Agnaldo Farias
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ARTE SERRINHA
Julho na Serrinha: uma suspensão no tempo e no espaço, um grupo retrátil como um coração, respirando e produzindo obras e pensamentos, um intervalo que também é a comprovação da existência de um lado de lá, capaz de renovar algumas das nossas ideias acerca do mundo.
ARTE SERRINHA
22/05/11 18:39
O livro é dedicado a Lucy de Araújo Lima Delduque, que devotou a vida a educar e a alumbrar as pessoas, deixando entre seu lindo legado a inspiração para a construção deste projeto.
ARTE SERRINHA
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A arte do encontro
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Sobre a influência do meio, Rafael Vogt Maia Rosa
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Enquadrando a paisagem
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o Bailado do deus morto
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Grande espiral
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Fértil
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Mula sem cabeça
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(I)mobiliário
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Casa na árvore
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Purple rain
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Design naturAL
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De ponto em ponto a moda constrói nós
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Joias da natureza
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Canção de Baal
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CORPO EM CENA
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FragmentoS de um ensaio amoroso
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Caos
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PARA DENTRO – PARA FORA
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PARQUE DE instalações
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Ateliês
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Busca Vida
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Cine Rancho
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Núcleo de arte-educação
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Reduto de utopia criativa, Bené Fonteles
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Artistas e Cronologia
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English version
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Créditos
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A ARTE DO ENCONTRO
O verdadeiro mundo é arte.
de abundância caso a terra que um dia
A arte é o desconhecido. Ela sussurra nossa pertença ao ser,
ocupou deixe de ser perturbada. De
celebra a vida. Assim a arte quer ser vivida: como algo que não
forma análoga, acontecendo no campo,
deveria cessar nunca.
retirado da correria da vida na cidade,
Mas ela cessa. E ficamos com o problema de saber como viver quando a arte acaba. Feito um regador, o Festival de Arte Serrinha equacionou a
o festival proporciona uma pausa na rotina contemporânea – um silêncio criativo – e um mergulho em busca de
questão da vida após a morte da arte borrifando arte nas coisas
valores essenciais. Sem interferências, sem
da vida.
perturbações, a Serrinha abre-se para a
O festival nasceu da inquietação sobre os rumos de uma região que vive um processo acelerado e desorganizado
criação. Trata-se de um laboratório aberto a
de transformação; da motivação de reconstituir o espaço
experiências artísticas que têm na natureza
natural e fortalecer as relações entre as pessoas e o ambiente.
a matéria principal, uma obra em contínuo
E, feito tudo isso, produzir reverberações positivas –
processo de construção – nas oficinas, nos
independentemente da escala que elas alcancem.
debates, nos encontros informais, nos
O núcleo irradiador de todos os acontecimentos se divide
períodos de residência artística –, em que
entre a Fazenda Serrinha e o Sítio Santo Antônio, onde
se estimulam a produção e as múltiplas
funciona o Galpão Busca Vida, ambos no bairro da Serrinha,
possibilidades de interação entre as artes, e
zona rural de Bragança Paulista, São Paulo. Espaços vizinhos e
delas com a paisagem.
irmãos, todos os anos, por um mês durante o inverno – período
Transforma-se o espaço, mudam as
em que a natureza se recolhe, preparando a reinvenção –,
pessoas – e o mundo. Em uma década de
abraçam, acolhem e iluminam toda a gente que chega de fora,
festival, o alcance físico parece pequeno,
convidando-a a experimentar.
mas o eco é profundo. As gotas borrifadas
Assim como as sementes, que vêm e vão levadas pelo vento
pelo regador da Serrinha evaporam e
e pelos animais, ou são deliberadamente espalhadas pelo ser
voltam como o orvalho, renovando nosso
humano, e, ao se fixar, participam da recriação do mundo,
alívio a cada dia. Aqui se descobre o que é
na Serrinha a arte em todas as suas expressões é incubada e
evidente, embora não sem espanto: que a
processada, retornando na forma de novas e belas harmonias.
vida é arte.
Uma floresta devastada só voltará à sua condição inicial
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erra que um dia
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cendo no campo,
vida na cidade,
uma pausa na
– um silêncio
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e descobre o que é
em espanto: que a
SOBRE A INFLUÊNCIA DO MEIO RAFAEL VOGT MAIA ROSA, 2006
Foi no prefácio para seu livro Silence, em 1961, que John Cage
mas de outro lado, à margem da prática e
mencionou a diferença entre falar sobre algo e demonstrar esse
com alguma inveja por não estar pintando,
algo enquanto se fala – uma questão urgente num momento
por exemplo. Quanto às especificidades
em que o compositor se propôs a dissolver as barreiras entre a
do meio que utilizava, ao pensar sobre
teoria e a prática. A ideia pode soar um pouco datada, mas é o
questões da arte contemporânea, na
ponto de partida que encontro para dar este breve depoimento
Serrinha somava-se para mim o desnível
sobre o Festival de Arte Serrinha, do qual sempre participei
inescapável entre a experiência de
como palestrante.
relembrar e descrever a performance de
O processo das oficinas, com certeza a base do evento,
Joseph Beuys confinado em uma galeria
estabelece-se por meio do trabalho com linguagens diversas,
com o coiote e ir ver a paisagem rural do
como teatro, fotografia, música, cinema e pintura, entre
alto da colina acompanhado fortuitamente
outras. Em relação àquelas que acompanhei mais de perto,
por um cachorro surgido do nada.
era evidente uma transformação da prática por influência de fatores relacionados às circunstâncias do festival, tais como o lugar, as pessoas envolvidas, suas produções, as atividades relacionadas às outras linguagens, o próprio tempo no qual tudo isso se desenrolava. Ao me propor, então, a falar sobre arte contemporânea, nesse contexto, parecia oportuno abordar algo sobre a sobrevivência das especificidades de um meio de expressão artística quando o entorno conspira contra qualquer distanciamento crítico, em razão de algo que fala muito alto ou, simplesmente, mais alto: o vivencial. Em outras palavras, via nas palestras a oportunidade de tentar cercar verbalmente esse território limiar que seria, afinal, o lugar comum a todos os envolvidos. O álibi para a possibilidade de que estaria depondo sem um conhecimento de causa ou sem elementos para uma demonstração do problema era o de que eu também estava, em todas essas ocasiões, vivenciando um espaço fronteiriço,
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argem da prática e
não estar pintando,
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ENQUADRANDO A PAISAGEM LUIZ HERMANO
Muitos anos antes da existência do festival, o artista plástico Luiz Hermano já experimentara o potencial da Fazenda Serrinha como espaço de criação. O espírito do lugar sugeriu a Hermano a construção de uma espécie de laboratório da paisagem, em uma oficina com alunos, realizada no ano de 2004. No processo, surgiu uma instalação composta de estruturas de madeira retangulares e vazadas, semelhantes a traves, e de uma ponte que liga o chão à infinitude de um abismo. Ao longo de vários anos de existência, sujeita às intempéries da natureza, a obra passou por modificações que apontam para a efemeridade da matéria. Se, no decorrer da oficina, materiais descartados – como pneus, garrafas de vidro e arame – foram preenchendo os espaços vazios, no tempo que se seguiu à realização da obra, o artista realizou um processo de depuração, devolvendo ao trabalho a potencialidade para o novo que o vazio carrega. Despida de qualquer funcionalidade específica, a instalação foi se abrindo à criatividade e ao diálogo com outras manifestações de arte. Dentre as inúmeras formas de interação e ocupação, Enquadrando a paisagem já serviu de “palco” para a encenação de O bailado do Deus morto, peça dirigida por José Celso Martinez Corrêa.
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O BAILADO DO DEUS MORTO JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
Ao conhecer a Serrinha, José Celso Martinez Corrêa percebeu afinidades com a Fazenda Capuava, em Valinhos, onde o artista Flávio de Carvalho ergueu a casa modernista que funcionou como espaço de experimentações artísticas durante a primeira metade do século XX. O ambiente rural também trouxe à memória do diretor do Teatro Oficina a peça que Flávio de Carvalho concebeu. O bailado do Deus morto conta a origem animal e mítica de Deus e a suposta traição que o teria tornado homem – em 1933, a peça inaugurou o Teatro da Experiência, que de tão radical foi fechado pela polícia logo após a estreia. Em 2004, José Celso propôs a realização de uma oficina que trabalharia o texto, recriando esse grande ritual performático nos campos da Serrinha. O trabalho contou com direção de arte de Fabio Delduque, figurinos de Sônia Ushiyama e trilha sonora de Raquel Coutinho. A apresentação de O bailado do Deus morto se repetiria, em uma nova versão – intitulada Experiência Flávio de Carvalho nº 6 –, durante a 29ª Bienal de São Paulo (2010).
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GRANDE ESPIRAL BENÉ FONTELES
A Grande espiral (2004), concebida por Bené Fonteles e construída durante oficina com alunos, possui proporções e características que permitem aproximá-la das grandes obras da land art – em particular, de um marco desse movimento artístico: Spiral Jetty (1970), do norte-americano Robert Smithson. Para Bené, que integra em seu trabalho elementos das artes visuais, da música e da literatura e carrega consigo o conhecimento da terra que a vivência em sete estados brasileiros lhe forneceu, a Grande espiral é, além de uma obra de arte, um local de convivência, meditação, reflexão e interação com a paisagem; é, ainda, um ponto referencial para a região da Serrinha. Composta com 16 mil tijolos das olarias da região, a espiral abriga, em seu interior, pequenos jardins de plantas ornamentais e ervas aromáticas. No centro da obra foi erguido um mastro de eucalipto de doze metros de altura, destinado a receber a bandeira da paz – símbolo criado pelo artista russo Nicholas Röerich para sinalizar o estatuto de área neutra de museus, escolas e marcos culturais, durante a Primeira Guerra Mundial –, hasteada em um ritual em torno de uma fogueira, com música e dança, e deixada à fortuna do vento.
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FÉRTIL
FERNANDO LIMBERGER
Três trabalhos individuais compõem a instalação Fértil (2003), do artista e paisagista Fernando Limberger. A obra nasceu de uma investigação sobre a história da Serrinha, que partia da seguinte questão: como o espaço da fazenda foi ocupado no decorrer do tempo? Ao longo de quatro gerações, cafeicultura, pecuária leiteira, cultivo de eucalipto, extração de barro para fabricação de tijolos e conservação ambiental, sucessivamente, foram as atividades principais desenvolvidas na Fazenda Serrinha. No início do ciclo atual, em que a fazenda está sendo gradativamente transformada em reserva ecológica, construiu-se um viveiro de mudas florestais com o objetivo de recompor a vegetação de Mata Atlântica nas áreas degradadas. Algumas terras afetadas pela voçoroca foram cercadas para afastar o gado e os cavalos, resultando em “ilhas” no meio do pasto, que permitiram a “cicatrização” das erosões e o pleno desenvolvimento da vegetação nativa. Incorporando o conceito das “ilhas” e dialogando de forma lúdica com o processo histórico e com os cenários naturais, o artista instalou canteiros coloridos em pontos nevrálgicos da fazenda e limitou-os com cercas usuais na região, procurando recriar a paisagem e a memória da Serrinha. As cores, nitidamente artificiais, fazem com que os canteiros contrastem com o entorno em que foram alocados, sinalizando a paisagem. Em 2003, ano da montagem das obras, Fértil também incorporava um mosaico de pequenos trabalhos individuais que constituíram uma instalação temporária no viveiro e na horta.
