Guia Unibanco Amazônia

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LOCALIDADES

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PRESENTES NO GUIA

AFUÁ PA ....................................207 ALENQUER PA ..........................162 ALTA FLORESTA MT ..................221 ALTAMIRA PA ............................156 ALTER DO CHÃO PA ..................146 ARQUIPÉLAGO DAS ANAVILHANAS AM ............106 ARQUIPÉLAGO DE MARIUÁ AM......................110 ASSIS BRASIL AC ........................258 BARCELOS AM ..........................110 BELÉM PA ..................................174 BELTERRA PA ............................150 BOA VISTA RR ..........................120 BRAGANÇA PA ..........................195 BRASILÉIA AC ............................258 BREVES PA ................................205 CANARANA MT ........................226 CIDADE DOS DEUSES PA ............161 COSTA MARQUES RO ................236 CRUZEIRO DO SUL AC ..............246 CUIARANA PA............................194 FERREIRA GOMES AP ................212 FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS PA ......................151 FORDLÂNDIA PA ........................150 GUAJARÁ-MIRIM RO ................235 ICOARACI PA..............................186 ILHA CAVIANA PA ......................210 ILHA DE ALGODOAL PA ..............191 ILHA DE MARAJÓ PA ..................198 ILHA DE MOSQUEIRO PA ............187 ILHA DE SILVES AM ......................95 ILHA MEXIANA PA ....................210 IQUITOS (PERU)..........................137 ITACOATIARA AM ........................90 ITAITUBA PA ..............................144 LAGO MAMORI AM ..................130 LARANJAL DO JARI AP ................211 MACAPÁ AP ..............................211 MAMIRAUÁ AM ........................133 MANACAPURU AM ....................131 MANAUS AM ..............................77 MONTE ALEGRE PA ..................158 NOVO AIRÃO AM ......................106 ÓBIDOS PA ................................162 OIAPOQUE AP............................211 ORIXIMINÁ PA ..........................164 PACARAIMA RR ........................120 PARINTINS AM ..........................166 PARQUE INDÍGENA DO XINGU MT ......................226

PARQUE NACIONAL CANAIMA (VENEZUELA) ..........................124 PARQUE NACIONAL DA AMAZÔNIA PA....................154 PARQUE NACIONAL DA SERRA DO DIVISOR AC......246 PARQUE NACIONAL DAS MONTANHAS DE TUMUCUMAQUE AP ..........214 PARQUE NACIONAL DO JAÚ AM ............................109 PARQUE NACIONAL DO PICO DA NEBLINA AM ......116 PARQUE NACIONAL MONTE RORAIMA RR ........................122 PAUINI AM ................................241 PORTO VELHO RO ....................234 PRAIA DE APEÚ SALVADOR PA..........................197 PRAIA DO CARIPI PA ................189 PRESIDENTE FIGUEIREDO AM ......96 PUERTO LA CRUZ (VENEZUELA) ..........................122 PUERTO MALDONADO (PERU) ....258 RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS PA............149 RIO BRANCO AC ......................238 RIO PRETO DA EVA AM ..............91 SALINÓPOLIS PA ........................192 SALVATERRA PA ........................201 SANTA ELENA DE UYARÉN (VENEZUELA) ......122 SANTA ISABEL DO RIO NEGRO AM ..............102 SANTA ROSA (PERU) ..................137 SANTANA AP ..............................213 SANTARÉM PA............................142 SÃO CAETANO DE ODIVELAS PA ....................191 SÃO DOMINGOS DO CAPIM AP ........................215 SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA AM ................114 SÃO JOÃO DE PIRABAS PA ..........194 SERRA DO NAVIO AP ................213 SOURE PA..................................200 TABATINGA AM..........................137 TEFÉ AM ..................................133 VALE DO PARAÍSO PA ................160 VELHO AIRÃO AM ....................108 VISEU PA ..................................197 XAPURI AC................................242

AMAZÔNIA

O Guia Amazônia é o oitavo volume da família de Guias Unibanco Brasil – uma coleção que apresenta o que o país tem de melhor do ponto de vista do patrimônio histórico, cultural e natural. Um guia de opinião com: • As principais atrações de 84 localidades, espalhadas por cinco roteiros: Rio Negro e planalto das Guianas, Rio Solimões, Médio Amazonas, Golfão marajoara, Norte do Mato Grosso e Sudoeste amazônico. • Mais de 100 indicações de hotéis e restaurantes, todos descritos e comentados. • As melhores dicas de viagens e de compras, com informações atualizadas sobre serviços de apoio. • 172 fotografias e 20 mapas. • Textos assinados por especialistas, explicando várias facetas da cultura e da natureza da Amazônia: Betty Mindlin, Daniel Piza, Eduardo Góes Neves e João Meirelles Filho. • Fotografias de Araquém Alcântara, Cristiano Mascaro, Fabio Colombini, Luiz Braga, Leonide Principe, Luiz Claudio Marigo, Rosa Gauditano e Zig Koch, entre outros.

AMAZÔNIA

Capa Guia Amazonia

AMAZÔNIA

Caro leitor, Os Guias Unibanco Brasil têm por objetivo ajudar o turista a conhecer e compreender o país. Para isso, ao mesmo tempo em que apresentam roteiros de viagem, oferecem informações sobre a história, a cultura, as artes e o meio ambiente dos locais retratados. Esse cuidado está presente no volume Amazônia. Ele foi preparado por uma ampla equipe que incluiu não apenas repórteres, editores e fotógrafos, mas também pesquisadores, professores e especialistas em diferentes áreas, unidos por um ponto comum – a paixão pela floresta amazônica.

NATUREZA, PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARQUITETURA, ARTE POPULAR, GASTRONOMIA, FESTAS TRADICIONAIS, COMPRAS E HOTÉIS

Desse trabalho conjunto resultou um guia que opina, sugere e explica, revelando para o leitor o que há de melhor em cada região da Amazônia. E, como toda viagem traz sempre uma nova descoberta, gostaríamos de pedir sua colaboração, enviando comentários, dicas, sugestões e críticas para o seguinte e-mail: guiaunibanco@bei.com.br

“Um pouco mais”, em tupi.


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SOBRE

ESTE

GUIA

Os hotéis, restaurantes, atrações, agências, guias e demais serviços indicados pelos Guias Unibanco Brasil são selecionados por repórteres especializados, ao longo de viagens e pesquisas feitas diretamente nos locais retratados. Nenhum tipo de cortesia é aceito dos estabelecimentos mencionados. Para estabelecer a faixa de preços dos restaurantes, calculamos o valor cobrado pelo prato mais pedido, acrescido de 10%. Os preços dos hotéis referem-se à diária cobrada para um casal. Endereços, telefones, horários e preços constantes do Guia Unibanco Amazônia foram fornecidos pelos estabelecimentos e criteriosamente conferidos e atualizados. O Guia, porém, não pode se responsabilizar por divergências e alterações ocorridas após o fechamento desta edição (maio de 2008). É importante ressaltar que horários de atendimento e preços dos serviços podem sofrer mudanças em função dos períodos de alta e baixa temporadas turísticas e devem, sempre que possível, ser confirmados com antecedência. O turista que viajar de carro deve procurar a polícia rodoviária para se certificar sobre o estado de conservação das estradas. Para obter informações sobre o transporte fluvial, recomenda-se consultar a Capitania dos Portos.

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Colaboradores

Betty Mindlin, Daniel Piza, Eduardo Góes Neves, João Meirelles Filho

Patrocínio

2008 + Rua Dr. Renato Paes de Barros, 717, 4º- andar CEP 04530-001 Itaim-Bibi São Paulo SP Tel.: (11) 3089-8855 Fax: (11) 3089-8899 www.bei.com.br editorial@bei.com.br


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Todos os direitos reservados à + Concepção, coordenação editorial, capa, projeto gráfico e produção gráfica + Edição final Equipe +

Mapas COORDENAÇÃO: Mitinobu ARTE: Luiz

Edição Marcelo Delduque e Ricardo Ditchun Coordenação de reportagem Marcelo Delduque

Miyake Fernando Martini

Ilustrações de capa Alexandre Costa e Pedro Kastro Colaboradores Gambarini, Eduardo Petta, Heitor Reali, Isabela Gaia, Leonardo Aquino, Renata Carvalho, Satya Caldenhof e Silvia Reali REPORTAGEM: Adriano

Produção editorial Equipe + Equipe +: Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim EDITORIAL: Francesca Angiolillo, Laura Aguiar e Ricardo Ditchun REPORTAGEM: Andressa Paiva, Fernanda Quinta e Laura Folgueira ARTE: Alexandre Costa, Américo Freiria e Yumi Saneshigue ASSISTENTES: Paulo Albergaria e Rosilene de Andrade ESTAGIÁRIO: William Rabelo PRODUÇÃO GRÁFICA: Luis Alvim MARKETING: Adriana Domingues ADMINISTRATIVO: Ana Paula Guerra e Gercilio Correa ASSESSORIA DE IMPRENSA: Paula Poleto VENDAS: Ana Maria Capuano e Tatiane de Oliveira Lopes COMERCIAL PATROCÍNIO: Fernanda Gomensoro DIREÇÃO EDITORIAL:

Consultores André Corrêa do Lago, Beto Ricardo, Cândido Granjeiro, Eduardo Badialli, João Meirelles Filho, Marcos Sá Corrêa e Martin Frankenberg Preparação de texto Cláudia Cantarin e Renato Potenza Revisão de texto Ana Maria Barbosa e Telma B.G. Dias Impressão Ipsis

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Guia Unibanco Amazônia / [concepção, coordenação editorial, projeto gráfico e produção gráfica Bei; mapas e ilustrações Luiz Fernando Martini]. – São Paulo: Bei Comunicação, 2008. – (Guias Unibanco Brasil) Vários colaboradores. ISBN 978-85-7850-000-9 1. Amazônia - Guias 2.Turismo - Amazônia 3.Viagens - Guias I. Martini, Luiz Fernando. II. Série. 08-04661

CDD-918.11

Índices para catálogo sistemático: 1. Amazônia : Descrição : Guia 918.11 2. Guia : Amazônia : Descrição 918.11


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SUMÁRIO COMO POR

GUIA

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RIO SOLIMÕES

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AMAZÔNIA

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LAGO MAMORI Hotéis de selva

130 130

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MANACAPURU

131

24 26 36 44 51 56 64

MAMIRAUÁ

133

DE MANAUS A IQUITOS

137

MÉDIO AMAZONAS

140

SANTARÉM

142

VIAGEM PELO RIO TAPAJÓS Alter do Chão Rio Arapiuns e Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns Fordlândia e Belterra Floresta Nacional do Tapajós Parque Nacional da Amazônia

144 146

SERRAS DO MÉDIO AMAZONAS Parque Estadual de Monte Alegre Vale do Paraíso Cidade dos Deuses Óbidos Oriximiná Festival de Parintins Arqueologia amazônica, por Eduardo Góes Neves

157

GOLFÃO

172

USAR ESTE

QUE IR À

INTRODUÇÃO Geografia A Amazônia de Euclides, por Daniel Piza História Ecossistemas Cultura Arquitetura Cozinha Como ir

RIO NEGRO

E PLANALTO DAS

GUIANAS

74

MANAUS Centro histórico Centros de referência Arredores de Manaus Hotéis de selva

