma à frente jamais recua: Toda sorrisos valseja, dança. Mais que Poeta, me sei criança Canto nas praças, canto na rua. Gnomos, duendes, bandos de fadas Espargem brilhos por qualquer fresta. Quantos delírios! Que alegria é esta Que em sonhos deixam almas aladas? As rimas cantam – vão encantadas! Cada uma delas se mostra nua E nos delírios brilhante sua... Na minha mente a estrofe balança Um sonho lindo e eu sendo criança Canto nas praças, canto na rua. Envio: Minha querida, na boca tua

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Coloco um beijo. – No céu a lua Com nossos sonhos trava aliança. Sou teu Poeta e sendo criança Canto nas praças, canto na rua. 07.04.2008

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Balada da Noite Fria

Da noite o frio me acompanha Gela-me o peito e o coração. O gelo corre em minha entranha Causando horrível sensação. Estou deitado e agasalhado Com cobertor, meias de lã. O corpo treme, estou gelado, A cerração cobre a manhã. De gelo existe uma montanha Que me sopesa, sem razão. Na teia branca, negra aranha Dorme na sua mansidão. Agasalhado estou deitado (Ai, do calor tanto sou fã!)

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O corpo treme, estou gelado, A cerração cobre a manhã. A sensação é muito estranha E o vento uivando lembra um cão. O aço do gelo a voz arranha Causa tremor e rouquidão. O frio está por todo lado A mim se prende como ímã. O corpo treme, estou gelado, A cerração cobre a manhã. Envio: Vem aquecer-me, anjo adorado. Sem ti a vida é vaga e vã. Sem teu calor vivo gelado, A cerração cobre a manhã. 07.04.2008

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Balada Fria

A noite é fria, fria, fria, O coração está gelado. Geme feral melancolia, O vento passa alucinado. Sofrendo estou de angústia e dor, Gemem os versos da poesia. Gemem os laranjais em flor, A noite é cheia de agonia. A noite é fria, fria, fria, Caminho só, desesperado. Feroz do vento é a sinfonia Que tecla notas no telhado. O frio faz perder a cor Roseira rubra que floria.

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Do galho pende fria flor, A noite é cheia de agonia. A noite é fria, fria, fria, Sozinho estou, meu anjo amado. Sem ti a vida está vazia, Vazio o sonho tão sonhado. Não mais as noites de calor, Porém as noites de agonia. Da rama pende a fria flor, A noite é cheia de agonia., Envio: Sem ter na vida o teu amor A vida sinto estar vazia. Sem teu perfume, linda flor, A noite é cheia de agonia. 10.04.2008

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Balada para Manoel I

“Café com pão, café com pão!” Anda nos trilhos, Seu Bandeira. Faça poemas de emoção Glória da Pátria brasileira. O poste passa, o pasto passa, E passa o galho de ingazeira. Mas a saudade, essa não passa, Geme no peito prisioneira. “Café com pão, café com pão!” Manda o foguista por madeira Para aumentar a combustão Que a alma é da vida passageira. Tudo na vida é uma ameaça, E a estrada é longa e bem traiçoeira.

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A minha angústia hoje não passa, Geme no peito prisioneira. “Café com pão, café com pão!” Entrei num Beco de primeira. Eu vou pedir é proteção Da Aparecida Mãe Padroeira. Ela dará por certo a graça Que peço em reza a noite inteira. Pois a maldade que não passa, Geme no peito prisioneira. Envio: Manoel de glória e forte raça, Cubra-me com tua Bandeira, Tira-me a dor que nunca passa Geme no peito prisioneira. 11.04.2008

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Balada Branca

Morrem os sonhos e a Esperança É posta numa cova fria. Não há mais luzes no caminho E a solidão geme sozinha. É longa e triste a longa estrada Aos dias negros que nos restam. Passos tropeçam nos atalhos E à vida se abre em negro Ocaso. A crença morre na cobiça E no silêncio ela se oculta. A voz professa uma mentira Que desvendar fica impossível. Travam-se os passos da verdade E o canto torna-se mentira.

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O olhar desvia-se do foco E a vida se abre em negro Ocaso. Tudo se perde no momento, Silêncio dita a voz do jogo. Poder nefasto vibra e canta, Porém, bem sei ser passageiro. Enquanto sofro tais agruras, Com versos lanço o meu repúdio. Porém o tempo voa rápido E a vida se abre em negro Ocaso. Envio: Eu vencerei as artimanhas Da atroz mentira que hoje luz. Irá surgir de novo a Aurora Ao sol que agora está no Ocaso. 11.04.2008

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Balada Embalada

Quero compor minhas poesias Em versos próprios de Balada. Criar milhões de alegorias Com a alma límpida e inspirada. Ficar olhando a madrugada Cheia de estrelas e luar, Até que em luz rompa a alvorada E um novo dia para amar! Na minha voz deito harmonias Pois ela canta apaixonada, E na razão longa dos dias À tua – a minha mão vai dada. Também com a alma apaixonada Ficamos juntos a cantar,

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Rompe a manhã, brilha a alvorada, E um novo dia para amar! Nas ramas cantam cotovias Uma canção doce e sagrada, Cantam aos céus Ave-Marias, Numa harmonia inusitada. És tu, Julieta, minha amada, Sou teu Romeu... vamos voar... Traz a manhã nova alvorada E um novo dia para amar! Envio: Longe de ti já não sou nada, És minha luz, meu céu, meu mar! Traga-me tu nova alvorada E um novo dia para amar! 17.04.2008

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Balada para Bandeira II

“Café com pão, café com pão!” Retorno ao mote, Seu Bandeira. O Trem-de-Ferro da Ilusão Recheia a Pátria brasileira. Com seus vagões abarrotados Foram buscar o ouro na trilha E nossos nobres Deputados Do Rio foram à Brasília. E cada um deles, em mansão Fazem crescer a roubalheira. E o Trem-de-Ferro, (eta trem bão!) Do povo ri na bandalheira. Todos com caras de safados Só querem o dim-dim que brilha.

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Políticos desempregados Do Rio foram à Brasília. Com as amantes lá se vão Que a farra é mesmo prazenteira. Um filho vem, outros virão Pois a moral não tem bandeira. Os cidadãos são humilhados Que a safadeza traça trilha. Pois nossos nobres Deputados Do Rio foram à Brasília. Desoferta: Oh! Virgem Santa dos Pecados, Mande ao Inferno os dessa Ilha, E a corja desses Deputados Expulse-as todos, de Brasília! 17.04.2008

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Balada Casamenteira

Badala o sino alegremente Na Capelinha do povoado Lili formosa está contente; Vai se casar com um... safado! O povo todo comparece Ao lírico acontecimento. No pátio para-se a quermesse Na festa desse casamento! Padre Jorjão, todo contente, Com forte voz e rosto suado, Fica esperando impertinente, O noivo que já está atrasado. Lili disfarça... desconhece Que o noivo é filho de um jumento...

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Mas vejam só o que acontece Na festa desse casamento: O noivo cheio de aguardente Pegou num sono desgraçado. E se esqueceu completamente Do matrimônio já marcado. Mas o destino sempre tece As suas tramas num momento, Lili não sofre nem padece Na festa desse casamento... Envio: Moço bonito se oferece E é realizado o Sacramento. Padre Jorjão faz linda prece Na festa desse casamento! 18.04.2008

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Balada do Solitário

Eu não consigo acreditar Que o riso transformou-se em pranto. O que era um lírico sonhar Perdeu de vez seu terno encanto. Com frenesi o verbo amar Iluminava nossas vidas, Hoje sou barco em alto mar E trago as velas recolhidas. Na solidão vivo a vagar E o mar solfeja um triste canto. Com meu batel vou naufragar Perdido nesse desencanto. Sinto asfixia e falta de ar A relembrar tais despedidas.

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Hoje sou barco em alto mar E trago as velas recolhidas. Quanto me doi o recordar De nosso sonho que foi tanto. Estou perdido, estou sem lar, Para acoitar nĂŁo acho um canto. Contemplo a lua a navegar Por entre estrelas coloridas. Hoje sou barco em alto mar E trago as velas recolhidas. Envio: A nossa estrela tutelar JĂĄ nĂŁo cintila em nossas vidas. Sozinho estou em alto mar E trago as velas recolhidas. 22.04.2008

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Balada do Vício de Cantar

Não deixarei o vício de cantar! Em minha vida o canto está presente De forma natural e reluzente, Por isso esparjo rimas ao luar Que o canto é minha luz para brilhar Em todos os momentos desta vida. Minha Esperança brilha colorida Qual tocha pondo a noite iluminada. Com fé vou percorrendo essa ampla estrada E os percalços levando de vencida. O canto chega em ondas pelo mar E cada rima brilha incandescente. Água pura vertendo da nascente Que serve para a sede mitigar.

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Cada estrofe dobada no tear – Linho puro é paisagem mais florida! – Lembra lenço acenando na partida, Doce abraço festivo na chegada. Com fé sigo vencendo essa jornada E os percalços levando de vencida. O vício de cantar me faz amar E desse imenso amor me torno um crente. Não sei se existe forma diferente Que não seja essa forma milenar De tal felicidade extravasar. O canto deixa a alma incandescente Deixa mais leve o fardo na subida. Assim, dessa maneira apaixonada Com fé sigo essa imensa caminhada E os percalços levando de vencida.

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Envio: Por mais vida que possa ser vivida Junto àquela a quem chamo de Querida, Hei de seguir a vida entrelaçada E juntos seguiremos nessa estrada, E os percalços levando de vencida. 25.04.2008

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Balada para Theresinha

(Aos 80 anos de minha primeira Professora) Theresinha do Canto Kraide) Minha querida Professora Esta balada te ofereço. E que ela seja a portadora De um grande amor, que não tem preço. Se, sou Poeta, a culpa é tua! Transmudo o verso em campainha. E vou cantando, à luz da lua, Oh, minha Santa Terezinha! Rebrilha o sol em nova aurora, O coração é todo apreço. Tanta lembrança n’alma mora E do passado não me esqueço. Perambulando pela rua Uma saudade burburinha,

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E vou lembrando, à luz da lua, Oh, minha Santa Terezinha! Saudade chega sem ter hora Com melodia o verso teço. O tempo voa vida afora, E a gratidão se molda em gesso. Mas tanto afeto continua A cadenciar de forma asinha, E vou sonhando, à luz da lua, Oh, minha Santa Terezinha! Dedicatória: Querida Mestra! De alma nua Transformo o verso em ladainha, E vou rezando, à luz da lua, Oh, minha Santa Terezinha! 14.01.2009

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Balada das mãos vazias

Todos os sonhos que nós trazemos Acumulados em nossos dias, Sendo verdades, nós já não cremos; Que se transformem em alegrias. Sonhos não passam de fantasias Que em transe mexem com nosso sono. Numa hora as mãos se tornam vazias, A primavera se faz outono. Aos nossos barcos faltam os remos E a correnteza, em mil sinfonias, Geme seus cantos tristes, extremos, Como a anunciar ferais agonias. Desesperadas, as ventanias As aves levam num abandono; As mãos se tornam frias, vazias, Pg ccxviii


A primavera se faz outono. Com nossos olhos nós já não vemos, As esperanças tremem vadias. As nossas preces, em tons supremos, Gemem angústias, melancolias. Busco nas trevas as Três-Marias, Mas nem dos sonhos sinto-me dono. Não trago preces nas mãos vazias, A primavera se faz outono. Envio: Oh, Sorte ingrata! Tu poderias Trazer-me a glória de um lindo trono... As minhas mãos acenam vazias, A primavera se faz outono. 22.01.2009

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Balada para um louco amor

De muito sonho, uma alegria, Uma ventura, um esplendor. A sensação para a poesia, O coração com muita cor. Um louco olhar na tarde fria, Um sol friorento e sem calor. Projeto nulo, alma vadia, Uma loucura, um grande amor. Uma quietude, ai, que agonia, Vulcão, silêncio multicor. Sinos tangendo à Ave-Maria, Lírico abraço, num torpor. Espasmos puros de alquimia,

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Muito a fazer, nada compor. Serenidade, fantasia, Uma loucura, um grande amor. Mormaço, sonho, fantasia, Loucura vã, canto, louvor. Tudo fazer à revelia, De o mundo imenso ser senhor. Um beijo ao céu, idolatria, Por fim o encontro encantador. Ecos no céu de sinfonia, Uma loucura, um grande amor. Envio: Assim eu vivo noite e dia Por tua causa, sou Ator. Quem não viveu nesta folia Uma loucura, um grande amor? 27.08.2001

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Balada sôfrega

Longe de ti, meu coração Sôfrego, sôfrego, padece. Longe de ti toda a ilusão, Toda a ilusão desaparece. A companheira solidão A meu viver se faz constante. Perco meus sonhos e a razão Se ausente ficas um só instante. Quero-te sempre. A sensação De tua ausência me entorpece O espírito... Ouve esta canção Que te ofereço como prece, Meu doido amor. Na vida não Posso viver se estás distante, Perco os delírios da razão Pg ccxxii


Se ausente ficas um só instante. Ah, meu amor, presta atenção: Ah, minha amada, se pudesse (Mas eu não posso, ai, ilusão, Meu coração jamais te esquece!...) Bem viveria na emoção De ser o teu eterno amante, Mas fico preso na razão Se ausente ficas um só instante. Dedicatória Sem ti as horas longas são, E a dor me fere anavalhante. Esta é a loucura, esta é a razão Se ausente ficas um só instante. 10.03.2009

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Balada pitoresca

Café com pão, café com pão! Que coisa incrível, oh, Bandeira. Um mar de lama e podridão É nossa Pátria brasileira. Para onde vai essa enseada Eu bem confesso que não sei. Mas no Senado é uma barbada As falcatruas de Sarney. É o trem de ferro da ilusão Nos trilhos dessa roubalheira. Tudo em Brasília é corrupção, É falcatrua, é brincadeira. Depois com cara bem lavada

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Sapo barbudo, nosso Rei, Diz que não sabe nada, nada, Das falcatruas de Sarney! E a gente vive na ilusão Com essa turma tão arteira. Que num descuido mete a mão Levando até nossa carteira. Não tem mais jeito essa maçada, Também sequer existe lei E a gente brinca e faz piada Das falcatruas de Sarney! A inspiração vai na enxurrada E um verso alheio até roubei. Até Pasárgada encantada Está temendo esse Sarney! 18.07.2009

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Canto Real Canto Real à Piracicaba Este Canto Real que faço apaixonado Ao meu Torrão Natal, é um canto que merece Ter mil rimas de Amor andando lado a lado, Como os duetos de fé de uma sagrada prece. Tomo a lira a David, de Orpheu empresto o canto, De nosso Padroeiro empresto o rude manto E desafio incréus, que a paixão que me invade Tem a voz de um coral com toda a alacridade, Que a Imensidão azul em serenatas trina Mil hosanas ao céu com toda a intensidade, Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! Ouço o Rio cantar... não é canto, é dobrado, A água do Salto cai, mil coloridos tece, A catadupa ruge... há balé e há bailado

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Que o Rio, com amor, à Cidade oferece! Para a vida feliz ao ver tamanho encanto! A água nas pedras rola em suave acalanto, É música do céu, doce sonoridade, A bruma da manhã veste toda a cidade! É tamanho o esplendor a brisa cristalina Que a alma canta feliz e canta em ansiedade Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! Vejo o Engenho Central soberbo, iluminado, É uma visão feliz que o olhar jamais esquece! No chão reflete o sol o açúcar refinado Coroando no céu esta bendita messe! Olho a Rua do Porto, oh, bendito recanto! – Paraíso Terrestre, onde há um terno quebranto De alegria, de amor, que os corações invade! Vejo, sonho feliz! a leda mocidade Dizendo com prazer, ao fitar tal vitrina O seu canto de amor da mais pura verdade: Pg ccxxvii


Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! Ouço um Poeta cantando um canto enamorado E entre rimas de luz, em seu colo adormece Porque percebe que é pela cidade amado E outro melhor postal no mundo não conhece... A hora crepuscular é de sublime espanto! O sol, mais parecendo um colossal helianto Põe na cidade a luz com tal luxuosidade, E a cidade rebrilha ao ouro e à majestade Que parece que Deus, nesta hora vespertina Também canta feliz em Sua Santidade, Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! O áureo Saber esplende em teu solo sagrado! A Arte é puro fulgor onde tudo floresce! Nas Escolas há luz, onde tudo é ensinado E a Música que Deus, pelo céu enternece. Quanta Luz do saber! Quanto desejo, quanto! Este Solo é sagrado! É puro! É sacrossanto! Pg ccxxviii


A vida brilha aqui com tanta claridade E a cidade nos prende em sua etérea grade Que a beleza sem paz a imensidão domina! Por isso, o Poeta diz, num hino de vaidade: Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! Dedicatória: Hoje canto feliz! A rima em unidade Louva Piracicaba um hino de amizade. Por isso, no cantar, a voz é genuína, Tem recamos de luz e diz com divindade: Glória à Piracicaba, à Noiva da Colina! 12.01.1996

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Canto Real das Meninas Prostitutas

Essas meninas pobres e esquecidas, Muitas vezes de rosto assaz pintado, Nos lábios marcas de batom borrado,. Vão levando sem eira, as suas vidas. Em velhas ruas, praças e avenidas, Mostrando um triste olhar desesperado Aos transeuntes fazendo mil gracejos, Acenando com as mãos, jogando beijos, Sempre à espera que passe um pretendente, Mostram seus jovens corpos diariamente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas tristes, desvalidas, Seminuas expõem-se a este mercado, Exibindo um sorriso fabricado,

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Mostram no rosto, as expressões sofridas. Às vezes, com barrigas já crescidas, (Onde o parto se faz sem ter cuidado) Mais lembram periquitos dos realejos Lançando a sorte em rápidos festejos Para encontrar decerto outro cliente... Tolas sonham e o sonho é contundente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas julgam-se queridas, Na fantasia tem um namorado. Sonham também viver junto ao amado Com parcas esperanças coloridas... Essas meninas lívidas, transidas, São os frutos de um mundo depravado. São a escória do mundo em seus arpejos, São mendigas traçando vis cortejos São a crença de um mundo já descrente!. Pobres mostram um corpo repelente, Pg ccxxxi


Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas, umas – pervertidas, Outras – com triste olhar n’alma marcado, Podres mercadorias de atacado, Tem as suas vontades prostituídas. Da Sociedade sempre são banidas, Porque trazem a marca do pecado! São as flores dos charcos e dos brejos, São os ratos de esgotos, aos rastejos, Retratos de um país pobre e demente. Todas tem um sorriso deprimente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. Essas meninas – pobres margaridas, Sem futuro, presente e sem passado, Viciadas na bebida e no baseado, De bares e de clubes são excluídas. A muitos elas são jovens perdidas, Passam doença em cada beijo dado,

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São cacos de cortantes azulejos, Motivos para motes sertanejos Em canções de mau-gosto, inconsequente. Passam rindo, escondendo o olhar doente Vendendo seus gemidos, seus desejos. Oferta A Beira-rio traçam seus motejos, Mostrando dentes podres em bafejos, Essas meninas são, em nossa mente, A realidade de um Brasil dormente, Vendendo seus gemidos, seus desejos. 30.01.2009

Nota: Conferir com a Balada das Meninas Prostitutas

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Martelos Martelo Agalopado No martelo o meu verso é agalopado Que é a forma correta de compô-lo. E não há desconforto ou desconsolo Escrever neste jeito cadenciado. O bom verso jamais se torna errado Na cadência e no ritmo que o condiz. E o poema jamais se contradiz Se lhe bate no peito a inspiração. Pois a voz que lhe fala é o coração E o Poeta é na vida um ser feliz. No martelo perfeito ajusto o passo Para ser entendido por cantores. E se exalto nos versos meus amores, A canção eu conduzo no compasso. Aos amores eu dou um forte abraço Pois em cantos no peito a alma me diz. Pg ccxxxiv


E jamais me recurvo à cicatriz De um amor que foi falso e teve adeus. Sou do amor mais sublime a voz de Deus, E o Poeta é na vida um ser feliz. No martelo os amores sempre canto Na maneira mais justa e mais correta. Sou Orpheu, na guitarra sou poeta, Sou Davi, com a Lira tudo encanto. Com certeza jamais derramo o pranto Nem na face carrego a dor matiz. Se, bimbalho mil sinos na matriz Exaltando um amor pleno de luz. Sou o amor que na vida o amor conduz, E o Poeta é na vida um ser feliz. Pouco importa que seja o mês de agosto, Pois o inverno antecipa a primavera. Não me prendo a momentos de quimera, Não me aqueço com raios de um sol-posto.

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Não há lágrimas frias em meu rosto E nem traço caminho a pó de giz. Os meus sonhos são livres dos ardis, Vivem soltos, alegres pelo ar. Amo a luz das estrelas, do luar, E o Poeta é na vida um ser feliz. A galope caminho a céu aberto E aos delírios do amor canto e suspiro. Meu amor é na vida o ar que respiro Meu amor de minh’alma vive perto. Não existe sequer um passo incerto Nem abismo onde a dor crie raiz. Eu invento um amor, crio um país Pois o amor para amar requer amor. O meu mundo na vida tem mais cor, E o Poeta é na vida um ser feliz. 26.02.2008

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Martelo justo e perfeito

Eu desejo escrever, dia após dia, Os meus versos de formas diferentes, Com martelos, com foices e correntes, E em baladas compor minha poesia. Necessário uma dose de alquimia Para o verso sair de qualquer jeito, Se precisar cavar dentro do peito Um buraco maior que o próprio mundo. E buscar lá do fundo, bem do fundo, O meu verso mais justo e mais perfeito! A poesia não pode ser contida Quando brota, inspirado, dentro d’alma. Coração nesse instante não se acalma, E parece abalar a própria vida. Nesse instante a explosão deixa florida

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A alegria que vem sem preconceito No martelo não pode haver defeito, Na cesura, na métrica e na rima. Deve sempre brilhar de forma opima, O meu verso mais justo e mais perfeito. Cada verso é coluna sustentada Nas viagens que dão Sabedoria. Eis a Força, e a Beleza da Poesia Trabalhando incansáveis na jornada. É momento de glória ilimitada Na razão mais sublime do conceito. Se outras glórias existem não aceito, E nem posso aceitar que um’outra exista. É por isso que deixo nesta pista, O meu verso mais justo e mais perfeito! 27.07.2007

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Martelo dos meus antepassados Fico sempre a pensar de madrugada Quem eu sou, de onde vim, o que aqui faço, Contemplando esquecido o largo espaço Não consigo chegar a quase nada. Tudo é muito esquisito nesta estrada E os mistérios os sinto fragmentados. Nem consigo deixá-los clareados; Mas defino em verdades quase eternas:: Que descendo dos homens das cavernas, Muitos deles são meus antepassados. Todo o espaço contém milhões de estrelas É o insondável mistério do Infinito. Muitas delas tem vidas – acredito, Mas, tais vidas, também não posso vê-las. Como posso tais coisas entendê-las Já que a História tem rumos sepultados

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E os enigmas são todos enterrados Em bebidas nas noites das casernas? Se eu descendo dos homens das cavernas, Muitos deles são meus antepassados. Alighieri, talvez, seja meu tio, Com Petrarca talvez criei sonetos. Mas não posso encontrar os amuletos Que sepultam meus sonhos num vazio. É demais para mim o desafio De querer desvendar tempos traçados, Se eles são verdadeiros ou errados São verdades de luz justas, eternas, Mas descendo dos homens das cavernas, Muitos deles são meus antepassados. 11.01.2005

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Martelo mais que profano

Teço versos e sonhos interpreto As razões disso tudo que acontece. Tudo feito misturo no concreto Para ter pensamento mais correto, Para ter sinfonias como prece. E galopo meu sonho muito louco Na amplidão do martelo agalopado, Na algibeira do verso canto rouco Sempre achando que o tempo é sempre pouco Para tem quem o peito apaixonado. O martelo produz seu canto surdo Estalando monótona oferenda. Mais parece um soldado na contenda A lutar pelo que acha vago e absurdo. Com os versos que agora em transes urdo; Pg ccxli


Teço tramas de sonho mais nefasto, No bater do martelo agalopado Os meus sonhos, com ânsias eu arrasto E sou mil quando penso que fui pasto Para quem tem o peito apaixonado. Sordidez mais hipócrita e mofina Não existe talvez, quem tenha feito. E se a mente profana foi cretina, Atolei a esperança tão menina, Fui idiota de todo e qualquer jeito. O perdão que ora peço não mereço E me fere o martelo agalopado. Se o desprezo recebo eis que agradeço Pois é duro demais tão alto preço Para quem tem o peito apaixonado. A entoar tal martelo o som estala E repete cruel epifania: És Poeta, és cruel – o som me fala

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E o suor que teu corpo agora exala É o suor que te cobre na agonia. Não mereces o amor do mundo aberto, Nem mereces o som agalopado, Mas mereces os dias no deserto, E o viver sempre ingrato e sempre incerto Para quem tem o peito apaixonado. E o refrão mais profano e mais macabro Ainda fere meu cérebro profano. Frente a frente cintila um candelabro A luzir o terrível descalabro Que te fiz com a mente de um insano. Dói-me o peito, fui ímpio e foi vileza Não mereço sequer ser inspirado. Um Poeta com tanta atroz crueza Não merece respeito, com certeza, Para quem tem o peito apaixonado. Dize tudo o que quero que te escuto, Pg ccxliii


A vergonha nas faces ora trago. E que o peso de enorme viaduto Caia em mim já no próximo minuto E me arraste nas sombras – negro mago. Se eu puder levantar-te deste lodo Para ter um momento iluminado, Se eu puder por os pés fora do engodo, Serei luz e esperança nesse Todo, Parar quem tem o peito apaixonado. 12.01.2004

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Ritornelo Ritornelo A minha Poesia Quem dera que fosse Um pouco mais doce E menos amarga, Porém, o meu canto O sonho me embarga E com desencanto A minha Poesia Só tem agonia. Quem dera que fosse A minha Poesia Um canto de vida! Contudo é sentida, Pois lhe falta o doce.

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Quem dera que um dia Mais doce me fosse. A minha Poesia 29.02.2008

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Espinela Espinela

(Décima) Jesus Cristo veio à terra Para a todos nos salvar. Foi, pois, a pedra angular Que da Palavra fez guerra. Sua voz ainda hoje erra Nos palácios, nos postigos, Nos corações acha abrigos Pois Ele um dia nos disse Com paz, amor e crendice: – Amai vossos inimigos! 19.03.2008

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Décimas variadas A Décima é necessária Uma técnica apurada. A redondilha é sagrada E a rima é extraordinária. Pode viver solitária Ou ser partes de um poema, Mas deve, como um diadema, Ser sempre um brilhante puro, Iluminar o futuro Encerrando qualquer tema. Mas se a Décima vir agalopada, É melhor ter os timbres do Martelo. E seu canto perfeito seja belo Com encantos sublimes do Alvorada. E não pode jamais vir quebrara, Pois o dom junto ao verso causa atrito.

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Sou poeta que fujo do grito Ou a crítica chega e fica péssima. É por isso que teço a minha Décima E obedeço a cesura, o metro e o rito. 18.02.2009

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Epitáfio Epitáfio

(Décima)

Rimas esparsas aqui componho! Doces lembranças da mocidade. Mas hoje tudo se faz saudade Pelo ar se esgarça qual ledo sonho. E com saudade com a alma ponho Nesse turíbulo o doce incenso De tudo quanto saudoso penso. E esta saudade se faz tão forte Que vai vencer, talvez minha morte Em cada verso de amor intenso. 24.03.2008

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Gazais Gazal para a Amada Querida, ouve meu Gazal; Ele é só teu afinal. Quando por mim tu passaste Lançando um olhar fatal, Eu senti dentro do peito Um amor celestial. E minha alma de poeta – Alma esta sentimental! – Começou a fazer versos Num dom sobrenatural. Fiz poemas de alegria Com tua essência floral, Porque meu Gazal, querida, É só teu. Ponto final. 15.12.1991

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Gazal para a Querida Um Gazal meu verso tece E com amor te oferece. E em minh’alma vou compondo À maneira de uma prece E brotam na minha mente Como frutos de uma messe Eu te oferto com carinho Nada, porém, acontece. Por isso, dentro do peito, O meu coração padece. E meu caminho contorno Com o corpo arqueado em S. Meu Gazal passa batido Meu coração se aborrece. Por isso, minha querida, Dos olhos o pranto desce.

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E nada mais nesta vida Meu coração te oferece. 17.12.1996

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Moteto

Moteto

Compor versos é minha grande sina! Há quarenta anos neste duro ofício, A inspiração constante determina Que não posso me ater a outro exercício. Com meus versos construo um edifício Oh, sacrifício! Que o verso é minha glória e minha ruína! 18.04.2008

Pg ccliv


Rondel magoado

Rondéis

O meu coração magoado Ainda chora de agonia. A minh'alma inerte, fria, Não vive mais ao teu lado. Caminho desesperado, Não tenho mais alegria. O meu coração magoado Ainda chora de agonia. Está tudo terminado, Só me resta a nostalgia Daquela imensa magia. E carrego noite e dia O meu coração magoado. 24.03.81

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Rondel da busca

O meu olhar te procura E não te encontra, querida. Ai, tristonha desventura Não te encontrar pela vida. Minha ilusão vai perdida E em mim se instala a loucura. O meu olhar te procura E não te encontra, querida. Minha alma, toda tristura, Sem consolo, desvalida, Sente falta da ternura Nesta ilusão tão sofrida O meu olhar te procura. 27.02.2008

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Rondós

Rondó do meu amor

O meu amor. Porto seguro Onde repouso o meu cansaço. O meu passado, o meu futuro, O meu caminho aberto e puro Onde certeiro aprumo o passo. E com certeza eu asseguro Que a ele estou preso pelo braço E em seu carinho me aventuro. O meu amor. Doce ternura esse regaço Que traz a luz ao sonho escuro. Maior que o céu, que o próprio espaço A ele me prendo num abraço

Pg cclvii


E em ternos beijos me depuro. O meu amor

28.02.2008

Pg cclviii


Rondó para a querida Minha querida e terna amada, Quando cansado chego em casa, O teu sorriso é uma alvorada Que a alma me deixa descansada, Doce ternura que me abrasa. Nesse repouso penso em nada... – Que importa que haja guerra em Gaza, Guerra no Iraque alucinada? Minha querida. O peito sinto arder em brasa E a alma transborda apaixonada. És minha Musa idolatrada, Razão da vida tão sonhada. Do amor eu solto asa por asa, Minha querida. 27.03.2008

Pg cclix


Rondó do coração O coração sofre calado Na sua desventura imensa. Sozinho está. Desesperado Ele soletra um canto alado Numa sentida e pura crença. Está sozinho, abandonado, A dor no peito é forte, intensa, Flechas de dor o tem vazado. O coração. Mas ele pede a recompensa De um dia ser de todo amado. Ter um extremo bem ao lado Para seguir feliz o fado. Assim calado, triste pensa. O coração. 07.04.2008