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MULA SEM CABEÇA BIJARI
A instalação Mula sem cabeça tomou como base conceitual a série de ataques do Primeiro Comando da Capital, o PCC, a instituições públicas, bancos e, principalmente, postos da polícia militar, iniciada em 12 de maio de 2006 na cidade de São Paulo – pouco antes, portanto, da realização do festival naquele mesmo ano. A ideia do elemento fogo como símbolo do conflito resultou na evocação, pelos membros do coletivo Bijari, da lenda folclórica da mula sem cabeça – segundo a qual toda mulher que tenha pensamentos ou relações amorosas com um padre se transformaria na assustadora besta. Inserida no ambiente natural da Fazenda Serrinha, a figura – que solta labaredas de fogo de onde deveria se encaixar a cabeça, e que representa a falta de razão – associou-se perfeitamente à ideia de construir, no local, uma obra com a proposta de descortinar os conflitos sociais latentes por trás dos ataques acontecidos naquele ano. Placas de sinalização indicando a distância para chegar à instalação ostentavam, entre outras, imagens de ônibus, de dinheiro e de corações incendiando-se, conduzindo os visitantes pelas paisagens bucólicas da fazenda, num contraponto intrigante – uma espécie de “ecoturismo político”.
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(I)MOBILIÁRIO GUSTAVO GODOY
O processo de reflorestamento da Fazenda Serrinha inspirou Gustavo Godoy a criar (I)mobiliário (2007 / 08), instalação em que cadeiras e bancos domésticos funcionam como extensões dos galhos de eucalipto em que foram dispostos – como se equivalessem a folhas ou frutos. Depois de cortadas, as galhadas de eucalipto foram deixadas para secar, deslocadas de sua condição geográfica inicial e fincadas em uma pequena área plana do pasto. Para Gustavo, a instalação fez com que as árvores mortas retornassem simbolicamente à sua condição de vivas, repovoando o descampado em seu entorno. São, conforme explica o artista, móveis imóveis e árvores móveis. Os esqueletos de árvores, replantados, como que gritam para que o reflorestamento avance por aquela área árida, desprotegida e ensolarada. A reutilização de materiais também busca o resgate da existência do próprio homem através dos resíduos descartados por ele, e a sobreposição de significados por meio da associação de objetos e imagens que propõem ao espectador uma reflexão sobre sua própria condição.
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CASA NA ÁRVORE FLORIANA BREYER
A artista e ativista ambiental Floriana Breyer ergueu sua Casa na árvore (2007) sobre um eucalipto atípico, porque frondoso. Nas diversas etapas entre a concepção e a elaboração, misturaram-se elementos de instalação artística, rapel em árvore, experimentação de técnicas construtivas e performance. A montagem contou com a participação do engenheiro-alpinista Peetssa. Pronto, o espaço se transformou em um mirante de silêncio contemplativo, uma plataforma de convívio, de respiro e de descanso, oferecendo um ponto de vista original da natureza do entorno. Para a artista, o ser humano contemporâneo, condicionado a uma relação utilitária com o meio ambiente, deixa de se perceber como parte dele e cria um mundo fragmentado, no qual a contemplação e a natureza estão alijadas de seu corpo. Em contraposição, com Casa na árvore Floriana amplia as possibilidades de vivenciar o espaço e sugere novas formas para o corpo habitar, proporcionando uma experiência de contato íntimo com a natureza. Durante o mês de julho de 2007, a artista fez da casa sua residência.
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PURPLE RAIN LUCIA KOCH
A luz natural – elemento fundamental na história da pintura – e seus variados efeitos são trabalhados por Lucia Koch em Purple Rain (2009), instalação cromática temporária composta de uma estrutura de eucalipto coberta parcialmente de filtro de PVC violeta e construída em um terreno de pasto em declive da fazenda. Ao adentrar o espaço, o visitante podia experimentar o mundo a partir de uma escala de cores alterada, em um ambiente em constante mutação, oscilando ao longo do dia e de acordo com as condições atmosféricas. Em determinados horários, por exemplo, a cor roxa simulava um efeito de luz negra no interior da pequena construção, alterando também a percepção da paisagem ao redor.
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DESIGN NATURAL HUGO FRANÇA
O designer Hugo França transpôs para a Serrinha processo semelhante àquele que tem desenvolvido ao longo de duas décadas na Mata Atlântica do sul da Bahia: a criação de objetos – utilitários ou não – a partir de resíduos florestais encontrados em incursões pela mata. Em dois anos de oficinas, incorporou à fazenda uma série de obras e mobiliários, como produto do trabalho com alunos. Respeitando as formas, curvas e texturas originais da madeira, o artista incorpora ao projeto buracos, rachaduras, sinais de queimadas e outras marcas do tempo. A forma final é uma mescla da expressividade original da matéria-prima com a ação humana. Embora o resultado seja, em geral, objetos para uso prático, Hugo busca proporcionar uma experiência de aproximação com a natureza. Seu modo de trabalhar começa na árvore e, de certa forma, nela termina, ao incorporar suas marcas, em um movimento cíclico que caminha no ritmo natural.
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DE PONTO EM PONTO A MODA CONSTRÓI NÓS RONALDO FRAGA
A roupa é uma narrativa de ficção, cujo enredo carrega elementos da história de quem a concebeu e a costurou. Partindo dessa asserção provocativa, o estilista Ronaldo Fraga distribuiu provas da coleção verão 2005 / 06 – Descosturando Nilza, uma homenagem à sua costureira mais antiga – entre os participantes de sua oficina na fazenda, para que cada um deles as retrabalhasse de forma individual e pessoal. As roupas, assim, ganharam novas configurações e significações e passaram a acumular uma multiplicidade de experiências, traduzidas em costuras, cores e bordados. Em um processo colaborativo com o videoartista Lucas Bambozzi, os integrantes do workshop tiveram seus rostos filmados em close, enquanto relatavam reminiscências da vida. O resultado final foi uma apresentação em que, sobre as roupas, foram projetados os depoimentos dos alunos que, por sua vez, haviam impresso a cada peça de indumentária o labor desenvolvido durante um período de convivência e reflexão.
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JOIAS DA NATUREZA ELISA STECCA
A partir da observação da paisagem e da catalogação dos elementos naturais da fazenda, como pedras, galhos e folhas, a designer Elisa Stecca propôs a imersão em um processo de construção colaborativa, em que se procurou misturar as matérias encontradas com objetos feitos de metal, vidro, plástico e outros materiais industrializados. A oficina, que aconteceu em 2006, caminhou o tempo todo sobre o limite tênue e por vezes indefinido entre o artesanal, o decorativo e o artístico – fronteira essa que Elisa mantém sempre à tona em sua trajetória profissional. Unidos por uma cuidadosa trama, os objetos criados foram inseridos de forma harmônica na paisagem, constituindo uma relação de simbiose entre o engenho humano e a espontaneidade dos jardins da Serrinha. Assim, o resultado da oficina foram joias que guardam certa função de amuletos, nos quais se encontram o caráter efêmero da moda e o eterno da criação, direcionando os alunos rumo a um fazer prazerosamente compulsivo motivado pelo poder da realização.
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CANÇÃO DE BAAL HELENA IGNEZ
Inicialmente concebido como um filme de curta-metragem, a ser realizado durante oficina de cinema de 2006, Canção de Baal, da diretora e atriz Helena Ignez, ganhou fôlego e extrapolou o âmbito do festival, resultando em um longa. Foi inteiramente gravado no bairro da Serrinha ao longo de dois meses. A obra é uma adaptação livre da primeira peça de Bertolt Brecht, dramaturgo alemão que inspirou toda a trajetória de Helena. Esse “filme de guerrilha”, como já foi classificado, renega a formatação convencional. Trata-se de um experimento cinematográfico, que abre um diálogo com o teatro, a música, as artes visuais e a arquitetura. O papel de protagonista é do músico Carlos Careqa. Ele interpreta Baal, poeta e compositor que renega a banalidade da vida ordinária e desdenha a sociedade institucionalizada, entregando-se a uma vida dionisíaca e orgiástica. O elenco traz também Beth Goulart, Djin Sganzerla e Simone Spoladore, entre outros nomes. Caricatural, indócil e extravagante, Baal evidencia o vazio que impera no mundo contemporâneo, no qual o pensar e o agir encontram-se anestesiados pela mesmice. À arte cabe a transcendência e a resistência. Canção de Baal já foi exibido em diversos eventos cinematográficos pelo mundo, incluindo o Marché du Film, mostra que integra o Festival de Cannes, na França; o Trieste Film Festival, na Itália; e a seção Midnight Movies do Festival do Rio 2009. Recebeu o Prêmio da Crítica e o Prêmio de Melhor Direção de Arte, para Fabio Delduque, no 37º Festival de Cinema de Gramado (2009).
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CORPO EM CENA
TEATRO DA VERTIGEM
A oficina realizada pelo Teatro da Vertigem no Festival de Arte Serrinha de 2009 aplicou um dos princípios fundamentais do grupo: a criação de cenas por meio de vivências sensoriais, workshops e improvisações. Sob coordenação de Guilherme Bonfanti, Eliana Monteiro e Sergio Siviero, o grupo repassou as técnicas de criação empregadas nos espetáculos como O paraíso perdido, O Livro de Jó e Apocalipse 1,11 – a chamada trilogia bíblica – e BR-3, encenada sobre o leito e nas margens do rio Tietê, em São Paulo. Durante as atividades no festival, os trabalhos com escrita automática e depoimento pessoal, entre outras técnicas comuns na construção dos espetáculos da companhia, foram retomados. A exploração do espaço da cena é outro elemento dramatúrgico fundamental nas montagens do Teatro da Vertigem, e foi aproveitado até o limite nos inspiradores jardins da Serrinha. A semana intensa de convívio, incluindo uma noite de vigília, resultou em uma apresentação que agregou outras linguagens artísticas e em que entraram em cena os corpos dos atores em meio a um cenário que amalgamava paisagem natural, iluminação artificial e projeções de vídeo.
