LUZES DA AURORA

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LUZES DA AURORA 1978 VERSOS DE ESIO ANTONIO PEZZATO


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Brado

Poetas, lançai um grito Ao mundo inteiro... Lançai... Falai que vosso Infinito São os cimos do Sinai. Dizei que estais sempre atentos, Compreendeis os Mandamentos Que Deus mandou a Moisés... Contemplai todo o Universo, Fazei que a corda do verso Deixe o mundo aos vossos pés... Poetas, falai ao povo Que é preciso mais amor, Fazei sempre um verso novo Com o perfume de uma flor. Dizei ao vento – suspira! Para David – toma a Lira, Faz um canto para Orpheu! Não pareis no tempo e espaço, Ide andando passo a passo, No caminho para o Céu. Poetas, fazei que a vida Seja um poema de paz. Ide na estrada florida Onde o amor não se desfaz...


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Então, por vosso caminho, Ide a colher, com carinho, Flores... – fazei um bouquet; E ofertai à Caridade Dizendo:– Fraternidade! Pois o olhar do amor – vos vê! Poetas, eis a esperança Que existe nas vossas leis. Não carregueis na lembrança A imagem de falsos reis! Deixai que o céu azulado Vos trace no mundo um fado Como Castro Alves sonhou... Fazei das verdades – metas! Sonhai no mundo, poetas, Pois a paz vos encontrou!... 14.08.1974


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Identificação

Minha vida, formosa, é como o mar: Me espedaço nas pedras todo o instante, Porque meu pensamento de gigante, Simplesmente, convida-me a sonhar... Às vezes, quando o tímido luar Se debruça nas águas da vazante, Indômito, me arrojo e petulante, Me esconde enfim para poder chorar... Porque não sei... Com ímpetos de glória Eu me lanço buscando uma vitória Que a cada instante mais se distancia... E em desespero louco, aflito, eu clamo Que das vagas ressurja quem eu amo Para pôr fim a tanta nostalgia!... 20.07.1975


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Meu Quarto

Meu quarto é triste, é cheio de agonia, Nele eu suporto a dor da minha vida, Os dissabores desta dura lida, Na esperança de ter uma alegria... O meu quarto é silêncio, é nostalgia, E nele ainda eu guardo a estremecida Loucura da paixão desfalecida, Na quietude e na paz desta magia... Meu quarto é mudo... Eu guardo o meu segredo Sem medo que ele caia noutra boca, Que faria de mim, pobre brinquedo... Mas dentro d’alma, um sonho todo ledo, Explode e satisfaz por coisa pouca, Os meus anseios lívidos do medo! 01.06.1972


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Um momento

Foi de repente, quando o sol morria, E a lua perto de uma estrela errante Começava a surgir bela e triunfante, Te vi passar – radiante de alegria! – Saí correndo, louco, delirante, Meu coração cantava a melodia De um grande amor, de pura poesia, Que fazia de mim eterno amante! Um momento, onde foram os momentos Que eu fiquei a sorrir sobre a calçada Procurando este amor que foi com os ventos? Então chorei... naquele instante ainda Brotou em mim a imagem de uma fada A passar apressada, alegre e linda... 30.05.1972


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Solidão

Um mundo de ilusão levo comigo; Tu vês que perigosa caminhada! Tenho medo de andar por essa estrada, Onde não vejo braço algum de amigo. Já não posso contar com um abrigo Pois sigo só na lívida jornada... A minha cruz – deserta e abandonada – Carrego às costas! Deplorado sigo... Não vejo os meus irmãos – levo somente A esperança sombria de encontrar Um bardo a lastimar a dor que sente... Porém, meu pranto é carregado ao vento; A brisa dos meus lábios leva ao ar, Uma frase cortada de lamento! 01.08.1972


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Recordação

Foi de manhã, num mágico horizonte, O sol nascia límpido e brilhante... Ouvi da passarada um canto errante, Em livres revoadas pela fonte... Foi de manhã, atrás daquele monte, O sol brilhou – como uma vez distante – E eu me lembrei de minha terna amante, Quando na alcova olhávamos de fronte! Hoje eu guardo comigo uma esperança, O meu verso ficou em folha branca, Numa imagem da minha fantasia! O sol brilhou – clareou minha lembrança, E, a minha amiga e companheira franca, Voltava a ser a amante que eu queria! 28.08.1972


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Sonhando Neste momento, amor, neste momento Em que a treva deixou meu coração, Em que o silêncio é como um sacramento Que o envolveu numa plácida oração... E meu olhar fitando mais atento Este instante de louca exaltação, Gostaria de ter um sortimento De dias bem mais longos do que são... Nunca sinto o eu vulto tão presente, Como quando percebo que realmente És um sonho... És um fruto... Uma ilusão!... E muito mais feliz me sinto, quando Tenho a certeza de que estou sonhando – E o sonho me faz bem ao coração! 01.06.1972


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Descoberta

De tanto sonho e de alegria tanta, Descobri que a alegria de viver, É ter na vida um bem que o mal suplanta, É ter na alma um misto de prazer... É ouvir uma música que encanta, É ter na vida um próximo qualquer... É ter o coração que se acalanta Quando sente o perfume de mulher... É traduzir o pensamento em verso, É contemplar o mágico Universo, É amar a luz, o céu, o sol, o mar!... É uma palavra, presa ao sentimento, Que traduz alegria, no momento Que o nosso coração começa amar... 25.07.1973


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Canto de Amor Nos seios – treme amor! (Castro Alves)

Tu chegaste, trazendo uma poesia No coração; e n'alma a melodia Tão cheia de esplendor... Os teus lábios – queriam o meu beijo! Eu coração – vibrava de desejo! Os teus seios – de amor! Nasceu em nós o amor puro e indolente, Meu estro de paixão – num de repente – Inspirou-se por ti... Meu peito ardia como enorme pira, A minh’alma cantava a ardente Lira Na harpa de David! Foram momentos loucos, oh! Querida! Colhi no céu a Estrela Preferida, Na terra – um grão de paz... No ar – o mistério dos sublimes cantos, E na distância – os cálidos encantos Que tanto amor nos traz... Tudo é poema! Tudo é ardente festa; É amor, é paz, é a mais formosa orquestra Cantando a quem amor. Querida – o teu aroma lembra a brisa, Tens feição – da sublime Monaliza Que Da Vince ideou!


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És a mais bela, o mais suave ninho... Aves do cÊu baixam devagarzinho Pousando em eu olhar... E tudo o mais renova como os dias... Entrego-te as mais líricas poesias Que o estro faz criar! 21.05.1973


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Se eu de ti me esquecer... (sobre uma página de Bernardo Guimarães)

Se eu de ti me esquecer, quero que a noite Se faça eterna para o meu viver. Que eu siga como errante pela vida Se eu de ti me esquecer... Se eu de ti me esquecer, quero que morram Os meus anseios, todo o meu prazer... Que gemam moribundas as esp’ranças Se eu de ti me esquecer... Se eu de ti me esquecer, prefiro à morte Entregar os meus sonhos, meu viver. Quero partir junto com o esquecimento Se eu de ti me esquecer... A vida, a glória, a mocidade, os sonhos, Essas Estâncias eu não quero ter Um dia, mesmo após a minha morte, Se eu de ti me esquecer... Toda a felicidade juntos temos, Pois se és a paz, sem ti, eu vou sofrer. Então que eu tenha tanto sofrimento Se eu de ti me esquecer... A paz, o riso, os beijos dos teus lábios, Por toda a vida eu vou querer rever;


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Por isso eu quero a morte a cada instante Se eu de ti me esquecer... O nosso nome, eterno, está gravado Nas marcas do futuro e do prazer. Que eu não dê mais um passo nesta vida, Se eu de ti me esquecer...

10.11.1975


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À noite

Estou só, meu amor. A noite é úmida e fria, Sinto a falta cruel de tua mão macia Que outrora tanto fez em mim tanto carinho. Eras ave no céu – a minh’alma era o ninho – Era teu coração um mimo de veludo; Nosso amor parecia o mais soberbo escudo. Tudo vibrava em nós. A paz era constante... Sentíamos no peito o fulgurar de amantes Repletos de paixão... Hoje – triste ironia! – Estou só, meu amor. a noite é úmida e fria. Por que não voltas para o coração antigo Onde tinhas à noite, o mais suave abrigo? Tu não sentes, talvez, a falta dos meus beijos Que faziam nascer em ti loucos desejos? Ah! Meu amor, oh! Minha amada encantadora, A noite é úmida e fria e está tão longe a aurora. Volta, querida, volta ao peito que, chorando, Desde que tu partiste anda no mundo errando. Tu não sentes, amor, que sou o eu amigo? Por que não voltas para o coração antigo? Contigo fui feliz, mas hoje, estou só e triste, Uma angústia infinita em meu peito persiste E tu não vens, amor, Estrela da Esperança. Eu quero o teu amor que me leva à bonança, Que me deixa feliz e que me faz eterno; Pois sem o teu amor, minha vida é um inferno. Não sinto em mim a luz de uma nova alvorada,


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Não vejo o sol e nem amo a noite estrelada. Vivo na solidão, a saudade me insiste: Contigo fui feliz, mas hoje, estou só e triste.