Pg cclx


Triolés Triolé da distância A distância dei-lhe um beijo E ela não me respondeu. Não aplacou meu desejo; A distância dei-lhe um beijo. Na vida o que mais almejo É um beijo do lábio seu; A distância dei-lhe um beijo E ela não me respondeu. 24.03.81

Pg cclxi


Triolé do mistério

O meu amor é tão bonito Que não consigo descrever Pois tem mistérios do infinito. O meu amor é tão bonito! Por sua causa um treno imito E mais feliz fico a viver. O meu amor é tão bonito Que não consigo descrever. 08.06.1999

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Triolé do amor O meu amor que é tão bonito Tem uma beleza sem par. Tem os mistérios do infinito E a beleza glauca do mar. O meu amor que é tão bonito Não cabe neste verso escrito E é tão difícil de falar. O meu amor que é tão bonito Tem uma beleza sem par. Tem uma beleza sem par O imenso amor que n’alma sinto. Traz a meiguice do luar E o doce gosto de Corinto. Tem uma beleza sem par Que põe luzes num labirinto E nas profundezas sem par

Pg cclxiii


Tem uma beleza sem par O imenso amor que n’alma sinto. O imenso amor que n’alma sinto É tão difícil de explicar, Não tem explicação – é instinto, É necessário como o ar, O imenso amor que n’alma sinto Deixa meu coração faminto Deixa meu coração cantar – O imenso amor que n’alma sinto É tão difícil de explicar. É tão difícil de explicar O que é invisível e é bonito. Muito mais fácil é falar Do que tentar deixar escrito. É tão difícil de explicar Que chega a me causar conflito Pois não encontro requisito: Pg cclxiv


É tão difícil de explicar O que é invisível e é bonito. 13.11.1994

Pg cclxv


Triolé embalador

O sono é suave e embalador, Repousa o corpo do cansaço. Vivendo junto ao meu amor O sono é suave e embalador. Nas noites quentes de calor Feliz é a noite em seu regaço. O sono é suave e embalador Repousa o corpo do cansaço. 27.03.2008

Pg cclxvi


Triolé do merecimento

O nosso amor merece ter Abraços, dengos e carinhos. As horas plenas de prazer O nosso amor merece ter. Da vida imensa por viver Jamais vivamos nós sozinhos. O nosso amor merece ter Abraços, dengos e carinhos. 28.03.2008

Pg cclxvii


Triolé triste

Este silêncio que a alma me invade, Silêncio triste de morte triste, Se, é verdadeiro, se não existe, Talvez mentira, talvez verdade, Este silêncio que a alma me invade Em minha vida cruel persiste. Silêncio triste de morte triste, Me traz arrulos de uma saudade Este silêncio que a alma me invade. 01.04.2009

Pg cclxviii


Glosas Glosa Não deixa de ser tolice Trabalhar a vida inteira; Quando se chega à velhice... Sem tostão no algibeira!

(Maria Célia C. Roque – Portugal) Mal o galo acorda o dia Já dou um salto da cama. Dou dois beijos em quem me ama E parto para a porfia Na mais penosa agonia... No peito tenho a crendice Que já nem sei quem me disse, Que o trabalho é que enobrece... E crer assim nesta prece,

Pg cclxix


Não deixa de ser tolice... Mal vejo o crescer dos filhos E a garrulice da infância... De todos tenho distância Pois nos olhos trago os brilhos De apenas seguir os trilhos De uma glória feiticeira... E a vida corre faceira... Mas carrego em minha mente Apenas o sonho crente:

Trabalhar a vida inteira! E o tempo – feito fumaça, Enegrece meus projetos... – Meu Deus! Vieram os netos! E a vida como trapaça Mais veloz que o vento – passa... Se na juventude eu visse

Pg cclxx


Que obrar tanto é cretinice... Não vale o arrependimento Que se abre a mim no momento

Quando se chega à velhice... E deste trabalho tanto Resta-me por recompensa: Tristeza, angústia, doença, Um martírio em cada canto E uma vida sem encanto... Só tenho por companheira Neste triste fim de feira O tédio no fim do dia E uma esperança vadia

Sem tostão no algibeira!... 15.03.1998

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Décimas

Fui cruzando o mar da vida Numa constante odisséia, Como uma abelha perdida Longe de sua colmeia.

(Clementino D. Baeta)

De meu barco alcei as velas E me pus em mar aberto. Vagando num rumo incerto Guardei na retina as telas De tantas paisagens belas. Com vontade desmedida Não foi minh’alma ferida, Nem me venceu a inconstância. Vencendo qualquer distância

Pg cclxxii


Fui cruzando o mar da vida. Vencendo clima diversos Tracei então minha meta: Fui trovador, fui poeta Dos mais largos Universos Nas batalhas destes versos. Após tamanha epopeia Consigo hoje ter a ideia De tanta luta ofegante: De todas eu fui amante

Numa constante odisseia. Por vezes me vi singrando Desconhecidos caminhos. Fiquei distante dos ninhos De quem ficou me esperando: – Ave perdida do bando!... Porém, levei de vencida

Pg cclxxiii


As artimanhas da vida Nem me senti Ă quimera Com o fim da primavera,

Como uma abelha perdida. Colhi do chĂŁo os gravetos E rimei minha poesia. Traduzi em melodia Os inspirados sonetos Que tive por amuletos. A alma nĂŁo mais devaneia, Foge dos bancos de areia... No ocaso que se avermelha Jamais me sinto uma abelha

Longe de sua colmeia 14.05.1998

Pg cclxxiv


Glosa

A vida faz-se a lutar P’lo direito mais profundo De se poder alcançar O amor e a paz no mundo. (Jorge Marques – Portugal) Sou Poeta! A minha Lira Faz parte do meu trabalho. A rima é meu agasalho O poema é minha pira. Tudo na vida me inspira: Uma noite de luar, Um coração para amar, Mar achar o Paraíso Ouça bem o meu aviso:

A vida faz-se a lutar!

Pg cclxxv


Mas o mundo não compreende De Deus as Suas vontades... Busca achar amenidades, Na vida vai – qual duende... Somente o Poeta entende Os caminhos deste mundo, E cada vez mais fecundo Engasta a rima ao seu verso, Luta junto ao Universo

P’lo direito mais profundo! O Poeta cria o canto, Solta a voz – se faz Profeta! Faz da paz – a sua meta, Faz do amor – o seu encanto. Jamais aproveita o pranto Para a glória conquistar; O que pode agasalhar

Pg cclxxvi


Prende em áureo diadema. Eis a glória do Poema

De se poder alcançar! Assim o Poeta, à vida, Erige seu Monumento, Na melodia do vento Esparge a essência florida... Mesmo tendo a alma ferida, Jamais se vê moribundo. O seu desejo vai fundo Pois o Poeta só sonha A ter na estrada risonha:

O amor e a paz no mundo! 15.04.2001

Pg cclxxvii


Glosa

Das línguas todas da Terra Só uma é universal. Ouço-a no mar; e na serra... Ouço-a cantar Portugal! (José Francisco Rodrigues)

Quero encontrar em meu canto A forma exata e correta Para, na arte de Poeta, Ao meu verso dar um manto Que tenha fulgor e encanto... Tal desejo em mim encerra E o eco em minh’alma berra, Portanto minha mensagem Da Palavra tem a imagem

Das línguas todas da Terra.

Pg cclxxviii


Perguntam-me: – Qual o idioma Que tu, Poeta, nos falas? Que áurea harmonia trescalas No mais suavíssimo aroma? Está n’alguma redoma Este canto celestial? Em qual país afinal Existe formosa lavra? Se tem ouro na Palavra:

Só uma é universal! – Conheço as línguas latinas Em todas as suas formas, Decifro até suas normas Em constantes sabatinas. Mas tu, Poeta, iluminas Todos os cantos da terra Com este canto que encerra

Pg cclxxix


Amor, encanto, ternura... E tua voz que fulgura

Ouço-a no mar; e na serra... – José Francisco Rodrigues Já nos disse numa trova E a Palavra não é nova... – Meu amigo, não me obrigues Também comigo não brigues; Este canto é natural, Foi de Pessoa e Quental, Camões já o pôs em seu verso E ao ecoar no Universo

Ouço-a cantar Portugal! 15.02.2001

Pg cclxxx


Glosa

E eu vou sozinho, pensando Em teu amor, a sonhar, No ouvido e no olhar levando Tua voz e teu olhar. (Olavo Bilac)

Noite alta. O luar prateia Da cidade cada rua. Minha alma vagueia nua, Devaneia, devaneia. A lua fulgura cheia, Todo o céu está brilhando. Passa um vento leve, brando, E solitário caminho. Como sempre vou sozinho

E eu vou sozinho, pensando... Pg cclxxxi


Ela invade a minha mente. Por que penso tanto nela? Por acaso não sabe Ela Que a minha alma tanto sente A sua ausência fremente Nesta noite de luar? Ando sozinho a vagar Em febre a mente é uma ilha. E o pensamento fervilha

Em teu amor, a sonhar. Por sob o luar de prata Cintilam milhões de estrelas. Extasiado fico a vê-las Pensando em quem me maltrata. Ouço ao longe a serenata E dois violões tocando. Ai, até quando, até quando

Pg cclxxxii


Viverei com tal miragem? Já que sigo na viagem

No ouvido e no olhar levando? Tão doce lembrança invade Meu coração num momento. E eu esparjo pelo vento, Pelas ruas da cidade, Que estou morto de saudade Pois estou a carregar Em cada instante a sonhar, Teu olhar e teu sorriso, E ouvir e sentir preciso,

Tua voz e teu olhar. 27.02.2008

Pg cclxxxiii


Glosa

A mulher do Alentejo Leva mais longe a raz達o Nas canseiras, em sobejo Constroi direitos e p達o. (Quadra portuguesa)

Mulheres de todo o mundo E de todos os lugares, Dentro de vossos sonhares Brilham num sonho fecundo. E nesse sonho profundo Mais aflora o meu desejo Se elas merecem um beijo Em tal sonho ardo e deliro. Pois em meu sonho suspiro

A Mulher de Alentejo. Pg cclxxxiv


Essa mulher tão bonita Tão ponderada e sincera, Tem no olhar a primavera De maneira que acredita Que a esperança é-lhe infinita. De encantos seu coração Modula eterna canção Eu dela tão longe vivo Que o pensamento cativo

Leva mais longe a razão. Procuro-a em sonhos floridos E a minh’alma não se cansa De ter tamanha esperança. Dentro dos dias vividos Trago sonhos coloridos E o sonho o amor por ensejo Mas pelo mundo só vejo

Pg cclxxxv


Que nos rumos onde sigo Nos ombros segue comigo

Nas canseiras, em sobejo. Essa mulher caridosa Faz do amor a sua prece, Por isso, por Deus merece Ter as pétalas de rosa Na estrada maravilhosa Onde for seu coração. Essa mulher, que emoção, Inspira agora o meu verso E nas fímbrias do Universo

Constroi direitos e pão. 14.03.2002

Pg cclxxxvi


Glosa

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)

O poeta nesta vida Do prazer tece uma lira. Cria um mundo de mentira Sonha a esperança perdida. Longa é a estrada percorrida Para encontrar um amor. Mas encanta-se com a flor Pendida num tênue galho E ao prometer-lhe agasalho,

O poeta é um fingidor. Pg cclxxxvii


À flor faz ele uma crença E se mostra apaixonado. O mundo deixa de lado Para ter a recompensa Da ternura mais imensa De tudo o que em glórias sente. Contudo o poeta mente Pois mentir é sua glória. Ao lembrar tão bela história

Finge tão completamente. A flor que não tinha dono E perfumava o caminho, Foi arrancada do ninho – Primavera fez-se outono. E o poeta no abandono Da flor roubou o frescor. Deixou-a no chão sem cor E agora demonstra ao mundo Pg cclxxxviii


O seu delírio profundo,

Que chega a fingir que é dor. E o poeta entristecido Junta no chão os gravetos, Constroi amargos sonetos Do sonho vê-se perdido. E seu pranto derretido Rega no chão a semente Que nascendo novamente Traz ao poeta alegria, E ele diz numa poesia

A dor que deveras sente. 31.01.2008

Pg cclxxxix


Glosa

Menino passarinheiro – Caçar era a minha lei! – Hoje vivo prisioneiro Nas arapucas que armei. (E. A. P.) Da bela infância vivida Em tempos de hoje saudade, Distante uma Eternidade Que parece de outra vida... Mas a lembrança florida Deixa-me ser cancioneiro. Desse sonho aventureiro A gaiola hoje vazia Faz lembrar que fui um dia

Menino passarinheiro.

Pg ccxc


Pintassilgos, avinhados, Azulões e correntinos. Eram belos os destinos E os tantos sonhos sonhados. Eram os sonhos dourados, Cada um era um grande rei. (Por que agora assim sonhei?) E lembro tão doce infância – Saudade evola fragrância,

– Caçar era a minha lei! – O tempo nos fez adultos E se foram os amigos. Dentro de férreos abrigos Hoje trazemos ocultos Fantasmas de velhos vultos E um coração estrangeiro. Por mil caminhos esgueiro E ao sonhar essa lembrança Pg ccxci


De meus tempos de criança,

Hoje vivo prisioneiro. Belo sonho evaporou-se Com o calor do sol da tarde. O silêncio faz alarde De um tempo que foi tão doce. A saudade aqui me trouxe Nos espinhos me estrepei. Por mil estradas vaguei Mas sempre estive indefeso. Passarinheiro estou preso

Nas arapucas que armei. 31.01.2008

Pg ccxcii


Glosa

Veja só quanta imprudência, – Que terrível pesadelo! – Casou por correspondência E a noiva veio sem selo. (E. A. P.)

Nesta vida é necessário Estar sempre muito atento, Porque num só movimento Nosso belo itinerário Transforma-se num calvário Onde a atroz maledicência Machuca a nossa consciência E o paraíso áureo, eterno, Transmuda-se num inferno,

Veja só quanta imprudência! Pg ccxciii


Moço rico, índole boa, Foi pescar numa cidade Onde havia quantidade De cardumes na lagoa. Mas ficou sorrindo à toa Ao ver rosto tão singelo, Olhar casto, doce, belo, Nos seus olhos por olhares, Serenos, crepusculares.

Que terrível pesadelo! Ao retornar do passeio Suspirava, suspirava, Su’alma caíra escrava Da donzela em doce enleio. Vivia no devaneio Sofria com tal ausência Aos céus clamava clemência

Pg ccxciv


E foi tanto o sofrimento Que a pediu em casamento

– Casou por correspondência! – Só depois de quinze dias Foi buscar a sua esposa, – Doidejante mariposa! – De farras e fantasias. Mas funestas heresias Ao seu peito trouxe gelo... Tratou-a com tanto zelo Porém ao provar tal doce O moço rico danou-se

E a noiva veio sem selo. 31.01.2008

Pg ccxcv


Glosa

Não sei se é fato ou se é fita, Não sei se é fita ou se é fato. O fato é que ela me fita, Me fita mesmo de fato. (Anônima) Passa em frente à minha casa Linda mulher – é casada. Passa dengosa a safada No dedo a aliança é brasa. Em requebros ela arrasa E a multidão deixa aflita. A boca vermelha agita Mas parece um passarinho Querendo sair do ninho.

