SOARES, Gilson. Poesia de bolso, pequenos poemas pedestres.

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gilson soares

poesia de bolso pequenos poemas pedestres



poesia de bolso pequenos poemas pedestres


SÉRIE ESTAÇÃO CAPIXABA volume 3


gilson soares

poesia de bolso pequenos poemas pedestres

cândida editora estação capixaba vitória, es 2017


copyright © Gilson Soares, 2016.

organização do livro e seleção de imagens gilson soares projeto gráfico e editoração maria clara medeiros santos neves capa colegiofriburgo.com.br – projeto-2010 editores maria clara medeiros santos neves alfredo andrade Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S676p

Soares, Gilson Poesia de bolso [recurso eletrônico]: pequenos poemas pedestres / Gilson Soares.— Vitória, ES : Estação Capixaba : Cândida, 2017. 1 recurso online (179p.) : digital, PDF arquivos (Estação Capixaba; v. 3).

editores.

ISBN 978-85-64258-08-2 (Edição digital) Reprodução e/ou divulgação parcial ou total autorizada pelo autor, desde que feita com o devido crédito a ele e aos 1. Literatura brasileira – Poesia. I. Título. CDD B869.1

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR www.estacaocapixaba.com.br


Disse-me o homem: - “Sou da estirpe de Skalds; bastou-me saber que a poesia dos Urnos consta de uma só palavra para dar início à busca e ao roteiro que iria conduzir-me à sua terra”. [Jorge Luis Borges, Undr, in O Livro de areia.] Quando é preciso despedir-se – Daquilo que sabes conhecer e medir é preciso que te despeças pelo menos por um tempo. Somente depois de teres deixado a cidade, verás a que altura suas torres se elevam acima das casas. [Friedrich Nietzsche, in Humano, demasiado humano.]



CEM PALAVRAS

Estes pequenos poemas pedestres nasceram antes do Minério. Nem todos, porque eles o que têm de pequenos, têm, também, de nascediços. Volta e meia, chega mais um. Mas a quase totalidade deles, bem como o conceito do livro e a ambição de publicá-lo já estavam em mim desde então. Ocorre que a sua (do livrinho de bolso) concretização sempre esteve vinculada ao meu projeto ciclístico de viajar por aí. Assim, só agora, que as viagens batem apressadas à minha porta, ele se apresenta para liberar meu passaporte de sair pedalando por estradas incertas. O que faltava, não falta mais. Vou.





SUMÁRIO

PREFÁCIO: PEDALADA PATAFÍSICA, 15 Wilson Coêlho

A CIDADE, 19 PARTILHA, 20 A SAÍDA, 21 ILUZÃO, 22 EU VOU, 23 PRIMEIROS PASSOS, 24 CAMINHANDO, 25 BAGAGEM, 27 ENCRUZILHADA?, 28 MEMÓRIA, 29 Ê, VIDA!, 30 PRESENTE, 31 CALENDÁRIO, 32 FORA DE HORA, 33 PERDAS, 34 GERAÇÕES, 35 BATISMO, 37


MEU PAI, 38 RUMO, 39 CARO COQUEIRO, 40 SERENATA, 42 OH, LUA, 43 CREDO, 44 BEMDITA, 45 A CAMINHO, 46 QUADRA FRANCISCANA, 47 NO RIO DE HERÁCLITO, 48 DEMASIADO HUMANO, 49 JOSÉ, PARA ONDE?, 50 FLAGRANTE DELITRO, 51 POESIA, 52 POSTAGEM LIVRE, 53 AÇÃO, 54 ACHADO, 56 DÚVIDA, 57 INVENTOS, 58 DEVER DE CASA, 59 ENTENDA, 60 SEXO, 61 NONSENSE, 62 TEOLOGAL, 64 INTEMPORAL, 65 PREVISÃO, 66 ANCHIETA, 67 RENASCIMENTO, 68


RETORNO, 69 EU, PASSARINHO, 70 REVISÃO, 72 REVISÃO II, 73 CADÊ?, 74 INFINITO, 75 DISCURSOS, 76 PASSADA, 77 TRÊS TEMPOS, 79 61, 82 ASSINATURA, 83 PONTO FINAL, 84 METÁFORA ORIGINAL, 85 TCHAU, 87



PEDALADA PATAFÍSICA

Contrariando o verso de Caetano Veloso “nada no bolso ou nas mãos”, em Poesia de bolso (Pequenos poemas pedestres), Gilson Soares revela um bolso cheio de significados para o mundo que desenha a partir de um olhar atento e conciso, ao mesmo tempo em que demonstra ter nas mãos uma pena afiada traçando vocábulos de inquietação. São poemas curtos e, de certa forma, telegráficos, considerando tanto a precisão do discurso quanto o ritmo do código Morse na sonoridade do telégrafo distribuída entre pontos e traços e, obviamente, de silêncios. Por outro lado, alguns dos poemas comunicam como sinais de fumaça em que o leitor recebe a mensagem que se dissipa de acordo com o olhar dissipado no vento. Ainda, há os poemas que, devido a brevidade e os enigmas, se aproximam do Haikai. Num certo sentido, havemos de considerar o aspecto filosófico de sua poesia, levando em conta uma alusão ao “humano, demasiado humano” de Nietzsche e, inclusive,

