OPINIÃO
PESSOAS
Cuidado com os moscovitas
> Carlos Jerónimo é o novo diretor comercial da SAP Portugal para Grandes Contas E36
FRANCISCO LOUÇÃ E5
Conselho Económico discute pós-2020
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O risco de Rui Rio acabar por servir de calçadeira do PS POR LUÍS MARQUES E5
ANTÓNIO CORREIA DE CAMPOS E37
> Dicas Mandamentos para uma boa carta de apresentação E36
ECONOMIA Agricultores querem novo ‘Alqueva’ no Ribatejo > Obra custa €4,5 mil milhões > Vai regar 300 mil hectares, o dobro de Alqueva, no Alentejo > Tejo ficará navegável entre Lisboa e Abrantes > Governo já está a acompanhar o projeto E12
Portugal é o 4º país mais lento do euro até 2019 E20
Pela primeira vez em 50 anos não há shoppings em construção E23
IMOBILIÁRIO & EMPREGO
Suspeita de crime de mercado em dívida do Novo Banco
Orçamento retificativo
O
A 22 de dezembro de 2015, a Pimco comprou com desconto a uma seguradora, por proposta desta, €64 milhões de obrigações seniores do Novo Banco que sete dias depois foram transferidas para o ‘BES mau’, passando a valer quase zero. Ministério Público está a investigar indícios de abuso de informação privilegiada neste negócio. E6
s ajustamentos ao Orçamento do Estado ao longo da sua execução são feitos pelo ministro das Finanças no âmbito das respetivas competências ou, caso contrário, pela Assembleia da República sob a forma de aprovação de um Orçamento retificativo. Nalguns casos a necessidade de apresentação de um Orçamento retificativo tem significado político e desencadeia muitas controvérsias, mas na maioria dos casos não são mais do que úteis instrumentos de gestão orçamental. Nada justifica atingir-se o ponto de, independentemente do seu conteúdo, ser considerado uma derrota ou um troféu de um Governo o facto de se socorrer ou não desse instrumento.
E15
POLÉMICA NO MONTEPIO Créditos a Nuno Mota Pinto e Fonseca da Silva podem condicionar a autorização do BdP para a sua entrada na gestão E6
Tentou-se alterar o valor da autorização do limite máximo de endividamento para 2018 à margem da Assembleia da República
Carlsberg refém dos Violas na Super Bock
Guindos, um tecnocrata ortodoxo com alma de político no BCE
NUNO ARTUR SILVA E A SAÍDA DA RTP: “NÃO ESTAVA À ESPERA DESTA DECISÃO” E8
E17
MAIS APP, MAIS TEMPO PARA MIM
Mais simples, mais digital.
FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
A saída do BPI, agregador do núcleo português, abre um novo ciclo no grupo de bebidas E10
LIGAR ENERGIA SOLAR À REDE CUSTA € 107 MILHÕES Vaga de centrais solares em Portugal implicará reforço da rede elétrica, a pagar pelas famílias e empresas E19
24 de fevereiro de 2018 www.expresso.pt
Manuela Ferreira Leite
Pimco comprou €64 milhões de obrigações sénior a seguradora sete dias antes da passagem para o ‘BES mau’
Mais €3000 milhões em juros com taxas pré-crise
Expresso 2365
Sabe-se que se tentou alterar o valor da autorização do limite máximo de endividamento para 2018, à margem da Assembleia da República, matéria esta que é da sua exclusiva competência. Deve ter sido o ‘pavor’ a um Orçamento retificativo que levou o Governo a considerar que o valor foi alterado por se tratar de uma ‘gralha’ resultante da forma apressada como são ‘fechadas as contas’. Não sei se por distração, esquecimento ou incompetência, foi aprovado um documento cujas contas ‘não batem certo’ e têm de ‘bater’ até ao cêntimo. Não é portanto uma ‘gralha’. É um valor mal calculado. É um erro que só pode ser corrigido pela Assembleia da República. É um Orçamento retificativo em fevereiro. É a lei.
informe-se em santandertotta.pt
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Expresso, 24 de fevereiro de 2018
ECONOMIA
ENTREVISTA Nuno Artur Silva Administrador da RTP
“Fui instrumento de uma campanha para desacreditar a RTP” Textos Adriano Nobre
e Maria João Bourbon Foto António Pedro Ferreira
De saída da administração da RTP, depois da polémica associada às Produções Fictícias (PF) e ao Canal Q, Nuno Artur Silva diz-se surpreendido com a decisão que ditou o seu afastamento. Garante que só no início deste ano lhe foi exigido que vendesse as participações nas empresas, acha que o Conselho Geral Independente (CGI) e o presidente da RTP foram “permeáveis” a uma campanha mediática e acredita que a continuidade da estratégia da estação pública dependerá da pessoa escolhida para diretor da RTP1.