Não sei se é fato ou se é fita. Pg ccxcvi


Passa toda oferecida, Lança olhares ternos, quentes. Seios pontudos, ardentes, São dois pecados na vida. A cabeleira comprida Lembra um dourado artefato. Por ela me desbarato, Faço um dia uma loucura. Me flerta toda em ternura,

Não se é fita ou se é fato. Pensamento devaneia: Um dia a abordo na rua, E ela passa, seminua, Lançando olhar de sereia. Mas é porta de cadeia Tanta beleza infinita. Porém, o meu peito grita

Pg ccxcvii


E ela o olhar joga de lado. Mas não posso estar errado:

O fato é que ela me fita. Mas contemplo-a da janela E ela passa sorridente. Na calçada displicente Olhar furtivo revela. Mas na estreita passarela Muda a cena. É novo ato. Com seu olhar de retrato A safada sem vergonha Por quem a minha alma sonha,

Me fita mesmo de fato. 26.02.2008

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Glosa

Diz velha sabedoria: Quem cala sempre consente. Dentro da minha Poesia Sou silêncio num repente. (E. A. P.)

De frente a ataques calar-se Sempre revela bom senso. Eu por isso às vezes penso E uso o riso por disfarce. Muito embora a alma se esgarce Dou revides de ironia. É minha maneira fria De silenciar frente a tudo. Ser prudente é ficar mudo

Pg ccxcix


Diz velha sabedoria. Isso não diz, com certeza Que aceito o golpe da faca. Se minha voz não ataca E o rosto mostra rijeza, – Sou assim por natureza Mostro sempre estar contente. Tanta gente, tanta gente, O golpe sempre revida, Mas digo com voz fingida:

Quem cala sempre consente. Nos versos mostro a alma nua, Porém, me envolvo em segredo. Não digo que sinto medo. Se disfarço olhando a lua, Se ao léu vago pela rua Não é por hipocrisia, Porém, no meu dia a dia Pg ccc


Me oculto, sim, por inteiro, Sou Poeta verdadeiro

Dentro da minha Poesia. Não me critiquem por isso A pérola dentro da ostra Somente pronta se mostra Portanto em meu compromisso Com palavras nunca atiço O fogo que brota ardente. A verdade é transparente Não precisa se mostrada. Assim, não digo mais nada:

Sou silêncio num repente. 11.04.2008

Pg ccci


Glosa Por ternura, por meiguice, Por amor e por vaidade, Sou idosa sem velhice, Não perdi a mocidade

(Sinda Vélez Mendes) Ervedal, Portugal Minh’alma em delírios canta Estribilhos de cantigas, E como as aves amigas Com diamantes na garganta Na imensa paixão se encanta Em sua tagarelice. E nos seus sonhos de Alice No cantar põe rendilhados, Põe brilhantes encantados, Por ternura, por meiguice.

Pg cccii


Minh’alma é feliz na vida, No amor que em êxtase sente, Na ventura se faz crente Tece trama colorida. Por mais vida a ser vivida Cria cantos de verdade, Põe rimas de suavidade Em todos os seus caminhos, E põe ternura nos ninhos, Por amor e por vaidade. Minh’alma toda vaidosa, Sente-se ainda menina, E em passos de bailarina Saltita alegre, formosa, E com frases cor-de-rosa Mostra sua faceirice. Por tudo sente crendice; E diz-me toda sorriso Pg ccciii


Como a crer no Paraíso: Sou idosa sem velhice. Minh’alma não vê, por certo, Do tempo o correr insano. Vão-se as ondas do oceano E as areias do deserto. Frente ao viver amplo, aberto, Pulsa e vibra de ansiedade. Mas toda serenidade Em meus olhos fita fundo E diz num sonho profundo: Não perdi a mocidade. 11.02.2009

Pg ccciv


Glosa

Por ternura, por meiguice Por amor e por vaidade, Sou idosa sem velhice, Não perdi a mocidade. Sinda Vélez Mendes (Ervedal, Portugal) Os anos passam voando Tal qual os sonhos de glória. Passado se faz história Que ficamos recordando... Os sonhos passam num bando De aves em tagarelice, Morre a fé, finda a crendice, Porém, n’alma glorifica A saudade bela e rica

Por ternura, por afeto. No precipício a esperança

Pg cccv


Se agarra nos verdes ramos. E ingloriamente sonhamos Com farrapos de lembrança. Mas o tempo a valsa dança Em alta sonoridade Seus acordes de saudade. Passa a vida, voa o tempo, As ramas secas eu empo

Por amor e por vaidade. A minha vida... quem dera... O vendaval trouxe o inverno... Já não há um sonho terno Nem flores na primavera. E a vida em sua quimera Não tem semente que vice, Porém, se um dia eu a visse Aportar-se na minh’alma, Diria serena e calma: Pg cccvi


Sou idosa sem velhice. Mas o tempo corre insano... Quem ultrapassa-o, quem vence-o? Perdido neste silĂŞncio Me torno um rei soberano... NĂŁo acredito no engano E em fatal serenidade Redijo minha verdade E aos quatro cantos do mundo Brado num eco profundo:

NĂŁo perdi a mocidade! 13.02.2009

Pg cccvii


Glosa

(em Casimiro de Abreu) É curta a quadra da infância, Dura somente um momento. Passa leve, como o vento, Depois, se esvai na distância. Mas fica a eterna fragrância Que ainda no olfato retenho. É morto tão belo engenho, Mas quando com versos pinto Esse momento já extinto,

Oh! que saudades que tenho! O tempo era de inocência E repleto de segredos. Quantos sonhos, quantos medos, Quanta falta de prudência. Mas inadvertida ciência

Pg cccviii


Deixou-a descolorida, E fraca ficou retida E o quintal apequenou-se. Quanta lembrança tão doce

Da aurora da minha vida. E cresci, tornei-me adulto, A voz ficou diferente. Tudo se foi num repente Tal qual um profano culto. O riso ficou oculto Nalguma esquina perdida. Deparei-me com a Vida Toda repleta de enganos. Como eram doces os planos

Da minha infância querida. O desespero nefasto

Deixou-me tristonho, mudo. Olho ao redor e por tudo

Pg cccix


Vejo um sonho morto e gasto. Tristonho, os passos arrasto Mas são passos sepulcrais. Ai, no peito dói demais – Como constantes castigos, A memória dos amigos

Que os anos não trazem mais. Mil brincadeiras variadas A turma toda fazia. Havia mesmo magia Nas tardes ensolaradas. Lembranças tristes, malvadas, Num momento em tudo infesta; Da infância saudosa resta Desesperadas lembranças. Mas quando éramos crianças,

Que amor, que sonhos, que festa! A Inocência tinha nome Pg cccx


E a chamávamos de sonho. Em cada rosto risonho O sorriso se consome. E ainda parece dar fome: Ai, doces tardes festeiras, Dispostos, e sem canseiras, Andávamos pelo mato, Ai, lembranças do regato,

Naquelas tardes fagueiras. O cansaço não havia

E o tempo era sempre curto. Adulto, hoje, às vezes furto Alguns instantes do dia E recordo na Poesia Aquelas tardes inteiras, Fantásticas brincadeiras... Mas se o cansaço chegava Noss’alma ficava escrava

Pg cccxi


À sombra das bananeiras. Em silêncio verto o pranto Daquela quadra formosa. O sonho foi cor-de-rosa Mas terminou tal encanto. E n’alma ainda vibra o canto Dos acentos imortais. Mas, oh, coração, tu vais Aquietar-se na fragrância Daquele tempo de infância,

Debaixo dos laranjais. 26.02.2008

Pg cccxii


Décimas para um desafeto Homem baixinho, homem-metade Coisa ridícula soltar A sua sânie tumular Promíscua de ferocidade. À sua baba de maldade Em vão você tenta exibir, Mas eu no escárnio fico a rir E no deboche solto um canto. Bobo da corte lhe garanto: Você vai ter que me engolir. Se homem inteiro você fosse Lhe aplicaria uns safanões, Sendo da raça dos anões Liliputiana mãe o trouxe Num lupanar, num tredo alcouce, Porque não sabe onde seguir.

Pg cccxiii


Porém, no escuro fica a ouvir A voz materna em gozo tanto Sou eu que nela a verga planto E ela também vai me engolir. Você não manda nem desmanda, Também em mim, não manda, não. Eu fico a rir de gozação, Soltando minha sarabanda. Enquanto vai passando a banda Você procura se exibir, Para que um dia, no porvir, Você, talvez, seja lembrado, Mais deixo aqui no meu recado: Você vai ter que me engolir. 12.03.2009

Pg cccxiv


Glosa

Quando um tico-tico canta Minha vida é assim, assim, Vem-me um soluço à garganta, Sinto saudade de mim... (Lino Vitti)

Tudo passa nesta vida Com veloz ferocidade. Hoje, preso na cidade Trago a lembrança sofrida, De uma lembrança querida Que me cobra – tola manta! – E o coração acalanta. E rememoro saudoso Aquele tempo saudoso

Quando um tico-tico canta.

Pg cccxv


Hoje em liberdade preso, Sinto, patético, triste, Que não mais na vida existe Aquele sonhar aceso. A saudade como peso Parece que não tem fim, Quando escuto no jardim O passarinho inocente Cantando continuamente

Minha vida é assim, assim... A água pura e cristalina

Do regato ao céu brilhante Era um convite constante Para a infância bailarina. Mas hoje tudo se inclina, E essa visão me espanta: O tico-tico na planta Cantando despreocupado

Pg cccxvi


E fico logo magoado,

Vem-me um soluço à garganta. Ah, querida mocidade, Oh, vívida juventude, Corre o tempo, a vida ilude, Tudo torna-se saudade. Tudo o que era alacridade: Canto, alegria, festim, Trinar de papa-capim, Acabou-se num solfejo, Pois hoje, quando me vejo,

Sinto saudade de mim. 27.02.2009

Pg cccxvii


Beira-Mar Galope à Beira-mar

Se a rima está pobre, Eu tento uma rima que seja mais rica, Se vou, a minh’alma, porém, aqui fica, Num sonho tão nobre, Tão denso, tão puro, tão fértil, tão triste, Que se ele ora existe Eu quero cantar... E a rima é tão densa, tão fértil, tão pura, Que solto meu canto de forma segura

No galope à beira-mar... Se a rima está solta Eu quero prendê-la com elos de aço, E vou com minh’alma buscá-la no espaço

Pg cccxviii


Com a nave revolta Voando liberta dos sonhos atrozes, Que falam mil vozes Que escuto no ar... Se a rima está solta, no céu vou prendê-la Nas pontas cadentes de alguma áurea estrela

No galope à beira-mar... 21.08.1991

Pg cccxix


Sextina Sextina Minha querida, na paixão mais louca Eu quero te entregar a minha vida E ser feliz em minha eternidade. Quero estar ao teu lado a cada instante, Ser teu Poeta, teu cantor, teu astro, Tua paixão e todo o teu desejo. Eis tudo o que na vida mais desejo Para viver feliz a minha vida! Se a paixão que me invade deixa louca A minh’alma – então sonho a eternidade Mesmo que seja apenas um instante Para ser o teu ídolo, o teu astro. Vem, minha estrela, e brilha como um astro E faz que minha vida fique louca. Que importa o céu, que importa a Eternidade? Pg cccxx


Quero ser a razão da tua vida, Eis tudo o que mais quero e mais desejo: Quero estar ao teu lado a cada instante. Vem sem demora, vem, vem nesse instante E mata a minha fúria de desejo! Vem comigo viver a rósea vida, Vem ser minha ilusão, meu sol, meu astro! Ah, não me importa ter a eternidade, Basta somente esta paixão tão louca. Que importa se minh’alma esteja louca? Eu te quero na minha eternidade! Vem brilhar na minh’alma, ser meu astro, Vem para ser a luz de meu desejo! Se pouco é o que te oferto nesse instante, Vem para ser a luz da minha vida! Se tudo o que te oferto nesta vida É pouco, meu amor, vem neste instante E me fere com a fúria do desejo...

Pg cccxxi


Vem ser a minha luz, vem ser meu astro, Vem aplacar minh’alma que estå louca E comigo viver a Eternidade. Ah, minha louca, quero dar-te a vida, Num louco instante a minha eternidade, E ser teu astro cheio de desejo. 15.11.1990

Pg cccxxii


Vilancete Vilancete

Que dias há que na alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, doi não sei porque. (Camões)

Solidão. Há na vida um céu de chumbo. Ante agonias tais eu me sucumbo, Lágrimas frias correm em meu rosto. Faz frio. É rijo o inverno. É mês de agosto. E essas noites sem fim, escuras, frias, Por que viver assim tão longos dias? Que dias há que na alma me tem posto? É um mistério infinito esses momentos Carregados de tredos sofrimentos. O sol da claridade a mim se esconde.

Pg cccxxiii


E por mais que eu procure, busque, sonde, Não encontro alegrias nesta vida. É uma angústia que brota colorida, Um não sei que, que nasce não sei onde. Junto à noite sombria ando sozinho, E não vejo ninguém neste caminho. O coração dos sonhos já descrê, E às alegrias sempre existe um se... E não entendo e não defino como Tal sentimento em mim com tanto assomo Vem não sei como, doi não sei porque. 25.09.2008

Pg cccxxiv


Dez-de-queixo-caído Dez-de-queixo-caído A poesia anda à deriva Por pura falta de estudo. De ora em diante fico mudo E por mais que eu muito viva Deixarei a alma cativa No silêncio reprimido. Pois devo ter aprendido Não dar conselhos ao burro, Que ele sempre solta um urro No dez-de-queixo-caído! Muitos pensam ser poetas Louvando seus próprios versos, Mas todos vivem imersos São medíocres, patetas, Deveriam ser atletas, Pg cccxxv


Saltar um vale profundo. Usam um tênis fedido, Mas vivem com seus enganos Em versos ruins traçam planos, No dez-de-queixo-caído. Misturam travas e trovas Confundem bife na mesa Com um bife à milanesa, Não saber tirar as provas, Das vassouras, das escovas, Mas eu olho divertido O que escrevem sem sentido, Dizendo que é poesia. Chego a ficar com azia No dez-de-queixo-caído. E publicam tais sandices Nos jornais de minha Terra. E minha alma grita e berra Pg cccxxvi


Ao ler tantas cretinices. São Julietas, são Alices, Um Romeu desiludido, Um d. Juan esquecido... São mesmo todos cretinos, Com seus gemidos suínos No dez-de-queixo-caído. Poesia é dom de momento, É inspiração refinada, Não é parede caiada Nem túmulo bolorento. Tais bobagens são aguento E fico desiludido. E meu coração curtido Ao ler tanto verso chulo, O desânimo eu engulo No dez-de-queixo-caído. Um verso sem melodia Pg cccxxvii


Mostra logo ser engodo, A poesia vai ao lodo Que é a lama da alquimia. Isso ter fim deveria Mas falta o sexto-sentido Ao poetastro atrevido Que o que compôs alardeia, Porém me dá diarreia No dez-de-queixo-caído. Rimas sofríveis e pasmas, O verso quebrado e torto. Com o olhar perdido, absorto, Penso estar vendo fantasmas, Escorpiões, cobras, miasmas, Em meu caminho florido. Mas o trouxa pervertido Arrota seu verso chulo... Tais sandices só engulo Pg cccxxviii


No dez-de-queixo-caído. Se proteção eu tivesse, Mas não sou analfabeto. Mas frente a texto incorreto Feito às pressas, na quermesse, Bem sei que inexiste prece Para calar o estampido Do verso descolorido E ao terminar essas décimas Fico com impressões péssimas, No dez-de-queixo-caído. 10.03.2009

Pg cccxxix


Vilanelas Vilanela Na tarde que vinha vindo Havia a cor de violeta Quando o sol ia dormindo. Era o céu, matiz infindo, Voava uma borboleta Na tarde que vinha vindo. No ocaso o raio era lindo, Tive uma paixão secreta Quando o sol ia dormindo. Minh’alma ficou sorrindo Quando viu a Julieta Na tarde que vinha vindo. Meu olhar ficou fulgindo Como o brilho de um Poeta

Pg cccxxx


Quando o sol ia dormindo. E na vida fui seguindo A estrada – amor como meta! – Na tarde que vinha vindo. O amor a mim foi bem-vindo, Tive a alegria discreta Quando o sol ia dormindo. Meu coração foi se abrindo... Minh’alma ficou inquieta Na tarde que vinha vindo. No jardim da caçoleta O amor foi me distraindo. Na tarde que vinha vindo Quando o sol ia dormindo. 24.08.1981

Pg cccxxxi


Vilanela O coração faz poesia E rima a felicidade Num poema de alegria. Por isso, com melodia, O amor canta e em ansiedade O coração faz poesia. Penso que uma cotovia Canta sua alacridade Num poema de alegria. Talvez pareça ousadia, Mas no canto da amizade O coração faz poesia. Minh’alma te acaricia Pois te adora de verdade Num poema de alegria. O teu amor é meu guia

Pg cccxxxii


E num canto de saudade O coração faz poesia. O meu olhar te vigia, E olha com intensidade Num poema de alegria. Canta alegre, noite e dia... Com força da mocidade O coração faz poesia. Te amo com tanta euforia E te digo o que me invade Num poema de alegria. Este amor me desvaria E me prende na unidade: O coração faz poesia Num poema de alegria. 12.11.1994

Pg cccxxxiii


Pantuns Pantum da saudade Quando a saudade a sua lira tange Meu coração modula uma cantiga. E o mesmo verso no meu peito range Da mesma forma secular, antiga. Meu coração modula uma cantiga Para lembrar o que ora não existe. Da mesma forma secular, antiga, O meu poema é solitário, triste. Para lembrar o que ora não existe E um dia foi meu canto de alvorada; O meu poema é solitário, triste, Com cadência sem fim de uma balada. E um dia foi meu canto de alvorada, A minha luz, o meu farol, meu tudo!

