LUZ ETERNA
Sonetos de Esio Antonio Pezzato 2009
Pequeno comentário do Autor
Luz Eterna. Um título apenas, nada mais do que isso. Mas eis aqui mais uma coleção de Sonetos, que por certocontinuará inédito. Vale apenas como registro de minha poética. Sei muito bem, mais do que ninguém, que a Poesia deveria ter ou ser uma Luz Eterna em nossa vida, mas bem sei que hoje, ou melhor, nos dias de hoje, poucos leem um Poema, uma Quadra, um Soneto, um verso mesmo qualquer. O título aqui não foi procurado. Surgiu por acaso. Do montante que possuo digitado, perto de 1200 inéditos, esse título era o primeiro da lista. Gostei. E eu nem havia antes percebido que era um título atraente... Mas isso já não é importante. Importa com mais uma dose de tristeza para mim, que dificilmente esse livro um dia será publicado. Tantos devem continuar a ficar no ostracismo, a ficar inéditos... e eu já tive a sorte de vir a
público com 12 livros, e ainda tenciono logo mais publicar “Os Caipiras”. Mas é isso. O comentário apenas aqui serve para encabeçar esses Sonetos, quase todos decassílabos. Esio Antonio Pezzato Julho de 2009
Luz eterna
Essa dor tão insana que maltrata E ao coração traz mágoa e penitência, Como dói essa dor chamada ausência Essa dor que nos vem de forma ingrata. Sonolenta ela vem, traz resistência, Mil castelos construídos desbarata, Sentinela redige lívida ata E fere, fere, fere, sem clemência. Releio o velho livro da memória E ao ver a sua dor doendo tanto Também recordo a minha triste história... A mesma dor da solidão paterna Que molda máscaras de angústia e pranto, Em minh’alma também tem luz eterna. 02.05.2006
Eterna dama
Distante estás porém nossa distância Não pode ser de léguas de deserto. Deverias tomar o rumo certo Para viver o amor em cada Estância. Mesmo distante sinto-te a fragrância Que me chega com timbres de concerto. Distante estás, porém te quero perto Para tudo te dar com mais constância. Mas foges e te escondes... e te escondes... Patéticos chamados não respondes E ignoras o teu Dono que te chama. Vem que te espero e tanto e tanto e tanto! Quero-te rima para um novo canto, Vem deste Poeta ser a eterna Dama! 08.05.2006
Lembrança
Relembro com saudade o velho sítio Onde passei minha dourada infância. E à minha Mãe que hoje me diz: “Visite-o! Que ele há de ainda ter mágica fragrância!” Digo não com firmeza. Embora cite-o Em mil recordações e cheio de ânsia Aquele sonho azul do velho sítio É uma lembrança apenas de constância. Lá vivi alegrias, com certeza, Pés descalços, feliz eu contemplava Mil espetáculos da Natureza. Viver era a esperança mais dourada, Que minha mente ainda treme escrava Se ouve um galo a cantar na madrugada. 10.05.2006
Poço da derrota
Ás vezes a saudade me apavora E planta desesperos em meu peito. De tal maneira que minh’alma chora E eu este pranto amargo não aceito. Pouco importa se é justo e se é perfeito O pranto que me fere e me devora. Esse pranto me deixa insatisfeito Essa mágoa em meu peito já não mora. Penso já ter vivido o suficiente E penso ter controle da saudade Mas ela assim do nada à vida brota. Fere e castiga o coração que sente, Nos deixa presos na perpétua grade Cavando em nós o poço da derrota. 10.05.2006
Ana Maria
É uma pequena flor cheia de graça Que vive me encantando dia a dia. Em honra desse encanto eu ergo a taça E teço um brinde em timbres de Poesia. Ana Maria um nome que adelgaça E penetra-me n’alma e me extasia. Nome de flor é flor e a flor me enlaça Para viver comigo em fantasia. Uma flor no jardim da minha vida Não pode ter a vida de abandono Pois que senão desmaia e jaz ferida. Uma Rosa fulgura em meu Outono, Muda-me em Primavera colorida, Desta Rosa mulher passo a ser Dono! 12.05.2006
Soneto sem fim
Todo Soneto tem quatorze versos, E deve ter as rimas bem cuidadas. Rimas pobres, assim como as em “adas”, Devem ser evitadas. Bem diversos Os temas devem ser. Boas tiradas Dão ao Soneto glórias. Mas se a rima Por exemplo quebrar abaixo e acima, Ele será atirado nas calçadas. São os ossos do ofício do Poeta! E se a rima também for imperfeita, Não haverá no mundo borboleta Que ao Soneto dê luz pura e direta, E nele só verei falta e defeito. ....................................................... 25.05.2006
Sonhos doentes
Somos todos doentes, de maneira, Que iremos falecer um certo dia. Pois não há descoberta uma alquimia Que deixe a Vida nossa prisioneira. A certeza da Morte é verdadeira. E o porvir, pode ter curta valia. A Esperança é uma bruxa, assaz vadia, Entanto é nossa eterna prisioneira. E vivemos sonhando – enlevo doce! – Enquanto vamos vendo bons amigos Partindo sem retorno da viagem. Sonhar longo futuro é um tredo alcouce. Porque no cemitério mil jazigos Estão nos esperando com voragem. 11.06.2005
A minha história
Como velho fantasma peregrino, Moldo no chão da velha e antiga estrada Os passos que procuram um menino Que viveu bela história abandonada. De velhas amizades me ilumino E por elas, a força é renovada. Tantas se unem num único destino, Que a Vida se renova em alvorada. Como errante Poeta moldo os passos, Que vão buscando cúmplices abraços Velhos fatos retidos na memória. A cada encontro os versos vou compondo, Se aos anseios de luz não correspondo, Não esqueço, jamais, a minha História. 15.06.2006
Virás!