que a questão da saída. Aceito a leitura deles. Não concordo, mas aceito-a.
tratar pessoas do mercado para poderem vir a trabalhar nos seus quadros só porque tiveram negócios ou ações PP MasPpercebePaPessênciaPdoPproble- noutras empresas? Isso não é deixar a maPlevantado,PnemPquePsejaPnaPlógicaP escolha de profissionais para os quadoP“àPmulherPdePCésarPnãoPbastaPserP dros da RTP muito estreita? séria...”? R O comunicado do CGI diz que o
meu trabalho foi bom, que não foi detetado nenhum problema, ficou absolutamente claro e esclarecido que não houve contacto comercial ou contratual com nenhuma das empresas das quais sou acionista. No entanto, não posso continuar porque há uma questão formal em que sou acionista de uma empresa. Aceito isso. A única coisa que lamento é que nem o presidente nem o CGI, a seu devido tempo, tenham convocado uma reunião para PP APdecisãoPdoPCGIPdePnãoPoPrecondu- me dizer “olha, para haver reconduzirPnaPadministraçãoPdaPRTPPfoiPumaP ção é preciso absolutamente que isto seja resolvido”. surpresaPparaPsi? R Foi. Sinceramente, não estava à PP DurantePestesPtrêsPanosPtentouPvenespera que a decisão fosse esta. PP Porquê? R A indicação que tínhamos era no
sentido da minha continuidade. Não havia nenhum sinal de interrupção da minha presença na administração. Quando a campanha, como eu lhe chamei, acontece, não pensei que viesse a ter o efeito que teve.
PP GonçaloPReisPdizPquePaPdecisãoPnãoP podePterPsidoPumaPsurpresa,PporqueP tinhamPfaladoPsobrePoPfactoPdePcontinuarPaPterPparticipaçãoPnasPPF... R Quando eu entrei — é importan-
te deixar isto claro — não foi exigido como condição que eu vendesse as minhas ações. Foi dito que ‘seria bom que vendesse’, mas em nenhum momento o presidente ou o CGI o puseram como uma situação a resolver para a minha manutenção na empresa. A não ser duas semanas antes daquele comunicado do CGI, que foi claramente fruto da campanha de um tabloide, que depois teve eco num comunicado da Comissão de Trabalhadores. A partir desse momento é que me foi dito que isto tinha de ser resolvido. E eu disse “muito bem, vou procurar resolver”. Quando estava em processo de resolução e comuniquei ao CGI e ao presidente da RTP que tinha uma solução, foi-me dito que era tarde demais porque iria parecer uma solução de recurso.
PP OPCGIPfoiPpermeávelPaPumaPcampanhaPmediática? R Posso concluir que, se antes da cam-
panha nunca me foi posto como um problema e depois foi, o presidente e o CGI terão sido permeáveis, sim.
PP EPsaiPmagoado? R Não, não saio. Só posso estar muito
agradecido por ter estado três anos neste lugar e ter podido fazer o que fiz. Devo isso ao CGI e ao presidente Gonçalo Reis. Isso para mim pesa mais do
derPaPempresa? R Não procurei ativamente vender,
mas tive várias propostas. Não aceitei porque não eram um bom negócio. E como não me estava a ser exigido vender, mas sim recomendado...
PP VoltariaPaPconvidarPasPpessoasPqueP convidouPePquePtinhamPtrabalhadoP consigoPePnasPPF? R Eu não convidei ninguém, quem
convida são as direções de programas. E é preciso deixar isto muito claro: não há ‘pessoas das PF’. A PF é uma empresa, como muitas outras produtoras de conteúdos, que estando há 25 anos no mercado teve a trabalhar consigo centenas de profissionais. Onde é que se traça a linha de uma pessoa que trabalhou com as PF? São os comediantes? Os realizadores? E os argumentistas? Só falam em meia dúzia de casos, posso falar em dezenas.