Pg cccxxxiv


Com cadência sem fim de uma balada Os versos faço de tristuras – mudo. A minha luz, o meu farol, meu tudo, Num fim de tarde adeuses me acenaram. Os versos faço de tristuras – mudo Ao ver as alegrias que passaram. Num fim de tarde adeuses me acenaram Os sonhos todos que vivi sorrindo. Ao ver as alegrias que passaram Sinto que tudo para mim é findo. Os sonhos todos que vivi sorrindo Deram-me a realidade sem encanto. Sinto que tudo para mim é findo E os versos rimo com meu próprio pranto. Deram-me a realidade sem encanto, A solidão, a angústia e o desconforto. E os versos rimo com meu próprio pranto Sentindo que meu grande amor é morto.

Pg cccxxxv


A solidão, a angústia e o desconforto, Ferem meu coração que não tem calma. Sentindo que meu grande amor é morto, Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma. Ferem meu coração que não tem calma As horas que me agridem como alfanje. Nas mãos de Deus entrego enfim minh’alma Quando a saudade a sua lira tange. 17.12.2000

Pg cccxxxvi


Pantum saudoso Tenho pensado em ti ultimamente Como um extremo bem, um lindo sonho. E este meu pensamento em ti somente, Tem me deixado o coração risonho. Como um extremo bem, um lindo sonho, Tenho a esperança de te ver um dia. Tem me deixado o coração risonho Os teus olhos que inspiram-me à Poesia. Tenho a esperança de te ver um dia Em minha estrada fulgurante e bela. Os teus olhos, que inspiram-me à Poesia, E brilham mais do que uma loura estrela. Em minha estrada fulgurante e bela Iremos a passeios de ternura... E brilham mais do que uma loura estrela Os meus olhos envoltos em ternura.

Pg cccxxxvii


Iremos a passeios de ternura Trocaremos carícias e mil beijos... Os meus olhos envoltos em ternura, Brilharão na ânsia de triunfais desejos. Trocaremos carícias e mil beijos E sonharemos dias mais floridos. Brilharão na ânsia de triunfais desejos Os nossos corações incandescidos. E sonharemos dias mais floridos, E colheremos flores pela estrada. Os nossos corações incandescidos Vislumbrarão ao ver a paz sonhada. E colheremos flores pela estrada Te enfeitarei com flores nos cabelos. Vislumbrarão ao ver a paz sonhada Nossos olhos em fúlgidos anelos. Te enfeitarei com flores nos cabelos E beijarei teus lábios tão ardentes.

Pg cccxxxviii


Nossos olhos em fúlgidos anelos Se entreolharão amantes e contentes. E beijarei teus lábios tão ardentes, – Palpitarás de amor, presa em meus braços! – Se entreolharão amantes e contentes Nossos olhos em férvidos abraços. – Palpitarás de amor, presa em meus braços! – E ficarei feliz, minha adorada. Nossos olhos em férvidos abraços Deixarão a noss’alma apaixonada. E ficarei feliz, minha adorada, Tendo o teu corpo junto ao meu unido. Deixarão a noss1alma apaixonada As passarelas de um jardim florido. Tendo o teu corpo junto ao meu unido, Te embalarei entre canções de amores, As passarelas de um jardim florido,

Pg cccxxxix


Irão te confundir por entre as flores. Te embalarei entre canções de amores. Em teus ouvidos contarei histórias. Irão te confundir por entre as flores As cantigas que tenho nas memórias... Em teus ouvidos contarei histórias, – Histórias dos jardins de Capuleto. As cantigas que tenho nas memórias Te cantarei num lírico soneto. Histórias dos jardins de Capuleto, Falavam dos amantes de Verona. Te cantarei num lírico soneto O romance que tanto me apaixona. Falavam dos amantes de Verona... Porém, agora, falo a ti somente O romance que tanto me apaixona: – Tenho pensado em ti ultimamente!

Pg cccxl


Pantum da existência Eu e tu, a existência resumida Em um amor esplêndido e profundo; Capaz de fecundar uma outra vida, Capaz de fecundar o próprio mundo. Em um amor esplêndido e profundo Criamos a raiz da Eternidade. Capaz de fecundar o próprio mundo, O próprio mundo cheio de verdade. Criamos a raiz da Eternidade, Desprezamos o lixo da incidência... O próprio mundo – cheio de verdade Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência. Desprezamos o lixo da incidência; A violência nós demos outra sorte. Dentre as ciências, mostrou-nos esta ciência: O Amor existe mesmo após a morte.

Pg cccxli


A violência nós demos outra sorte, À perspectiva nós nos entregamos. O amor existe após a própria morte, – Somos frutos que estão nos mesmos ramos. À perspectiva nós nos entregamos Capaz de fecundar uma outra vida! – Somos frutos que estão nos mesmos ramos, Nós somos a existência resumida. 07.03.1976

Pg cccxlii


Pantum tristonho Há em mim a sensação estranha de que a vida Já não é mais igual à vida do passado, Onde vivia em meio a uma estação florida E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado. Já não é mais igual à vida do passado A vida que hoje foge através de esquivanças. E os sonhos eram bons, e o céu, sempre azulado, Já não existem mais no mundo das lembranças. A vida que hoje foge através de esquivanças Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia. Já não existem mais no mundo das lembranças, Um parque colorido e um palco de alegria. Deixa um saldo tristonho e cheio de agonia As podres ambições dos homens nesta Terra. Um parque colorido e um palco de alegria Hoje são orlas onde explode a negra guerra.

Pg cccxliii


As podres ambições dos homens nesta Terra Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo. Hoje são orlas onde explode a negra guerra Os campos verdes onde havia o amor profundo. Destruíram o Poder e a Paz que houve no mundo Homens com corações de bruxuleantes feras. Os campos verdes onde havia o amor profundo, Hoje é inverno voraz, não mais há primaveras. Homens com corações de bruxuleantes feras Deixai que creste o mundo e a Paz seja clamada. Pois eu sinto que a vida, ao fim das Primaveras, Já não é mais igual à vida do passado. 29.02.1981

Pg cccxliv


Pantum em Redondilhas Quero mundos conquistar Numa simples caravela, Pois existe tanto mar E esta vida é tão bela. Numa simples caravela Quero meus sonhos domar E esta vida é tão bela Que vale a pena sonhar Quero meus sonhos domar Sem ter medos, sem cautela, Que vale a pena sonhar Quando estou nos braços dela. Sem ter medos, sem cautela Quero um sonho para amar... Quando estou nos braços dela

Pg cccxlv


Nem vejo a vida passar. Quero um sonho para amar Da maneira mais singela. Nem vejo a vida passar Debruçado na janela. Da maneira mais singela Direi meu modo de amar: Debruçado na janela Passo tardes a cantar. Direi meu modo de amar... Numa canção terna e bela Passo tardes a cantar De maneira bem singela. Numa canção terna e bela Ficarei olhar o mar, De maneira bem singela Visitarei o luar. Ficarei olhando o mar Pg cccxlvi


Numa simples caravela Visitarei o luar Lembrando os encantos dela. Num simples caravela Quero meus sonhos domar, Lembrando os encantos dela Quero mundos conquistar. 23.01.1999 (Viagem PoĂŠtica, 1999)

Pg cccxlvii


Pantum do anoitecer Ao ver a noite que me chega triste, E que me cobre com seu negro manto, Minha felicidade não existe – Da vida só carrego desencanto. E que me cobre com seu negro manto Colocando a tristeza na minh’alma... Da vida só carrego desencanto E nada, nada o coração me acalma. Colocando tristeza na minh’alma Lembro-me de meus trágicos amores. E nada, nada o coração me acalma E sofro com a lembrança dessas dores. Lembro-me de meus trágicos amores Que rompendo a manhã, iam-se embora. E sofro com a lembrança dessas dores

Pg cccxlviii


Todos os dias quando surge a aurora. Que rompendo a manhã iam-se embora E eu ficava sozinho com meus sonhos,. Todos os dias quando surge a aurora Meus pensamentos tornam-se tristonhos. E eu ficava sozinho com meus sonhos Sofrendo a angústia de um constante inverno. Meus pensamentos tornam-se tristonhos Sem ter quem me ofereça um sonho terno. Sofrendo a angústia de um constante inverno Eu busco a primavera colorida. Sem ter quem me ofereça um sonho terno Ao pesadelo atroz entrego a vida. Eu busco a primavera colorida Cheia de flores, com festões doirados. – Ao pesadelo atroz entrego a vida Pois meus sonhos estão desesperados. Cheia de flores, com festões doirados, Pg cccxlix


Vejo a vida seguindo seu destino. Pois meus sonhos estão desesperados E n’alma só carrego desatino. Vejo a vida seguindo seu destino – Minha felicidade não existe! E n’alma só carrego desatino Ao ver a noite que me chega triste. 26.10.1998 (Portal dos Sonhos, 2000)

Pg cccl


Pantum do passado Como um rio, passaste em minha vida, Um grande rio em ĂŠpoca em enchente, Que tudo vai levando de vencida, Levando tudo o que acha pela frente. Um grande rio em ĂŠpoca de enchente Por certo foi o nosso amor insano. Levando tudo o que acha pela frente, Em seu desejo imenso, soberano. Por certo foi o nosso amor insano Mas tanto nele eu, cego, acreditava Em seu desejo imenso, soberano, Que desse amor minha alma foi escrava. Mas tanto nele eu, cego, acreditava, Com em outros jamais, antes houvera. Que desse amor minha alma foi escrava Como as flores as sĂŁo da primavera.

Pg cccli


Como em outros jamais, antes houvera, O meu desejo foi terrível, forte, Com as flores as são da primavera, O amor julguei muito maior que a morte. O meu desejo foi terrível, forte, Porém, fui sucumbindo no caminho. O amor julguei muito maior que a morte, Contudo a vida me deixou sozinho. Porém, fui sucumbindo no caminho E sem forças me vi no chão pregado. Contudo a vida me deixou sozinho; Deixou meu coração desesperado. E sem forças me vi no chão pregado Sequer um passo para dar à frente. Deixou meu coração desesperado Tua ausência que veio num repente. Sequer um passo para dar à frente Que tudo pareceu-me atroz, vazio. Pg ccclii


Tua ausência que veio num repente, Encheu meu coração igual a um rio. Que tudo pareceu-me atroz, vazio, E os sonhos fui levando de vencida. Encheu meu coração igual a um rio Que atravessou um dia a minha vida. 11.04.2007

Pg cccliii


Pantum da Saudade Quantos poemas juntos não vivemos, Numa alegria extremamente intensa. Aos barcos éramos nós dois os remos, Do futuro nós éramos a crença. Numa alegria extremamente intensa Tivemos juntos colossais momentos. Do futuro nós éramos a crença, E nossas preces eram sentimentos. Tivemos juntos colossais momentos: Inesquecíveis sonhos tão vividos. E nossas preces eram sentimentos, Nossos instantes todos tão floridos. Inesquecíveis sonhos tão vividos Na magia de amantes tão suprema. Nossos instantes todos tão floridos, Gerava do silêncio, áureo poema.

Pg cccliv


Na magia de amantes tão suprema, Éramos dois plasmados num delírio. Gerava do silêncio, áureo poema Cada instante vivido em terno Empíreo! Éramos dois plasmados num delírio, Na ânsia louca de amar e ser amado. Cada instante vivido em terno Empíreo Dentro do coração trago gravado. Na ânsia louca de amar e ser amado, Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo. Dentro do coração trago gravado Instante a instante no viver profundo. Esqueci-me de mim, de Deus, do Mundo... Eras tu minha intensa claridade. Instante a instante no viver profundo, Em meu silêncio vivo de saudade. Eras tu minha intensa claridade, Hoje és delírio de sofrer constante, Pg ccclv


Em meu silêncio vivo de saudade, Lembrando histórias de um viver amante. Hoje és delírio de sofrer constante, Barco afundado, destruídos remos! – Lembrando histórias de um viver amante, Quantos poemas juntos não vivemos. 03.08.2007

Pg ccclvi


Pantum da alegria festiva Toda a alegria festiva Sentida em meu coração Faz minh’alma ser cativa Ao som de etérea canção. Sentida em meu coração A alegria é mais sincera, Ao som de etérea canção Me visto de primavera. A alegria é mais sincera E ao fazer-me tanto bem Me visto de primavera Com as cores todas que tem. E ao fazer-me tanto bem, Meu coração fica amando Com as cores todas que tem Que no céu fica brilhando.

Pg ccclvii


Meu coração fica amando Numa ternura sem fim: Que no céu canta brilhando Como um sol dentro de mim. Numa ternura sem fim A minh’alma solta um canto Como um sol dentro de mim Que traz calor, traz encanto. A minh’alma solta um canto Que quem ouve pede bis. Que traz calor, traz encanto, E faz o mundo feliz. Que quem ouve pede bis Ao ter su’alma cativa. E faz o mundo feliz Toda a alegria festiva. 28.05.1998

Pg ccclviii


Pantum da lembrança Meus amores ficaram na saudade: Todos passaram e eu fiquei sozinho. E hoje, chorando ao céu, penso: quem há de Colocar outro amor em meu caminho. Todos passaram e eu fiquei sozinho E eu olhei-os seguirem benfazejos. Colocar outro amor em meu caminho Desejo, mas que valem meus desejos? E eu olhei-os seguirem benfazejos A estrada da alegria e da ventura. Desejo... mas que valem meus desejos Se quem eu tanto amei deu-me amargura? A estrada da alegria e da ventura Outrora palmilhei cheio de planos. Se quem eu tanto amei deu-me amargura, Hoje minha certeza é só de enganos.