Estás distante... sei que estás distante Fisicamente apenas, mas um dia, (Que breve seja!) tu, toda poesia, Virás para entregar-se ao sonho amante. E ouvirei cada jura sussurrante. Cada gemido em pura fantasia Irá nos abraçar feito magia E irá nos envolver num sonho ebriante. Virás! Virás! E permanentemente Hei de domar teus sonhos, tua mente, E te fazer a minha terna amante. E no corpo terás, como verdade, Para mostrar de forma delirante, Que sou teu Dono e és minha propriedade! 13.11.2006
Teresa
Teresa é um sonho bom, uma saudade Que povoa a minha alma noite e dia. Um misto de paixão e de ansiedade, Desejo de poder que me extasia. Teresa é a alma submissa que me invade E enche meu coração de fantasia. Um sonho para a minha realidade, Delírio de viver toda a magia. Teresa é um sonho e dentro deste sonho Sou-lhe Dono e Senhor e ela, cativa, Ajoelha-se aos meus pés em rendição. Na distância onde ausente os olhos ponho, Sempre de forma silenciosa e viva, Teresa é minha sombra de paixão. 21.11.2006
Tola ilusão
Ilusão... ilusão... tola ilusão... A vida é um louco acumular de dias Que vão perdidos junto às fantasias E cremos nós que tenham servidão. Fosforescente bolha de sabão Quando nos pomos a fazer sangrias Fantasmagóricas alegorias Aos nossos sonhos vão dizendo não. Essa grande experiência acumulada Não serve para nada, para nada, Porque o ineditismo do amanhã Com força irá mostrar a sua sorte: E o homem mais fraco e mesmo o homem mais forte, Irão cair por terra em tal afã. 29.11.2006
Soneto para véspera de aniversário
Assim a vida passa... assim a vida Desenfreada e veloz, rápida passa. Passamos nós na transversal corrida Na mais terrível e constante ameaça. Assim à vida, tenebrosa traça A ânsia de dias mais deixa corroída. Tomba o futuro em nuvens de fumaça Cega a esperança azúlea e colorida. Quem antes se fazia num sorriso Presente aos nossos sonhos mais festivos, Hoje se torna ausente sem aviso. De incertezas assim a vida aflora... Dos adeuses sem fim somos cativos, – Logos nós estaremos indo embora... 29.11.2006
Teresa
Mais que um sonho, Teresa é uma ansiedade: Avalanche em insana correnteza. Um delírio de sonho e de vontade, Paixão que a alma fremente deixa presa. Mais que um sonho, Teresa é a atroz verdade Que me prende em correntes de certeza. Desvario e loucura – insanidade Que em turbilhão a idéia fere tesa. Mais que um sonho, Teresa é o amor oculto, Que revela e rebela a natureza De labaredas num estranho culto. Mais que um sonho de príncipe e princesa, Teresa é luz diáfana, aéreo vulto Verso que fico a declamar... Teresa... 14.12.2006
Roca mole
Trôpego tento conduzir os passos Contrariando severa ordem imposta. Se a voz que urra sacode amplos espaços, Em silêncio darei minha resposta. Essa que pensa ter poder nos Paços, Pelo ridículo se faz exposta. Grita, tortura, traça tortos traços, Mas à sua vitória é sem aposta. Se almeja ainda galgar pompas e glória, Não terá um só voto na eleição Pois nefasta será sua memória. Continua a gritar com urros de orca, Que o Natal se aproxima e com razão Gritarás como em vão, grita uma porca. 19.12.2006
Os quatro elementos em saudação
Faço versos de amor. O amor merece Ser louvado nos versos que fabrico. Cada verso de amor lembra uma prece Onde meus lindos sonhos glorifico. A alma da minha vida os versos tece E em honra deste amor de joelhos fico. O amor na minha vida é flórea messe, Desse amor me abasteço e sou mais rico. O amor! ventura d’alma, sonho etéreo, Que asas me dá para voar, voar, A vastidão de todo o espaço aéreo. Canção feliz que engloba o verbo amar, Que me faz ser Poeta tão sidério, Saudando o Fogo, a Terra, a Água e o Ar! 19.12.2006
Sonho distante
A vida por viver ainda é segredo; Nem sabemos se iremos desvendá-la. Por isso nossa angústia e nosso medo Também nosso tremor e nosso abalo. A vida por viver é um sonho ledo: Traz cantigas que dão-nos doce embalo. Também pode trazer num arremedo O desespero em simples intervalo. A vida que ainda em êxtase procuro Fará florir em festas o futuro, – Tem sido assim minha constante meta. A vida amanhecer num sonho alado, E eu, pelos Deuses sacros – inspirado, Possa compor um verso de Poeta! 20.12.2006 10:15h.
Alguns Sonetos
Sonetos! À medida que eu os faço Debato-me com métricas, cesuras... Compô-los é viver entre aventuras, Perambulando olhares pelo espaço. Domar o pensamento em grades de aço, De o pântano evitar cruéis agruras... Tecer as rimas como iluminuras, E jamais se quedar frente ao cansaço. Meus Sonetos! Assim eu os componho! É alegoria cúmplice de um sonho, Criá-los sem ranhuras, sem defeitos. Glória ao Grande Arquiteto do Universo, Que deu-me o Dom de urdir verso após verso, Alguns Sonetos justos e perfeitos! 08.02.2007
Velhos sonetos
Velhos sonetos, velhos e esquecidos. Sonetos... nesta imensa caminhada Eles foram amados e queridos, E compostos com a alma apaixonada. Velhos sonetos, sonhos coloridos: – Uns em forma de carta à bem-amada, Outros chorando sonhos destruídos... Em todos uma história bem tramada. Agora que releio tais sonetos, Os olhos trago em lágrimas banhado, Sinto pulsar mais forte o coração. Da vida são meus doces amuletos: Por eles sinto estar apaixonado, Poeta – amo-os com a força da Ilusão. 16.02.2007
Consulta ao ortopedista
De repente... um Soneto pé-quebrado! Como pude compô-lo, sendo artista? O Arayr como bom ortopedista O meu soneto deixará curado? Talvez precise sim, ser engessado! Não é fratura exposta, assim à vista. Mas na ânsia da batalha não prevista, Quebrei o verso que ficou errado. Sempre justo e perfeito em cada verso, Rompi tendões de métricas e rimas, Sem querer veio o tombo na cesura. Arayr, bom Amigo, fui disperso! Tal dispersão irei juntar com ímãs? Diga, Doutor, meu verso ainda tem cura? 16.02.2007
Solitário silêncio
Solitário silêncio. Solitário Momento onde o Poeta em transe, escreve. Breve momento muito breve. Breve É o canto e ao canto é longo o itinerário. Lá fora brandamente cai a neve. Dentro do coração há um denso estuário. A inspiração tem passos de calvário, Pesada embora, se mostrando leve. Silêncio solitário. Solitário Dentro do coração em transes canta Em ecos de tristezas, um canário. De tanta solidão teço esta manta: Para o Poeta já não há cenário, E o silênciolitário me acalanta. 27.02.2007
Frente ao imprevisto