77 78 82 87 90

PRESIDENTE FIGUEIREDO

96

VIAGEM PELO RIO NEGRO Arquipélago das Anavilhanas De Novo Airão ao Jaú Arquipélago de Mariuá São Gabriel da Cachoeira Trekkings no planalto das Guianas Índios do Norte, por Betty Mindlin

102 106 108 110 114

DE MANAUS AO CARIBE Monte Roraima Parque Nacional Canaima

120 122 124

GUIA AMAZÔNIA

115

149 150 151 154

158 160 161 162 164 166 168

118 MARAJOARA

BELÉM Centro histórico

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Centros de referência Arredores de Belém

183 186

AMAZÔNIA ATLÂNTICA Ilha de Algodoal Salinópolis Bragança Viseu e praia de Apeú Salvador

190 191 192 195 197

ILHA DE MARAJÓ Campos inundáveis Terras florestadas Ilhas Mexiana e Caviana

198 199 205 210

DE MACAPÁ AO OIAPOQUE

211

SUDOESTE AMAZÔNICO

232

DO MADEIRA AO MAMORÉ

234

RIO BRANCO

238

XAPURI Seringal Cachoeira

242 244

PARQUE NACIONAL DA SERRA DO DIVISOR

246

RODOVIA

248

DO

PACÍFICO

HOTÉIS, RESTAURANTES 254

E SERVIÇOS

NORTE

DO

MATO GROSSO 218 INFORMAÇÕES

ALTA FLORESTA

ÚTEIS

280

221 ÍNDICE

PARQUE INDÍGENA DO XINGU 226 Amazônia: decifra-me ou devoro-te, por João Meirelles Filho 228

REMISSIVO

283

Agradecimentos e créditos fotográficos

288

Páginas 8 e 9: sumaúma, maior árvore da Amazônia Páginas 14 e 15: perereca do gênero Hypsiboas sp. Páginas 252 e 253: rio Moa, no Parque Nacional da Serra do Divisor, Acre 6

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Guia Unibanco Amazônia apresenta ao leitor as melhores sugestões de viagem na região, ao mesmo tempo em que oferece informações fundamentais para a compreensão da cultura e da natureza locais. Ele se divide em três partes: A Introdução reúne textos explicativos sobre geografia, história, ecossistemas, cultura, arquitetura e cozinha. As viagens propostas dividem-se em seis seções: Rio Negro e planalto das Guianas, Rio Solimões, Médio Amazonas, Golfão marajoara, Norte do Mato Grosso e Sudoeste amazônico. Nelas procuramos cobrir o mais amplo leque de passeios e atrações, a fim de atender a todos os interesses. Ao longo das páginas há quadros com informações adicionais sobre os locais contemplados. Os hotéis e restaurantes especialmente agradáveis foram destacados em quadros indicados como Algo a mais. O Guia conta, ainda, com textos assinados por escritores, jornalistas, pesquisadores ou especialistas que aprofundam ou complementam as informações apresentadas. Na última parte, Hotéis, restaurantes e serviços, encontra-se a listagem, em ordem alfabética, das cidades e destinos turísticos citados no Guia. Os estabelecimentos indicados são os que consideramos os mais adequados e interessantes para o turista. Esta seção traz ainda outras informações úteis ao viajante, tais como distâncias, dicas de acesso, rodoviárias, agências e guias recomendados, códigos DDD etc. Prático e organizado, o Guia Unibanco Amazônia seleciona, comenta, explica e opina, mostrando ao leitor o que cada localidade tem de surpreendente e de melhor.

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AMAZÔNIA OCE ANO PAC ÍFIC O

VENEZUELA

COLÔMBIA Pico da Neblina

São Gabriel da Cachoeira

EQUADOR

Pq. Nac. do Pico da Neblina

Rio Negro

B

Res. de Des. Sust. Mamirauá

R

PERU

Iquitos

io

So

limões

Tefé

P d

Tabatinga

Res. Nac. Pacaya-Samiria

AMAZONAS Cruzeiro do Sul Pq. Nac. da Serra do Divisor

Convenções utilizadas nos mapas do Guia

BR 381 RJ 106

Estrada asfaltada Estrada de terra Divisa estadual Divisa internacional Rio Rodovia federal Rodovia estadual Capital Cidade acima de 150.000 hab. Cidade de 50.001 a 150.000 hab. Cidade de 25.001 a 50.000 hab. Cidade até 25.000 hab. Vila Pousada Fazenda

Pq. Nac. do Manu

ACRE

Rio Branco

Xapuri Assis Brasil

Res. Nac. TambopataCandamo

1 cm = 162 km

Rio

P

Res. Extr. do Lago Cuniã

Puerto Maldonado

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Porto Velho GuajaráMirim

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BOLÍVIA


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SURINAME

Pq. Nac. Montanhas do Tumucumaque

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Fl. Nac. do Tapajós

Altamira

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I

L R

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Pq. Nac. do Juruena

Alta Floresta

s

Pq. Nac. da Amazônia

Alter do Chão

tin

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Res. Extr. Tapajós-Arapiuns

Rio Xingu

R

Manaus

Belém To c a n

Pq. Nac. do Jaú

Fl. Nac. de Caxiuana

Rio

Monte Presidente azonas Alegre Figueiredo R i o A m Parintins Arq. das Anavilhanas Santarém

Novo Airão

Bragança

Ilha de Marajó

uai

Arq. de Mariuá

Macapá

Terra Ind. WaimariAtroari

A rag

Barcelos

Pq. Nac. do Cabo Orange

Oiapoque

RORAIMA

o

O

GUIANA FRANCESA

GUIANA

Boa Vista

io

IC

Monte Roraima Pq. Nac. do Monte Roraima

d Ma

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Bioma Amazônico

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Pq. Nac. Canaima

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Pq. Est. Cristalino

Pq. Nac. de Pacaás Novos

TOCANTINS

RONDÔNIA Res. Biol. do Guaporé

Costa Marques

MATO GROSSO

Pq. Ind. do Xingu

GOIÁS


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unca se falou tanto da Amazônia como hoje. A grande floresta deslocou-se no imaginário mundial: da aura de mistério e aventura que sempre a envolveu, entrou na pauta das grandes discussões políticas de nosso tempo. Seu futuro, acredita-se, é determinante para o planeta. No entanto, poucos conhecem efetivamente o objeto de tantos debates: para a maior parte das pessoas, a planície amazônica ainda é uma massa verde impenetrável,esparsamente habitada por gente selvagem.As imagens clássicas da floresta – vista do Arquipélago das Anavilhanas, no rio Negro alto, como um imenso tapete verde ou, de perto, materializada em um rosto de feições indígenas, uma ave, uma onça – oferecem poucas informações sobre o que a Amazônia é de fato. Ela é tudo isso, sim, mas muito mais. Para compreender a região, em sua enorme variedade de culturas e de paisagens, é preciso um apuramento do olhar. É necessário um pouco de tempo para superar o impacto inicial e assimilar a lógica que rege a floresta.Nela,por exemplo, os rios são os caminhos do dia-adia – as estradas propriamente ditas são a exceção. Assim, o entorno é visto normalmente de dentro para fora d’água. No começo, a massa verde contínua parece não apresentar grandes variações. Ora os rios mantêm uma distância respeitosa da mata, ora a invadem, transformando tudo em um confuso amálgama de águas e plantas. Com o olhar cuidadoso, porém – e, ainda melhor, com a ajuda de um guia, ou de um mateiro –, a paisagem se transforma. O viajante percebe as diferenças entre o sem-númeAnacã, espécie de papagaio

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ro de espécies de árvores, descobre plantas que vivem entrelaçadas, como se fossem uma só, percebe a presença de exércitos silenciosos de formigas, sente o perfume de frutos que nunca viu, assiste à revoada de pássaros e à passagem de bandos de macacos no dossel da floresta. Após o primeiro contato,a planície amazônica se revela diversa não só em seus recônditos recantos como em seus panoramas mais amplos. Entre águas e florestas há grandes extensões de campos de cerrados; há um planalto onde se Mercado Ver-o-Peso, em Belém erguem as mais altas serras do Brasil e onde se desenvolve uma vegetação rupestre absolutamente incomum; há até resquícios de caatinga. A multiplicidade de paisagens persiste mesmo dentro da própria mata. As florestas alagadas e as matas de terra firme são universos à parte. As matas do rio Negro, densas e isoladas, são muito diferentes das florestas da ilha de Marajó, repletas de açaizeiros e festivamente habitadas por ribeirinhos. Em tempo: por vezes se esquece que a Amazônia tem, sobretudo, gente, e aqui também a diversidade é a regra.A cultura dos caboclos, as muitas culturas indígenas, as das cidades e as das metrópoles coexistem, mesclam-se, eventualmente colidem. Uma síntese de tudo isso pode ser vivenciada nos portos, chamados ali de beiradões, onde habitantes de várias origens transitam entre os muitos produtos da floresta. É urgente debater a importância política, estratégica, ecológi- Ribeirinhos na serra do Divisor ca e econômica da Amazônia. Mas é essencial compreendê-la para além dos lugares-comuns, em sua infinita complexidade e riqueza, percorrendo-a com olhos livres e espírito aberto. Muito mais que um passeio, esta será uma descoberta, um encontro, uma experiência transformadora. GUIA AMAZÔNIA

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GEOGRAFIA Uma série de condições singulares concorreu para a formação da imensa floresta que cobre a planície banhada pela bacia Amazônica. E são muitos os motivos para protegê-la – mas nenhum é mais importante do que a obrigação moral de preservá-la para as próximas gerações. m colossal anfiteatro, o maior de todo o planeta, é uma boa imagem para começar a compreender a Amazônia. Pelo sul e pelo norte, limitam a grande planície, respectivamente, os planaltos Central do Brasil e das Guianas. E pelo oeste, um vasto setor da cordilheira dos Andes fecha o que seria uma platéia em “U” par a esse palco imaginário, cuja grande boca se abre, a leste, para o oceano Atlântico. Das antiqüíssimas montanhas e mesetas do planalto das Guianas vêm as águas escuras e ácidas formadoras do rio Negro. Da cadeia andina, precipitam-se geleiras que descem violentamente as montanhas,

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Rio Negro, com o planalto das Guianas ao fundo, na região de São Gabriel da Cachoeira

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levando uma carga de sedimentos que compõem o leito barrento de uma série de rios – cujas águas as populações amazônicas chamam de “brancas” – que, ao se juntar na planície, dão origem ao Solimões. Do encontro do Negro com o Solimões nasce o Amazonas, chamado sabiamente de rio-mar pelos ribeirinhos e de mar dulce pelos conquistadores espanhóis. Com efeito, em poucos pontos ele deixa entrever que é apenas um rio.Aqui um parêntese: o Amazonas é o maior rio do mundo em volume de água e extensão, considerando-se o somatório de seus tributários principais – Solimões, Ucayali e Apurimac – até as cabeceiras nos Andes, na região de Arequipa. A extensão oficial do rio, entretanto, ainda é tema de controvérsias e discussões apaixonadas e pode variar de aproximadamente 6400 a 7 mil quilômetros. De Manaus até o oceano, o Amazonas recebe as águas verdes do Xingu e do Tapajós, rios que nascem no planalto Central do Brasil. E, no estuário, cuja influência se faz perceber por uma área que vai do Amapá ao Maranhão – aí não é de fato um rio, e sim uma espécie de golfo –, ainda recebe a carga de um grande tributário, o Tocantins, também proveniente do Brasil Central, e dos rios do Amapá que nascem próximos à costa, tais como o Amapari e o Caciporé. A bacia Amazônica é responsável por um quinto das águas despeja-

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Várzea do rio Amazonas, entre Manaus e Itacoatiara

das no mar por todos os rios do planeta; ela drena 40 por cento da América do Sul, uma área de quase 8 milhões de quilômetros quadrados, metade em território brasileiro e o restante se espalhando por mais oito países.