Pg ccclix


Outrora palmilhei cheio de planos A avenida faustosa dos amores. Hoje minha certeza é só de enganos: A minha estrada não contém mais flores. A avenida faustosa dos amores Apontei para a minha idolatrada. A minha estrada não contém mais flores E ela não quis seguir-me nessa estrada. Apontei para a minha idolatrada O rumo certo da felicidade. E ela não quis seguir-me nessa estrada: Meus amores ficaram na saudade... 03.08.1989

Pg ccclx


Pantum em redondilhas Todos os sonhos que trago Dentro de meu coração São fantasias de um mago Mudadas em ilusão Dentro de meu coração Trago sonhos e cantigas Mudadas em ilusão São cantos de aves amigas Trago sonhos e cantigas Pelos caminhos de luz. São cantos de aves amigas Cada som que me seduz. Pelos caminhos de luz Brilho ao sol das alvoradas Cada som que me seduz Põe no céu canções doiradas

Pg ccclxi


Brilho ao sol das alvoradas E fico cheio de cor Põe no céu canções doiradas A minha rima de amor E fico cheio de cor Porque o amor me ilumina. A minha rima de amor Toda a minh'alma domina Porque o amor me ilumina Fico brilhante ao luar Toda a minh'alma domina Os cantos que sei cantar Fico brilhante ao luar Que lua cheia pareço! Os cantos que sei cantar São canções que bem conheço Que lua cheia pareço, Numa alegria sem sim. Pg ccclxii


São canções que bem conheço Todo o amor que sinto em mim Numa alegria sem fim Eu me transformo num mago Todo o amor que sinto em mim Todos os sonhos que trago. 06.08.1999

Pg ccclxiii


Pantum do flerte Quando te vejo andando pela rua Eu sinto n’alma uma vontade imensa De te abraçar sob o clarão da lua Que, cigana, no céu vive suspensa... Eu sinto n’alma uma vontade imensa De te beijar, em mágica alegria, (Que, cigana, no céu vive suspensa) Faz que o sonho eu adie dia a dia. De te beijar, em mágica alegria, Deixa minh’alma num momento louca... Faz que o sonho eu adie dia a dia Pois o desejo morre em minha boca. Deixa minh’alma num momento louca Tua forma de mágica princesa, Pois o desejo morre em minha boca E dos meus sonhos tu não vives presa.

Pg ccclxiv


Tua forma de mágica princesa Colore os sonhos que em meu peito trago. E dos meus sonhos tu não vives presa Que não sou alquimista e nem sou mago. Colore os sonhos que em meu peito trago Apenas um sorriso nos teus lábios. Que não sou alquimista e nem sou mago E não consigo decifrar os sábios. Apenas um sorriso nos teus lábios Faz que eu fique feliz e se procuro E não consigo decifrar os sábios, Nem posso desvendar o meu futuro. Faz que eu fique feliz e se procuro Falar do amor que em êxtase me invade, Nem posso desvendar o meu futuro Nem o meu mundo de felicidade. Falar do amor que em êxtase me invade, Faria a minha vida ter encanto... Pg ccclxv


Nem o meu mundo de felicidade Consegue ser a rima de meu canto. Faria a minha vida ter encanto Se tu, por um instante me quisesses. Consegue ser a rima de meu canto Teu nome que murmuro em minhas preces. Se tu por um instante me quisesses, O nosso amor fecundaria o mundo. Teu nome que murmuro em minhas preces, Assim eu sonho com ardor profundo. O nosso amor fecundaria o mundo E eu te amaria num clar達o da lua. Assim eu sonho com ardor profundo Quando te vejo andando pela rua. 20.07.1994

Pg ccclxvi


Pantum dos sonhos Esparjo meus poemas nas estradas Para que possam rebentar em flores. Na esperança de ver, apaixonadas, As almas todas num florir de amores. Para que possam rebentar em flores, Lanço no chão, sementes dos meus sonhos. As almas todas, num florir de amores, Assim terão caminhos mais risonhos. Lanço no chão, sementes dos meus sonhos, Que irão por luz na rósea primavera. Assim terão caminhos mais risonhos, Quem sonhar uma vida mais sincera. Que irão por luz na rósea primavera, Para deixar meu mundo colorido. Quem sonhar uma vida mais sincera, Vai achar este mundo mais florido.

Pg ccclxvii


Para deixar meu mundo colorido, Invento rimas que a alma em luz tece e Vai achar este mundo mais florido O coração que vê tão rara espécie. Invento rimas que a alma em luz tece e Fico feliz com rima tão brilhante. O coração que vê tão rara espécie Da própria vida passa a ser amante. Fico feliz com rima tão brilhante E faço uma canção terna e singela. Da própria vida passa a ser amante Ao por no verso rima assim tão bela. E faço uma canção terna e singela E te ofereço a ti, minha querida, Ao por no verso rima assim tão bela, Eu passo a ter maior amor à vida. E te ofereço a ti, minha querida, Cada verso que escrevo e em cada verso Pg ccclxviii


Eu passo a ter maior amor à vida, Na cadência da lei deste Universo. Cada verso que escrevo e em cada verso, As nossas almas mais apaixonadas. Na cadência da lei deste Universo, Esparjo meus poemas nas estradas. 13.11.2000

Verificar que a rima ESPÉCIE e TECE E, é perfeita. Apenas que Espécie é na contagem métrica uma palavra paroxítona e Tece e deve ser oxítona, assim portanto o verso deve ser lido na métrica: in/ vem/ to/ ri/mas/ que a al/ ma em/ luz/ te/ce e/ 1

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Pantum Terra sem males Terra sem males – plena de justiça Um dia irá viver a nossa terra. Pois na bondade é que a ternura viça E vai calar a voz que clama a guerra. Um dia irá viver a nossa terra No delírio da paz – que ainda hoje é sonho. E vai calar a voz que clama a guerra A esperança num vale amplo e risonho. No delírio da paz – que ainda hoje é sonho, A humanidade irá sonhar, um dia... A esperança num vale amplo e risonho Irá dar rimas para uma poesia. A humanidade irá sonhar, um dia, Uma terra sem males, de bonança. Irá dar rimas para uma poesia A palavra que chama-se – Esperança!

Pg ccclxx


Uma terra sem males, de bonança, Na plenitude santa, num sorriso... A palavra que chama-se – Esperança O Homem há de levar ao Paraíso! Na plenitude santa, num sorriso, Os corações irão viver alados. O Homem há de levar ao Paraíso Os seus sonhos de amor iluminados. Os corações irão viver alados Na carícia de um beijo mais sincero. Os seus sonhos de amor iluminados, Deste mundo ainda anseio, e em transe espero. Na carícia de um beijo mais sincero Farei soar esta canção em hinos. Deste mundo ainda anseio, e em transe espero, Ouvir a paz num repicar de sinos. Farei soar esta canção em hinos Quando a justiça rebrilhar nos campos, Pg ccclxxi


Ouvir a paz num repicar de sinos E iluminar o céu com pirilampos. Quando a justiça rebrilhar nos campos A nossa Terra não terá seus males. E iluminar o céu com pirilampos, Também vai por mais luz nos verdes vales. A nossa Terra não terá seus males Que há de calar a voz que a guerra inflama. Também vai por mais luz nos verdes vales É o que o Poeta no seu verso clama. Que há de calar a voz que a guerra inflama Pois na bondade é que a ternura viça. É o que o Poeta no seu Verso clama: Terra sem males – plena de Justiça! 24.05.2003

Pg ccclxxii


Pantum da solidão A tua ausência – mais que uma saudade, Mais que meu coração me fere a entranha. Delírio sufocante de ansiedade Que traz angústia e sensação estranha. Mais que meu coração me fere a entranha Tua presença que se torna ausente. Que traz angústia e sensação estranha, À boca um gosto amargo, contundente. Tua presença que se torna ausente Faz-me criar canções de dor e tédio. À boca um gosto amargo, contundente, É a solidão que tenho por remédio. Faz-me criar canções de dor e tédio Esta melancolia que me fere. É a solidão que tenho por remédio, Tangida por sofrido miserere.

Pg ccclxxiii


Esta melancolia que me fere Lembra um terceto fúnebre de Dante. Tangida por sofrido miserere, A minha’alma soluça angustiante. Lembra um terceto fúnebre de Dante A hora fatal da tua despedida. A minh’alma soluça angustiante Desde a hora que acenaste na partida. A hora fatal da tua despedida – Pungente instante de fatal tortura! – Desde a hora que acenaste na partida Meu dia transformou-se em noite escura. Pungente instante de fatal tortura Feriu-me o coração como navalha. Meu dia transformou-se em noite escura. Meu céu azul nublou-se de limalha. Feriu-me o coração como navalha: – Tal cicatriz borbulha ainda a sangue. Pg ccclxxiv


Meu céu azul nublou-se de limalha A estrada por seguir tornou-se exangue. Tal cicatriz borbulha ainda a sangue E a cada instante sinto que faleço. A estrada por seguir tornou-se exangue, Viver abandonado não mereço. E a cada instante sinto que faleço Não conseguindo retornar à vida. Viver abandonado não mereço, Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida. Não conseguindo retornar à vida, Sinto que a solidão além me espera. Porém, sozinho, é a estrada a ser seguida, E sem ninguém tão triste é a primavera. Sinto que a solidão além me espera Hei de sozinho caminhar em luto. E sem ninguém tão triste é a primavera: A flor fenece e não madura um fruto. Pg ccclxxv


Hei de sozinho caminhar em luto Mas é tão triste caminhar sozinho. A flor fenece e não madura um fruto, Por certo morrerei neste caminho. Mas é tão triste caminhar sozinho, Sinto aflição e sensação estranha. Por certo morrerei neste caminho Já que a tortura torna-se tamanha. Sinto aflição e sensação estranha, Delírio sufocante de ansiedade. Já que a tortura torna-se tamanha E a tua ausência – mais que uma saudade. 29.06.2004

Pg ccclxxvi


Pantum da noite Ao vir da noite apaixonada e leda Eu ficarei á tua espera, amada, E descerei contente na alameda Para beijar as tuas mãos de fada. Eu ficarei à tua espera, amada, Desfiando um rosário de poesia Para beijar as tuas mãos de fada E beijar tua face tão macia. Desfiando um rosário de poesia Passarei horas, horas e mais horas... E beijar tua face tão macia Fará esquecer-me as noites e as auroras. Passarei horas, horas e mais horas, Somente a olhar o teu divino rosto. Fará esquecer-me as noites e as auroras O traço de teu rosto tão composto.

Pg ccclxxvii


Somente a olhar o teu divino rosto Mais que mulher – eu julgo-te uma santa. Aos traços de teu rosto tão composto, Faço-te esta canção que até me espanta. Mais que mulher – eu julgo-te uma santa Vendo o teu corpo de macia seda. Faço-te esta canção que até me espanta Ao vir da noite apaixonada e leda.

1978 (Luzes da Aurora)

Pg ccclxxviii


Pantum da emoção Apareceste um dia em meu caminho Pedindo apenas um amor ardente, E eu que há tempos não dava meu carinho Dei-o a ti numa emoção fremente. Pedindo apenas um amor ardente Tu nada mais em troca me pediste. Doei a ti numa emoção fremente Toda a paixão que ainda em meu peito existe. Tu nada mais em troca me pediste E meu amor cresceu apaixonado. Toda a paixão que ainda em meu peito existe É maior do que o céu, anjo adorado. E meu amor cresceu apaixonado E passei a viver por ti somente. É maior do que o céu, anjo adorado, Este amor que me faz da vida um crente.

Pg ccclxxix


E passei a viver por ti somente E a tristeza em minh’alma, foi-se embora. Este amor que me faz da vida um crente Faz que eu cante baladas desde a aurora. E a tristeza em minh’alma, foi-se embora E esta felicidade delirante Faz que eu cante baladas desde a aurora Até a noite, minha doce amante. E esta felicidade delirante Explode num poema de mil beijos; Até a noite, minha doce amante, Sinto em mim sensações desses desejos. Explode num poema de mil beijos Os meus olhos olhando nos teus olhos. Sinto em mim sensações desses desejos E da vida eu esqueço o mar de abrolhos. Os meus olhos olhando nos teus olhos... Não pode haver maior felicidade, Pg ccclxxx


E da vida eu esqueço o mar de abrolhos No exato instante que a paixão me invade. Não pode haver maior felicidade Que os nossos corações na paz imensa. No exato instante que a paixão me invade, Mais que o amor – tu és a eterna crença! Que os nossos corações na paz imensa Mostrem ao mundo o amor feito carinho. Mais que o amor – tu és a eterna crença Que apareceu um dia em meu caminho. 16.06.1977

Pg ccclxxxi


Pantum do silêncio

Quero, ao silêncio d'alta madrugada, Contemplando o teu corpo enlanguescido, Soltar meu verso em forma de balada Após, do amor, batalhas ter vivido. Contemplando o teu corpo enlanguescido Na paz sonhada, na paixão imensa, Após, do amor, batalhas ter vivido, Soltar espasmos de ternura e crença. Na paz sonhada, na paixão imensa, Entorpecido, pelo ardor do vinho, Soltar espasmos de ternura e crença Ao te embalar em cantos de carinho. Entorpecido, pelo ardor do vinho Teu corpo lembra um copo de licores Ao te embalar em cantos de carinho Quero, em cantigas, te falar de amores. Pg ccclxxxii


Teu corpo lembra um copo de licores Porém, agora, um copo de silêncio. Quero, em cantigas te falar de amores, Que meu amor, jamais o tempo vence-o. Porém, agora, um copo de silêncio Lembra teu corpo abandonado ao leito; Que meu amor, jamais o tempo vence-o Pois meu amor, querida, ele é perfeito. Lembra teu corpo abandonado ao leito Pétalas rubras de um amor encanto, Pois meu amor, querida, ele é perfeito Como as rimas perfeitas deste canto. Pétalas rubras de um amor encanto Parecem os meus versos de balada. Como as rimas perfeitas deste canto Vejo teu corpo nesta madrugada. 16.09.1999

Pg ccclxxxiii


Pantum das rimas encadeadas

Sonho que trago dentro da minh’alma Tanto me acalma quanto me angustia. É um sonho de viver na paz que ensalma, Tendo por palma – o encanto da poesia. Tanto me acalma quanto me angustia A noite fria com seu longo enredo. Tendo por palma – o encanto da poesia É fantasia que me causa medo. A noite fria com seu longo enredo Busco em segredo, mas caminho incerto. É fantasia que me causa medo E fico azedo frente a tal deserto. Busco em segredo, mas caminho incerto, É longe ou perto o que procuro em ânsia? E fico azedo frente a tal deserto,

Pg ccclxxxiv


Que por decerto só contém distância. É longe ou perto o que procuro em ânsia, Ou é a inconstância que me fere o passo Que por decerto só contém distância, Fria fragrância para um sonho lasso. Ou é inconstância que me fere o passo E pelo espaço o sonho vou buscando? Fria fragrância para um sonho lasso, Me prende a um laço sem ter onde ou quando. E pelo espaço o sonho vou buscando, Vivo sonhando por ansiá-lo tanto. Me prende a um laço sem ter onde ou quando, E vivo errando nesse desencanto. Vivo sonhando por ansiá-lo tanto Existe um canto para eu encontrá-lo? E vivo errando nesse desencanto, Imerso em pranto não consigo achá-lo. Existe um canto para eu encontrá-lo Pg ccclxxxv


Triste intervalo em triste desafago. Imerso em pranto não consigo achå-lo Pois me resvalo sem poder ser mago. Triste intervalo em triste desafago, Somente um mago a minha dor acalma. Pois me resvalo sem poder ser mago, E o sonho trago dentro da minh’alma. 26.08.2004

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Pantum da sombra Tua presença outrora tão constante, Se reduziu a tenebrosa sombra. Agora tua ausência anavalhante Como fantasma minha vida assombra. Se reduziu a tenebrosa sombra Toda a densa loucura tão sonhada. Como fantasma minha vida assombra Tua ausência na minha madrugada. Toda a densa loucura tão sonhada Foi solapada pelo vento em fúria. Tua ausência na minha madrugada Põe no meu coração o fel da injúria. Foi solapada pelo vento em fúria Tuas verdades cheias de mentira. Põe no meu coração o fel da injúria Quando em ti penso com pavor, com ira.