Podemos todos fenecer. Podemos Partir sem que a partida esteja pronta. Frente a desejos mórbidos, supremos, Bem podemos ficar com a alma tonta. Esse poder estranho me amedronta; Pois poderes de vida, nós não temos. Um dedo em riste do destino aponta Um barco em alto mar... e as mãos por remos. Sabemos nós que não podemos nada! Temos somente permissão a sonhos Mas frente a pesadelos somos vistos. Talvez não haja, após a madrugada, Um sol brilhante, corações risonhos, Que a realidade é feita de imprevistos. 02.03.2007
Obreiro
Em versos me desnudo novamente Neste infernal e celestial Ofício. Se o verso um dia à Vida for semente, Terá valido a pena o sacrifício. A caminhada é longa e permanente E é penoso demais cada exercício. Mas vou seguindo destemido em frente, Na ânsia de construir meu Edifício. E os versos são tijolos na labuta, As rimas são a massa dando liga E dos Mestres procuro usar o exemplo. Que o verso seja adocicada fruta! E a rima seja terna e doce amiga, E que eu consiga edificar meu Templo! 13.03.2007
Ofício
O Ofício da Poesia me fascina E me sacia o coração fremente. Cada verso que sai da minha mente Se parece uma estátua purpurina. Como se fosse mesmo uma semente, O verso lembra airosa bailarina; Que sensualmente o dorso altivo inclina Numa ternura doce, amena, ardente. Justo e perfeito crio assim meu verso, E sem defeito quero-o belo e altivo, Um monumento à glória do Universo. Por essa perfeição bem sei que vivo, Se o coração em transe vai disperso, Mais pelo amor me sinto estar cativo. 23.03.2007
Meus versos
Meus versos necessitam de carinho. Não podem e não devem, com certeza, Ser maltratados. Como um passarinho Meus versos voam pela natureza. E se alguém os ferir com rude espinho, Eles irão perder fulgor, realeza, E viverão largados no caminho Onde o lodo do pus e da impureza Irão feri-los todos, maltratá-los, Causar cismas, causar traumas, abalos, É por isso que digo, bem mansinho, Com voz baixa, em sussurros feitos prece, E bem repito, assim ninguém se esquece: Meus versos necessitam de carinho. 28.03.2007
Doce exaltação
Procuro em cada verso, a melodia, A doce exaltação do sentimento. O acorde manso, a lírica magia, O gosto de sorver, sentir o vento. Poeta – vou tramando no momento A rima para cálida poesia. O verso é meu altar, é meu unguento, Razão para viver um novo dia! Suspiro estrofes – lírico me faço, Escaldo sonhos, tanjo pelo espaço Manadas de Silêncio e de Ternura. Com a avena da Esperança urdo meus hinos, Carrego n’alma sonhos purpurinos, E sonho a vida cada vez mais pura. 11.04.2007
Andresa (apenas uma rima, nada mais)
Andresa em minha vida é mais que um sonho; É um desejo de posse alucinado. É o coração pulsante, é o olhar risonho, É a ânsia de extravasar-se apaixonado. Andresa é o amplo caminho onde os pés ponho, É o delírio da posse em todo o estado. – Sendo ausência o viver é mais tristonho, Sendo presença é um dia iluminado. Andresa é uma canção que rimo e canto, E com felicidade e terno encanto Soletro letra a letra com firmeza. Andresa é etéreo som de suavidade, Tua presença a minha vida invade, Canção que canto com prazer – Andresa. 25.04.2007
Prisão
Ânsia de possuir-te em fúria imensa, Dominar o teu corpo, os teus sentidos, E após ouvir, como se fosse crença, Teus lúbricos gemidos. O teu corpo violado, a alma suspensa, Os desejos insanos, incontidos. Minha vontade feita atroz sentença, E os êxtases vividos. Minh’alma assim te quer, assim te busca, A minha tara mesmo sendo brusca, Será firme e secreta. E tu’alma submissa, à minha presa, Verá que mais que teu Senhor, princesa, Serei o teu Poeta! 26.04.2007
Tormenta
Às vezes o passado me atormenta E grita em polvorosa em minha mente. Parece até que a antiga dor violenta Como herança deixou sua semente. O fel da angústia – baba atroz, sangrenta, No coração escorre, de repente. Minha manhã de sol fica cinzenta, E só delírios a minha alma sente. Parece que um demônio em ira estranha, Baba sua vileza em minha entranha Sua ironia escarra no caminho. Feroz delírio é tudo o quanto sinto, Se desta vida o amor se fez extinto, É natural que em fel mude-se o vinho. 02.05.2007
Posse
Quando o chicote em tua pele vibra, E escuto os teus gemidos lancinantes, Demonstras ser a amante das amantes, E mostras que ĂŠs escrava e que tens fibra. Submissa escrava em todos os instantes Na paixĂŁo meu desejo se equilibra. Quando um vergĂŁo na tua pele libra, Meus prazeres se tornam mais constantes. Humilde vens, silente, vens ao dono, Que te espera no afago e no castigo, Para que possas mais e mais viver. Faz teu amor feliz, vela-lhe o sono, Faz de teu corpo o mais ardente abrigo Para viver em ti o meu prazer. 03.05.2007
Retiro
Às vezes a minha alma se entristece Por motivos banais, tolos e chulos. Uma palavra à toa me aborrece Que até os meus prazeres deixam nulos. As más notícias chegam como arrulos; Fazem cochicho em meio da quermesse. Mas em alto-falantes soltam pulos Como frutos ruins de podre messe. E a palavra mordaz meu peito fere, E todos riem frente ao sangramento, Ninguém falando de onde o fato veio. O silêncio feroz é um miserere. Porém, enquanto em ondas vai o vento, Em meu retiro fico em devaneio. 07.05.2007
Primaveril
A primavera cicatriza o inverno Que n’alma congelou os meus desejos. E vai compondo com prazer eterno A sinfonia mágica dos beijos. Nos jardins rubras rosas em cortejos Parecem um turíbulo do inferno. Há um bulício de vidas, de festejos, E um delírio de gozo denso e terno. Contemplo esse espetáculo ridente! Vibra a harmonia de um violino ardente, E a primavera, no jardim da vida Sangra em rosas de pétalas vermelhas, Também meu coração chispa centelhas Pondo a alma na esperança colorida. 11.05.2007
Distância
Sinto que pouco a pouco distancias Até a separação tornar completa. Não serás mais a Musa do Poeta, Não mais e comporei minhas poesias. Afastas-te de forma bem discreta, Foges mansa nas sombras dos meus dias. No silêncio de tantas fantasias, Até que a ausência seja, enfim, concreta. Mas me engano... em ternuras me apareces, Iluminas meus sonhos, iluminas Minha alma e tua voz em doces preces Pede afagos e pede mil carinhos. Ah, doce amor, nas mais remotas minas, Não iremos, jamais, viver sozinhos. 24.05.2007
Sumiço
Apareces, depois desapareces, E minha angústia aumenta, aumenta, aumenta... Chamo-te com carinho em minhas preces, Contudo tua ausência me atormenta. Esqueces o prazer vivido... esqueces A loucura da posse assaz violenta. Teu corpo serpenteante em dóceis SSs. Os gemidos da posse mais sedenta. Apareces em sonhos tão-somente, E em delírios escuto o gozo arfante Teus ais, teus uis e tua dor latente. Submissa aos meus desejos tu ficavas, E mais que minha predileta amante, Eras a mais escrava entre as escravas. 24.05.2007