PP PesavaPtambémPoPfactoPdePoPDanielP DeusdadoPterPtrabalhadoPemPalgunsP projetosPconsigo... R Mas nós estamos a ser penalizados
por termos sido empreendedores no passado? Vamos inibir a RTP de con-
NUNO ARTUR SILVA GARANTE QUE NÃO SAI MAGOADO COM O PRESIDENTE OU COM O CGI E PEDEP“CORAGEM”P PARAPMANTERPAP ESTRATÉGIA. “OS PORTUGUESES PAGAM PARA QUE A RTP DÊ O QUE O MERCADO NÃO DÁ”
PP TemPalgumaPtesePsobrePoPporquêP daP‘campanha’PquePdizPquePlhePfoiPdirigida:PfoiPporPserPaPRTP,PfoiPporPserPoP NunoPArtur? R As duas coisas. Há aqui um alinha-
mento de situações que não podemos esquecer. Esse grupo de comunicação [Cofina, dono do “Correio da Manhã”] que fez a campanha tem uma permanente agenda contra a RTP, que não é inocente e talvez tenha a ver com o facto de ter sido um potencial comprador da RTP e isso não ter acontecido. Eu terei sido um instrumento dessa campanha maior que passa pela vontade de desacreditar o trabalho da RTP como empresa pública. Depois há outra que tem a ver com o que poderia chamar um certo “sistema RTP”, de pessoas que se instalaram durante muitos anos. Sempre que há uma mudança de modelo, há uma reação quase corporativa de pessoas que ainda estão, ou estiveram, dentro da RTP e rejeitam qualquer mudança.
PP ConseguePdarPnomes? R Não vale a pena. Mas é um tipo de
reação contra qualquer coisa que fuja à lógica de a RTP ser essencialmente a RTP1 a utilizar dinheiros públicos para perpetuar um sistema de procura de audiências. Há pessoas que estão dentro da RTP há muitos anos e que, independentemente das direções e administrações, tornam muito difícil a mudança.
PP SentePquePdeixaPaPmeioPoPprojetoP quePtinhaPparaPaPRTP? R O projeto não era meu, era do con-
selho de administração. Mas não escondo que tínhamos um horizonte de seis anos para podermos realizá-lo. Portanto, sinto que, nos conteúdos, ficou muito por fazer e saio a meio.
PP ReceiaPquePaPsuaPsaídaPpossaPlevarP aPumPcaminhoPdiferentePnaPáreaPdosP conteúdos?POPperfilPdoPnovoPadministradorPéPdiferentePdoPseu... R Conheço o Hugo Figueiredo, gosto
dele e sei que se identifica com o percurso que foi feito. Mas, na prática, o elemento-chave vai ser o diretor da RTP1. Pelo facto de o maior orçamento estar na RTP1 e por ser neste canal que se joga a diferença entre um perfil mais concorrencial e comercial ou uma estratégia mais global, que era o que nós defendíamos. O trabalho que o Daniel Deusdado fez na reconfiguração da RTP1 é extraordinário e muito corajoso. Com o mais baixo orçamento de sempre para programas, conseguiu fazer uma mudança do perfil do canal, passando de uma programação horizontal — com duas para-novelas
a seguir ao telejornal — para uma de perfil europeu: todos os dias programas diferentes, documentários em horário nobre, lançamento de uma estratégia de séries. Aqui é que se vai perceber se o modelo continua ou não.
nobrePtêmP200PmilPpessoasPaPverPnãoP háPumPriscoPdePirrelevância? R O que é mais serviço público? É pôr
um grande documentário do Richard Attenborough ou o “2077” a ser visto por meio milhão de pessoas ou pôr uma novela relativamente anódina a PP NãoPestáPdescansado? ser vista por um milhão? Eu acho que é R Não, porque o tal “sistema RTP” o primeiro caso. Esse é o ponto fulcral. vive daquela ideia do “somos o pri- Matarmo-nos para ter mais dois ou três meiro”. A coragem e a perseverança pontos de share é absolutamente fugaz. necessárias para manter a aposta vão Os portugueses pagam para que a RTP ser decisivas. Porque ainda há quem lhes dê qualquer coisa que o mercado ache que se devem usar dinheiros pú- não lhes está a dar. Eu não pago para blicos para ganhar em audiência e fa- que a RTP tenha mais audiências, pago zer concorrência desleal aos privados. para que me dê conteúdos que de outra maneira não existiriam: documentários PP QuandoPaPRTP1PtemP12%PdeP shareP sobre Portugal, História, Geografia, médioPePalgumasPapostasPnoPhorárioP figuras, pensamento...