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Tuas verdades cheias de mentira Dentro do peito me calou mais forte. Quando em ti penso com pavor, com ira, Desesperado penso até na morte. Dentro do peito me calou mais forte Todos os sonhos tão sonhados juntos. Desesperado penso até na morte Vendo os sonhos de amor como defuntos. Todos os sonhos tão sonhados juntos E agora a tua ausência anavalhante. Vendo os sonhos de amor como defuntos Tua presença outrora tão constante. 03.07.2007

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Pantum da saudade peregrina A saudade é um cometa peregrino E vive a navegar na órbita imensa. Caminha pelo espaço sem destino Surgindo, às vezes, em fugaz presença. E vive a navegar na órbita imensa Trazendo sonhos de um viver distante. Surgindo, às vezes, em fugaz presença, Eu me recordo de uma ardente amante. Trazendo sonhos de um viver distante Acende o fogo de um delírio insano. Eu me recordo de uma ardente amante Que me fez juras de um cruel engano. Acende o fogo de um delírio insano Que me deu vida e após, me trouxe a morte; Que me fez juras de um cruel engano, Selando meu viver em negra sorte.

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Que me deu vida e após, me trouxe a morte Deixando o meu cenário todo preto. Selando meu viver em negra sorte, Na vida foi faltal este amuleto. Deixando o meu cenário todo preto, Meu coração se pôs em denso luto. Na vida foi fatal este amuleto, Por isso, agora, contra sombras, luto. Meu coração se pôs em denso luto No desespero de uma atrocidade. Por isso, agora, contra sombras, luto, Para matar as flores da saudade. No desespero de uma atrocidade, Sinto que para o amor estou gelado. Para matar as flores da saudade, Tirei do peito, o coração magoado. Sinto que para o amor estou gelado, Porque nas sombras, a minh’alma esgueira. Pg cccxc


Tirei do peito, o coração magoado, Aquecendo-o nas brasas da fogueira. Porque nas sombras, a minh’alma esgueira, Eu sinto o coração pulsar agora. Aquecendo-o nas brasas da fogueira, Vislumbro a vida numa nova aurora. Eu sinto o coração pulsar agora, Qual astro tutelar em céu aberto. Vislumbro a vida numa nova aurora, Bem distante das noites de deserto. Qual astro tutelar em céu aberto Caminho pela vida sem destino. Bem distante das noites de deserto, A saudade é um cometa peregrino. 28.03.2008

Pg cccxci


Pantum daquele tempo Aquele tempo que passamos juntos, Floriu de manacás os nossos sonhos. Beijos dados cortavam os assuntos, De mãos dadas passeávamos risonhos. Floriu de manacás os nossos sonhos E rimos ao sabor de ardentes beijos. De mãos dadas passeávamos risonhos Trocando juras cheias de desejos. E rimos ao sabor de ardentes beijos, E foi total e pura a nossa entrega. Trocando juras cheias de desejos, Ao mundo a vista se tornava cega. E foi total e pura a nossa entrega, Magia doce em todos os momentos. Ao mundo a vista se tornava cega, Surdos ouvidos para a voz dos mundos.

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Magia doce em todos os momentos. Ternura, afeto, alvorecer de lírios. Surdos ouvidos para a voz dos ventos, – Éramos só nós dois entre delírios. Ternura, afeto, alvorecer de lírios, E o campo era um jardim de flores cheio. – Éramos só nós dois entre delírios, Corpos flutuando em leve devaneio. E o campo era um jardim de flores cheio Em meio às flores eu te confundia. Corpos flutuando em leve devaneio, Magia, mansidão, brisa e poesia. Em meios às flores eu te confundia, E eu te afagava as pétalas, formosa. Magia, mansidão, brisa e poesia, Pois eras para mim – única rosa. E eu te afagava as pétalas, formosa, E teu sorriso cúmplice – era encanto. Pg cccxciii


Pois eras para mim – única rosa, Rima perfeita para um novo canto. E teu sorriso cúmplice – era encanto, Enquanto a noite desfolhava em astros. Rima perfeita para um novo canto, Os teus cabelos soltos e desnastros. Enquanto a noite desfolhava em astros, A relva agasalhou teu doce sono. Os teus cabelos soltos e desnastros, Cobriram os teus seios no abandono. A relva agasalhou teu doce sono E eu te compus, num ímpeto, estes versos. Cobriram os teus seios no abandono, As rimas e meus sonhos tão dispersos. E eu te compus num ímpeto estes versos Lembrando-me a sorrir de mil assuntos. As rimas e meus sonhos tão diversos E aquele tempo que passamos juntos. Pg cccxciv


Pantum da vida A vida passa de maneira intensa Dentro de um sonho fulgurante e puro. Agradecer a vida numa crença Deixa floridos dias do futuro. Dentro de um sonho fulgurante e puro Eu vivo os dias de prazeres cheio. Deixa floridos dias do futuro, E ao coração traz paz e doce enleio. Eu vivo os dias de prazeres cheio Plantando rosas e colhendo estrelas. E ao coração traz paz e doce enleio Às esperanças, quando posso vê-las. Plantando rosas e colhendo estrelas Eu vou rimando os versos dos poemas. As esperanças, quando posso vê-las, Transformam-se em fantásticos diademas.

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Eu vou rimando os versos dos poemas Com o coração broslado de esperança. Transformam-se em fantásticos diademas Meus sonhos em sorrisos de crianças. Com o coração broslado de esperança De joelhos teço a Deus a minha prece. Meus sonhos em sorrisos de crianças A cada dia uma alegria tece. De joelhos teço a Deus a minha prece Agradecendo tudo o quanto tenho. A cada dia uma alegria tece Meu coração nesse sublime engenho. Agradecendo tudo o quanto tenho, Sei que possuo mais do que preciso. Meu coração nesse sublime engenho Faz um canto com as notas de um sorriso. Sei que possuo mais do que preciso Por isso bem reparto o que me sobra. Pg cccxcvi


Faz um canto com as notas de um sorriso A flauta que me minh’alma um canto dobra. Por isso bem reparto o que me sobra E assim vivendo sonho em paz comigo. A flauta que em minh’alma um canto dobra, Faz que eu conquiste sempre um novo amigo. E assim vivendo sonho em paz comigo Para ser mais feliz em meu futuro. Faz que eu conquiste sempre um novo amigo Dentro de um sonho fulgurante e puro. Para ser mais feliz em meu futuro Reafirmo a vida numa nova crença. Dentro de um sonho fulgurante e puro, A vida passa de maneira intensa. 09.04.2008

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Pantum da esperança Uma ilusão, uma ilusão apenas, Faz que seja feliz a nossa vida. As esperanças esverdeadas, plenas, Florescem junto à estrada a ser seguida. Faz que seja feliz a nossa vida Um sorriso sincero, amigo, aberto. Florescem junto à estrada a ser seguida As ânsias de vencer qualquer deserto. Um sorriso sincero, amigo, aberto, Aos nossos sonhos vale mais que tudo. Às ânsias de vencer qualquer deserto, Um sorriso de amor é nosso escudo. Aos nossos sonhos vale mais que tudo O braço amigo, o gesto de confiança. Um sorriso de amor é nosso escudo Junto à Fraternidade – uma esperança!

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O braço amigo, o gesto de confiança, E a caminhada vai ficar mais forte. Junto à Fraternidade – uma esperança E a incerta vida vence a certa morte. E a caminhada vai ficar mais forte. Se os corações tem elos de amizade. E a incerta vida vence a certa morte, E a mentira é esmagada na verdade. Se os corações têm elos de amizade, A vida explode sorridente, bela, E a mentira é esmagada na verdade, Quando o amor em noss’alma é sentinela. A vida explode sorridente, bela, E a esperança se torna mais festiva. Quando o amor em noss’alma é sentinela. A força de vencer se faz mais viva. E a esperança se torna mais festiva Mais aberto se faz nosso sorriso. Pg cccxcix


A força de vencer se faz mais viva Dentro do peito o amor se faz preciso. Mais aberto se faz nosso sorriso, Na chama que jamais se faz extinta. Dentro do peito o amor se faz preciso Basta apenas que n’alma a gente o sinta. Na chama que jamais se faz extinta, Que as nossas ilusões se façam plenas. Basta apenas que n’alma a gente sinta Uma ilusão, uma ilusão apenas... 02.09.2008

Pg cd


Pantum da vida em poesia Toda a Poesia trago dentro d’alma Encarcerada dentro de áureo cofre. Por isso sinto paz e imensa calma, Quando, inspirado, crio nova estrofe. Encarcerada dentro de áureo cofre, Estão minhas vontades e desejos. Quando, inspirado, crio nova estrofe, As rimas cubro com sinceros beijos. Estão minhas vontades e desejos, Os versos todos que já fiz no mundo. As rimas cubro com sinceros beijos, Dos poemas mais puros, eu me inundo. Os versos todos que já fiz no mundo, Da minha vida narram toda a história. Dos poemas mais puros, eu me inundo, Contando toda a minha trajetória.

Pg cdi


Da minha vida narram toda a história Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas. Contando toda a minha trajetória, Em páginas floridas e encantadas. Os Sonetos, os Pantuns, as Baladas, Com decassílabos e alexandrinos, Em páginas floridas e encantadas, Bimbalham como brônzeos, firmes sinos. Com decassílabos e alexandrinos, Fui fiel à Ilusão de ser Poeta. Bimbalham como brônzeos, firmes sinos, Os meus sonhos que são a minha meta. Fui feliz à Ilusão de ser Poeta, E as Musas mais fiéis tive comigo, Os meus sonhos que são a minha meta, Ao coração são um suave abrigo. E as Musas mais fiéis tive comigo, De tal jornada fiz um relicário. Pg cdii


Ao coração são um suave abrigo, Não me deixando nunca, solitário. De tal jornada fiz um relicário Para, florida, se tornar a estrada. Não me deixando nunca solitário, E minh’alma, jamais, abandonada. Para florida se tornar a estrada, Sempre feliz, jamais perco meu rumo. E minh’alma, feliz, livre e encantada, Jamais negrejará com o denso fumo. Sempre feliz, jamais perco meu rumo, Que a Esperança em meu peito é doce e é calma. Jamais negrejará com o denso fumo, A Poesia que trago dentro d’alma. 08.09.2008

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Pantum Quero, ao silêncio d'alta madrugada, Contemplando o teu corpo enlanguescido, Soltar meu verso em forma de balada Após, do amor, batalhas ter vivido. Contemplando o teu corpo enlanguescido Na paz sonhada, na paixão imensa, Após, do amor, batalhas ter vivido, Soltar espasmos de ternura e crença. Na paz sonhada, na paixão imensa, Entorpecido, pelo ardor do vinho, Soltar espasmos de ternura e crença Ao te embalar nos cantos de carinho. Entorpecido, pelo ardor do vinho Teu corpo lembra um copo de licores Ao te embalar nos cantos de carinho Quero, em cantigas, te falar de amores.

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Teu corpo lembra um copo de licores Porém, agora, um copo de silêncio. Quero, em cantigas te falar de amores, Que meu amor, jamais o tempo vence-o. Porém, agora, um copo de silêncio Lembra teu corpo abandonado ao leito; Que meu amor, jamais o tempo vence-o Pois meu amor, querida, ele é perfeito. Lembra teu corpo abandonado ao leito Pétalas rubras de um amor encanto, Pois meu amor, querida, ele é perfeito Como as rimas perfeitas de áureo canto. Pétalas rubras de um amor encanto Parecem os meus versos de balada. Como as rimas perfeitas de áureo canto Vejo teu corpo nesta madrugada. 16.09.99

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Pantum silencioso Às vezes o silêncio me atordoa. Quero gritar com a voz do pensamento, Porém, no espaço um surdo som ressoa, E nem faz eco junto ao sentimento. Quero gritar com a voz do pensamento Mas nada falo e penso, penso, penso. E nem faz eco junto ao sentimento Tudo o que penso com desejo imenso. Mas nada falo e penso, penso, penso, A um labirinto minha angústia prendo. Tudo o que penso com desejo imenso E deixa o coração feroz, fervendo. A um labirinto minha angústia prendo Sentindo que atra fúria me arrebata. E deixa o coração feroz, fervendo, Parecendo um leão que em garras mata.

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Sentindo que atra fúria me arrebata, Meus versos duros para o chão derramo, Parecendo um leão que em garras mata, O teu amor em pensamento chamo. Meus versos duros para o chão derramo Mas meu amor no céu é o que ora soa. Se teu amor em pensamentos chamo, Às vezes o silêncio me atordoa. 13.06.2004

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Terza Rima Terza Rima Caminhos, e caminhos, e caminhos... Qual estrada seguir que vejo à frente Se como eu tantos outros vão sozinhos? Procuro um rumo azul e diferente, Uma felicidade fugidia Para um dia, do amor, eu ser um crente. Mas sinto dentro d’alma uma agonia, Um medo insano, uma vontade louca, Uma estranha acidez que me crucia. Gosto de fel mastigo em minha boca, E parece que é angústia o que mastigo. Tento falar e, a voz é surda e rouca. O martírio em meu peito fez abrigo. E parece inquilino aposentado E com manias quer brincar comigo.

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N達o consigo entender-me nesse estado: Para a felicidade tenho tudo Mas na verdade sou desesperado. Por causa disso continuo mudo. 14.03.2003

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Poema figurativo

CONTEMPLO NO TEMPLO IMAGEM TÃO SANTA! POR NÓS MORRESTE NESTA CRUZ – QUE É SANTA, TU QUE NO MUNDO FOSTE O REI DOS REIS MAS O HOMEM ESQUECEU OS TEUS SOFRERES E DO AMOR ESQUECEU A TUAS SANTAS LEIS. OH! CRISTO ASSISTO A

TUA

AGONIA. CONTIGO MARIA LAMENTA E SOFRE E CHORA SEU PRANTO AMARGO

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QU'A TERRA DEVORA. TUDO É TRISTEZA O MUNDO SÓ PENSA EM GUERRA, A HUMANIDADE AINDA NÃO ACREDITA QUE TU MORRESTE PARA NOS SALVAR, NÃO ACREDITA QUE TU FOSTE O VERBO QUE NESTE MUNDO VEIO SE MOSTRAR!

28.08.1975

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Haicais Haicai

(Esmeraldino) Das paixões primeiras Um grito ecoa o infinito: Palmeiras! Palmeiras! 28.03.2007 Haicai

(da atualidade) A vida é de graça, Mas no fogão da ilusão O almoço é cachaça. 09.09.2004

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Haicai

(Prostituição) Quem chegar primeiro Há de ter mercadoria De segunda mão. 17.11.1968

Haicai

(Comando) Ele diz para Mim: dispara! Depois diz:– para! 13.09.1993

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Haicai A dor é solidária Se a alma a sente fica sempre Solitária. 23.08.1998

Haicai Após o desencarne Serei somente Semente de carne. 2001

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Monossilabismo Soneto Dodecamonossilábico Vem-se com ar de miss, com ar de miss tu vens E um céu de luz me dás e vais a rir, sem ver Que já não sei sem ti ter paz, nem ter os bens Que a luz do céu me traz e já não sei mais crer... Vem e vais, vens e vais... e eu com a dor e a ter A voz de quem é só, e eu vou ver que não tens O dom da fé, o dom da paz, nem és o ser Que vi e quis e fui ao léu com os meus bens. Vais a rir e no chão o pó de giz me dá O fel da dor e vou sem ti e só, na dor Que diz que fui, não sou, e, ai, dor, oh! Deus, não há Mais a luz, mais o sol, mas a paz, mais o céu... Vais e não vens... o fel me traz a mim a cor A qual diz que sou só e da dor eu sou réu!