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FRAGMENTOS DE UM ENSAIO AMOROSO GUILHERME LEME
A partir da leitura de diversos textos e do desenvolvimento de uma série de exercícios, os alunos da oficina ministrada pelo ator e diretor de teatro Guilherme Leme em 2006 iniciaram um intenso processo de criação, que resultou em Fragmentos de um ensaio amoroso. A peça, que teve a colaboração da figurinista Sônia Ushiyama e da coreógrafa Tatiana Guimarães, foi encenada no amplo espaço do ateliê principal da Serrinha, e incorporou elementos das artes visuais sugeridos pelo ambiente, que em geral abriga atividades ligadas à pintura e ao desenho. A encenação partiu de uma situação na qual os atores, em absoluto silêncio, vestiam figurinos brancos em meio a um cenário igualmente branco. Paulatinamente, a dramaturgia foi ganhando ares catárticos e os personagens passaram a preencher o silêncio com palavras – ditas, escritas ou desenhadas. A neutralidade do branco deu lugar à força do vermelho, à medida que a inércia e a ausência foram sendo preenchidas pelo calor do discurso amoroso.
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CAOS
FABIO DELDUQUE E HAROLDO ALVES
Misto de instalação, performance e teatro, Caos é uma obra em processo, concebida ao longo de uma década por Fabio Delduque e Haroldo Alves. No período de 1993 a 2003, ela ocupou variados e inusitados espaços, de teatros ao barreiro de uma olaria, encontrando no festival espaço fértil ao seu desenvolvimento. O espetáculo mostra o nascimento de um homem das entranhas do barro – a gênese do ser humano? –, encontrando a ascensão pela purificação na água. Os criadores valeram-se da experiência de Delduque nas artes plásticas e de Alves no butô e na dança afro, contando ainda com a colaboração do diretor Guilherme Linhares. Além do barro, a obra incorporou, em suas diversas versões, materiais de diferentes naturezas, como madeiras descartadas, latas e equipamentos para construção, dispostos segundo uma ordem caótica, à semelhança da suposta confusão do mundo antes da sua constituição (kháos).
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para dentro – para fora CAIO REISEWITZ
Em três anos coordenando vivências, entre idas e vindas pelos caminhos da Serrinha o artista e fotógrafo Caio Reisewitz produziu um pequeno ensaio em que deixa transparecer seu modo de criação, sempre em busca do silêncio, que se materializa em composições cuidadosamente estudadas. Embora a rigor não fizesse parte do trabalho de Reisewitz com os alunos, a concepção das imagens é parte integrante do cotidiano afetuoso comungado nos períodos de oficinas, em que os participantes foram provocados a empreender um mergulho interior. Essas imagens revelam a região sem intenção documental, mas com a intensidade de um olhar terno e contemplativo mesclado a uma crítica política ácida e bem-humorada.
Morte do Lula
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Morte do Lula
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Piracaia
Piracaia
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Ă gua Comprida 112
Cortesia Galeria Luciana Brito
Ă gua Comprida
leria Luciana Brito
PARQUE DE INSTALAÇÕES
Desde que se iniciou um processo de restauração da mata
Além das já apresentadas ao longo do
atlântica, da biodiversidade e dos processos naturais na Fazenda
livro, obras de Carlos Fajardo, Virgínia
Serrinha, cada intervenção humana realizada ali é pensada,
Medeiros, Dudu Tsuda, Humberto Brasil,
planejada e executada partindo da premissa de que seu
Eduardo Srur e Rochelle Costi podem ou
resultado deve produzir o mínimo impacto sobre o ambiente –
poderão (pois algumas se encontram em
ou, preferencialmente, trazer-lhe benefícios.
fase de projeto) surpreender o visitante
Pela própria vocação da fazenda – desde muito antes da
que caminha pela fazenda.
existência do festival frequentada por artistas e utilizada como espaço de produção – o parque de instalações, em contínuo movimento de criação e recriação, é um componente artístico intrínseco a esse processo. As instalações constituem as “pegadas” deixadas por esses artistas, que corroboram o esforço de recuperação dos ambientes naturais ao ressignificá-los e experimentá-los de forma harmoniosa e livre. No que tange puramente aos componentes artísticos, um aspecto que merece destaque, por apontar para a contemporaneidade dessa produção, é o espaço que ela ocupa. Unidas a uma tradição que teve início nos anos 1960, as obras não se encaixariam nos espaços neutros dos museus e galerias de arte – os chamados cubos brancos –, demandando novas possibilidades de ocupação. São trabalhos que ampliam as formas de recepção estética e se abrem a relações múltiplas de interação não apenas com as pessoas, mas também com todas as espécies animais e vegetais do entorno. Obras construídas especificamente para aqueles espaços – site specifics –, elas possuem caráter dinâmico e vivo, ao incorporar a ação do tempo na sua constituição, que as assemelham a organismos vivos. Algumas são permanentes; outras vão desaparecendo ao sabor das intempéries.
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Trabalho coletivo r
adas ao longo do
ajardo, VirgĂnia
Humberto Brasil,
e Costi podem ou
se encontram em
ender o visitante
nda.
Trabalho coletivo realizado em oficina de Carlos Fajardo
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Sem tĂtulo, Humbe
Sem tĂtulo, Humberto Brasil
117
Observatório, Rochelle Costi Páginas seguintes: Boias, projeto de instalação, Eduardo Srur; Trabalhos coletivos realizados em oficina de Luiz Hermano; Fala dos confins, videoinstalação 20’, Virgínia de Medeiros; 118
Sinfonia para espaços abertos opus n° 08, instalação sonora, Dudu Tsuda
rio, Rochelle Costi
Páginas seguintes:
ção, Eduardo Srur; de Luiz Hermano;
gínia de Medeiros;
onora, Dudu Tsuda
ATELIÊS
PROCESSOS
Da botegga da Florença renascentista, onde se ensinava pintura e escultura, ao chamado media lab, que abriga as pesquisas de arte e tecnologia, a história da arte nos conta sobre os variados espaços destinados à criação artística, que se prestam às especificidades das técnicas e das linguagens. Na Fazenda Serrinha, construíram-se alguns espaços e adaptaram-se outros – que já serviram, por exemplo, de mangueiro de ordenha e de tulha para o armazenamento de café –, transformando-os em ambientes híbridos adequados ao desenvolvimento das diversas formas de arte que o mundo contemporâneo possibilita criar. O caráter multifuncional permite que, além do processo de criação artística, os ateliês abriguem oficinas, palestras, pequenas apresentações musicais e exibições de filmes e vídeos. Os espaços são versáteis e ganham novas configurações e cores a cada atividade que neles se desenrolam, funcionando como verdadeiros laboratórios de experimentação. O clima alegre que envolve o festival faz dos ateliês pontos de encontro, de convivência e de troca de experiências entre os artistas, os participantes das oficinas e o público que visita a fazenda.
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Oficina de monotip
Oficina de monotipia, frei Pedro Pinheiro
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130
Oficina de teatro, Guilherme Leme
, Guilherme Leme
Ă€ esquerda, leitura
fotos pequenas, ofi
PĂĄgina seguinte, o Dudi Maia Rosa
À esquerda, leitura de portfólios, Jum Nakao; fotos pequenas, oficinas no ateliê principal Página seguinte, oficina de pintura, Dudi Maia Rosa
Acima, projeto de residĂŞncia artĂstica; 138
Ă direita, oficina de gastronomia, Morena Leite
esidĂŞncia artĂstica;
mia, Morena Leite
Oficina “A casa do 140
PĂĄgina seguinte, p
Oficina “A casa dos sentidos”, Bené Fonteles Página seguinte, performance pirotécnica, Davi Daidone
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BUSCA VIDA
MÚSICA BRASILEIRA
Localizado à beira da represa do rio Jacareí, o barracão que já abrigou os serviços de ordenha do Sítio Santo Antônio e acomodou amigos que retornavam das cavalgadas noturnas pela região da Serrinha tornou-se, em 1997, Galpão Busca Vida, casa que prima pela originalidade ao transportar a atmosfera boêmia e boa música brasileira para o ambiente rural. A decoração preservou elementos do sítio, da leiteria e da estrebaria, aproveitando-se também de partes de cenários de teatro, antiguidades e obras de arte, misturando todos os elementos com humor e elegância. O Galpão Busca Vida se transformou em referência cultural no interior paulista ao trazer para seu pequeno e festivo palco artistas de grande expressão na cena musical brasileira, como Arnaldo Antunes, Elba Ramalho, Mart’nália, Moska, Nação Zumbi, Céu, Tom Zé e Zeca Baleiro, integrando uma grade democrática que dá espaço igualmente para jovens músicos locais e traz exposições, leilões e festas diversas, além de sediar a programação musical do Festival de Arte Serrinha. Tão notável quanto uma programação eclética num local tão inusitado é a genuína criação local: a partir de uma receita artesanal que mistura aguardente de cana, mel, limão e alguns ingredientes secretos, nasceu ali a bebida Busca Vida, que hoje alcançou notoriedade nacional e é produzida em escala industrial, com distribuição em todo o Brasil e no exterior.
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CINE RANCHO
CICLOS DE CINEMA BRASILEIRO
Núcleo avançado do festival, o Cine Rancho acontece em um sítio no município vizinho de Piracaia, e promove exibições de longas-metragens nacionais, seguidas de conversas com os diretores. O lugar é peculiar: a sala de projeção funciona num espaço anexo a uma pizzaria rural; é forrada de folhas de eucalipto e aquecida por braseiros de carvão. Sofás e redes fazem as vezes de poltronas. Anna Muylaert, Beto Brant, Cláudio Assis, Guilherme de Almeida Prado, André Klotzel e Lírio Ferreira são alguns dos cineastas que já contaram as suas experiências de fazer cinematográfico em bate-papos informais “ao pé da tela”.
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NÚCLEO DE ARTE-EDUCAÇÃO
ÁGUA COMPRIDA E MORRO GRANDE
Desde suas primeiras edições, o Festival de Arte Serrinha realiza um programa de oficinas educativas gratuitas para crianças e adolescentes do bairro da Água Comprida, tendo se expandido em 2008 para o Morro Grande – comunidades rurais nas vizinhanças do bairro da Serrinha. Ministradas por uma equipe de arte-educadores, as atividades envolvem diversas manifestações artísticas. Também são realizadas visitas à fazenda, de forma que os participantes entram em contato com as oficinas do festival e com as obras resultantes, e têm a oportunidade de conhecer o processo de recuperação ambiental em curso na fazenda. Artes visuais, cinema, gastronomia, moda, música e teatro são algumas das linguagens trabalhadas pelos professores e por convidados do festival, como o músico Naná Vasconcelos, a chef de cozinha Morena Leite e os educadores do Instituto Socioambiental. Ainda de acordo com os objetivos do núcleo, em algumas edições do evento a programação se estendeu para a cidade de Bragança Paulista, e contou com espetáculos abertos ao público.