Por que não vens, amor, há tanto que te espero, Te chamo, te procuro, és tu quem tanto quero; Mas por que tu não vens? Meu coração devasso Se arroja ao céu e grita o teu nome ao Espaço, Para o Éter infinito e se perde na noite... Não tenho o eu amor, perdido é o meu afoite, Meu peito vive só, vivo um fatal Calvário. Te encontrarei um dia ao longo itinerário? Minha voz está rouca, o meu viver austero, Por que não vens, amor, há tanto que te espero...

01.11.1975


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Vulto

Noite. Na solidão noturna do meu quarto, Penso em ti, meu amor. Penso na angústia deste enfastioso parto Que deixou-me na dor. Um desespero aflito envolve então minh’alma Que se volta ao porvir. Penso que tu partiste e me levaste a calma E não sei mais sorrir.. E tudo o que era teu ainda tenho guardado Dentro do coração; Revivo com saudade um amor já finado, – Uma doce ilusão. De nada mais importa o teu sorriso santo... Ele já não me apraz. Embora eu veja a tua imagem em cada canto, Não mais eu tenho paz. 04.05.1976


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Distância Na minha vida, sempre estás presente, E em tua vida, sempre, ausente estou. Seguimos um caminho diferente, E lembrando os teus beijos, triste vou. Tu me deixaste o coração doente... O que contigo fui, hoje não sou. Sou simples sombra pelo chão silente, Um verso triste que o luar matou. Basta apenas te ver... e com encanto Meu coração que está sempre calado Explode de alegria em novo canto. Tu não queres voltar, amor, não queres? Eu te darei um mundo enamorado, Far-te-ei a mais feliz entre as mulheres. 03.02.1975


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Estações

Quando meu peito, esborrifando amores, Gemia e rodopiava entre esplendores, Eu me esquecia da fatal quimera; A Dor – a companheira sonolenta, Macabra, triste, errante, pestilenta – Pois eu vivia em plena Primavera! Mas então tu chegaste, anjo querido, E no meu coração entristecido Puseste o amor soberbo de paixão. Cantei, cantaste e em férvidos abraços Vi meu peito cair entre os teus braços Ardentes como os dias de Verão! Mas um dia partiste... e a mim disseste: –“Eu voltarei, descansa!...” Anjo celeste, Tu me deixaste em pálido abandono. Te esperei, te esperei e não voltaste; Minha esperança em flor, caiu da haste, E em mim chegou a cor roxa do Outono! Hoje, nada mais resta ao pobre amante Que te fez verso puro, delirante, Pois, hoje, em plena vida, sente o Inferno. Ai, nada mais espero desta vida, Toda a minha esperança está perdida, E eu sinto em mim a rigidez no Inverno! 20.09.1975


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Dia de chuva

Lá fora a chuva cai tranqüilamente E aqui no quarto um livro antigo leio, Que fala de um amor sincero, ardente, Vibrante em cada instante, em cada anseio. Penso um final feliz, um beijo quente, Lábios unidos, seio contra seio... Mas no epílogo eu vejo – oh! dor pungente – Que entre este amor surgiu um devaneio. Assim também, um dia, no meu peito Tive um amor repleto de mil beijos Que me deixava alegre e satisfeito. – Lá fora lentamente cai a chuva. Que importa o peito cheio de desejos Se de amor a Mena’alma está viúva? 05.01.1977


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Nós

Guardo no peito, uma saudade terna Daquele imenso amor que nos uniu... A tua voz tão meiga, tão materna: Sumiu... Tudo é tristeza! Aquele amor tão doce Um minuto sequer então durou... Esse amor que pensei que puro fosse: Voou... Restou somente a pálida saudade Daquele tempo em que senti-me rei. Ao me lembrar dessa felicidade: Chorei... Ficou somente a lágrima silente No coração que amor ofereceu. Mas quem ficou na lágrima demente: Fui Eu...

29.10.1972


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Hoje, me sino só. Terrivelmente só! Sem pátria, sem amor, vagando como Job Em uma perspectiva errante, macilenta. A tarde – com de sangue – esmaece sonolenta, E a noite vem chegando imperturbavelmente Como um fantoche negro a delirar demente. Hoje me sinto só. A agonia em furor Com violência matou o que ficou do amor... Pecado sem perdão... um assassino oculto! Quem és tu? Quem és tu? Personagem sem vulto, Árvore sem raiz, Universo sem astros, És tu que vais seguindo os derradeiros rastros Da hipocondríaca dor? Oh! fantasma do Além, Da festa da ambição tu és lixo, porém Tens uma Dinastia imensamente forte, Que vencê-la não pode a derradeira morte. Hoje, me sinto só, sem amor, sem carinho, Sigo na morbidez o meu fatal caminho – Procurando o esplendor das tardes tropicais, Procurando o esplendor dos beijos sensuais. Medo, pranto, palor, sem flor a primavera, Coração sem amor, primícias de quimera! Furibundos vulcões! Esperança aos pedaços! Com lágrimas o olhar, derrotas e fracassos!... Eis tudo o que me resta, eis tudo o que ficou De quem nasceu para cantar... mas só chorou!... 23.03.1976


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Martírio Não há razão para viver sorrindo, Pois dentro d’alma o coração só chora. Embora eu ache o mundo sempre lindo, No peito uma saudade sempre aflora! Um amor para mim sempre é bem-vindo, Embora eu ache triste a sua aurora. Uma estrela no céu já vai sumindo, E o gérmen do morrer em mim vigora! A luz do alampadário é opaca e triste... Meu Deus, para mim nada mais existe A não ser esta angústia sem remédio... Sinto que vou morrer neste Calvário; Por ele subo – Cristo solitário! – Colhendo as horas deste longo tédio!

12.10.1972


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Retorno

Voltaste, Amiga, para o ninho antigo, Onde tiveste o mais sublime amor! A minh’alma voltou a ser abrigo, Para abrigar a mais singela flor! Tu percebeste então, que sou o amigo Ideal para matar a tua dor... – Compreendeste que nesta vida eu sigo Para cantar o mundo multicor! Tudo ficou agora mais coerente: Quando tu foste embora eu fiquei triste; E, desde que voltaste, estou contente!... Voltaste! E viste um mundo com mais cores: – O pranto que chorei quando partiste, Regou a terra e fez nascer mil flores...

30.10.1973


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Manhã

A aurora vem trazendo um novo dia Cheio de angústia, cheio de tortura. Vejo o meu corpo em negra sepultura E dentro do meu peito uma agonia. Meu astro tutelar já não fulgura E um pávido desejo me crucia. Ouço, bem longe, a triste melodia Das aves matinais em amargura... Ando como sonâmbulo... pressinto Que para o amor, meu peito está gelado... – O amor é para mim, vulcão extinto! Caminho pela rua em nostalgia... Nada adianta pedir o amor passado, Que a aurora vem trazendo um novo dia!...

03.12.1972


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Tristeza

A aurora veio e trouxe o sol brilhante E fez desabrochar milhões de flores! E tu, saíste então sobre fulgores, Para ficares a mais linda amante! Teus olhares de amor, multicolores, Deixavam-me com a vista coruscante... Tu foste enfim a fada delirante Na minha vida cheia de esplendores. Amei-te muito, enfim, também me amaste... O nosso coração apaixonado Para uma flor pendida n’haste... A flor murchou, caiu do verde galho... E hoje, revendo o ramo abandonado, Vejo rolarem lágrimas de orvalho.

12.10.1972


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Pantum Ao vir da noite apaixonada e leda Eu ficarei á tua espera, amada, E descerei contente na alameda Para beijar as tuas mãos de fada. Eu ficarei à tua espera, amada, Desfiando um rosário de poesia Para beijar as tuas mãos de fada E beijar tua face tão macia. Desfiando um rosário de poesia Passarei horas, horas e mais horas... E beijar tua face tão macia Fará esquecer-me as noites e as auroras. Passarei horas, horas e mais horas, Somente a olhar o teu divino rosto. Fará esquecer-me as noites e as auroras O traço de teu rosto tão composto. Somente a olhar o teu divino rosto Mais que mulher – eu julgo-te uma santa. Aos traços de teu rosto tão composto, Faço-te esta canção que até me espanta. Mais que mulher – eu julgo-te uma santa Vendo o teu corpo de macia seda. Faço-te esta canção que até me espanta Ao vir da noite apaixonada e leda. 20.07.1976


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Violeiro da Noite

Meia-noite. O vento lúgubre Arrasta as folhas do chão. Estou sozinho, estou pálido, – Morto está meu coração. Estou cansando da vida, Estou cansado de tudo, Minha idéia está vencida, O meu poema está mudo. E a minha dama querida, Onde está meu coração? – Choro, choro, na viola, Mil momentos de ilusão... Tudo está calado, lívido, Tudo está soturno e vão. Os meus lábios estão cálidos Por um beijo de paixão. Porém, a noite está triste, Está triste o mundo inteiro. A minha agonia existe Desde o meu dia primeiro. E a minha dama querida, Onde está meu coração? – Choro, choro, na viola, Mil momentos de ilusão.