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Soneto Decamonossilábico Se o céu me traz o dom de ter a fé E a paz é luz de Deus, ah, eu bem sei Que mais que a fé de Deus eu sou um rei Que crê num Deus de luz, num Deus em pé. E eu sou o grão de sal, sou o grão que é Bom e a ser um só grão de Deus, sou lei Que diz do mel, do fel e o que já dei Ao sol, à luz, à paz e ao dom da fé. E eu sou o que mais quer e o que mais crê! Vou ver e vou a ver e a ver o que Se o que diz o que quer, traz, pois, aos seus, O que viu e não viu e não quis ver, O que foi e não foi e ao ser sem ser Viu a paz e não viu o dom de Deus. 23.07.1994

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Trovas Trova

(Da Infância) Menino passarinheiro, – Caçar era a minha lei. Hoje vivo prisioneiro Das arapucas que armei. 28.12.2007 Trova

(Da Imaginação) Pensas que sou Jesus Cristo, Queres que eu faça milagre... Mas não consigo... e eu insisto, Transformar vinho em vinagre... 23.11.1988

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Trova

(Da Imprudência) Veja só, quanta imprudência, – Que terrível pesadelo! – Casou por correspondência, E a noiva veio sem selo! 24.06.1986 Trova

(Da Fé) O lampião mesmo inclinado Mantém sua chama em pé. Mesmo sendo derrotado, Nunca perca a sua fé. 04.04.2008

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Trova

(De Pescador) Passei a tarde na areia Na praia rubra de sol. Foi quando linda sereia Enroscou-se em meu anzol. 16.04.2008 Trova

(Fórmula Prática) Para a Poesia ser pura Uma fórmula bem prática: Estudar Literatura, Gramática e Matemática! 16.04.2008

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Trova

(Do Vendaval) Difícil ganhar dinheiro! O esforço é atroz e violento. Mas num sonho aventureiro, Ele se esvai como o vento. 18.04.2008

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Quadras Quadra

(Do amor) Amar – sentir a alegria Dominar o coração. E ver no palco do dia O mundo feito canção. 10.03.1978 Quadra

(Do sonho encantador) Pode haver sonho mais lindo, Sonho mais encantador Do que teus lábios sorrindo Após um beijo de amor? 10.03.1978

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Adivinha Meu teto serve de piso Meu piso serve de teto Meu nome não é difícil Mas vai escrito incorreto! 23.10.1985

Resposta: EDIFÍCIO

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Elucidário

ADIVINHA – Também chamada adivinhação é uma espécie popular de Enigma, geralmente versificado, enunciado com um prólogo interrogativo, como “O que é o que é?” ou “quem será, que será?” Vale apenas como curiosidade poética. BALADA – Há uma popular, ESTÍQUICA, espécie de lenda ou narração versificada (ROMANCE), e uma cortês, de FORMA FIXA, hoje estabelecida com três ESTROFES e um envio, ou oferta ou dedicatória, TENDO AS PRIMEIRAS TANTOS versos QUANTAS FOREM as sílabas de cada verso e o Envio a metade desse número. Tanto as Estrofes quanto o Envio, a Dedicatória ou a Oferta, repetem, no fim, o mesmo VERSO. O esquema uníssono das rimas varia conforme a extensão estrófica, podendo ser: ABABABAB, ou ABABBABA, ABABBCBC, ABABCDCD para estrofes de 8 versos e 8 sílabas são os esquemas mais Pg cdxxiii


utilizados. Na atualidade alguns poetas tecem suas Baladas usando outra variação tanto nas Rimas como nos Versos. Mas aí as baladas já não podem ser chamadas Francesas. Também podem ser compostas em estrofes de 10 versos, mas aí os versos devem ser decassílabos e o esquema de rima mais usado, é o que se utiliza para as Décimas: ABBAACCDDC, mas também podem ter outras variações. Porém a estrofe final, do Envio, deve nesse caso, ter cinco versos usando as rimas CCDDC para a mesma. Mas inda existem as Baladas com outros metros. BEIRA-MAR – esse não é de fato, um poema de Forma Fixa. Aqui deixo tal exemplo apenas pela sua forma, pois é uma variante endecassilábica do MARTELO popular brasileiro, constando de Décimas de versos compridos (VERSOS DE ARTE MAIOR, onze sílabas) RIMANDO PELO ESQUEMA abbaaccddc,eventualmente admitindo que o primeiro, o sexto e o décimo sejam HEPTASSÍLABOS, (versos de 7 sílabas, ou redondilha maior).

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CANTO REAL – Composição poética de FORMA FIXA, certamente oriunda da Balada, o chant royal francês consta de cinco Estrofes e um Envio (às vezes apresentado como Oferta), tendo cada Estrofe normalmente onze versos, cinco ou seis o Envio; as Estrofes são ÚNÍSSONAS, isto é, rimam todas segundo o mesmo esquema, parcialmente repetido no Envio, feito de acordo com a parte final delas. Tanto nas Estrofes como no Envio, o último Verso é sempre o mesmo, a exemplo do que sucede na Balada. DEZ-DE-QUEIXO-CAÍDO – tipo de poema em Forma Fixa, usado pelos cantadores do Nordeste brasileiro. Deve ser cantado em Décimas em Redondilha Maior, no esquema rimário abbaaccdde, e deve, obrigatoriamente, terminar sempre com o refrão: Nos dez-de-queixo-caído. EPITÁFIO – espécie de Poesia tumular, para ser colocada em lápide, de apenas uma estrofe, ou ainda de forma satírica, feita sobre um vivo como se se tratasse de um morto. ESPINELA – É um poema monostrófico de Forma Fixa, apresentando dez Versos de sete sílabas, e cuja criação se atribui a Vicente Espinel, que lhe Pg cdxxv


deu o nome; as RIMAS fazem-se conforme o esquema abbaaccddc. Também se dá à ESPINELA a simples denominação de Décima. GAZAL – tipo de poema Estíquico, do Oriente Médio, composto de quatro a quatorze versos ligados por rima, sendo que no primeiro rimam os Hemistíquios. O assunto deve ser sempre idílico, tranquilo, pelo que se distingue da Casida. Goethe, entre outros, chamou o Gazal à Poesia européia, depois de consagrado o gênero pelo poeta persa Hafiz, que viveu no século XV. Os Versos também podem ser dobrados. GLOSA – Os cantadores brasileiros fazem a Glosa sempre em décimas, cujo verso final repete o mote, havendo tantas Décimas quantos forem as linhas do Mote. A Glosa erudita, que se supõe uma variante do Vilancico ou Vilancete, distingue-se pelo fato de que o Mote repetido passa a fazer parte integrante da Estrofe principal. HAICAI – Tipo de poema japonês (hokku) de Forma Fixa formado por 17 sílabas distribuídas em três Versos (5 – 7 – 5) sem Rima, como toda a poesia nipônica. Em princípio o Haicai deve Pg cdxxvi


sugerir uma das estações do ano, e o gênero foi imortalizado pelo grande poeta Matsuo Bachô, na segunda metade do século XVII. No Brasil., Guilherme de Almeida houve por bem fazer rimarem os Versos primeiro e terceiro, introduzindo também uma rima Leonina no segundo verso, nas sílabas 2a. e 7a. MARTELO – Pedro Jaime Martelo, professor de literatura na Universidade de Bolonha, diplomata e político, (1665-1727), inventou os versos martelianos ou MARTELOS, de doze SÍLABAS com rimas emparelhas; esse tipo de alexandrino nunca se adaptou na literatura tradicional brasileira, mas o nome ficou, origem erudita visível em sua ligação clássica com os letrados portugueses no primeiro quartel do século XVIII... Cantar o MARTELO, improvisá-lo ou declamá-lo, respondendo ao adversário no embate do DESAFIO, é o título mais ambicionado pelos Cantadores, explica Luis da Câmara Cascudo. A manutenção do nome é mais bem explicada por F. Coutinho Filho, em Violas e Repentes, justificando o MARTELO porque “são gêneros cantados velozmente, de um só fôlego, numa verdadeira

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torrente de rimas, num martelar sem pausa”. Além do Martelo de Seis Pés ou GALOPE, existem variações sob as formas de Gabinete ou Martelo Agalopado, e mais o Beira-Mar; a variante de quatro pés, correspondente à Quadra decassilábica, perdeu a popularidade. A acentuação do MARTELO faz-se de preferência nas SÍLABAS terceira, sexta e décima, de preferência em estrofes de dez versos (DÉCIMA), no esquema rimário ABBAACCDCD. MONOSSILABISMO – tipo de poema estrófico regular, de preferência o soneto, composto inteiramente com palavras monossilábicas. É invenção do autor, que ao criar, solicitou que diversos amigos-poetas o fizessem e o desafio foi aceito por Carla Ceres, Maria Cecília Machado Bonachella, André Bueno Oliveira, Carlos Moraes Júnior. Os exemplos aqui contidos, são dois Sonetos um em decassílabos o outro em versos alexandrinos. MOTETO – tipo de poema de uma só ESTROFE, para acompanhamento musical, admitindo formas várias, entre as quais entretanto se mencionam, como mais frequentes, o motet parfait e os motes

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imparfait, esse diferindo apenas por contar um

Verso menos que o outro, o qual se compunha de sete Versos, dos quis o penúltimo seria obrigatoriamente Quebrado, com Rimas segundo o esquema ABABBBA e a métrica decassílaba em todos os Versos, excetuando-se o penúltimo, que deve ser quadrissílabo, ou seja, de 4 versos. PANTUM – tipo de poema Estrófico oriundo da Malásia e introduzido na literatura francesa por Victor Hugo: compõe-se de uma série de quartetos em que o segundo e o quarto versos de um vão se repetir como primeiro e terceiro da estrofe seguinte, até o último que termina como verso inicial do poema. POEMA FIGURATIVO – é o CARMEN FIGURATUM dos latinos, o tchnopaignion dos gregos, ou o CALIGRAMA do francês Guillaume Apollinaire, composição poética em que a disposição gráfica do texto acompanha a forma do objeto a que se refere, seja um ovo, uma asa, um balão, ou o que for. QUADRA – também denominada quadrinha ou TROVA, é o QUARTETO de ARTEMENOR,

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autônomo, desligado de qualquer compromisso estrófico, composto quase sempre de HEPTASSÍLABOS em que a RIMA só é obrigatória no segundo e no quarto Verso, podendo existir ou não entre os de ordem ímpar. Os Cantadores brasileiros davam-lhe o nome de quatro pés, mas segundo o depoimento de Coutinho Filho, já de longa data a deixaram em segundo plano, com a hegemonia da Sextilha e do Martelo. Conferir com a Trova. RONDEL – pequeno RONDÓ, mais conhecido como TRIOLÉ. RONDÓ – Nome aportuguesado do rondeau francês, que já em fins do século XVIII dispunha de uma forma fica também denominada rondeau sangle ou rondel rondelant, depois firmada como Triolé. Por outro lado, coexistiam várias outras formas, entre as quais destacam-se a do RONDÓ SIMPLES (14 versos) distribuídos em dois Quartetos e um Sexteto, repetindo sempre os dois Versos finais, segundo o esquema rimário ABAB abAB ababAB e o Rondó Duplo (uma Estrofe de cinco versos e uma de três e outra de cinco, acrescentando-se à segunda e à terceira, à guisa

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de Quebrado, o Hemistíquio inicial da composição, segundo o esqueça aabba/aabq/aabbaq, além de um novo tipo, inexatamente chamado de Rondo Redobrado, que seria talvez um rondó quádruplo, formado de quatro Estrofes de cinco versos e três de três, todas com quebrado, exceto a primeira, segundo esquema aabba/ aabq/ aabbaq/ aabq/ aabbaq/ aabq/ aabbaq. Sempre construído sobre duas Rimas apenas, o Rondó, como explica G. Raynaud, “tem esse nome, não por repetir o refrão e fechar o círculo, mas porque primitivamente, era uma canção destinada ao acompanhamento de uma dança chamada”ronde”; daí a grande variedade de formas líricas que se acomodam sob esse título. RITORNELO – Espécie de Rima de base ou base rítmica, que se cria pela repetição, mais ou menos regular, de certo Verso, com efeito de Bordão (no fim) ou de Antecanto (no início de várias estrofes, ou ainda no corpo da mesma Estrofe).

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SEXTINA – é um poema de FORMA FIXA cuja invenção se atribui ao provençal Arnaut Daniel e que consta de seis Estrofes de seis Versos cada, além de um REMATE de três; as Rimas pretendem fazer-se pela simples repetição das mesmas palavras no fim dos Versos de todas as Estrofes, e, terminar, nos Hemistíquios do Remate. Também deve repetir-se no primeiro verso de cada Estrofe a terminação do último da anterior, sempre que possível. TERZA RIMA – tipo de poema Estrófico usado por Dante na Divina Comédia e constituído por uma série de tercetos cujos versos primeiro e terceiro rimam entre si e com o segundo da Estrofe anterior, terminando a composição por uma linha final que se acrescenta ao último Terceto e que faz Rima com o segundo verso dele TRIOLÉ – Também chamado TRIOLETO, é o pequeno poema de Forma fixa, correspondente ao primitivo Rondel francês, formado por oito versos dos quais o primeiro repete como quarto e sétimo e o segundo se repete como final, com rima segundo o esquema abaaabab. Também se pode usar o Triolé como Estrofe, em composições Pg cdxxxii


maiores. Existem ainda outras formas com mais versos... TROVA – nome talvez derivado do latim medieval tropare, que significaria compor ou inventar tropos (donde o francês trouvère e o provençal trobador), mais tarde ligados a qualquer improvisação poética e por fim restrita a uma das formas mais correntes e fáceis dessa improvisação, a quadrinha ou Quadra popular. Porém na minha opinião as mesmas diferem, já que a Trova deve sempre ser em Redondilha maior e com sentido completo. Já a Quadra, pode ser composta em qualquer metrificação e fazer parte de um poema. Por exemplo o Soneto, que contém duas Quadras e dois Tercetos, não duas Trovas... VILANCETE – Nome que também se dá ao VILANCICO VILANCICO – Considerado por Menendez Pidal como “a forma mais arcaica” da GLOSA, o Vilancico parece caracterizar-se pela variedade quanto ao número de SÍLABAS em cada Verso, e quanto ao número de Versos em cada Estrofe, conforme os compassos da melodia com a qual Pg cdxxxiii


há de ser cantado. Compõe-se de um Estribilho ou Mote, que se repete à guisa de TORNADA, no fim das várias Estrofes que o desenvolvem ou comentam. VILANELA – tipo de poema Estrófico formado por uma série de Tercetos em que há uma Rima para os Versos primeiro e terceiro e outra para o segundo, ligando todas as estrofes, até a última, que é aumentada de um quarto Verso rimando com o segundo.. Notar que o primeiro e o terceiro verso da primeira estrofe passam a ser o terceiro das estrofes subsequentes. Esio Antonio Pezzato Poeta Piracicabano Piracicaba, 2009

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