158
159
Reduto de utopia criativa BENÉ FONTELES, 2011
Foi ainda na década de 1980 que conheci a Serrinha, a convite
em que Rochelle Costi e Fernando Limberger
experiências sensoria
dos amigos Fabio e Marcelo Delduque. Já encantado pelo lugar,
se impuseram como desafio as seguintes
ambiente que os irm
foi só prazer poder fazer parte, desde as primeiras edições, do
metas: ocupar, organizar, preservar, conviver,
sábios pais, os educa
festival de arte que invadiu esse belo espaço natural tão perto e
transformar, sobrepor, catalogar e permanecer.
Marcos Silveira; e a f
tão longe da loucura urbana da capital paulista. Além da amizade com os produtores, outros pontos me
Essas são, em essência, as propostas do
Zezé, Davi e Leo – lu
festival como um todo. Durante quase um mês,
se um equilíbrio entr
uniam ao evento: nasci no Pará, na cidade de Bragança, às
a Serrinha se transforma em um território de
que já o habitam e o
margens do rio Caetés; e é ali, em outra Bragança, Paulista, às
vivências criativas, e, muito além disso, um
inesquecíveis de tant
margens de uma grande represa, que fica a sede do festival
campo ampliado de consciência humanística.
sonhados.
de arte menos careta do país, instalado para ficar por pura
Na Serrinha se busca uma harmonia possível
Por esses dias de so
teimosia de um grupo de amigos sonhadores e, sobretudo, pela
com a vida dura da cidade e as vicissitudes da
mágicos, passou gen
tenacidade do artista Fabio Delduque.
contemporaneidade, cada vez mais virtuais
artística e humana, s
e bem menos virtuosas. Temos, nos dias de
alumbrar a vida. Gen
em eventos culturais – de um festival de formato tão informal
festival, um tempo de pausa e silêncio para
apresentado shows,
e interativo. O convívio entre as diversas linguagens artísticas
compreender e reavaliar nossa forma de lidar
ou participando dos
se dá com tal interdisciplinaridade e organicidade que chega a
com o outro, esse desconhecido que também
provocados por subv
causar espanto – e alegria. Ainda, há uma grande e constante
nos habita.
dos costumes e das li
Nunca havia participado – em quatro décadas de experiências
potência inspiradora que advém do diálogo harmonioso
Sugerem isso os dias de partilha e
que pareça, tudo sem
entre seres humanos e uma natureza singular, da qual nos é
amorosidade nas oficinas, que sempre se
do progresso instituc
impossível separar.
abrem para as novidades, e o inusitado
nas conversas inform
das outras atividades, que acontecem em
das tantas fogueiras
de experimentar, com extrema liberdade, a natureza como
espaços próximos – além da surpresa dos
contemplando na es
vivência sensorial; uma natureza que quer entusiasmar
acontecimentos casuais operados pela
só visíveis longe das
os sentidos enquanto educa o corpo e a alma para uma
natureza. O festival propõe, subliminarmente,
cercam a Serrinha, fa
nova relação com o ambiente, e que suscita outras formas
novas, delicadas e positivas formas de lidar
últimos redutos da u
perceptivas de ver e sentir o âmbito do desconhecido.
com as diferenças e com nós mesmos.
O Festival de Arte Serrinha propõe total imersão no desafio
Dentre as muitas experiências coletivas propostas durante o
A Serrinha me possibilitou as mais profundas
evento, destaco, por expressar de forma exemplar o espírito
experiências de troca com participantes de
que impera na Serrinha, a oficina “Invenção de uma ilha”,
oficinas que facilitei, e também riquíssimas
166
e Fernando Limberger
experiências sensoriais, no corpo a corpo com o
safio as seguintes
ambiente que os irmãos Fabio e Marcelo; seus
ar, preservar, conviver,
sábios pais, os educadores Regina Delduque e
catalogar e permanecer.
Marcos Silveira; e a família Oliveira – Carlão,
a, as propostas do
Zezé, Davi e Leo – lutam para preservar. Busca-
Durante quase um mês,
se um equilíbrio entre o espaço e aqueles
a em um território de
que já o habitam e os que transitam nos dias
uito além disso, um
inesquecíveis de tantos julhos já somados – e
nsciência humanística.
sonhados.
uma harmonia possível
Por esses dias de sonho real, fascinantes e
ade e as vicissitudes da
mágicos, passou gente da mais alta qualidade
ada vez mais virtuais
artística e humana, sempre pronta para
Temos, nos dias de
alumbrar a vida. Gente ministrando oficinas e
pausa e silêncio para
apresentado shows, partilhando em palestras
ar nossa forma de lidar
ou participando dos muitos processos criativos
onhecido que também
provocados por subversivos e transgressores dos costumes e das linguagens. E, por incrível
de partilha e
que pareça, tudo sempre dentro da ordem e
as, que sempre se
do progresso institucional. Gente circulando
es, e o inusitado
nas conversas informais no bar e café, ao redor
ue acontecem em
das tantas fogueiras em noites de lua, ou
m da surpresa dos operados pela
opõe, subliminarmente,
ivas formas de lidar
contemplando na escuridão as infinitas estrelas só visíveis longe das grandes cidades que cercam a Serrinha, fazendo-a de ilha, um dos últimos redutos da utopia criativa na Terra.
m nós mesmos.
ilitou as mais profundas
om participantes de
também riquíssimas
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ARTISTAS E CRONOLOGIA
OFICINEIROS, PALESTRANTES E INSTALADORES
AGNALDO FARIAS
BENÉ FONTELES
168
CARLOS RENNÓ
AGNALDO FARIAS
ALBANO AFONSO
ALICE RUIZ
ANGÉLICA DE MORAIS
BENÉ FONTELES
BETE COELHO
BIJARI
CAIO REISEWITZ
CARLOS RENNÓ
CLÁUDIA ASSEF
TATIANA E CLÁUDIO FEIJÓ
DANIELA BOUSSO
DENISE MATTAR
DIONÍSIO NETO
DORA LONGO BAHIA
DUDI MAIA ROSA
HAROLDO ALVES
DUDU TSUDA
EDER SANTOS
EDUARDO BARCELLOS
EDUARDO BRANDÃO
IATÃ CANNABRAVA
EDUARDO SRUR
ELISA STECCA
FÁBIO CARVALHO
FERNANDO LIMBERGER
JUM NAKAO
FREI PEDRO PINHEIRO
GALENO DE ALMEIDA
GUILHERME LEME
GUSTAVO GODOY
LEDA CATUNDA
HAROLDO ALVES
HELENA IGNEZ
HUGO FRANÇA
IARA JAMRA
UARDO BRANDÃO
IATÃ CANNABRAVA
IRMÃOS CAMPANA
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
JOSÉ LUÍS SILVA
RNANDO LIMBERGER
JUM NAKAO
JUSSARA RODRIGUES
KARLLA GIROTTO
LAURA VINCI
LEDA CATUNDA
LÚ BRITES
LUCAS BAMBOZZI
LUCIA KOCH
UDI MAIA ROSA
USTAVO GODOY
LUCIANA MARTINS E GERSON DE OLIVEIRA
LUIS MELO
LUIZ HERMANO
MADALENA BERNARDES
PATRÍCIA PALUMBO
MARCELO ARAÚJO
MARCO GIANNOTTI
MARCOS SUZANO
MÁRIO MANTOVANI
RENATO LOPES
MARTA VAZ
MORENA LEITE
NÁ OZZETTI
NANÁ VASCONCELOS
RONALDO FRAGA
NAZARETH PACHECO
NEKA MENNA BARRETO
NINA MORAES
NUNO RAMOS
TEATRO DA VERTIGEM
ADALENA BERNARDES
PATRÍCIA PALUMBO
PAULO PASTA
RAFAEL VOGT MAIA ROSA
RAqUEL COUTINHO
ÁRIO MANTOVANI
RENATO LOPES
RICARDO BARRETO
ROCHELLE COSTI
RODOLFO GARCIA VÁSqUEZ
ANÁ VASCONCELOS
RONALDO FRAGA
RONALDO PITOMBO
SANDRA CINTO
SÔNIA USHIYAMA
UNO RAMOS
TEATRO DA VERTIGEM
VIRGÍNIA DE MEDEIROS
173
ARTE NA NATUREZA | 2002
| OFICINAS Carlos Fajardo | Uma reflexão sobre as relações entre paisagem, arquitetura e instalação Dudi Maia Rosa | Pintura aberta Eduardo Barcellos | Fotografia – sentir com os olhos Laura Vinci | Escultura – o dentro e fora Luiz Hermano | Land art – experimentos na paisagem Ricardo Barreto | Cultura digital – a arte na época da Internet
| SHOWS Karnak Manimal Moska Paula Lima Renato Cigano
| TEATRO Por água abaixo | Ângela Dip Nada de novo | Parlapatões
174
ARTE NA NATUREZA | 2003
| OFICINAS
| SHOWS
Agnaldo Farias | Introdução à arte contemporânea
Elba Ramalho
Bené Fonteles | Sensibilização, percepção e invenção musical
Manimal
Bete Coelho | Workshop de interpretação teatral
Mart’nália
Carlos Fajardo | Instalação e fotografia
Mauricio Tizumba
Dudi Maia Rosa | Pintura aberta
Tom Zé
Eduardo Barcellos | Prática fotográfica Haroldo Alves | Consciência corporal Iara Jamra, Gilda Vogt Maia Rosa e Joca da Cunha | Festival infantil Irmãos Campana | Criação e construção de objetos José Celso Martinez Corrêa | Leitura dramática José Luis Silva | Literatura – considerações sobre Ernesto Sábato Marcos Suzano | Percussão Nina Moraes | Colagem e bricolagem Paulo Pasta | Pintura RONALDO PITOMBO | Oficina de pães
| PALESTRA Gerson de oliveira NAZARETH PACHECO SANDRA CINTO
176
Arte: Luiz Christello / Foto: Ana Urban
/ Foto: Ana Urban
DESVENDANDO O GRANDE LABIRINTO | 2004
| OFICINAS
| SHOWS
Bené Fonteles | O grande labirinto – construção vivencial
Alta Fidelidade
Carlos Fajardo | Instalação
Banda Ôxe
Carlos Rennó | Oficina de letras e músicas
Dj Marcelinho e Beatchoro
Dudi Maia Rosa | Pintura aberta
Marcos Suzano
Eduardo Barcellos | Prática fotográfica
Mercado Do Peixe
Fernando Limberger e Rochelle Costi | Invenção de uma
Soulzé
ilha – instalação e fotografia
Superfly
José Celso Martinez Corrêa | Montagem teatral – O bailado
Totonho e Os Cabra
do Deus morto, de Flávio de Carvalho
Vj Bijari
Luciana Martins e Gerson De Oliveira (ovo) | Design na
Zé De Riba
natureza
Música eletrônica: Dj Tim Adams,
Luiz Hermano | Invertendo a paisagem – intervenções de arte
Alaister Stewart, Russel Skellon,
na natureza
Dopamania A.K.A, Dj Gus
Marcos Suzano | Prática de pandeiro Marta Vaz | Modelagem de massa cerâmica e queima primitiva Neka Menna Barreto | Banquete para os homens e para os animais
178
| INSTALAÇÕES Bené Fonteles Fernando Limberger Luiz Hermano
Arte: Fernando Limberger e Rochelle Costi
eatchoro
im Adams,
ussel Skellon,
Gus
er e Rochelle Costi
EM BUSCA DA ESSÊNCIA | 2005
| OFICINAS Caio Reisewitz | Ensaio fotográfico Carlos de Oliveira e João Belezia | Culinária típica da Serrinha Carlos Fajardo | Instalação – projeto coletivo para lugar específico Dudi Maia Rosa | Pintura aberta Eduardo Barcellos | Prática fotográfica Haroldo Alves | Expressão corporal Leda Catunda | Pintura contemporânea Lucas Bambozzi | Cartões-postais – execução de pequenos vídeos Renato Lopes e Cláudia Assef | Oficina de DJ Ronaldo Fraga | De ponto em ponto a moda constrói nós Sandra Cinto e Albano Afonso | Instalação
| SHOWS Elba Ramalho Jumbo Elektro DJs Renato Lopes, Claudia Assef e Gus VJ Bijari
180
Foto: Ana Urban
Foto: Ana Urban
TUDO SE TRANSFORMA | 2006
| OFICINAS
| PALESTRAS
Caio Reisewitz | Ensaio fotográfico
Agnaldo Farias
Carlos Fajardo | Instalação
Daniela Bousso
Carlos Rennó | Composição de canções