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As minhas mãos estão flácidas, Minha vida sem razão. Sou como uma sombra efêmera Sem carinho, sem paixão. Ai, o meu viver florido, Minha essência, minha glória, Sou um pássaro vencido Que perdeu a trajetória... E a minha dama querida, Onde está meu coração? – Choro, choro, na viola, Mil momentos de ilusão...

23.07.1975


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Resíduo

Ah! Por que tudo não voltas Para a minha vida? – Tu jamais deverias ter partido. Blasfemo... em ilícitas revoltas Eu peço O eu regresso; Mas tu partiste, anjo querido, E morto me deixaste Como flor pendida n’haste... – Sou a nítida imagem do fracasso! Já não sei sorrir, Amar, cantar... Falta-me o apoio do teu braço Para eu poder caminhar para o porvir. Tudo está triste Desde o instante cruel em que partiste. Tudo o que sonhei de felicidade Hoje, é mera saudade E nada mais existe.. 18.08.1975


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Repuls達o

Sabemos muito bem Que precisamos andar De m達os dadas Pela estrada da vida... Sabemos muito bem Que muitos gostariam De estar Em nosso lugar... Sabemos muito bem Que na cidade Comentam Nossa felicidade... Sabemos de tudo isto Mas insistimos Em ficar Separados... 20.08.1975


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Canção de Amor

Minha saudade te busca; Serão amores? – Talvez. Ai, o eu olhar me ofusca... Oh! Senhora, os meus anseios São soberbos devaneios Que nunca os senti. Tu crês? Do meu viver – és a santa, A santa que quero bem. O teu sorriso me encanta... Se, ouço tua voz – me calo – Somente se o pedes – falo – E tremo como ninguém. Ai, minha formosa estrela, Te quero cheio de amor. És meiga, pura, singela, És a fada do meu mundo. Dou-te o meu amor profundo, Não me dês somente dor. Te quero na minha vida... Te quero como se quer: A noite – a estrela perdida... O dia – a loura alvorada... Ai, tanto te quero, amada, Te quero tanto, mulher!


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Não pode haver neste mundo Amor que supere o meu: Até mesmo moribundo O teu nome digo às aves, Para que em cantos suaves, Cantem teu nome no céu! Ah! Minha estrela raiante, Oh! doce e singela flor; Vamos ser no mundo – amantes – A sentir grande alegria Na explosão de um novo dia, Na explosão de um novo amor! 28.10.1975


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Alívio

Hoje, sinto bater o meu peito Descompassadamente... Saio; a noite é calma. Meu pensamento Satisfeito Canta! Apressadamente Percorro ruas e avenidas, Cruzo praças, Passo em sinais vermelho, corro... A pressa me apressa! Jogo os meus olhos à frente, Fim de viagem. Alívio Vejo a tua imagem Penetrar em meu corpo Mansamente... Contente, te abraço, meus braços Te apertam Com furor, Te despertam Para o amor... 14.11.1975


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Milagre

Ah! Se possível fosse O milagre de te olhar nos olhos E te falar dos meus desejos Dos meus mistérios, do meu amor... Não!... Na verdade não quero isso: Para que tornar real este sonho Se, inevitavelmente. Um dia haverá o adeus? 18.08.1973


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Ontem...Hoje...

Mais uma vez é noite e eu, estou só! Tudo é triste e eu, era tão feliz... Hoje, nada em razão de ser. Meu amor, onde estás? Por que tu me deixaste? Ontem, eu não queria saber de hoje, Mas hoje, tento ser o que fui ontem... Ontem, eu era feliz, esperava com ânsia o nosso encontro, Hoje, sou triste, choro, espero um amanhã incerto. Ontem, eu esperava que chegasse hoje, E hoje, choro à espera do amanhã. Ontem, eu sonhava os nossos sonhos de amor; Hoje, um pesadelo constante invade a minh’alma em dor. Ontem, relia as tuas cartas perfumadas de paixão, Hoje, a carta de separação. Ontem, eu vivia, Hoje, eu já nem sei o que é vida. Ontem, eu cantava as horas que fariam o nosso encontro, Hoje, choro o lamento das horas Que fariam um encontro que não mais existirá. Ontem... Hoje... confundo-me na dor. Adeus... Espero um amanhã que logo será hoje, Para que o hoje seja passado. Adeus, ontem... hoje... Os meus sonhos de amor, tão tristes e solitários, Não querem mais viver. Adeus!... 20.02.1973


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Mimos

Agora é a hora de na crença imensa, Falar-te com arte do meu grande amor. Que é um santo encanto e com desvelo e zelo Te fala e exala a essência de uma flor. Formosa rosa, não espero, quero Vibrante, amante, ter os lábios teus. Desejo um beijo com carinho e um ninho Singelo e belo te farei... por Deus! Amanda, nada neste mundo imundo Existe triste p’ra te ver chorar. Querida, a vida não te inspira à lira: Preciso é o riso p’ra saber cantar. Mas olha:– esfolha da agonia fria Dores de amores para não sofrer. Risonha sonha em tua glória, a história Perfeita e feita para um bem viver. 15.07.1976


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A Gustavo Teixeira Foste grande, Gustavo! E na tua grandeza Soubeste conservar a divina humildade. Cantaste o amor, a paz, a terna Natureza, Como ninguém jamais cantou na humanidade. Amaste as rosas como amamos nossa vida Dando-lhes alma, cor e essências do Oriente. E embora não seguindo uma estrada florida, Aos outros ensinaste o caminho esplendente. Lendo o teu “Evangelho” eu sinto em cada lira O fulgurar dos sóis de inspiração tamanha, Que fazem fecundar o fogo em cada pira, E Cristo declamar o Sermão da Montanha! Foste grande, Gustavo! A inspiração sagrada Os teus passos guiou de uma forma tão pura, Que os teus poemas mais parecem a Alvorada, E brilham mais que o sol que, esplêndido, fulgura. Quem como tu cantou o amor santo e profundo, Hoje por certo está nos páramos da Glória. – Teu amor foi capaz de fecundar o mundo, E idolatrando o mundo, entraste para a História! E teu povo hoje canta, em fulvos esplendores, Com festas e oblações divinas e maviosas, O teu dia, pois sendo enfim cantor das flores, Foste cognominado:– O POETA DAS ROSAS!” 23.09.1976


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Retrato falado Retrato no. 1 Fernando Com teu jeitinho travesso, Viras a casa ao avesso E todo o mundo sorri... Mas pudera, as tuas artes Fazem que os porta-estandartes Percam de longe p’ra ti. És exímio trapezista! Talvez um glorioso artista Consigas ser no porvir... Sobes por cima da mesa Só porque tens a certeza Que todos vão te acudir... E tua mãe se desdobra, Pois carinhos têm de sobra, E não te deixa, afinal, Ficar a sós um instante, Pois tuas artes de Infante Deixa a casa um festival!... Porém, te queremos tanto Porque traduzes o canto Da paz, do riso e do amor. E se te vemos sorrindo, O mundo fica mais lindo Ao ver sorrir uma flor! 27.08.1976


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Retrato no. 2 Ana Lúcia Tens um rostinho tão lindo Que nunca sei decifrar: Se tu estás sempre rindo Ou se estás sempre a cantar... Tens o corpo de pelúcia, Um riso tão infantil. És a pequena Ana Lúcia Que tem a graça de Abril!... 05.07.1975


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Retrato no. 3 Thaís Quisera ser o Poeta Que soubesse definir Neste momento de festa, A f’licidade completa Que dentro d’alma em orquestra Teima tanto em exibir... Na sua alegria imensa Faz vibrar o coração, Que soluça nunca crença Os mais férvidos amores... Cantando os versos em flores Eu faço minha canção: “Minha Filha, sê bem-vinda, Oh! Filha do meu amor... Pensei que serias linda, Não pensei que fosses flor... “Minha adorada menina, Oh! fruto de um grande amor, Tu assim, tão pequenina, Não te igualas a uma flor! “Porque a flor quando nasce É linda e cheia de amor, Mas vejo que a tua face É mais linda que uma flor.