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referenda a estética do aforismo, num dos poemas intitulado “No rio de Heráclito”, onde flutuam seus versos. Aliás, podemos dizer que a poesia de Gilson Soares, mesmo que inconscientemente, traz uma espécie de devir, como propunha o pré-socrático Heráclito de Éfeso. Os poemas de Soares, da maneira como trata de temas distintos, mostram a mudança das coisas como uma alternância entre os contrários. Deus, lua, sol, cidade, dúvida, certeza e tantas outras coisas acontecem como partes de uma mesma realidade. Poesia de bolso (Pequenos poemas pedestres) é uma poesia anunciada de um ponto de partida para um projeto que o poeta faz para viagens de bicicleta, cujo percurso mais recente, apesar de ter seu roteiro às margens do assoreado e maltratado Rio Doce, está aberto ao olho que busca um horizonte de montanhas que se sobrepõem uma a outra a cada espaço percorrido numa mirada estética. Se, conforme a semiótica a literatura pode ser compreendida como uma ação intersubjetiva que se sustenta basicamente na relação entre o emissor, o signo e o receptor, obviamente, correspondendo ao criador, a obra e o leitor, Soares realiza essa interação sem que aparentemente tenha a preocupação de facilitar ao receptor uma leitura pronta e acabada ou uma espécie de continuidade, considerando o mosaico de suas 16


abordagens, repletas de figuras quase geométricas que ora estabelecem definidas fronteiras entre um triângulo e um losango, ora cria nuances gradativas entre um tema e outro. Se há uma possibilidade de estabelecer uma espécie de corpus para a poesia de Gilson Soares, podemos arriscar que em seu paideuma estão presentes o pessimismo e a solidão de Carlos Drummond de Andrade diante do cotidiano, o ceticismo de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, assim como a pedra de João Cabral de Melo Neto, a ironia de Mário Quintana e a infância de Manoel de Barros. Enfim, voltando à ideia do poeta e sua bicicleta, recorro a Alfred Jarry e acredito que sua poesia se constrói como um passeio em duas rodas, uma visita à patafísica, a ciência das soluções imaginárias, onde a cada pedalada define um verso e em cada movimento do guidão estabelece um tema.

Wilson Coêlho Primavera de 2016

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A CIDADE

A cidade não tem calma não tem alma, não tem olhar; mais fala, que escuta: refuta a humildade. A cidade é só velocidade.

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PARTILHA

Família é ilha. O mais é milhas de água terra e céu. Pra onde vou levando livre meu coração ilhéu.

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A SAÍDA

Saio da cidade. Do alarido, do burburinho, do vozerio: quero ouvir a voz do vento sussurrando a canção do rio.

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ILUZĂƒO

A cidade acende suas luzes suas luzernas suas lanternas e o que mais puder acender sĂł pra ocultar o anoitecer.

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EU VOU

Logo ali, alĂŠm dos muros do burgo - nem tĂŁo longe, nem tĂŁo perto abrem-se os caminhos incertos.

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PRIMEIROS PASSOS

Pra começar uma viagem - na estrada ou na abstração você terá que tirar os pés do chão.

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CAMINHANDO

A liberdade chega passo a passo.

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BAGAGEM

Leve o que nĂŁo pese leve o que seja leve: o seu olhar sedento de paisagens e os seus pĂŠs urgentes de viagens.

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ENCRUZILHADA?

Qualquer caminho vai dar no mundo.

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MEMร RIA

Do tempo dos sapatos ouรงo ainda os resmungos de ressentidos calos. A estrada hรก de calรก-los.

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ร , VIDA!

Passo a passo de passeio traรงo no ar meu caminho lanรงo ao vento um gorjeio: faรงo que nem passarinho.

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PRESENTE

O dia é dádiva do Sol. Só a Ele deve seu ofício. Por isso o dia não se deixa adiar.

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CALENDÁRIO

Hoje você já não é mais ontem. Amanhã você já não será mais hoje. Depois você já não mais será.

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FORA DE HORA

O tempo se apressou, passou por mim voando: o sonho acabou, continuei sonhando.

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PERDAS

RestarĂŁo versos perdidos vadiando por vilas vazias depois que o tempo fenecer.

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GERAÇÕES

Uns vão, outros vêm.

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BATISMO

Filho, ouรงa a รกgua e observe (absorva) o que ela tem pra lhe ensinar.