Eduardo Brandão
Dionísio Neto | Interpretação para leituras dramáticas
Jum Nakao
Dudi Maia Rosa | Pintura aberta
Rafael Voght Maia Rosa
Elisa Stecca | Adornos e objetos Guilherme Leme | Montagem teatral Helena Ignez | Cinema em ação – construção de um filme Jum Nakao | Moda – construindo seus próprios caminhos Ná Ozzetti | A voz como instrumento de expressão Ronaldo Fraga | Croquis e ideias para vestir Sandra Cinto | Desenho Sônia Ushiyama | Figurino de teatro
| SHOWS Arnaldo Antunes Fernanda Porto Junio Barreto Nação Zumbi
182
| INSTALAÇÕES Albano Afonso Bijari
Rosa
DESPERTAR DOS SENTIDOS | 2007
| OFICINAS
| PALESTRAS
Caio Reisewitz | Fotografia
Carlos Fajardo
Agnaldo Farias | Três (des)encontros sobre arte
Daniela Bousso
contemporânea
Marco Giannotti
Cláudio Feijó | Descondicionamento do olhar
Nuno Ramos
Dudi Maia Rosa | Pintura aberta
BijaRi
Karlla Girotto | Moda Leda Catunda | A imagem na pintura contemporânea Madalena Bernardes | Voz em movimento Morena Leite | Sarau gastronômico Naná Vasconcelos | Sons da floresta
| SHOWS Cérebro Eletrônico Céu DJ Gus Druques Leptospirose Mariana Aydar Vitrola Sintética BijaRi | Por que lutamos?
| INSTALAÇÕES Eduardo Srur Gustavo Godoy
| CINE RANCHO A marvada carne | André Klotzel Canção de Baal | Helena Ignez Cão sem dono | Beto Brant Durval Discos | Anna Muylaert Itinerâncias Videobrasil | curadoria Solange Farkas Jogo subterrâneo | Roberto Gervitz Memória póstumas | André Klotzel Tendrel, rede interdependente | Andréa Velloso
184
Arte: Gustavo Godoy / Foto: Miguel Uchôa
ndré Klotzel
elena Ignez
rant
Muylaert | curadoria
oberto Gervitz
ndré Klotzel
ndente | Andréa
oto: Miguel Uchôa
NATUREZA DÁ ARTE | 2008
| OFICINAS
| PALESTRAS
Alice Ruiz | Haikai – técnica e prática
Agnaldo Farias
Bené Fonteles | A casa dos sentidos – ocupação de um espaço
Caio Reisewitz
Dora Longo Bahia | Pintura – o museu do vazio
José Celso Martinez Corrêa
Dudi Maia Rosa | Pintura aberta
Mario Mantovani
Fernando Limberger | Exercícios práticos e reflexões sobre a
Patrícia Palumbo
paisagem e o paisagismo
Rafael Vogt Maia Rosa
Frei Pedro Pinheiro | Desenho de observação Guilherme Leme | Performance e happening Hugo França | Design sustentável – natureza como suporte Iatã Canabrava | Ensaio fotográfico – um olhar sobre o outro e sobre si mesmo Jussara Rodrigues e Regiane Rocha | Yoga Karlla Girotto | Vivência e investigação em um espaço natural – moda e instalação Laura Vinci | Instalação e o espaço contemporâneo Lucas Bambozzi e eder Santos | Vídeos, projeções e instalações em ambientes inóspitos Morena Leite | Sarau gastronômico Raquel Coutinho | Tambor
| SHOWS AndrEia Dias Cérebro Eletrônico Moska Raquel Coutinho
186
| INSTALAÇÕES Floriana Breyer
| CINE RANCHO Crime delicado | Beto Brant Dama do Cine Shangai | Guilherme de Almeida Prado Itinerância Videobrasil | curadoria Solange Farkas
CorrĂŞa
osa
Brant
| Guilherme de curadoria
A CONSTRUÇÃO DE UMA OBRA | 2009
| OFICINAS
| INSTALAÇÕES
Alice Ruiz | Haikai
Dudu Tsuda
Bené Fonteles e Fabio Delduque | Residência artística
Lucia Koch
Elisa Stecca | Moda Hugo França | Design natural Iatã Canabrava | Ensaio fotográfico Teatro da Vertigem | Montagem teatral
| SHOWS
| CINE RANCHO Árido movie | Lírio Ferreira Baixio das bestas | Cláudio Assis Se nada mais der certo | José Eduardo Belmonte
Dj Thunderbird Druques Garotas Suecas Leptospirose Márcia Castro Mariana Aydar The Biggs
| PALESTRAS Angélica de Morais Daniela Bousso Frank Mora Patrícia Palumbo Satyros
188
Arte: Luiz Christello
erreira
láudio Assis
| José Eduardo
rte: Luiz Christello
ARTE NA NATUREZA | 2010
| OFICINAS
| CINE RANCHO
Caio Reisewitz | Fotografia
É proibido fumar | Anna Muylaert
Carlos Fajardo | Projeto residência
Heróis da liberdade | Luca Amberg
Dora Longo Bahia | Projeto residência
O amor segundo B. Schianberg | Beto
Dudi Maia Rosa | Desenho
Brant
Jum Nakao | Moda Lú Brites | Dança Lucas Bambozzi e eder Santos | Vídeo Luis Melo | Teatro Morena Leite | Gastronomia
| SHOWS Bárbara Eugênia Edgard Scandurra Otto Tigre Dente de Sabre
| PALESTRAS Bené Fonteles Denise Mattar Marcelo Araújo
| INSTALAÇÕES Hugo França Virgínia de Medeiros
190
nna Muylaert
uca Amberg
ianberg | Beto
experience of recalling an Beuys confined in a galler rural landscape from the a dog appeared out of no
P. 20 Enquadrando a paisagem Luiz Hermano
ENGLISH VERSION
P. 16 The art of encounter The real world is art. Art is the unknown. It whispers our privilege at existing, celebrates life. Thus art wants to be lived: as something that never, ever ends. But it does end. And we are left with the problem of knowing how to live when art dies. Like a sprinkler, the Festival de Arte Serrinha has equationed the question of life after the death of art by showering art on everything in life. The festival was born out of the restlessness regarding the future course of a region that endures in an accelerated and disorganized process of transformation; out of the motivation to reconstitute natural space and strengthen relations between people and the environment. And with all this done, to produce positive reverberations – regardless of the scale. The radial nucleus of all the events is divided between two properties, Fazenda Serrinha and Sítio Santo Antônio, home to Galpão Busca Vida, both in the neighborhood of Serrinha, located in the rural zone of Bragança Paulista, São Paulo. Every year for one month in winter – a period when nature withdraws, preparing for rebirth – these two neighbors and brothers embrace, welcome and enlighten all those who come to visit, inviting them to experiment. Just like seeds that come and go, carried by the wind and animals, or deliberately spread by man, which, on taking root, participate in the recreation of the world, art in Serrinha, in all its expressions, is incubated and processed, returning in the form of new, lovely harmonies. A devastated forest will only return to its original condition of abundance if the land it once occupied is left undisturbed. In an analogous way, in the countryside, far from the hustle and bustle of city life, the festival offers a pause in our accelerated contemporary routine – a creative silence – and an immersion into a search for essential values. With no interferences or disturbances, Serrinha opens itself up to creation. It is an open laboratory for artistic experiences that have in nature its raw material, a work in continuous process of construction – in the workshops, debates, informal get-togethers, artistic residences – stimulating production and the many possibilities of interaction between the arts, and between these and the landscape.
198
Space is transformed, people change – and the world, too. In a decade of festivals, the physical achievement seems small, but the echoes are profound. The droplets sprinkled by Serrinha evaporate and come back as condensation, renewing our relief each day. Here one discovers what is clear, though not unsurprising: life is art. P. 18 Under the influence of the medium Rafael Vogt Maia Rosa, 2006 It was in the preface to his book Silence, in 1961, that John Cage mentioned the difference between talking about something and demonstrating this something while talking – a pressing issue at a moment when the composer proposed dissolving the barriers between theory and practice. The idea might sound a little out of date, but it is my departure point to give a brief statement about the Festival de Arte Serrinha, in which I have always participated as a speaker. The workshop process, without doubt the foundation of the event, establishes itself through work in various areas, such as theater, photography, music, cinema and painting, among others. In relation to those that I followed more closely, there was a clear transformation in practice through the influence of factors related to the circumstances of the festival, such as the place, the people involved, their production, the activities related to other languages, the time itself during which all this was played out. On proposing, therefore, to talk about contemporary art in this context it seemed opportune to say something about the survival of the specifics of a medium of artistic expression when the surroundings conspire against any critical distancing, because of something that talks very loud or simply louder: experience. In other words, I saw in these talks the opportunity to try to verbally surround this bordering territory which would be, after all, the place common to all involved. The justification for the possibility of what I would be stating with no knowledge of the cause or without elements for a demonstration of the problem was that I was also, on all these occasions, experiencing frontier space, but from the other side, on the margins of practice and somewhat envious at not painting, for example. As to the specifics of the medium I was using, on thinking of questions about contemporary art, in Serrinha it was summed up for me by the inescapable gap between the
Many years before the Hermano had already exp as a creation space. The l construction of a kind of students, held in 2004. A process, comprising recta and a bridge connecting Throughout several yea of nature, the work has u the ephemeral character disposable materials – suc the empty spaces in the f the completion of the wo purification, giving back t which empty space posse Stripped of any specific itself up to creativity and of art. Among the countl Framing the Landscape, h Dance of the Dead God,
P. 26 Bailado do deus morto José Celso Martinez Co
When visiting Serrinha, affinities with Fazenda Ca Carvalho built the moder artistic experimentation d The rural environment of the Teatro Oficina the Dance of the Dead God, origins of God and the al turned him into a man – Experiência, but was close due to excessive radicality In 2004, José Celso pro the text, recreating this g Serrinha. Fabio Delduque costumes where created Raquel Coutinho. The per God would be repeated, Flávio de Carvalho nº 6, d (2010).