PAISAGEM Não menos extraordinário que o mundo de águas é o contínuo florestal que domina praticamente toda a planície amazônica, ao qual cabe qualquer adjetivo de grandeza que se deseje aplicar. Nenhum outro bioma mundial rivaliza com a Amazônia em termos de variedade de vida: mais de um terço das espécies animais e vegetais do planeta pode ser encontrado na grande floresta equatorial sul-americana. Neste ponto, um aparente paradoxo se revela: a despeito da extraordinária biodiversidade, um primeiro olhar à enorme massa verde da floresta sugere certa homogeneidade da paisagem. Não é incomum que o viajante que percorra por longos períodos a imensidão dos rios amazônicos seja acometido por uma sensação de monotonia, pois faltam acidentes ao relevo, com algumas exceções. Entre elas sobressaem os belíssimos tepuis (espécies de chapadões) e o pico da Neblina (o maior do Brasil, com 2994 metros de altitude), no planalto das Guianas; a serra do Divisor, no Acre, que prenuncia as montanhas andinas; as pequenas serranias de arenito da região de Monte 18

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Alegre, no médio Amazonas, e de Carajás, no sul do Pará. O restante, ou a quase totalidade das terras amazônicas, é uma planície sutilmente acentuada. O rio Amazonas, nos cerca de 5 mil quilômetros desde o ponto em que termina a descida dos Andes – quando se chama Ucayali – até a foz no oceano Atlântico, apresenta um desnível de ínfimos 60 metros, suficiente apenas para empurrar lentamente as águas ao mar. Tão preguiçoso ele é que, com o passar do tempo, seu leito e o de seus tributários se espalharam pelas terras baixas. Formou-se, assim, uma rede intrincada de lagos, baías e arquipélagos: em muitos pontos, é difícil identificar onde fica o leito principal e onde estão as margens.

FORMAÇÃO A origem da bacia Amazônica se deve a uma depressão entre antigos escudos cristalinos, formações geológicas surgidas há mais de 600 milhões de anos.A planície foi inicialmente ocupada por um mar interior, responsável pelo depósito sedimentar que hoje a caracteriza. Com a diminuição do nível dos oceanos, nasceu o que teria sido o embrião do rio Amazonas e sua rede hidrográfica, correndo no primeiro momento para o Pacífico. África e América do Sul ainda faziam parte do mesmo continente. O soerguimento da jovem cadeia montanhosa dos Andes, que se completou há 6 milhões de anos, determinou a inversão das águas

Paisagem do topo do monte Roraima, o mais conhecido dos tepuis

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e a consolidação dos limites da planície, em forma de anfiteatro. Com tal configuração, a floresta começou a se alastrar. Seu surgimento e expansão estão relacionados a uma conjunção de condições geográficas e climáticas favoráveis, que resultaram na entrada constante de massas de ar úmidas, em calor abundante e alta pluviosidade, com poucas variações sazonais. No Pleistoceno, de 1,8 milhão a 12 mil anos atrás, o bioma amazônico passou por sucessivas fases em que ora a floresta se expandia, ora encolhia, de acordo com as fortes oscilações climáticas. O mar chegou a recuar 100 metros nessa fase.Tais mudanças teriam contribuído fortemente para a excepcional biodiversidade da região. Nos períodos de recuo, ilhas de floresta se mantinham em áreas mais úmidas, separadas umas das outras por cerrados, criando condições para que as espécies se diferenciassem. Após a última glaciação, há cerca de 18 mil anos, o bioma adquiriu pouco a pouco as feições que hoje conhecemos. A fauna e a flora se espalharam pela planície e as ilhas de vegetação se conectaram num bloco praticamente único.

TERRAS

POBRES

Engana-se quem pensa que o solo da Amazônia é fértil. Diferentemente das turfas encontradas em regiões temperadas – camadas de solo de vários metros constituídas por um emaranhado de tecidos vegetais mortos e decompostos –, as terras amazônicas foram lavadas por milhões de anos de exposição à chuva e ao sol e, em grande parte, consistem em extensões arenosas e estéreis. O segredo do desenvolvimento da floresta está na eficiente ciclagem de nutrientes: quando um ser vivo morre, rapidamente é decomposto e reaproveitado graças às bactérias e fungos presentes nas raízes dos vegetais – raízes sempre superficiais, que crescem sobretudo para os lados, de modo a aproveitar melhor os nutrientes disponíveis.A floresta, assim, se autosustenta, mas não produz excedente; a matéria orgânica fica muito pouco tempo no solo e é logo reabsorvida. Por isso, nas regiões desmatadas para pasto a tendência é de rápido empobrecimento das terras, desprotegidas de sua cobertura vegetal e privadas da matéria orgânica gerada pela floresta. Resultado: a pecuária amazônica é uma das mais ineficientes do Brasil. Intrigantes exceções a essas terras inférteis são as chamadas terras pretas, espécies de ilhas de solo rico que se espalham por toda a planície, onde se desenvolvem atividades agrícolas. Acredita-se que sua formação esteja ligada à ação humana: elas teriam sido fertili20

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Interior da floresta: rápida reabsorção de nutrientes pelas raízes e pouca matéria orgânica excedente

zadas pelo acúmulo de matéria orgânica ao longo do tempo por povos de vida sedentária. As maiores áreas de terras pretas têm pouco mais de 1 quilômetro quadrado.

CLIMA As informações sobre o clima são importantes ferramentas para o deslocamento mais confortável dos viajantes em qualquer parte do planeta. Na Amazônia, elas são fundamentais. A região, de forma geral, apresenta calor intenso e chuvas o ano inteiro. Porém as variações no índice pluviométrico levam a duas situações climáticas bem definidas: a da seca, ou estiagem, que compreende os meses de maio a outubro, quando os leitos dos rios se restringem às calhas e emergem as praias; e a da cheia, ou inundação, de novembro a abril, período em que os rios transbordam, espalhando-se pelas florestas lindeiras. Há diferenças regionais e mesmo de ano para ano. Áreas como o sul do Pará, o norte do Mato Grosso e os estados de Rondônia e Acre sofrem uma diminuição no volume de águas em maio, enquanto nas demais regiões da Amazônia, centrais e ao norte, os rios continuam cheios, mas com as precipitações abrandadas. Segundo a terminologia empregada pelas populações amazônicas para definir o clima, a estação seca é chamada de verão; na mesma medida, o período chuvoso é o inverno. No extremo norte dos estados do Amazonas e do Pará, no oeste do Amapá e em quase todo o território de Roraima, a seca e a cheia GUIA AMAZÔNIA

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De novembro a abril, com variações regionais, o aumento das chuvas determina a cheia na Amazônia

ocorrem na ordem inversa em relação às regiões mais ao sul. O mês de maio marca o início do fenômeno meteorológico conhecido como friagem que, no Norte brasileiro, afeta Rondônia, Acre, o sul do Amazonas e o noroeste do Mato Grosso. Nessas áreas, a temperatura pode atingir 10º C. Outros efeitos comuns durante a chegada dessas frentes frias provenientes do pólo antártico são a baixa umidade do ar e os fortes ventos. Nos meses de julho e agosto, o sul amazônico é afetado pela fumaça resultante das grandes queimadas causadas pela ação humana no chamado arco do desmatamento, acarretando sérios problemas respiratórios às populações que vivem na região.

A

IMPORTÂNCIA DA

AMAZÔNIA

Até a década de 1980, repetia-se exaustivamente que a Amazônia seria o pulmão do mundo. Essa idéia foi superada. A verdade é que todo o oxigênio liberado pela fotossíntese é reabsorvido pela respiração das plantas, de maneira que a floresta é, por esse aspecto, um sistema fechado. Atualmente se sabe que a relevância global da Amazônia é outra, não menos fundamental. Calcula-se que, na biomassa de todas as formas vivas da floresta, esteja armazenado 20 por cento do carbono daTerra. Em contrapartida, o Brasil está na lista dos maiores emissores de carbono do planeta, por causa das queimadas – con22

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centradas justamente nas zonas amazônicas de conversão de florestas em pastagens e áreas agrícolas (sobretudo em Rondônia, no norte do Mato Grosso e no sul do Pará) –, que já consumiram cerca de 17 por cento de todo o bioma. Menos floresta significa mais carbono livre na atmosfera. Essa é uma das razões principais pelas quais a Amazônia desperta a preocupação e está no foco dos olhares do mundo inteiro: sua contribuição – positiva ou negatica – para o aquecimento global é decisiva. Acredita-se, ainda, que a floresta amazônica regule as precipitações do Brasil e de outros países. As nuvens formadas pela evaporação da floresta respondem por metade das chuvas do Sudeste. A umidade amazônica teria influência também sobre as massas de ar do Atlântico e do Pacífico. Neste sentido, o acirramento das derrubadas florestais teria conseqüências imprevisíveis. Seria possível enumerar muitos outros pontos de interesse da Amazônia para a humanidade e para o futuro do planeta. Um deles é, evidentemente, sua biodiversidade, a inesgotável promessa contida na imensa quantidade de recursos naturais que permanecem desconhecidos. Entretanto, a despeito de tais razões serem legítimas e justificarem todos os esforços para manter a floresta em pé, o argumento maior para conservar esse bioma só poderá nascer da experiência direta de conhecê-lo e vivenciá-lo: o valor maior da floresta é a floresta em si. GUIA AMAZÔNIA

