PEQUENA COLETÂNEA VIRTUAL “CLIPOETAS” Nº 03
CENTRO LITERÁRIO DE PIRACICABA “CLIP” 2009
GOTAS ORVALHADAS Leda Coletti As lágrimas dos teus olhos formam verdadeiros mares elas refletem abrolhos dos teus tristes velejares. Tal como a chuva que irriga a mais bela plantação a lágrima, boa amiga acaba nossa tensão. Estas gotas orvalhadas saudando radiosa aurora são lágrimas derramadas porque a noite foi embora.
CONSOLO Maria de Lourdes Piedade S. Martins Orvalho nossas orquídeas com lágrimas de esperança. Abstraio a saudade impregnada em suas pétalas ressequidas enquanto preparas nosso orquidário celestial.
MULHER ÁGUA Ivana Maria França de Negri
São tantas as águas suadas, choradas mornas, salgadas, frias, adocicadas Todas sagradas. Águas amnióticas envolvendo a semente alimentando a vida ainda dormente. Águas-lágrimas de dor, de alegria de pura emoção Rios brotados direto do coração. Águas rubras espessas, grumosas pacto de sangue a fluir todo mês.
Águas doces leitosas, branquinhas brotando dos seios pingando macias em ávidas boquinhas. Águas porejadas destiladas, salgadas suores voláteis da lida diária. Mulher-cachoeira Mulher-oceano vertendo rios, lagos, mares Águas de sedução jorrando amor Mulher-água fonte da vida!
MENINOS SOLTANDO PAPAGAIOS Carmen M S F Pilotto (Apologia a Portinari)
São verdes, azuis multicoloridos planam como sonhos etéreos e se espalham pelo firmamento Pipa, quadrado ventarola, papagaio ora vai João, ora Pedro, ora Thiago atrás dos sonhos ao sabor do vento livres da política dos impostos e dos salários Em um átimo me solto ao sabor da mesma aventura
da sensação da infância que está nas taquaras no papel celofane na cola de trigo ou no barbante com cera e vidro É o êxtase do sabor de domínio em poder explorar o céu com asas voláteis do alheio...
INQUIETAÇÃO HUMANA Maria Cecilia Graner Fessel Por que um tal desejo insopitável De tanto auto-elogio e de vanglórias Pelo prazer fugaz e censurável De beber sempre do vinho da vitória?! Por que não resguardar, adormecida, Na alma fértil a semente pura Como tesouro enterrado numa ermida Até a exata hora da própria ruptura? Que impulso vão, desperdício incoerente, De festejar conquistas e juntar quinquilharias, Um carro novo, jóias, até gente, Só convivendo com coisas tão vazias? Antes deixar-se afundar profundamente, Buscar do Eu a vera identidade, Olhar-se nesse espelho que não mente, E encarar a face da verdade. Mas, e se formos mesmo só quimera ? Se o rosto que mostramos para o mundo Descobrirmos disfarçar no submundo Apenas o semblante de uma fera?!
QUEM SOU ??? Vilma Lara Ducatti Sou a garra Do vento Do tempo Do espaรงo Das idas E voltas Seguindo o compasso. Poeta da vida Nรฃo nunca vencida Por causas perdidas Os versos destoam se escondem Se perdem Nas ondas Do mar
MENINA Antonia Martins Larrubia Segatto Triste no terraço no jardim na cama triste na vida Assim ela se revela e se revolta cheia de descrença, e desamor. Pobre moça sem destino carregando sua dor. Olhos fixos no horizonte não escondem um desejo de outro corpo, um peito e as veias a pulsar Que triste sina! Porém, sufoca tudo. Até a mais pura lembrança não se deixa revelar. Que deseja esta menina?
ROSAS PARA VOCÊ, MULHER ! Aracy Duarte Ferrari Debaixo da figueira Sob as cores do arco-íris Ao sentir o perfume da floreira, Num instante, descobre-se. Mulher século vinte e um, Ser atuante, ideológica, Trilha caminhos suaves e tortuosos Respeita a linha cronológica. Tem altivez e paciência Desafia teorias utópicas Age com razão e prudência Não vê tudo cor de rosa. Com pretensão literária Faz poesias e prosas Sonha com naturalidade Com amores e rosas.
A BELA DA TARDE Eunice Zem Verdi Todas as tardes...ela.... Aquela mulher saia. Vestida elegante, Exalando perfume Discreto, marcante Cabelos lisos, brilhantes leves, esvoaçantes davam-lhe ao rosto Um ar de mistério. Um toque de sedução Todas as tardes...todas..... Ensolaradas ou chuvosas, Nada conseguia detê-la Lá ia ela... a bela ! Aquela mulher sensual Despertava desejos Inconfessáveis, lascivos Nos olhos daqueles Que a viam passar.....