P. 34 Grande espiral [Great Bené Fonteles
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experience of recalling and describing the performance of Joseph Beuys confined in a gallery with the coyote and going to view the rural landscape from the top of a hill, fortuitously accompanied by a dog appeared out of nowhere. P. 20 Enquadrando a paisagem [Framing the landscape] Luiz Hermano Many years before the festival existed, visual artist Luiz Hermano had already experienced Fazenda Serrinha’s potential as a creation space. The local spirit suggested to Hermano the construction of a kind of landscape laboratory, a workshop with students, held in 2004. An installation appeared during the process, comprising rectangular wooden frames, similar to posts, and a bridge connecting the ground to the infinity of an abyss. Throughout several years of existence, subject to the whims of nature, the work has undergone modifications that point to the ephemeral character of the material. During the workshop, disposable materials – such as tires, glass bottles and wire – filled the empty spaces in the frames, but in the time that followed the completion of the work, the artist carried out a process of purification, giving back to the work that potentiality for the new which empty space possesses. Stripped of any specific functionality, the installation opened itself up to creativity and to a dialogue with other manifestations of art. Among the countless forms of interaction and occupation, Framing the Landscape, has already served as the “stage” for The Dance of the Dead God, directed by José Celso Martinez Corrêa. P. 26 Bailado do deus morto [The Dance of the Dead God] José Celso Martinez Corrêa When visiting Serrinha, José Celso Martinez Corrêa noticed affinities with Fazenda Capuava, in Valinhos, where artist Flávio de Carvalho built the modernist house that functioned as a space for artistic experimentation during the first half of the 20th century. The rural environment also brought to the mind of the director of the Teatro Oficina the play conceived by Flávio de Carvalho, The Dance of the Dead God, which tells of the animal and mythical origins of God and the alleged betrayal that is supposed to have turned him into a man – in 1933, the play opened in the Teatro da Experiência, but was closed by the police soon after the first night, due to excessive radicality. In 2004, José Celso proposed a workshop that would work on the text, recreating this great ritual performance in the fields of Serrinha. Fabio Delduque was in charge of the art direction, while costumes where created by Sônia Ushiyama and soundtrack by Raquel Coutinho. The performance of The Dance of the Dead God would be repeated, in a new version, entitled Experiência Flávio de Carvalho nº 6, during the 29th São Paulo Biennial (2010). P. 34 Grande espiral [Great Spiral] Bené Fonteles Great Spiral (2004), conceived by Bené Fonteles and constructed during a workshop with students, has proportions and features that bring it close to the great works of land art – in particular to a landmark in this artistic movement: Spiral Jetty
(1970), by American artist Robert Smithson. For Bené – who brings together in his works elements from visual arts, music and literature and carries with him the knowledge of the earth that living in seven Brazilian states has provided – Great Spiral, besides being a work of art, is a place for communing with, meditating and reflecting on and interacting with the landscape in the Serrinha region. Composed of 16,000 bricks from local brickworks, the spiral houses small gardens of ornamental plants and aromatic herbs in its interior. A 12-meter eucalyptus mast was erected in the center of the work for the banner of peace – a symbol created by Russian artist Nicholas Röerich to signal the neutral status of museums, schools and cultural landmarks during World War I – which is hoisted in a ritual around a bonfire, with music and dancing, and is then left to the whim of the wind. P. 40 Fértil [Fertile] Fernando Limberger Three individual works make up the installation Fertile (2003), by artist and landscape designer Fernando Limberger. The work sprang from an investigation into the history of Serrinha, and began with this question: how has the farm space been occupied over time? Over four generations in succession, coffee cultivation, dairy farming, eucalyptus plantations, the extraction of clay for local brickworks and environmental conservation have been the main activities at Fazenda Serrinha. At the beginning of the current cycle, in which the farm is being gradually turned into an ecological reserve, a vivarium of forest species seedlings was created with a view to restoring Atlantic Forest vegetation in deforested areas. Some lands affected by erosion have been fenced in to keep cattle and horses at bay, resulting in “islands” in the middle of pastureland, allowing the eroded areas to “heal”, and the native vegetation to develop fully. Incorporating the concept of “islands” and entering into a playful dialogue with the historical process and with natural scenarios, the artist installed brightly colored enclosures in strategic points around the farm, boxing them in with the typical fences used in the region. The colors, obviously artificial, contrast with the surroundings in which they were placed, functioning as signs throughout the landscape. In 2003, the year the work was assembled, Fertile also incorporated a mosaic of small individual pieces that made up a temporary installation in the vivarium and the kitchen garden. P. 48 Mula sem cabeça [Headless Mule] Bijari The installation Headless Mule took as its conceptual base the series of attacks by an outlaw militia, the PCC (acronym for The First Capital Command, in Portuguese), on public institutions, banks and mainly military police stations. These began on May 12th, 2006 in the city of São Paulo – just a little before the festival of that same year. The idea of the element of fire as a symbol of conflict was interpreted by members of the Bijari collective as an evocation of the folklore legend of the headless mule – according to which every woman who has amorous thoughts or relations toward a priest is transformed into a scary beast. 199
Installed in the natural environment of Fazenda Serrinha, the figure – which emits tongues of flame where the head should be, and which represents the lack of reason – was perfectly associated to the idea of building in that place a work whose purpose was to unveil the latent social conflicts behind the attacks held that year in São Paulo. Signs announcing the distance to the work showed, among others, images of buses, money and hearts being burned, leading visitors through the farm’s bucolic landscape, in an intriguing counterpoint – a type of “political ecotourism”. P. 54 (I)mobiliário [(Im)mobile] Gustavo Godoy Fazenda Serrinha’s process of reforestation inspired Gustavo Godoy to create (I)mobiliário (2007/08), an installation in which domestic chairs and stools function as extensions to the eucalyptus branches they are attached to – as if they were leaves or fruit After being cut down, the eucalyptus branches were left to dry, removed from their original geographical location and fixed in a flat area of pastureland. For Gustavo, the installation has the dead trees returning symbolically to their condition when alive, repopulating the deforested surroundings. They are, as the artist explains, immobile furniture and mobile trees. The replanted tree skeletons seem to scream so that reforestation can advance in that arid, unprotected, sun-bleached area. The reutilization of materials also attempts to rescue man’s own existence through discarded waste and the superimposition of meanings by the association of objects and images, proposing the spectator reflects on his/her own condition. P. 60 Casa na árvore [Tree house] Floriana Breyer Artist and environmental activist Floriana Breyer built her Tree House (2007) in an atypically leafy eucalyptus tree. In the various stages between conception and execution, elements of artistic installation, tree rappelling, building technique experimentation and performance mixed together. Engineer-climber Peetsa took part in the assembly. When ready, the space became a lookout point for contemplative silence, a platform to commune, breathe and rest, offering an original point of view of the surrounding nature. For the artist, contemporary man, conditioned to a utilitarian relationship with the environment, of which he no longer sees himself as part, creates a fragmented world, where contemplation and nature are kept at a distance from his body. As a counterpoint, with Tree House, Floriana widens the possibilities of experiencing space and suggests new ways for the body to inhabit it, providing a taste of intimate contact with nature. During the month of July 2007, the artist made this tree house her home. P. 68 Purple rain Lucia Koch Natural light – a fundamental element in the history of painting 200
– and its various effects are worked on by Lucia Koch in Purple Rain (2009), a temporary chromatic installation composed of an eucalyptus structure partially covered by a film of violet PVC, built on a section of sloping pastureland on the farm. On entering the space, the visitor was able experience the world through an altered color scale, in an environment in constant mutation, oscillating throughout the day according to atmospheric conditions. At certain times, for example, the color purple simulated the effect of black light inside the small construction, while altering perception of the surrounding landscape. P. 72 Design natural [Natural Design] Hugo França The designer Hugo França brought to Serrinha a process similar to what he has been developing for almost two decades in the Atlantic Forest of southern Bahia: the creation of objects – utilitarian or not – using tree debris found on trips through the forest. In two years of workshops, he has incorporated into the farm a series of works and furniture, the product of work with students. Respecting the forms, curves, and original textures of the wood, the artist incorporates into the project holes, cracks, burn marks and others made by time. The final form is a blend of original expressivity of raw material with a human action. Although the result is, in general, objects of practical use, Hugo seeks to provide an experience of approximation with nature. His work method begins with the tree and, in a certain way, ends there too, by incorporating its marks in a cyclical motion that moves in a natural rhythm. P. 78 De ponto em ponto a moda constrói nós [Stitch by stitch, fashion makes us] Ronaldo Fraga Clothes are a fiction narrative, whose plot carries elements of the history of whomever designed and sewed them. With this provocative assertion as a starting point, fashion designer Ronaldo Fraga distributed samples of his 2005/06 summer collection – Deconstructing Nilza , a homage to his oldest dressmaker– among the participants in his workshop on the farm so that each one could rework them in their own personal way. The clothes thus gained new configurations and meanings and began to accumulate a multiplicity of experiences, translated into the sewing, colors and embroidery. In a collaborative process with video artist Lucas Bambozzi, the workshop students had their faces filmed in close up, while they reminisced about their lives. The final result was a show, in which their testimonies were projected onto the clothes, each item of which, in their turn, the students had imprinted with their work developed over a period of shared experience and reflection. P. 84 Nature’s Jewels Elisa Stecca Out in landscape, cataloguing the farm’s natural elements, such as stones, branches, and leaves, designer Elisa Stecca proposed an immersion in a process of collaborative construction, in which
she sought to mix materia metal glass, plastic and o The workshop that too on the tenuous and often decorative and the artistic in sight throughout her p Painstakingly held toge inserted into the landscap a relationship of symbiosi the spontaneity of Serrinh workshop was jewels tha one can find the epheme character of creation, dire compulsive creation, mot
P. 88 Canção de Baal [Baal Helena Ignez
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m’s natural elements, such Elisa Stecca proposed e construction, in which