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A AMAZÔNIA

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EUCLIDES

uclides da Cunha (1866-1909), em sua obra-prima, Os sertões (1902), dedicou grande número de páginas à descrição do semi-árido baiano, de sua terra dura e forte. Poucos sabem que ele sonhava escrever outra obra-prima, Um paraíso perdido, sobre uma região brasileira bastante distinta em aparência: a Amazônia. Sua viagem de Manaus ao Alto Purus em 1905 o marcou intensamente, tanto quanto sua estada em Canudos. Euclides morreu sem realizar esse objetivo, colhido pela morte no duelo contra o amante de sua mulher e exímio atirador, Dilermando. Não é possível adivinhar se o livro chegaria ao ponto alto a que o primeiro chegou em termos narrativos; afinal, Euclides presenciou no sertão nordestino o fim brutal de uma luta plena de simbologia. Mas não resta dúvida de que só ele tinha exuberância verbal suficiente para captar as belezas e os dramas da Amazônia. Escrevi que as regiões são bastante distintas em aparência, porém o significado de ambas na sensibilidade de Euclides tem semelhanças importantes. Não por acaso ele se refere numa carta de 5 de abril, data de sua partida de Manaus, ao “misterioso deserto de Purus”. Como em Canudos, ali se tratava de descortinar um mundo novo, mal habitado, em estado potencial de grandeza, uma “paragem de miséria e morte” em que o homem é vilão da natureza. Palavras como “drama”,“descortinar” e “vilão” não são casuais: registram a teatralidade que é inerente tanto ao estilo entre bíblico e épico de Euclides como aos cenários em que escolhe se aprofundar. É como se ele flagrasse o desconhecimento do Brasil sobre si mesmo, e visse nisso o maior dos problemas. O seringueiro, claro, é como o sertanejo, um homem triste e escravizado, que tenta diligentemente “amansar o deserto”, sobreviver numa “natureza aviltada”. Assim como denunciou a ignorância científica e a brutalidade social na caatinga,Euclides o fez na Amazônia em artigos, ensaios e cartas. Por isso, ao título do poema religioso “Paraíso perdido”, de John Milton, acrescentou o artigo “um”, como a acentuar sua materialidade e, ao mesmo tempo, a dimensão de sua perda. Euclides antecipou em muitos anos as preocupações de ecologistas (agora ambientalistas) com a destruição feudal da floresta. No entanto, defendia, por exemplo, a construção de uma ferrovia entre os diversos braços paralelos de rio, onde os amazonenses viviam sem acesso não apenas ao transporte, como também a esgoto, tecnologia e outras necessidades modernas. A viagem que empreendeu de abril a agosto daquele ano lhe ensinara, mais que todos os livros lidos em um semestre em Manaus, a dificuldade amazônica. A expedição, entre batelões, lanchas e canoas, enfrentou numerosos problemas. O batelão Manuel Urbano naufragou.Vapores encalharam, insetos atacaram. Doenças sobrevieram, e Euclides chegou a desenvolver hemoptise.Viu “divisões dicotômicas” nos rios e igarapés da fronteira, como num labirinto fluido. As negociações com os peruanos sobre a demarcação do Acre – solicitada a Euclides pelo barão do Rio Branco – foram complicadas. Mas o escritor e engenheiro se saiu bem, reivindicando o usucapião das terras. E, ao final, nós todos, brasileiros, nos sairíamos melhor com o deslumbre de Euclides diante das maravilhas naturais e da “imagem arrebatadora da nossa Pátria, que nunca imaginei tão grande!”. É uma pena que os frutos ainda sejam, mais de um século depois, quase somente literários.

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Daniel Piza, é escritor e jornalista 24

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Fragmento dos escritos de Euclides da Cunha que dariam origem a Um paraíso perdido, atualmente compilados no livro À margem da história. “A impressão dominante que tive, e talvez correspondente a uma verdade positiva, é esta: homem, ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido – quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opulenta desordem... Os mesmos rios ainda não se firmaram nos leitos; parecem tatear uma situação de equilíbrio derivando, divagantes, em meandros instáveis, contorcidos em sacados, cujos istmos a revezes se rompem e se soldam numa desesperadora formação de ilhas e de lagos de seis meses, e até criando formas topográficas novas em que estes dois aspetos se confundem; ou expandindo-se em furos que se anastomosam, reticulados e de todo incaracterísticos, sem que se saiba se tudo aquilo é bem uma bacia fluvial ou um mar profusamente retalhado de estreitos. Depois de uma única enchente se desmancham os trabalhos de um hidrógrafo. A flora ostenta a mesma imperfeita grandeza. Nos meios-dias silenciosos – porque as noites são fantasticamente ruidosas –, quem segue pela mata vai com a vista embotada no verdenegro das folhas; e ao deparar, de instante em instante, os fetos arborescentes emparelhando na altura com as palmeiras, e as árvores de troncos retilíneos e paupérrimos de flores, tem a sensação angustiosa de um recuo às mais remotas idades, como se rompesse os recessos de uma daquelas mudas florestas carboníferas desvendadas pela visão retrospectiva dos geólogos. Completa-a, ainda sob esta forma antiga, a fauna singular e monstruosa, onde imperam, pela corpulência, os anfíbios, o que é ainda uma impressão paleozóica. E quem segue pelos longos rios não raro encontra as formas animais que existem, imperfeitamente, como tipos abstratos ou simples elos da escala evolutiva.A cigana desprezível, por exemplo, que se empoleira nos galhos flexíveis das oiranas, trazendo ainda na asa de vôo curto a garra do réptil... Destarte a natureza é portentosa, mas incompleta. É uma construção estupenda a que falta toda a decoração interior. Compreende-se bem isto: a Amazônia é talvez a terra mais nova do mundo, consoante as conhecidas induções de Wallace e Frederico Hartt. Nasceu da última convulsão geogênica que sublevou os Andes, e mal ultimou o seu processo evolutivo com as várzeas quaternárias que se estão formando e lhe preponderam na topografia instável. Tem tudo e falta-lhe tudo, porque lhe falta esse encadeamento de fenômenos desdobrados num ritmo vigoroso, de onde ressaltam, nítidas, as verdades da arte e da ciência – e que é como que a grande lógica inconsciente das coisas. Daí esta singularidade: é de toda a América a paragem mais perlustrada dos sábios e é a menos conhecida. De Humboldt a Em. Goeldi – do alvorar do século passado aos nossos dias, perquirem-na, ansiosos, todos os eleitos. Pois bem, lede-os.Vereis que nenhum deixou a calha principal do grande vale; e que ali mesmo cada um se acolheu, deslumbrado, no recanto de uma especialidade.Wallace, Mawe,W. Edwards, d’Orbigny, Martius, Bates,Agassiz, para citar os que me acodem na primeira linha, reduziram-se a geniais escrevedores de monografias. [...] [...] Há uma frase do professor Frederico Hartt que delata bem o delíquio dos mais robustos espíritos diante daquela enormidade. Ele estudava a geologia do Amazonas quando em dado momento se encontrou tão despeado das concisas fórmulas científicas e tão alcandorado no sonho que teve de colher, de súbito, todas as velas à fantasia: – Não sou poeta. Falo a prosa da minha ciência. Revenons! Escreveu; e encarrilhou-se nas deduções rigorosas. Mas decorridas duas páginas não se forrou a novos arrebatamentos e reincidiu no enlevo... É que o grande rio, malgrado a sua monotonia soberana, evoca em tanta maneira o maravilhoso, que empolga por igual o cronista ingênuo, o aventureiro romântico e o sábio precavido.” GUIA AMAZÔNIA

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VENEZUELA

COLÔMBIA

Cucuí Pico da

Res. Biol. Morro Neblina dos Seis Lagos Pq. Nac. do Pico da Neblina São Gabriel

da Cachoeira

AMAZONAS

V IAGEM

PELO RIO

Em poucos pontos, entre Manaus e Santa Isabel do Rio Negro, o Negro se assemelha ao que se imagina de um rio: uma calha cercada por duas margens mais ou menos paralelas correndo em curso meândrico. Quando isso acontece, quase sempre a

Santa Isabel do Rio Negro

N EGRO

configuração rapidamente se desfaz. O Negro logo se abre no que parece ser uma baía. Este sim é o curso principal, informam os práticos conhecedores da região. O viajante desavisado perceberá, então, que navegava entre ilhas ou por um paraná.

Rio Negro, em trecho próximo ao planalto das Guianas

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Represa de Balbina

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Estação Ecol. Anavilhanas

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Arq. das Anavilhanas

Anavilhanas Lodge

Manacapuru

No trecho de 725 quilômetros, o Negro forma os dois maiores arquipélagos de água doce do mundo, o das Anavilhanas e o de Mariuá, e atinge sua largura máxima, de 25 quilômetros, próximo à embocadura do rio Cuieiras, ao sul das Anavilhanas. Ao arrebatamento causado por tal grandiosidade, acrescenta-se uma pequena frustração pelo mesmo motivo: o rio é tão grande que, por vezes, se torna monótono. É nos afluentes que se pode entrar em contato próximo com a floresta, uma experiência especialmente perceptível GUIA AMAZÔNIA

Manaus Rio A mazonas

Iranduba

no rio Jaú, que corta o colossal parque nacional homônimo; aí, a grandeza do rio dá lugar à exuberância da natureza de uma das mais extensas áreas de florestas tropicais contínuas do planeta. A partir de Santa Isabel, o Negro se estreita de forma significativa, e a influência do planalto das Guianas começa a se fazer presente: pedras no leito e trechos de correnteza mais forte tornam-se uma constante, e montanhas passam a ser vistas no horizonte com freqüência, prenunciando a chegada a São Gabriel da Cachoeira, porta de entrada para o pico da Neblina, ponto 103


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mais alto do Brasil. A partir dali, o Negro só é navegável em barcos pequenos. A área rio acima de São Gabriel, chamada Cabeça do Cachorro, é a região mais inacessível e menos povoada de toda a Amazônia, habitada por comunidades indígenas e freqüentada quase exclusivamente por militares – pela proximidade com fronteiras – e por pesquisadores que se aventuram em complexas expedições. O Negro e quase todos os seus afluentes apresentam águas escuras e ácidas, pobres em nutrientes. Numa comparação com outras áreas amazônicas, a bacia do Negro é menos piscosa e tem pouca disponibilidade de caça, o que determinou a ocupação humana rarefeita. Porém, com mais COMO

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variedade de ambientes, há grande número de espécies.Vantagem considerável de que o turista desfruta é que praticamente não há mosquitos por toda a área de influência desse rio, devido à acidez de suas águas, que dificulta a reprodução de insetos. As praias que aparecem, sobretudo na época da vazante, podem ser aproveitadas até mesmo à noite, sem incômodos. E uma curiosidade: na estação das cheias, a bacia do Orinoco, a mais importante da Venezuela, que deságua no mar do Caribe, une-se à bacia do Negro. Dessa forma, é possível navegar do Caribe ao Negro e daí para o Amazonas e o Atlântico – mas somente navegadores muito experientes já realizaram a travessia.

EXPLORAR

O trecho do rio Negro que vai de sua foz, em Manaus, ao arquipélago das Anavilhanas, em Novo Airão, é, do ponto de vista turístico, um dos mais explorados de toda a Amazônia. Os motivos são a proximidade com a maior e mais estruturada cidade da região, Manaus, e o fato de haver poucos mosquitos no Negro. O ponto de partida é quase sempre a capital amazonense. A Amazon Clipper (tel. 92/3656-1246) e a Iberostar (tel. 92/2126-9927) dispõem de roteiros regulares em navios confortáveis – luxuosos, no caso da Iberostar. É possível também fretar iates ou barcos para realizar o tour com mais privacidade, na Fontur (tel. 92/3658-3052). Há operadoras que organizam expedições longas – de uma semana ou mais –, que podem incluir visitas ao Parque Nacional do Jaú e ao arquipélago de Mariuá, de acordo com a vontade do contratante. Consulte a Arquipélago das Anavilhanas (tel. 92/32311067) e a Katerre (tel. 92/3365-1644; www.katerre.com). A Katerre opera em um barco regional adaptado que possui pequena biblioteca com livros e mapas sobre a Amazônia e onde são servidas refeições que oferecem um bom panorama da culinária amazônica. O manauara Miguel Rocha organiza

expedições para locais remotos do Negro (tel. 92/3584-3549). A ONG Instituto Socioambiental (ISA) possui um barco confortável, o Sebastião Borges, que pode ser fretado para viagens que privilegiam o intercâmbio cultural entre os viajantes e os habitantes das comunidades do r io Neg ro (tel. 92/3631-1244). Para ir a Barcelos e a São Gabriel da Cachoeira, há opções de barcos de linha ou avião, pela Trip (0300-789-8747). Viajantes que estão em Manaus e desejam conhecer o rio Negro, mas não dispõem de muito tempo, têm como opção seguir até o município de Novo Airão, viagem que pode ser feita de carro em estrada asfaltada (cerca de quatro horas de duração), e dali embarcar numa voadeira para as ilhas das Anavilhanas, situadas bem em frente à zona urbana. Há vários barqueiros na cidade e, tanto para esse como para outros passeios, eles podem ser contatados no CAT (Centro de Atendimento aoTurista), que funciona em um flutuante no porto local (seg. a sex., 8h/17h). Para compreender a magnitude do rio Negro, uma boa dica é realizar um sobrevôo. A Seaplane Tours oferece essa possibilidade em hidroavião, com decolagem do píer do Hotel Tropical, em Manaus (tel. 92/3658-8116).