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“Agora findo o meu canto, Oh! Filha do meu amor, Vendo em ti um novo encanto Pois bem sei que és mais que flor!” Quero, enfim neste momento, Que me sinto tão feliz, Abraçar o Firmamento E dizer cheio de amores: “És a rainha das flores, És minha filha THAÍS!” 02.02.1977


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Recordações

O passado atiçou as chamas apagadas Daquele amor que um dia, a min1alma queimou, E tolo, recordei as noites mal passadas Em que o meu coração, por ti, se apaixonou. Mas hoje eu te revi. Tuas faces rosadas Tinham a mesma luz que tanto me empolgou. Mas com tristeza eu vi que estamos em estradas Diferentes da qual meu sonho acalentou. Aos nossos corações, o tempo pôs distância, Matou aquele amor repleto de fragrância E que me fez sonhar até na realidade. Sou de outra, és de outro e em mim fica a triste lembrança: Do amor que nem chegou a passar de esperança, Do beijo que não tive e ficou na saudade... 13.09.1976


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Poema Noturno É noite. No meu quarto, a lâmpada sombria Parece adivinhar toda a imensa agonia Que enche meu coração entre soberbos ais... – Recordo o teu amor que não terei jamais! Eu aqui, sempre só. Numa cruel tortura Macabramente reabro a minha sepultura. (– O amor que tive foi um sonho puro e doce, Mas como uma ilusão, ele também findou-se!) Oh! tempos triunfais, oh! tempos de áureo encanto... Se eu vos recordo, o meu olhar se enche de pranto, E penso na ilusão que há tempos se findou, Como uma folha morta que, no chão, rolou!... Felicidade, um dia, a mim fugaz sorriste, Mas agora, onde estás? Não vês que sou tão triste?... (– Os meus sonhos de amor estão desesperados, Cantam numa agonia, o canto dos finados!) No meu peito, somente o desespero medra! Não consigo tirar da negra cova, a pedra Que prende o teu amor... O teu imenso amor... Não consigo olvidar que carrego uma dor... Caminho em desalento e não sei até quando Terei dentro do peito um coração chorando!... (– E paro. Ao Firmamento atiro um louco brado; Minh’alma chora e tenho um grande amor finado!) 10.08.1974


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Prece a Morpheu Oh! Morpheu,, oh! Deus do sono, Foste tu na Grécia antiga O refúgio do abandono, Um asilo de agonia. Nesta noite errante e fria A minh’alma é tua amiga! Nos teus braços peço asilo, Conforto e serenidade... Quero ficar bem tranqüilo, Não recordar o passado Que me traz, oh! amargo fado, O talismã da saudade... Abre-me o teu morno colo, Deixa-me ficar sonhando... No sonho, enfim me consolo E fujo deste presente Que me deixa unicamente De olhos abertos chorando. Morpheu, acode minh’alma Que está tristonha e ferida... No peito – não tenho calma, Meu caminho é só de abrolhos... Oh! Morpheu, dá-me outros olhos Para eu olhar esta vida!


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Metamorfose Eu te encontrei um dia em meu caminho; Suplicavas o amor sincero e amigo, Um desejo de ter um terno abrigo, E alguém que te quisesse com carinho. Estavas fatigada de ilusões E eu também, de ilusões, estava cheio – E nosso olhar num terno e doce anseio Colocou juntos nossos corações. E amamos... nosso amor foi puro e lindo: Puro como a manhã toda abrasada Com raios de oiro pelo sol banhada Num espetáculo formoso e infindo. E muito tempo nós seguimos juntos Os rumos desta vida tão dispersa. Noss’alma pelo amor vivia imersa E o amor nos conquistava em mil assuntos... Vivíamos o amor... o imenso amor Que transportava num estranho mundo Nossas almas repletas de esplendor, Pois víamos o amor santo e profundo. Pássaros coloridos, beija-flores, Sonhavam juntos com nossos sonhares, E a Natureza erguia mil altares Quando nos via cálidos de amores.


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A lua, em vez de sua luz prateada, Sobre nós atirava um raio d’oiro, E um lago refletia esse tesouro Na imensidão da grande madrugada... As estrelas, em chusmas preciosas Multiplicavam-se no céu aberto, E se pisássemos num chão deserto, No mesmo instante o chão brotava em rosas... As flores debruçavam nos barrancos Se ouviam nossos passos delirantes, E exalavam perfumes ebriantes, E o chão cobriam com tapetes brancos. Vivíamos o amor!... o amor sublime Coroado de abraços e de beijos! Enfim, seria um horroroso crime Sepulcrar este amor de mil desejos... ............................................................ Hoje – caminho só – caminhas só – Já não somos os mesmos – os de outrora. O nosso amor morreu em plena aurora E o grande amor foi reduzido a pó. Enfim nada mais resta... a tempestade Com areia cobriu os nossos passos... Hoje vivo vagando nos espaços, Mas lembrando de ti... com que saudade! 25.09.1977


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Se tu chegasses Nesta noite de chuva, vento e frio Eu em vão esperei que tu chegasses... Teu coração, porém, cofre vazio Sequer ouviu minhas sentidas preces. Uma tristeza, uma amargura imensa Conseguiste deixar em minha vida! E tu que foste a minha ardente crença, Ficaste sendo uma ilusão perdida. E nesta noite fria eu esperava Que decidisses vir para encontrar-me. A minh’alma seria a tua escrava No instante em que te visse envolta em charme. Chorando te esperei a noite inteira; E a chuva – como lágrima da morte – Foi minha única e triste companheira No pesadelo desta negra sorte. Se tu chegasses, para meu conforto, Como Lázaro – eu ressuscitaria; Poria vida a este meu mundo morto E solene de amor eu viveria. Se tu chegasses, a minh’alma triste Se envolveria nos umbrais do sonho. E eu com prazer, veria que ainda existe Ao sonhador, algum vergel risonho!


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Se tu chegasses, meus ardentes beijos Com furor beijariam tua boca, E aplacariam todos os desejos Que deixam a minh’alma como louca. Mas tu não vens... a ausência me enlouquece; Meu coração está triste e vazio. Só tu não ouves minha errante prece Nesta noite de chuva, vento e frio...


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Pesadelo

Já não suporto mais o imenso sofrimento Que explode na minh’alma momento após momento; Vejo impregnado o céu das minhas ambições Com angústias fatais e falsas ilusões. E sonhei ser feliz... viver cantando a glória De um amor que escreveu com beijos sua história! Porém, o coração voou alto demais E os meus sonhos de amor, ficaram sepulcrais. Não mais irei sonhar sonhos doces, suaves, Como no imenso céu, o pipilar das aves. Compreendo a paixão que a esperança seduz, Contudo, também sei que ela não me conduz Ao parque colorido onde a ilusão flutua Como um som ou talvez uma inspirada lua. O sofrer me devora, ai ironia, ai, dor! E matar por prazer, o que ficou do amor. É um crime sem perdão! É o Inferno na certa, É olhar sem ilusão a paisagem deserta, É a dor, é o tédio, é o horror, é a imensa solidão Que mais faz padecer o pobre coração... É o passado de luz formoso, casto, brando, É uma pergunta aos céus:– Serei feliz, mas quando?” É confundir os céus com perguntas reptis, E insistir e insistir:– “serei, serei feliz? “Vamos, fala, não tens poder sobre a desgraça? “Olha que a minha dor está perdendo a graça... “Oh! fantasma do Além, por que foges de mim?


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“Não vês!? Minhas perguntas estão chegando ao fim, “Pois tanto a solidão da vida em mim insiste, “Que estou me acostumando a viver sempre triste!”


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Thaís (no seu primeiro aniversário) Minha filhinha querida Tu hoje está completando Um ano cheio de vida, Cheio de paz e de encanto. Por isso faço o meu canto De alegrias – te louvando. Ensaias os tenros passos E algumas coisas já falas. Já abraças os meus abraços Já ouves quando te chamo. Oh! menininha que eu amo, Teu riso me enche de galas. O teu sorriso me espanta E choro quando tu choras. Mas a minh’alma se encanta Quando ao chão e vê sentada Brincando despreocupada Com as Luzes das Auroras. Espalhas em nossa vida Constante felicidade, Pois tu és a flor querida Da roseira que plantamos, Por isso o amor que te damos É maior que a Eternidade!


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Para terminar agora Este meu canto feliz, Eu vou em busca da aurora Na paixĂŁo que me consome; E vou cantando o teu nome: Oh! minha filha THAĂ?S! 31.01.1978


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Poema do Adeus I

Nunca mais... nunca mais... toda a esperança é morta... O que passou, passou e o porvir não me importa. Desde que tu partiste, envolta de saudade, Tenho vivido a mais tristonha realidade. Não amo mais o sol, as estrelas, a lua, O nosso amor morreu, e uma tristeza nua Deixa recordações que me causam o pranto. Nunca mais ouvirei, dos teus lábios, o canto Que cantavas a mim repleta de alegria! Hoje – na minha vida – imensa noite fria Povoa o meu viver... Oh! nada mais existe Dentro do coração que está calado e triste! Tudo mudou... No céu, estrelas preguiçosas, Num brilho já vulgar, opacas e jocosas, Desmaiam no horizonte... A lua, sonolenta, É encoberta com o pó de uma errante tormenta. Revolta-0se o Infinito, explode a catástrofe, Com sangue escrevo a minha derradeira estrofe: –“Morro... morro de amor, minha amada e querida, Tu partiste levando a minha própria vida E não sei mais viver... tu eras toda a essência De uma felicidade e hoje, à tua ausência, Sofro, choro, lamento, explodo de vingança, Pois partiste levando a efêmera esperança Que havia no meu peito e esborrifava amores. Não mais, oh! meu amor, irei olhas as flores Que juntos, na alegria estonteante e suprema, Faziam, em nós, brotar os versos de um poema...