she sought to mix materials she came across with objects made of metal glass, plastic and other industrialized materials. The workshop that took place in 2006 focused the whole time on the tenuous and often blurred line between the artisanal, the decorative and the artistic – a boundary that Elisa has always kept in sight throughout her professional career. Painstakingly held together, the created objects were inserted into the landscape in a harmonious way, constituting a relationship of symbiosis between human invention and the spontaneity of Serrinha’s gardens. Thus, the result of the workshop was jewels that function somehow as amulets, in which one can find the ephemeral character of fashion and the eternal character of creation, directing students towards pleasurably compulsive creation, motivated by the power of execution. P. 88 Canção de Baal [Baal’s Song] Helena Ignez Initially conceived as a short film, to be made during the cinema workshop of 2006, Baal’s Song, by director and actress Helena Ignez, gained impetus and entered the atmosphere of the festival, resulting in a full-length feature film. It was entirely shot in Serrinha over two months. The work is a free adaptation of the first play written by Bertolt Brecht, the German dramatist who has inspired Helena’s entire career. This “guerrilla film”, as it has been classified, eschews conventional format. It is a cinematographic experiment, which opens up a dialogue between theater, music, the visual arts and architecture. The role of protagonist is played by Carlos Careqa. He interprets poet and composer Baal, who rejects the banality of everyday life and despises institutionalized society, giving himself up to a Dionysian, orgiastic life. The cast also includes Beth Goulart, Djin Sganzerla and Simone Spoladore, among others. Caricatural, irreverent and extravagant, Baal witnesses the emptiness that reigns in the contemporary world, in which thought and action are anaesthetized by sameness. It falls to art to offer transcendence and resistance. Baal’s Song has already been screened at various cinematic events throughout the world, including Le Marché du Film, a film event that takes place alongside the Cannes Festival, in France; the Trieste Film Festival, Italy; and the Midnight Movies section of the Festival do Rio. It received the Critic’s Award and Prize for Best Art Direction for Fabio Delduque, at the 37th Festival de Cinema de Gramado (2009). P. 96 Onstage bodies Teatro da Vertigem The workshop given by the Teatro da Vertigem at the Festival de Arte Serrinha in 2009 was based upon one of the most fundamental of the group’s principles: the creation of scenes through sensory experiences, workshops and improvisations. With Guilherme Bonfanti, Eliana Monteiro and Sergio Siviero as coordinators, the group passed on the creative techniques used in such spectacles as O paraíso perdido, O livro de Jó and Apocalipse 1,11 – the so-called Bible trilogy – and BR-3, staged on the waters and banks of the Tietê River, in São Paulo. During the festival activities, works with automatic writing and personal testimonies, among other techniques commonly employed by the company for their presentations, were reworked. The exploration of performance space is another fundamental
dramatic element in Teatro da Vertigem productions, and this was utilized to the full in Serrinha’s inspiring gardens. The week of intense shared experience, including a night’s vigil, resulted in a presentation that added other artistic languages, in which the bodies of the actors performed against a mixed scenario of natural landscape, artificial lighting and video projection. P. 100 Fragmentos de um ensaio amoroso [Fragments of a Loving Rehearsal] Guilherme Leme Using the reading of several texts and the development of a series of exercises as a departure point, students attending the workshop given by theater director Guilherme Leme in 2006 initiated an intense process of creation which resulted in Fragments of a Loving Rehearsal. Costume designer Sônia Ushiyama and choreographer Tatiana Guimarães collaborated to the drama, which was staged, incorporating elements from the visual arts suggested by the environment, in Serrinha’s spacious main studio, which generally hosts activities connected to painting and drawing. The performance began with the actors in total silence, wearing white costumes in an equally white set. The drama gradually took on a cathartic air and the characters began to fill the silence with words – spoken, written or drawn. The neutrality of white gave way to the power of red as inertia and absence were filled with the warmth of a lover’s discourse. P. 104 Caos [Chaos] Fabio Delduque and Haroldo Alves A mixture of installation, performance and theater, Chaos is a work in progress, conceived over a decade by Fabio Delduque and Haroldo Alves. In the period from 1993 to 2003, it occupied several unusual spaces, from neighborhood theaters to a brickyard, finding fertile space for its development in the festival. The performance shows a man being born out of clay entrails – the genesis of man? – then ascending through purification in water. The creators utilized Delduque’s experience in the visual arts and that of Alves in Butoh and Afro dance, also benefiting from collaboration with director Guilherme Linhares. Besides clay, the work has incorporated, in its many versions, materials of different natures, such as discarded wood, cans and construction materials, arranged in chaotic order, like the supposed confusion of the world before creation (kháos). P. 108 para dentro – para fora [inwards – outwards] Caio Reisewitz In three years of coordinating experiences, between comings and goings along Serrinha’s tracks and trails artist and photographer Caio Reisewitz produced a small photographic essay in which he clearly shows his creative method, in constant search of silence, which materializes in carefully studied compositions. Although rigor is not an element of Reisewitz’s work with his students, the conception of images is an integral part of the friendly daily routine in the workshops, where participants were encouraged to delve deep inside themselves. 201
These images reveal a region with no intention of documenting, but with the intensity of a tender, contemplative eye mixed with acid, good-humored political criticism. P. 114 Installation Park Since restoration of the Atlantic Forest, biodiversity and natural processes began on Fazenda Serrinha, each human intervention carried out there has been thought over, planned and executed starting from the premise that its result should produce the minimum impact on the environment, or preferably be beneficial to it. Through the farm’s very vocation – frequented by artists and used as a production space long before the existence of the festival – the installation park, in a constant movement of creation and re-creation, has been an intrinsic artistic component of this process. The installations are the “footprints” left by these artists, who strengthened the recuperation of the natural environments on giving them a new meaning and experiencing them in a harmonious, free way. As far as purely artistic components are concerned, one aspect that merits special mention, because it signals the contemporaneity of this production, is the space it occupies. Linked to a tradition that began in the 1960s, the works do not fit into the neutral spaces of museums and art galleries – the socalled white cubes – but demand new occupation possibilities. They are works that widen the forms of aesthetic reception and open themselves up to multiple relationships of interaction not only with people, but also with all the surrounding animal and vegetable species. Works constructed specifically for those spaces (site specific art), they have a dynamic, living character, incorporating the action of time in their constitution, which makes them resemble living organisms. Some are permanent; others disappear, at the mercy of the weather. Besides those presented in the book, works by Carlos Fajardo, Virgínia de Medeiros, Dudu Tsuda, Humberto Brasil, Eduardo Srur and Rochelle Costi can, or not (since some are still at the project phase), surprise the visitor who strolls around the farm. P. 128 Studios Processes From the boteggas of Renaissance Florence, where painting and sculpture were taught, to the so-called media lab, home to research on art and technology, the history of art tells us of the various spaces destined for artistic creation that suit the specifics of techniques and languages. At Fazenda Serrinha, some spaces have been constructed and some have been adapted – the latter previously served, for example, as milking parlors or storage space for coffee – becoming hybrid areas suited to the development of the diverse forms of art that the contemporary world allows to be created. In addition to the process of artistic creation, this multifunctional character permits the use of workshops, talks, small musical presentations, and film and video screenings. The spaces are versatile and gain new configurations and colors with each activity that takes place in them, functioning as veritable experimental laboratories. The festive atmosphere that surrounds the festival makes the studios meeting points for artists, workshop participants and the members of the public who visit the farm. 202
P. 144 Busca Vida Brazilian music Standing on the shores of the Jacareí River reservoir, the shed that used to be the milking parlor on Sítio Santo Antonio and that also served as accommodation for friends returning from nocturnal horse riding trips in the Serrinha region became in 1997 Galpão Busca Vida, a venue that stands out for its originality in transporting a bohemian atmosphere and good Brazilian music to the rural environment. The décor has preserved elements of the farm, the milking parlor and the stables, also utilizing parts of theatrical sets, antiques and works of art, mixing all these elements with humor and elegance. Galpão Busca Vida has become a cultural landmark in the São Paulo countryside through bringing to its tiny stage such important artists from the Brazilin music scene as Arnaldo Antunes, Elba Ramalho, Mart’nália, Moska, Nação Zumbi, Céu, Tom Zé and Zeca Baleiro, as well as including a democratic element that gives equal space to young local musicians. Besides holding exhibitions, auctions and diverse festivities, it is the center of the Festival de Arte Serrinha’s music program. There is a genuine local creation that is just as memorable as the eclectic program in such a unique place: the Busca Vida drink. Born here, based on a traditional recipe, the liquor’s mixes sugarcane rum, honey, lime and some secret ingredients. It is now nationally famous and is produced on an industrial scale, with distribution throughout Brazil and abroad. P. 154 Cine Rancho Brazilian cinema screenings Cine Rancho takes place before the festival and is held on a farm in the neighboring municipality of Piracaia, screening national full-length feature films, followed by conversations with directors. The place is interesting: the projection room functions in an annex to a rural pizzeria; the floor is covered with eucalyptus leaves and charcoal braziers provide the heating. Sofas and hammocks serve as the seating. Anna Muylaert, Beto Brant, Guilherme de Almeida Prado, André Klotzel, Lírio Ferreira and Cláudio Assis are some of the directors who have given accounts of their experiences in film making during informal conversations “by the screen”. P. 158 Art-education Nucleus Água Comprida and Morro Grande From its early days, the Festival de Arte Serrinha has held a program of free educational workshops for children and adolescents from Água Comprida, expanding in 2008 to Morro Grande – both rural communities near the Serrinha neighborhood. Given by a team of art-educators, the activities involve diverse artistic manifestations. There are also visits to the farm, so that the participants can have contact with the festival workshops and the resulting works, and also have the opportunity to get to know the process of environmental recovery in progress on the farm. Visual arts, cinema, gastronomy, fashion, music and theater are some of the areas dealt with by the teachers and by festival guests, such as musician Naná Vasconcelos, chef Morena Leite and art teachers. According to the objectives of the group, the program is sometimes extended to the city of Bragança Paulista, and includes shows open to the public.