Arquipélago das Anavilhanas: mais de quatrocentas ilhas 104

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A RQUIPÉLAGO As mais de quatrocentas ilhas do arquipélago compõem uma estação ecológica, categoria de unidade de conservação que não admite ocupação humana (somente são permitidas as atividades destinadas à pesquisa e à educação ambiental). Foi criada em 1980 por iniciativa do então secretário de Meio Ambiente da administração do presidente João Figueiredo, o ambientalista Paulo Nogueira Neto, que se encantou pela região após sobrevoá-la. Na época, boa parte das ilhas das Anavilhanas era ocupada por fazendas de gado e algumas comunidades. Hoje, os ribeirinhos vivem no entorno da estação, para onde também foi realocado o gado. A floresta se encontra em avançado estado de regeneração. Manaus é o ponto de partida mais freqüente de barcos com destino ao arquipélago, cujas primeiras A RTESANATO Novo Airão possui dois centros de produção de artesanato.A Associação dos Artesãos de Novo Airão (Anna) produz objetos feitos com fibra de arumã, como peneiras, cestos e esteiras, estas chamadas de tupé (av. Ajuricaba, 55, Centro, tel. 92/33651278. Seg. a sáb., 8h/11h30 e 13h30/17h; dom., 8h/11h30). Já a Fundação Almerinda Malaquias oferece bem-acabadas miniaturas de animais e peças de marchetaria feitas com restos de madeira provenientes dos estaleiros da cidade e de madeireiras certificadas.Trata-se de um projeto social de capacitação profissional dos moradores que, por meio de uma cooperativa de artesãos, é hoje o maior empregador privado do município. No local é possível acompanhar todas as etapas de trabalho. (rod. AM-352, km 0, quadra J,Nova Esperança,128,tel.92/3365-1000. Todos os dias, 7h/18h). Em frente ao porto, há um ponto-de-venda de objetos decorativos e utilitários feitos pelos índios uaimiri-atroari (porto de Novo Airão, s/n, s/tel.Todos os dias, 8h/12 e 14h/18h).

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ilhas se encontram a 60 quilômetros do centro da capital amazonense ou a duas horas em lancha rápida. Novo Airão também é um bom local de acesso, porém a forma mais impressionante de conhecer as Anavilhanas é do alto, a bordo de um avião. NOVO AIRÃO Na margem direita do rio Negro, a 180 quilômetros de Manaus por estrada asfaltada (AM-070 e AM-352) e mais uma travessia de ferryboat, Novo Airão é uma interessante porta de entrada para o arquipélago, já que fica exatamente de frente para as ilhas. Com 15 mil habitantes, ruas largas e arborizadas, oferece estrutura turística mínima, ainda que em crescimento. Nela se destaca um hotel de charme nos arredores, o Anavilhanas Lodge, entre outras opções modestas de hospedagem e alimentação na zona urbana.A operadora Katerre, em maio de 2008, estava em fase avançada da construção de um lodge, com previsão de inauguração para dezembro do mesmo ano. Uma ponte de 3,5 quilômetros sobre o rio Negro, cujas obras se iniciaram em dezembro de 2007, eliminará do trajeto de Manaus a travessia em ferryboat.A obra é vista em ALGO A MAIS

O Iberostar Grand Amazon oferece a

chance única de desfrutar de um roteiro pelo rio Negro e arquipélago das Anavilhanas com grande conforto, em roteiros de quatro noites (roteiros de três noites também estão à disposição, pelo rio Solimões).Viaja-se em um navio com 72 cabines (todas com banheiro privativo) e duas suítes de luxo. Há a bordo duas piscinas, sala de ginástica e dois restaurantes (tel. 92/2126-9927/9900). Mais informações sobre hotéis e restaurantes a partir da página 254.

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Novo Airão como o começo de um tempo de progresso, mas também como uma possibilidade de crescimento desordenado. Entretanto, o que de fato colocou a cidade nos roteiros turísticos, antes dos hotéis de selva e da ponte, foram os botos. Em meados da década de 1990, eles começaram a se aproximar de um flutuante no porto, em frente à cidade, atraídos pelos restos de comida atirados ao rio da cozinha do restaurante flutuante Boto-corde-rosa. Depois vieram outros e hoje já se vê um bando. Basta alguém bater o pé na água e os animais aparecem – botos-cor-de-rosa e botos-tucuxi.A proprietária do estabelecimento cobra uma taxa para que os turistas os alimentem (porto de Novo Airão, s/n, tel. 92/3365-1498.Visita aos botos: todos os dias, 9h/12h e 15h30/17h30). Ambientalistas são críticos em relação a essa prática, pois afirmam que cria uma dependência dos botos pelo alimento oferecido e altera o comportamento do bando. E, do ponto de vista legal, o local se insere na estação ecológica,

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onde a fauna não poderia ser perturbada. Mas o fato é que a atração trouxe fama e turistas a Novo Airão, fazendo de seu porto uma escala certa até mesmo de grandes navios. ALGO A MAIS

Na margem direita do rio Negro, bem

em frente a Anavilhanas e próximo a Novo Airão, o Anavilhanas Jungle Lodge é o mais novo estabelecimento do Amazonas a seguir os conceitos de hotel de charme. Foi inaugurado no início de 2007 e dispõe de dezesseis bangalôs de madeira conjugados dois a dois. Há energia elétrica ininterrupta, água quente e ar-condicionado silencioso.O lodge conseguiu equilibrar refinamento e informalidade,e o extremo bom gosto é notado em todas as áreas. Os funcionários são moradores locais, que prestam atendimento muito atencioso. A área social é uma construção alta de madeira, coberta com palha e sem paredes, assim como o refeitório.A piscina é elevada em relação ao rio, detalhe que garante um panorama agradável da região. Na estação da seca, forma-se uma praia em frente ao hotel (rod AM-352, km1, margem direita do rio Negro, tel. 92/3622-8996). Mais informações sobre hotéis e restaurantes a partir da página 254.

Em Novo Airão, a principal atração é alimentar os botos

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D E N OVO A IRÃO Para aproveitar este roteiro, é preciso embarcar em uma expedição. O trecho pode ser percorrido em barcos de linha, mas neste caso as paradas são feitas apenas nos escassos núcleos urbanos, o que leva o visitante a perder as grandes atrações: os furos, os igarapés, as cachoeiras e as pequenas comunidades, onde se entra em contato com o modo informal de vida caboclo, em que prepondera muita cordialidade. Carvoeiro, Moura, Remanso, Panacarica e Seringalzinho são algumas dessas comunidades e merecem ser incluídas nos roteiros de qualquer viagem pela região. MIRANTE E GRUTAS DO MADADÁ No alto de uma pequena colina, já no extremo norte das Anavilhanas, uma construção de dois andares em octógono é o mirante ideal para ter uma idéia da grandeza do arquipélago. O lugar é usado para pernoite em redes dos grupos conduzidos pela

AO J AÚ

operadora de expedições Katerre. Nas proximidades, uma trilha de cerca de três horas (ida e volta) leva às grutas de Madadá, série de pequenas cavidades resultantes da sobreposição de grandes rochas de arenito em meio à mata primária. Elas formam uma espécie de labirinto na selva, por isso é fundamental levar água e contar com a orientação de um guia que conheça bem o local. VELHO AIRÃO Esta localidade, nascida durante o período colonial como missão religiosa, foi entreposto de comércio em fins do século XIX e início do XX, auge do ciclo da borracha, quando se constituiu como município. Após seguidas crises da cadeia comercial na região, sua sede foi transferida para Tauapessaçu, mais tarde rebatizada como Novo Airão. O lugar ficou desabitado de 1983 até 2000, quando voltou a ser povoado por alguns

Ruína do antigo armazém de Velho Airão: construção da época áurea do ciclo da borracha

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descendentes dos antigos moradores; hoje, pelo menos dez famílias vivem em Velho Airão, entre as ruínas que testemunharam os tempos áureos. Alguns dos habitantes atuais vivenciaram a decadência e o processo de abandono do lugar. Costumam contar suas histórias aos visitantes e mostram com prazer os poucos objetos que restaram do passado – uma pintura, fotos e ferramentas. Do casario original, restam de pé, embora em estado precário, partes da igreja, da escola e do armazém, este mais bem conservado que as demais construções, graças às raízes de uma gameleira que se embrenharam por suas paredes e que acabam por sustentá-las. A meia hora de voadeira de Velho Airão, adentrando um igarapé, chega-se à cachoeira de São Domingos, de não mais que 4 metros de altura, mas com muita pressão na época das chuvas. Quando o nível das águas atinge seu auge, é possível aproximar-se, de barco, do pé da queda, navegando em igapó por entre as árvores. PARQUE NACIONAL DO JAÚ No Pleistoceno, entre 1,8 milhão e 12 mil anos atrás, o planeta sofreu grandes oscilações climáticas que geraram, na Amazônia, períodos alternados de recuo e de expansão da floresta. Alguns lugares, os muito baixos ou muito planos, teriam resistido melhor às estiagens dessa fase, funcionando como guardiões da biodiversidade. As espécies da fauna e da flora, após a estabilização do clima, espalharam-se pela planície. O entorno do rio Jaú teria sido um desses refúgios, segundo teorias científicas polêmicas, porém muito difundidas. Criado em 1980, o Parque Nacional do Jaú protege essa enorme região de terras baixas, que totalizam quase 23 mil quilômetros GUIA AMAZÔNIA

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quadrados. Com as vizinhas reservas de desenvolvimento sustentável Amanã e Mamirauá – ambas na bacia do Solimões –, compõe um dos maiores contínuos de florestas protegidas do mundo, com cerca de 65 mil quilômetros quadrados, área maior que o estado do Rio de Janeiro. Sua sede é um flutuante aportado exatamente na embocadura do rio Jaú. As visitas são permitidas, mas apenas com autorização prévia do Ibama de Manaus, que conta com menos de dez funcionários para fiscalizar o segundo maior parque nacional do Brasil (tel. 92/3613-3261). Na seca, a vigilância da boca do rio que corta toda a extensão do lugar não é tarefa complicada. Na cheias, porém, caçadores, pescadores e traficantes de animais passam por furos que se ligam diretamente ao Negro e despistam os fiscais com facilidade. A principal atração, além da mata, exuberante como em poucos pontos da Amazônia, e das diversas comunidades caboclas que ali vivem, fica por conta da cachoeira do Carabinani – na

C OMUNIDADES

ESQUECIDAS

Apesar de o sistema nacional de unidades de conservação não permitir a presença de pessoas residindo em parques nacionais, no Jaú há quatro comunidades e diversos sítios. Quando o parque foi criado, alguns habitantes sucumbiram às restrições impostas pelo governo federal e deixaram suas terras ancestrais sem jamais terem sido indenizados. Os que ficaram só aceitam arredar pé com indenização garantida.Vivem da agricultura de subsistência, da caça e da pesca. Quando há turistas, guiam-nos pelos igarapés e igapós, em focagem de jacarés ou em passeios para a observação de ariranhas. O drama dos habitantes do Jaú é retratado no documentário A próxima refeição, de Kleber Bechara (DOCTV, 2005).