Invocação
Invocas o Silêncio em tuas preces. O Silêncio nos traz traumas e medos. Desejos escondidos em segredos, Em atalhos sinistros cheios de esses. Invocas o Silêncio enquanto teces Cobertas para as noites de degredos, Açúcares a chás acres e azedos, E silos para os frutos de áureas messes. Invocas o Silêncio e depois somes, E não tens rosto muito menos nomes, És a verdade envolta na mentira. Não podes traduzir minha palavra, O silêncio é somente em tua lavra, Enquanto é fruto para a minha Lira. 01.06.2007
Três Luzes
Mais um dia estafante de trabalho. Em silêncio o labor é mentalmente. Entranho ao Verso a rima em minha mente, Tal fosse a rima ao Verso, um agasalho. Um Soneto sem rimas, certamente, Lembra espantoso e tétrico espantalho. Lembra as cartas difusas de um baralho Que deitou sua sorte num repente. Portanto o meu trabalho é literário. E tento por nos versos que fabrico As três Luzes perfeitas da harmonia. Com a Força o exercício é-me diário! Na Beleza o meu verso glorifico, Mas busco as luzes da Sabedoria! 06.06.2007
A Ana Maria, meu amor
Todos os sonhos que sonhamos são – Cega certeza! – os sonhos mais bonitos. Desbastamos os largos infinitos Mudos ficamos em contemplação! Em tais momentos fala o coração A linguagem melódica dos ritos. Os nossos olhos mudos e contritos, Declamam em silêncio, uma oração. De mãos dadas, nós dois, e só nós dois, Preenchemos a amplidão com nossas calmas, Nada necessitamos do depois. As nossas vidas pulsam hoje e aqui! Juntas até são plenas nossas almas, Já que vives em mim e eu vivo em ti! 14.06.2007
Rosa com espinhos
Muitos momentos tenho em vão vivido Sonhando sonhos, simplesmente sonhos. Muitos momentos bons tenho esquecido Buscando apenas pântanos medonhos. Muitos momentos meus tenho sofrido Assim meus dias vivem mais tristonhos. Muitos momentos meus tenho perdido Buscando ataques claros e bisonhos. Devo permanecer neste compasso, E o tempo agora torna-se de espera Para o confronto hei de travar o passo. Haverá de romper a Primavera, E eu hei de ver ruir todo o fracasso De quem só por prazer me dilacera. 15.06.2007
Vontade de viver
Morrem meus sonhos... e tristonhos morrem Os meus desejos loucos, delirantes. Pelos dedos das mãos frias, escorrem Ânsias e taras e ilusões amantes. Desvarios sutis não me socorrem E as esperanças tornam-se distantes... Morrem meus sonhos e tristonhos morrem Vontades e momentos excitantes. Vivi sonhos, delírios, vivi dias, Horas de espera, instantes de ansiedades, E mil momentos mágicos vivi... E restam por viver mil fantasias Olhares plenos, loucos de vontades, Vontade de viver junto de ti. 22.06.2007
Inesquecível
O dia amanheceu todo nublado. Falta-me o sol e sua luz brilhante. Cinza caminho a passo torpe e errante, Desconsolado e só... desconsolado. Ausento-me de mim e sem passado Marco passadas num vagar distante. Lerdo lirismo, fantasia adiante, Realidade feroz me faz parado. Absorto, cismo o olhar alhures, vago, Nada levo de mim e nada trago, Nada ofereço a quem nada oferece. Vou só. Incógnito. A vida é úmida e fria. A solidão sem tua companhia O coração sofrido não esquece. 29.06.2007
Silêncio
Invocas o Silêncio em tuas preces. O Silêncio nos traz traumas e medos. Desejos escondidos em segredos, Em atalhos sinistros cheios de SSs. Invocas o Silêncio enquanto teces Cobertas para as noites de degredos. Açúcares a chás acres e azedos, E silos para os frutos de áureas messes. Invocas o Silêncio e depois somes, E não tens rosto, muito menos nomes, És a verdade envolta na mentira. Não podes traduzir minha Palavra. O Silêncio é semente em tua lavra, Enquanto é fruto para a minha Lira. 01.08.2007
Velhos amigos
Nesta vida encontrei alguns amigos Leais, sinceros, justos, verdadeiros. Prontos para livrar-me de perigos, De armadilhas sinistras, de atoleiros. Muitos desses amigos tão antigos Foram da minha infância, companheiros. Usando o mesmo teto por abrigos, Da água e do pão nós éramos parceiros. Hoje que a vida traça estrada estranha, Traz distâncias, silêncios, vida oculta, Vejo-os preenchendo sonhos de um passado. Neles me vejo unidos nesta sanha, E quanto mais esta saudade avulta, Mais trago n’alma um coração magoado. 28.12.2007
Soneto com Mote
(Oh! Flor do céu! Oh Flor cândida e pura) (Perde-se a vida, ganha-se a batalha!) Machado de Assis
Oh Flor do céu! Oh Flor cândida e pura, Delírio de visão que me entorpece, Sonho maior que exalto numa prece Que me leva ao delírio da loucura. És tu um paraíso da Ventura, Que da alma o olhar que vê jamais esquece, E o olhar do corpo em frêmito estremece Quando sente o prazer dessa candura. E dia a dia na loucura imensa O pensamento é lava de fornalha Que pétalas transmuda em áurea crença. Machadiano prazer que me atrapalha! Que ao te roubar é fera a recompensa: Perde-se a vida, ganha-se a batalha! 31.01.2008
Há 50 anos
Da minha infância a rua é uma lembrança Esquecida no tempo já distante. Que agora traz saudade anavalhante Ao adulto que nela foi criança. A vida sepultou toda a esperança Que era bela, qual rútilo diamante. As estações se foram num instante Num vendaval fazendo sua dança. Hoje há um eco perdido no passado E uma sombria voz que vem ao vento Impiedosa selando esse destino. No peito o coração bate magoado, E parece trazer em seu lamento, Lembranças desse tempo de menino. 31.01.2008
Inocência infantil
Meu coração tem sonhos de criança, Acredita nas bruxas e nas fadas, Sonha, e nos sonhos faz uma aliança Para crer nas histórias encantadas. Meu coração é cheio de esperança, E brinca nas manhãs ensolaradas. Com os raios de sol ansioso dança, Brinca com as borboletas encarnadas. Crê no “pé de feijão” – se faz Joãozinho, Ama, cria e recria muitas lendas, Tem as duas mãos juntas, numa prece. Meu coração de histórias faz seu ninho, Porque a crer nas histórias estupendas, O meu Pequeno Príncipe não cresce! 29.02.2008
Soneto com mote
(Todo o maná sagrado da montanha) Miguel Torga
Rasgo o peito co’as mãos e dentro busco A Inspiração para compor um verso. Insano desvario, sonho brusco, O tempo da Poesia hoje é adverso. A meu redor é grande o lusco-fusco: Luzes e trevas duelam no Universo. – O amor que brota – alucinado ofusco, E para a vida tenho o olhar perverso. Porém, a ânsia do Sonho ainda é mais forte, E uma força Divina o peito arranha E não consigo divisar tal sorte. É a Poesia que rompe minha entranha, E traz-me com vigor maior que a morte, Todo o maná sagrado da montanha! 06.03.2008