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O poema eras tu – e já não mais vigora Dentro em meu coração, a esperança da aurora. O meu viver é sempre uma insípida noite Sem estrelas, luar, é morto todo o afoite Que contigo vivi na mais sublime glória. Mas hoje, amor, somente uma tímida história, – Marca deixa a ferro e a fogo, me consome... – Porém, eu sei, que um dia, esquecerei teu nome...” 23.12.1975


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Poema do Adeus II

Já não sei mais viver... caminho desolado Olhando em minha estrada as ruínas do passado Onde outrora brilhava um palácio de festa. Ouço, ainda de longe, os ecos de uma orquestra Em notas de esplendor. Meu peito chora sangue... Deliro. Desvairado, o coração exangue Já não saber por que no meu peito palpita. Em todo o meu viver uma angústia infinita Vibra, esplende, delira, explode, anseia, estua... Oh! nunca mias terei, meu puro amor, da tua Boca cheia de mel, os delirantes beijos Ardentes de paixão... nunca mais, em desejos, Febril, abraçarei teu corpo cor de jambo... Em minh’alma, um magoado e triste ditirambo Inda fala do amor que teve treda morte. Perlustro à noite sem ninguém que me conforte... Sofro em silêncio, choro em silêncio, caminho Duvidando do amor que me deixou sozinho Num mundo de ilusão... – Oh! espíritos errantes, Escutai como grita em gritos delirantes Este, que tudo tinha envolto de alegria E que hoje, por futuro, encontra a cova fria! Este, que todo amor, amou a todo mundo, E que doando amor, delira moribundo. É o mistério da dor, é a paixão sufocada, É o desespero atroz, é a mão inanimada,


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É o grito resumindo uma frase, é o erro, É a saudade sombria a marcar com o ferro Um coração em dor... é a revolta, é o tédio, É o lúgubre pesar que não tem mais remédio. Tudo chora de angústia e de imensa agonia. Já não consigo mais escrever a poesia Que falava do amor apaixonado e forte Porque este amor (oh! dor) foi caminhando à morte... 05.01.1976


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Balada Triste (Que saudade dos beijos que me deste!) (Gustavo Teixeira) Penso e ao pensar meus olhos umedecem, Pois penso no passado alegre e lindo Que a teu lado vivi... as cores crescem Num desespero enorme, eterno, infindo... O tempo passa, o dia vai fugindo, O céu já não está azul-celeste. Meu pensamento aos poucos vai sumindo, Que saudade dos beijos que me deste... Vejo na terra os outros que padecem... Mas este sofrimento eu sei que é findo. Esses que sofrem, vejo-os... se parecem Como quem tem no peito o amor florindo. Já bem sei que não viverei sorrindo E em mim a dor existe como peste. No mundo já nem sei aonde vou indo... Que saudade dos beijos que me deste... Meus olhos para os sonhos se perecem; Para o amor já não ficam mais luzindo. Meus pensamentos, do universo descem, Pois eu também, aos poucos, vou caindo. O amor á mim já se faz bem-vindo Já não o vejo numa azúlea veste. A noite chega aos poucos, vou dormindo... Que saudade dos beijos que me deste...


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Oferta Senhora, enquanto a noite vai fulgindo, Não deixes que a agonia a tudo creste. Meus lábios por teus lábios vão se abrindo... Que saudade dos beijos que me deste...


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Epílogo Eis que chegou ao fim nosso romance Cheio de beijos, cheio de ternura. Tudo o que antes estava ao nosso alcance, Hoje baixo à fria sepultura. Como foi lindo o nosso amor, querida, Coroado de festas e noivado: – Toda a nossa esperança, hoje é perdida, – Toda o sonho de amor, hoje é passado! Amei-te com furor e com desvelo A vida toda que vivemos juntos. Hoje, porém, Que triste pesadelo: Para o amor nossos peitos – são defuntos. Também me amaste com furor insano E cheia de carinhos me beijaste Com a fúria colossal de um oceano... – Porém, o amor, qual flor, pendeu su’haste. E não foi culpa minha e nem foi tua; O nosso amor morreu igual à tarde Que mansamente vem trazendo o dia E traz a noite sem fazer alarde. Foi tudo lentamente, lentamente, E lentamente em nós, veio a distância, E ao medo de seguirmos para frente, Matamos um amor sem arrogância. Hoje – passo por ti e não te vejo...


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E tu – passas por mim como orgulhosa... Até pareces se esquecer do beijo Que um dia dei em teus lábios de rosa... O pranto amargo rola-me dos olhos E à minha boca ele se faz salgado. O nosso amor foi doce e sem escolhos, Mas hoje, amor, estou desesperado. Tudo mudou... no céu, os mesmos astros Cintilam com fulgor... e eu, seguindo a esmo Ando a procura dos teus róseos rastros, Porque sem ti eu já não sou o mesmo. Ando na rua como hipocondríaco Falando versos que te fiz outrora. Julgam-me como um louco... ou um maníaco Pois todo o dia vejo o vir da aurora. A aurora vem e traz o sol brilhante E tu, querida, tu estás ausente. Sigo desesperado, delirante, Como um cigano... e chego a ser demente... Se tu cheia de amor a mim chegasses, E passasses comigo um só instante, Eu iria beijar as tuas faces E me sentir o mais feliz amante.


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Porém, é impossível o meu sonho, Pois hoje estás seguindo uma outra vida. – O teu caminho está todo risonho! – A minha estrada está descolorida! E pensar que trilhamos no passado A mesma estrada colorida e bela... O nosso céu vivia iluminado Por uma luz de gigantesca estrela. Contudo a luz amortecendo em pouco Seu brilho singular de poesia, Num momento somente – fez-me um louco E também praguejar por ver o dia. Oh! quisera jamais ter contemplado Este mundo tão cheio de revezes... – Por momentos que estive apaixonado Eu já chorei por 10 milhões de vezes! E pergunto – o que vale ser sincero E para o amor sonhar um lindo mundo Se ao acordar vê-se um viver austero E o sonho de desejos – moribundo? Oh! pouco importa andar plantando flores, Muito menos viver sempre sorrindo, Pois o sorriso se transforma em dores E o fruto dos amores, se faz findo.


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Ai, minha amada, estou como cigano, Blasfemo o nosso amor que não deu certo. Porém, não sei se vou para o oceano Ou se acabo os meus dias no deserto! Está tudo confuso... minha vida Já não tem mais razão nem menos sorte: – Se contigo sonhei viver a Vida, Tão-somente contigo – tive a morte! 23.04.1976


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Vivência Vivo em ti, Vives em mim! Somos dois, Ou somos um? Eu me perco Nesta união de corpos, de almas, de vidas... Não somos um, Não somos dois... Somos NÓS. 30.11.1972


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Correio Elegante Eu me recordo, querida, O início de nossa vida Terna, pura e cativante; Um olhar meigo e bonito, Depois, um versinho escrito Em um Correio Elegante... Não me esqueço aquela festa Em que no coreto a orquestra Tocava lindos dobrados... Eu te flertava sorrindo, E teu sorriso tão lindo Punha no ar versos doirados... Depois, em passeios, juntos, Falamos doces assuntos Que no coração ecoava... E tu, cantando dizias, Nas mais formosas poesias, Tudo o que te apaixonava. Calado, eu te ouvir atento; Não perdia um movimento Do teu trejeito brejeiro... E a só dizia comigo: “Quero estar sempre contigo, Quero ser teu companheiro...”


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Mas não fui só eu amigo... Na minh’alma fiz o abrigo Para o Amor que florescia... E cantei – doce quimera! – A Estação da Primavera Que no meu peito nascia. Depois o primeiro beijo, A sensação do desejo Brotando no mundo d’alma... – A ternura de um sorriso, O viver do Paraíso E uma vida sempre calma. ........................................... Um dia, numa outra festa Em que no coreto a orquestra Tocava um dobrado ebriante, Vi o fim da minha vida, Pois me deste a despedida Em um Correio Elegante...


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Crepúsculo

Quando o sol vai dormindo no horizonte, As nuvens rubras vão singrando os céus... As andorinhas vão beijando a fonte, O dia vai dizendo o seu adeus Quando o sol vai dormindo no horizonte... O manto negro vem vestindo o dia, As luzes da cidade vão luzindo... A lua vem chegando qual magia, Estrelas – uma a uma vão surgindo E o manto negro vem vestindo o dia... Oh! tudo é poesia de momento... Uma constelação mirabolante Vai bordando esse imenso firmamento, E a noite, num poema delirante Clama esta poesia de momento!... Os Zíngaros do céu, em serenata Preludiam a bela madrugada... Vai boiando um luar todo de prata, Apaixonando os boêmios à sacada E os Zíngaros do céu em serenata... A noite vai ficando maviosa... Casais de amantes andam pela rua, Enquanto no jardim, mais uma rosa Desabrocha, palpita e fica nua, E a noite vai ficando maviosa...


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Tudo é belo e divino! A cada encanto Do luar, as estrelas mais se abraçam... Os noivos que chegaram com um canto Junto à lua e às estrelas se entrelaçam... Tudo é belo, é divino a cada encanto! E a noite chega lentamente, mansa, Perece o sol no seu último raio... É noite... É noite... Tudo aqui descansa! E num suspiro, quase num desmaio, A noite chega, lentamente, mansa...