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Comunidade do Lázaro, no Parque Nacional do Jaú

verdade uma seqüência de quedas de até 2 metros de altura entremeada por pequenas ilhas, no rio de mesmo nome, visíveis apenas na seca. O trecho do Jaú considerado mais bonito fica

A RQUIPÉLAGO O maior arquipélago fluvial do mundo, com mais de setecentas ilhas, 140 quilômetros de extensão e 20 quilômetros de largura média, localizase no médio rio Negro e integra uma Área de Proteção Ambiental (APA) municipal que apresenta forte potencial para o ecoturismo, atividade ainda pouco desenvolvida no lugar. Na época da seca, as atrações são as praias e os bancos de areia que se formam no meio do rio, além dos diversos lagos e furos no labirinto de ilhas de todos os 110

entre as comunidades do Seringalzinho e Tambor, onde o rio estreita e a floresta se debruça sobre as águas. Há quem diga que se trata do lugar mais belo de toda a Amazônia. DE

M ARIUÁ

tamanhos. Na cheia, os passeios em igapós, com o barco navegando na altura da copa das árvores, proporcionam uma das melhores experiências para quem viaja pela região. BARCELOS A cidade, na margem direita do médio rio Negro e em frente ao arquipélago de Mariuá, tem seu nome comumente associado aos piabeiros, coletores de peixes ornamentais, e aos extratores da fibra da piaçava, os piaçabeiros. Mas é a GUIA AMAZÔNIA


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pesca esportiva a atividade econômica principal do município. Embora tenha sido a primeira capital da antiga capitania do Rio Negro, não guarda patrimônio histórico relevante. Em 1833, a estrutura administrativa foi transferida definitivamente para São José da Barra do Rio Negro, atual Manaus. Desde 1993, sedia o Festival do Peixe Ornamental. Realizado anualmente num estádio chamado Piabódromo, ocupa três dias do último fim de semana de janeiro e atrai milhares de pessoas. Na festa, duas agremiações, a Acará-disco e a Cardinal, disputam provas variadas. Há ainda shows, torneios esportivos, escolha da rainha e um luau na praia Grande, banco de areia que se forma no meio do rio na vazante.A Associação Indígena de Barcelos (Asiba) produz GUIA AMAZÔNIA

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peças artesanais elaboradas com fibra de piaçava (r.Vereador José Basílio, 2, Centro, tel. 97/3321-1878. Seg. a sex., 8h/11h30 e 14h/17h).Artesanato indígena e caboclo de boa qualidade pode ser encontrado na Vanuza Art’s (av.Ajuricaba, s/n, s/tel. Seg. a sáb., 8h/12h e 14h/19h; dom., 8h/11h) e na Xirimbabo (r. Budari, 46, S. Francisco, tel. 97/3321-1789. Seg. a sáb., 8h/11h e 14h/17h; dom., 8h/11h). Barcelos, cuja população é de quase 25 mil habitantes, fica a 495 quilômetros de Manaus por via fluvial, uma viagem que, em recreio, dura 26 horas.Também há vôos regulares para este destino a partir da capital amazonense. De Novo Airão, a distância por rio é de 245 quilômetros. PESCA ESPORTIVA Entre setembro e março, barcos-hotéis 111


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A coleta artesanal de piaçava é uma importante fonte de renda familiar em Barcelos

lotados de grupos de pescadores povoam o rio Negro e seus afluentes na região de Mariuá. O tucunaré, espécie muito abundante, é o peixe mais procurado. A atividade da pesca

P IAÇABEIROS

E PIABEIROS

Barcelos é o segundo maior pólo produtor de piaçava do Brasil (depois do sul da Bahia), fibra retirada de uma palmeira e empregada na confecção de vassouras.A extração é feita nos mesmos moldes desde o século XIX, por meio do sistema de aviamento, em que o comprador fornece víveres para os ribeirinhos coletores – os piaçabeiros – em troca da produção.Trata-se de uma das principais fontes de renda para as famílias ribeirinhas locais.A coleta das piabas, nome que designa genericamente os filhotes de diversas espécies de peixes ornamentais, já foi a base econômica do município de Barcelos entre os anos 1980 e 1990.A atividade deixou de ter importância significativa,devido sobretudo à reprodução das espécies em cativeiro, associada à preocupação com o impacto ambiental. Apesar disso, ainda é importante fonte de renda para a população,que coleta,entre outros, filhotes de cardinal, de acará-bandeira, de acará-disco e de rodóstomo.

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esportiva, realizada na modalidade pesque-e-solte, provoca alguns conflitos sociais e ambientais: ribeirinhos consideram que os empreendedores não trazem benefícios às comunidades locais; ambientalistas dizem não existir estudos conclusivos a respeito do impacto da atividade sobre os peixes devolvidos às águas com ferimentos na boca e na cabeça. Turistas interessados em pesca devem procurar diretamente os barcos-hotéis. Em Barcelos, estão aportados o Karen Julyana, de estilo regional (tels. 97/3321-1265/1238), e as lanchas Princesa Amazônia I e II (tel. 97/33211137), Tayaçu (tel. 97/3321-1002) e Grendha I (tel. 97/3321-1950), esta a menor da categoria. Em Manaus, as empresas que operam ou agenciam a pesca esportiva são a Amazon Clipper (tel. 92/3656-1246), a Santana Turismo (tel. 92/3234-9814) e a Amazônia Expedition (tel. 92/3671-2731). Pescadores devem portar licença de pesca amadora, emitida pelo Ibama. Para mais informações, consulte a agência que oferece o programa. GUIA AMAZÔNIA


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PARQUE ESTADUAL Em região remota e praticamente desconhecida do município de Barcelos, próxima à fronteira com a Venezuela, a serra do Aracá se destaca em meio à planície, com paredões escarpados de onde despenca a maior cachoeira do Brasil, a do Aracá, com 365 metros de altura. Esta é apenas a mais chamativa das atrações do lugar. O seringalista Tatunca Nara, de Barcelos, guiou em 2006 uma equipe de espeleólogos que encontrou ali a maior caverna em abismo de toda a América do Sul, com 670 metros de profundidade, que é também uma das maiores cavernas de quartzito do mundo. Não existe estrutura de apoio aos viajantes, e apenas expedições científicas exploram eventualmente a serra, de difícil acesso pelo rio Aracá, a partir de Barcelos, seguindo pelo igarapé do Jauari. O trecho de rio, a bordo de voadeira, pode ser feito em 12 horas. Já o trajeto pelo igarapé até a comunidade do Seu Miranda, habitada por piaçabeiros, consome

DA

SERRA

DO

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ARACÁ

mais quatro horas.A partir desse ponto, são cerca de cinco horas de caminhada pela mata até o sopé. A subida demanda mais seis horas em ritmo acelerado. Os interessados na viagem, que requer entre outras coisas equipamentos para acampamento selvagem, devem contratar, de modo informal, guias e barqueiros experientes em Barcelos. Na comunidade do Seu Miranda é possível contratar carregadores. O melhor período para realizar a expedição é entre julho e agosto, quando chove pouco e os rios ainda estão cheios, facilitando a navegação. A região compõe o Parque Estadual da Serra do Aracá, criado em 1990, com cerca de 18 mil quilômetros quadrados e sobreposto à Terra Indígena Yanomami. Para visitar o parque é exigida uma autorização do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS) (tel. 92/3642-4607).

Cachoeira do Aracá, a maior do Brasil, com 365 metros de altura

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São Gabriel, cidade com forte presença indígena e quatro línguas oficias

S ÃO G ABRIEL Numa paisagem composta por uma série de serras, a pequena São Gabriel, cidade tranqüila, de marcada ascendência indígena e significativa presença militar, está localizada em frente a um magnífico trecho encachoeirado do rio Negro, com fortes corredeiras, ilhas e praias, formadas sobretudo no período da seca, cujo pico ocorre no mês de janeiro, praticamente inverso em relação a Manaus. São Gabriel, com 90 por cento de sua população de 39 mil pessoas formada por indígenas, é o único município no país a ter quatro línguas oficiais: além do português, há o nheengatu (língua geral), o tucano e o baníua. Por estar próximo às fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, há ali uma série de equipamentos militares – do Exército e da Aeronáutica –, ao redor dos quais gira toda a economia local. A cidade é ponto de partida para um dos trekkings mais difíceis do Brasil: a ascensão ao pico da Neblina, ponto culminante do país. Há outros passeios, 114

DA

C ACHOEIRA

com graus de dificuldade diversos. Para quem deseja comprar artesanato, vale uma visita à Casa de Produtos Indígenas do Rio Negro, que vende bancos tucanos, cerâmica cubéua e cestarias ianomâmis, além de livros de narradores indígenas (av. D. Pedro Massa, s/n, Centro, tel. 97/3471-1450. Seg. a sáb., 7h30/11h30 e 14h/17h30). Os interessados em conhecer F ESTRIBAL :

ENCONTRO DE CULTURAS INDÍGENAS

A mais conhecida festa de São Gabriel da Cachoeira, o Festribal (Festival Cultural das Tribos do Alto Rio Negro), é realizada em setembro no ginásio da cidade (r. Castelo Branco, s/n). A programação, desenvolvida em cinco dias, inclui danças tradicionais, apresentações de crianças, shows de música com artistas locais e regionais e competições esportivas e folclóricas. Nas duas últimas noites acontece a disputa entre agremiações indígenas, com demonstrações de alegorias, coreografias e destaques inspirados em mitos dos índios. Durante as celebrações, escolhe-se, entre um grupo de adolescentes, a rainha do Festribal, a Kuña Muku Poranga.

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comunidades indígenas devem procurar a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que reúne 88 associações indígenas da chamada Cabeça do Cachorro, como é denominado o alto rio Negro. Em atividade desde 1987, a FOIRN é a maior organização indígena da Amazônia brasileira e foi uma das responsáveis pela demarcação de 106 mil quilômetros quadrados de terras indígenas contíguas na região (av. Álvaro Maia, 79, Centro, tel. 97/34711632. Seg. a sex., 7h30/17h30). O acesso a São Gabriel, a partir de Manaus, é feito por via aérea em vôos regulares ou por barcos de linha, numa viagem que dura 72 horas. PASSEIOS PELOS ARREDORES Na época da vazante, as praias de areias brancas e soltas, como a do Bairro da Praia, em frente à área central, são muito procuradas por moradores e visitantes.A bordo de canoa ou voadeira, em trajetos que não ultrapassam cinco minutos, é possível chegar às praias da ilha dos Reis e da ilha do Sol, que somem durante a cheia. O morro da Boa Esperança é alcançado por trilha de 20 minutos que parte do limite de São Gabriel com a floresta. Do topo se avistam o rio,

T REKKINGS

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I SA : DIÁLOGO COM OS POVOS INDÍGENAS O Instituto Socioambiental (ISA), estabelecido em São Gabriel da Cachoeira desde 1994, quando foi fundado, conquistou a confiança dos povos indígenas e foi coresponsável pela demarcação de algumas de suas terras. A ONG atua também em programas relacionados à comunicação, transporte, educação, valorização cultural, alternativas econômicas e direitos constitucionais. A sede, projetada pelo escritório Brasil Arquitetura, faz referência às técnicas construtivas indígenas na bela cobertura de piaçava do edifício de três andares. No primeiro andar, aberto ao público, funcionam o telecentro, com acesso gratuito à internet, e uma biblioteca com acervo de 1600 títulos sobre o rio Negro (seg. a sex., 8h/12h e 14h/17h30). Há ainda um espaço multimídia com sala de cinema (sessões: ter., qui. e sáb.,19h). R. Projetada, 70, Centro, tels. (97) 34711156/2182/2193.

alguns bairros e a serra da Bela Adormecida. Na Sexta-feira Santa, fiéis seguem em procissão pelas catorze estações da via-sacra que há na trilha. O morro da Fortaleza, na cidade, onde em 1763 foi erguida a fortaleza de São Gabriel, fica no trecho mais estreito do rio Negro em território brasileiro. Da edificação, não restam nem ruínas, mas o local é famoso por formações rochosas curiosas.