Livro de Receitas
Para compor meus versos necessito Do Livro de Receias de Vovó. Pois só ela sabia, num agito, Fazer bolos do tipo pão-de-ló. Quituteira das boas, era um rito Para a fabricação do Mocotó. Pasteis de carne, queijo ou de palmito Era a boa a Vovó, como ela só. Uso açúcar e sal, trigo e fermento, Para o Verso sair justo e perfeito E a métrica jamais erros conter. Cozinheiro do Verso – no momento Eu ficarei bastante satisfeito Se o conteúdo agradar ou der prazer. 26.03.2008
A Saudade
A saudade é um cometa peregrino Que vive a navegar na órbita imensa. Caminha pelo espaço sem destino Surgindo, às vezes, em fugaz presença. Às vezes brilha de maneira intensa Provocando pavor e desatino. E o coração, numa sentida crença Qual da ermida badala um brônzeo sino. Mas a saudade mil ações provoca, – Fera ferida entranha-se na toca E o coração explode numa lira. Porém, como o cometa vai-se embora, E ao vir do sol em fulgurante aurora, Ele mostra seu rastro de mentira. 29.03.2008
Encontro
Poeta peregrino mil caminhos Para encontrar o amor sincero e puro. A marcha segue o rumo do futuro Onde soletram mil canções, os ninhos. Os meus sonhos jamais seguem sozinhos, Pois de encontrar o amor estou seguro. Em loucas esperanças me aventuro Sentindo o olor dos frescos rosmaninhos. Não me canso jamais da caminhada, A cada passo que meu corpo avança Para trás deixa a noite e a madrugada. À frente o sol ardentes raios lança! E me percebo estar no fim da estrada Eis que me encontro à rútila Esperança! 29.03.2008
Inverno
A passos largos se aproxima o Inverno Trazendo neve aos fios de cabelos. Sonhos mudam-se em feros pesadelos, E o crepúsculo surge sempiterno. A fulgor que sonhava ser eterno Impossível clamar em mil apelos. A cerzi-lo me faltam os novelos Lã para agasalhá-lo em sonho terno. O passado é uma estrada ampla e comprida, Das flores a Estação não tem atalho E a esperança não brilha mais florida. Do tempo que me resta me agasalho, E a contemplar no espelho a minha vida, Reflito-te num pálido espantalho. 02.04.2008
Soneto em acróstico
(soneto em acróstico de Esio Poeta)
Sempre, sempre escrever......... Inspiração Obriga-me a compor..................Constantemente Na Poesia eu..............................Ouço o coração Em delírios febris........................Divinamente. Treme meu coração...................E na corrente O verso faço em.........................Êxtase... ilusão... Embora haja prazer....................Sinto na mente Morrer o verso em......................Ímpia maldição. Ah, o meu verso é......................Ópio na minh’alma, Canção parar viver.....................Pétala aberta Roseiras no jardim.....................Oh, vida calma! Oh! sonho de viver.....................Essa áurea vida, Sempre sincero........................Ter a estrada certa, Ter a seguir............................... A estrada colorida. 29.04.2008
Saudade I (para os filhos do Curtinho)
Nas tradições perdidas no passado Que à mente trazem lúcidas lembranças, Bem me lembro – nós éramos crianças E um mundo por viver era sonhado. O tempo em suas corrosivas danças Sepultou esse sonho iluminado. E hoje esse tempo apenas é lembrado Pois vivíamos cheios de esperanças. Nas calçadas em filas de cadeiras As famílias, vizinhos, conhecidos, Reunia-se em horas prazenteiras. Hoje vivem vazias as calçadas, Esses tempos são tempos esquecidos, E as cadeiras estão abandonadas. 29.04.2008
Saudade II (para os filhos do Curtinho)
A dor que agora deixa a alma ferida E sangra corações em agonia, É a dor que já senti também um dia, Quando meu Pai adeus disse a esta vida. Como é desesperada a despedida! A alma se despedaça, a sinfonia Da lágrima que cai nos asfixia E como fere a dor de tal partida! A saudade contudo, permanece, E ela ativa lembranças do passado Que se confunde com a Eternidade. E tudo se transmuda em terna prece: O ausente quando em fato é relembrado, Retorna à Vida em Hinos de Saudade! 29.04.2008
Pensamento de Carmela
O homem – na sua vida transitória, Traz o sonho profundo e alucinado – Como se fosse sua imensa glória! – De ter tudo o que possa ser juntado. E de maneira insana e merencória, Quer o ouro, como se fosse isso sagrado! Deseja assim mostrar sua vitória Num delírio cruel, desesperado. E cheio de incoerência e de ganância, Descontrola-se em sua intolerância Chegando a praticar horríveis atos. E nem se atém na sua caminhada, Que para se vencer nesta jornada, O importante é ter pés, não ter sapatos! 02.05.2008
Maximiliano Kolbe
No horror terrível da Segunda Guerra Hitler, em seu desejo sanguinário, Vai espalhando sobre toda a Terra O seu ódio com jeito extraordinário. Treme o povo judeu que sem Pátria erra E vai vivendo o seu letal Calvário. Em câmaras de gás a angústia berra E é inglória a luta contra atroz fadário. Um prisioneiro foge... e em baba de ódio Acontece fantástico episódio Impossível narrar ou dar-lhe nome. Com outros inocentes, condenado Num porão Padre Kolbe é sepultado Até que lhe dizime a sede e a fome. 09.05.2008
O Amor
O amor! como exaltá-lo não me atrevo! É impossível, bem sei, tal tentativa. Porquanto mais de vida que ainda eu viva, Não saberei louvá-lo como devo. Em seu louvor mil versos eis que escrevo, E Dele tenho mesmo a alma cativa. Sua seta, porém, meu peito criva, E passo a discorrer-lhe com enlevo. Mas como descrever num simples verso Se o Amor em seu sentido figurado Move montanhas com furor profundo? Mas chega com seu jeito tão diverso, Que deixa o coração desesperado Num sentimento que é maior que o mundo! 05.06.2008
O Poeta frente a Deus
Eis o Poeta, nu em seu ofício Construindo versos ao sabor do vento. Ensaiando em dorido sacrifício Na cadência da valsa, um movimento. Ao seu sonho é demais o sacrifício, Que a vida desmorona em vão momento. E o verso, na cadência do exercício, Deve brilhar qual fosse um monumento! À sua glória tudo é passageiro, A Vida voa com velocidade, Tudo é finito, a Lei é a do Silêncio. Resta Deus em seu sonho aventureiro, E Deus mais que uma sombra é uma Verdade, Que nem a própria Eternidade vence-O! 30.07.2008
Meu nascimento