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Esperança

O meu passado foi cheio de glórias, Cheio de sonhos, de ventura cheio. Tinha o peito vivendo cada anseio Tinha para contar lindas histórias. Porém, a desventura, em trajetórias Incertas, fez pousada no meu seio. E passei a viver em devaneio As minhas longas horas merencórias. Sei, porém, que o porvir como o passado Existe em cada vida, em cada sonho; E eu, que hoje vivo triste, desolado, Tenho a esperança de encontrar um dia, Toda a felicidade que suponho Ocultar no Tesouro da Poesia! 01.04.1975


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Cantigas de Roda

Cantigas de roda, que trazem lembranças Dos tempos da infância que tão longe vão. Um mundo encantado de ternas crianças Que viam no mundo somente ilusão. As lágrimas rolam por sobre o meu rosto Lembrando as cirandas repletas de amor. – Esplêndidos hinos de sonhos compostos, Um mundo florido de muito esplendor. Ai, quanta saudade meu peito sufoca Lembrando as cirandas que não voltam mais. – Crianças felizes que tinham na boca Cantigas alegres a mim imortais. As rodas enormes no meio da rua... Os ecos dos cantos voavam ao léu. Mas quando as cantigas falavam da lua A lua contente descia do céu... Já não se ouvem mais as cantigas de outrora Repletas de risos, repletas de paz. O tempo passando levou-nos a aurora, E hoje o que resta não nos satisfaz... E nem as crianças de hoje conhecem, As doces, suaves e ternas canções, Pois hoje as crianças já não obedecem, Às vozes que falam aos seus corações!...


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Às vezes

Às vezes, nós queremos abraçar o mundo, Quando não conseguimos estender a mão a nosso irmão Que está caído. Às vezes, nós queremos fazer grandes coisas, Quando não vemos a nosso lado Um mendigo pedindo um pedaço de pão! Às vezes, nós queremos conquistar o mundo Com nossas palavras Quando não conseguimos dar uma palavra de apoio A um necessitado! Às vezes, nós queremos sorrir para o mundo Quando estamos com nossa alma chorando! Às vezes, nós queremos proclamar o perdão, Quando não perdoamos quem nos ofendeu. Às vezes, nós queremos falar de paz, Mas matamos alguém no coração. Ás vezes, nós queremos fazer de animados, Mas paramos logo no primeiro obstáculo. Ás vezes, nós queremos limpar nosso caminho Mas paramos à primeira pedra encontrada. Às vezes, vemos o Cristo de braços abertos E a todos dizemos:– “É a salvação!” Mas somos os primeiros a cruzar os braços. Quanto falamos das grandes coisas, Mas, vivemos fazendo coisas pequenas!


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Quanto falamos de comunicação, Mas não trocamos um “bom dia” Com o nosso vizinho! Quantos falamos de caridade, Mas deixamos nosso irmão Morrer de fome e frio! Quanto falamos de doação, fraternidade... Mas, vivemos num mundo e numa época, Onde tudo nos é ignorado!... 01.10.1972


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Impossibilidade

Que eu faça uma canção que todos gostem, Que todos sintam alegria e calma Dentro do coração cansado e triste! Que ela traduza os cânticos dos pássaros Nas alvoradas multicoloridas; Que ela defina o amor como criança Inocente e repleta de sorrisos!... Que eu faça uma canção cheia de sonhos De Liberdade, cheia de esperanças, Que entre pelas janelas, pelas portas, E entre nos quartos, onde em harmonia, Fará o sono chegar terno e suave. Que eu faça uma canção cheia de beijos Trocados por eternos namorados. Que fale – eu te amo – em castiçais de glória, E nos barrancos faça as trepadeiras Debruçarem-se à beira do caminho Com flores perfumadas, coloridas... Que eu faça uma canção que todos cantem E sintam alegria ao recorda-la... Que desde o amanhecer seja cantada Por aves, plantas, aves e animais; E que suas palavras sejam simples, E que sua mensagem todos guardem... .............................................................. Eu queria fazer uma canção Que tivesse o perfume de uma rosa, A poesia d’um entardecer,


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O sorriso inocente da criança, O cantar dos alegres passarinhos, A brisa suavizante da manhã, Do sol que morre atrás dos horizontes... Porém, fazer esta canção tão simples É-me impossível, Deus, é-me impossível, Pois a Musa, no instante mais supremo Acena para mim dizendo Adeus!...


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Filho da Guerra

“Sou filho do medo Sou filho da terra, Não tenho brinquedo Pois venho da guerra. Morei em destroços – Pedaços de ossos – De velhos canhões... Os Homens são feras, São podres quimeras, Não têm corações... “Eu venho de longe... Eu trago nos olhos A mágoa de um monge, Um mundo de escolhos... E todos na terra Só pensam em guerra E estouram canhões... Não são meus amigos, Destroem abrigos Com mil ambições... “Meu pais não conheço Nem vou conhecer. Da guerra o seu preço Se chama – Morrer! – Eu trago somente A paz inocente Me chamam – Criança –


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Porém, vejo a guerra Que explode com a terra, Me chamo – Vingança! – “Eu sei que no mundo Nem tudo se aferra, Eu sei que no fundo Os homens da guerra Chamados – Soldados – Vivem comandados Por homens de bem. Sou filho da terra, Um monstro que é a guerra, Criança, porém...” ....................................... Assim que falava A pobre criança Que tanto chorava Por ter na lembrança – Amigos caídos, – Canhões deprimidos, – Fumaça nos céus... As bombas matando, O horror começando, E a ausência de Deus... 23.04.1974


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Apelo I

Homens do planeta Terra, Ouvi este meu apelo: – Acabai com a fria guerra Que só nos traz pesadelo. Não deixeis que o tempo vença O acaso – avalancha imensa – Pois é preciso parar Com esta guerra nociva Que de nada nos cativa E só nos deixa a chorar. Não deixeis que tudo morra No prostíbulo da glória, Pois um dia, lereis tristes, As páginas desta história Lívida, cruel, exangue, E coberta pelo sangue Que fizestes derramar... – Não sonheis o Inatingível!... O tempo – Átila terrível – Já não nos pode esperar!... Deixai o fuzil num canto, Deixai-o no esquecimento, Tomai da Lira e do Canto Fazei vosso Mandamento De Alegrias, Esperanças, Muitos risos de crianças, E um porvir cheio de cor.


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Calai canhĂľes e trombetas, Deixai, porĂŠm, os Poetas, Cantando versos de amor... 13.08.1975


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Apelo II Junto de Deus, espero ter um dia, Um momento de paz e de esperança; Pois neste mundo eu tanto tenho visto Olhos abertos só para a vingança, Que tenho medo desta hipocrisia Que fere, que extermina a cada instante, De cada lábio – um riso terno e amigo, De cada vida – o amor santo e vibrante! Não podemos deixar que esta desgraça Consiga penetrar em nossa vida... A guerra anda a matar milhões de humanos E anda levando tudo de vencida. É preciso gritar aos quatro mundos Que o amor é preciso nesta Terra, Pois de ódio, de desdém e de rancores, O mundo rexplodiu em férrea guerra. Se preciso – hastear uma bandeira Manchada pelo sangue puro e novo! E gritar para os homens – negras serpes! – –“Vede este sangue? Ele é do vosso povo!” Mas eu creio que nada adiantaria, Pois tudo está insípido e distante... – O homem vive matando até a Mulher Que no dia anterior foi sua amante!


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Por isso, Deus, com teu poder augusto, Manda um raio de morte para a guerra, Exterminando os homens soberanos Que à sua voz, explode nova guerra. Deixa, meu Deus, que fiquem neste mundo, Tão somente as crianças inocentes, Que vivendo do amor e da poesia, Em paz dar-te-ão um dia, mil presentes! Rio Claro, 14.06.1974


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Apelo III

Irmãos, clamai em alta voz à vida: Dizei de vida – em frente à mortandade – Nós que vivemos a Fraternidade Estamos numa guerra apodrecida! Nossa esperança – é glória já vencida – Bendizendo a conquista da verdade. Tentando olhar a Deus na realidade, Ficamos sendo a chama mais vivida. Agora, quando o mundo, num momento Evoca em turbilhões o seu lamento, Vamos seguindo a meta passo a passo. Os homens querem Deus, querem o mundo, Atiram para os céus o ódio profundo, Mas entre os céus e Deus – há muito espaço! 06.01.1973


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Dia de Festa

Da terra – renasce a planta – O aborto de uma criança, E hoje é dia de festa. Nos olhos brilha a vingança, O Homem perde a esperança E hoje é dia de festa., Em tudo há sangue e há guerra, Há o desespero do erro E primícias de quimera... Há o pecado na cama O homem coberto de lama E o dia cheio de festa. Há ilusão de loteria, Arrogância e hipocrisia E manchetes nos jornais, Que falam de assassinatos E dezenas de outros fatos Que parecem irreais... Mas hoje é dia de festa; Há o ruído da orquestra Nos salões da sociedade.