NO PLANALTO DAS

Todas as grandes atrações da região estão em terras indígenas, de modo que é preciso obter autorização expressa de seus habitantes e da Funai para explorálas. Não existe em São Gabriel nenhuma estrutura oficial de apoio ao turista, portanto é fundamental verificar com várias fontes a confiabilidade de quem vende o pacote. Para uma viagem bem-sucedida, é preciso contar com um guia experiente e que mantenha

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boas relações com os indígenas, além de condições climáticas favoráveis e equipamentos de camping e alimentação suficientes para os dias na floresta.Telefone via satélite é importante em caso de necessidade de resgate, embora não funcione em todos os lugares. Certifique-se de que tais requisitos serão cumpridos por quem oferece o passeio. Os guias mais experientes da região são Valdir Pereira 115


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da Silva (tel. 97/3471-1671, no Hotel Roraima) e Antonio Henrique Leão (tel. 92/8188-0119, brancoguia@yahoo.com.br). O Ibama dispõe de mais informações sobre os passeios (tel. 97/3471-1617), as quais também podem ser obtidas no escritório da Funai (tels. 97/34711405/1729). PARQUE NACIONAL DO PICO DA NEBLINA Atingir o cume do Brasil, o pico da Neblina, com 2994 metros de altitude, é o grande prêmio aos que decidem encarar dez dias de agruras na floresta em meio ao parque nacional batizado com o nome do pico, cuja área, na fronteira com a Venezuela, é de 22 mil quilômetros quadrados. São seis dias para ir e quatro para voltar. O roteiro, de alto grau de dificuldade, exige bom preparo físico e tem como ponto de partida a cidade de São Gabriel da Cachoeira. Há trechos em estrada de terra (85 quilômetros pela BR-307), em rios (entre 12 e 15 horas descendo

o Iá-Mirim e o Iá-Grande, e subindo o Cauaburis e o Tucano em voadeira) e em trilha (36 quilômetros a pé, subindo e descendo morros, passando por terrenos acidentados e regiões alagadiças). O calor e a umidade são grandes. À noite, os viajantes dormem em redes sob precárias coberturas de lona montadas no meio da mata ou na margem dos rios. A partir do cume, é possível seguir até o pico 31 de Março, o segundo mais alto do país, com 2973 metros, numa caminhada de uma hora que rende vista para o pico da Neblina, de onde este adquire forma semelhante a uma pirâmide. O Parque Nacional do Pico da Neblina está sobreposto às Terras Indígenas Yanomami, Médio Rio Negro II e Balaio e, desde 2002, permanece restrito para visitação devido a tensões ocorridas entre os ianomâmis e grupos de turistas. Ainda assim, uma vez que os povos indígenas têm autonomia para convidar pessoas a entrar em suas terras, o turismo voltou a ser praticado em meados de 2007.

Vegetação rupestre, presente nas grandes altitudes do planalto das Guianas

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Pico da Neblina, o mais alto do país, com 2994 metros de altitude

RESERVA BIOLÓGICA MORRO SEIS LAGOS Totalmente sobreposta à Terra Indígena Balaio e ao Parque Nacional do Pico da Neblina, é formada por uma elevação com altitude média de 360 metros e 6 quilômetros de diâmetro, de origem vulcânica. Contém o maior depósito de nióbio do mundo, elemento usado em ligas para a fabricação de aviões, foguetes e reatores nucleares. Os lagos são rodeados por formações rochosas com diferentes composições minerais, o que faz com que a coloração da água varie, de lago para lago, entre tons de azul, verde e marrom.A magnitude da paisagem é perceptível sobretudo quando vista de cima, de helicóptero ou avião. Por lei, reservas biológicas não admitem visitação (exceto para atividades educativas), mas elas são freqüentes e toleradas no morro dos Seis Lagos. O percurso de ida e volta leva de três a quatro dias, com trecho de estrada, barco e trilhas. É possível visitar apenas cinco dos seis lagos; o do Dragão, onde os acampamentos são montados, é o melhor para banho. DOS

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SERRA DO CURICURIARI Cartão-postal de São Gabriel, a serra do Curicuriari – situada no interior da Terra Indígena Médio Rio Negro I – é formada por um conjunto de morros que, quando observados da cidade, lembram a silhueta de uma mulher deitada – razão pela qual é chamada de serra da Bela Adormecida. Pode ser visitada, mediante autorização da Funai (tels. 97/3471-1405/1729), a partir de São Gabriel, em um passeio de quatro dias. As comunidades indígenas que lá vivem também devem dar o aval ao passeio. O percurso de voadeira leva 40 minutos descendo o rio Negro e mais 20 minutos subindo o rio Curicuriari até o início da trilha, que tem cerca de 10 quilômetros de extensão até o pé da serra. No segundo dia, uma caminhada de cinco horas leva ao cume, com 1100 metros de altitude na parte mais alta, onde se pode passar a noite acampado e de onde se vêem o rio Negro, a vasta planície amazônica e a cidade de São Gabriel da Cachoeira. 117


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ÍNDIOS

DO NORTE osso país pode se orgulhar de uma grande diversidade de povos e línguas indígenas. São 220 povos e 180 línguas, em mais de seiscentas terras indígenas habitadas por uma população estimada em 700 mil pessoas. Os índios têm direito a 13 por cento do território brasileiro e, no Norte, a 20 por cento da Amazônia, pois a Constituição brasileira e as leis internacionais válidas no Brasil são firmes em favor de povos que sofreram massacres e genocídio desde a conquista – quando seriam talvez 3 milhões. Na Amazônia Legal, ficam 99 por cento das terras indígenas do país, mas apenas 60 por cento da nossa população indígena vive nelas.Aproximadamente 70 por cento das terras indígenas do Norte estão demarcadas, porém elas permanecem vulneráveis a invasões e a situações de desrespeito ao ambiente: sua preservação é um esforço contínuo. Uma vitória em 2005 foi a demarcação do 1,7 milhão de hectares das terras macuxi, povo de Roraima. Grandes interesses econômicos ameaçam reduzir essa área em 2008. Se prevalecerem, o Brasil estaria aniquilando sua história honrosa de princípios, leis e políticas em defesa dos povos originários. Não se pode falar de índios como um conjunto homogêneo, e sua situação varia muito. Há povos de 40 mil pessoas, como os Tikuna, de algumas centenas, como os Gavião-ikolen, ou formados apenas por meia dúzia de sobreviventes, como os Akuntsu, ou por um único e solitário herói acuado, como o do rio Tanaru, em Rondônia. Há quarenta povos isolados na floresta, sem contato com a população regional, como os Korubo, no vale do Javari. Outros, mesmo depois de estabelecido o diálogo com o governo e com a Funai, seguem com cultura e ambiente bastante preservados. É o que ocorre com os Zo’é, os Parakanã, os Waimiri-Atroari, os catorze povos do Parque Indígena do Xingu e os Enawenê-Nawê, graças a programas indigenistas bem orientados (e diferentes entre si), nos quais os índios continuam a transmitir o seu saber milenar, mas adquirem conhecimentos sobre o resto do mundo. Os 13 mil Yanomâmi brasileiros, que passaram por mortandade e invasões, resistem com suas tradições vivas, habitando belas ocas em forma de cone seccionado, com um pátio central. São famosos por seus pajés, pelos rituais em que usam alucinógenos, pelos costumes funerários. Os numerosos povos do alto e médio rio Negro – que contam com uma forte organização, a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) – estendem-se por municípios e cidades de população indígena e falam muitas línguas, entre as quais o nheengatu, o baniwa e o tukano, as três únicas reconhecidas como oficiais no Brasil, além de português. Os Kayapó são mais de 7 mil e habitam quase 10 milhões de hectares de terras cobertas de floresta; são conhecidos na mídia pela beleza de sua arte plumária e por representarem um esteio do movimento indígena. Rondônia, onde a política indigenista humanitária teve início em 1910, com o marechal Rondon, possui terras garantidas de dezenas de povos de contato recente, como os Suruí Paiter, que em 1969 fizeram a primeira visita amistosa ao acampa-

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mento da Funai, ou os Uruéu-au-au, que até 1984 se recusavam a fazer as pazes com os estrangeiros, e têm hoje 1,8 milhão de hectares, onde nascem e fluem as águas dos rios mais importantes da região. Há povos menos afortunados, ameaçados, sem terra, vítimas de violência, ou sem história e direito reconhecidos. Há, ainda, grandes contingentes de índios urbanos, que vivem em duras condições, sem emprego ou moradia. Ao amplo leque dos domínios distintos constituídos pelos povos indígenas aliam-se organizações não-governamentais, que realizam projetos construtivos; outras propostas são delineadas pelas próprias organizações indígenas ou pela Funai. O Brasil tem tanto casos exemplares de indigenismo como descasos trágicos de defesa da sobrevivência dos índios. Com toda a diversidade, os índios têm muito em comum. Sua força vital, o desejo de viver e de repor as perdas da conquista colonial, se expressa em altas taxas de crescimento populacional, que podem chegar a 5 por cento – cifra muito superior à taxa média do Brasil. No plano político, os índios do Norte contam com mais de trezentas organizações – de professores, agentes de saúde, mulheres, desenvolvimento sustentável – e com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).Têm programas de educação e escolas multiculturais e multilíngües, e conquistaram na Constituição de 1988 o direito a línguas, cultura e sistema escolar específico, válidos também no país. São os índios, ainda, que guardam o ambiente, a floresta e os rios, embora exista igualmente muita exploração predatória de madeira, minérios e pedras preciosas, como diamantes. Calcula-se que, até 2002, apenas 3 por cento da superfície das terras indígenas da Amazônia passou por algum tipo de exploração humana (é verdade que, se políticas adequadas não forem adotadas, os recursos ambientais dos índios poderão minguar em alta velocidade). O modo de vida indígena é comunitário, pautado por outros valores que não o dinheiro. O parentesco e a dádiva regem as trocas de bens, com relações pessoais e mágicas, mais que comerciais. A presença dos pajés, o além e o reino das almas como continuidade da esfera visível e material, o sentido cósmico da existência, a vida amorosa com regras e proibições, mas expansiva e livre, uma noção de tempo que alarga o vivido, as famílias polígamas, com raros casos de poliandria (uma mulher com mais de um marido) são facetas compartilhadas pela maioria dos povos. Festas como o Kwarup do alto Xingu, um ritual dos mortos e da criação do mundo, ou o Mapimaí dos Suruí Paiter, de plantio e colheita com trocas de dons entre as metades do povo, recebem hoje visitantes do Brasil e do exterior. Uns dias apenas em qualquer aldeia indígena, mesmo as mais destituídas, são um impacto emocional para os observadores e provam que é possível viver em sociedade de acordo com valores humanitários, mais igualitários, artísticos, prazerosos, bem diferentes dos nossos. Betty Mindlin, antropóloga GUIA AMAZÔNIA