Mil novecentos e cinquenta e dois! Dezembro, dia três. Nas ramas de hera Tardia florescia a Primavera. Preludiando o Verão ardiam sois. Aves trinavam cantos em bemóis. De nove meses tinha fim a espera. Brilhavam astros pela estratosfera, Dois olhos acendiam seus faróis. Em casa minha Mãe, na vez terceira, Com cuidados atentos da parteira Paria sua cria predileta. E Ela, na dor aguda, lancinante, Tenho certeza que em nenhum instante Pensou dar luz à Vida a este Poeta. 31.07.2008
Sobre a Inspiração
Busco a rima, a palavra, o verso, o estilo, Na ânsia de honrar o título de Poeta. As ideias confusas eu destilo Para gerar uma obra mais discreta. O pensamento – caudaloso Nilo, Corre Vales buscando sua meta. Na Usina da memória não se aquieta, Sonhando a Perfeição – corre intranquilo. Por vezes, uma rude e atroz estiagem Forma praias desertas e esquecidas, E cuido estar ao término da viagem. Outras vezes, porém, em ansiedades, Como Phöenix renasce em novas vidas, E tudo vibra em densas tempestades. 31.07.2008
Genealogia
Como trazemos nós a semelhança De nossos pais, (ou isso é fantasia?) É natural que exista uma aliança De pensamentos, sim, nesta alquimia. Somos frutos genéticos da herança Que em outras mentes palpitou um dia. Por isso, às vezes, brilha uma lembrança Que nosso sonho, em medos, asfixia. Somos frutos dos frutos de outros frutos! Nossa presença física de agora É carne passageira tão-somente. E o Espírito na carga dos tributos Tem uma Eternidade a cada aurora, E traz, de nossos corpos, a semente. 01.08.2008
Um certo sentimento
No coração existe um sentimento Que às vezes, não sabemos definir. Chega de leve, no valsar do vento, Que a sensação, por certo, nos faz rir. Se não tomarmos conta no momento, Se oculta pelos meandros do porvir. Transforma-se depois num mandamento Que torna nosso lema de existir. E não sabemos nós quando ele chega, Trava-se a voz, a própria vista cega, Pernas tremem, faz frio, faz calor... Tão fácil é falar aqui seu nome, Mas vivê-lo... uma vida se consome, Que o sentimento tal, se chama – Amor! 29.08.2008
Instante de criação
Às vezes, n’alma brota um arrepio Que decifrar a sensação, quem há de? Parece que um vulcão, num vozerio, Quer espalhar a sua atrocidade. Ardores de calor, tremor de frio, Num céu azul flameja tempestade. Uma ânsia de buscar pelo vazio, Há um desespero e um misto de ansiedade. À frente a folha branca e a vista cega, Um abismo de fogo há nessa entrega, O pensamento alhures, vai disperso. Aos magotes as rimas vão surgindo, O desespero imenso vai sumindo E a mão vai decompondo cada verso! 29.08.2008
Influências
Já fui Castro Alves e também fui Dante, Fui Petrarca, Guilherme e fui Varela. Com Gonzaga cantei Marília bela, Junto a Camões, tornei-me um navegante. Igual a Guerra fui um protestante, Com Menotti fiz versos numa tela. De todos eles fui um sentinela, De cada verso fui um grande amante. Com Augusto cantei mágoas e dores, Com Bilac cantei doidos amores, Fui Raimundo, Bocage e fui Cesário. Disso tudo sobrou o meu caminho, Jamais por ele seguirei sozinho, Tendo a Poesia nesse itinerário! 31.08.2008
Soneto Enigmático
Ronca que ronca, berra quanto berra, Santa mediocridade da cretina. Gérmen do asco provoca sua guerra, Lambe sabão e cheira a creolina. Ridícula entre tantos ela emperra, Zomba tal bruxa, e cobra, sibilina, Lobregamente atira sobre a terra Caretices e gritos de suína. Move-se como as múmias ambulantes, Leva e traz, solta, gritos arrogantes, Sei não como essa bruxa sanguinária Caminha e cruza a vida deste Artista, Deve a energúmena baixar a crista, Lavando-se com água sanitária. 09.09.2008
Loucura
Numa loucura insana o pensamento Tenta prender a ideia que flameja, A qual vive valsando pelo vento Sob acordes da viola sertaneja. Na loucura feroz de tal momento, A idéia é uma semente que viceja, E como a borboleta que espaneja O pó das suas asas pelo vento. Tão fácil agarrá-la, doido, penso... Tal desejo, porém, é duro e imenso, Que não vale a vontade ao que se quer. Que a Inspiração, embora a gente a veja, Somente chega quando ela deseja, Pois sendo feminina – ela é Mulher! 15.09.2008
Ritual diário
Todos os dias, num ritual sagrado, Tento condicionar o pensamento: Lanço meus olhos para o Firmamento Para tentar prender um sonho alado. Sonho tal vive em danças pelo vento, Bem parece um leão a ser domado. E ao desejo feroz de tê-lo ao lado, Sangro a idéia num rápido momento. E al ânsia se forma atroz e brusca! Qual pedra lapidada de um diamante, Que, aos reflexos do sol, o olhar ofusca. E é sobrenatural essa jornada! O pensamento torna-se distante, E a inspiração se faz tocha apagada. 15.09.2008
Momento de Inspiração
A Inspiração que brota em nossa mente, Transforma em realidade o que é miragem; E através das Palavras, uma viagem Fazemos na loucura do repente. De forma tal, inesperadamente Que surge o Verso com cadência e imagem. As métricas e as rimas vibram e agem Dando forma ao que ainda é só semente. É única a sensação de tal momento! Se não colhermos esse tal instante, E ele se vai na dança atroz do vento. E não volta jamais, a ser o que era; E se torna esquecido, e segue errante, – Flor já morta de finda Primavera. 15.09.2008
Patético arrepio
As palavras sopradas pelo vento Vagam soltas em doido rodopio. E muitas vezes, cheias de tormento, Chegam n’alma em patético arrepio. Envolvido em arroubo e movimento, Mudam sentidos, causam calafrio. Por vezes, na mudança de um acento, O que era cheio faz ficar vazio. Por isso quando escritas e fixadas, Podem ser lidas, ser interpretadas, Assim ajo no Ofício da Poesia. Em cada verso deixo uma mensagem Que a Verdade jamais será miragem Nos versos que compus dia após dia. 16.09.2008
Sobre os sonhos
Sonhos são sonhos, sonhos simplesmente, Que acalentamos nessa nossa vida. Jamais devem deixar de ser semente, Nem brilhar numa estrada colorida. Que o sonho em nossa mente nos convida A perseguimos, continuadamente, O desejo e a ambição a toda brida, Para o amanhã chegar em glória ardente. Se realizado, o sonho nos transmuda, Não precisamos mais pedir ajuda E nossas ambições perdem os freios. Que os ideais surjam sempre às nossas vistas, Pois viver sem desejos e conquistas, Nossos dias se tornam maus e feios. 16.09.2008
Doces frutos
Retiro de meu verso a rima pobre Afim que a estrofe toda fique rica. Como a água escorra pura junto à bica, E tenha uma aparência fina e nobre. Que jamais o zircão, que mancha o cobre Venha tirar-lhe a glória tão pudica. Se a rima pobre no meu verso fica, De angústia e de pudor ela se cobre. Assim pensando nos canteiros fartos, Busco a rima mais justa e mais perfeita Para que meus poemas sejam hartos. Porque se a semeadura for bem feita, Meus sonhos florirão em dóceis partos, E terei doces frutos na colheita. 17.09.2008