Todas as tardes, À mesma hora. Alguém a esperava. Ansiosamente...... Contando os minutos, Tecendo mil planos, Fantasias, desejos, Que juntos iriam, Poder desfrutar ! E ela .......a bela da tarde Voltava sozinha..... Só tinha consigo, O silêncio, o segredo A lembrança, o prazer De ter a ousadia....... Sonhar e viver !
A CAMINHADA Francisco de Assis F de Mello O homem nasce e atravessa a infância Num mundo feito só de fantasia. E vai feliz, vivendo sua alegria Num palco irreal, de fragância em fragância. Depois, alarga o passo e, à distância, Deixa esse mundo e corre. E principia A preparar-se, cheio de utopia, Para um viver melhor, que espera em ânsia. Não tarda e chega o tempo da batalha. É preciso vencer e ele trabalha Na mais hedionda emocional tensão. E quando vê sua obra terminada Tem a coluna vertebral arqueada Numa terrível interrogação
Irineu Volpato – IV Como era o silêncio ser só de meu pai vinte anos no vale? Como explicar o silêncio? Vinte anos sozinho no vale o silêncio era só de silêncio de ser só no só de meu pai.
MIRAGEM João B S Negreiros Athayde Quantas vezes sonhei, lânguido e triste Com a alma pura, de malícias nua Com a fronte ardente, repousando ébria À sombra augusta da imagem tua. Quantas vezes! Quantos delírios vãos! Quanta insônia, enfim, por ti passei! Que lenda escura eu fiz da minha vida! Amar-te em sonho, como eu te amei. Eras um sonho, um ideal de amor, Uma centelha, até, p’rá o meu futuro Visão etérea do amanhã risonho E sombra atroz do meu presente escuro.
LUA Lídia Sendin Clara, bela e cristalina, seque a lua sua sina, pelos céus das emoções. De estrelas rodeada, manda sua luz prateada aquecer os corações. Ela míngua, ela cresce, mas também desaparece, atrás do manto do céu. Com os raios de luz roubados manda para os namorados o que reflete do sol. está lá faz tanto tempo, rodeando o firmamento, de estrelas pontilhada.
Cuida das รกguas do mar, que faz crescer e baixar, jรก com destino marcado. E o homem conquistador, que jรก fez tudo por amor sem nunca parar de sonhar, colocou branca armadura, deixou esta terra dura e foi pisar no luar.
MIRAGEM Maria Emília Redi Da janela deslumbra-se a paisagem Pelo orvalho divino abençoada No rompido concreto da paragem As mil cores da mata perfumada. Desfaz o velho pranto da bagagem, Antiga dor de mágoa derramada... No império supremo da miragem A alegria do verde é espalhada. Apaga o amargo fel do desamor Que na alma corrói toda ilusão E recria outro Éden, nova flor... Neste átimo êxtase de olor, A colorir enfim, numa explosão, Dando sentido à vida – Oh! Amor!
AS FOLHAS CAEM... Raquel Araújo A vida da gente passa de repente Como as folhas que caem... A lua, de tão distante, Nas nuvens se perde, num instante, como a aurora da vida. E como as folhas que caem Os anos se esvaem E ficam lembranças marcadas. E como as folhas, nossas vidas ficam no chão esquecidas e em algum lugar falta um pedaço. Nas árvores, faltam folhas. Nossos entes, mesmo sem escolha, sentem perder uma parte. E quando a árvore cai Nossa raiz se vai E nossas lembranças também...
ILUSÕES Ruth Carvalho Lima de Assunção Mergulho no mar dos sonhos, navego nas ondas do mar. enfrento monstros estranhos da alma, sempre a delirar. Que soprem os ventos fortes, que caia a chuva devagar, em direção a tantos nortes, a qual se deve apegar? As certezas, incertezas, dúvidas, afirmações, que povoam nossa mente, são presentes conseqüentes, desabrocham em riquezas, dando charme às ilusões. encantando nossas vidas, de facetas coloridas, num fogo fátuo de paixões.
ETERNIDADE Maria do Carmo Cherubim Nem tudo será esquecido Repleta de dádivas é a vida e houve flores nos caminhos. Não olhemos para trás pois que já é dourada a relva verde em que pisamos agora e a folha seca que rola revela o destino dos idos... Basta caminhar à frente do tempo pra não sermos atingidos para eternidade deste pisar.
AS CORUJAS Maria Helena G Bueloni Cantam uma canção As corujas, No quintal. Não sabem elas Que neste momento Lá no firmamento O surgir de uma nova aurora É aguardado, Mesmo contra vento Mesmo sem se saber Do que há por vir...
CRIAÇÃO M@RA BOMBO QUADROS
®Todos os Direitos Reservados para Centro Literário de Piracicaba – CLIP Nenhuma parte dessa coletânea pode ser copiada ou reproduzida sem autorização. Violação de Direitos Autorais constitui crime. *By Art: Scrapee.net – Walldesk.net – Alan Avers. Algumas imagens desconhecemos a autoria, se você é o autor, entre em contato para os devidos créditos. 2009