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Há cobiça e mais cobiça, Tudo cheirando a carniça Numa horrenda iniqüidade. É irmão matando irmão Num desejo sem razão De cada vez subir mais. Há a desgraça e o desconforto, A mulher que faz o aborto E se entrega às bacanais. Em tudo há a ânsia de glória, Cada um fazendo uma história Em sonhos fenomenais. – Há o ruído da orquestra, Fantásticos rituais, Do dia cheio de festa...


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Lamentos

Eu lamento esse mundo que descerra As lutas entre irmãos – e surge a morte! Eu vivo sem ter rumo, sem ter sorte, Mutilado entre a dor que atinge a terra!... Lamento um povo vangloriando a guerra, E só bendiz o seu soldado forte... Lamento a vida que não tem um norte, E choro ao ver que a paz o mundo enterra!... Lamento muito, quando vejo um povo Mostrando o Pavilhão em ouros mundos Manchando pelo sangue puro e novo... Mas eu lamento ainda mais a glória, De só querer mostrar fatos imundos, E ganhar nome no porvir da História! 20.10.1972


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O Poeta e a Criança

O teu sorriso, criança, Inda conserva a esperança De ter um melhor porvir; Por isso que o teu sorriso Nos conduz ao Paraíso Do futuro que há de vir. Criança, segue no mundo, Vai pregando o amor profundo Que só tu consegues ter. E vai do campo à cidade, Cantando a felicidade Terna e cheia de prazer. As tuas falas sonoras Parecem aves canoras Nos seus cantos triunfais... Oh! canta, criança, canta, Tua voz nos acalanta Quando cantas madrigais!... Porém, por que de repente Fechaste o riso inocente Que era um jardim a flor? Por que, pequena mimosa, Os teus lábios cor-de-rosa Já não querem mais sorrir?


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“Poeta, ouve minha história, E verás que toda a glória Que neste mundo sonhei, Não passou de uma utopia, Tudo foi negra magia De alguém poderoso Rei. “Os campos que eram de flores, Hoje são vales de dores, De agonia e de aflição. E as canções ternas, suaves, Iguais aos cantos das aves, Hoje não existem, não;;; “Tudo mudou nesta terra... Da paz – explodiu a guerra Matando sem escolher Homens, mulheres, crianças, – Primaveras de esperanças Que como eu iam viver... “E se hoje eu trago nos olhos Desesperados escolhos, É porque eu vi (oh! meu Deus!) Crianças passando fome, Milhões de fetos sem nome Apodrecidos e ateus... “Poeta, cala esta Lira, Não vês que tudo é mentira, E a hipocrisia e o terror Dominam todos os lares,


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Que estão vermelhos os mares Do sangue do sofredor? “Vem, Poeta, vem comigo... Vês? Aqui onde era ao abrigo Do nosso santo Jesus, Hoje existe artilharia, E dizem que é fantasia Ver Cristo pregado á Cruz. “Os divinos Sacramentos, Hoje são os instrumentos De orgias e bacanais... E zombam de quem implora Para levarem embora As Hóstias celestiais... “Cala, Poeta, o teu canto, Dá razão para o meu pranto E vê que este meu sofrer, É por ver que a realidade Resume a fatalidade Que o mundo vai padecer!...” 15.05.1978


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Vencido (à moda de Augusto dos Anjos)

Sonâmbulo caminho... É noite. Triste Ando pela calçada de uma rua. No céu, hipocondriacamente, a lua A toda a minha solidão assiste. Em mim somente a Ingratidão persiste... Minh’alma abraça uma esperança nua; E toda a minha angústia se insinua Por um prazer que já não mais existe. Profundissimamente retraído Olho, de longe, uma alegria alheia Que para o meu viver não ser renova. Meu corpo na calçada está caído E nada mais meu coração anseia, A não ser 7 palmos de uma cova!


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Alucinamento I No escuro todos os gatos são pardos No escuro o assassino mata No escuro o ladrão rouba No escuro É fácil à luz do dia Distinguir o branco e o prato Mas não o bom e o mau É fácil à luz do dia Ver a arma do ladrão Mas não quem ele quer matar É fácil à luz do dia Descobrir o ladrão Mas não o que ele quer roubar Sob as trevas O invólucro invisível dos desejos Clama geme grita explode estua E as cabeças com cérebros ocos Aspiram somente os desejos vazios Sob as trevas É que ardem – em densa luz Os desejos caóticos do erro E da revolução


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Sob as trevas À luz do luar e das estrelas Os bares encontram maiores receptividades De seus clientes doidos malucos e ébrios Da minha face abrem-se janelas Que são os meus os meus olhos E venezianas de lágrimas Mostram-me um mundo opaco Tentei sair atrás das loucas ilusões Tentei encontrar a luz num beco sem saída Tentei a vida encontrar em meio á morte Tentei Atrás das loucas ilusões Encontrei becos sem saídas E vi que sobre a vida paira a morte Nefasta fria horrível negra crua e lívida Os espelhos não querem refletir a minha imagem Tudo fica confuso Tudo fica inútil Tudo fica nulo Tudo fica confuso inútil nulo e morto Na rua onde sigo tento abrir todas as portas que encontro E não vejo portas nem maçanetas As paredes pintadas de branco Não têm entradas mas têm saídas


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É o destino fatídico das coisas Que arrefecem padecem E ficam paradas Os telhados velhos Acolhem a poeira dos tempos E na madeira pobre Crescem cogumelos venenosos Os cupins derrubam os palácios De ferro E uma pomba mística Corta o céu num vôo de paz Numa enchente de alucinamentos Minhas idéias passam por cima Da ponta dos meus destinos E numa ficção científica Meus pensamentos em cursos d’água Praticam alpinismo Nas montanhas dos meus ideais Nada melhor do que esperar Tudo depende de esperar Nada melhor do que escolher Tudo depende de escolher Nada depende de esperar Tudo melhor do que esperar Nada depende de escolher Tudo melhor do que escolher


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Entre galopes Meus pensamentos correm estradas Venço léguas e mais léguas E o escândalo Faz que eu volte ao ponto de partida Onde chego não sou bem aceito Por ser um intruso Não que eu não cante coisas alheias Mas alheios à minha idéia Pensamentos em altas vozes Abrem as palavras de prata E fechem o silêncio de ouro Cães pastores ouvem a lua Contando fábulas Os galos não anunciam a alvorada Paredes de ferro derretem-se Com o calor do ódio E inúmeras paixões Despencam-se dos galhos de uma macieira As toalhas são arrancadas da mesa E migalhas de pão Fazem verdadeiros e divinos espetáculos Quando carregadas por formigas


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Neste dança frenética O sol que ainda não nasceu É arrancando do útero E morre com falta de ar E quatro estrelas vestidas de luto Carregam o seu caixão II O Poeta que tentava abrir a porta De uma parede sem porta Domou o seu canto Fez sua lira E morreu no mar das suas aspirações Tudo foi um pesadelo Normal para os dias Caóticos de hoje Tudo foi ilusão De uma noite escura e cheia de ficção Tudo foi a lâmpada apagada Que não deixou que o dia artificial Iluminasse idéias Tudo foi a falta do nada E nada foi a falta do tudo Tudo foi a vontade amarela Dos verdes sonhos Foi a luta sobre-humana Das conspirações


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Foi esta noite negra – fada cruel – Que fez que eu invocasse a luz Para um canto negro Foi a aspiração – complexo de inspiração Que acendeu a luz na minha idéia apagada Foi eu não sei Eu não sei Não sei Sei? – Sei! 18.05.1978


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Missão

Poetas, vamos à glória Com nossos versos de amor. Vamos fazer nossa história Num poema multicor. Vamos falar da esperança Num sorriso de criança Que à Liberdade conduz! Vamos fazer nosso canto Com as lágrimas de um pranto Com os raios de uma luz. Brademos Fraternidade Aos nossos irmãos em Deus. Mostremos que a liberdade Existe por sob os céus... Vamos dar o nosso grito Que ressoe no infinito Como um verbo atroador, E que fale nesta terra Esperança e menos guerra, Menos ódio e mais amor. Vamos fazer nosso verso Com os raios de luar. Vamos cruzar o universo Conjugando o verbo amar. Também, em cada poesia, Dizer – não – à tirania, E – sim – ao dono da luz!