Bobagem caseira
Ela chega. Seu jeito é calmo e manso, Passa as mãos com carícias em meu rosto, Aos seus carinhos fico todo exposto, Todo o corpo espreguiço num descanso. Arfo as narinas, sinto um leve gosto De seu perfume. Os olhos abro e lanço Espreitá-la de vez. Olhares tranço Por toda a sala para ver-lhe o posto. O corpo treme, há sensações de frio. Delírio. Falta de ar. Leve dormência. Mal estar esquisito, calafrio. – Querido, vamos logo para a cama. (É a Ana Maria.) Assim ela me chama: É normal na gripe essa sonolência. 19.09.2008
Enigmas
Faço às vezes, meus versos ao acaso E sem querer de coisas chulas, falo. Lugubramente nesse sonho embalo Invenções de lirismo e pouco caso. Secretamente no meu sonho vazo Banalidades vindas num estalo. Idiotices sem fim, sem intervalo, Numa parvoíce onde verdades caso. O que falar assim neste soneto? Vou pensar mais um pouco... um corvo preto Estacionou grasnando em meu juízo... Agora devo por um fim a tudo. Depressa me calar e ficar mudo: O acróstico já vale o meu sorriso. 23.09.2008
Cotidiano
A vida se repete diariamente Dentro de seu refrão imaginário. Os dias são patéticos e a mente Atola-se à ilusão desse calvário. Que futuro maior é necessário Para quem tem o coração doente? Qual sonho poder ter lindo canário Se uma gaiola envolve-o tenazmente? Caminhamos à beira do perigo. E jamais encontramos nessa estrada Alguém que às nossas dores seja amigo. É longa e fútil essa caminhada! E o ideal, que, em vão, tanto persigo, A muita gente sei, não vale nada. 23.09.2008
Pelos instintos
Fervilha a mente, estalam-se as ideias, A inspiração transborda mil sentidos. Pomposo, o verso estruge em epopeias Vibrando cintilantes, coloridos. Como as abelhas tecem as colmeias, Os versos chegam cheios de alaridos. Unidos, lembram lindas centopeias Andando em marcha nos jardins floridos. Cega, porém, a sentimentos tantos, A inspiração engendra labirintos E se oculta em cavernas, becos, cantos. E a página de luz lembra uma taça, Mas contrariando todos os instintos, A poesia é comida pela traça. 26.09.2008
De peito aberto
A Poesia contém mistérios tantos Que a decifrá-los é uma luta imensa; É um abismo de tétricos espantos Que labirintos mil ela condensa. Às vezes, são exóticos seus cantos, Mostrando as faces de maneira densa. Às vezes têm magias, traz encantos, Delírios suaves, colorida crença. O Poeta nem sempre escuta atento O que escreveu na inspiração sentida Que lhe soprou os céus na voz do vento. Eu, porém, de maneira colorida, Procuro expor em cada pensamento, Dentro dos versos, minha própria vida. 26.09.2008
Flor e Poesia
Dentro da alma a Poesia às vezes brota Tal como por acaso, uma semente, Pelo vento, levada até uma grota, Desabrochando quase de repente. Despercebida nasce e ninguém nota Enquanto broto frágil, quase doente, Que ela, se vendo perto da derrota, Vence intempéries sob um sol ardente. Um dia, forte e firme, e ela floresce! E em seus encantos mil ela oferece Um misto de perfumes recendentes. E ao ir a primavera dessa vida, Como a Poesia, a Flor, descolorida, Passa a lançar ao céu, novas sementes. 26.09.2008
Arte e mistério
Fazer Poesia é misto de mistério Que o Poeta dentro da alma, ás vezes sente. É um delírio constante e persistente Que, pensam muitos, ser um caso sério. O ser Poeta requer senso e critério Para não ser taxado de demente. O Poeta é o ser humano que mais sente Quando seu sonho vê no cemitério. Poesia é luz, é sonho, é brilho, é glória, É apogeu delirante da vitória, Que se consegue após milhões de passos. E a se viver tanto caminho incerto, O Poeta põe seus olhos no deserto E se afoga no mar de seus fracassos. 26.09.2008
Pedras atiradas
De tantas pedras que atiram-me Hei de fazer um altar! (Tobias Barreto) As pedras atiradas já são tantas Que hei de construir com elas, um castelo! Dentro dele porei um sonho belo, E o cobrirei com pedregosas mantas. De injúrias escapar é doido anelo, Que dissabores prendem minhas plantas. Quantas angústias, quantas mágoas, quantas Noites e dias, e este pesadelo. Quieto e calado, já não sou o mesmo. Sem ânimo caminho à toa, a esmo, Esperando passar a tempestade. Mais quatro anos de imenso sofrimento, A aflição me cortando como o vento, E sequer mais eu creio na Verdade. 03.01.2009
Busca
Procura a rima, a métrica, a cesura, E em cada verso, a musicalidade. E das palavras faz a semeadura Para em glória buscar a Eternidade. A Inspiração é impávida ventura, E a estrofe vai compondo em ansiedade. Doba o Sonho, e a Esperança fica pura, E o poema brilha a espiritualidade. Cada palavra é um sonho que flameja E a mensagem no verso heróico brilha Qual rutilante sol que tudo inunda. E o Poeta em glória sua Musa beija, Mas seu mundo é somente insípida ilha, Onde a esperança geme moribunda. 17.02.2009
Evolução
Se na sublime evolução da Vida Os fortes sobrepujam os mais fracos, Nós somos hoje um sonho de partida E para a perfeição – apenas tacos. Ao longo da existência já vivida Fomos formados por pequenos cacos. Os ossos de uma estampa colorida, Mostra o muito que temos dos macacos. Amanhã por ventura aqui na Terra Outra raça mais forte há de viver Sabendo contornar trilhas e atalhos. Mas que ela saiba dissipar a guerra, Ou por certo ela irá retroceder, E voltará a dar saltos entre galhos. 18.02.2009
A Arte do Soneto
Na Poesia o Soneto é uma cadeia, 14 grades tem essa prisão! E quando a inspiração a alma incendeia, Busca-se a Liberdade de expressão. Mas o Poeta na cadência freia As borbulhantes bolhas do vulcão, Na métrica a medida escanhoteia, Na rima busca o brilho da paixão. E o verso vai compondo em sua sanha, Feliz, ele se molda à sua cela, Que tem 14 passos de extensão. Mas parece maior que uma montanha! Cada verso é infinita passarela, Onde reside o Deus da Perfeição! 20.02.2009
Máscaras
Costuro minhas máscaras... costuro Junto ao rosto essas máscaras, e devo Aparar cada aresta de relevo Para ao mundo mostrar que sou um puro. O meu olhar, porém, se torna escuro E a multidão olhar, já não me atrevo. Por isso, no silêncio, absorto escrevo E a falsidade desta vida aturo. Todos nós temos máscaras no rosto! E nos mostramos preferencialmente Aquilo que de nós, fazemos gosto. Ah, bom seria de maneira clara, Que todos, de maneira pura e rara, As máscaras deixassem de repente. 04.03.2009