P. 166 Haven of creative utopia Bené Fonteles, 2011
It was still in the 1980s invitation of friends Fábio enchanted by the place, i the early days, in an art fe space so near yet so far fr Paulo. Besides my friendship w me to the event: I was bo the banks of the Caetés R time Paulista, on the shor most unconventional art sheer obstinacy of a grou tenacity of artist Fábio De I had never taken part of cultural events – in suc The mixture of diverse art interdisciplinarity and org and joy. In addition, there comes from the harmonio a unique nature, which it The Festival de Arte Se the challenge to taste, wi experience; a nature that educating the body and s environment, and which seeing and feeling the wo Among the many colle the event, I would single spirit that reigns in Serrin workshop, in which Roch themselves the challenge occupying, organizing, pr superimposing, catalogui These are, essentially, t For almost a month, Serri experiences, and much m humanistic conscience. In Serrinha there is a se tough city life and the vic more virtual and less virtu to pause and silence to u dealing with the other, th This is suggested by th are always open to the ne taking place in nearby spa happenings operated by n proposes new, delicate, p and with ourselves. Serrinha has provided m of exchange with particip to very rich sensory exper environment that brother educators Regina Delduq family – Carlão, Zezé, Dav search for a balance betw and those who visit on th Julys and those we dream Over those fascinating of people of high artistic always ready to illuminate present shows, sharing ta
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P. 166 Haven of creative utopia Bené Fonteles, 2011 It was still in the 1980s that I got to know Serrinha at the invitation of friends Fábio and Marcelo Delduque. Already enchanted by the place, it was pure pleasure to take part, from the early days, in an art festival that invaded this lovely natural space so near yet so far from the madness of the state capital, São Paulo. Besides my friendship with the producers, other points linked me to the event: I was born in Pará, in the town of Bragança, on the banks of the Caetés River, and it is in another Bragança, this time Paulista, on the shores of a large reservoir, that the country’s most unconventional art festival is held, there to stay through the sheer obstinacy of a group of dreamer friends and, above all, the tenacity of artist Fábio Delduque. I had never taken part – in four decades of experience of cultural events – in such an informal, interactive festival. The mixture of diverse artistic languages happens with such interdisciplinarity and organicity as to actually cause amazement – and joy. In addition, there is a great, constant inspiring power that comes from the harmonious dialogue between human beings and a unique nature, which it is impossible to separate ourselves from. The Festival de Arte Serrinha proposes total immersion in the challenge to taste, with total freedom, nature as sensory experience; a nature that wants to stimulate the senses while educating the body and soul in a new relationship with the environment, and which encourages other perceptive ways of seeing and feeling the world of the unknown. Among the many collective experiments proposed during the event, I would single out, because it exemplifies the spirit that reigns in Serrinha, the “invention of an island” workshop, in which Rochelle Costi and Fernando Limberger give themselves the challenges of meeting the following objectives: occupying, organizing, preserving, experiencing, transforming, superimposing, cataloguing and remaining. These are, essentially, the festival’s proposals as a whole. For almost a month, Serrinha turns into a territory of creative experiences, and much more than this, a widened field of humanistic conscience. In Serrinha there is a search for a possible harmony with tough city life and the vicissitudes of contemporary living, ever more virtual and less virtuous. During the festival, we have time to pause and silence to understand and re-evaluate our way of dealing with the other, this unknown that also lives inside us. This is suggested by the days of sharing and friendship, which are always open to the new, and the uniqueness of other activities taking place in nearby spaces – besides the surprise of unplanned happenings operated by nature. In a subliminal way, the festival proposes new, delicate, positive ways of dealing with differences and with ourselves. Serrinha has provided me with the most profound experiences of exchange with participants in the workshops I gave, in addition to very rich sensory experiences in the physical contact with the environment that brothers Fábio and Marcelo; their wise parents, educators Regina Delduque and Marcos Silveira; and the Oliveira family – Carlão, Zezé, Davi and Leo – battle to preserve. There is a search for a balance between space, those who already inhabit it and those who visit on those unforgettable days of so many past Julys and those we dream of yet to come. Over those fascinating and magical real dream days, a lot of people of high artistic and human quality pass through, always ready to illuminate life. People organize workshops and present shows, sharing talks or taking part in the many creative
processes initiated by subversives and transgressors of customs and languages. And, incredible as it may seem, everything always happens within institutional order and progress. People circulate, chatting in bars and cafés, around so many bonfires on moonlit nights, or contemplating the infinite stars in the dark sky, only visible far from the big cities that surround Serrinha, making it an island, one of the last havens of utopia on Earth.
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EQUIPE FESTIVAL DE ARTE SERRINHA
IDEALIZADORES Fabio Delduque, Carlos de Oliveira e Marcelo Delduque CURADORIA E DIREÇÃO GERAL Fabio Delduque PRODUÇÃO Cláudio Bertolucci, Daniela Verde, Heloisa Paoli, Jodel Godoy Junior, Letícia de Paula, Marcela Scavone de Freitas, Patrícia K. Godoy, Paulo Futagawa, Samantha Naja, Selma Honda e Vanessa Sobrino Lenzini PRODUÇÃO BUSCA VIDA Carlos de Oliveira, Davi Daidone, Joca da Cunha, Marcia Leopoldino, Mari dos Santos Gomes, Tatiana Santos e Zezé Daidone PRODUÇÃO CINE RANCHO Filipe Cunha e Silvana Cancherini PRODUÇÃO NÚCLEO DE ARTE EDUCAÇÃO Aline Araújo, Diogo Veronezi, Glória Valle, Joca da Cunha e Tatiane Gutierrez COLABORADORES serrinha Alex, Célia, Cida, Clóvis, Nilo, Oswaldo, Paulinho, Rafael, Reginaldo, Ruth, Tato, Tonho, Wanderlei e Zau
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COLABORADORES Abner Araujo, Ademar Junior, Adriana Damiani, Alex Mell, Alexandre Borges, Ana Cristina Alves Cunha, Ana Urban, André Pitombo, Baque Lua Cris, Bia Raposo, BijaRi, Carolina Escobar, Carolina Moran Fusco, Charles Paixão, Chico Terra, Chris Arruda, Cristiane B. Futagawa, Cristiano Alfer, Cristiano Escobar Pupo, Dalva Leme, Débora Mourão, Dinaura Pires, Edith Cultura, Eduardo Souza, Fabiana Neves, Fabiano Mendes Russi, Fabio Camará, Felipe Gonçalves, Felipe Marques de Oliveira, Flávia Cesarino, Francine Ramos, Francisco Forlenza, Gilda Vogt Maia Rosa, Grupo Toró, Gustavo Godoy, Gustavo Guimarães, Hilton Mercadante, Iara Jamra, Isadhora Muller, Jairo Schimitz, João Cury, João Godoy, João Pestana, José Luís Silva, José Renato Bergo, Juliana da Silva Vasconcellos, Juliana Leopoldino, Leo Daidone, Lika Meirelles, Luciana Pitombo, Lucy de Araújo Lima Delduque, Luis Christello, Luis Rodrigo Figueiredo, Magno Alves, Maitê Costa, Malu Silva, Marcia Fonseca, Marcio Daidone, Marcos Franja, Marcos Moreira Silveira, Mariane Palmares, Marina Colonelli, Marina König, Martim Delduque Silveira Colonelli, Mauro Prata, Mercedes Tristão, Miguel Uchôa, Namídia, Natalia de Oliveira Leme, Nicola Santarsieri, Patrícia Casé, Patrícia Guaturamo, Paulo Prati, Rafaela Rossi, Regiane Gallo, Regina Delduque, Reginaldo Prodocimo, Ricardo Cury, Ricardo Dias Picchi, Roberta Escobar Pupo, Rossita Sobrino, Shel Almeida, Sônia Escobar, Tatá Aeroplano, Tatiana Tanganelli, Tile Amato, Thayla Godoy, Ulisses Lo Sardo, Valter Bertini, Vanessa Karen Pinheiro, Wally König, Yuri D. Godoy e Zanna Amorim
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Copyright © 2011 Delduque Comunicação Todos direitos desta edição reservados à CONCEPÇÃO | Bené Fonteles, Fabio Delduque, Gustavo Godoy e Marcelo Delduque COORDENAÇÃO EDITORIAL E EDIÇÃO | Marcelo Delduque DIREÇÃO DE ARTE | Gustavo Godoy FOTOGRAFIA | Ana Urban, Binho Miranda, Caio Reisewitz, Eduardo Barcellos, Fabio Delduque, Felipe Gonçalves, Felipe Morozini, Fernando Laszlo, Maíra Acayaba, Marcelo Delduque, Miguel Uchôa, Peetssa e Rochelle Costi IMAGEM DA CAPA | Serrinha, Leda Catunda. Reprodução: Miguel Uchôa REDAÇÃO | Cristiane B. Futagawa [Sushi] REVISÃO DE TEXTO | Beatriz Moreira VERSÃO PARA O INGLÊS | Lynne Reay Pereira TRATAMENTO DE IMAGEM | Miguel Uchôa PRODUÇÃO GRÁFICA, COMERCIALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO | IMPRESSÃO | Ipsis
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Arte Serrinha / [coordenação editorial e edição Marcelo Delduque ; versão para o inglês Lynne Reay Pereira] . – São Paulo : Comunicação, 2011. Vários colaboradores. Edição bilíngue: português/inglês. 978-85-7850-069-6
isbn
1. Arte – Bragança Paulista (sp) 2. Bragança Paulista (sp) – Festivais, etc. 3. Festival de Arte Serrinha – Bragança Paulista (sp) – História I. Delduque, Marcelo. 11-05545 Índices para catálogo sistemático: 1. Bragança Paulista : São Paulo : Estado : Festival de Arte Serrinha : Artes 709.81612
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CDD-709.81612
Realização
AGRADECIMENTOS
Adidas, Aldo bertolucci, Alencar Seguros, André Sturm, Andrea matarazzo, Antonio maschio, Articultura, beatriz matta, bijari, claudia costin, Dr. José Josefran berto freire, Duda Varella, fabio magalhães, família chedid, fazenda Ypê, Felipe Rossi, FESB, FM 102, Francesca Angiolillo, Governo do Estado de São paulo, grupo europa, grupo rede, guilherme britto, hotel Villa Santo Agostinho, instituto Socioambiental, isa castro, João batista de Andrade, João Sayad, Jornal do meio, Lauro Lisboa garcia, Leonardo Levorin, Luis Alvim, Márcia Medeiros, Marco Griesi, Marina Confiança, Marisa Moreira Salles, MCR, nelson Varella, O guia de bragança, paço das Artes, porto Seguro, prefeitura do município de bragança paulista, rádio eldorado, rancho Verde, red bull, roberto Dias, roberto Stern, rose Velt, Secretaria de cultura e turismo de bragança paulista, Secretaria de educação de bragança paulista, Secretaria de estado da cultura, tomas Alvim, ucha frias, unimed, universidade São francisco e Viverde AOS que ceDerAm fOtOS bob Souza, celia Saito, claudia tavares, edson Kumasaka, everton ballardin, felix Lima, gal Oppido, Jaques faing, Jongui Valdetaro, José Luis Silva, marina Acayaba, rosa de Lucca, tomás feijó, Vange milliet, Vicente Sampaio e zeroLux
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