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Vamos seguir para frente Onde o amor é um Continente, Que à liberdade conduz! Poetas, então teremos Cumprido a mossa missão; E em júbilos cantaremos Com a força do coração Nosso cântico de glória Que é baseado na vitória De esperanças e de paz. Vamos seguir nossa meta Com nossa missão completa Que tanto nos satisfaz! 13.08.1975


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Quisera Quisera ter nesta vida Uma esperança Cheia de paz Quisera ver na partida Uma criança Trazendo a paz Quisera ter neste mundo O amor profundo Que satisfaz Quisera levar comigo O meu amigo Do amor e paz Mas nesta vida há esperança Só de vingança Que faz lembrar Que no mundo existem as guerras Existem as feras Que fazem chorar. 09.03.1972


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Mensagem ao Filho Filho! Respeita a tua mãe na vida; Pois um dia ela faltará no lar. De nada adiantará vê-la florida, Pois ela vai partir p’ra outro lugar! Ama co’orgulho a tua mãe querida! É um privilégio, mas pode finar... Na poesia eu a vejo adormecida, Com seus cabelos brancos, a esvoaçar... Nunca te esqueças dessa mãe formosa, Em teu jardim jamais terás a rosa Que se compare a tua mãe, rapaz! Ama-a co’orgulho. A mãe somente é uma! Adorne-a em luz, em beijo e em nívea pluma, A eterna mãe que tanto bem te faz. 05.05.1972


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Por um sorriso

Eu quero um mundo cheio de alegrias, Sem dor do pranto sem saudade aflita! Eu vivo para ver todos os dias Um riso enorme em cada dor conflita! Mas como irei viver, se as nostalgias Invadem a memória que acredita Em seu poder repleto de magias, E em sua força que o homem necessita? Sim, meus amigos! A jornada é dura, É decisiva para a imagem pura Que queremos sentir em nosso mundo! Então, por um sorriso, mãos à obra! Pois esta luta é imensa e se desdobra Num sonho do amanhã, de amor profundo!... 17.05.1972


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Caminhos da esperança

Caminhos da Esperança – ao qual seguir? Um – repleto de flores e alegrais, Outro – cheio de espinhos, fantasias... Caminhos da Esperança – ao qual sorrir? Eu sigo neste mundo sem porvir E não conto sequer com os meus dias, Pois a morte que abate em vãs magias, Não me responde onde eu irei cair! Pensamentos diabólicos em mente, São lacraias, sepulcros, são plebeus, Matando a vida de um pastor – de um crente... Caminhos da Esperança – rumos meus! Feliz então já sou, pois sou vivente Que procura chegar aos pés de Deus!


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A cada passo

A cada passo, um novo mundo avisto, Na estrada pedregosa por que sigo. E vejo os ramos curvos como abrigo, E a flor agreste a me mostrar que existo... E procuro um olhar, e sinto o Cristo Ressuscitado e verdadeiro amigo, A seguir junto às flores e comigo Procurando o ideal com que me visto. Um mundo novo avisto em cada passo... Uma lembrança eu levo na memória, Que o ramo fica flor em cada abraço... Sinto que Cristo me olha e eu O procuro, Para pedir perdão por minha glória, Pois tentei achar Luz, num mundo escuro!


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Imagem

Fecho os olhos e tento em minha mente Idealizar de novo a tua imagem... Tudo fica confuso e de repente Um rosto vem a mim como miragem. Tento expandir, alucinadamente O sonho de seguir esta viagem Para contigo estar eternamente E estar liberto desta vil passagem! Fecho os olhos e eu ouço o eu sorriso, Penso comigo:– É este o Paraíso, Deixarei este mundo à sua sorte!” Mas, num instante acordo e meu apelo Transfigurado em negro pesadelo, Mostra que a minha imagem, foi à Morte! 05.04.1973


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Etapas

Nascer, viver, amar, morrer um dia! Sorrir, cantar, sentir o doce espanto De um coração que veio com encanto, E pôs n’alma, a expressão de melodia... Encontrar, cativar uma alegria Vivendo-a eternamente em cada canto... Sofrer e derramar em cada pranto Uma eterna esperança em poesia. E ver, e ser, e unir em cada instante, Um desejar frenético e constante, Um correr e parar – a calma e um grito... E comparar, sentindo dentro d’alma Um viver, um amar que o sonho ensalma, E, ir contemplar a vida do infinito!...


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Soneto

A cada passo, a cada encontro, uma esperança Vem à minh’alma pura e cheia de alegria: – Um dia avistarei um mundo de bonança, Cheio de paz, de amor e mágica harmonia! Contemplo a Natureza! O meu olhar descansa Vendo aves em gorjeios em plácida euforia... E a cada instante vem a mim uma lembrança Que amanhã não verei homens em agonia. A luz, o sol, o dia! A noite, a estrela, a lua, Mostram-me um mundo bom, sem guerras e sem dores, E o meu olhar cativo à Liberdade clama: “Quem és tu, forasteira? Onde vais? Continua... – Quero ver tua voz, que diz amar as flores, Quero ver teu olhar, que para o amor se inflama!”


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Contraste

Ergui meus olhos para os céus, pedindo Numa oração de amor, a paz constante! Quisera em cada lábio um riso infindo, Em cada peito uma paixão vibrante... Eu, que vivo a cantar, vivo sorrindo, Tenho um mim um amor tão delirante! Num só momento, o mundo que é tão lindo A mim não passa de um pesar errante! O tempo passa... Em cada dia eu vejo Reluzir esperanças conquistadas, Enquanto os olhos, ardem num desejo De ver as glórias todas laureadas: Pelo amor que não foi mais que um lampejo, Pela dor dessas horas desgraçadas...


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Reflexão

Quem ama, pode ter um mundo e não ter nada; Mas, para quem não ama, é triste não ter nada... Quem ama, pode estar sorrindo e estar chorando; Mas, para quem não ama, é triste estar chorando... Quem ama, pode ouvir as canções de saudade; Mas, para quem não ama, é ruim sentir saudade. Quem ama, pode andar colhendo sempre flores; Mas, quem não ama, a quem oferecer as flores?... Quem ama, pode andar sozinho pela noite; Mas, quem não ama, como é triste andar à noite... Quem ama, pode estar sozinho e estar alegre; Pois pensa na pessoa amada e fica alegre... Mas, quem não ama, como é triste estar sozinho; Pois numa multidão, vive sempre sozinho!...


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Sacerdotes (Aos Salesianos do Colégio D. Bosco)

Neste mundo tenho visto Homens que pregam o amor, E falam de Jesus Cristo Com magnitude e esplendor! E falam de Caridade Dizendo – Fraternidade! – E num caminho de Luz Procuram mostrar ao mundo Um amor santo e profundo Com o símbolo da Cruz! Apóstolos verdadeiros Que nos conduzem aos Céus! – São gigantes timoneiros Profetas vindos de Deus! E como outrora Anchieta – O mais brilhante cometa Que existiu neste País! – Ou – como Nóbrega altivo Que do amor ficou cativo E do amor fez o que quis... Eu sinto que esses Profetas Tem o Cristo no Poder. São bandos de borboletas Que nos mostram o viver. São Católicos Romanos


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Que nos livram dos enganos Do rumo de Satanás! Pregadores da Verdade Nos mostram a realidade Pelos caminhos da paz! Ignoram toda a riqueza Para viver com Jesus! – Neste mundo o que é certeza Tem o símbolo da Cruz! Ajudam mendigos, fracos, Os pobres filhos de Gracos Que na vida só em dor; E com a voz do Evangelho Esquecem o mundo velho E se inflamam com o amor. Jesus Cristo está presente Na voz dos santos Heróis, – Toda a alma que fica crente Começa a enxergar mil sóis... E a esperança do futuro Que antes era turvo e escuro Desabrocha como flor; E tudo o que era segredo Transforma-se em sonho ledo Numa Alvorada de Amor!


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Jeová “E todas as Nações do mundo terão de saber que eu sou Jeová!” (Ezequiel)

Perguntam-Me quem sou e de onde venho Meu princípio, meu fim e meu poder. – Todo o poder que sobre as coisas tenho, Nem o Infinito poderá conter. Não há no mundo superior engenho Que possa, no futuro, me vencer. Pois, o porvir em minhas mãos mantenho, E de onde venho ninguém vai saber. Que tentem proclamar minha existência Por meios inexatos da Ciência. – Minha glória, ninguém superará! As ciências por mim foram criadas, Por mim elas irão ser desvendadas, E o mundo irá saber que eu sou Jeová!


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Inutilidade Tiveram fundamentos os versos que escrevi? Alguém deles tirou alguma mensagem? Consegui fazer alguém entrar no país dos sonhos Lendo os meus poemas? Creio que não. Nada do que escrevi Teve valor – quer literário, quer sonhador. Tudo o que escrevi foi uma farsa Povoada pelas noites errantes e boêmias. – Brandas horas de sono perdidas em vadiagem... Mesmo agora, após ter concebido estes erros, Inda não fiquei preterido aos versos! – Este não será meu último poema... Por terra os meus ideais... Tudo o que ideou a minh’alma Não passou de uma utopia. Meu palácio de festa virou chiqueiro, Vi-me entre porcos, fui canalha; Imperdoavelmente, um canalha. Derramei café na toalha bordada cheirando a limpo... Entrei com os pés cheios de lama Nos tapetes dos palácios... Decepcionei, descri, falhei... Fui uma sombra leprosa. Uma ínfima sombra leprosa. Talvez se eu estivesse dentro dos versos Escritos por Augusto dos Anjos, Seria bem melhor.


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Lá não iriam escandalizar-se com meus gestos. Tudo seria normal Como aqui é normal limpar os pés Antes de entrar em casa. Oh! Medíocres etiquetas criadas Pelos vermes humanos. A escada não tem mais fim, Contudo, estou descendo Cada degrau com rapidez incrível. Meus versos não tiveram fundamentos! Meus versos não tiveram fundamentos! Meus versos não tiveram fundamentos!

Esio Antonio Pezzato


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