Soneto filial
Ai, que saudade de seu colo, pai, Aquele colo amigo, aquele colo Forte e sincero... eu hoje me consolo De tais lembranças, soluçando um ai. Essa lembrança em minha vida vai E o coração em lágrimas – atolo... Com lágrimas de dor marco no solo Um tempo azul que de meus olhos cai. Pai, foi-se o tempo lírico de outrora, O crepúsculo faz distante a aurora, Vibra a saudade seu amargo canto... E de saudade a vida vou levando, Em sonhos recordando, recordando O colo de meu Pai em denso pranto. 05.03.2009
Pequeno Soneto
Às vezes, com redondilhas Em meus versos me interpreto. E desarmo as armadilhas Do alexandrino correto. Teço quadras com afeto E sigo mesmo outras trilhas. Pois o mundo está repleto De outras tantas maravilhas. Sete sílabas somente: A ideia presa se ajeita Como espremida semente. Trabalho penoso e bruto, Porém, na hora da colheita Sempre se colhe um bom fruto. 11.03.2009
Os meus sonetos
Os meus Sonetos... quando eu os componho, Além da Inspiração, tomo cuidado: – Um verso só pode sair errado Ou pesadelo torna o que era sonho. Na métrica e na rima sempre ponho Um cuidado especial e redobrado. Se além disso estiver com pé-quebrado, No instante o lindo torna-se medonho. Portanto em cada quadra a rima ajeito; Tudo deve sair justo e perfeito Na mesma fonte de Parnaso pura Onde Camões, Petrarca e outros mais tantos, Inspirados teceram os seus cantos, No País inspirado da Ventura. 11.03.2009
Soneto do pecado
Os pecados são feitos em silêncio Dentro do pensamento, na clausura. – O ato de cometê-los depois disso É apenas a explosão do já traçado. Não são tiros que fazem o pecado. Não são facadas extirpando membros, Dilacerando rubros corações, Ou vomitando vísceras vermelhas. O pecado consiste-se em pensar, Porém muitos pecados praticados São espasmos de ataques e defesas. Eu, pecador confesso, me redimo: Tenho pecado mais por pensamento, Muito menos por atos e omissões. 19.03.2009
Palácio encantado
Velho Palácio Encantado Da rua Governador! Estás em tão triste estado, Que ocultas o teu valor. No ostracismo estás largado Causando tristeza e dor, Vai perdido no passado O seu glorioso fulgor. Escuro, tétrico, frio, Abandonado e vazio, Medonho é te ver assim. O teu passado é uma história, É relicário é uma glória Que marcou seu triste fim. 20.03.2009
Atrás das esperanças
Atrás das esperanças, tolos, vamos, Na mais insana e colossal corrida. Nos ferem dos caminhos rudes ramos, Perdemos neste sonho a própria vida. As esperanças fulgem em recamos, Parecendo uma estrela colorida. Mas nessa busca apenas encontramos A ilusão que nos deixa a alma ferida. Os nossos passos fortes vão adiante, O sonho doido torna-se constante, Pensamos ser um marinheiro audaz, Mas ao final de tanta insana busca, Por traz dos olhos uma luz chamusca: – À frente vemos a esperança atrás. 20.03.2009
Em nome da Poesia
Em nome da Poesia eu te ofereço Estes versos que fiz com muito amor. Compostos com carinhos, com apreço, Mas, talvez, desprovidos de valor. Elogios bem sei que não mereço, Portanto não os faça de favor. Estes versos escritos não tem preço, São simples, e por certo não tem cor. Porém, foram escritos com carinhos, Colhidos nos barrancos dos caminhos, Da longa estrada que não sei o fim. São poemas vazios de esperança, Mas trazem os meus sonhos de criança, E o trinado de um bom papa-capim. 31.03.2009
Dose homeopática
Um pouco de Poesia e o coração Se fortalece para o dia a dia. A labuta transmuda-se em canção, Serenidade traz para a porfia. Um pouco de Poesia em oração E a amargura se molda em melodia. Surge o sorriso com satisfação, Chegam ao fim as horas de agonia. Um pouco de Poesia nos traz calma, Tranquilidade para decidir Alento, alívio e encantos mil à alma. Um pouco de Poesia em nossa vida Torna mais leve o fardo do porvir, E a estrada pedregosa mais florida. 01.04.2009
Reencontro
Às vezes n’alma sinto a sensação Que a vida de Poeta nada vale. O olhar disperso fica olhando o vale E imagino vazio, o coração. É imponderabilíssima a emoção! Ouço uma voz que pede que me cale! E antes que o desespero em mim se instale, Busco encontrar-me com a solidão. Depois nós dois, bem juntos, num recanto, Em silêncio mortal, nós dois, a sós, E busco soletrar um novo canto. E essa alucinação se faz feroz: Vejo brilhar no céu um novo encanto, E volto a ouvir a minha própria voz. 14.04.2009
Passos perdidos
Os passos vão perdidos pela estrada Buscando um sonho azul, doida quimera. O Outono vai cobrindo a Primavera, Já vem chegando a fria madrugada. Não mais a tarde quente, ensolarada, A cada passo uma letal pantera Esfomeada, na espreita, e além me espera E pressinto o final dessa jornada. Passos perdidos vão além, contudo Vejo agora a Beleza, agarro a Força, E fito as luzes da Sabedoria. Agora um passo certo, o Templo! E tudo Para esse Oriente Eterno em mim se esforça Pois para nova Vida, basta um dia. 16.04.2009
Inverno
O Inverno se aproxima. Pelo chão As folhas rolam ao sabor do vento. O céu tinge-se a cinza de carvão, Minh’alma olha o incessante movimento. À hora do almoço muda-se a Estação! Um sol festivo brilha, há esquentamento, Mas chega a tarde em fria procissão, E a névoa cobre todo o Firmamento. Vagam passos; nas ruas vagam passos... A sensação é estranha, há um sonho absurdo, Há uma ânsia de galgar amplos espaços... Mas a Verdade é fria, fria, fria... Para a Esperança o ouvido fica surdo. Silêncio. Solidão. Melancolia. 24.04.2009
Em meu silêncio
Contra mim vale até gol impedido! Não tenho uma só chance de defesa! O árbitro nunca escuta o meu pedido Sou julgado em palavras sobre a mesa. Quem me defende não se faz ouvido, Meu futuro é marcado de incerteza. Meu pedido de paz é indeferido, Sou jogado de encontro à correnteza. Condenado ao degredo e ao ostracismo Qualquer idiota lança a sua lavra De atirar-me no vácuo contra o abismo. Sou pássaro calado no meu canto. Em meu silêncio fecho-me à palavra, E vejo tudo com espasmo e espanto. 05.06.2009
Lágrimas
Dos olhos desce a lágrima furtiva Que sulca a face igual rio prateado. Seria alguma dor n’alma cativa Ou seria um momento relembrado? A lágrima tem alma: pulsa e é viva. Carrega turbilhões em seu estado. Lateja, como força radioativa, Ou carrega um sorriso disfarçado? A lágrima é a semente de um momento, As pétalas valsando vão ao vento Indo pousar além da Eternidade. Ah! Lágrima que escorre por meu rosto! Por que me deixa assim à vida exposto E da minh’alma expõe tanta Saudade? 03.07.2009