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MEU PAI,

tenho guardada (ainda nova, graciosa e pura) a รกgua que bebi na concha das tuas mรฃos.

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RUMO

Enquanto ouvir a cantiga de um rio margeando o seu caminho, siga em frente, meu filho, você não estará sozinho.

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CARO COQUEIRO,

só escrevo para agradecer pelo verão que sempre é ofertado pela água do teu fruto.

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SERENATA

Seja sereno em meio ao temporal, pois que amanhã - bem de manhã o temporal, pequeno, adormecerá sob a seda do sereno.

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OH, LUA,

observo absorto - por desertas noites o teu percurso sob o azul profundo.

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CREDO

Eu creio em tudo que está no céu: na nuvem nívea, no pássaro passadiço e naquela lua exígua sob o vão azul.

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BEMDITA

Não há palavra para expressar a oração contida numa mirada de olhar.

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A CAMINHO

Deixo aqui do lado essas sandálias cansadas e prossigo descalço no encalço dos mistérios da estrada.

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QUADRA FRANCISCANA

Na palma da minha mão a chaga da tua dor, na nudez da doação o gesto do meu amor.

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NO RIO DE HERÁCLITO

Com as águas vão-se os dias com o rio vai-se o amor: se não volta a alegria também não retorna a dor.

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DEMASIADO HUMANO

Diante do olhar de um asno pasmo com a humana tortura a torre do pensamento tomba no vĂŁo da loucura.

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JOSÉ, PARA ONDE?

A estrada está escura e a noite é muito fria o poeta ainda procura o manso olhar da Poesia.

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FLAGRANTE DELITRO

Fernando, de vez em quando vocĂŞ muda de pessoa?

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POESIA

A palavra atinge o auge que ousa almejar.

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POSTAGEM LIVRE

Não sou legal, nem quero sê-lo.

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AÇÃO

O ato é fato consumado: deu, tá dado.

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ACHADO

Quem procura achas acaba achando ou pega um machado – caso lhe advenha – e com as próprias mãos racha a sua lenha.

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DÚVIDA

Até onde vou chegar com esta indagação: a vida, tem que buscar ou ela nos vem à mão?

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INVENTOS

Com quantas mĂŁos o vento escreve a coreografia das folhas?

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DEVER DE CASA

Descubra as cores do seu jardim.

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ENTENDA

O urubu plana no ar silente a ensinar: atĂŠ pra viver ao vento ĂŠ preciso entendimento.

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SEXO

Quando o corpo, entre a volúpia e a calma, roça – leve – a tez da alma.

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NONSENSE

Tem gente que pensa que nĂŁo compensa pensar.

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TEOLOGAL

O Dinheiro, tão temido e adorado, é o Deus mais cruel e depravado.

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INTEMPORAL

Dois objetos admirรกveis que nรฃo tenho nem quero ter: o relรณgio e o guarda-chuva.

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PREVISÃO

Começo a achar que a partir de amanhã, amanhã será sempre domingo.

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ANCHIETA,

os versos que ainda leio nessas pĂĄginas de areia, foram escritos por vocĂŞ?

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RENASCIMENTO

Quero vir a ser então, bonito, forte e generoso: um pé de fruta-pão.

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RETORNO

Que eu seja, enfim, depois dourado, delgado e bondoso: um cacho de arroz.

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EU, PASSARINHO

Penso que ao retornar para mais uma jornada vou transitar pelo ar no meio da passarada.

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REVISÃO

Quando relata a criação o redator do Livro Primeiro erra: Eva é que veio da terra.

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REVISĂƒO II

Deve ter se confundido no Livro Primeiro o seu redator: foi sobre Eva que soprou o Criador.

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CADÊ?

Derretida sob lavas, consumida pelas larvas, ou escondida numa lavra? Onde estará a poesia que não se rendeu à palavra?

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INFINITO

Não vou parar de andar enquanto não alcançar a fugidia fronteira do olhar.

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DISCURSOS

Tenho falado em parar de falar. Vejo que não é fácil. Por isso discorro estes discursos curtos.

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PASSADA

A nota que silencia depois do passo dado faz parte da melodia da Canção do Passado.

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TRÊS TEMPOS

I

O passado é um frio na espinha, um breve arrepio na alma.

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II

O presente é este grão de luz que tenho, agora, em minha mão.

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III

O futuro é abstração.

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61

Estou ainda aqui, assim: perdido nos labirintos de mim.

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ASSINATURA

Ali vai aquele homem pequeno pisando, obtuso, sobre o prรณprio rastro.

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PONTO FINAL

Finda a lavra, a pรก (em outras mรฃos) a tudo so-terra.

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METÁFORA ORIGINAL

Deus

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TCHAU

AtĂŠ breve, meus queridos, vou ao sol. Se voltar, voltarei iluminado.

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Foto: Mariana Gotardo


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