Expresso, 24 de fevereiro de 2018
ECONOMIA
OUTROS ASSUNTOS DIGITAL
“Os acessos à RTP Play a partir do estrangeiro correspondem a mais de 30% dos visionamentos. A nova geração de emigrantes acede aos conteúdos mais a partir da RTP Play do que da RTP Internacional” SERVIÇOPPÚBLICOPNAPEUROPA
“O modelo público de televisão está posto em causa. Esta discussão é intensíssima no seio da Eurovisão. Se não estivesse de saída teria ido a Bruxelas apresentar a nossa estratégia, porque acharam interessante o que estávamos a fazer” ARQUIVO
“Uma das coisas mais importantes do nosso mandato foi a disponibilização de todo o arquivo online” FESTIVALPDAPCANÇÃO
“É um exemplo de algo que talvez esteja a perder em audiência para outros programas que não têm esta marca e impacto. Pouco a pouco, as pessoas também estão a falar ‘das séries da RTP’. É isso que faz a marca da RTP”
Nuno Artur Silva recebeu o Expresso no Pavilhão de Portugal, onde está já instalada a operação da RTP para o Festival Eurovisão da Canção. Quando o evento ocorrer, em maio, já não estará na administração do operador público PP EstáPconfortávelPcomPosPresultadosP quePaPRTPPestavaPaPter? R Estou. A decadência dos canais ge-
neralistas é irreversível. Daqui a meia dúzia de anos, o que vai contar é se a RTP teve capacidade de produzir conteúdos que são vistos de qualquer maneira — telemóveis, gadgets diversos —, não é se teve mais dois ou três pontos de share. O que dá relevância à RTP é as pessoas reconhecerem que está a fazer diferenciação e coisas que ficam no património.
quantas pessoas? E é irrelevante? O facto de o Lobo Antunes vender hoje muito menos que o José Rodrigues dos Santos torna-o menos relevante? O facto de Sérgio Godinho vender menos discos que Tony Carreira torna o Godinho irrelevante? PP OPquePéPquePvaiPfazerPagora? R A primeira coisa é nada! Palavra
mágica. O nada é muito criativo. A Sophia de Mello Breyner dizia que o ócio é o trabalho do poeta. O que eu estou a precisar neste momento é de PP MasPessePpatrimónioPtemPdePserP uma pausa, de não fazer nada e ficar visto,PcasoPcontrárioPéPirrelevante. só a absorver as coisas. Ver, ler, pensar. R Qual é o número que consideramos Depois, voltarei à vida ativa. irrelevante? Por exemplo, os filmes do João César Monteiro foram vistos por PP MasPligadoPàPtelevisão?
R Vou fazer o que sempre fiz: sentar-
-me, ter ideias, escrever e desenvolver ideias com pessoas. Mas onde e como, neste momento, não faço ideia.
PP AindaPéPacionistaPdasPPF... R Sim, mas as PF e o Canal Q estão
bem entregues. Poderei voltar a trabalhar com eles como consultor, não sei. Eu gosto sempre de olhar para as coisas como os Monty Python: mesmo estando crucificado, “always look at the bright side”. Foram três anos magníficos, que não estavam nos meus planos. Portanto, nunca me vão ouvir falar mal do Gonçalo Reis ou do CGI. Não saio minimamente ressentido. É a vida. abnobre@expresso.impresa.pt
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Televisão portuguesa está “fraca nos géneros mais nobres” Aposta em séries e documentários teve objetivo de criar uma “indústria” que não se baseie apenas em novelas das mesmas produtoras de sempre. PP OPquePachaPdaPqualidadePdaPTVPqueP sePfazPhojePemPPortugal? R Há mais profissionalismo, estamos
mais capazes e melhores. Mas estamos fracos nos géneros nobres, que são a vitalidade da indústria audiovisual ocidental: séries, filmes e documentários. Também no jornalismo há pouca reportagem e investigação, porque é mais caro. Isso é missão do serviço público, daí as apostas que fizemos. Num país de pequena escala como Portugal, não haver um encontro entre cinema e televisão é trágico para a existência de uma indústria audiovisual. Quando entrámos na RTP sentimos que só teríamos uma indústria a funcionar se saíssemos do espartilho de serem sempre as mesmas produtoras a fazerem tudo. Portanto, o primeiro movimento foi de ‘abrir o mercado’.
PP DasPbasesPquePlançouPnasPváriasP áreas,PoPquePéPquePficouPmaisPfrágil? R Na área do infantil, por exemplo,
há muito por fazer mas não há dinheiro. Isto tem a ver com o financiamento e opções estratégicas da RTP: enquanto o peso do visionamento em direto for o que é e em diferido não for suficiente, a RTP depende muito das audiências. Para dar tempo para construir uma indústria temos que investir em projetos de impacto comercial, como o futebol e formatos internacionais, que compensem a menor audiência de projetos inovadores. Mas haverá um momento em que o futebol deixará de ser disputado pelos canais generalistas. Os grandes distribuidores vão, provavelmente, ficar com o negócio.
