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Caderno

14 de outubro de 1994, quando dirigia rumo a um show do Racionais em Pinheiros135 . Ele se torna réu em um processo que correria por mais de dois anos, devido à divergência entre as causas do acidente (imprudência ou fatalidade), sendo absolvido com a obrigação de indenizar a família da vítima. Porém, logo após a ocorrência e antes de qualquer investigação, ele e seus parceiros já haviam sido incriminados pela imprensa e pelas autoridades:

Imagem 3 – Notícia publicada na Folha de S.Paulo, em 15/10/1994, p.1 Terceiro Caderno.

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135 “Uma pessoa morreu e três ficaram feridas gravemente num acidente envolvendo integrantes do grupo de rap Racionais MC’s. No início da madrugada de ontem, na altura da ponte Eusébio Matoso, na Marginal do Pinheiros, sentido Jaguaré – Santo Amaro, o opala de placa NY-4444, conduzido por Advaldo Pereira Alves, o Edy Rock, colidiu com a Kombi de placa IL-5984, em que viajava uma família. O motorista da perua, Osaías de Oliveira, morreu no Hospital das Clínicas. Além dele, outras sete pessoas que ocupavam a Kombi ficaram feridas. No automóvel estavam apenas Alves e um dos produtores do grupo, Ronaldo Tadeu. Os dois sofreram ferimentos leves.” (“Colisão com carro de rappers mata um”, in: O Estado de S.Paulo, 15/10/1994, C-4).

(...) Com o carro de Rock vinham mais um Opala e um Passat com os outros três integrantes e os técnicos do Racionais. A polícia acredita que eles estavam participando de um “racha”. (...) Segundo Rock, a Kombi, ano 72, teria fechado seu carro e estaria sem iluminação traseira. O delegado-assistente Antonio Carlos Barbosa, do 15º DP, onde o acidente foi registrado, não acredita na versão do vocalista do Racionais. “Os laudos devem desmentir essa versão”, disse. Segundo a polícia, os resultados das perícias devem sair em novembro. Se elas indicarem que houve racha, os membros e os técnicos do Racionais poderão ser indiciados por homicídio e lesão corporal culposos e omissão de socorro. Rock diz que dirigia o carro a “uns 100 km/h”, mas que não estava “tirando um racha”. “Quem tira racha é boy.” (FOLHA DE S. PAULO, 15/10/1994, 136)

A abordagem dada ao tema, em especial, a expectativa do delegado-assistente de comprovar previamente a culpa do investigado, constitui um exemplo prático dos processos de sujeição criminal tematizados em diversas músicas do Racionais. Nesse evento e em outras ocasiões, a máscara de marginalidade jamais se descolaria dos integrantes do grupo, nas perseguições137 que sofrem mesmo com o reconhecimento de seu valor artístico:

O grupo Racionais MC’s, principal banda de rap nacional, canta há cinco anos as letras agressivas que retratam a vida na periferia. Mano Brown, KL Jay, Edy Rock e Ice Blue conhecem de perto a malandragem e fazem som para os “manos”. (O ESTADO DE S. PAULO, 15/10/1994, p. C4138) [grifo meu]

136 “Acidente com Racionais MC's mata 1”, in: Folha de S. Paulo, 15/10/1994. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/10/15/cotidiano/26.html. Acesso em 6 de outubro de 2018. 137 Apenas para citar alguns episódios, no mesmo ano de 1994, em 26 de novembro, os integrantes do Racionais foram detidos pela polícia e levados ao 3ºDP sob acusação de apologia ao crime e incitação à violência ao cantar a música “Homem na Estrada”, durante um show no Vale do Anhangabaú, que celebrava os 300 anos de Zumbi dos Palmares. Conforme matéria publicada na Folha de S.Paulo em 28/11/1994, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/11/28/brasil/23.html. Acesso em 29/4/2019. Em 28 de julho de 2004, Mano Brown foi detido pela PM, acusado de resistência à prisão e desacato. Ele estava em seu carro, na Estrada de Itapecerica da Serra, quando o veículo foi seguido e parado pelos policiais já dentro do condomínio em que o MC vivia. Com Brown, estava Nelson da Conceição dos Santos, DJ Nel, que possuía uma ponta de cigarro de maconha no bolso da jaqueta e foi autuado por porte de entorpecente. O MC pagou fiança de R$60 e o DJ de R$80 para serem liberados do 92ºDP. Conforme matéria publicada na Folha de S. Paulo, em 28/7/2004, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u97436.shtml. Acesso em 29/4/2019. Em 6 de abril de 2015, Mano Brown é detido outra vez durante uma blitz no Capão Redondo – um documento de seu veículo estava vencido. O MC é levado algemado ao 32ºDP, sob a alegação da PM de que houve desacato. Brown afirma ter sido empurrado e jogado no chão ao descer do carro. Conforme matéria publicada na Folha de S.Paulo, em 6/4/2015, disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/04/1612922-manobrown-e-detido-na-zona-sul-por-desacato-e-desobediencia.shtml. Acesso em 29/4/2019. 138 Conforme consta em uma retranca da matéria do Estadão sobre o acidente de Edi Rock, citada em nota de rodapé anterior.

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