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D E M ANAUS A partir de Manaus, é possível alcançar o mar do Caribe pela BR-174, uma estrada asfaltada e em condições razoáveis. O percurso, de 2200 quilômetros, pode ser cumprido em três ou quatro dias. Mas, para conhecer as atrações do caminho – algumas delas monumentais –, são necessárias duas semanas no mínimo. De Manaus a Boa Vista são 785 quilômetros e, logo nos 100 quilômetros iniciais, atinge-se o município de Presidente Figueiredo, conhecido por suas numerosas cachoeiras (veja página 96). Depois de outros 100 quilômetros, cruza-se a Terra Indígena Waimiri-Atroari ao longo de 200 quilômetros. É proibido parar nesse trecho de estrada; o trânsito é permitido somente das 6 às 18 horas. BoaVista, a capital de Roraima, estado que tem metade de suas terras protegidas, possui as melhores opções de hospedagem desta porção do extremo norte do país e agências oferecem roteiros pela região. É o ponto de partida para viagens à serra de Pacaraima, onde estão o monte Caburaí, ponto mais setentrional do COMO

AO

C ARIBE

Brasil, e o monte Roraima, acessível apenas pelaVenezuela e um dos lugares mais atraentes do planeta para praticantes de trekking. Outro passeio que parte de BoaVista – este, menos conhecido – tem como destino a serra de Parima, no centro-norte do estado, a 220 quilômetros da capital. Com altitudes de até 1500 metros, é cortada por rios e igarapés e abrange a serra do Tepequém, antiga área de garimpo de diamantes, com belas trilhas e cachoeiras, como as do Paiva, Sobral e Funil – esta última formada por uma escavação feita por garimpeiros no igarapé Cabo Sobral. A partir de Boa Vista, a paisagem – até então de florestas – transfigura-se. Nos 220 quilômetros que separam a capital da fronteira venezuelana, cruza-se uma área de campos de cerrado natural, localmente chamados de lavrado. É recomendável verificar o combustível em Pacaraima, cidade fronteiriça, já que, por acordo entre os governos brasileiro e venezuelano, no primeiro município da Venezuela carros do Brasil não podem abastecer, e o posto seguinte fica

EXPLORAR

Quem viaja de carro próprio necessita obter no Detran de seu estado um documento de circulação para a Venezuela. Junto com a documentação do veículo e a do condutor (não é necessário que seja internacional), este será solicitado na aduana,que funciona diariamente das 8 às 12 horas e das 14 às 17 horas.A locadora de carros Yes, com agências em Manaus e Boa Vista, permite que sua frota cruze a fronteira e providencia toda a documentação necessária (tel. 0800-709-2535).A viagem de carro requer atenção para as longas distâncias entre os postos de abastecimento nos dois países.A empresa de ônibus Eucatur tem saídas diárias de Manaus a Puerto La Cruz, às 18 horas. A viagem dura 32 horas. Entretanto, convém se informar com antecedência, pois em certos períodos os horários são irregulares

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(tel. 92/3648-1524). É possível dividir a viagem de ônibus em trechos curtos e completar o percurso em um número maior de horas. Brasileiros, viajando em qualquer meio de transporte, devem portar passaporte. Estrangeiros precisam ficar atentos aos acordos entre seus países de origem e aVenezuela no que se refere à necessidade ou não de visto de entrada. Comprovante de vacinação contra a febre amarela é exigido de todos. Aos que desejam conhecer a serra do Tepequém e o monte Roraima, a Roraima Adventures, com base em Boa Vista, organiza excursões (tel. 95/3624-9611). Para conhecer o Parque Nacional Canaima, contate a agência Ruta Salvaje, em Santa Elena de Uyarén, que também leva visitantes ao monte Roraima (tels. 58/0289/995-1134).

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Isla de Margarita

Cumaná

RR

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1 cm = 82 km

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VENEZUELA

Pq. Nac. Canaima Monte Salto Ángel Roraima

Santa Elena de Uyarén

Monte Caburaí Pq. Nac. do Monte Roraima

Pacaraima

SURINAME GUIANA

RO R A IMA Boa Vista BR 432

Rio N egr o

Rio Bra nc o

BR 210

BR 174

PARÁ Terra Ind. WaimiriAtroari

Represa de Balbina

AM AZ ONA S Manaus GUIA AMAZÔNIA

Presidente Figueiredo Rio

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A paisagem do monte Roraima inspirou Conan Doyle em O mundo perdido

distante. Cruzando a fronteira, são 15 quilômetros até a cidade venezuelana de Santa Elena de Uyarén, base para a visitação do Parque Nacional Canaima, que abriga, entre outras atrações, o salto Ángel – a maior cachoeira do mundo – e a trilha de acesso ao topo do monte Roraima. No trecho de 565 quilômetros entre Santa Elena de Uyarén e Upata – um bom ponto para pernoite –, percorre-se a região serrana dos tepuis, com trechos íngremes e sinuosos, sinalização precária e muitas lombadas. Mas a paisagem

compensa o esforço. De Upata chega-se a Puerto La Cruz, já no litoral caribenho, depois de um percurso de 446 quilômetros em que se cruza, por ponte, o Orinoco, principal rio da Venezuela.Após uma travessia marítima de duas a quatro horas, dependendo da balsa, atinge-se a Isla de Margarita, conhecido balneário turístico. De Puerto La Cruz também se pode seguir para outras localidades, como o Parque Nacional de Mochima, o Parque Nacional Morocoy e as lindas ilhas de Los Roques.

M ONTE RORAIMA A fronteira do Brasil com a Venezuela é marcada pela presença dos tepuis, formações geológicas que se incluem entre as mais antigas do planeta – com cerca de 2 bilhões de anos –, aplainadas no topo e margeadas por 122

paredões verticais com altura média de 500 metros de onde brotam cachoeiras. O monte Roraima – “a casa de Macunaima” e “la madre de todas las aguas”, como é chamado pelos indígenas locais – é o mais imponente deles, com GUIA AMAZÔNIA


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2734 metros de altitude.Viajantes dispostos a chegar a esse ponto remoto da Amazônia são agraciados com uma paisagem absolutamente singular. O platô do Roraima, com 84 quilômetros quadrados, é todo formado por rochas esculpidas pelas chuvas e pelo vento, que servem de suporte a uma vegetação endêmica de orquídeas, bromélias e outras plantas adaptadas, muitas delas insetívoras.A fauna é pobre; quase nunca se vê mais que pequenos pássaros e roedores.A neblina onipresente confere um clima de irrealidade – raramente o tempo abre e as nuvens ficam abaixo do topo. E quem se posta na beira dos paredões nesses momentos tem a sensação de estar numa ilha no céu. Para chegar ao Roraima, parte-se de Santa Elena de Uyarén, onde há diversas agências que organizam excursões. Dali, deve-se seguir à comunidade de Paraytepui, dos índios GUIA AMAZÔNIA

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pemóns. O trajeto leva duas horas, em veículo com tração nas quatro rodas. Guias e carregadores podem ser contratados entre os pemóns, que já estão acostumados a realizar esse tipo de trabalho.A caminhada tem início em Paraytepui, por uma trilha plana, com

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CONQUISTAS

O Roraima foi descoberto em 1595, quando o explorador britânico sir Walter Raleigh procurava por tesouros na floresta da atual Guiana.Três séculos mais tarde, em 1884, o botânico inglês Everard F. Im Thurn encontrou uma via de acesso ao topo pelo lado venezuelano, até hoje a única que dispensa equipamentos de alpinismo. Seu relato inspirou o escritor britânico Arthur Conan Doyle a criar o cenário de seu livro O mundo perdido. Pelo lado brasileiro, o monte foi conquistado em 1991 por alpinistas do Clube Alpino Paulista, numa arriscada escalada de cinco dias.

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vegetação rasteira e poucas sombras. Depois de cinco horas chega-se ao rio Kukenan, ponto recomendável para o primeiro pernoite, já próximo à base do Roraima.A desgastante subida ao platô pode ser feita em oito horas por aqueles que apresentam preparo físico razoável. Há quem prefira subir em dois dias. Em alguns trechos, pedras molhadas requerem atenção especial e em outros é preciso se apoiar em troncos e raízes. No alto, há pontos para acampamento em abrigos naturais nas encostas rochosas.Ali, os locais mais visitados são o marco da tríplice fronteira de Brasil, Venezuela e Guiana; a pedra Maverick, que assinala o cume do monte; o vale dos Cristais, repleto de cristais de quartzo; e o lago Gladys, entre diversas pequenas lagoas e cursos d’água no meio das pedras. O melhor período para subir o Roraima é o compreendido entre outubro e fevereiro, quando chove menos. O lado brasileiro integra o Parque Nacional Monte Roraima, criado em 1989, cuja parte baixa se encontra sobreposta à Terra Indígena Raposa/Serra do Sol,

homologada em 2005.A parte venezuelana está dentro do Parque Nacional Canaima.

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CAVALO LAVRADEIRO

O lavrado, formado por campos de terras baixas, planas e cobertas por vegetação rasteira, estende-se por 17 por cento do território de Roraima ou cerca de 40 mil quilômetros quadrados. Foi o cenário onde se desenvolveu uma raça de cavalos brasileira: o lavradeiro. Os primeiros animais foram introduzidos no lavrado pelos portugueses, que ali chegaram no fim do século XVIII, após a construção do forte de São Joaquim, como meio de manejar o rebanho bovino, atividade iniciada na mesma época. Isolados e livres nos imensos campos entre as serras de Pacaraima e Parima, os rios Maú e Tacutu e a floresta, os eqüinos encontraram condições selvagens para viver e reproduzir-se, adquirindo traços peculiares, num processo de adaptação natural. Entre essas características estão a alta rusticidade e a resistência, atribuídas à prolongada exposição a pastagens de baixo valor nutritivo que se desenvolvem nos solos pobres da região. Atualmente, diversas iniciativas tentam preservar o lavradeiro, ameaçado de extinção pelos cruzamentos com raças exóticas e pela caça esportiva.

PARQUE N ACIONAL C ANAIMA O Parque Nacional Canaima abrange uma área de 30 mil quilômetros quadrados no sudeste daVenezuela, considerada patrimônio natural da humanidade pela Unesco desde 1994.A extraordinária paisagem proporciona uma amostra da rica diversidade da geografia daquele país. Nele estão reunidos a gran sabana, área formada por campos baixos e planos, com vegetação rasteira e fragmentos de floresta tropical densa, e os tepuis. Entre os numerosos rios, lagoas, praias e cachoeiras do parque, destaca-se o salto Ángel, a mais alta queda-d’água

do mundo, com 979 metros de altura, formada no Auyán Tepui pela queda do rio Churun. O ponto de partida mais comum para a visitação ao Ángel é a cidade de Canaima, onde agências dispõem de roteiros com duração mínima de dois dias em canoas motorizadas, e uma caminhada até a base da cachoeira.Viajantes mais aventureiros podem chegar ao salto a partir de Santa Elena de Uyarén, numa expedição fluvial de cinco dias iniciada na aldeia indígena de Kavak.Também é possível sobrevoar o Ángel.

Salto Ángel, no Parque Nacional Canaima (Venezuela): a maior cachoeira do mundo 124

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