PP MasPháPobrigaçõesPdePserviçoPpúblicoPquePcontinuarãoPaPterPdePserPemP
sinalPaberto,PcomoPalgunsPjogosPdaP seleção,PdaPChampions... R Há, se houver modelo de negócio
e dinheiro para isso. O serviço público vai adaptando-se aos tempos, às questões tecnológicas, sociológicas. No futuro é preciso rever o sentido de este continuar atrás de conteúdos que o mercado privado pode absorver.
PP APRTPPéPcaraPouPoPquePoferecePvaiP aoPencontroPdoPquePasPpessoasPpagam? R Se compararmos com os modelos
europeus, somos o terceiro país que paga menos taxa e atrás de nós estão a Albânia e a Roménia. Nos países ocidentais o nosso valor está quatro a cinco vezes abaixo da média. Somos a estação que custa menos dinheiro aos contribuintes no contexto europeu.
PP APtaxaPaudiovisualPdeviaPaumentar? R Acho que sim. Não muito, tendo
em conta a realidade portuguesa. Mas o caminho é os portugueses perceberem que estão a pagar por uma coisa que não existia sem a RTP. Daqui a algum tempo, um canal de programação infantil em português, para comunidades portuguesas, pode fazer mais sentido, numa lógica de política da língua e de exportação de conteúdos em português, do que um canal de memória com um arquivo que se esgota.
PP EPaindaPfazPsentidoPpensarPaPRTPP nessePformatoPdePcanaisPlineares? R Ainda faz. Mas a RTP deve ser
uma grande plataforma que, em articulação com outras entidades do audiovisual português, promova conteúdos para serem vistos de qualquer maneira. A percentagem de pessoas que veem canais em direto ainda é muito grande, só que isto muda rapidamente. Cada vez mais a RTP tem de pensar no linear e não linear.
Poder “está a sair da TV para os distribuidores” Futuro da televisão passará pelos conteúdos, mas o conceito de programação “continuará a ser valorizado” Qualquer estação de televisão que não produza conteúdos originais ou não se associe aos produtores de conteúdos e partilhe direitos de autor “perde relevância”, “é dispensável” e “está perdida”. Para Nuno Artur Silva, a importância crescente dos conteúdos no futuro da televisão é um dado inquestionável, numa era de de incertezas geradas pelas novas tendências de consumo, especialmente nos mais jovens. “Quando gostam de uma série veem-na onde estiver.” Ainda assim, o administrador da RTP com o pelouro dos conteúdos aposta que o conceito de programação não vai desaparecer. “Vai continuar a ser valorizado”, porque o excesso de oferta, com possibilidade de acesso a conteúdos do mundo inteiro, vai levar à necessidade de ter “guias e curadores” que alinhem e organizem. O que permitirá também, diz, conter os efeitos da lógica do algoritmo do Facebook, que, por dar prioridade ao que os amigos e familiares veem, contribui para a criação de “ilhas” e bolhas de opinião. “Cabe também à televisão fazer o contrário desta algoritmização da vida”, realça. Sobre a ‘crise’ dos canais generalistas, Nuno Artur Silva assume que as audiências têm vindo a diminuir e que estes projetos podem definhar num horizonte de entre cinco a seis
anos. Primeiro, perderam para o cabo. “Agora é o cabo que está a perder” para o streaming e serviços OTT (over-the-top). Com o poder “a sair das estações de TV para os grandes distribuidores”, há uma mudança de equilíbrio no sector. “O dinheiro para a produção vai estar não nos canais mas nos distribuidores”, diz, referindo-se não aos distribuidores de cabo, mas aos tecnológicos como o Netflix, a Google, a Amazon ou o Facebook. Para Nuno Artur Silva, o mundo está a caminhar no sentido de uma “excessiva” concentração em alguns players, o que levanta problemas de regulação, nomeadamente ao nível da publicidade. “É bom que o mercado funcione e que haja vontade de fazer negócios nos media, mas é preciso que a regulação funcione”, explica. “E isto já vem de trás: é absurdo, por exemplo, que a PT tenha ficado com a gestão da TDT quando tem serviços de TV.” O administrador da RTP rejeita a ideia de que a concentração entre produtores e distribuidores pode ser uma forma de estes grupos ganharem peso contra as grandes tecnológicas e acredita que o pluralismo e diversidade são essenciais para a democracia. “Não se pode combater o risco das tecnológicas criando empresas que também são gigantes a outro nível”, aponta. É por isso que defende que a compra da Media Capital pela Altice, em análise na Autoridade da Concorrência, só deve avançar “com remédios”.